O câncer intriga a humanidade há milênios. Mesmo com o avanço da ciência e da medicina, ele é uma doença tão cercada de mitos que a gente ainda tem dificuldade de filtrar as informações verdadeiras. É por isso que eu resolvi lançar um desafio pra você.
Me diz aí dessa lista, o que é mito e o que é verdade? 1. Beber água com limão previne o câncer.
2. Usar antitranspirante pode causar câncer de mama. 3.
Usar micro-ondas pode causar câncer. 4. Aquecer vasilhas de plástico pode causar câncer.
Tá difícil né? Parece tudo mito pra mim. Eu vou te dar uma dica.
Apenas 1 desses itens tá certo. Comenta aqui embaixo agora que no final do vídeo a gente vê se você acertou! Galera, esse é mais um vídeo da nossa série sobre câncer que eu tô produzindo com muito carinho aqui porque a minha missão no Olá Ciência é trazer o que tem de mais relevante na ciência.
Tudo isso com uma linguagem simples pra você economizar seu tempo e pra que você entenda sem nenhum custo. Então vem comigo e se inscreve no canal. E se você quiser apoiar o meu trabalho, clica no SEJA MEMBRO aí embaixo.
Ajuda demais e muito obrigado se você puder ajudar. Quando a gente pensa em câncer, a imagem que vem à mente é um aglomerado de células defeituosas, que não obedecem aos comandos do organismo e se multiplicam sem parar. Até agora foi isso que vocês aprenderam na série, né.
Mas não é só isso. Além de se multiplicar descontroladamente, as células cancerosas também têm um comportamento diferente das células saudáveis. Vamos voltar à década de 1920, quando o pesquisador alemão Otto Warburg percebeu um fato curioso.
Ele observou que alguns tipos de câncer produzem uma grande quantidade de ácido lático. O ácido lático é normalmente encontrado nos músculos quando a gente faz um exercício muito intenso e provoca aquela queimação durante o treino, sabe? Nos músculos, o próprio fluxo sanguíneo drena o excesso de ácido lático que se acumulou ali.
Mas no câncer, a multiplicação rápida das células pode formar uma massa compacta com muitos vasos sanguíneos ao redor, mas poucos no meio. As células lá do meio recebem poucos nutrientes e estão sob estresse tremendo. Como elas não recebem oxigênio e muitos nutrientes, pra produzir energia, elas acabam fazendo um processo de fermentação, que não é muito eficiente e libera ácido lático.
Mas como os vasos não chegam até essas células, o problema se agrava. Não tem como drenar o ácido lático dali. E de forma surpreendente, em alguns casos, o ambiente ácido disparado pelo ácido lático que é produzido pelas próprias células do câncer, acaba estimulando as células a se multiplicarem mais para escaparem do local, na tentativa de sobreviver, levando a um câncer mais agressivo, com várias metástases.
Com isso, parece lógico pensar que impedindo essa acidez aí, as células do câncer não conseguiriam se desenvolver. E é aí que entra o primeiro item da nossa lista, a água com limão. 1.
Beber água com limão previne o câncer? O limão, assim como as outras frutas cítricas, tipo a laranja, é ácido. Isso é um fato.
Mas, talvez você não saiba que alguns alimentos, independente de serem ácidos ou não, deixam a nossa urina mais alcalina. Alcalino é o oposto de ácido. Por causa disso, surgiu a hipótese de que beber água com limão todo dia poderia deixar o nosso organismo todo mais alcalino, impedindo o desenvolvimento do câncer.
Só que essa é uma conclusão, digamos, bem precipitada. O sangue e a maior parte dos fluidos que estão em contato com as nossas células são levemente alcalinos, e isso é essencial pro nosso corpo funcionar bem. Mas isso acontece independente do que a gente come ou bebe, porque o nosso corpo tem um mecanismo próprio pra controlar a acidez e alcalinidade dos fluidos.
A qualquer sinal de alteração, esse mecanismo é ativado, contando com a ajuda dos rins pra eliminar substâncias que estão em excesso. E até com o ritmo de respiração que pode ser alterado pra controlar a quantidade de ácido carbônico que vai ser retirado do sangue na forma de gás carbônico. Só que mesmo esse controle da alcalinidade do sangue não impede o aparecimento de um câncer.
Porque as próprias células cancerosas são quem criam um ambiente ácido. E por incrível que pareça, a ideia de que o câncer cresce em um ambiente ácido e que por isso nos teríamos que combater essa acidez ainda confunde muitas pessoas e médicos famosos por aí até hoje. A acidez é uma consequência do câncer, não a causa.
Ou seja, beber água com limão, ou adotar qualquer dieta que tenha o objetivo de alcalinizar o seu corpo, não previne e nem trata o câncer. Isso é um mito. E dito isso, a gente já pode ir pro segundo item da nossa lista.
2. Usar antitranspirante pode causar câncer de mama? A primeira coisa que eu tenho que te falar é que desodorante e antitranspirante não são a mesma coisa, apesar da gente geralmente falar deles como se fossem.
Os desodorantes servem pra matar as bactérias que vivem na pele e produzem mau cheiro a partir do suor. Por isso, o principal componente deles é uma substância anti-bacteriana, como o álcool. Já os antitranspirantes, até podem evitar o mau cheiro, mas a função deles é diminuir ou até impedir a liberação do suor.
Eles fazem isso através de moléculas de alumínio. Mas, não é o alumínio que você tá pensando aí não. São moléculas de alumínio com cloro que também podem ter hidrogênio e oxigênio.
Essa mistura forma o cloridrato de alumínio ou cloridróxido de alumínio que é um pó esbranquiçado. Eles são absorvidos pelas glândulas das axilas e formam literalmente uma tampa que impede a saída do suor. E eu falei tudo isso porque alguns estudos mostraram uma grande quantidade de alumínio nas mamas de mulheres com câncer.
Principalmente na parte que fica mais próxima das axilas, que coincidentemente é onde a maioria dos cânceres aparece. Será que o alumínio dos antitranspirantes tá se acumulando justamente nessa região e ajudando o câncer a se desenvolver? Um estudo suíço de 2016 tentou desvendar esse mistério: Células da mama de camundongos foram mantidas vivas em laboratório.
Depois de 7 meses em contato com moléculas de alumínio, as células passaram a se multiplicar mais que o normal. E quando essas mesmas células foram injetadas em camundongos saudáveis, eles desenvolveram um câncer de mama agressivo que se espalhou pelo corpo. Eu sei que parece assustador.
Talvez o alumínio esteja causando câncer. Mas perceba que esse experimento foi feito em células da mama isoladas em laboratório que ficaram em contato direto com o alumínio. Na vida real, galera, não é assim.
Na verdade, o esperado é que só 0,012% do alumínio que tá nos antitranspirantes consiga atravessar a pele e entrar no nosso organismo. Essa porcentagem até pode ser um pouco maior se a barreira da pele foi danificada pela depilação com uma lâmina de barbear, por exemplo. Mas, daí até chegar nas células da mama, é outra história porque o alumínio precisa passar pelas duas camadas da pele e pela camada de gordura que envolve a mama.
Na prática, pode até ser que algumas moléculas cheguem na mama. Mas a maioria vai ficar dispersa lá pelo seu corpo pelo meio do caminho ou cair na corrente sanguínea pra ser filtrada nos rins e eliminada na urina. Tá, mas isso não explica porque o câncer de mama acumula mais alumínio que a mama saudável.
Uma possível explicação é que as células do câncer produzem uma maior quantidade de proteínas como a osteopontina, que pode se ligar ao alumínio, impedindo ele de ser eliminado do corpo. Ou seja, o mais provável é que o acúmulo de alumínio seja também uma consequência, não uma causa do câncer. Ah!
E sobre o local de aparecimento do câncer de mama! O câncer aparece com mais frequência na região da mama próxima da axila porque essa região é onde fica a maior parte das células que têm potencial para produzir leite e que geralmente dão origem ao câncer. Ou seja… nada relacionado ao alumínio.
Vários estudos já mostraram que não há relação alguma entre usar antitranspirante e ter câncer de mama. Mesmo porque, os antitranspirantes não são a nossa única fonte de alumínio. Ele pode tá no ar que a gente respira, nos alimentos, em alguns medicamentos e até na água.
E ao que tudo indica, a quantidade de alumínio com que a gente entra em contato diariamente não ultrapassa os níveis considerados seguros e nem tem relação com o desenvolvimento do câncer. Vamo continuar porque agora eu vou falar de uma outra coisa que a gente tá em contato constante no nosso dia a dia, o micro-ondas. 3.
Usar micro-ondas pode causar câncer O forno de micro-ondas produz um tipo de radiação eletromagnética, chamada de micro-onda, que interage com as moléculas dos alimentos, fazendo elas vibrarem e produzirem calor. Quando o assunto é radiação, você provavelmente pensa em uma coisa ruim e muito perigosa, né? Sim, a radiação pode ser perigosa.
Principalmente quando ela libera uma energia grande o suficiente pra danificar as nossas células. Um exemplo disso é a radiação ultravioleta que vem do sol. Ela pode aumentar o risco de mutações no DNA que levam ao câncer de pele, como eu expliquei aqui.
Mas, as micro-ondas que esquentam a sua pizza dormida são diferentes da luz UV. Elas estão mais próximas das ondas eletromagnéticas do rádio e do wifi que você tá usando aí pra assistir esse vídeo. Essas radiações eletromagnéticas se movimentam com um baixa energia e baixa frequência, o que não é suficiente pra modificar as moléculas que elas encontram pelo caminho.
O que o microondas faz é agitar as moléculas de água da comida e, quanto mais agitadas estiverem as moléculas, maior é a temperatura. Ou seja, o micro-ondas não é capaz de danificar as nossas células e provocar mutações que poderiam disparar um câncer. Ele só tá botando as moléculas de água pra dançar.
As micro-ondas atravessam a comida enquanto o aparelho tá ligado, mas isso não significa que você tá comendo um alimento radioativo. Quando o micro-ondas desliga, a fonte de radiação também desliga e só o que resta lá dentro é a energia térmica que o microondas ajudou a produzir. Então esse é mais um mito galera: o micro-ondas não causa câncer.
Infelizmente, muita gente ainda acredita nessas histórias do limão, do alumínio e do microondas. Mas você pode me ajudar a mudar isso clicando no like aqui embaixo pro YouTube entender que essa informação precisa ser espalhada. Uai Lucas, mas você tinha dito que um dos itens era verdade.
Sim, e nós vamos falar dele agora. O que acontece se eu colocar uma vasilha de plástico dentro do micro-ondas? 4.
Aquecer vasilhas de plástico pode causar câncer O plástico é feito de milhares de moléculas idênticas que são colocadas lado a lado, formando um gigantesco colar de pérolas chamado polímero. Dependendo de como o plástico vai ser usado, vários aditivos químicos podem ser misturados ao polímero pra deixar ele mais resistente ou até transparente, por exemplo. Como esses aditivos não estão presos ao polímero, pequenas quantidades podem se soltar do plástico com o passar do tempo.
Mais ainda quando a gente aquece o plástico ou deixa ele exposto à luz do sol. O grande problema é que entre esses aditivos químicos, existe o bisfenol A, ou BPA, que pode alterar o funcionamento do nosso organismo. O BPA, tá na maioria das embalagens de alimentos, incluindo os enlatados e galões de água mineral.
Ele vai se soltando do plástico aos poucos e pode se dissolver nos alimentos e bebidas naturalmente. Principalmente quando a embalagem é aquecida. Uma vez dentro do nosso organismo, ele pode se ligar a receptores de hormônios como o receptor de estrogênio, que você conheceu lá no vídeo sobre o câncer de mama.
Em órgãos como a mama ou a próstata, que são mais sensíveis ao estrogênio, o BPA pode ativar o receptor e, consequentemente, a multiplicação das células. A teoria é simples. Se o BPA tá estimulando a multiplicação das células diariamente, ele poderia aumentar as chances de uma mutação que vai levar ao câncer.
Então até aí, o nosso suposto mito número 4 é uma verdade, já que aquecer plástico pode levar ao câncer. Mas reparem. Pode!
Na prática isso é muito difícil de comprovar porque o BPA faz parte do nosso dia-a-dia desde a década de 60. Qualquer efeito que ele tenha no nosso corpo vai afetar a população quase por inteiro e você não consegue avaliar um grupo que nunca usou algo com BPA versus um grupo que esquenta marmita de plástico no microondas todo dia pra ver quem vai desenvolver câncer primeiro, sacou? Estudos feitos em ratos e camundongos adultos, mostram que o consumo de BPA , por si só, parece não causar câncer.
Mas, se o animal é exposto ao BPA durante o desenvolvimento, quando ele ainda tá dentro do útero da mãe ou nos primeiros dias de vida, o resultado é diferente. O BPA que a mãe ingere pode passar pro organismo do filhote, ativando os receptores de estrogênio da próstata e da mama num estágio em que isso não deveria acontecer. Pequenas alterações na ativação desses receptores em um organismo em desenvolvimento estimula a multiplicação das células.
E isso permanece assim mesmo depois do nascimento e até a fase adulta, aumentando o risco de lesões que aí sim dão origem ao câncer de próstata e de mama. À primeira vista, esse resultado chama a atenção e liga um alerta. Mas como esse é um canal de ciência séria e eu não quero te assustar ao ponto de você nunca mais beber água mineral de garrafinha, eu já te adianto.
Estudos feitos em animais experimentais têm limitações. Eles não foram feitos em seres humanos. É por isso que as agências de saúde do mundo todo afirmam que os dados até agora são inconclusivos para definir uma ligação entre o BPA e o câncer.
O que já foi comprovado é que o contato diário com o BPA está associado com uma série de outros problemas de saúde, que vão desde a infertilidade, até doenças cardiovasculares e neurológicas. E isso é sério, principalmente para bebês. Por causa disso, em alguns países, incluindo o Brasil, o BPA passou a ser proibido em mamadeiras e limitado a determinados níveis em outros tipos de materiais.
É uma maneira de tentar proteger os bebês, que ainda estão em fase de desenvolvimento e podem sofrer mais com os efeitos dessa substância. Mas eu aposto que ninguém nunca tinha te falado sobre isso né? Então… é por isso que eu faço esses vídeos!
E eu tô falando especificamente do BPA porque essa é a substância mais conhecida. Mas é importante você saber que os plásticos podem liberar várias outras substâncias potencialmente perigosas. Comenta aqui embaixo se você quer que eu faça um vídeo só sobre os perigos escondidos nos plásticos.
E galera, pra se proteger, não tem outro jeito. Tem que reduzir o uso de plásticos, principalmente pra colocar alimentos quentes ou que vão ser aquecidos, fechado? E aí?
Você acertou qual dos nossos 4 itens era verdade? Tudo bem que nem o do plástico causar câncer era 100% certo né? Mas o importante é que você chegou até aqui e aprendeu bastante, por isso, eu queria te pedir pra apoiar o meu trabalho se você quer mais vídeos informativos como esse.
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Um grande abraço e eu te vejo no próximo vídeo. Tchau.