Garota Morre Ao Ser Obrigada a Dormir Na Rua, Mas No Velório Todos Tem Uma Grande Surpresa

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Histórias Fantásticas
Garota Morre Ao Ser Obrigada a Dormir Na Rua, Mas No Velório Todos Tem Uma Grande Surpresa. Veja hi...
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Mateus estava com a filha, Sofia, no enterro da esposa. O cemitério, um lugar simples, quase sem cor, era agora o cenário do desfecho de uma história marcada por amor e cumplicidade. A chuva fina caía silenciosa, encharcando as coroas de flores e as vestes pretas dos parentes próximos.
A atmosfera parecia pesar ainda mais sobre os ombros de pai e filha. Conforme o caixão descia lentamente à cova, o padre fazia suas orações, a voz baixa e com medida, enquanto Mateus segurava a mão de Sofia. Ela tremia, com o rosto molhado não apenas pela chuva, mas pelas lágrimas grossas que pareciam infinitas.
Ele sentia no peito um aperto que não cabia em palavras e sabia que a filha também vivia aquela dor da forma mais crua e honesta possível. "Papai", balbuciou Sofia, a voz abafada pelo choro, apertando mais forte a mão do pai. "Por que ela foi embora?
" Ele não tinha uma resposta simples. A morte da esposa, Ana, fora súbita e dolorosa, uma complicação inesperada no pós-operatório de uma cirurgia de rotina. O surpreender agora.
Ali estavam os dois, diante de um vazio impossível de preencher. "Eu não sei, filha", respondeu Mateus, tentando manter a voz firme, embora sua garganta estivesse seca. "Mas estamos aqui e vamos ficar juntos, OK?
" Ela assentiu, soluçando. Alguns parentes e amigos mais próximos se aproximaram com gestos de carinho: abraços, tapinhas no ombro, acenos silenciosos. Eram tentativas de consolo que, naquele momento, pouco surtiam efeito, mas Mateus agradecia em silêncio a boa vontade de cada um.
Ao fim da cerimônia, ambos voltaram para casa, tristes e drenados. A casa, antes tão cheia de vida, agora lhes parecia grande demais e além do suportável. O cheiro de café que Ana costumava preparar nas manhãs, o som do riso de Sofia quando a mãe a fazia cócegas, o barulho da conversa do casal ao fim da noite, tudo silenciara de maneira abrupta.
Naquela noite, Mateus colocou Sofia na cama, leu para ela um trecho de um livro infantil, a voz embargada, e antes de sair do quarto, escutou a menina perguntar, baixinho: "Papai, você vai embora também? " "Nunca, Sofia. Nunca vou abandonar você.
" E, com essa promessa, ele a deixou adormecer, a pequenina ainda marcada pelo choro. Passou um ano, 12 longos meses, durante os quais a saudade fora companheira constante. Mateus tentara superar a dor, ainda que parcialmente, concentrando-se em seu trabalho.
Era dono de uma empresa de tecnologia em ascensão e, conforme os meses corriam, o negócio prosperava. Isso o mantinha ocupado, permitindo-lhe distrações temporárias do luto. Mas a dor ainda estava lá, latente, surgindo em momentos inesperados.
À noite, quando se deitava, lembrava-se de Ana; em datas comemorativas, notava a ausência dela ainda mais aguda nas descobertas e pequenos feitos da filha. Sentia falta do olhar orgulhoso da esposa ao lado. Sofia, por sua vez, tentava entender a perda à sua maneira.
Agora, aos 7 anos, começava a compreender que a mãe não voltaria. Antes de dormir, abraçava um bichinho de pelúcia que a mãe lhe dera no último aniversário. Em alguns finais de semana, sentava-se no quintal, olhando as nuvens, imaginando que a mãe estava em algum lugar lá em cima, sorrindo para ela.
A saudade se manifestava no desenho na escola, onde Sofia pintava figuras de família, com a mãe sempre presente, embora soubesse que, na vida real, essa não estava mais ali. "Pai, você pode me ajudar com o dever? " perguntou certa noite, interrompendo o pai, que estava concentrado no computador, revisando relatórios.
"Claro, filhota", respondeu Mateus, fechando o laptop com cuidado. "O que você precisa? " "Matemática", disse ela, fazendo uma careta.
"Estou com dificuldade numa conta. " Ele sentou-se ao lado dela, guiando-a pacientemente. Esses momentos o faziam lembrar de que Sofia precisava dele, e isso o motivava a continuar, seguindo em frente, um dia de cada vez.
Conforme o tempo corria, Mateus se aprofundava cada vez mais no trabalho. Sua empresa crescia, novos projetos surgiam e isso lhe ocupava a mente. Meses depois daquele ano complicado, surgiu uma nova contratação na equipe: Fernanda, uma analista altamente qualificada, indicada por um parceiro de negócios.
Ela era discreta, organizada, competente e, sempre que interagia com Mateus, fazia-o com um sorriso contido, mas genuíno. "Bom dia, Fernanda", disse Mateus ao passar pela sala dela na empresa, um espaço amplo, repleto de mesas e computadores. Os funcionários estavam ocupados, mas, ao avistar o chefe, alguns acenaram.
Fernanda ergueu o olhar do monitor e sorriu. "Bom dia, senhor Mateus. Tudo bem?
" "Pode me chamar só de Mateus, por favor. " Ele insistia nisso, não gostava da formalidade excessiva. "Como estão os relatórios do último trimestre?
" "Estou finalizando agora mesmo. Posso enviar para o seu e-mail em meia hora", respondeu ela, ajeitando os óculos de armação fina, voltando ao trabalho com dedicação. Era essa postura prestativa e discreta de Fernanda que chamava a atenção dele.
Não havia sido possível ainda conhecê-la melhor. Afinal, o ambiente de trabalho não favorecia conversas pessoais prolongadas, mas o modo respeitoso, a forma como ela tratava todos com educação e a precisão com que entregava os relatórios faziam com que Mateus tivesse uma boa impressão. Certa tarde, após uma reunião, a assistente pessoal de Mateus, Carla, aproximou-se dele enquanto fechavam as pastas.
"Fernanda é muito competente, não é? " comentou Carla. "Sim, muito.
Foi uma ótima contratação", concordou Mateus. "Ela também é muito gentil. Outro dia me ajudou com um problema no sistema sem que eu pedisse", acrescentou Carla.
"Acho que ela realmente se preocupa com a equipe. " Mateus a sentiu pensativo. A vida dele estava contida entre as paredes da empresa e as da própria casa.
Eram esses dois mundos que, aos poucos, precisavam voltar a ter um equilíbrio. Era difícil imaginar qualquer mudança em sua vida pessoal, mas ele tentava manter a mente aberta. Um dia, num sábado à tarde, Mateus decidiu levar Sofia para passear no shopping.
Queria que a filha se distraísse; quem sabe um cinema, um sorvete, algumas risadas. . .
A rotina da menina. Não podia ficar limitada à escola e à casa. A ideia era simples: caminhar pelos corredores, olhar vitrines, talvez comprar um brinquedo novo.
Sofia parecia contente com a possibilidade de sair de casa naquele final de semana. — Pai, depois do sorvete, a gente pode ir na livraria? — pediu a menina, erguendo a cabeça para olhar o pai, os olhos grandes e curiosos.
— Claro! — respondeu Mateus, sorrindo de leve. — Podemos ver aquele livro que você queria.
Caminhando pelo shopping, distraídos, pai e filha entraram em uma loja de roupas infantis. Enquanto Sofia analisava um vestido vermelho, Mateus ouviu uma voz familiar atrás de si. — Mateus!
— Ao se virar, viu Fernanda. Ela estava ali com uma bolsa a tiracolo, vestindo roupas mais casuais do que no escritório: uma calça jeans escura, sapatilhas confortáveis e uma blusa clara. O cabelo solto parecia brilhar à luz do shopping.
— Fernanda! Que surpresa! — exclamou ele, um tanto surpreso.
— Vim resolver umas coisas, comprar um presente para o meu sobrinho — explicou ela, apontando para uma sacola. — E você, passeando com a família? Ao ouvir "família", Mateus hesitou por um segundo; o vazio deixado por Ana ainda pulsava nele, mas fez um esforço para responder normalmente: — Estou aqui com minha filha, Sofia — disse, chamando a menina.
— Sofia, esta é a Fernanda; ela trabalha comigo. Sofia se aproximou, olhando para Fernanda com uma curiosidade tímida, mas logo abriu um sorriso. — Oi!
— disse a garota, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Oi, Sofia! — respondeu Fernanda, abaixando-se um pouco para ficar na mesma altura da menina.
— Seu pai fala bastante de você. Ele disse que você é ótima em desenho. Sofia sorriu, agora mais à vontade.
— Eu gosto de desenhar flores e pessoas — comentou, um brilho sutil no olhar. Depois de alguns minutos de conversa, Mateus, num impulso meio desajeitado, convidou Fernanda: — Quer tomar um sorvete conosco? Não queremos atrapalhar suas compras, mas seria legal.
Estou tentando fazer um programa legal com Sofia hoje. Fernanda considerou o convite por um instante. — Pode ser!
Já terminei minhas compras. Vamos lá! E assim os três seguiram, sentando-se em uma mesa da praça de alimentação.
Enquanto Sofia escolhia um sabor de sorvete, acabou pegando flocos com cobertura de chocolate e Mateus e Fernanda se contentaram com um café gelado. A conversa fluiu melhor do que Mateus esperava; falavam de assuntos leves: hobbies, filmes infantis, os desenhos de Sofia, o presente que Fernanda comprara para o sobrinho. De vez em quando, Fernanda fazia perguntas à menina, interessando-se genuinamente pelo que ela dizia.
Mateus observava, satisfeito, ao perceber que Sofia não parecia desconfortável. — Papai, a Fernanda também gosta de livros? — perguntou Sofia ao reparar na sacola da livraria aos pés de Fernanda.
— Gosto, sim — disse Fernanda. — Comprei um livro de aventuras para o meu sobrinho. Acho que ele vai adorar!
— Eu gosto de histórias de princesas — comentou Sofia, entre uma colherada e outra de sorvete. — Princesas são legais! — concordou Fernanda, sorrindo.
— Eu também gostava muito quando era menor. E você pode desenhar suas próprias princesas, não é? Sofia assentiu, e a conversa seguiu por bons minutos, numa descontração que Mateus não experimentava há muito tempo.
Ao final, despediram-se na entrada do cinema. Fernanda seguiu seu caminho e Mateus e Sofia foram ver um filme infantil. Enquanto as luzes se apagavam na sala escura, Mateus não deixou de pensar no quanto aquele encontro ao acaso deixara o dia mais leve.
Na semana seguinte, Sofia visitou o escritório do pai. Era feriado escolar, e Mateus decidiu levá-la consigo ao trabalho por algumas horas. Chegando à empresa, a menina ficou impressionada com a quantidade de computadores e pessoas trabalhando.
Mateus pediu que ela ficasse numa sala pequena anexa à sua, com papel, lápis de cor e alguns jogos simples, enquanto ele resolvia assuntos urgentes. Pouco tempo depois, Fernanda, ao saber que Sofia estava ali, decidiu visitar a garotinha. Bateu suavemente à porta entreaberta.
— Com licença, Sofia! Posso entrar? Sofia, que estava sentada no chão desenhando, ergueu o rosto ao reconhecer Fernanda e sorriu.
— Pode, sim! Estou desenhando a capa de um caderno de histórias. Fernanda entrou, sentando-se ao lado da menina, cuidando para não bagunçar os desenhos.
— Nossa! Que cores bonitas! — elogiou Fernanda, observando as flores laranjas e as nuvens roxas que Sofia criava.
— Você tem muita criatividade! — Gosto de desenhar coisas diferentes — explicou Sofia, orgulhosa. — No céu, coloquei as nuvens roxas, que acho que roxo combina com o laranja das flores.
— Combina mesmo! Ficou muito legal! — concordou Fernanda, ajustando seus óculos.
— E você já pensou em dar um nome para esse desenho? Sofia tocou o queixo, pensativa. — Ainda não, talvez "o Jardim do Arco-íris", porque tem muitas cores diferentes.
— Adorei! — disse Fernanda. — E está gostando do dia aqui na empresa do seu pai?
Sofia deu de ombros. — É legal, mas é mais quieto do que eu pensei. Papai trabalha muito.
Fernanda sorriu, compreensiva. — Sim, seu pai trabalha duro. Ele se dedica bastante, mas tenho certeza de que ele adorou ter você aqui hoje.
Mateus, passando pelo corredor, viu a cena através do vidro da porta: Fernanda e Sofia sentadas no chão, conversando e rindo. Algo naquela imagem o tocou. Fernanda não parecia estar fazendo aquilo por obrigação; ela verdadeiramente demonstrava interesse na criança e Sofia parecia muito à vontade na presença dela.
Aquilo era raro. Desde a morte de Ana, Sofia não se mostrava tão aberta com adultos estranhos. Quando Fernanda saiu da sala alguns minutos mais tarde, Mateus a abordou perto da copa da empresa, onde as máquinas de café ficavam.
— Obrigado por passar um tempo com a Sofia — disse, sincero. — Não precisa agradecer! Ela é uma garota incrível, é um prazer conversar com ela!
— respondeu Fernanda, sorrindo e pegando um copinho plástico para se servir de água. Mateus fez um gesto afirmativo com a cabeça, quase sem saber o que dizer. Não era habitual sentir-se tão grato a um funcionário por uma gentileza.
— Ela gostou de você, sabe? — Fernanda corou levemente, desviando o olhar antes de voltar a encará-lo. Feliz!
Gosto de crianças e a Sofia é doce. Acho que vocês dois são uma família muito forte. Mesmo com tudo que passaram, vocês estão seguindo em frente.
Mateus acenou, uma sombra de tristeza passando por seu olhar. Eles não continuaram o assunto, mas algo ali já mudara. A imagem de Fernanda interagindo com Sofia começou a ocupar a mente de Mateus.
Alguns dias se passaram e, toda vez que Sofia ia ao escritório do pai — o que não era muito frequente, mas acontecia em dias de menor movimento na escola — Fernanda aproveitava para se aproximar mais da garota. Às vezes era uma conversa rápida, outras, um elogio a um novo desenho. Sofia respondia bem, cada vez mais confiante.
Mateus observava essa dinâmica com atenção. Ver a filha, aos poucos, se abrindo para outra figura feminina adulta o tocava profundamente. Ele não tinha muitas amigas próximas, e a ausência de Ana deixara um vácuo afetivo.
Saber que Sofia encontrava na presença de Fernanda um ponto de apoio, ainda que sutil, confortava-o. Não se tratava apenas de uma substituição; ninguém substituiria Ana, mas da constatação de que ainda havia espaço para o carinho, a admiração e o cuidado de outra pessoa na vida deles. Em uma dessas visitas, enquanto Sofia mostrava um novo desenho a Fernanda, Mateus escutou uma rápida troca de palavras.
“Fernanda, você gosta de brincar de massinha? ” perguntou Sofia, com um brilho animado no olhar. “Eu adorava quando era criança,” respondeu Fernanda, sorrindo.
“Você tem massinha em casa? ” “Tenho. O papai me comprou um kit com várias cores.
Um dia você pode aparecer lá para a gente brincar. ” Fernanda piscou, surpresa e divertida com o convite inesperado. E, antes que ela respondesse, Mateus entrou na sala, pigarreando de leve.
“Hum, convite interessante, hein? ” brincou, olhando primeiro para a filha e depois para Fernanda, curioso para ver a reação da analista. Fernanda ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha, sorrindo com um leve constrangimento.
“Só se o seu pai deixar,” Sofia respondeu, um pouco sem jeito, mas notava-se a afeição verdadeira pela menina. Sofia olhou para Mateus, cheia de esperança. Ele não deu uma resposta imediata, mas sorriu, sinalizando que não teria nada contra isso algum dia.
Ao final daquela semana, Mateus, refletindo sobre tudo, percebeu que havia algo em Fernanda que ultrapassava a mera relação de trabalho: sua empatia, seu jeito carinhoso com Sofia, o cuidado em não invadir o espaço dele, a disposição de apenas estar presente e apoiar de maneira simples e natural. Tudo isso o fazia olhar para ela de uma nova forma. Não que ele estivesse pronto para qualquer coisa além de uma boa convivência, mas o fato de Sofia se sentir confortável era algo que pesava muito na percepção dele.
Sem notar, Mateus se pegou pensando em Fernanda não apenas como uma excelente funcionária, mas como alguém que poderia desempenhar um papel positivo na vida da filha. Isso não significava pressa ou substituição de sentimentos; significava apenas aceitar a possibilidade de que, no caminho árido do luto, poderia haver pessoas dispostas a construir novas pontes de afeto. E era essa a sensação que aquecia o coração dele naquele momento.
Ele começou a achar que ela era uma pessoa que poderia ser uma boa companhia para sua filha. Mateus se aproximou mais de Fernanda, gradualmente, em um ritmo quase imperceptível. No começo, eles haviam desenvolvido uma boa sintonia no ambiente de trabalho, e a cumplicidade surgiu de pequenos gestos: um café compartilhado após uma reunião tensa, um comentário sobre o clima, um elogio sincero sobre a forma como Fernanda ajudava Sofia a se distrair quando visitava a empresa.
Com o tempo, os encontros ocasionais no shopping e algumas conversas fora do expediente estreitaram seus laços. Em poucas semanas, os dois passaram a se ver também nos finais de semana, começando por passeios discretos em parques, idas a restaurantes sem pretensões e visitas a exposições de arte. Embora ainda carregasse a lembrança da esposa falecida, Mateus sentia que Fernanda trazia um ar de leveza e uma presença tranquila para sua vida.
Quando, após alguns meses, Mateus finalmente deu o passo de formalizar o namoro, ambos já se conheciam o suficiente para saber que não seria um namoro qualquer. Fernanda tinha uma paciência natural com Sofia; era delicada ao abordar o assunto da perda da mãe da menina, e Mateus se sentia à vontade, sabendo que, se a relação avançasse, ele não estaria sozinho naquela missão de criar a filha. “Você tem certeza de que quer se mudar para cá?
” perguntou Mateus, um dia, diante da cozinha impecavelmente arrumada. “Não quero pressioná-la, só acho que Sofia e eu já nos acostumamos com sua presença, mas entendo se você quiser seu espaço. ” Fernanda acariciou o braço dele, olhando-o com um sorriso calmo.
“Mateus, você sabe que gosto de vocês duas. Eu me sinto bem aqui, acho que nossa dinâmica funciona. Além disso, eu poderia estar mais presente para Sofia, ajudá-la com as tarefas da escola, dar mais estabilidade ao dia a dia dela enquanto você trabalha.
Não vejo problema algum em me mudar. ” A decisão de Fernanda sair do emprego para cuidar de Sofia em casa não foi tomada de um dia para o outro. Antes disso, Mateus e ela conversaram longamente no quarto, com a porta entreaberta, ouvindo de leve o som da televisão na sala, onde Sofia assistia a um desenho.
“Mas você não vai sentir falta de trabalhar fora? ” questionou Mateus, sentado na beira da cama. “Não se arrependerá de deixar sua carreira de lado?
” “Eu não estou abandonando a carreira,” explicou Fernanda, calmamente. “Estou dando um tempo. Neste momento, acho que posso contribuir mais aqui com vocês.
Ainda posso ler, estudar e, no futuro, retomar a atividade profissional se eu quiser. É uma fase da vida, e a sua empresa não deixa de ser um ambiente no qual me sinto ligada, mesmo não estando presente lá todos os dias. Além disso, não estou dizendo que não vou…” Fazer mais nada, posso ajudar em alguns projetos pontuais remotamente.
Se surgir algo por hora, quero estar mais próxima da Sofia. Mateus não pôde deixar de esboçar um sorriso à ideia de voltar do trabalho e encontrar Fernanda em casa. Atenta às necessidades de Sofia, dava a ele uma tranquilidade difícil de descrever; não era apenas conforto, era a segurança de saber que sua filha estaria em boas mãos quando ele precisasse enfrentar longas jornadas no escritório.
Com a mudança de Fernanda para a casa, a rotina se transformou num passar de dias mais harmônicos, ao menos no início. Pela manhã, Mateus saía cedo, sempre deixando um beijo na testa de Sofia, que, ainda meio sonolenta, tomava o café da manhã com Fernanda. A casa, antes silenciosa, agora tinha uma presença feminina constante, um cuidado extra em detalhes que antes passavam despercebidos.
Fernanda arrumava os livros de Sofia, organizava melhor a despensa, deixava alguns pratos semi-preparados para o jantar de Mateus. Ele chegava cansado, mas a visão de Fernanda lendo uma história para Sofia no sofá fazia com que o estresse se dissipasse. No entanto, após alguns meses de namoro, algo começou a mudar no ritmo da casa.
Fernanda passou a ter ideias sobre o lar que iam além de apenas organizá-lo; ela queria reformas, mudanças estruturais, decoração mais sofisticada. No começo, Mateus não ligou muito; era verdade que sua casa não passava por grandes melhorias havia anos. A sala, segundo Fernanda, precisava de um novo piso, algo mais claro e moderno; as janelas talvez, substituí-las por modelos de vidro duplo ajudasse na economia de energia, além de modernizar o ambiente.
Mateus concordava meio distraído, já que o dinheiro não era um problema; sua empresa ia bem e ele não costumava se preocupar tanto com essas despesas. "Acho que seria bom trocar o piso da sala por madeira de demolição mais clara", disse Mateus a Fernanda, certa manhã, enquanto tomava café. "Vai deixar o ambiente mais aconchegante, e também pensei em trocar as janelas por modelos maiores; vamos ter mais luz natural.
" "Se você acha que vai ficar melhor, por mim tudo bem", respondeu Mateus, terminando de beber o café. "Só não deixe que isso se estenda demais; Sofia se incomoda com barulho e poeira. " Fernanda sorriu, dando um gole no próprio suco.
"Vou tentar agilizar ao máximo. A sala precisa ficar linda, sabe? Algo que faça a nós três.
" Sofia, sentada ao lado, não parecia tão animada com as obras. O barulho de furadeira, martelos e o vai e vem de pedreiros pela casa tornavam mais difícil se concentrar nas tarefas da escola. A menina reclamou uma tarde com o pai, pouco depois de ele chegar.
"Papai, não consigo nem ouvir o desenho direito com esse barulho", disse Sofia, apontando para a sala, onde dois homens mexiam em sacos de cimento. "E a poeira entra até no meu quarto. " Mateus se agachou na frente da filha, limpando um restinho de poeira do ombro dela.
"Eu sei, filha. A Fernanda disse que vai ser rápido. Aguenta só mais um pouquinho, OK?
Depois vai ficar tudo bonito e calmo de novo. " A menina assentiu, mas não parecia muito convencida. As coisas se complicaram quando Fernanda decidiu trocar a escada que levava ao andar superior.
A antiga escada de madeira era simples e funcional; Fernanda encomendou outra, moderna e de design arrojado, com um formato um tanto sinuoso. Na primeira vez que Mateus viu a nova escada, estranhou o material: um piso liso, quase polido demais, em lâminas escuras com bordas metálicas. O formato era mais exótico, como ela mesma disse, lembrando algo que ele vira em revistas de decoração de casas de luxo.
"Fernanda, isso não é perigoso? " questionou Mateus ao subir; com cuidado, sentiu o solado do sapato quase derrapar no segundo degrau. "Parece muito liso e se Sofia escorregar.
. . " Fernanda respondeu de forma despreocupada: "Não se preocupe tanto; o material não é tão escorregadio assim e, além do mais, isso tem sido tendência nas casas de alto padrão.
Muitas pessoas da alta classe usam esse tipo de design. " Mateus franziu a testa. "Eu reconheço que esteticamente é bonita, mas e a segurança?
" "Isso nunca vai acontecer, amor", disse Fernanda, revirando levemente os olhos como se o assunto fosse uma preocupação exagerada. "Sofia é cuidadosa e eu vou ensinar a ela como subir e descer com atenção. Além disso, se você quiser, posso colocar algumas faixas antiderrapantes discretas.
Mas vamos tentar aproveitar a beleza do design. " Sem querer prolongar a discussão, Mateus tentou deixar isso de lado; não queria parecer o chato que não aceitava as melhorias, mas algo nele ficou inquieto. Ao voltar para o quarto naquela noite, disse com a voz um pouco tensa: "Fernanda, só não exagere nos gastos.
Não é que eu não tenha condições, mas você já percebeu como a fatura do cartão vem subindo a cada mês? " Ela, que estava sentada diante do espelho escovando o cabelo, respondeu sem se voltar para ele: "Mateus, eu já expliquei que as mudanças deixam a casa mais bonita e valorizada, e você sabe que não falta dinheiro. Por que a preocupação agora?
" Ele aproximou-se, falando num tom mais firme: "Não é só a questão do dinheiro, Fernanda. É o excesso! Você está fazendo várias reformas ao mesmo tempo e isso tem deixado a Sofia incomodada.
E eu também não quero que essa casa vire um canteiro de obras interminável. " Fernanda virou-se, deixando a escova na bancada. "Eu não estou transformando nada em canteiro de obras!
Estou apenas dando um toque de modernidade, algo que a casa, sinceramente, precisava. Você mesmo achou a escada bonita. " "Eu disse que era bonita, mas perigosa.
E se a Sofia se machucar? ", insistiu Mateus. Ela cruzou os braços, com a expressão fechada.
"Não vai acontecer; você está sendo dramático. " "Eu não acho que estou sendo dramático. Só estou pedindo um pouco de moderação.
Já gastamos muito, e eu quero ter certeza de que isso vale a pena. " Fernanda suspirou impaciente: "Olha, Mateus, eu. .
. " Não quero discutir isso agora; estou cansada. Amanhã conversamos melhor, se você quiser.
O Tom dela deixava claro que não havia espaço para um acordo naquele momento. Mateus mordeu o lábio inferior, descontente. Ainda tentou argumentar: “Fernanda, não é assim que resolvemos as coisas.
Eu quero que a casa fique bonita, mas não a qualquer custo. ” Ela levantou-se abruptamente, caminhando até a porta do quarto: “Já disse que não vou discutir hoje. Se você quer continuar falando disso, fale sozinho.
Eu vou tomar um ar na varanda. ” Mateus ficou sozinho no quarto, irritado e, ao mesmo tempo, frustrado. Aquela não era a primeira vez que a discussão sobre gastos e reformas terminava de forma brusca.
Nos últimos meses, conforme as contas subiam, ele notava que Fernanda sempre evitava o confronto direto, desviando do assunto ou encerrando a conversa abruptamente. Na manhã seguinte, Mateus recebeu uma ligação urgente do seu sócio na empresa, informando que precisavam assinar um contrato importante pessoalmente e que ele deveria viajar para outra cidade. Era um tipo de demanda que não poderia ser resolvida por e-mail ou telefonema.
Apesar de tudo, o trabalho era prioridade, e aquele contrato prometia um lucro significativo. Ao desligar o telefone, ele foi direto falar com Fernanda na sala. A poeira da reforma, recém-finalizada, ainda estava no ar, mas um pouco menos intensa.
“Fernanda,” começou ele, tentando soar calmo, “surgiu uma viagem de última hora. Preciso ir fechar um contrato. Acho que vou hoje mesmo e volto assim que puder.
” Fernanda, que estava ajeitando umas almofadas novas no sofá, ergueu o olhar, parecendo surpresa. “Hoje? Tão de repente?
” “Sim,” confirmou Mateus, conferindo o celular. “Desculpe a pressa, mas não posso perder essa chance. Vou tentar ser rápido, talvez volte amanhã à noite ou no máximo depois de amanhã.
” Fernanda largou a almofada e caminhou até ele, colocando a mão em seu ombro. “Tudo bem, não tem problema. Pode ir tranquilo.
Nós vamos ficar bem. ” Sofia surgiu no corredor, segurando um caderno de desenhos, olhando desconfiada para o pai. “Você vai sair de novo, papai?
Vai demorar? ” Mateus ajoelhou-se para ficar na altura da filha, acariciando sua cabeça. “Só um pouquinho, minha flor.
Preciso ir ao aeroporto e fechar um negócio importante. Você fica aqui com a Fernanda, está bem? ” Sofia meneou a cabeça, meio contrafeita.
“Tá, mas volta logo. ” “Vou voltar o mais rápido possível,” prometeu ele, abraçando a menina. Quando se levantou, Mateus olhou para Fernanda, ainda com certa preocupação no olhar.
Apesar das discussões recentes, precisava confiar nela. Afinal, desde que ela entrara em suas vidas, a preocupação principal era Sofia, e nisso Fernanda sempre havia se mostrado atenciosa. “Cuide bem dela, por favor,” disse, baixando o tom de voz.
“Eu sei que temos divergências, mas eu confio que você vai manter as coisas em ordem enquanto estou fora. ” Fernanda sorriu, um sorriso reconfortante, como o de antes, quando a vida parecia mais simples. “Mateus, eu vou cuidar de tudo, pode ficar sossegado,” disse ela, aproximando-se para um leve beijo no rosto dele.
“Vá tranquilo, cuide do seu negócio. Nós vamos ficar bem, não é mesmo, Sofia? ” A menina, meio tímida, assentiu com a cabeça, ainda segurando o caderno.
Mateus pegou as chaves do carro, conferiu a carteira e o celular, e caminhou até a porta. A cabeça estava cheia de preocupações: desde o projeto que precisava fechar até a imagem da escada perigosa, mas uma parte dele tentava relaxar, lembrando de que Fernanda tinha boas intenções, que a casa realmente estava ficando mais bonita e que, com tempo e paciência, eles encontrariam um meio-termo. Ao cruzar a soleira da porta, ele voltou-se uma última vez, com a mão na maçaneta.
“Se precisar de algo, me ligue, tudo bem? ” Fernanda, parada no meio da sala, olhou para ele e acenou. “Pode deixar, vá sem preocupação.
Eu cuido da Sofia. ” E assim, sem mais delongas, Mateus saiu. Fernanda disse para ele ficar tranquilo, que ela cuidaria de Sofia enquanto viajava.
No entanto, Mateus recebeu uma ligação que o deixou sem chão. O carro dele cortava a estrada na madrugada, faróis iluminando um longo tapete de asfalto sob um céu sem lua. Ele havia saído apressado para fechar um contrato importante em outra cidade; era um acordo que precisava da sua presença física: assinaturas, negociações de última hora.
Mas, do nada, o celular tocou. O toque ecoou no interior silencioso do carro. Mateus diminuiu a velocidade e atendeu, o coração já apertado por uma estranha sensação de que algo não ia bem.
“Alô,” disse ele, com a voz firme, apesar da tensão que crescera no peito. Do outro lado da linha, a voz era urgente. “Mateus, sou eu, Carla.
Preciso que você volte para casa imediatamente. É sobre a Sofia. Ela está no hospital em estado grave.
” O mundo de Mateus desabou naquele instante. Ele sentiu as mãos tremerem no volante, um suor frio na nuca. Perguntas se atropelavam em sua mente.
“Como assim? O que aconteceu com a Sofia? Por que ela estava no hospital?
” Ele sequer conseguiu formular frases coerentes antes de desligar e virar o carro de volta para a cidade, pisando no acelerador como nunca. Ao chegar ao hospital, já era início da manhã. As luzes fluorescentes iluminavam o corredor do pronto-socorro, um lugar onde o cheiro de desinfetante e a mistura de vozes, choros e passos apressados criavam uma atmosfera de angústia.
Ao encontrar o médico responsável, soube o que acontecera: Sofia, sua filha, fora encontrada deitada no chão da rua, desacordada no meio da madrugada. Devido ao frio intenso da noite, ela sofrera hipotermia. Alguém a havia visto ali caída na calçada próxima à entrada da própria casa e chamou a emergência.
A polícia estava envolvida, investigando o caso, tentando entender como uma criança foi parar naquele estado sozinha e exposta às intempéries. “Mas como? ” Mateus sussurrava, a voz embargada.
“Ela deveria estar em casa, na cama, com a Fernanda, cuidando dela. ” Fernanda estava ali no corredor, encolhida num canto, braços cruzados contra o peito. Olá, baixo ao vê-la.
Mateus se aproximou, nervoso. — O que aconteceu? — Fernanda perguntou, ele tentando manter a calma.
— Você não estava com a Sofia? Ela levantou os olhos lentamente, assumindo uma expressão assustada. — Eu não sei, Mateus.
Quando fui ver, já era madrugada. Eu tinha colocado Sofia para dormir e, de repente, ouvi vozes do lado de fora, para médicos. Ela não estava no quarto, não sei como ela saiu.
Juro que não sei. Mateus apenas abaixou a cabeça, sentindo-se mais perdido do que nunca. A polícia conversava com vizinhos, os enfermeiros entravam e saíam do quarto de Sofia.
Ele não conseguia pensar em nada que fizesse sentido. Sua filha era tudo que ele tinha no mundo e vê-la assim, entre a vida e a morte, era insuportável. Nos dias que se seguiram, a situação não melhorou.
Sofia não reagia bem, não recuperava a consciência. Mateus ficava ao lado dela, segurando a mão pequenina, rezando em silêncio, pedindo que ela voltasse. A cada notícia do médico, a esperança fraquejava.
Fernanda andava pela casa em silêncio, quando não estava no hospital, mas pouco se aproximava de Mateus. Ele não tinha forças para conversar, discutir ou questionar. Sua mente girava em torno de Sofia e só dela.
Após alguns dias, veio a notícia que acabou com qualquer resquício de esperança. Sofia não. .
. As palavras do médico foram diretas, mas delicadas, como se tentassem amortecer o impacto. Nada podia amortecer aquilo, no entanto.
Mateus desabou em lágrimas, quase desmaiou nos braços de um enfermeiro. A dor era maior do que tudo que ele já sentira. Amigos próximos, ao saberem do ocorrido, se mobilizaram para preparar o funeral.
Mateus não tinha condições de pensar em nada, sua mente estava nublada de tristeza, raiva, sentimento, seu coração estilhaçado. No dia do funeral, o céu estava nublado, o ar pesado. O pequeno caixão branco repousava sobre um suporte simples.
Ao redor, poucas pessoas: alguns parentes, alguns amigos fiéis e Fernanda, a uma distância maior, visivelmente desconfortável. Mateus não se afastava do corpo da filha por um segundo. Ele segurava a mãozinha gelada de Sofia e chorava, sem se importar com quem o via.
A filha estava ali, imóvel, e tudo o que ele fazia era lembrar-se de como ela estava bem dias atrás: como corria pela casa, desenhava suas flores coloridas, fazia perguntas sobre qualquer coisa, curiosa e doce. Sofia murmurava, ele, entre soluços: — Minha princesa, minha florzinha, o que eu faço agora? De repente, enquanto segurava a mão da garota, sentiu um leve movimento.
Parecia impossível, mas ele teve certeza de que o dedo dela se mexeu. O coração dele quase parou. Olhou para o rosto pálido da criança, incrédulo.
Achou que fosse uma ilusão causada pelo desespero, mas não houve outro mínimo movimento. — Ela está viva! — gritou Mateus, afastando-se do caixão, a mão da filha ainda na sua.
— Vocês viram? Ela se mexeu! Ela está viva!
As pessoas ao redor se olharam, surpresas e aflitas. Muitos acharam que Mateus estava delirando, tomado pela dor. Carla, a assistente dele, aproximou-se, tentando acalmá-lo.
— Mateus, por favor, tente se acalmar. — Eu não estou louco! — insistiu ele, a voz trêmula.
— Ela se mexeu. Quase como uma resposta, Sofia abriu os olhos lentamente. A respiração dela era fraca, mas existia.
O susto percorreu a sala como um choque elétrico. Parentes gritaram, outros levaram as mãos à boca. O que era aquilo?
Um milagre? Um erro médico? — Alguém chame a emergência!
— berrou Mateus, levantando Sofia nos braços com cuidado. — Depressa! Ela precisa de ajuda!
Fernanda, todo esse tempo, manteve-se calada, sem qualquer reação. Clara. Enquanto os outros se agitavam, ela parecia imóvel, o olhar distante, quase congelado.
A ambulância chegou rapidamente, levando Sofia ao hospital mais próximo. Mateus a acompanhou, segurando a mão da menina, não acreditando no que acontecia. Ao chegar lá, os médicos a examinaram com cuidado, intrigados.
A conclusão deles era que Sofia tinha batimentos cardíacos muito baixos, algo extremamente raro que levou a um diagnóstico de morte prematura. Ou seja, houve um erro médico. Era um caso singular, mas o fato é que ela estava viva.
Mateus estava aliviado, mas ao mesmo tempo furioso com o erro do hospital anterior. — Como puderam diagnosticar minha filha como morta? — perguntou, indignado, a um dos médicos presentes.
— Senhor Mateus, entendemos sua revolta — respondeu o médico, calmo —, mas foi um caso raro. Ela apresentava sinais extremamente fracos. De qualquer forma, estamos aqui agora, cuidando dela.
— Eu vou processar o hospital anterior por isso! — declarou Mateus, cerrando os punhos. — Não quero que outra família passe por isso.
No entanto, a surpresa maior estava por vir. Assim que Sofia se recuperou o suficiente para falar, a pedido do pai e da polícia, ela contou o que lembrava da noite do acidente. A voz da menina era suave, firme e havia medo nela, uma tristeza contida.
Mateus sentiu um frio na espinha conforme a filha começava a relatar. — Papai. .
. — começou Sofia, deitada na maca, bem agasalhada, e com uma enfermeira ao lado. — Aquela noite, eu vi um gatinho cinza na entrada de casa.
Ele miava baixinho, parecia com fome. Você sabe que eu gosto de gatos. Então eu saí para tentar fazer carinho nele.
Mateus franziu a testa, preocupado. — Você saiu? Mas já era tarde, Sofia!
Por que você não me chamou? — Você estava viajando, papai — ela respondeu, os olhos marejados. — Então eu pensei que podia só ver o gatinho rapidinho e voltar, mas quando fui voltar para dentro, a porta estava trancada.
Eu tentei abrir, mas não conseguia. Bati na porta, chamei a Fernanda. Nesse momento, Mateus sentiu um aperto no peito.
Ele segurou a mão da filha com cuidado. — E o que a Fernanda fez, minha querida? — A voz dele era quase um sussurro, de tão tenso que estava.
— Ela me viu pela janela do quarto dela. Eu vi o rosto dela. Eu gritei, pedi para ela abrir a porta, mas ela só fechou a janela, como se não ligasse.
Eu fiquei lá fora, papai, com frio. . .
Eu. . .
Chamei e chamei, mas ela não veio me ajudar. Depois, não lembro de muita coisa. A rua estava gelada e eu me senti muito cansada, com sono; acho que dormi lá fora.
Papai, desculpa. Mateus arregalou os olhos, incrédulo. Cada palavra da filha era uma facada em seu peito.
Fernanda, aquela em quem ele confiara para cuidar de Sofia, a mulher que vivia sob seu teto, teria ignorado o pedido de socorro da menina, deixando a criança do lado de fora, sem se importar. Ao lado da porta do quarto do hospital, Fernanda escutara o relato. Quando percebeu que a atenção de todos agora se voltava para ela, algo mudou em seu rosto.
Antes que Mateus pudesse dizer qualquer coisa, Fernanda virou-se e começou a correr pelos corredores do hospital. Um enfermeiro gritou para ela parar, mas ela foi rápida, esbarrando em pacientes e equipe, buscando a saída. "Segurem ela!
" berrou Mateus, soltando a mão da filha e saindo atrás de Fernanda. "Não a deixem fugir! " A perseguição se estendeu pelos corredores do hospital.
Alguns funcionários tentavam interceptá-la, mas ela era ágil, motivada pelo desespero. Mateus corria atrás, ofegante, dominado pela raiva e pela confusão. Como Fernanda pudera fazer aquilo com Sofia?
Por que trancar a menina fora de casa? Fernanda conseguiu escapar do hospital, correndo pela rua até chegar à casa onde tudo acontecera. Talvez tivesse esquecido que a casa agora não era um lugar seguro para ela, ou estivesse desesperada demais para pensar com clareza.
Ao entrar, subiu as escadas, as mesmas escadas que ela havia mandado reformar, aquelas escadas perigosas de piso liso e formato estranho que Mateus tanto temera. "Fernanda, pare! " gritou Mateus, entrando na sala e avistando-a já no segundo lance de degraus.
Ele subiu atrás, pisando com cuidado, mas com pressa. "Você vai se machucar! " O aviso chegou tarde demais.
Fernanda, no auge do pânico, perdeu o equilíbrio; seu pé deslizou, o salto bateu no degrau metálico e ela despencou. O som do impacto foi seco e aterrorizante, o corpo dela rolando, a cabeça batendo com força. Mateus parou, olhando a cena com horror, enquanto o corpo de Fernanda jazia no fim da escada, imóvel.
Por alguns segundos, ele ficou parado, o coração disparado, a raiva ainda queimando dentro do peito. Era ela, a mulher que traiu sua confiança, que causou o sofrimento de Sofia. Ele poderia simplesmente virar as costas; porém, ao pensar na filha, na própria natureza dele, Mateus não conseguiu abandonar Fernanda à própria sorte.
Pegou o celular e chamou a emergência, a voz firme: "Preciso de uma ambulância agora! Uma mulher caiu da escada e está inconsciente, por favor, venham rápido! " Apesar de tudo, ele não deixaria de prestar socorro.
Isso não apagava a raiva, a decepção, a dor, mas era a única coisa certa a fazer naquele momento. A ambulância chegou rapidamente e levou Fernanda. O diagnóstico, dias depois, foi claro: ela estava em estado grave, um coágulo no cérebro, danos sérios.
Enquanto isso, Sofia se recuperava no hospital, sob cuidados médicos, mas já fora de perigo. A polícia passou a investigar o caso com mais afinco e, com o passar do tempo, a verdade veio à tona. Mateus descobriu que Fernanda usara as desculpas das reformas na casa não apenas para embelezar o lar, mas também para tirar dinheiro dele.
Os custos exorbitantes eram um meio de colocar as mãos em seu patrimônio. A relação que ele pensara ser de afeto não passava de um artifício para que Fernanda se aproximasse de sua fortuna. Meses depois, quando a poeira baixou, Mateus e Sofia estavam vivendo suas vidas de forma mais tranquila.
A casa voltara a ser o aconchegante de antes, sem reformas absurdas, sem barulho de construção. As lembranças ainda doíam, mas a vida prosseguia. Sofia voltara a sorrir, a brincar com seus desenhos e seus bichinhos de pelúcia.
Mateus a levou a um parque certo fim de semana e os dois correram pela grama, rindo ao sentir o vento no rosto. Durante as investigações, ele teve acesso a informações perturbadoras: Fernanda nunca gostara verdadeiramente de Sofia. A menina era um obstáculo para ela, alguém que ela precisava eliminar ou afastar para ter mais liberdade de manipular Mateus.
A noite em que Sofia saiu para ver o gato foi a oportunidade que Fernanda encontrou para deixá-la do lado de fora, pensando que o frio da noite faria o serviço sujo. Fernanda não apenas ignorou os apelos da menina, como a observou pela janela antes de fechar tudo e ir dormir, sabendo que Sofia estava à mercê da morte no frio intenso. Agora, Fernanda estava internada e, após cirurgias e tratamentos, tinha perdido boa parte dos movimentos do corpo, vivendo com a mãe, dependia de cuidados constantes.
Mateus ficara sabendo disso por meio de conhecidos. Não sentia prazer em saber do sofrimento dela; sentia, sim, uma profunda tristeza por tudo que acontecera. Ela tinha tentado se livrar de Sofia por ganância; agora, pagava o preço de suas próprias escolhas.
Mateus também entendera que não precisava de outra para cuidar de sua filha. Quando a esposa morrera, ele achou que precisava de alguém para preencher esse papel, mas agora estava claro que o amor dele e de Sofia era suficiente. Eles tinham uma relação sólida, um ao outro, e tudo o que precisavam era continuar juntos, aprendendo com a vida e apreciando cada momento.
Ele seria mais cauteloso no futuro, se outra mulher surgisse em seu caminho, analisando melhor o tempo antes de confiar, não colocando a segurança de Sofia em risco. Certa manhã, Sofia estava na cozinha, sentada à mesa, desenhando um gato cinza num pedaço de papel. Mateus preparava um café enquanto sorria para a filha.
"Ficou muito bonito o seu desenho! " Sofia elogiou, ele aproximando-se. Ela ergueu o rosto, às bochechas coradas.
"Obrigada, papai! É o gatinho que vi aquela noite; ainda penso nele. " Mateus suspirou, acariciando o cabelo da filha.
"Você não fez nada de errado. Tentou ajudar um animalzinho; isso mostra seu bom coração. " E agora você está aqui comigo; isso é o que importa.
A menina sorriu, levantando-se da cadeira e abraçando o pai, sentindo o calor e a proteção que só ele podia dar. Eles voltariam à rotina simples: escola, trabalho, passeios no final de semana, idas ao cinema. Havia mais barulhos estranhos de reforma, nem exigências de itens de luxo, nem tensão pairando no ar.
A casa pertencia a eles dois: pai e filha, em paz com o tempo. As feridas emocionais cicatrizaram e a lembrança daquela noite terrível, quando Sofia quase perdeu a vida, ficaria mais distante. Um dia, um amigo de Mateus, ao encontrá-lo no supermercado, o questionou: “E agora, Mateus, pretende arrumar alguém para te ajudar com a Sofia?
Uma babá, uma governanta, algo assim? ” Mateus deu um leve sorriso e negou com a cabeça. “Não preciso disso”, respondeu, sem hesitar.
“A Sofia e eu estamos bem assim. Aprendi que não preciso pôr outra pessoa em casa para cuidar dela. Com mais cuidado, no futuro, quem sabe apareça alguém que valha a pena ter por perto, mas agora estamos bem, só nós dois.
” O amigo assentiu, compreensivo. Era difícil não saber do que acontecera. A história da menina ressuscitada no velório correra entre os conhecidos e o caso de Fernanda fora comentado em vozes baixas pela vizinhança, mas ninguém ousava dar lição de moral a Mateus.
Todos sabiam o quanto ele sofrera. Nos meses seguintes, a rotina seguiu seu curso. Sofia voltou às aulas, reencontrou as amiguinhas, participou de trabalhos escolares e apresentava, aos poucos, um sorriso mais natural.
Mateus acompanhava seu crescimento com orgulho, ensinava lições simples da vida, mostrava filmes e lia livros para ela antes de dormir. A imagem da escada, substituída pela causa do acidente de Fernanda, foi trocada por uma escada segura e simples, como antes. Mateus contratara uma equipe discreta e competente para desfazer muitas das mudanças caras e inúteis que Fernanda impusera.
A casa voltou a ser o lar aconchegante, funcional, sem extravagâncias. A cada dia, Mateus se certificava de que Sofia estava bem, e a menina retribuía esse cuidado com afeto genuíno. Não havia mais insegurança, mais medos.
Mateus sabia que não era preciso ter pressa para encontrar companhia feminina ou uma substituta materna para Sofia. O principal era o amor e o cuidado que ele próprio podia oferecer, e se no futuro alguma mulher viesse a entrar em sua vida, ele certamente seria mais cauteloso, observaria como ela tratava Sofia, ouviria a intuição que um dia falhara, mas agora estava mais atenta. Assim, as estações passaram: o inverno rigoroso que quase levara Sofia embora havia se ido.
A primavera trouxe flores ao jardim que Sofia adorava desenhar; o verão seguinte trouxe idas à praia, brincadeiras na areia, picolés coloridos. O outono caiu nas árvores, espalhando folhas pelo quintal e trazendo ventos suaves. A vida se equilibrava de novo, com a constatação de que pai e filha formavam uma equipe unida, uma pequena família capaz de enfrentar qualquer desafio.
E lembrando-se de tudo o que passou, Mateus percebeu que não precisava de outra pessoa para cuidar de sua filha; eles estavam bem, apenas eles. E se outra mulher viesse a entrar em sua vida, ele teria mais cuidado.
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