Capítulo 2.5 - Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores

22.76k views903 WordsCopy TextShare
Prof. André Azevedo da Fonseca
A luta dos professores em defesa de seus direitos deve ser entendida como um momento importante de s...
Video Transcript:
“Se há algo que os educadores brasileiros precisam saber, desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do respeito aos educadores e à educação inclui que a briga por salários menos imorais é um dever irrecusável e não só um direito deles. ” A luta dos professores em defesa dos seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, como prática ética. Segundo Paulo Freire, a defesa da educação é parte integrante dos saberes necessários para a prática docente.
A luta pela dignidade da profissão, que ainda é tão desrespeitada, desprestigiada e nos últimos tempos até mesmo ameaçada por projetos de lei que propõem a criminalização de professores, essa luta em favor da dignidade da profissão, esse respeito a si mesmo é tão importante à prática pedagógica, quanto o respeito que o professor deve assumir pela identidade dos alunos. Paulo Freire argumenta que uma das piores consequências do descaso sistemático do poder público pela educação é a disseminação de um estado de espírito muito negativo entre os professores, que faz com que eles se cansem da profissão, se sintam esgotados, fracassados, desistam dos alunos, fiquem indiferentes, cínicos, parem de acreditar que é possível educar e começam a simplesmente dizer: "Não há que fazer. " Entram naquele discurso fatalista de quem se rende à realidade, em vez de continuar lutando para transformá-la.
É a desesperança. É certo que o respeito do professor pelas particularidades do aluno, pela sua curiosidade, pela sua timidez, exige que o professor exercite a sua humildade e a sua tolerância. Como é possível respeitar a curiosidade do aluno se o professor é simplesmente arrogante, não compreende a importância da consciência da própria ignorância que é a justamente a consciência que estimula a busca pelo saber e que tem medo de revelar o que não sabe.
É muito difícil fazer bem feito quando a gente não gosta do que faz. Ou quando as condições de trabalho, em vez de oferecer suporte, prejudicam a prática pedagógica. Mas a questão é que, se eu, professor, sou desrespeitado, em minha dignidade, pelo Estado, que manda me bater, em mim e em meus colegas, e que quer me prender, que toma a minha aposentadoria, que rouba a merenda dos meus alunos, então se eu, como professor, se sou tão humilhado pelo poder público, isso não significa que eu devo transferir esse desprezo que o Estado tem por mim aos meus alunos.
Se a minha profissão é ainda tão desvalorizada pelo poder público, eu não devo, por isso, tratar mal os meus alunos, descontar neles a minha frustração e a minha desesperança. A resistência às más condições do trabalho docente não é trabalhar mal, não é boicotar os alunos. “A minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente, crítica e organizada contra os ofensores.
” Paulo Freire lembra que, diante um Estado tão omisso, e frequentemente ameaçador, é compreensível, ainda que triste, ver tantos bons professores abandonando a sala de aula para buscar uma outra profissão que ofereça um salário mais digno. Mas o que não é possível, o que não se deve fazer, é permanecer na educação, continuar sendo um professor insatisfeito, fazer mal feito de forma deliberada e desonrar a educação ao desrespeitar os alunos e a si mesmo. O professor tem o dever de ministrar as suas aulas, de realizar a sua tarefa docente.
E para isso, precisa de condições favoráveis. Por isso, uma das formas de luta contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação é por um lado, justamente, a nossa recusa em transformar a nossa atividade docente em um bico. Em um trabalho mal feito, sem estudo.
E por outro lado, é recusar esse discurso traiçoeiro de imaginar que a docência é uma "missão" que exige abnegação, onde o sacrifício e o sofrimento são inevitáveis, que professor sofre mesmo, é assim mesmo, ou então aquele discurso, tão presente na vida das crianças, que atribui ao professor um papel aparentemente carinhoso de "tio" e "tia". É como um trabalhador respeitado, é como um profissional, é pela competência do seu trabalho que o professor se organiza politicamente para que os seus direitos e os direitos de seus alunos, para que a sua dignidade e a dignidade da educação sejam respeitados. E é nesse sentido que Paulo Freire argumenta, e talvez, até de forma surpreendente para alguns sindicatos ligados à esquerda tradicional, que os órgãos de classe deveriam, por um lado, priorizar o empenho de formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política, e por outro lado, repensar a eficiência das greves.
Segundo Paulo Freire, repensar a eficiência das greves não é e nem deve ser confundido com a ideia de parar de lutar. O que ele enfatiza é que professores devem reconhecer que a luta é uma categoria histórica, a história está sempre em transformação, contextos diferentes exigem respostas diferentes e por isso, para participar da dinâmica da história, devemos reinventar a forma também histórica de lutar. O que você pensa sobre as ideias deste capítulo do livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire?
Participe com seus comentários. E não se esqueça de se inscrever no canal para acompanhar os próximos vídeos. E lembrando também que se você quiser compartilhar os links dos vídeos desta série incorporados em blogs, sites ou plataformas de EAD para complementar as aulas, fique absolutamente à vontade.
Os vídeos foram feitos para isso mesmo.
Related Videos
Capítulo 2.6 - Ensinar exige apreensão da realidade - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
11:11
Capítulo 2.6 - Ensinar exige apreensão da ...
Prof. André Azevedo da Fonseca
22,435 views
🔥 MATEMÁTICA BÁSICA - Qual o valor da expressão?
11:02
🔥 MATEMÁTICA BÁSICA - Qual o valor da exp...
Fábrica de números
507 views
Mario Sergio Cortella - Eu Não Dirijo
5:13
Mario Sergio Cortella - Eu Não Dirijo
Canal do Cortella
1,838,754 views
Cap 1.7 - Ensinar Exige Risco, Aceitação do Novo e Rejeição a Qualquer Forma de Discriminação
5:43
Cap 1.7 - Ensinar Exige Risco, Aceitação d...
Prof. André Azevedo da Fonseca
42,256 views
A Escola Cidadã, por Paulo Freire
2:26
A Escola Cidadã, por Paulo Freire
arte risco
53,865 views
Aula Educanorte   2024 07 31 09 27 GMT 3
27:18
Aula Educanorte 2024 07 31 09 27 GMT 3
Luana Alves Cunha Dias
76 views
2.5 ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores
7:20
2.5 ensinar exige humildade, tolerância e ...
Lidia Braga
548 views
Capítulo 2.4 - Ensinar exige bom senso - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
8:37
Capítulo 2.4 - Ensinar exige bom senso - P...
Prof. André Azevedo da Fonseca
28,037 views
Capítulo 2.7 - Ensinar Exige Alegria e Esperança - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
7:31
Capítulo 2.7 - Ensinar Exige Alegria e Esp...
Prof. André Azevedo da Fonseca
23,097 views
Capítulo 1.5 - Ensinar Exige Estética e Etica - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
6:00
Capítulo 1.5 - Ensinar Exige Estética e Et...
Prof. André Azevedo da Fonseca
75,021 views
Capítulo 2.3 - Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando - Pedagogia da Autonomia
4:18
Capítulo 2.3 - Ensinar exige respeito à au...
Prof. André Azevedo da Fonseca
26,871 views
ISSO SE CHAMA HUMILDADE | SUA VIDA MUDARÁ DEPOIS DE APRENDER ISSO | Cortella (motivacional)
5:09
ISSO SE CHAMA HUMILDADE | SUA VIDA MUDARÁ ...
Motivação IZ
20,111 views
Cap. 2.8 - Ensinar Exige a Convicção de que a Mudança é Possível - Pedagogia da Autonomia
15:28
Cap. 2.8 - Ensinar Exige a Convicção de qu...
Prof. André Azevedo da Fonseca
20,990 views
Cap. 1.3 - Ensinar Exige Respeito aos Saberes dos Educandos - Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire
5:42
Cap. 1.3 - Ensinar Exige Respeito aos Sabe...
Prof. André Azevedo da Fonseca
64,608 views
Capítulo 1.2 - Ensinar Exige Pesquisa - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
6:01
Capítulo 1.2 - Ensinar Exige Pesquisa - Pe...
Prof. André Azevedo da Fonseca
129,883 views
Capítulo 2.2 - Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado - Pedagogia da Autonomia
8:53
Capítulo 2.2 - Ensinar exige o reconhecime...
Prof. André Azevedo da Fonseca
34,004 views
2.4 Ensinar exige bom senso
5:02
2.4 Ensinar exige bom senso
Érico Mota
511 views
Capítulo 1.1 - Ensinar Exige Rigorosidade Metódica - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
5:51
Capítulo 1.1 - Ensinar Exige Rigorosidade ...
Prof. André Azevedo da Fonseca
79,069 views
Capítulo 2.9 - Ensinar Exige Curiosidade - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
10:19
Capítulo 2.9 - Ensinar Exige Curiosidade -...
Prof. André Azevedo da Fonseca
22,543 views
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com