Desiguais, podcast da piauí. Ep. 2: "Envelhecer no Brasil"

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revista piauí
A velhice é uma fase da vida que, para muitos brasileiros, é de deficiências - na economia doméstica...
Video Transcript:
[Música] Alexandre cala nasceu em 1945 em Copacabana no Rio de Janeiro eem uma maternidade que hoje é um hospital geriátrico passaram-se 71 anos desde então E hoje aquele bebê é um dos maiores gerlos do mundo já que não tá mais trabalhando e olha lute tudo o que você puder para não te enfiarem um aposento porque quando traduziram aquela palavra do Inglês ou do Alemão e pro português do brasil virou aposentadoria remete que os velhos vão ficar lá no fundo daquelas casas antigas onde tinha um aposento onde ficavam enfiados os velhinhos eu não vou para aposento
eu vou envelhecer na sala da frente ciente dos meus direitos brigando por eles e por ter um propósito que é social que é de saúde pública que veio da infância que veio da minha militância quanto jovem meu propósito é tentar pelo menos que isso possa ser a realidade para a maioria dos brasileiros o Alexandre calash nasceu em um mundo em que os maiores de 60 anos eram menos de 3% da população brasileira ele é um baby boomer nascido num período de explosão demográfica depois do fim da da segunda guerra mundial ele foi da primeira geração
que cresceu assistindo televisão foi um jovem adulto no surgimento do movimento hip e viu a política mundial se dividir entre dois polos Durante a Guerra Fria e se lá atrás o kalash nasceu num país com poucos idosos 3% hoje Ele é idoso ao lado de 15% da população brasileira já os filhos dele lá para 2050 faram parte de um contingente de 31% de idosos no Brasil o dobro de hoje uma marca que países ricos levaram 100 anos para alcançar se a gente fizer mais escolhas a gente vai continuar naquilo que eu detestava quando o meu
avô falava quando eu era jovem eu obrigava com ele meu avô dizia o Brasil é o país do Futuro que nunca há de chegar e eu não quero na minha velice dizer meu avô só tinha razão a tecnologia e medicina aumentaram Nossa expectativa de vida e com ela o tempo em que somos velhos em 2075 no mundo a gente vai ter mais pessoas completando 80 anos do que bebês nascendo envelhecer é destino e é também sinal de progresso envelhecer é moderno e o kalash enxergou isso lá atrás quando ele fez a especialização médica dele e
hoje ele tem tantos títulos e cargos que é até difícil escolher qual fal citar eu vou pedir até pra edição acelerar aqui phd em epidemiologia pela Universidade de 35 anos estudando e trabalhando no rio Londres Oxford GR presidente do centro internacional de longevidade Brasil fundador da unidade de epidemiologia do envelhecimento da Universidade do primeiro mestrado em promoção da Saúde da Europa diretor da age friendly found diretor do Departamento de envelhecimento e do curso de vida da Organização Mundial da saú da Global he aid internation membro do conselho para envelhecimento do fórum econômico Mundial consultor especial
da secretaria de direitos humanos do Brasil na omo esquece tudo que você deu sobre as minhas credenciais para me apresentar o que eu faço questão de dizer hoje é eu sou velho orgulhoso de ter barba branca de precisar de óculos de ser careca de ter ruga porque eu sou o jovem que deu [Música] certo eu sou Carol Pires e esse é o desiguais um podcast da revista Piauí em seis episódios que tenta entender como as desigualdades impactam ao nosso destino que já começa a ser traçado no dia em que a gente nasce Dependendo de quem
são nossos pais e qual é o nosso país a produção é da Maranha filmes com apoio da fundação Tid Setubal o foundation e Ford foundation Esse é o Episódio número do envelhecer no Brasil [Música] o Alexandre calash nasceu em 1945 fim do estado novo a ditadura do Getúlio Vargas ano da eleição do General Eurico Gaspar Dutra foi a primeira eleição brasileira depois da Conquista do voto feminino o kalash nasceu no Rio então capital do país e Numa família de classe média com três filhos sentados pelo pai dono de uma pequena loja de tecidos na Rua
da Alfândega no centro do Rio meu pai que é libanes e emigrou pro Brasil quando tinha apenas 16 anos nós o chamaríamos hoje de um refugiado o pai dele chegou ao Brasil em 1926 aos 16 anos vindo do Líbano de onde ele fugiu com a família Da perseguição aos Gregos ortodoxos e meu pai começou a vida como mascate vendendo de porta em até poder se estabelcer como há em São Paulo a Rua 25 de Março tradicional antes do srio Libaneses judeus foi se consolidando ali um pequeno negócio depois ampliou até se estabeler como um comerciante
já a mãe do c tem uma origem bem diferente a avó era italiana de origem judia e o avô português do Porto eles se conheceram no movimento anarquista no início do século passado e acabaram emigrando pro Brasil a mãe dele já nasceu em São Paulo minha avó tinha 17 irmãos não 13 desculpa meu avô tinha 17 e se disseminaram pelo interior de São Paulo nessa mistura né de anarquista de Cultura judia que se misturava com Ortodoxa mas o avô que era de fam católica não eu gostei muito que eu vi numa entrevista o Senhor falando
que era como crescer dentro da da National Geographic né tinha tava tudo ali a história tava tudo ali a história inteira mas tem um detalhe porque eu ouvi essas histórias aprendi muito apreciava eu gostava eu ficava fascinado e e também era um gancho porque depois eu pegava enciclopédia ia ler sobre aquilo né para poder fundar entender mais mas eu tinha o pé na cozinha e ali eu aprendi a cultura afro-brasileira na vivência Porque como minha mãe foi criada em Belo Horizonte a minha avó de lá exportava as empregadas que vinham do Meio Rural Mineiro e
eu tô falando de uma época Ainda muito próxima ao final da escravidão eu estava falando com descendentes dos escravizados que ainda praticavam as suas religiões que ainda cantavam que ainda tinham tradições e oras dentro de casa era só saber ouvir claro que isso passava desapercebido que a minha mãe nunca percebeu que eu tava ali falando de oxu de nossa se desconfiasse ia botar a mão na cabeça se bem que ela própria quando chegava determinadas festividades ela era a primeira para correr pra praia para oferecer as flores para ir manjar né bem o sincretismo dentro de
casa e quando eu era pequeno menino não podia brincar com menino menino brinca com menino menina brinca com menina e eu tinha duas opções ou eu brincava com os meninos que eu achava muito chato porque o que que eles nos davam Uma Pistola para tirar e uma bola para chutar eu não tinha tinha vocação o único jogo que eu jogava bem Você conhece queimada joga né e o outro foge pra bola não bater esse eu fazia bem que eu não queria saber de pegar na bola bom eu cresci com duas opções ou brincava só com
menino já diz achava muito chato ou eu ficava ao pé dos velhos Matinha muito velho sobretudo ao pé das velas e sem imaginar essa convivência com os mais velhos na na infância seria determinante na vida adulta dele a mãe queria que os filhos fossem profissionais liberais e determinou que o primeiro fosse advogado para ajudar o pai nos negócios e o segundo médico para cuidar deles nas velice segundo filho medicina e ela escreveu no livro do bebê quando eu tinha 5 anos tava escrito e eu não tinha escapatória Eu sabia que eu tinha liberdade total de
ser o que eu quisesse desde que fosse médico e mais tarde todas essas influências de conversar e ter uma familiaridade grande com pessoas idosas se convergiu para o interesse que eu desenvolvi profissionalmente de não ser geriatra mas de me especializar em saúde pública e políticas voltadas pro envelhecimento ou seja aquela expectativa da minha mãe de que eu viesse a cuidar dos Pais velhinhos eu resolvi ampliar e resolver cuidados velhos do mundo inteiro como diretor da OMS mas antes de virar diretor da OMS o calá começou a trilhar uma carreira acadêmica e também política no movimento
estudantil Ele entrou pro curso de medicina em 1965 a primeira turma depois do golpe militar e fundou a Associação Nacional dos estudantes de medicina da então chamada Universidade do Brasil que foi renomeada naquele mesmo ano Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ eh isso tudo marcou Claro a minha juventude e em 68 A coisa arrochou veio o ato institucional número C ou A5 E aí é que a coisa pegou Mesmo durante o governo mce e daí para frente depois de formado Ele queria se especializar em saúde pública mas para você ser especialista em saúde pública
você depende do governo ninguém abre consultório de saúde pública e eu não conseguia emprego tava marcado ficha suja até que eu consegui uma bolsa da Organização Mundial da Saúde e da fundação for e fui pra Inglaterra para fazer o meu mestrado em saúde pública e quando eu cheguei lá eu me via num país envelhecido falei assim caramba como tem velho aqui que legal país interessante eu tava saindo de um país jovem tinha 4 5% de pessoas com mais de 60 anos Inglaterra já era um país muito mais envelhecido e eu resolvi fazer a minha tese
de Mestrado sobre o que te faz escolher geriatria geriatria não era uma área muito procurada pelos ingleses e o calash percebeu que 83% dos médicos geriatras eram Imigrantes de países subdesenvolvidos e foi pesquisar O porquê disso E aí sabe o que que eu descobri que os médicos bem-sucedidos e felizes com a escolha eram os médicos independentes Se Eles nasceram na Escócia no País de Gales em Nova delé ou no caiba eram uns médicos que quando jovens tinham vivido junto com os avós e tinham familiaridade com belice falei assim ol eu aí isso consolidou eu falei
assim é para aí que eu vou que o Brasil Vai envelhecer e o cal estava certo o Brasil envelheceu quando ele nasceu em 45 a expectativa de vida de um homem brasileiro era de apenas 43 anos mas ele era um baby boomer uma geração que viu os níveis de saúde e bem-estar social darem um salto o que resultou numa explosão demográfica era o pós-guerra revolução sexual hoje a expectativa de vida do brasileiro já é de 77 anos estamos envelhecendo e a conta parece que não fecha dados do Ministério da Saúde de 2018 apontavam quase 40%
dos idosos brasileiros com doena crnica outra da Brasil mostrou que 75% dos idosos dependem exclusivamente do SUS o sistemic de saje 15% dação de anos a Previdência custa 1% dob eessa dependem exclusivamente dos recursos do Instituto Nacional do Seguro Social INSS essa faixa da população precisa ter acesso a uma vida saudável e ativa a serviço de qualidade mas como diz o kalash como é que você vai dizer pra pessoa que ela tem que comer brócolis quando ela não tem dinheiro nem para farinha ou açúcar Como orientar fazer atividade física se o trabalhador fica exausto do
transporte público sucateado das filas do sistema de saúde e como vão saber dos seus direitos se antes foram privados de educação a velice que cada um de nós viverá é o resultado de uma vida em que gênero raça escolaridade e renda contam uma vida desigual leva um envelhecimento desigual o que pesa depois pra sociedade como um todo porque o que esses números de idosos SUS sobrecarregado e Previdência cara pro país o que eles mostram é que precisamos mudar de Rota e não é cortando direitos e sim nos preparando para viver uma velice mais saudável e
mais ativa Eu costumo dizer que a vida né antes era uma corrida de 100 m hoje ela é uma maratona a corrida de 100 m você enfrenta porque você vê on que você tá indo você vai junta estamina vai com determinação que você chega quando você muda esse patamar e que vem a longevidade você tem que ser um maratonista para você chegar bem ao final da maratona você precisa estamina determinação treinar conhecimentos propósito que eu quero chegar ao fim você tem que criar reservas Porque você não sabe o que que você vai encontrar do outro
lado da esquina nessa longa vida com barreira Os Capitais que o diz que precisamos acumular são quatro o mais importante seria saúde que nem todo dinheiro do mundo pode comprar apesar de ajudar bastante Você pode ter todo o dinheiro no bolso mas se a sua saúde cair e tiver num nível baixo sua qualidade de vida não vai ser a mesma não tem jeito você pode até você pode ir pro Copa dor ou pro Ciro libanes para tua qualidade de vida não vai ser mes o terceiro é o capital do conhecimento e não só Educacional é
se atualizar com novas tecnologias para continuar participando da sociedade da vida não é para nós profissionais é para aquele mecânico de automóvel que sabia tudo sobre mecânica que perdeu o trabalho aos 47 anos porque não aprendeu eletrônica e ninguém lhe ensinou ele abre o capô do Automóvel não entende nada e aos 47 anos ele vai sofrer idadismo você já tá muito velho pro trabalho cara mas eu não consigo eu tô há 3 anos tentando Pois é mas vai ter que trabalhar até o 65 viu o governo tá mandando vai ter que trabalhar até o 65
se via se via significa informalidade ter um bico uma vida precária então com saúde e conhecimentos Ainda mais nessa era de tudo muda com a tecnologia galopante você tem que aprender e manter a saúde o capital financeiro é o que poucos conseguem acumular mas que sempre vai ajudar a comprar conforto e acesso a bons serviços e o último é o que favorece você ter segurança e proteção que é o capital financeiro Tá fácil não capital financeiro meu senhor só tá mandando eu comer brócoli como é que eu vou comer brócoli eu comer com brócoli na
primeira semana do meso não de dinheiro para comprar farinha e açúcar na última Tá difícil como é que você vou falar de Economia fazer pé de meia Olha só como é que tá a inflação como é que tá o desemprego eu tenho obrigações de família eu sou arrimo de família eu sou velho mas eu sou a única fonte de renda da família inteira se eu não puser o dinheirinho ali na mesa não vai ter comida pros meus netos então num país com a desigualdade Nossa É complicado nós estamos na contramão os países desenvolvidos eles primeiro
enriqueceram para depois envelhecerem nós estamos envelhecendo não só em pobreza e Miséria como em tremendas desigualdades agora tudo isso sem propósito de vida também não vale nada cultive o seu propósito Pense bem o que que vai te fazer acordar sair da cama com disposição para mais um dia se você tá fazendo uma diferença pro bem nem que seja para você paraa sua família pros seus amigos pra sua comunidade quarto capital a se acumular pra velice é o capital social é desenvolver sua subjetividade sua personalidade ter amigos ter um propósito de vida você nunca vai saber
quando que você vai precisar de alguém que lhe cuide pode ser mais cedo pode ser mais tarde mas se você viver muito a chance é que você vai precisar desse capital social mas também um capital social que vai te dar alegria que vai trazer companhia o kalash viu todas essas riquezas serem acumuladas bem de perto pela mãe dele uma mulher que cresceu privilegiada sendo uma mulher branca moradora de Panema porque ela convenceu o meu pai deo muito cedo você tirou a sorte grande teresse casado comigo não é para qualquer um não você é um sortudo
ela teve um um noivo que ela gostou muito lá em Belo Horizonte chamava-se Adalto e eu ouvi muito de criança as histórias do Adalto e ela tinha sido Realmente acho apaixonada por ele mas a mãe não gostava do Adalto porque achava que ele tinha mal gênio e fez tudo para terminar aquele noivado inclusive simulou ter um ataque se strib chou no chão eu sei que meu pai tava lá estação de água né minha mãe bonita do jeito que era chamou a atenção dele e tinha até uma história de que ela tava patinando e ele observando
e cada vez que ela dava a volta passava por perto ele falava que olhos e a minha avó de longe olhando aquela Paquera aí minha avó mandou o nome dele descobriu na recepção do hotel pro meu avô investigar se ele tinha boa ficha policial e Comercial aí veio a ficha limpa aí a minha avó incentivou o namoro mas namoro de longe a minha mãe em Belo Horizonte ele aqui poucos se viram né A até que se casaram em se meses estavam casados entrou para uma família árabe n outra cultura outra cidade e a minha mãe
dizendo para ele você tirou a sorte grande mais tarde ela dizia Eu não casei com você por amor mas você me faz feliz e de vez em quando o Adalto aparecia nas Histórias Um dia eu tava almoçando com ela e ela me falou Você lembra do seu pai claro mãe Uai por que você não lembra não a gente fica chocado casad 56 anos bem casados felizes porque ele me amava e ela falou assim não ah mãe fecha o olho fecha os olhos e e me diz se você não vê um papai na sua cabeça a
imagem dele aí Abriu um olho um muita complicidade mas do Adalto eu me lembro mas aí o que que senu sentiu achei maravilhoso eu achei falei assim mãe que coisa incrível como é que você pode manter essa fantasia esse romance né que coisa fantástica né mas do meu pai já tinha borrado tinha cancelado meu pai tava cancelado mas eu não me senti ofendido eu só vi pelo lado positivo dela ter mantido e cultivado essa fantasia a mãe do calash morreu aos 103 anos depois de passar três com Alzheimer um final de vida muito diferente de
outra mulher que foi importante na vida dele a babada da família babá Vitória de que ele se lembrou no dia em que a mãe completou 90 anos antes do aniversário eu falei assim meu Deus se a minha mãe tá fazendo 90 a babá Vitória tá com 80 porque elas nasceram no mesmo dia 10 anos de diferença onde é que será que tá a babá Vitória e aí eu fui pesquisar buscar e e e e e falando com um com o outro consegui localizar babá vitória era daquelas mineiras que tinham vindo trabalhar a mulher boníssima negra
desnecessário dizer babá Vitória quando chegou num determinado momento da vida dela pediu pro meu pai que que pudesse trabalhar na empresa e foi e depois ela seguiu outros rumos e a gente perdeu de vista e quando eu encontrei a babá Vitória 10 anos mais nova que a minha mãe a babá Vitória tinha voltado para o interior de Minas não mais para Aquela pequena cidade uma cidade que tinha inchado com muita miséria onde ela não tinha capital social tinha uma irmã um sobrin que ela mal ela tinha passado a vida adulta aqui no Rio mas o
dinheiro era curto e ela achou que ia poder viver melhor no interior do que no Rio e foi com sobrinhos que ela não tinha contato a irmã morreu logo em seguida e ela foi ficando isolada e a minha mãe Nessa altura tinha uma doença crônica ela tinha hipert aabha tinha glaucoma tinha catarata tinha hipertensão tinha diabete tinha problemas osteomusculares etc mas sobretudo a babá Vitória não tinha filhos porque quando ela deveria estar tendo os filhos dela ela estava cuidando dos filhos da minha mãe essa é a tragédia do envelhecimento não éa dentro da minha família
mas é se você observa as pessoas que eu conheci na minha infância e que não chegaram a envelhecer ou envelheceram precocemente mal a babá Vitória eu ainda tive o privilégio de poder ajudar no final da sua vida mas ela durou pouco babá Vitória morreu 81 e morreu velha porque daquela geração as mulheres que chegassem aos 60 já eram excepcionais provavelmente a babá Vitória teve uma vida muito mais parecida com a média dos brasileiros do que com a mãe do calao Claro porque ela era mulher negra pobre morava numa cidade longe dos grandes centros com serviços
que em geral são melhores e tudo isso te leva a ter uma velice muito mais difícil o seu nível Educacional também conta Numa pesquisa com idosos 10% dos que tinham ensino superior relataram sentir limitação para realizar alguma atividade enquanto entre os sem instrução 43% disseram ter dificuldades uma pesquisa longitudinal da Fiocruz de Minas Gerais que estuda a população de velhos em mambi há 15 anos concluiu que idosos com ancestralidade africana que vem de famílias com menos recursos terminam a vida com piores condições de saúde Além disso pretos e pardos são os que menos possuem planos
de saúde privados segundo um levantamento do sáb estudo saúde bem-estar e envelhecimento por fim como uma mulher que não se casou e não teve filhos a babá Vitória precisou depender de familiares com quem ela não conviveu a vida toda que é outra realidade do país a pesquisa Nacional de saúde também mostrou que entre 6.5 milhões de idosos necessitando de ajuda quase 6% deles estão totalmente desamparados são 360.000 idosos abandonados outros quase 6% se valem de cuidadores remunerados e a grande maioria quase 82% recebem ajuda informal de familiares amigos e vizinhos mas aqui eu quero fazer
um parênteses porque a Vitória que trabalhou pra família calash pode representar uma grande parte da população de mulheres mulheres negras mulheres mais pobres que não desfrutaram de uma velice com saúde amigos e dinheiro porque todas as desigualdades pesaram na trajetória dela mas existem Óbvio outras histórias de mulheres pobres e negras que conseguiram Sim claro desenvolver toda sua subjetividade Fazer Amigos e acumular tudo que o Dr calash colocou naquele bingo da Felicidade Plena capital de saúde conhecimento social e financeiro olha é bonito eu gosto dessa ideia do professor saúde Eu me cuido bastante e tenho para
uma mulher de 84 anos eu tenho uma saúde razoavelmente boa capital do conhecimento eu gosto eu sempre gostei de estudar de tá eu fui o capital social eu gosto eu tenho amizades Eu tenho um grupo de amigos muito bons gente eu tenho amigos que foram meninas que foram minhas colegas de primário eu vivo do emprego dos empregos que eu cavei com muita luta fazendo concurso concurso concurso Essa é antropóloga Maria de Lourdes Siqueira autora de sete livros dona de dezenas de prêmios e con decorações em igualdade racial inclusão educação ela tá falando comigo de São
Luís no Maranhão sou do Estado do Maranhão município de Codó e nasci nos Matões dos Moreiras que hoje é um dos quilombos reconhecidos no Maranhão dentro dos Matões dos Moreiras eu nasci Mais especificamente na Matinha então eu sou filha da Matinha que fica no quilombo dos Matões dos Moreira município de Codó estado do Maranhão nasci em 1937 faço esse ano em outubro os meus 85 anos a Lurdinha nasceu num Quilombo no Maranhão e hoje tem doutorado em antropologia social e etnologia pela escola de estudos avançados em Ciências Sociais tem pós-doutorado pela Universidade de Londres e
outro pós-doutorado pela Universidade da África do Sul e o o início dessa jornada intelectual foi com ela sendo alfabetizada pela filha de uma ex escravizada era a tia avó dela Filomena Catarina Moreira professora Filomena Catarina Moreira nasceu de uma escravizada Carolina Moreira se formou em professora normalista e Codó precisava de uma professora nesse momento conclusão minha tia minha madrinha tia avó fil Catarina Moreira foi convidada para trabalhar em Codó então ofereceram uma casa para ela morar com a mãe e nessa casa ela criou a escola dela que foi a primeira escola de professora diplomada em
Codó Era Escola César Brandão a mãe da Lurdinha morou com a professora Filomena até se casar Daí ela foi morar com o marido tempos depois el gravidou da Lurdinha e quando a Lurdinha completou 5 anos foi mandada pela mãe para morar com a professora Filomena era minha madrinha oito filhas e eu Nós éramos 10 mulheres e nessa casa eu vivia até sair de lá formada como professora normalista volto para Codó fui nomeada professora do Estado do Maranhão trabalhei um bom tempo e minha mãe mais uma vez teve a iniciativa eu quero que Lourdes volte para
São Luís para fazer uma faculdade aí eu volto para São Luiz fiz a faculdade de pedagogia fui professora pedagoga e dessa formação de pedagoga de professora eh cria-se no Maranhão o movimento de Educação de base que era uma instituição que era uma parceria da igreja católica a nível Nacional pela CNBB e o governo federal o movimento de Educação de base o meb foi um programa nacional criado em 1961 que previa a criação de 15.000 escolas radiofônicas mas que não tinha só como objetivo alfabetizar a população e sim mobilizar as pessoas politicamente através do conceito de
conscientização trabalhei no meb um bom tempo e nisso chega 1900 E 64 e o meb é fechado por força da ditadura militar que se realiza nesse tempo em 1967 a Lurdinha conseguiu uma bolsa das Nações Unidas para fazer uma especialização de 10 meses em educação de adultos para comunidades rurais latino-americanas numa universidade no México e de volta ao Brasil ela passou num concurso de professora no Instituto de Educação Roberto Silveira em Duca de Caxias no Rio de Janeiro mas ela continuava engajar politicamente como opositora da ditadura e em 1971 ela foi presa eu fiquei numa
na vila militar em Vilas diferentes Vilas militares eu fiquei de fevereiro de 71 a novembro de 71 e por conta desse tempo na vila militar como presa com tortura e tudo eu perdi os empregos a Lurdinha Perdeu esse emprego mas passou em outro concurso para ser professora da Universidade Estadual de Feira de Santana e nunca mais deixou de estudar mas uma coisa que ela percebeu é que quanto mais alto ela subia da escola pra graduação pro mestrado doutorado ela ia cada vez mais sendo minoria como mulher negra eu me lembro quando nós terminamos o primário
e isso era os anos 40 nós éramos só 11 porque amos saindo as pessoas negras que vinham do campo que vinham do interior depois no gin nós éramos que eu lembro três negras na Escola Normal menos ainda na faculdade nós éramos só duas negras era eu e Maria do Socorro Barros minha amiga que se foi PR outra dimensão da vida há uns 5 anos atrás isso para dizer que o pertencimento étnico do negro sempre prejudicou a entrada da mulher negra do homem negro e principalmente da mulher negra nos níveis sociais considerados de prestígio seja nos
estudos seja nos empregos seja nas possibilidades de trabalho sempre os negros eram em número muito reduzidos quase inexistentes já nos estudos na França na Inglaterra e na do Sul ela voltou a ver negros mas ela continuava sendo a única negra brasileira depois que volto de Paris eu fui professora na Universidade Federal do Maranhão e durante 15 anos eu fui a única Negra professora e era uma faculdade pública e nem era medicina nem direito nem Odontologia que são consideradas as categorias universitárias digamos de mais prestígio era faculdade de administração e lá durante 15 anos eu fui
a única professora negra e aí eu preciso fazer um parênteses dentro desse que já é um parênteses Porque é importante não confundir a história excepcional da Lourdinha como Negra como exemplo do que chamam meritocracia ela chegou onde chegou porque é uma mulher inteligentíssima aguerrida claro mas também porque recebeu oportunidades como as de estudar desde jovem de ter bolsa de estudo para se aprimorar que não são oportunidades dadas igualmente a todos os brasileiros essas meninas que nasceram na Matinha só tem três vivas que sou eu Terezinha e Carmelita agora das filhas da minha madrinha com quem
eu vivi eram oito todas estudaram sendo que duas delas foram assim mais digamos avançadas nos estudos Rute fez faculdade Terezinha que é outra terzinha fez faculdade As outras todas fizeram curso fundamental diona fez faculdade Conceição fez faculdade elas avançaram nos estudos foram professoras foram contadoras trabalhar em Ministérios tiveram também uma certa proeminência cas da Lurdinha e das primas dela que receberam educação o destino não ficou dentro das estatísticas que colocam as mulheres negras como as com menos chance de completar os estudos e de ter bons empregos é a prova de que a oportunidade de educação
é uma das chaves para romper a desigualdade eu sempre na no meu trabalho de professora Eu sempre tive aquela direção certa de que eu queria que pessoas negras que meninas negras meninos negros se formassem estudassem para melhorar a qualidade de vida para ter autoestima para compreender os valores da pessoa negra para serem felizes e orgulhosos de serem negros e hoje a ludin tem orgulho de ter ela também formado dezenas de mulheres negras eu formei formei que eu digo foram Minhas alunas foram me orientandas de mestrado e doutorado meninas negras que hoje são professoras negras em
universidades federais que é romper a desigualdade queer lutar contra o racismo queer lutar contra toda sorte de desigualdade contra toda sorte de discriminação Essa é a grande questão porque a grande grande grande questão no Brasil que acaba com a gente é o racismo a conclusão da Lurdinha é bem parecida com a do Dr Alexandre C essa percepção porque a pandemia da Solidão ficou bem declarada na pandemia mas também a pandemia não foi uma pandemia isolada biológica ela foi uma sindemia que que eu quero dizer com a palavra sindemia vem de síndrome se você tiver dor
de cabeça coriza malar E você tem gripe Mas você só vai diagnosticar gripe se você super que esses sinais e sintomas significam essa síndrome quando você tem pobreza você tem morte você tem morte sobretudo da população negra que Lomb indígena que vive na periferia com nível Educacional baixo que envelheceu com comorbidade você tá diante de uma sindemia é o conjunto de fatores que fazem com que essa população desfavorecida tenha morrido quatro cinco vezes com mais frequência do que quem mora no Jardim Paulista ou no alto leblom e é esse o país que a gente vive
dessas desigualdades Então as desigualdades somadas ao idadismo nós vivemos um tsunami de idadismo que remete a sexismo e racismo porque outros Ficaram para trás e eu tenho obrigação de ser antidad dista não basta não ser idad dista você tem que ser antidad dista como disse a Angela Davis em relação à raça não basta não ser racista você tem que ser antiracista não basta você não ser sexista você tem que ser antissexista antidad dista anti lgbti anticapacitista é Essa militância que eu felizmente carrego comigo como propósito de vida e que me faz hoje abraçar novas [Música]
gerações se vamos todos envelhecer se esse é o destino comum a todos nós porque então a gente tem tanto preconceito com a velice apesar de ter falado aqui de muitas fragilidades dessa faixa etária a solidão problemas de saúde nós hoje vivemos uma velice bem melhor com mais expectativa de vida menos pobreza na cidade no Campo mais acesso à inovação na saúde e na qualidade de vida e as pessoas mais velhas continuam fazendo contribuições cruciais pra economia pra política Cultura a produção intelectual como um todo é uma faixa com um poder aquisitivo que é potencial pro
setor imobiliário turístico O que leva à conclusão de que a velice só é um problema quando não há vontade política e aí acho que para fechar Dr cal eu queria entender assim Acho que a é do ponto de vista das políticas públicas é meio óbvio que tá meio no Brasil pelo menos né Tá tudo errado você precisa de uma educação melhor uma saúde melhor Segurança Pública enfim tem a gente tem gargalos imensos para corrigir para que a nossa população envelheça bem ença com qualidade o que que Senor acha que falta para despertar esse interesse de
quem faz política pública ou do setor financeiro do setor privado de entender que a velice também é uma potencialidade aí a necessidade de ativismo e educação educação educação educação educação formação militância eu só quero que você pense na hora de votar que tenha discernimento que procure saber se na pauta desse partido ou desse político Independente de qual seja ele se envelhecimento está medido tem que lutar a luta começa pela escolha no próximo episódio de desiguais nós vamos falar mais sobre esse capital social que o Dr Alexandre Cal falou vamos falar sobre a nossa subjetividade e
de como é difícil ter um propósito de vida e poder fazer escolhas quando a realidade ao seu redor só te permite pensar em sobreviver desiguais é um podcast da revista Piauí produzido pela Maranha com apoio da fundação Tid set foundation Ford a edição desse Episódio é do Eduardo Gomes com mixagem e masterização de Diogo Saraiva A Arte da cap é do Gabriel Melo Franco eu e Ana Lua vastag escrevemos esse episódio que teve a Mar Faria na produção de reportagem revisão do roteiro da Fernanda Mena pela Maranha edição do Bruno bertogna com assistência da Aline
levinski também participou da sonorização o derck Cabreira com músicas da Mambo produção executiva da Juliana Santos da rbi direção criativa do Lucas Doraci e direção executiva de Tiago Pereira pela Piauí a distribuição é da Maria Júlia Vieira e as redes sociais São coordenadas pelo Fábio Brizola Emily Almeida e Isa Barros
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