O gado no lugar das árvores. A paisagem muda na Amazônia. Toda área que já foi aberta, desmatada na Amazônia, algo em torno de 63% hoje é ocupada por algum tipo de pasto.
É muita coisa. O Brasil tem o segundo maior rebanho mundial de bovinos. Atrás apenas da Índia, é o maior exportador.
No último Relatório de Produção da Pecuária Municipal, divulgado em 2017 pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o país tinha um rebanho de 214 milhões de cabeças de gado bovino. A região norte foi a única a apresentar crescimento no rebanho: 48 milhões de cabeças de gado. Tudo isso para sustentar um consumo que é mais do que nutrição.
É claro que existe a questão da disponibilidade dessa carne e também da forma como a gente tem, agora, nos últimos anos, uma ascensão econômica de uma parcela da população que traz aí então o acesso a diferentes produtos alimentícios e a carne vermelha, ela é um alimento que é um grande marcador social. O acesso à carne vermelha e ao tipo de carne vermelha que essa pessoa tem, muitas vezes, denota em qual escala social ela está inserida. Com o tempo, os bois passaram na frente da mata.
Os números da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a FAO, indicam que a agropecuária é responsável por 15% das emissões de carbono no mundo e uma das principais fontes de degradação da terra e da água. O boi, no seu processo digestivo, ele produz muito metano. O metano é um gás de efeito estufa muito forte, ele se transforma em CO2, que é o gás carbônico.
Afora o processo de desmatamento que emite muito carbono para a atmosfera. Portanto, a produção da pecuária é altamente impactante, é uma das mais impactantes do ponto de vista ambiental. Ainda segundo a FAO, o consumo de carne no mundo aumentou rapidamente nos últimos 50 anos.
Sua produção hoje é quase 5 vezes maior do que no início dos anos 1960. De 70 milhões de toneladas, passou para mais de 330 milhões em 2017. O alto consumo da carne vermelha está relacionado ao surgimento de doenças como o câncer.
Mas vem dela a proteína que sustenta boa parte da população. Essa pesquisadora de história da alimentação explica: nem sempre o consumo foi tão fácil e farto assim. Quando a gente pensa nos índios, eles conseguem a carne deles por meio de caça.
Portanto, é muito mais difícil você ter uma grande porção para cada um dos membros da tribo do que hoje, por exemplo, que você pode ir até o açougue, comprar as peças de picanha, de contrafilé, enfim, compor o seu churrasco, que você vai compartilhar com a sua família. Para esclarecer a população sobre o impacto da produção de carne para o meio ambiente na Amazônia, o Greenpeace criou a campanha "Carne ao molho madeira". A ideia é alertar o consumidor e os supermercados sobre a origem do produto.
Checar se a carne chega às prateleiras contaminada com desmatamento. O que o consumidor pode fazer? Em primeiro lugar, repensar o seu consumo e reduzir o seu consumo de carne e substituir por proteínas de origem vegetal.
E cobrar dos frigoríficos e dos supermercados de onde você come a carne, ou no açougue, de onde vem essa carne? Pergunte. Porque, no ato dele de consumo, no ato de escolha, é uma escolha política.
Entender que o comer é um ato fisiológico, social, cultural e que, por isso, as escolhas que eu faço do meu prato vão ter impactos fisiológicos, sociais, culturais e econômicos.