Há silêncios que gritam mais alto que qualquer multidão. E há histórias como a de hoje que sussurram verdades profundas ao coração atento. Se você busca esse tipo de narrativa que ecoa na alma muito depois de ouvida, inscreva-se no canal.
Toda semana a gente compartilha histórias que o tempo quase apagou, mas Deus fez questão de guardar. Nossa jornada nos leva à Babilônia, não a Babilônia dos palácios dourados e dos jardins suspensos que os livros de história pintam com fascínio, mas a Babilônia do exílio. Para o povo judeu era terra estrangeira, solo de amargura e saudade.
Os rios da Babilônia, para eles, eram testemunhas de lágrimas, não de festas. Ali viviam sob o peso de uma cultura estranha, de deuses alheios, tentando manter acesa a chama frágil de sua fé, o fio de esperança que os ligava a Jerusalém, a sua identidade, ao seu Deus. Em meio a essa diáspora, a essa tensão constante entre preservar a herança e sobreviver à opressão, encontramos a casa de Joaquim, um homem justo, respeitado entre os seus, cuja casa era um pequeno oasis de tradição e temor a Deus.
E em sua casa vivia Susana. Susana. O nome, por si só, evoca uma certa delicadeza, como um lírio que desabrocha em terra árida.
A escritura diz que ela era muito formosa e temente a Deus, mas sua beleza não era daquelas que ofuscam pela ostentação. Era uma beleza discreta que emanava de uma paz interior, de uma retidão que se refletia em seu semblante. Mais do que os traços do rosto, era a integridade que lhe adornava a alma.
Seus dias provavelmente seguiam o ritmo das mulheres de seu tempo. O cuidado com a casa, a supervisão dos servos, os momentos de recolhimento. Havia um jardim na casa de Joaquim, um lugar que, imagino, era o refúgio de Susana.
Ali entre as plantas que talvez ela mesma cuidasse, entre o perfume das flores e a sombra das árvores, ela encontrava espaço para o silêncio. Um silêncio que não era vazio, mas pleno. Um silêncio onde sua fé igualmente silenciosa se fortalecia.
Não era uma fé de proclamações ruidosas, mas de gestos consistentes, de um coração que buscava a Deus na simplicidade do cotidiano, na beleza da criação, na fidelidade aos preceitos aprendidos desde a infância. Ela era uma mulher que orava com a vida mais do que com as palavras. Mas o mal, ah, o mal não respeita santuários.
Ele se insinua sorrateiro, veste disfarces respeitáveis. Naquele ano, dois anciãos do povo haviam sido nomeados juízes, figuras de autoridade, homens de quem se esperava sabedoria e justiça. Frequentavam a casa de Joaquim, talvez para tratar de assuntos da comunidade, talvez pela reputação do anfitrião.
E ali seus olhos pousaram em Susana, não com a admiração respeitosa que a virtude inspira, mas com a cobiça que envenena a alma. O texto sagrado é direto. Eles se inflamaram de paixão por ela.
Dia após dia, observavam-la em seus passeios pelo jardim. E o desejo, como uma erva daninha, crescia em seus corações, sufocando a razão, a descência, o temor a Deus que deveriam carregar. O perigo para Susana ainda era invisível, um murmúrio disforme nas intenções ocultas daqueles homens.
A tensão começava a se tecer fio a fio, no ar pesado, de olhares que demoravam demais, de presenças que se tornavam incômodas, mesmo que ela ainda não soubesse nomear o desconforto. O mal não anuncia sua chegada com trombetas. Ele se aproxima em silêncio, espera o momento oportuno.
E o momento chegou. Um dia, por volta do meio-dia, quando o calor era mais intenso e o jardim estava vazio, Susana, acompanhada apenas de duas jovens servas, decidiu tomar seu banho, como de costume. Pediu que as portas do jardim fossem fechadas e que as servas buscassem óleo e perfumes.
Assim que as jovens saíram, os dois anciãos que se haviam escondido surgiram. A cena, mesmo narrada com a sobriedade bíblica, carrega um peso imenso. Imagine o susto, a vulnerabilidade.
Eles foram diretos, brutais. As portas do jardim estão fechadas. Ninguém nos vê.
Estamos apaixonados por ti. Consente e entrega-te a nós. Se não o fizeres, deporemos contra ti, dizendo que um jovem estava contigo e que, por isso, mandaste embora as tuas servas.
Que escolha é essa? De um lado, a violência do assédio, a submissão forçada, a violação de seu corpo e de sua alma. Do outro, a calúnia, a deshonra pública, a pena de morte por um crime que não cometeu.
Um dilema impossível, onde qualquer caminho parecia levar à destruição. O coração de Susana deve ter se apertado numa angústia indescritível. O medo, certamente a dúvida, talvez por um instante fugaz, ceder para salvar a vida.
Mas a que custo sua integridade, o bem mais precioso que cultivara em silêncio, estava em jogo. E então a coragem íntima, aquela que brota, não da ausência de medo, mas da decisão de enfrentá-lo em nome de algo maior. Ela suspirou, diz a escritura, um suspiro que continha um universo de dor e resolução.
Estou cercada de todos os lados. Ela disse: "Se eu fizer o que pedis, é a morte para mim. Se não o fizer, não escaparei das vossas mãos.
Mas é melhor para mim cair nas vossas mãos sem ter cometido o mal do que pecar diante do Senhor. Ela escolheu, não porque era fácil, mas porque era tudo o que tinha, sua integridade. Ela não gritou para eles, mas resistiu em seu espírito.
E então sim, ela gritou. Um grito de alarme, de denúncia. Os anciãos também gritaram, acusando-a.
O caos se instalou. Servos acorreram. A notícia se espalhou como fogo em palha seca.
No dia seguinte, o julgamento. A palavra de dois juízes, homens respeitáveis contra a de uma mulher. O povo facilmente influenciável acreditou nos acusadores.
A humilhação pública era avaçaladora. Susana, com o véu cobrindo o rosto, como era costume, foi levada perante a assembleia. Os anciãos, em sua perversidade, ordenaram que lhe tirassem o véu para se saciarem de sua beleza.
Um último ato de profanação, de poder sádico. Amigos e familiares choravam. E Deus?
Onde estava Deus em meio a tanto sofrimento, a tanta injustiça? O silêncio de Deus, por vezes, pesa como chumbo sobre a alma aflita. Mas Susana, mesmo condenada à morte, mesmo sentindo o abandono aparente, levantou os olhos ao céu.
Seu coração confiava no Senhor. Não houve súplicas desesperadas, nem acusações raivosas. apenas um olhar, uma entrega silenciosa, uma oração que não precisava de palavras para alcançar o Altíssimo, aquele que vê o oculto, que sonda os corações.
Era a fé silenciosa, testada ao extremo, mas não quebrada. Enquanto a conduziam para a execução, quando toda a esperança parecia perdida, algo aconteceu. Deus suscitou o Santo Espírito de um jovem chamado Daniel.
Um nome que ecoaria pela história. Daniel, ainda muito jovem, mas movido por uma sabedoria que não vinha de sua pouca idade. Ele bradou no meio da multidão.
Sou inocente do sangue desta mulher. O povo parou. Os anciãos, talvez sentiram o primeiro calafrio de receio.
Daniel, com uma autoridade surpreendente, inquiriu: "Sois tão insensatos, filhos de Israel, sem julgamento e sem conhecimento da verdade, condenastes uma filha de Israel. Ele exigiu que o julgamento fosse refeito e ele mesmo interrogou os anciãos separadamente. " A um perguntou: "Debaixo de qual árvore vira Suzana com o jovem.
Debaixo de um lentisco mastique, respondeu o primeiro, seguro de sua mentira. Ao outro, a mesma pergunta. Debaixo de um carvalho, zinheira", respondeu o segundo, selando seu destino e o de seu cúmplice.
A mentira, por mais elaborada, tropeça nos detalhes. A trama, urdida na escuridão da cobiça, desfez-se sob a luz simples da verdade, trazida por um instrumento inesperado de Deus. A justiça, que parecia cega e surda, revelou-se através da argúcia de um jovem.
A multidão, antes pronta a apedrejar Suzana, agora se voltava contra os verdadeiros culpados. O alívio deve ter sido imenso, mas não imagino uma festa ruidosa, talvez um suspiro profundo, coletivo. Susana foi absolvida, sua inocência proclamada.
Os anciãos receberam a pena que haviam tramado para ela. A dignidade de Susana foi restaurada, mas não era a mesma Susana de antes. As marcas da injustiça, da humilhação, da beira da morte não desaparecem com a absolvição.
Ficam gravadas na alma, transformam a pessoa. Ela retornou ao silêncio, mas agora era um silêncio diferente, um silêncio de quem atravessou o vale da sombra da morte e emergiu ferida, mas de pé. Um silêncio que continha a sabedoria amarga da experiência, mas também a força inabalável de uma fé provada no fogo.
Ela carregava suas cicatrizes, visíveis ou não, mas permanecia íntegra. O jardim talvez tornou-se ainda mais sagrado, testemunha de sua angústia e de sua vindicação. A história de Susana não se tornou um cântico de vingança, mas um hino à fé resistente, à integridade que não se curva.
passou a ser lembrada como exemplo de como a justiça divina, por vezes, caminha em passos que nos parecem lentos, mas alcança seu destino no tempo certo, muitas vezes por caminhos e instrumentos que não esperamos. Equias e sua esposa, pais de Susana, louvaram a Deus, assim como Joaquim, seu marido, e todos os seus parentes, porque nada de vergonhoso se encontrou nela. Sua história tornou-se um farol, especialmente para as mulheres, mostrando que a força interior, a confiança silenciosa em Deus, mesmo quando todas as vozes ao redor gritam o contrário, tem um poder imenso.
O legado de Susana não está em grandes feitos públicos, mas na firmeza silenciosa de seu caráter, na escolha pela retidão em face da aniquilação. Se você já carregou um fardo injusto, se já sentiu o peso do julgamento precipitado, o silêncio opressor quando mais precisava de uma voz? Essa história é para você.
A história de Susana, mulher da Bíblia, nos lembra que Deus vê o oculto, que a integridade, mesmo quando parece custar tudo, é um tesouro que ninguém pode roubar. Em meio ao exílio da vida, as pressões e as injustiças, a fé silenciosa pode ser a nossa maior fortaleza. Se tocou o teu coração, se inscreve.
Toda semana a gente conta vozes que quase se apagaram, mas Deus fez questão de preservar. Que a força serena de Susana inspire nossos dias. M.