Quando éramos crianças, todos treinávamos para nos tornarmos “alguém”. Treinávamos para nos tornar quem nossos pais e educadores queriam que fossemos. Todos passamos por esse treinamento.
Todos tentamos nos tornar alguém, alguém muito importante e muito especial. Essa é a estruturação do ego. Não leve esse seu melodrama tão a sério.
Vamos lembrar quem realmente somos – isto é, almas, e não egos. Cada um de nós possui a perspectiva de dois seres, um ego e uma alma, que funcionam em diferentes planos de consciência. O ego é quem você pensa que você é.
E quem você pensa que você é, é uma questão de perspectiva. Quem você pensa que você é, morrerá com o corpo, porque ele faz parte desta encarnação. Mas a sua alma, que tem essas qualidades de profunda sabedoria, amor, paz e alegria, está aqui, observando tudo passar.
Essa é a sua verdadeira identidade, Além do Ego. Ram Dass. Confundimos as nossas almas com os nossos papéis.
Você não me vê como uma alma. Você me vê como Ram Dass, como um corpo, como um papel. Aldous Huxley nos lembra: “O corpo está sempre no tempo, o espírito é sempre atemporal, e a psique é uma criatura compelida a associar-se ao corpo, mas capaz, se assim o desejar, de se experimentar e se identificar com o espírito”.
Nos envolvemos tão profundamente em nossos papéis que esquecemos que somos almas. Com todas as nossas sensações, emoções, desejos e complicações de estar em um corpo, esquecemos que somos almas. Pensamos: “Eu sou um homem.
Sou uma mulher. Sou da California. Sou mãe, pai, viúva, filho” – alguma coisa.
“Eu tenho que ser alguma coisa, não é? ” Pense em todas as maneiras pelas quais você se identifica com o que faz: “Sou professor. Sou médico.
Sou cientista. Sou cozinheiro, judeu, cristão, muçulmano, corretor da bolsa. Sou um empreendedor.
Sou um buscador espiritual”. – Esse pode carregá-lo por anos – “Estou aposentado”. Tudo isso é o ego, quem você pensa que é, o conjunto de pensamentos sobre como você se identifica, pensamentos sobre os diferentes papéis que você desempenha na sociedade.
Cada um dos nossos papéis é uma forma de pensamento. Esse é o problema que todos nós enfrentamos, quando observamos de perto, vemos que os nossos egos são somente uma forma, uma constelação de formas pensamento, que definem o nosso universo. Pensamentos nos dizem quem somos, quem todos os outros são, e como tudo funciona.
Mas esses padrões de pensamentos vão muito muito fundo, e não podemos simplesmente abandoná-los. Para irmos em direção ao próximo nível de percepção do universo temos que nos desembaraçar de toda essa trama de formas pensamento, temos que escapar. O problema é que a trama de pensamentos foi projetada precisamente para nos manter prisioneiros.
Ela não nos deixará escapar com facilidade. É nesse ponto que entra o trabalho da jornada espiritual. Buscamos práticas que nos deem uma base de apoio para fora das nossas formas pensamento, ou que nos empurrem para fora das nossas mentes pensantes e nos libertem.
A meditação, por exemplo, é uma boa prática para nos livrarmos dos nossos pensamentos. Ela nos permite ver claramente a maneira pela qual nos mantemos recriando a nossa própria trama dos pensamentos que nos aprisionam. Digamos, por exemplo, que você está sentado meditando, com a atenção voltada para sua respiração e acalmando a mente, acalmando a mente, acalmando a mente, e de repente, algo acontece dentro de você.
Você sente uma profunda paz, ou você percebe que existe um movimento, e ocorre um ímpeto, isso é o ego sendo empurrado para fora através da prática da meditação, pelo inspirar, expirar, inspirar, expirar. Não há espaço para um material psicológico ou conceitos próprios enquanto você está concentrado em ficar inspirando e expirando. Apenas inspirando e expirando.
Veja que nem mesmo é necessário que você seja bom em fazer isso, basta inspirar e expirar. Mas acredite em mim, o ego é muito tenaz, e até o final, ele ficará à espreita, pronto para voltar. Cedo ou tarde, o ego nos convence de que precisamos dele – não apenas que precisamos dele, mas que somos ele.
Então, a meditação levanta a questão: “Quem sou eu? ” Acredito que os seres humanos tenham dois planos de consciência: a alma e o ego. O ego é uma construção intelectual, uma estrutura conceitual da mente para sobreviver e funcionar dentro deste universo.
O ego não é bom nem mau. O ego tem uma função. Ele é o veículo através do qual você se relaciona com o mundo externo.
Mas o ego é uma coleção de pensamentos e, na medida em que você se identifica com eles, eles o impedem de estar no aqui agora. Quando você desenvolve a estrutura do ego, esse mecanismo, esse computador central necessário para executar o jogo, surge a questão: quão apegado você está, ou quão identificado você está com ele? Você deve se libertar dessa identificação.
Não porque o ego seja ruim, mas porque ele é apenas um mecanismo. E mesmo que eu não me identifique com ele, essa estrutura de ego que me orienta neste plano físico continuará funcionando. O ego é um instrumento primoroso.
Aproveite-o, use-o, apenas não se perca nele. Swami Vivekananda disse que: “O ego é um péssimo senhor, mas é um servo maravilhoso. ” Você entende?
O intelecto é uma ferramenta requintada, é realmente o recurso mais poderoso que temos para prosseguir em nossa viagem. Após compreendermos o que é essa viagem e entendermos que o intelecto é o nosso servo, e não o nosso senhor, poderemos usá-lo com habilidade, sem nos deixar aprisionar pela sutil armadilha do ego, e então, deixaremos de ser prisioneiros de nossas mentes. Podemos nos perguntar: “Como poderíamos sobreviver sem o ego?
” Não se preocupe – o ego não desaparece. Podemos aprender a nos aventurar para além dele, no entanto, o ego continua ali, como o nosso servo. É como o nosso quarto, podemos entrar nele e usá-lo como um escritório quando precisarmos ser eficientes, mas a porta pode ser deixada aberta para que possamos sair sempre que quisermos.
Então, como podemos ir além do ego? Grande parte da prática consiste em lembrar-se continuamente de se livrar da identificação da sua consciência com os seus desejos, medos, esperanças e pensamentos. O objetivo nisso é estabelecer-se em um outro plano de consciência, e então, se conectar completamente de volta à vida.
Se você for além deste ego, deste corpo e das suas características, você chega ao que os hindus chamam de Atman. Se você deixar este plano de consciência, onde estão as coisas, o ego e os pensamentos, o próximo plano de consciência é o espiritual, e este é o plano da alma, o Atman, o coração, a sabedoria intuitiva. Quando cavamos fundo o suficiente dentro de nós mesmos, através de uma consciência profunda, chegamos ao nosso Eu real.
E isso é a alma. O ponto principal aqui é que devemos aprender a nos identificarmos com a alma, e não com o ego. As práticas espirituais são os métodos que nos ajudam a passar dessa identificação com o ego para a identificação com a alma.
A velhice também faz isso. Ela espiritualiza as pessoas naturalmente. Realmente, estamos falando sobre desistir de ser o personagem central do nosso próprio melodrama.
Depois que você abandona a sua identificação com quem você pensa que você é, o melodrama continua, mas não é mais o seu melodrama. Na verdade, os seus pensamentos só podem capturar a sua atenção enquanto você se identifica com eles. Livre-se da sua identificação com os seus pensamentos, livre-se do apego a eles.
E então, você poderá apreciar as experiências, sem ser levado por elas. Apenas permaneça aqui. Esteja presente.
Aqui e agora. Encha seu coração de amor. Volte sua mente para Deus, para o Guru, para a Verdade.
Neste momento, lembre-se da alma, lembre-se de quem você realmente é.