[Música] Então, muito obrigado, Bruno, por ter me feito esse convite fantástico. É uma honra estar aqui com vocês. Sei que a maioria de vocês podia estar aqui e ensinar muito mais do que eu posso ensinar a vocês, mas quero partilhar um pouco hoje da experiência que eu tive nos últimos seis anos. Então, obrigado, Helen, também pelo convite e por ter feito tudo ficar muito fácil para a minha vinda para cá. Eu vou dividir essa pequena palestra em algumas partes. Eu vou primeiro explicar um pouco sobre o Thomas Aquinas College, que é a faculdade onde
eu estudei e, também, depois de me formar, trabalhei. Voltei para o Brasil em setembro, então está bem fresco ainda na minha cabeça essa experiência que eu acho que vai somar para todos vocês. Quem quiser se aprofundar mais no tema da palestra de hoje, também falarei um pouco sobre a finalidade da educação. Porque, como a gente vai estar falando de método, o método supõe o fim, a finalidade; todo método só vai ser bom se ele cumpre a finalidade que ele tem. Então, nós falaremos da finalidade que o método socrático tenta alcançar. Essa será o nosso plano
aqui e, ao fim, também falarei das falhas do método socrático. Assim como todas as coisas e práticas técnicas humanas, elas não são boas em todos os quesitos, sem qualificações. Então, vou colocar algumas coisas que fazem com que o método socrático possa falhar algumas vezes, também enquanto método, para nós conseguirmos guiar as nossas expectativas da melhor forma. Começando aqui, em 2018, eu fui para os Estados Unidos. Nunca foi meu objetivo ir para os Estados Unidos, não era uma pessoa estudiosa até os 16, mas depois da minha conversão comecei a me apaixonar mais pela igreja e, portanto,
queria buscar respostas para as perguntas que eu pensei que nunca tinham sido nem suscitadas na escola. Mas então houve essa oportunidade generosíssima de eu ir para essa instituição, Thomas Aquinas College. E fui realmente... Eu achei assim, no meu primeiro ano, eu lembro de, na capela da faculdade, que é belíssima à noite, eu e eu falava: "Deus, quando foi que eu morri? Porque claramente o Senhor me trouxe para o céu, só que eu não lembro do ingresso, né? O que aconteceu entre o Brasil e o que eu estou vivendo agora". Então, foi uma experiência poderosa, muito
poderosa, foi muito, muito preciosa na minha vida e eu sou muito grato por ter tido essa experiência. Para resumir a faculdade para vocês, é uma universidade que se define pelo discipulado a São Tomás de Aquino, doutor da Igreja, e, portanto, ordena todas as disciplinas para o estudo de São Tomás de Aquino. O que isso quer dizer? Quer dizer que a faculdade tem um currículo fixo; nenhum aluno escolhe o que ele vai estudar e nem a ordem que ele vai estudar, porque supõe-se que, se ele é discípulo, ele precisa aprender de um mestre. O discípulo não
pode ordenar, porque pertence ao sábio ordenar, e, portanto, os alunos simplesmente seguem o currículo que a faculdade já tem feito por 50 anos e que funciona muito bem. Mas algumas outras coisas, além de um currículo fixo, que a faculdade tem e que eu acho que vale a pena comentar aqui, é toda essa ordenação de todas as disciplinas para a sabedoria. Então, entende-se que o propósito de uma educação verdadeira é a sabedoria. Não é uma prática, não é um treinamento profissional, mas sim essa virtude intelectual que nos faz ver tudo com os olhos de Deus. Essa
é uma das melhores definições de sabedoria que eu já escutei: o conhecimento da primeira causa, mas é ver as coisas como Deus faz. Então, de certa forma, a busca da sabedoria é uma preparação para essa visão que nós esperamos ter no céu, que é a visão beatífica. São Tomás vai dizer que a visão beatífica é quando nós vemos a essência de Deus e, nesta terra, nós não podemos fazer isso, mas podemos, pelo menos, através dos efeitos, conhecer um pouco da causa. Isso já nos dá um dos maiores prazeres da vida humana. Além desse currículo fixo
e dessa ordenação à sabedoria, a faculdade é única também em questão de método, porque todas as aulas, todas as disciplinas que são latim, matemática, filosofia, teologia, literatura, música... E aí nós vamos estudar também história e outras disciplinas, mas essas são as principais; todas essas disciplinas nós estudamos através dos chamados great books, dos grandes clássicos, dos grandes livros. Então, vamos colocar, por exemplo, nas ciências naturais, que eu acho que eu não comentei antes, em vez de lermos sobre a física newtoniana, nós estudamos o princípio de Newton. Em vez de estudarmos filosofia platônica, nós estudamos Platão. Em
vez de estudarmos matemática euclidiana, nós estudamos Euclides e assim por diante. Nós lemos das fontes primárias. Inclusive, C. S. Lewis diz na "Vida Intelectual", que é uma obra imprescindível para todo mundo que está começando na vida intelectual, que lê e eu descobri hoje que o Centro Dom Bosco também publicou essa obra, então comprem deles. Me deram de presente. Ele diz assim: "O contato com os gênios nos entrega, como benefício imediato, uma ascensão por sua simples superioridade. Eles nos gratificam antes mesmo de nos ensinar alguma coisa. Eles nos dão o tom e nos deixam acostumados com
a atmosfera dos cumes. Sempre nos movemos nas regiões mais baixas, então eles nos levam, num piscar de olhos, para o topo onde eles vivem". É muito bela essa citação, porque o que ele está dizendo é que esses grandes mestres, esses grandes clássicos, perduraram centenas de anos, até milênios. Eles estão... Nos elevando para um nível que nós não estamos acostumados. Especialmente nós, vivendo nesse século do Instagram, não estamos acostumados com esse nível de profundidade. Quando nós vemos, por exemplo, os elementos de Euclides, e conseguimos enxergar a ordem que ele tem nessa ciência, é algo que nós
não conseguimos aguentar mais: sermos elevados por esse livro. A mesma coisa acontece quando vemos as grandes obras de São Tomás de Aquino. Você é elevado porque São Tomás está em um nível que nós não estamos e não experienciamos, né? Deus não produz muitos Santos Tomás na história; ele é único. Portanto, quando a gente encontra uma obra assim, de todos esses autores que mencionei, nós temos essa experiência de humildade perante algo grandioso. A mesma coisa com Newton, por exemplo, e com Arquimedes, Platão, entre outros. Então, isso era algo único da faculdade que eu não tinha experienciado
antes na escola, nem nos meus estudos que fiz sozinho antes de ir para essa universidade. Mas todas as matérias, desde filosofia, teologia, ciências naturais, e matemática e suas partes, eram feitas através da leitura desses grandes textos. Mas, além da leitura desses grandes textos, nós vínhamos para a aula, e todas as aulas eram pelo método socrático. E, finalmente, vocês vão entender por que eu falei tudo isso. O propósito, então, dessa palestra vai ser mostrar um pouco o que é o método socrático, quais são as vantagens do método socrático para a nossa própria busca da verdade, para
cada um de vocês na busca da verdade. Então, focando agora mais nessa parte, eu quero dizer, como falei no começo, que para entendermos o método, nós temos que entender o fim. Porque o método é um meio; é um meio para alguma coisa, e o método só vai ser bom—o método socrático só vai ser bom—se ele alcançar seu fim. Então, qual é o fim do método socrático? Aqui, pelo menos na aplicação que eu vou dar. Tem pessoas que usam o método socrático para escritórios de advocacia, tem pessoas que usam para o mundo dos negócios. A aplicação
que eu vou dar e a explicação que eu vou dar sobre o método socrático é na busca da sabedoria, como comentei antes. Então, o propósito é uma chamada educação liberal católica. O que é uma educação liberal católica? Não é do liberalismo, mas liberal no sentido de que vai prover ao homem ferramentas para que ele possa ser verdadeiramente livre. Em que sentido? Que ele possa viver de acordo com a sua natureza. Então, um homem livre é aquele que vive para o seu próprio fim, e o seu próprio fim é a contemplação de Deus. Então, de certa
forma, a educação liberal vai prover ao homem conhecimento das verdades que vão aperfeiçoar seu intelecto: verdades sobre Deus, sobre a nossa alma, por exemplo, sobre a natureza fora de nós, e também é uma educação da vontade, com habituação às virtudes, mas com a filosofia que nós chamamos de prática, que é a parte da filosofia que estuda o fim da vida humana e os meios para chegar a esse fim. Por exemplo, na ética de Aristóteles, ele ensina o que é a felicidade e quais são os meios, ou seja, as virtudes, que nos ajudam a chegar até
ali. Eu falo isso porque é importante nós termos a noção de que, para esse tipo de conhecimento, precisamos ter um conhecimento que se chama científico. Conhecimento científico, hoje em dia, tomou um outro norte. Então, eu vou ler a definição que Aristóteles dá nos Analíticos Posteriores, que é um livro de lógica no seu Órgão sobre conhecimento científico. Ele fala assim: "Nós pensamos saber algo cientificamente quando sabemos a causa que ela é a causa e que não pode ser de outra forma." Então, em resumo, quando eu sei algo cientificamente, nesse sentido estrito que Aristóteles está colocando, é
quando eu conheço a coisa através das suas causas. Quando eu conheço a coisa através das suas causas, eu posso ter certeza de que a coisa não pode ser de outra forma. A experiência mais concreta que a maioria de nós tem sobre isso é nos estudos matemáticos. Poucas pessoas duvidam das verdades das conclusões matemáticas, por isso é um bom exemplo da ciência. Mas entende-se que esse tipo de conhecimento também pode ser obtido com as disciplinas filosóficas. Hoje em dia, estamos tão desacostumados com essa frase que parece estranho dizer isso. Como assim eu posso ter esse conhecimento?
Com certeza das disciplinas filosóficas, eu posso ter certeza de que a alma é imortal através da minha própria razão. Eu posso ter certeza de que é melhor viver uma vida virtuosa do que viciosa, etc. E outras conclusões podemos ter nas partes da filosofia. Eu posso ter certeza das causas da natureza e os princípios da mudança e de todas as partes. Enfim, se nós entendermos isso agora, já estamos mais prontos para tentar entender o que é o método socrático e por que eu acho que ele é o método mais eficaz na busca desse tipo de conhecimento,
que é o tipo de conhecimento que vai ser distinguido. Talvez a gente possa colocar em uma linguagem mais simples: é um conhecimento que vai te formar em vez de informar, ou seja, o método socrático—e eu vou explicar o que ele é—talvez não seja o melhor método de te dar informação. O melhor método para pegar informação, realmente, pode ser uma palestra, o método expositivo, porque você consegue passar por muito mais em menos tempo. Porém, quantos de nós temos a experiência de que, às vezes, alguém vai e eu assisto... Uma aula. A aula é muito boa, me
move. Eu acho que eu aprendo muito. Chego em casa ou vou para o café, ou vou para a escola, ou vou para o trabalho e tento explicar para alguém. E na primeira pergunta que a pessoa faz, eu já não sei mais explicar. O que isso significa? Significa que aquele conhecimento é informativo para mim. Eu posso até ter a conclusão correta, mas aquilo ainda não é meu, não é parte de quem eu sou. Enquanto, quando você tem um conhecimento que é sólido, ele está enraizado na sua alma, ele virou parte de quem você é. E aí,
esse eu acho que é o tipo de conhecimento que eu quero falar, que o método socrático vai prover de uma maneira mais eficaz. Então, vamos entrar mais historicamente. O que é o método socrático? Obviamente, o método socrático lembra de Sócrates, e nós precisamos ver por que nós vamos nomear esse método de socrático, depois de Sócrates. Para entender um pouco de Sócrates, nós vamos ver que o que temos de Sócrates é o que foi deixado por Platão, seus diálogos, seus textos. E Sócrates é muito interessante porque ele afirmava, e todo mundo sabe disso, que "só sei
que nada sei". Então, nós precisamos entender por que ele dizia isso. Começou que o que acontecia foi que ele escutou um oráculo que disse que, de todos os homens da Grécia, Sócrates era o mais sábio. Ele falou: "Não, isso é impossível, que eu seja o mais sábio! Tem muitas pessoas aqui na cidade vendendo a sua sabedoria, os sofistas, e eu sei que eu não sei nada". Então, ele fez da missão de sua vida falar com esses sábios para tentar provar que o oráculo estava errado. E até o ponto que ele conseguiu perceber que, na verdade,
todos se achavam sábios, mas não o eram. Então, ele estava numa posição melhor do que eles, porque ele também não era sábio, mas pelo menos sabia dessa ignorância, e somente sabendo isso ele poderia ter esse ímpeto de buscar. Então, nós temos exemplos dos seus diálogos. "Menon" é um ótimo exemplo. "Menon" é um diálogo que Sócrates tem com Menon, que é um sofista que ensina as crianças e os adultos a serem virtuosos. Então, ele prega nas praças públicas e ele ensina a todos que a virtude é assim que se ganha, virtude é assim que se pratica.
Então, Sócrates chega para o Menon e diz: "Menon, você que é sapientíssimo, eu quero conversar com você para aprender sobre virtude". Eles chegam na pergunta se a virtude pode ser ensinada ou não, e Sócrates diz: "É uma pergunta muito boa, se a virtude pode ser ensinada ou não, porque parece uma pergunta difícil. Se pudesse ser ensinada, todos os filhos de pais virtuosos seriam virtuosos, mas não! Nós não vemos isso na nossa vida real". Também parece que não é só um tipo de conhecimento, porque às vezes nós sabemos o que é o errado e mesmo assim
praticamos. Então, é uma pergunta complexa, mas Sócrates diz: "Nós não podemos responder essa pergunta a não ser que nós respondamos primeiro: O que é a virtude?". Então, é o diálogo todo, eles tentando responder o que é a virtude para tentar responder essa pergunta, porque Sócrates realmente acredita que, a não ser que ele capte a essência desse termo virtude, não adianta discorrer sobre ele, porque você não vai conseguir ter esse conhecimento arraigado. Tudo que você vai poder ter são opiniões acerca disso. Então, Sócrates, o que ele estava buscando? Esse conhecimento enraizado que eu estou falando para
vocês, esse conhecimento que faria desse tipo de pergunta, desse tipo de resposta, se a virtude pode ser ensinada, parte dele mesmo e não somente "eu acho isso" ou "penso isso". Num outro diálogo, "Eutífron", por exemplo, eles vão entrar na questão do que é a piedade. Porque Eutífron, ele está com um problema também. Ele encontra Sócrates e Sócrates pergunta o que ele está fazendo, onde ele está indo. Ele diz que vai denunciar o pai dele. Sócrates fala: "Como assim, você vai denunciar o seu pai?" Ele fala: "Vou denunciar o meu pai porque meu pai assassinou um
servo". Sócrates pergunta: "Mas como seu pai assassinou um servo?". E ele responde: "Bom, o servo matou uma outra pessoa. Meu pai o prendeu em um lugar e foi procurar o oráculo para saber o que ele devia fazer e, quando voltou, o servo tinha morrido. Então foi por culpa dele, por estar amarrado ali, que ele acabou morrendo". Então, é uma complexidade maior do que simplesmente "meu pai matou um servo". Houve uma pergunta muito mais complexa do que simplesmente "meu pai negligenciou ter cuidado do servo ou amarrou em um lugar que ele não pensou". Então, houve uma
pergunta muito mais complexa do que simplesmente matar um servo. E quando Sócrates pergunta para ele: "Por que você está fazendo isso?", Eutífron fala: "Porque é piedoso, é o que os deuses querem". Então, Sócrates, na sua famosa maneira de agir, fala: "Ah, você então, que é muito sábio, me ensine o que é a piedade, eu não sei". Então, eles discutem, discutem até um ponto em que Eutífron não consegue dar uma resposta convincente e vai embora. Ele simplesmente vai embora e fala: "Ó, eu não sei mais falar com você, Sócrates, tchau, não tenho tempo". "Críton" também é
um outro diálogo muito forte, onde os amigos de Sócrates vão tentar convencê-lo de que ele deveria fugir da prisão, pois o melhoramento da sociedade seria muito melhor se Sócrates estivesse vivo. Ele era o único sábio. Então eles falam: "Vamos fugir, nós temos dinheiro e vamos te exilar para outra". Pátria, então Sócrates discorre sobre a natureza do que é: fugir da prisão é justo, não é justo, é bom, não é bom? E aí nós temos "A República", que é um dos melhores exemplos do que eu vou falar aqui sobre o método socrático. "A República" de Platão,
obra magnífica, eu estou até lendo agora porque estou dando um curso sobre "A República" aos sábados. A pergunta é: é um livro muito maior, não é somente um diálogo, né? É um livro grande, composto de dez livros. A pergunta lá é: o que é a justiça? Eles começam com essa pergunta através da seguinte indagação: é melhor ser justo ou parecer justo? Porque parece que o melhor é parecer justo. Então, o sofista tenta convencê-lo de que, se alguém pudesse escolher entre não ser justo e receber as honrarias de alguém que é justo, e toda a boa
fama de alguém que é justo, e a outra pessoa pudesse ser justa, mas fosse odiada e reprimida e vista como alguém desprezível, essa pessoa, todo ser humano, escolheria a primeira opção, que é não ser justo, porém aparecer, aparentar justo, ser justo. E Sócrates, então, procura responder a essa pergunta. No fim do primeiro livro, eles até chegam a resultados sobre isso, mas Sócrates fala o seguinte: "Olha, essa discussão foi muito boa, foi fantástica. Realmente, chegamos a uma conclusão de que é melhor ser justo, porém eu não aprendi nada. A não ser que nós saibamos o que
é justiça, eu ainda não tenho certeza de que o que concluímos agora é verdade ou não." Então, novamente, Sócrates — e eu tinha um professor lá no Thomas College, no THC, que falava que a maior contribuição que Sócrates teve para a filosofia foi mostrar que a definição é a parte primordial e a primeira parte de qualquer busca filosófica. Você tem que saber a definição de um termo, você precisa buscar a definição, e por isso a primeira parte da lógica, quando estudamos lógica em Aristóteles, as categorias, será um texto que nos ensinará como fazer uma boa
definição. E a Karen seud lógica comigo, pelo método socrático. Então, Sócrates tem essa maneira de buscar a verdade; talvez possamos dizer que ele ensina a verdade através de um diálogo, através de perguntas. Porque, através de perguntas, ele vai levando o seu aluno, o seu interlocutor, a perceber, enquanto fala, as próprias lacunas no seu conhecimento. Então, ele diz: "Ah, você disse isso agora, mas antes você disse aquilo. Como juntar essas duas coisas?" E essa é a pedagogia de Sócrates. Essa pedagogia, através do diálogo, através das perguntas, vai levando o aluno — também chamado de dialética —
a perceber o que sabe e o que não sabe. Tanto é que, em uma certa conversa com Menon, uma certa hora, Menon fala assim: "Sócrates, antes de conhecê-lo, costumava me dizer que você estava sempre duvidando de si mesmo e fazendo os outros duvidarem. E agora você está lançando seus feitiços sobre mim, e eu estou simplesmente ficando enfeitiçado e encantado. Estou no meu juízo final e, se posso me aventurar a fazer uma piada sobre você, você me parece, tanto em aparência quanto em seu poder sobre os outros, ser muito parecido com um peixe-torpedo, plano, que entorpece
aqueles que se aproximam dele e o tocam, como você me entorpeceu agora, creio eu, pois minha alma e minha língua estão realmente estúpidas e eu não sei como responder-lhe. Embora eu tenha sido entregue a uma infinita variedade de discursos sobre a virtude antes, e para muitas pessoas — muito boas, como eu pensava — neste momento, eu não posso nem mesmo dizer o que é a virtude." Então, Menon, nesse momento, chega ao que vamos chamar de aporia, esse encantamento, esse maravilhamento, esse assombro diante da sua ignorância. É somente nesse momento que o aprendizado é possível; o
aprendizado só é possível quando o aluno tem essa verdadeira percepção da ignorância. Então, Sócrates, uma das maiores contribuições que ele tinha para pessoas que estavam dispostas a buscar a verdade, como Menon, a maioria delas não estava disposta a buscar a verdade, mas como Menon, ou vamos pensar em Glauco ou em Adimanto, na República, H. Diferentemente de Eutífron, era trazê-los a esse ponto, onde eles diziam: "Sócrates, me ajuda agora, estou perdido." Enquanto Menon achava que ele era a autoridade sobre a virtude, ele não conseguia aprender; para Sócrates, não havia como ensinar ele. Então, percebemos que isso
é uma das origens do método socrático: essa maneira com que Sócrates leva as pessoas a essa aporia, através dos seus questionamentos. Agora, saindo um pouco de Sócrates, podemos ter um comentário de Santo Tomás aos "Analíticos Posteriores" de Aristóteles. O título é um pouco longo, mas é onde ele fala sobre as partes da lógica, e ele vai dizer que existem quatro maneiras que nossa mente pode conhecer algo, quais os graus de certeza que podemos ter sobre algo. Até Olavo tem um livro sobre os quatro discursos, que também é similar ao que estou falando, mas que está
naquele comentário em duas páginas. Ele vai dizer que podemos ter um conhecimento de certeza — ou, como eu falei no começo, conhecimento demonstrativo —, e um exemplo desse conhecimento analítico ou demonstrativo é o conhecimento que temos, por exemplo, com uma demonstração matemática. Você tem os princípios ali: o ponto é isso, a linha é isso, a figura é isso, o círculo é isso, e você vai e aprende que o triângulo tem a soma dos três ângulos iguais a dois ângulos retos. Né? Você tem certeza absoluta disso quando você demonstra? E você, por você, conhece as causas.
Nós temos um outro tipo de conhecimento, que é chamado de fé ou opinião sobre algo. Então, nós podemos ter uma certa fé ou opinião. Aqui, fé, eu quero dizer, uma fé humana, certo? O que é uma fé humana? Você acredita em algo; você pensa que algo é verdade porque acredita em algum professor ou alguma autoridade naquele assunto. Essa é a maioria dos nossos conhecimentos que nós temos, estão nessa categoria. Ou seja, o próprio teorema de Pitágoras ou esse teorema da proposição 32 do livro Um de Euclides, que é essa da soma dos ângulos. A maioria
das pessoas nunca teve a oportunidade de demonstrar essas proposições, mas a maioria de todos nós aqui acredita que estaríamos bem certos de que é verdade. Mas, a não ser que nós tenhamos as causas daquilo, ainda assim é uma fé, uma opinião. Ou seja, o teu professor provavelmente falou isso, todo mundo fala isso, ninguém nega, então, provavelmente, é verdade. Então, a gente tem uma certa fé ou opinião. O que acontece é que o nosso intelecto não quer só ter isso, a fé ou a opinião. Ele quer saber o porquê das coisas, mas eu vou entrar mais
a fundo nisso depois. Só que, por enquanto, vamos. Então, nós temos esse conhecimento de certeza, que chamamos de analítico demonstrativo. Depois, nós temos esse conhecimento chamado de dialético, que é a fé, a opinião. Abaixo dele, nós temos um conhecimento que chamamos de uma certa suspeita, de um lado da contradição. Vou explicar o que quero dizer com um lado da contradição. Eu digo: "O Eugênio está sentado" e "O Eugênio não está sentado". Isso é uma contradição. Ou seja, uma dessas proposições certamente não está certa, e a outra certamente está certa. Ou ele não está sentado, ou
ele está sentado; não tem como ter outra opção, né? Então, certamente, ambas não podem estar certas. Ah! Esse é um primeiro princípio da nossa vida intelectual, da mente. É esse princípio da não contradição: que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, no mesmo respeito, sobre o mesmo aspecto. Então, nós temos uma certa suspeita. Esse é um conhecimento que vem através do argumento retórico. Então, talvez seja o tipo de conhecimento que nós temos sobre as nossas... Um discurso político, vamos dizer, que diga que uma certa ação é melhor ou não, e nós
realmente acreditamos nisso. Eu realmente acho que... Não sei, vou dar uma opção: que pena de morte é algo bom ou algo ruim. Vamos colocar essa contradição. Tem uma certa suspeita de que um lado seja verdade e o outro lado não seja, porque eu escutei uma pessoa dar um parecer, um bom argumento, mas não foi um argumento causal; ele não deu todas as causas, ele não deu todos os argumentos. Mas você tem uma certa suspeita de que aquele lado seja mais verdadeiro, ou seja, tem mais probabilidade de aquele lado ser verdade do que o outro. Só
que, nesse conhecimento retórico, nós temos um certo medo de que o outro lado pode ser verdade, enquanto nos outros dois tipos de conhecimento nós não temos isso. Nenhum de nós tem dúvida, por exemplo: "Ah, eu tenho medo de que 2 + 2 pode não ser 4", porque ou 2 + 2 é 4 ou 2 + 2 não é 4, certo? Isso seria a contradição. Mas eu acho que nunca uma pessoa, uma pessoa com senso comum normal, vai dizer: "Ah, eu não sei se 2 + 2 é 4", né? Você não tem suspeita de que o
outro lado pode estar errado, mas esses argumentos retóricos têm isso. E, por último, tem o nosso conhecimento que a gente chama de uma certa estimativa. Um lado parece melhor do que o outro, portanto, mais verdadeiro. Então, o exemplo que São Tomás dá é quando a gente pode não falar que uma comida é ruim porque ela parece vômito. Vamos dizer: "Essa sopa aí é ruim. Por quê? Porque parece vômito." Isso não é um argumento verdadeiro, né? Mas você pode realmente não querer comer aquela sopa porque parece vômito. Mas você sabe que não é vômito, mas esse
é um argumento poético, ou seja, um argumento que te move as paixões. Então, você tem essa certa estimativa de um lado da contradição. Enfim, estou falando disso tudo porque o método socrático visa trazer sempre o que nós... Nós tentamos, com esse método que eu vou falar agora, chegar nesse conhecimento mais certeiro possível. Ou seja, que cada aluno chegue ao fim da aula. Claro, esse seria, no melhor dos casos, que cada aluno chegue ao fim da aula, ele mesmo sabendo o que ele sabe e o que ele não sabe. Mas não só: "O professor disse isso",
mas realmente "isso é o que eu penso, por causa disso, disso e daquilo". Então, vamos dizer que nós estamos tendo uma aula sobre as cinco vias de Santo Tomás, e no fim das contas você pode acabar a aula e falar assim: "Ó, realmente, Santo Tomás provou que Deus existe por cinco maneiras." E você pode ter esse conhecimento, dizendo: "Eu entendo todos os argumentos e premissas e eu realmente acho que eu sei isso." Ou você pode dizer: "Eu acho que o Santo Tomás sabe do que ele está falando, eu acho que ele fez isso, eu não
conseguiria fazer, não conseguiria provar, mas eu estou convencido de que ele fala." Ou você pode falar assim: "Ah, não, o professor ali. Acho que ele realmente entende isso. Portanto, tem como provar a existência de Deus." Mas, se alguém fosse realmente te forçar a provar por conta própria, você ia falar: "Vai ler São Tomás" ou "Vai escutar esse professor aí." Que ele vai te explicar melhor, né? Então, o método socrático vai tentar fazer com que o próprio aluno seja o detentor desse conhecimento, ou seja, o conhecimento seja parte da alma dele. Esse é o objetivo. Então,
mudando daí um pouco do rumo, nós falamos pouco sobre Sócrates e dessas quatro maneiras de conhecer a verdade. Nós podemos ter também, historicamente, algo parecido com o que eu vou falar do método socrático, que são as disputas escolásticas. Então, as disputas, que era um certo debate que eles tinham nas universidades, mas é um pouco diferente. Como funcionava? Eles diziam: "Ó Tomás, você vai preparar esse lado da contradição, então." "Ó, que a pena de morte, para dar esse exemplo, é boa." E você vai com esse outro lado da contradição, que a pena de morte não é
moral, vamos colocar assim. E aí, então, você tinha um debate entre eles, tentando dar os melhores argumentos para o lado que eles foram escolhidos. Isso era uma prática muito comum na Idade Média. Santo Inácio de Loyola também fala isso na "Ratio Studiorum", que é uma prática muito importante para formação. Para você, até por várias razões, mesmo que você saiba que o que você está defendendo é errado, você vai poder criar melhores maneiras de tentar combater aqueles erros, sabendo as razões daquilo. Até o próprio Aristóteles vai falar, na Metafísica, que toda busca da verdade precisa começar
com dificuldades, precisa começar com os problemas. Quais são as dificuldades que nós precisamos reconhecer que existem nesse assunto? Enfim, existe isso. Porém, agora, focando mais no método socrático, na prática que eu vou falar desde o começo e que eu queria compartilhar com vocês: não é um debate. Um debate é quando você tem um lado e você tem outro lado, e vocês agora dão os melhores argumentos para aquele lado. O método socrático, que eu estou falando aqui, não é exatamente o que Sócrates fazia. É importante dizer isso. Ele busca fazer com que cada aluno, através da
discussão, chegue à verdade juntamente com todos os outros alunos. Então, o ponto ali não é defender uma posição; o ponto é tentar encontrar a verdade através do diálogo. De que maneira é diferente do método que Sócrates aplicava? Geralmente, não vai ser uma conversa um a um, em que o professor vai ficar fazendo muitas perguntas para você até você conseguir chegar a essa aporia e depois levar da aporia até o conhecimento. Geralmente, na prática, o que nós queremos dizer com método socrático é que os alunos vão ler um texto, geralmente um grande texto, vão vir para
a sala de aula e, acompanhados de um tutor que vai guiar esse método, terão uma discussão sobre a seleção daquela obra que leram. Então, perceba que é diferente da maneira como Sócrates fez, mas esse princípio de que, a não ser que cada um faça do conhecimento seu próprio e ativamente o busque, não haverá verdadeiro conhecimento, esse princípio ainda está ativo ali. Mas, na prática, o que acontece? Você vai ter a exposição de um certo tema por um mestre, só que não vai ser o professor vivo; vai ser o professor que ensinou através da escrita. Então,
como eu falei antes, o ideal é que o método socrático seja através da discussão dos grandes textos, desses grandes clássicos, como "A República" de Platão. Você pode ler e achar que Sócrates era comunista, e você pode ler e achar que Sócrates era católico. Entendeu? Você tem várias maneiras, e o range ali é bem grande do que você pode achar que Sócrates está falando nessa obra, né? Que Platão está falando nessa obra através de Sócrates. O método socrático vai ser: você pega essa leitura, você pega essa seleção e vem para a aula, onde o professor, na
prática, vai fazer uma pergunta inicial. Então, vou dar um exemplo bem prático: na primeira aula da "República", a minha pergunta foi: "Por que eles estão falando sobre justiça? Como eles chegaram lá?" E aí os alunos vão começando a discorrer sobre o assunto de maneira breve, pontual, apontando o texto. O texto sempre é a base. Então, se alguém fala: "Ah, eles estão falando por causa disso, disso e disso", a pergunta do guia, do professor, é: "Onde está isso no texto?" Porque, de novo, o objetivo principal daquela aula vai ser o que o texto está falando. E,
claro, posteriormente, os textos estão certos ou não, mas, na prática, então, o aluno vai ler uma seleção de um texto, vai vir para a aula e, com outro, talvez 15 alunos, talvez 18 alunos, vão começar uma discussão sobre o texto. Mas uma coisa que é interessante é que a discussão não é: "Deixa eu mostrar para você o quanto eu aprendi sobre esse texto." A discussão realmente é quando cada aluno humildemente fala: "Eu não faço ideia do que Sócrates está falando nesse livro." Porque uma das coisas dos grandes livros é que eles nos elevam. Como eu
li, há outra coisa sobre os grandes livros: eles são muito difíceis. Peguem o "De Anima" de Aristóteles e tentem ler como você lê uma obra de literatura; não vai, simplesmente, você não vai entender nenhuma palavra do que ele está falando. Todas as palavras ali você sabe a definição na gramática, no dicionário português, mas, juntas, não fazem sentido nenhum, porque ali tem uma grandiosidade tão grande, é tão profundo esse texto que você precisa se demorar em cada parágrafo, em cada sentença, em cada palavra. E por isso que o método socrático nos ajuda muito, porque nenhum aluno
chega na aula com — raríssimas exceções —, mas geralmente os alunos não chegam à aula com conhecimento completo daquele texto. Texto, porque, se fosse um grande texto mesmo e você pegasse tudo, você seria um gênio. Você deveria estar escrevendo os grandes textos. Então, geralmente, os alunos vão ter algum conhecimento superficial, no máximo, e quando essa pergunta é feita, os alunos começam a falar. No próprio ato de falar, nós começamos a perceber a nossa própria ignorância, e é bem básico. Eu lembro quando estava lá no T. É uma prática de humildade incrível. Eu lembro quando estava
lá no T, todas as aulas, nós tínhamos três aulas todos os dias, pelo método socrático, né? Por quatro anos, eu, como tenho a minha personalidade de falar muito, às vezes falava: "não, agora vou defender essa ideia aqui". E aí, enquanto eu estava falando, percebia que não fazia ideia do que estava falando, mas não precisava ter esse próprio entendimento, porque não demorava cinco segundos até alguém falar: "não, onde você tirou isso, cara?" E eu realmente achava que não tinha noção nenhuma do que estava falando. Mas essa ordenação dos nossos pensamentos através da palavra é muito importante.
É muito importante! Então, não só nós temos essa ordenação, mas também temos uma posterior, que é o quê? Os outros. Todas essas outras mentes que também leram o mesmo texto podem ajudar a guiar isso. Então, o que acontece geralmente: cada pessoa, cada aluno, vem pra aula com um conhecimento bem superficial daquele texto, às vezes errado, às vezes simplesmente superficial, e você vai lapidando através do diálogo e vai aprofundando a ponto de que, ao fim da aula, a pessoa não aprendeu. Porque as experiências compartilhadas... Às vezes o que me move num texto não é o que
move você, que não é o que move você. E aí você compartilha o que te moveu, você compartilha o que moveu e nós vamos juntos construindo isso. Isso aí é único e maravilhoso. E claro, o objetivo aqui não é: vamos ver o que cada um fala, né? Não é esse o objetivo. Assim, vamos dar oportunidade para todos falarem, para que nós possamos todos nos sentir incluídos e, progressivamente, construir um conhecimento juntos. Não é isso. O conhecimento aqui é o fim, realmente é a verdade. Nós queremos buscar a verdade. Nós queremos buscar a verdade que acreditamos
estar sendo ensinada por esse Grande Mestre. Então, o professor, o guia, o tutor, ele não vai deixar o aluno falar o que quiser, por quanto tempo quiser. Você vai precisar ir moderando também, pra pessoa não falar da vida prática dela como se fosse a coisa mais importante naquela discussão. Então, também fazer as perguntas certas e guiar da maneira certa. Aqui, eu vou falar sobre os princípios fundamentais. Agora que falei o que é o método socrático, ou seja, como é isso na prática, vou falar um pouco dos porquês que esse método é tão eficaz e depois
vou falar das desvantagens dele. Mas vou falar por que esse método é tão eficaz, para que cada aluno possa realmente chegar à verdade. Eu acredito que sejam dois pilares principais que vejo no meu dia a dia com esse método, que fazem com que o método seja muito bom. É o pilar da admiração e da humildade. São dois pilares que, sem qualquer um desses dois, é impossível alguém aprender bem por esse método. Vamos começar com a admiração. Admiração pode ser traduzido também como maravilhamento, como espanto. É um certo pensamento de que há uma beleza naquela verdade
que eu ainda não consigo completar por total, por inteiro, mas que realmente desejo buscar. Então, nós podemos pensar no maravilhamento como esse espanto que temos com a beleza das coisas e das verdades. Tem algumas pessoas que simplesmente apagaram isso da vida delas. Essas pessoas realmente não aprenderão pelo método socrático. Então, vou dar um exemplo: se alguém vê uma teia de aranha e outra pessoa aponta: "olha só a ordem disso, que coisa bela, que coisa linda! Como uma aranha pode fazer isso?" A pessoa fala: "cara, não importa, é só uma aranha. Entendeu? Quero saber como ganhar
dinheiro." Essa pessoa não está pronta ainda para o método. Ela não tem esse maravilhamento, que é esse ímpeto de querer saber. Não, mas por que isso é verdade? Não, eu achei muito interessante que você falou que essa situação está destruindo a educação no Brasil, mas por quê? O que é educação? Por que a educação é importante? E aí a pessoa fala: "ah, não, mas tem que viver a temperança." Mas pera aí, por quê? Não como alguém que pergunta o "por", para simplesmente estar desafiando o outro, mas porque eu realmente quero saber das causas disso. Isso
que a gente chama de maravilhamento, admiração. Então, quando me falaram que Aristóteles provou a imortalidade da alma sem a fé, sem a revelação, eu pensei: "mas como assim, provou? Não sabia que tinha como saber que existia alma sem a fé?" Porque a fé era uma coisa que nos dizia: "existe alma, alma imortal." E é isso, pronto, acabou. Mas tem Aristóteles, antes de Cristo, que prova isso! E aí você quer saber o porquê, como ele chegou nisso. Não só que Aristóteles disse isso, eu quero saber isso e só que Aristóteles pode me ensinar isso. E outro
princípio é a humildade. Humildade porque na discussão vão haver muitos momentos que você vai perceber que não entende o texto. Vão haver muitos momentos que você vai perceber que falou algo errado. Se você falar, é importante que você fale, né? E vão haver muitos momentos quando você estiver lendo esses grandes textos que você vai dizer... Ah, eu acho que isso aqui não é para mim, tá muito difícil. Só que, no fim das contas, você precisa ter humildade para dizer na sala: "Eu não sei o que vocês estão falando, não entendi o que você falou." Não
entendi por que isso é verdade, não. Eu discordo de você porque parece na página três. Ó, ó, eu tenho uma pergunta estúpida, etc. Todas essas coisas requerem humildade. Mas ainda assim, eu, sendo orgulhoso como sou, quantas vezes lá no T, na discussão, eu, depois, o pessoal me... assim, eu, discordando a ponto de eu realmente perceber na minha mente que o que eu estava defendendo era mentira, ou seja, era errado. Era erro, não mentira. Eu não estava mentindo, mas era erro. Mas eu não queria admitir. Eu falava: "Vou defender um pouco mais, só porque como o
cara ousa discordar do Jan Guerreiro, né?" Esse é o orgulho. Esse aí mata o aprendizado. Também, você precisa ter essa humildade de perceber: "Opa, o que nós estamos discutindo aqui não é uma batalha de egos. O que eu falo, você fala, e ela fala, e ele fala. Aqui nós estamos com... o ponto central aqui é a verdade. Então, se o que eu estou falando não é a verdade, eu quero que você me corrige." Isso é a humildade intelectual e esse é um dos pilares essenciais para qualquer tipo de aprendizado. Mas é muito mais essencial nesse
método. Por quê? Porque, no método expositivo, se eu falar algumas coisas para vocês agora que vocês discordam ou que vocês pensavam diferentemente antes, vocês não são expostos. Mas, no método socrático, você é. E essa exposição ao erro é algo que dói no nosso orgulho, machuca o nosso orgulho. Portanto, eu acredito que não só é um princípio do método socrático a humildade, mas também é algo que o método causa em cada aluno. É algo belíssimo que você pode crescer nessa virtude através dessas aulas. Uma coisa que C. S. Lewis fala é o seguinte: às vezes, algumas
pessoas, alguns intelectuais, gostam mais de possuir o conhecimento do que de realmente possuir o conhecimento. O que quero dizer com isso é que elas querem ser a pessoa que possui o conhecimento, né? Esse é o objetivo de muitos intelectuais. Ou seja, eu sou a pessoa que sei. Ou seja, eu gosto mais do fato de eu saber isso do que de realmente o conhecimento em si. O amor não à verdade, mas à minha possessão dessa verdade. Isso é, no fim das contas, orgulho, vaidade. Então, com esses dois princípios, eu digo que uma coisa que nós podemos
pensar é que esse método parece meio Paulo Freiriano, né? Parece ser um método que cada um vai falando o que quer. A autoridade do professor parece ser diminuída e, no fim das contas, a gente tá construindo o nosso conhecimento juntos, né? Mas claramente não é o método. Esse não é o método socrático. O método socrático não é Paulo Freiriano. O método socrático vai fazer justamente o oposto; ele vai dizer: "Existe uma verdade objetiva e, às vezes, nós não a conhecemos. E às vezes, nós conhecemos somente parte dela. Mas todo o propósito do método é que
nós cheguemos a ela perfeitamente, ou seja, completamente." Queremos chegar a compreender, a ter o todo daquela verdade. Então, não é de nenhuma forma um método Paulo Freiriano. Nós não acreditamos que a verdade oprime ninguém; a verdade liberta, né? Então, para começar aí, porque, no fim das contas, é a verdade que nos libertará. Como eu falei, é muito importante que nós entendamos que o propósito de uma educação é sempre a liberdade humana, porque o conhecimento nos liberará para viver uma vida verdadeiramente humana. Porque a perfeição da nossa parte mais superior vai ser a perfeição mais perfeita
que nós podemos ter. Então, se nossa natureza é humana e ela se distingue das outras naturezas, dos animais, pela razão, a perfeição da razão é o que é o de mais humano que nós podemos fazer nesta terra. E por mais que, na sociedade, não seja algo admirável alguém que o faça... mais até porque não se acredita que existe a verdade, então, realmente, se a verdade não existisse, seria uma busca totalmente vã. Se realmente o materialismo fosse a verdade, você não haveria por que estudar tanto, vã, ganhar dinheiro... Então, vou falar agora mais especificamente das vantagens
e desvantagens desse método, que já tô quase acabando, que o tempo tá se esgotando aqui. Eu acredito que uma das melhores vantagens desse método é o desenvolvimento do pensamento crítico. Ter o conhecimento das coisas e que seja um conhecimento seu. Fazer do conhecimento seu. Pensamento crítico é quando você escuta alguém falar algo e você julga aquilo que a pessoa falou baseado nos princípios que você tem e você consegue ver se o que essa pessoa falou é verdade, ou é verdade em parte, ou é mentira. Alguém que tem um pensamento crítico consegue fazer isso. Uma pessoa
que não tem pensamento crítico... tudo que ela vai poder falar é: "Nossa, realmente isso aí é muito verdade," ou: "Esse cara, esse cara é um idiota, não sabe nada." Aí você fala: "Mas por que tudo que ele falou é errado?" E tudo é errado. A pessoa não nem faz noção de como fazer as qualificações. Ah, não tem pensamento crítico, não consegue criticar, não consegue julgar aquilo pelas suas causas. E aí eu acho que uma das melhores formas de entender o que é esse pensamento crítico é... uma das coisas que Aristóteles também ensina na lógica é
a distinção de conhecimentos "quia" e "propter quid". Conhecimentos "quia" são conhecimentos da coisa, e os "propter quid" são conhecimentos da causa da coisa. Então, nós, quando temos o conhecimento desse "quia"... somente o que... Nós podemos falar o que é e o porquê ainda a nossa mente não pode repousar nesse conhecimento. Então, você diz que a gente sabe que o sol faz crescer as plantas; ainda assim, a nossa mente quer saber por que o sol faz crescer as plantas, de que maneira o sol faz crescer as plantas. O sol também faz a gente crescer. Boa pergunta!
Eu não sei, mas entendeu? O porquê, não só o que, mas o porquê, é algo essencial na vida intelectual e certamente o método socrático vai fazer isso diariamente. Por quê? Porque quando você fala algo, você tem que fundamentar aquela coisa, porque as outras 17 pessoas, provavelmente, não pensaram da mesma maneira que você. Então, nós vamos falar: "Por que você está dizendo isso?" Aí você tem que ficar assim: "É por que eu estou dizendo isso?" Então você vai se desafiar constantemente a tentar voltar aos seus princípios, voltar ao seu próprio conhecimento e ordená-lo. Quando você faz
essa ordenação baseada nos primeiros princípios, aí você está chegando ao conhecimento. Então, de novo, não basta dizer o que São Tomás disse; nós precisamos do propósito que São Tomás escreveu, as razões para nós também termos aquelas coisas, para que essas coisas sejam nossas. Numa palestra, num artigo sobre o porquê do método socrático, um dos fundadores do THC fala o seguinte, e eu cito aqui: Santo Tomás compara o professor a um médico tratando o corpo. Nenhum médico coloca saúde em um corpo doente; em vez disso, por seus cuidados, ele permite que o corpo se cure por
si mesmo, pela vida que já está nele. Da mesma forma, o professor apenas guia o aluno para ver por si mesmo, por uma luz que já está nele. Então, aqui existe um texto de São Tomás, muito importante, chamado "De Magistro", sobre o professor, sobre o mestre, onde, na verdade, é uma explicação da doutrina, um tratado sobre a aprendizagem. Como é que é o professor, baseado no que é aprender? E lá ele vai dizer que o aluno já tem uma certa potência ativa, ele já tem um certo poder dentro dele de conhecer e ser a verdade.
E tudo que o professor precisa fazer é colocar e ordenar as perguntas da maneira certa para que a pessoa possa realmente conhecer. Então, da mesma forma que um médico não cura, o que o médico faz quando quebra um osso? Ele não cura o osso; ele vai colocar o osso de uma forma que ele possa se curar naturalmente. Da mesma forma, o professor, se ele é um bom professor, não vai simplesmente professar uma verdade para o aluno; ele vai colocar o aluno diante dos seus princípios para que ele possa ver aquela verdade. Somente através disso que
ele pode realmente dizer: "Esse conhecimento é meu, eu sei disso, eu conheço isso", e não só: "Eu acredito porque o Google disse" ou "o ChatGPT disse". Certamente, uma das vantagens do método socrático também é a capacidade da apologética, a capacidade de defender nossa fé. Se nós estamos acostumados com um método em que temos que constantemente defender as nossas posições, nós vamos aprender a defender as posições de uma maneira muito mais clara, precisa e eficaz. Você vai aprender a falar de uma forma que você já pensa nas objeções e possa respondê-las uma por uma. Você não
vai se amedrontar porque a pessoa vai: "Ele me pergunta isso ou aquilo." Você vai querer essas perguntas, porque você vai querer buscar as respostas. Então, para a apologética, esse método é muito eficaz; ele vai mostrar para a pessoa, através de onde ela está, que cada aluno está em um ponto da vida intelectual. Alguns já estão com uma clareza maior do conhecimento da realidade; outros, uma clareza menor. Então, cabe ao professor pegar o aluno de onde ele está no que nós chamamos de "manuducere", ou seja, levar, carregar pela mão. Só assim o professor vai levar o
aluno à verdade. Não adianta o professor, do seu pedestal, simplesmente falar tudo o que ele conhece e esperar que o aluno também conheça. A não ser que o aluno veja isso através de suas luzes, da sua razão, que, se não, é complexo, ele não vai conseguir chegar a esse conhecimento que nós estamos buscando aqui. Então, de certa forma, o método socrático garante que todos os alunos possam progredir, porque os alunos que já estão mais adiante vão se beneficiar para explicar os conceitos mais básicos, pois eles vão revisar através de seus conceitos e vão solidificar o
seu conhecimento. Os alunos que estão mais iniciantes também vão poder se solidificar porque vão poder fazer com que a turma os leve pela mão também. Então, é um método que realmente consegue fazer com que o aluno vá. Por isso que precisa ser sempre numa turma muito pequena; quanto mais pessoas, mais impossível é que todos participem ativamente. Então, o método só é eficaz, desde que todas as pessoas participem ativamente, senão, nada mais é do que um método positivo, porque você também está passivamente recebendo, assim como no método positivo, mas você não está fazendo esse processo de
conhecer as objeções, de conhecer a ordenação dos seus pensamentos através dessas palavras, das palavras ativas. Então, claramente, aqui existe um conhecimento mais ativo, o que faz com que ajude a memória. Nossa memória é muito auxiliada quando nós falamos sobre algo. Quando você tenta explicar algo, você aprende muito mais, você lembra muito mais do que quando simplesmente escuta algo. Por exemplo, eu lembro de muitas coisas que aprendi há anos atrás, no meu primeiro ano do ensino superior, e eu jamais lembraria se eu tivesse algum professor que tivesse me dito. Então, é que eu assistia muitas palestras
na época, muitas aulas, mas não consigo lembrar mais. Mas, quando você ativamente exercita esse diálogo, esse raciocínio, esse argumento e essa troca, você vai lembrar muito mais, porque, de novo, o conhecimento ficou seu, virou seu. Uma das coisas que Nil Meer aponta é que o desafio da discussão empurra o aluno para esforços cada vez maiores; ou seja, ele lê com mais cuidado, sabendo que em breve estará explicando e debatendo sua própria compreensão do texto. Se ele fizer isso diariamente, essa intensidade aumentada leva a hábitos intelectuais que duram toda a vida. Se você está acostumado a
ler um texto sabendo que aquele texto você vai ter que explicar o que ele diz, vai ler com mais cuidado, vai anotar melhor, vai perguntar para o autor o que ele está dizendo. Então, você vai criando hábitos de realmente fazer daquele livro um professor, fazer daquele livro um professor vivo que dialoga com você, que você pode despertar. "Por que você está dizendo isso? Ah, próximo parágrafo, você está respondendo isso." E assim por diante. Você vai conseguir fazer com que aquele autor, que pode estar morto, se torne vivo novamente porque você está dialogando com ele nessa
leitura. E fala algo que é lindo também na vida intelectual, que é que falar significa escutar a própria alma. Então, eu sempre falo para meus alunos: se você sabe ou se você não sabe, fale. É claro que se você não sabe, você não vai falar como alguém que soubesse. Já falei desse ponto: você vai falar com a dúvida, pessoal, "não estou entendendo o que vocês estão falando" ou "é isso que você acabou de falar?". Eu repito para ver. E, geralmente, só esse processo você já pode ver as lacunas do seu conhecimento e, portanto, buscar a
verdade de uma forma muito mais clara. Mas, como todo método, é algo prático e toda coisa prática tem imperfeições. Não é sempre a melhor em todas as maneiras; o método socrático também não é perfeito em todos os sentidos. Ele tem interrupções frequentes; então, um aluno está falando, o outro quer falar e interrompe. Isso faz com que, às vezes, os alunos se desviem do ponto, da tangente. Isso é muito óbvio, né? É muito difícil você conseguir uma turma que continue construindo esse conhecimento de uma forma clara pela aula toda, de 1 hora, 1 hora e meia
ou 2 horas. Então, você desvia do ponto, atrasando. Não é muito eficiente. Também há uma distribuição desigual, tanto na quantidade quanto na qualidade dos participantes; ou seja, tem pessoas que mais naturalmente pensam falando, outras mais naturalmente pensam em silêncio e depois falam, depois de pensar. Então, há essa desigualdade, e também a desigualdade da preparação intelectual de cada um. Isso pode causar algumas certas desvantagens no aprendizado daquele aluno que é mais silencioso, por exemplo, ou até daquele que fala demais; se ele não conseguir se temperar, não vai conseguir aprender muito. A cobertura do conteúdo é muito
menor do que em uma aula expositiva. Na aula expositiva, por exemplo, eu estou falando aqui há 1 hora e 10 minutos, e vou passar por muitos mais temas do que nós teríamos passado numa discussão, com certeza. E aí, você também, às vezes, tem o problema que é que as pessoas não conseguem, às vezes, lidar com as opiniões subjetivas ou a verdade objetiva. Então, aí, eu estou no meio da discussão e a pessoa decide querer falar sobre a vida pessoal dela, sobre a experiência que ela teve, e ali vai 10 minutos da aula a pessoa falando
sobre algo que ela acha que tem a ver com o texto, mas que na verdade não tem muito, né? Então, existem desvantagens, mas, todas as coisas consideradas, é o método que é mais eficaz para essa busca ativa do conhecimento; ou seja, que o próprio aluno possa buscar a verdade de uma maneira honesta, uma maneira em que ele possa, ao fim da aula, ser detentor daquela verdade, não somente como opinião ou fé, mas como a verdadeira ciência. E uma grande vantagem também é, talvez, ao fim da aula, você perceber que você não entendeu tanto quanto pensou
que tinha entendido. Isso também é uma vantagem. Então, todas as coisas consideradas, o método socrático é um método muito eficaz, e eu vejo isso de uma maneira diariamente, né, no meu trabalho e também na minha experiência lá no TC. É impressionante. Muitas vezes, nós achamos que o livro é suficiente para alguém entender a verdade, mas eu trabalho com isso diariamente. Eu garanto para vocês que, se todos vocês estivessem agora lendo um texto, um grande texto, vamos colocar "O de Anima" ou "A Física" de Aristóteles ou "Organum" ou a "PRP" de Newton, vocês leram e pode
ser que vocês leram muito bem o texto. Eu tenho certeza que muitos de vocês, se não todos, virão para a aula com muitas lacunas no entendimento daquele texto. Isso é uma oportunidade imensa que nós temos de poder ter essa discussão, porque às vezes os livros por si só não são suficientes para trazer aquele conhecimento para nossa alma. Porque ainda nós não temos a prática de pegar esse conhecimento e fazer dele nosso. Porque o ser humano é um animal político, portanto, é natural que o homem contemple com os outros. Por isso, a conversa é um dos
maiores prazeres da vida humana. As conversas sobre as ideias, conversas sobre pessoas, coisas talvez não tanto, mas conversa sobre as ideias é algo que eu verdadeiramente tenho muita experiência. É algo que realmente satisfaz o coração de uma forma quase inexplicável quando você consegue conversar com pessoas que estudam as mesmas coisas que você e você fala sobre essas grandes ideias. Fala sobre Deus, fala sobre predestinação, fala sobre, ah, o bem comum, fala sobre a alma, as potências da alma, enfim, muitas coisas você consegue, ah, contemplar junto, e naquelas contemplações vão surgir ideias que você nunca teve
antes, e isso é belíssimo, isso é muito poderoso. Então, o método socrático, ele nada mais é que uma oportunidade de nós ordenarmos o nosso pensamento através do diálogo, e dessa soma que cada aluno vai trazer pra discussão. Realmente, é o método poderoso. Eu recomendo que todos vocês, ah, tenham, façam alguma experiência, porque algo como isso mudou minha vida. Eu faço as minhas aulas todas por ele, a não ser em eventos, como assim, uma palestra, né? Mas, de certa forma, essa minha palestra é uma armadilha. Por que uma armadilha? Porque se essa palestra ensinou alguma coisa
para vocês, talvez eu esteja errado, talvez o método socrático não seja o método mais eficaz. E se ela não serviu para vocês, talvez eu tenha falado como palestrante. Então, de qualquer forma, eu falei aqui com vocês, mas eu vou ler aqui o que o [queer] fala sobre o porquê do TC adotar esse método. Ele diz assim: "Há mais de 2000 anos, Sócrates viu o que era crucial para o aprendizado humano. Nada mudou. Se o Thomas Aquinas College adotou a maneira de Sócrates, é apenas porque os homens ainda são homens e o aprendizado ainda é aprendizado."
Então, muito obrigado a vocês. Fico disponível aqui para qualquer dúvida que vocês possam ter. [Aplausos] [Música]