[Acorde de violão] [Buzina de carro] Começa agora Inédita Pamonha, por instantes felizes virginais e irrepetíveis É maravilhosa a forma como os antigos manifestavam o seu pensamento através dos mitos esses mitos sempre cheios de deuses e esses deuses por sua vez carregando consigo a incumbência de não morrer nunca de conservarem a sua eternidade de tal maneira que, sendo assim, sempre existiram e continuam circulando por aí. Se não podemos vê-los, talvez seja mais culpa nossa, incompetência perceptiva da nossa parte, do que propriamente a sua ausência repentina. [Fundo musical ~ Jazz] Os antigos diziam que tudo havia começado com um Deus chamado Caos e esse Caos ele não tinha uma cara, assim como eu e você, esse Caos ele era representado por uma espécie de abismo, uma queda livre sombria, lúgubre, um pouco cheia de nuvens no escuro, quem sabe meio húmida e ali a representação tem a ver com o que você consegue imaginar mas até sentir, porque todos nós podemos, ao imaginar a falta de chão, sentir no próprio corpo a queda o despencar, e o olha você que tá me ouvindo, esse despencar é um despencar sem chão mesmo quando os aviões despencam de altas alturas, eu não tenho muito ideia de como isso possa acontecer, mas deve ser uma coisa absolutamente aterrorizante quem tá dentro da aeronave sabe que em algum momento essa aeronave vai esbarrar em algum lugar, vai cair no mar, vai cair no chão, em algum momento aquela queda acaba, porque estamos todos atraídos pela gravidade da Terra.
Pois é, em tempos de Caos não tinha Terra, não tinha, portanto, gravidade e, portanto, era estranho, havia um despencar sem uma força que atraísse o corpo em queda. Assim são os mitos, os mitos nos permitem imaginar e sentir para além das explicações da física. [Fundo musical ~ Jazz] Até que aí surgiu Gaia, e Gaia é terra firme.
Gaia é chão. E por muito tempo ficaram assim, a queda livre e o chão, Gaia Só que Gaia era permanentemente coberta pelo seu amante Ouranos, Urano, o céu E o céu nessa época era grudado na terra, como um edredom é grudado na sua cama aonde havia terra, havia Urano, havia céu em cima e ele era de fato um amante um amante como não se vê a muito, um amante ininterrupto, um amante copulante "full time", 24h por dia e aí, é claro, não havia quem aguentasse, porque Gaia era fertilizada pelo céu, por Urano, e não podia parir seus filhos porque o seu amante não saia de cima Aí o último a ser gestado, o caçula portanto, um tal Cronos, resolveu quebrar o galho da mãe, resolveu desafogo para a mãe, e aí usou uma técnica, digamos, bastante contundente e eficaz Ele fabricou uma espécie de uma foice com os metais fáceis de encontrar para quem mora no bucho de Terra, no bucho de Gaia, e ai fabricou uma espécie de uma arma, poliu nas pedras, quando veio o pai e introduziu o seu sexo em Gaia, ele amputou o sexo do pai Nossa o pai teve uma experiência muito dolorosa, supõe-se, e saiu de cima, foi parar aonde está hoje, lá em cima, onde todos nós vemos e sabemos que o céu está lá está ele, quieto, não ousará voltar a cobrir a sua amante Gaia, pelo menos não do jeito que o fazia antes, porque teve um severo castigo, imposto pelo próprio filho. [Fundo musical ~ Jazz] E agora vamos fazer um pequeno intervalo só pros nossos agradecimentos Inédita Pamonha é um patrocínio de Eastman Chemical do Brasil, é também um oferecimento do BNP Paribas Asset Management e, por fim, é um patrocínio de Aché Profuse Aos amigos patrocinadores um carinhoso abraço [Fundo musical ~ Jazz] Pois muito bem, essa história continua, Cronos tornou-se uma espécie de soberano do universo, e ele tinha irmãos chamados Titãs, e ele tinha outros irmãos que não eram Titãs, mas aí, claro, Cronos rapidamente percebeu que ele tinha que tomar cuidado com seus filhos porque ele mesmo era um ótimo exemplo do que um filho poderia fazer de mal para o pai então Cronos engolia seus filhos, até que a esposa de Cronos, que era também sua irmã, na época não tinha outro jeito, em combinação com Gaia resolveram proteger o último filho deste habito de deglutição de Cronos e assim esse último filho foi protegido.
Esse último filho se chamada Zeus, o grande Zeus, e em algum momento Zeus tornou-se adulto e teve que encarar o pai e assim a grande guerra dos deuses foi a guerra de Zeus e seus irmãos contra Cronos e seus irmãos a primeira geração dos deuses contra a segunda geração dos deuses Pois muito bem, indo muito rápido, Zeus venceu os seus tios e aí, pela primeira vez, Zeus reune todos aqueles que o ajudaram nesta batalha terrível, e Zeus distribuí o universo, distribui a realidade, distribuí as coisas que tinha sob o seu controle por esses colaboradores, tal como faria um presidente recém eleito com seus fiéis apoiadores. E assim, chegamos num ponto em que saímos de uma zona completa do Caos para uma ordem, uma ordem pretendida por Zeus aonde cada um tinha o seu lugar, cada um tinha o seu papel, cada um tinha a sua função e assim, de certa forma, pela primeira vez, temos claro na mente a ideia de Cosmos, a ordem universal, a grande ordem universal estabelecida por Zeus Então, nesta ordem, o vento venta, e ventando cumpre o seu papel, a maré mareia, porque o vento ventou e cumpriu o seu papel. Aí a chuva chove, cumpre o seu papel.
As flores florescem, e também o seu intestino peristalta, o seu joelho dobra, o seu pulmão respira, o teu coração bombeia sangue e tudo cumpre a sua função dentro da mais estrita ordem. O homem, nesse esquema, poderá viver em harmonia com o todo cósmico ou não, e aí nesse momento que você me ouve, você poderia ser levado a me fazer uma pergunta: por que será que eles pensaram tudo isso? Porque supomos bem, Zeus não deve ter existido tal como os gregos o apresentam, tão pouco Caos, tão pouco Gaia, tão pouco Urano Então porque pensaram tudo isso?
Qual o motor desse pensamento? O que está na origem, na gênese, deste pensamento que faz do universo uma espécie da máquina perfeita, aonde tudo cumpre a sua função e as coisas já nascem e existem no universo para cumprir a sua função, e são perfeitas para isso Ora, daonde vem esta necessidade de colocar as coisas em ordem? Ora, vem da necessidade psicologica de cada um de nós de interpretar a realidade, interpretar o mundo, de uma maneira tal que a vida de cada um de nós possa ter algum sentido pare pra pensar, você e eu, imagine se eu acreditar genuinamente que eu nasci com um pouco de habilidade para explicar as coisas, porque assim eu cumpro um papel que é o meu nesta engenhoca cósmica, e se eu o fizer de maneira harmonizada com o resto, com todo o resto, eu serei feliz.
A felicidade decorrerá desta simples harmonia, deste simples ajuste, deste simples encaixe na máquina universal Ora, neste caso a vida que poderia ser infinitamente diferente do que é A vida que poderia estar ao sabor do vento, ao sabor do acaso, ao sabor de forças que eu não controlo e não consigo entender, a vida que poderia não ter sentido nenhum e, portanto, valor nenhum, ela subitamente ganha uma explicação de tal maneira, clara e ordenada, que dá a mim todas as boas respostas para como eu devo procurar viver no meio de possibilidades as mais variadas Eis ai uma interpretação do mundo que me deixa claro, que me informa de maneira cristalina, no meio de milhões de vidas a viver qual é a vida certa. Eu sou professor por quê? Porque tenho natureza de professor, tenho essência de professor, e a prova disso é que a natureza me deu algum tipo de habilidade explicativa E aí, olha só que loucura, eu nasci para preencher uma espécie de vaga na máquina universal, tava faltando alguém para explicar e aí me fizeram desse jeito para que eu pudesse dar essas devidas explicações.
Se eu por ventura entender isso, se eu entender qual é a minha praia, se eu entender qual é a minha natureza, se eu entender quais são as minhas forças eu rapidamente saberei no meio desta bagunça aparente da realidade, qual é o meu lugar, qual é a minha praia, qual é a vida que vale a pena viver Isto é, aquela que é ordenada e bem encaixada na máquina universal Caso o contrário eu sofrerei, eu padecerei, e pior do que isso, condenarei o universo a uma lacuna, de uma vida que deveria ter sido vivida de um jeito, mas não foi. Ora, meus amigos, fica claro então, o imenso ganho psicológico que temos nesta convicção que temos que um dia foi a nossa, dos nossos antepassados, que o universo era finito e ordenado, organizado, e nós um pedaço dele, uma parte dele, com nossa função, nossa finalidade, nossa razão de ser, com todo o sentido da vida alí explicado. [Fundo musical ~ Jazz] Pois muito bem, esse foi o nosso segundo episódio.
Para que você um dia possa refletir sobre essa iniciativa do pensamento antigo em fazer do universo uma coisa organizada, ordenada, como se fosse uma grande máquina ou um organismo vivo, as razões disso ter acontecido, e talvez que você seja convidado a pensar junto comigo em episódios vindouros, se no lugar do Cosmos, no lugar desse universo tão certinho e tão organizado, o homem chegou a pensar em outras soluções, outras piruetas da inteligência para conseguir o mesmo efeito e dar para vida de cada um de nós um sentido certo, uma direção e uma razão para continuar vivendo. Este podcast Inédita Pamonha é um oferecimento da revista INSPIRE-C INSPIRE-C com C no final, de vitamina C ou de Clóvis, como você preferir. INSPIRE-C, e aí você acessará esse podcast Inédita Pamonha, pelo site da revista INSPIRE-C, www.
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Era isso, muito obrigado pela sua atenção, desculpa se eu fui aborrecedor, mas nós continuaremos juntos, na semana que vem tem mais. Um abraço e até o nosso próximo encontro, valeu. Você ouviu o Inédita Pamonha, por Clóvis de Barros Filho, trazido até você pela revista INSPIRE-C, acesse www.
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Este podcast foi editado por Rádiofobia Podcast e Multimídia.