Vamos para um assunto que tá dando o que falar nas redes, na imprensa. Todo mundo querendo entender um pouco mais como é que funcionam os bonecos hiperrealistas chamados de bebês reborn. É uma febre na internet, no Brasil inteiro.
Os donos dos bebês Reborn até muitas vezes acabam criando vínculos afetivos com esses bonecos que parecem mesmo um bebê de verdade, tem nome e tem até documento. Os relatos simulam comportamentos de crianças reais, como choro e alimentação. O assunto chegou até a Câmara dos Deputados com quatro projetos de lei já apresentados só nesta semana.
propostas que proíbem um atendimento em locais públicos e o uso de filas preferenciais. Tem projeto que mira também no atendimento dessas mulheres. Vamos conversar agora com o psiquiatra Daniel Barros sobre o assunto.
Tudo bem, Daniel? Bem-vindo ao nosso plantão de sábado. Você sabe que assim, eu passei a semana pesquisando também, tava dando uma olhada até nos vídeos curiosos do pato do bebê Reborn.
Eu queria que você explicasse pra gente o que foi que aconteceu, o que acontece com a cabeça dessas pessoas, que esse negócio virou uma febre, né? É, são esses bonecos hiperrealistas que acabaram eh virando para muita gente um apoio emocional, né? Então, o que o que tá acontecendo, Daniel?
Dá pra gente explicar porque que esse negócio virou uma febre no Brasil? Eu acho que essa situação ela fala mais sobre nós que não temos o bebê reborn do que sobre as pessoas que têm o bebê reborn, porque as pessoas que têm esse bebé reborn já não são de hoje. Isso já é um um fenômeno de mais de uma década, né, que tem esses bebês e que pessoas gostam e as pessoas se apegam a a gente se apega a coisas, tem gente que se apega a suas canetas, tem gente que se apega aos seus livros e tem gente que se apega aos seus bebês.
E de repente isso se tornou um assunto, né? E aí só se fala disso, porque eu acho que isso tem a ver com a nossa dificuldade de e entender que as pessoas são diferentes, que as pessoas têm as suas manias, que as pessoas têm os seus comportamentos. Claro que a esse apego ele pode ficar excessivo, ele pode não ser saudável, mas de forma geral as pessoas que estão aí eh com seus bebês e tão eh eh dando nome e estão fazendo documentos, estão numa fantasia, elas não perderam o contato com a realidade, elas estão brincando.
De repente uma pessoa leva pro hospital para fazer propaganda, né? Ela leva lá: "Ah, meu bebê tá com febre". porque ela quer fazer propaganda dos bebês dela e a gente como sociedade começa a levar a sério demais uma coisa que não era paraa gente tá levando tão a sério.
Então acho que esse esse assunto e aí vai o deputado e aí vai o vereador querer pegar carona num negócio que tá crescendo, né? eh é uma forma também de ele ganhar visibilidade. Então, acho que essa eh o fato de se tornar um assunto tão eh eh premente, né, e tão fervilhante, fala mais sobre nós do que sobre as pessoas que têm os bebês.
É menos eh preocupante, Daniel, na sua avaliação do que a gente tá achando. Eu eu tenho notícia desses bebês, é que eu não sabia que chamava bebê reborn, né? Foi um termo, acho que começou a ser cunhado agora, mas lá atrás a gente já, é isso mesmo que você falou, 20 anos já se fazem bonecos hiper realistas e eles estão por aí.
Só que a internet, né, como tudo, deu deu deu um espaço maior, né, pro que a gente tá vendo, que são os criadores dos bonecos. E aí começa a impressionar quem tá de fora quando a gente vê relatos, né, eh, e e gravações circulando de pessoas, eh, que, sei lá, vão pra fila do SUS com o bebê Reborn no colo, tentam furar uma fila de um supermercado por conta do bebê Reborn. Quando é que isso ultrapassa ali os limites na sua avaliação?
Você como psiquiatra, quando começa a se tornar de fato preocupante para uma pessoa o tratamento dado a esse boneco? Então o o problema é quando a pessoa se a pessoa acredita naquilo, né? Então ela coloca uma uma realidade que não existe, né?
Que ele é realmente o seu filhinho e que ele eh precisa de cuidados, mas eu não acho que seja a maioria. Eu acho que quem tá com um bebê e quer pegar uma fila preferencial, na verdade tá sendo esperto. Eu não acho que a pessoa acredite de fato que é uma criança, né?
como a a menina que foi pro levar no médico, ela não achava que realmente o boneco tava doente. Ela eh pelo menos um dos casos que eu vi, ela queria fazer propaganda do negócio dela. E como você falou, a internet vai repercutindo e como nas redes sociais tudo é meio homogêneo, a gente não tem muita eh eh diferença do que que é sério, do que que não é, eh de repente a gente começa a levar a sério.
Nossa, mas será então essas pessoas estão fora da realidade? Será que elas estão doentes? Será que isso é um problema?
E no fundo, para mim é uma brincadeira entre eles, que as pessoas nos seus grupos e nas suas redes sociais, elas eh se alimentam, né? Um alimenta o outro, um acha legal, um eh estimula o outro e aí quem vê de fora acha tudo muito esquisito, mas quem tá lá dentro acha normal, porque nesse grupo é assim que que as pessoas agem, né? Fica esquisito para quem tá de fora.
Eu acho que basta a gente não levar tão a sério uma brincadeira. Gente, ô Daniel, você tava falando aqui dos projetos de lei. Eu tô em Brasília, a gente acompanha de perto o assunto.
Teve um boom aqui de propostas da semana passada para cá, não à toa, né, quando o assunto começou a viralizar. Na sua avaliação não é para tanto, não precisa de tanta seriedade ao falar desse assunto. Mas eu eu tenho poucas dúvidas de que não é para tanto, né?
E eu eh me parece, né, olhando aqui um pouco a distância, que você agora querer fazer uma lei e não pode pegar a fila do do SUS, quer dizer, eh é é como você querer fazer uma lei que não pode levar o um um um cachorro no SUS, né? É assim, não precisa disso. É óbvio que não precisa.
Eh, quem tá propondo essa lei agora também, eu acho que quer quer eh eh surfar nessa onda, sabe? E esse é o problema das bolhas da internet. Elas, essas ondas elas vêm, parece que é uma coisa muito importante.
Depois de amanhã a gente nem tá mais falando disso. Perfeito. Obrigada também para pra gente poder, né, diminuir o tom aqui do assunto, né?
A gente tá vendo tanta informação desencontrada também. Daniel vem esclarecer, né? Qual é o limite da preocupação?
Por enquanto, a avaliação dele como especialista é só uma brincadeira. Obrigada, viu, Daniel? Até uma próxima.
Um abraço.