Fala, pessoal! Este é o segundo vídeo da série “Missão: Diplomata”. Nós vamos continuar a introdução à história das relações internacionais, agora da Primeira até a Segunda Guerra Mundial.
Eu sou o Bruno Rezende, professor de Política Internacional e diplomata há mais de dez anos e. . .
bora começar! No primeiro vídeo, nós vimos o período que vai desde a formação do sistema moderno de Estados até a Primeira Guerra Mundial. Se você perdeu, toque aqui em cima para conferir antes de continuar este vídeo, porque agora nós vamos seguir da Primeira até a Segunda Guerra Mundial, sempre considerando aquilo que é central, mais relevante para os nossos estudos de Política Internacional.
Ao longo da Primeira Guerra, foram formadas duas coalizões, dois grupos principais de países que se enfrentaram: por um lado, as chamadas Potências Centrais ou Impérios Centrais – o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Turco-Otomano e a Bulgária. E do outro lado, os países aliados: a França, o Reino Unido e a Rússia inicialmente, além de vários outros, como o Japão, a Itália – a Itália tinha uma aliança com a Alemanha e a Áustria-Hungria, mas saiu dessa Tríplice Aliança e entrou na guerra contra as Potências Centrais – e, além disso, a partir de 1917, os Estados Unidos e o Brasil também entraram na guerra do lado dos aliados. O governo brasileiro havia inicialmente declarado neutralidade na guerra, mas em 1917 o presidente Venceslau Brás reconheceu e proclamou o estado de guerra iniciado pelo Império Alemão contra o Brasil, em resposta ao torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães.
Em 1918, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, fez um discurso no Congresso norte-americano em que ele apresentou propostas, um programa para alcançar a paz mundial que ficou conhecido como os “14 Pontos de Wilson”, porque foram 14 iniciativas que deveriam orientar as ações dos Estados como diretrizes para o mundo pós-guerra, baseadas nos princípios liberais. Esses 14 pontos incluíram, por exemplo, a diplomacia aberta e o abandono dos tratados secretos, a liberdade de comércio e de navegação, o desarmamento, o reajuste de fronteiras e de territórios na Europa e, por fim, como o 14º ponto, a formação de uma associação geral de nações, que seria uma organização para garantir a independência e a integridade territorial dos Estados. Na Conferência de Paz de Paris, entre 1919 e 1920, representantes dos países vencedores da guerra, inclusive do Brasil, se reuniram na França para negociar os termos do tratado de paz depois da derrota alemã na Primeira Guerra.
Ao final dessas negociações, foi aprovado o Tratado de Versalhes, que foi o tratado de paz entre a Alemanha e as potências aliadas e associadas. A Alemanha foi responsabilizada pela guerra, se comprometeu a pagar grandes quantias como reparações aos países vitoriosos, devolveu territórios para países vencedores e perdeu o seu império colonial na África e na Oceania. No Oriente Médio, o Império Otomano foi dissolvido e deu origem à Turquia e a vários territórios administrados pela França e pelo Reino Unido sob regimes de mandatos.
No Império Russo, as perdas militares na guerra e outras questões políticas, econômicas e sociais levaram a revoltas e acabaram culminando na Revolução Bolchevique de 1917. O czar Nicolau II foi forçado a abdicar, acabou o Império Russo com a queda da dinastia Romanov, e começou uma guerra civil entre diferentes grupos políticos russos, e por conta disso a Rússia saiu da guerra mais cedo e assinou uma paz em separado com a Alemanha. Essa guerra civil russa continuou nos anos seguintes até que, em 1922, foi fundada a União Soviética, consagrando a vitória dos bolcheviques na guerra civil, liderados por Vladimir Lenin.
Voltando para as negociações do pós-primeira guerra, como parte do Tratado de Versalhes, foi aprovado um Pacto que criou a Liga das Nações ou Sociedade das Nações como uma organização internacional voltada a garantir a paz e a segurança e desenvolver a cooperação internacional. Esse Pacto entrou em vigor em 1920, e a partir daí a Liga começou a funcionar. Só que, apesar de o presidente Wilson ter sido um dos principais entusiastas da criação da Liga, o Senado norte-americano rejeitou o Tratado de Versalhes, e, com isso, os Estados Unidos nunca se tornaram membros da Liga das Nações.
Essa já foi uma primeira fragilidade estrutural da Liga, já que ela não contou com a participação de uma importante potência econômica e militar que eram os Estados Unidos. Outra fragilidade da Liga foi que o processo de tomada de decisão na Liga era ineficiente, já que para muitas questões havia a exigência de consenso, e isso fazia que um único país fosse capaz de bloquear a tomada de decisão em temas importantes para a manutenção da paz e da segurança. Além disso, mesmo em situações de violação do Pacto da Liga, quando havia agressão de um Estado a outro, a adoção de sanções nem sempre ocorria ou não ocorria com a rapidez e com a abrangência necessárias para punir os agressores de maneira efetiva, e a França e o Reino Unido por vezes relutaram em adotar sanções, com receio de também sofrerem prejuízos.
Com o passar do tempo, a Liga foi se esvaziando: vários países deixaram a Liga – como o próprio Brasil em 1926, depois o Japão e a Alemanha em 1933, a Itália em 1937, entre outros países que também pediram para sair, e a União Soviética foi expulsa em 1939, depois da invasão da Finlândia. E ao longo dos anos 1930, diversas violações do Pacto da Liga acabaram reforçando a percepção de ineficácia dela: por exemplo, o Japão invadiu a província chinesa da Manchúria em 1931, a Itália em 1935 invadiu a Abissínia, na atual Etiópia, e quando a Segunda Guerra Mundial começou em 1939, a Liga já estava em descrédito total. Um princípio básico por trás da criação da Liga foi o de segurança coletiva, que significa que a agressão a um Estado deve ser considerada uma agressão a todos os demais, de modo que eles devem agir em conjunto, para revidar aquela agressão.
Mas isso só funciona se houver confiança nesse sistema, porque se o governo de um Estado souber que, efetivamente, se ele fizer uma agressão ele vai enfrentar uma resposta à altura, isso pode mudar os cálculos dele e até evitar essa agressão. Agora, se o Estado sabe que não vai dar em nada, que aquela segurança coletiva é uma promessa vazia, aí na prática não há nenhum desincentivo para ele fazer essa agressão. E foi por essa razão que a Liga caiu em descrédito, porque os Estados perceberam que ela não era mais capaz de preservar a paz e a segurança e que as consequências de uma violação do Pacto provavelmente seriam ou nulas, ou no máximo fracas.
Do ponto de vista econômico, a década de 1930 também foi um período marcado por divergências, por competições, entre muitos países, no contexto da chamada Grande Depressão. Depois da quebra da bolsa de Valores de Nova York, em 1929, houve um período de queda profunda na economia, de endividamento, e diante disso os Estados Unidos e outros países passaram a adotar medidas econômicas protecionistas, como a elevação de tarifas de importação, para tentar proteger os produtores nacionais. O problema é que, quando existe uma elevação de tarifas em cadeia, o país A aumenta, o país B também, e o C, o D, etc.
, na prática isso desestimula o comércio internacional como um todo, porque fica mais caro exportar, vender um produto para outro país, e isso pode aumentar as divergências entre os países, além de trazer também consequências internas como a elevação de preços e, consequentemente, a insatisfação popular. Em 1933, em meio a um cenário econômico muito ruim na Alemanha, Adolf Hitler assumiu o cargo de chanceler alemão. Ele passou a acumular cada vez mais poder dentro da Alemanha e logo começou a promover as políticas de perseguição e extermínio de judeus e de outros grupos.
Ele também defendeu uma política de expansionismo territorial, para ampliar o chamado espaço vital alemão na Europa. Em 1938, a Alemanha anexou a Áustria. Em seguida, outras potências europeias concordaram com a cessão para a Alemanha da região dos Sudetos da Tchecoslováquia, com o Acordo de Munique de 1938, que à época foi encarado como uma medida para evitar uma guerra mais ampla, mas não adiantou.
Em 1939, forças alemãs invadiram a Polônia, e em seguida a França e o Reino Unido declararam guerra à Alemanha. Com isso, começou formalmente a Segunda Guerra Mundial. Ela durou até 1945 e foi o conflito mais devastador de que se tem registro na história, com dezenas de milhões de mortos.
De um lado, estavam as potências do Eixo – a Alemanha Nazista, o Reino da Itália e o Império do Japão – e do outro, os aliados: inicialmente, França e Reino Unido, depois também a União Soviética e os Estados Unidos a partir de 1941, além de vários outros países, inclusive o Brasil, que participou do esforço de guerra com o envio de tropas, com a Força Expedicionária Brasileira na Itália. Ainda durante a guerra, algumas potências aliadas começaram a discutir como deveria funcionar o mundo no futuro, após o término da guerra, para garantir a paz, a segurança, a cooperação entre os Estados. E partindo da própria experiência frustrada da Liga das Nações, a ideia passou a ser como evitar que aqueles problemas se repetissem e como criar uma organização internacional que conseguisse, de fato, cumprir aqueles objetivos em que a Liga tinha falhado.
Como um dos marcos importantes nessas tratativas, em 1941, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill assinaram a Carta do Atlântico, que foi um documento que reconheceu uma série de princípios comuns que deveriam guiar essa nova ordem internacional, como, por exemplo, a defesa da paz, da liberdade, da justiça, a cooperação, o desarmamento, a autodeterminação dos povos e a livre navegação. Com base nessas propostas iniciais, foi consolidado um conjunto de princípios para orientar a criação dessa nova organização. As negociações passaram a ser lideradas, sobretudo, pelos Estados Unidos, pelo Reino Unido e pela União Soviética, mas contando também com a participação da China em algumas conferências importantes nesse momento.
As potências aliadas se reuniram na Conferência de Moscou em 1943, na Conferência de Dumbarton Oaks em 1944 e na Conferência de Ialta em 1945. E a partir daí se estruturaram as bases dessa nova organização, que se chamaria Organização das Nações Unidas, a ONU. No campo econômico, em 1944 ocorreu a Conferência de Bretton Woods, e ali foram criados o Fundo Monetário Internacional, o FMI, e o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, o BIRD, que atualmente faz parte do Grupo Banco Mundial.
Essas instituições de Bretton Woods surgiram em meio à busca dessa redefinição do funcionamento do sistema econômico internacional. As propostas básicas dessas discussões, em Bretton Woods, envolveram evitar aquele contexto de políticas protecionistas que agravaram a situação econômica nos anos 1930, além disso, estabilizar os mercados de câmbio, fornecer recursos para países em situações de fragilidade financeira, apoiar a reconstrução dos países arrasados na guerra e fomentar o desenvolvimento dos países mais pobres. Tendo tudo isso em mente, se concebeu o chamado sistema de Bretton Woods.
Desde então, essas instituições sofreram mudanças de foco, de atuação, até em função da evolução da ordem política e da ordem econômica internacional, mas elas ainda existem como organizações econômicas multilaterais. Seguindo com as grandes conferências dos anos 1940, em 1945, já no contexto do fim da Segunda Guerra, ocorreu a Conferência de São Francisco, que reuniu representantes de 50 países, inclusive do Brasil, para negociar os termos finais da criação da ONU. E foi assinada, em junho de 1945, a Carta das Nações Unidas ou Carta de São Francisco, que é o tratado constitutivo da ONU, tratado fundador da ONU.
As potências do Eixo ficaram de fora inicialmente, Alemanha, Itália e Japão só foram admitidos como membros da ONU posteriormente, e a ONU entrou em funcionamento formalmente ainda em 1945, logo após o término da Segunda Guerra. Para você seguir aprendendo Política Internacional, você pode se inscrever gratuitamente na “Missão: Diplomata” pelo link que está na descrição do vídeo. E lá também tem um resumo para você baixar deste vídeo com sugestões de bibliografia.
Não se esqueça de curtir este vídeo, e, no próximo e último vídeo desta série, nós vamos cobrir a história das relações internacionais da Segunda Guerra até a atualidade. Até lá!