[Você está no Kinobox] [Introdução] ♪ [Dani] Filmagem de documentário tem várias particularidades que tem a ver com cada projeto, cada tema, cada linguagem. Como os tipos de documentários são muitos, eu vou trazer aqui algumas dicas para lidar com umas situações bem comuns na hora de filmar documentário. Vem comigo!
[Aula 19 - Filmagem de Documentário] Olá pessoal, sejam bem-vindos à academia Kinobox de cinema. Prazer, eu sou a Dani e hoje a gente vai falar de três escolhas bem recorrente na hora de filmar documentário e também sobre como aproveitar melhor o acaso. [>>> Entrevistas] Entrevistas, muitas vezes, são o coração do documentário.
É algo que vai te deixar com frio na barriga, mesmo que você tenha muita experiência. Um primeiro passo para ter boas entrevistas é escolher bem as pessoas que vão dar essas entrevistas. Uma dica aqui é você fazer uma pré-entrevista, ou pelo menos bater um papo com essa pessoa para conseguir entender mais ou menos como ela fala, como ela organiza os pensamentos, se ela é despojada demais e acaba sendo prolixa, ou se ela é tímida e muito monossilábica, porque isso vai te deixar mais perto de ter boas entrevistas no final.
Outra dica é identificar se esse entrevistado é do tipo “expert” ou do tipo “testemunha”. O tipo “expert” é aquele que sabe bastante sobre o assunto que você vai falar. Ele vai te dar uma perspectiva mais geral sobre as coisas.
Geralmente ele é capaz de falar de assuntos complexos de uma forma bem objetiva e isso pode ser importante para informar o seu espectador com bastante clareza. O tipo “testemunha”, por outro lado, vai te dar uma perspectiva bem particular. É aquela pessoa que passou por uma situação, ou viveu alguma coisa que te interessa.
É bem mais provável que você consiga extrair momentos emocionantes desse tipo de entrevistado do que do “expert”. No dia da entrevista mantenha o ambiente livre de distrações. Assim, você vai reduzir as chances do seu entrevistado se perder na fala.
É importante, também, você ter água por perto, caso ele precise. Antes da entrevista começar, estabeleça as regras com ele. Fale para ele o que ele pode fazer e o que ele não pode fazer.
Se for o caso, é importante você dizer que a sua pergunta não vai estar incluída no documentário. Então, ele precisa incluir a pergunta na resposta. Por exemplo, se a pergunta é: “Você gosta de abacaxi?
” E a resposta dele for: “Sim! ” Essa resposta não serve para nada. O ideal é que a resposta seja: “Sim, eu gosto de abacaxi.
” Explique também que você vai editar a resposta dele. Então, ele pode ficar livre para desenvolver essa resposta o máximo que puder. Melhor ainda do que uma resposta “sim, eu gosto de abacaxi”, seria algo como: “sim, eu gosto muito de abacaxi porque a minha avó fazia bolo de abacaxi todo Natal e eu e minha mãe ficávamos esperando para comer quando ele ainda estava quente”.
Pronto! Aí sim você tem uma história para contar. Faça pausas durante a entrevista, principalmente se as coisas não estiverem indo da forma como você gostaria.
Se for o caso, conversa com ele de uma forma mais informal e tenta descobrir o que que está acontecendo para você dar um outro rumo para a entrevista. A dica mais importante de todas é: ouça, ouça, ouça com atenção. Não se prenda às suas perguntas.
Ouça as respostas do seu entrevistado. A pergunta “4” pode virar 4-A, 4-B, 4-C. Preste atenção nos temas que são mais sensíveis, ou mais importantes para ele.
Fique atento à linguagem corporal. Ative a sua sensibilidade nessa hora para você conseguir a melhor entrevista possível. Se você for do tipo de pessoa que gosta de interromper as outras para complementar com as suas ideias, segura sua onda.
Na hora da entrevista, não faça isso. Não interrompa o entrevistado, não corte o raciocínio dele. Na hora de editar você vai se arrepender muito se você fizer isso recorrentemente.
Por outro lado, você pode ser do tipo que tem dificuldade de interromper as pessoas, também. Só que às vezes o seu entrevistado alopra, se perde no assunto e vai para lugares que você, né, não tem mais nada a ver com o que você perguntou e pode ser importante para você interromper. Bom, eu vou dar uma dica para você conseguir interromper a pessoa com elegância, mas é algo que serve mesmo para pessoas que não têm esse problema: mantenha contato visual com o entrevistado o tempo todo.
Mostra que você está interessada no que ele está falando e acompanha a fala dele com o olhar, engajado e ali, prestando atenção. Se você conseguir estabelecer essa relação de contato visual, quando você perceber que ele estava dando e que já não tem mais nada a ver com o que você quer, você simplesmente desvia o olhar e vai olhar para as suas anotações. Muita gente vai perceber que isso é um sinal de que você perdeu o interesse e vai começar a se encaminhar para o final da fala.
Acontece com a maioria das pessoas, mas pra isso dar certo você tem que estabelecer essa relação. Se você toda hora desvio o olhar para olhar para alguma outra coisa externa, a pessoa não vai entender que isso é um sinal de que você perdeu o interesse, quando de fato for. Se o seu documentário for focado em um personagem só, dialogue muito com ele.
Eu, particularmente, gosto mais desse tipo de documentário do que daqueles que apresentam um panorama mais geral sobre um assunto. Eu acho que eles têm muito mais potencial de engajar o público porque eles são mais semelhantes da ficção em algum nível, né? Você tem ali uma pessoa com quem se identificar.
Geralmente dá para você construir um arco dramático, mais envolvente. Eu, particularmente, gosto mais, mas o risco é muito maior. Se essa pessoa não render bem, isso vai comprometer muito o seu documentário porque ela é “o” personagem e não “um” personagem.
Então, assim, dialogue muito com ela fora das câmeras, crie intimidade com ela e faça ela entender aonde você vai chegar para diminuir os riscos de não dar certo. Sua meta em uma entrevista é fazer o entrevistado sair da sala e viajar nas lembranças, ou no assunto que você está falando. Para isso, esteja presente.
Só fale com a sua equipe quando você estiver na pausa. Abra o seu coração para a pessoa poder abrir o coração dela de volta. [>>> Registrar a realidade] Rola muito nos documentários da gente querer registrar a realidade com o mínimo de interferência possível.
O objetivo nessa hora é filmar uma situação da forma mais genuína e natural possível. Isso é muito comum em vários tipos de documentário, mesmo naqueles que não são observativos. Se por acaso você não sabe do que eu estou falando, clica aqui no card, procura aula de “roteiro de documentário”, aproveita e já salva esta playlist para você poder acompanhar o curso todo.
Bom, algumas observações são importantes na hora de filmar uma situação da forma mais natural e neutra possível, né? Primeiro, saiba que a presença de uma câmera muda muito a forma como as pessoas se comportam. Às vezes você vai no lugar, conversa com todo mundo, conhece aquela realidade e na hora que você monta câmera… Pronto, tudo muda!
Para diminuir a possibilidade de isso acontecer, tenha bastante intimidade com aquele ambiente. Vai ser muito mais fácil elas se acostumarem com a filmagem se elas já estiverem acostumadas com você. Outra dica é você ter muita paciência.
Filma primeiro mais de longe, vai se aproximando aos poucos, faz umas pausas, bate um papo com um, bate um papo com outro. . .
Assim vai ser mais fácil também das pessoas se acostumarem. Se isso se tornar um problema, você pode também usar outros recursos para resolver. Por exemplo, você pode filmar com o celular em vez de filmar com uma câmera, né?
O celular é uma coisa que está muito mais usual na vida das pessoas, elas vão estranhar muito menos. Você pode, também, pedir para que elas filmem os seus pequenos grupos, depois você pega esse conteúdo e edita. Seja criativo para resolver as questões que surgirem.
Outra dica é: abrace o que vier! Eu sei que você tem os seus objetivos, mas se você for teimoso demais você vai acabar forçando uma situação que não está rolando. Por exemplo, se você for filmar um desfile de moda pode ser que os modelos, nos bastidores, fiquem alvoroçados com a presença de uma câmera porque eles já estão ali na vibe de se expor.
Então, a câmera pode trazer ainda mais isso para eles. Quem sabe isso não é interessante? Se você observar que a coisa está indo por um outro caminho, pense em embarcar naquilo.
Provavelmente o seu resultado vai ficar bem melhor do que você forçar outra coisa que não está acontecendo. Outra dica é: pense no que você quer como resultado antes de ir para o set. Assim você pode se preparar e aproveitar muito mais as oportunidades que surgirem.
Lembre-se que a vida só acontece uma vez. Então, se você está filmando ali uma dança, por exemplo, e você quer planos abertos e planos fechados, se você não tiver oportunidade de pedir para os dançarinos repetirem, você vai precisar de duas câmeras ali. Se você estiver preparado para fazer as coisas que você idealizou, quando o acaso aparecer, ele vai ser super bem vindo e não um desespero total.
[>>> Imagens de Apoio] Não se esqueça das imagens de apoio. As imagens de apoio são aquelas que a gente vê quando a gente está ouvindo uma entrevista mas está vendo uma imagem mais lúdica, né? Que representa aquilo de uma outra forma.
É muito comum a gente ouvir uma fala e ver imagens de crianças brincando, né? Ou de um casal dançando, ou do mar. O mar é uma imagem de apoio super recorrente.
É legal você pensar nisso porque pode ser importante tirar o seu espectador daquela sala onde está acontecendo a entrevista, tirar um pouco ele daquela imagem daquela pessoa falando e transportar ele para uma percepção diferente daquilo que está sendo dito. A dica aqui é não buscar imagens muito complementares ao que está sendo dito, sabe? Filma uma imagem que junto com a fala vai construir uma terceira coisa que não é nenhuma, nem outra.
É uma construção única para aquele filme que você está fazendo. Esqueci alguma coisa? Tem alguma dúvida específica?
Coloca aqui nos comentários para a gente responder em um outro momento, tá? Caso você não saiba, esse vídeo aqui faz parte da 1ª turma da oficina Kinobox de cinema. As aulas teóricas são disponibilizadas, gratuitamente, para todo mundo no YouTube.
Mas as aulas práticas são restritas a um grupo de 60 alunos. Vários curtas-metragens vão ser produzidos na oficina e você vai poder assistir a todos eles, aqui, nesse canal. Se você se interessou e quer saber quando a próxima turma estiver aberta, deixe seu contato no formulário que está aqui na descrição desse vídeo.
A oficina Kinobox de cinema é realizada com fomento do Governo Federal, do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Aldir Blanc. Até a próxima aula. Legendado por Mariana Gomberg.