A Psicanálise como uma Cura pela Experiência Nesta conferência procuro mostrar que a psicanálise pode ser entendida como um método de cura pela experimentação e reparação das possibilidades de ser-no-mundo. Para isto, analiso, em primeiro, o sentido e lugar da introdução, por Winnicott, da noção de ser na psicanálise; em seguida, analiso os diversos tipos de experiências de ser que ocorrem no processo de desenvolvimento, no processo de desenvolvimento emocional do ser humano, como também indico estas experiências de ser como algo que vai aparecer no processo analítico, durante o método de tratamento psicanalítico E no método de tratamento psicanalítico, então, estas experiências são não só realizáveis e/ou reparáveis nas suas possibilidades, como também vão receber sentidos e significados, o que faz que possamos fazer uma articulação entre a psicanálise como uma "CURA PELA EXPERIMENTAÇÃO" com a psicanálise como "CURA PELA PALAVRA, como comumente se diz, articulando estas duas práticas no método de tratamento psicanalítico. "Gostaria de postular um estado de ser que é um fato no bebê normal, antes do nascimento e logo depois.
Esse estado de ser pertence ao bebê, e não ao observador. A continuidade do ser significa saúde". (Winnicott, 1988, Natureza Humana, p.
148) "Se tomarmos como analogia uma bolha, podemos dizer que quando a pressão externa está adaptada à pressão interna, a bolha pode seguir existindo. " Se estivéssemos falando de um bebê humano, diríamos 'sendo'. Se por outro lado, a pressão no exterior da bolha for maior ou menor do que aquela em seu interior, a bolha passará a reagir à intrusão.
Ela se modifica como reação a uma mudança no ambiente, e não a partir de um impulso próprio". (Winnicott, 1988, Natureza Humana, p. 148) “Em termos do animal humano, isto significa uma interrupção no ser, e o lugar do ser é substituído pela reação à intrusão.
Cessada a intrusão, a reação também desaparece e pode haver, então, um retorno ao ser” (Winnicott, 1988, p. 148). "Qual é o estado do indivíduo humano quando o ser emerge do interior do não-ser?
Onde fica a base da natureza humana em termos do desenvolvimento individual? Qual o estado fundamental ao qual todo ser humano, não importa a sua idade ou experiências pessoais, teria que retornar se desejasse começar tudo de novo? " (Winnicott, 1988, Natureza Humana, pp.
153-154) * do não-ser para o ser e, ao final da vida, com um retorno ao não-ser; * de um estado de não estar vivo para estar vivo, até o momento final em que deixamos de estar vivos; * da não integração para os diversos tipos de integração e, ao final, para a desintegração total; * da dependência absoluta inicial para a independência relativa da maturidade, com um certo retorno da dependência relativa na velhice. “o ser humano é uma amostra temporal desta natureza” (Winnicott, 1988, Natureza Humana, p. 11) “O homem é o guardião do nada” [o nada que há antes de ser e o nada que há depois de ser] (Heidegger, 1929, “What is Metaphysics”, parágrafo 43) “No princípio há uma solidão essencial” (Winnicott, 1988, Natureza Humana, pp.
153-154). Paradoxo da solidão essencial metafísica: no não-ser, antes de ser, o ser está sozinho antes mesmo de ser. Paradoxo da solidão essencial fenomenológica: há uma experiência de solidão sem a experiência de percepção de que há algo para além de si mesmo.
"Ao mesmo tempo, tal solidão somente pode existir em condições de dependência máxima. Aqui, neste início, a continuidade de ser do novo indivíduo é destituída de qualquer conhecimento sobre a existência do ambiente e do amor nele contido, sendo este [o amor] o nome que damos (nesse estágio) à adaptação ativa de uma espécie e dimensões tais, que a continuidade de ser não é perturbada por reações contra a intrusão" (Winnicott, 1988, Natureza Humana, pp. 153-154).
A solidão essencial como base da experiência de ser "Com exceção do próprio início, não haverá jamais uma reprodução exata desta solidão fundamental e inerente. Apesar disso, pela vida afora do indivíduo continua a haver uma solidão fundamental, inerente e inalterável, ao lado da qual continua existindo a inconsciência sobre as condições indispensáveis a este estado de solidão". (Winnicott, 1988, Natureza Humana, pp.
153-154) Paradoxo da Natureza Humana: ser-sempre-só-sendo-com-o-outro "A vida de um indivíduo são se caracteriza mais por medos, sentimentos conflitantes, dúvidas, frustrações do que por seus aspectos positivos. O essencial é que o homem ou a mulher se sintam vivendo sua própria vida, responsabilizando-se por suas ações ou inações, sentindo-se capazes de atribuírem a si o mérito de um sucesso ou a responsabilidade de um fracasso. Pode-se dizer, em suma, que o indivíduo saiu da dependência para entrar na independência ou autonomia".
(Winnicott, 1971f, “O Conceito de Indivíduo Saudável”, p. 10) A experiência SOU, associada à relação com o objeto subjetivo; A experiência SOU-COM, associada aos fenômenos e a relação com os objetos transicionais; A experiência SOU-DIFERENTE-DE, associada ao momento em que ocorre a conquista da unidade do sujeito psicológico, dando início às relações objetais, mas ainda num quadro de relações a dois corpos; A experiência SOU-PREDICÁVEL, quando o desenvolvimento emocional levou à integração do tipo “pessoa inteira” e as relações objetais se dão de forma mais plena; E, por fim, a experiência SOU-FINITO, presente em todas as relações anteriores, como marca da própria natureza humana. Veja o vídeo dos Tribalistas (Anima): https://youtu.
be/7_X_w2Xdm4g Retornando aqui, para a parte final de minha apresentação Ver a continuidade desta análise sobre a experiência no processo analítico em O lugar da experiência no método de tratamento psicanalítico (diálogo com Ogden e Girard) https://youtu.