[Música] bem vindas e bem vindos ao saber museu uma iniciativa do ibram com o objetivo de contribuir para a difusão de conhecimento para o setor musical meu nome é maria chagas eu sou poeta museólogo cientista social professor de cirurgia gosto mesmo de perceber de refletir e de praticar museus numa conexão entre poesia e política hoje vamos falar do tema museu memória e cidadania eis um bom tema para o nosso debate para a nossa reflexão o que é museu você que está nos ouvindo o que é museu à final poderemos começar a dizer o seguinte se
ninguém me pergunta o que é museu eu sei o que o museu é mas quando me perguntam o que é museu eu já não sei mais eu estou na verdade fazendo uma referência a santo agostinho que dizia a mesma coisa em relação ao tempo ele dizia se não me perguntam o que o tempo é eu sei o que ele é mas quando me perguntam eu já não sei mais assim da mesma forma ocorre com o museu portanto quando a pergunta o que é museu eu sei que estamos aí provocando um pequeno embaraço porque muitos de
nós imaginamos que sabemos o que é museu mas quando paramos para pensar e examinar com atenção o conceito museu as coisas ficam um pouco mais complexas é claro que se pode imaginar que o museu é uma instituição mas isso é muito pouco o museu não cabe apenas no enquadramento da instituição ele um pouco mais do que isso também é o conceito peço uma forma de agir uma forma de atuar no mundo eu poderia por exemplo para responder à pergunta o que é museu eu poderia dizer o seguinte o museu é uma janela uma porta uma
ponte os museus são janelas portas e pontes portais que articulam situações diferentes por exemplo articulam tempos diferentes articulam passado e presente articulam presente e futuro mas também articulam pessoas diferentes são capazes de colocar em movimento pessoas com culturas diferentes percepções de vida diferentes são capazes de articular culturas diferentes os museus portanto tem essa extraordinária capacidade de articulação e de colecção eu poderia dizer os museus são pontos de conexão os museus são espaços poéticos os museus têm uma presença poética no mundo porque como eles lidam com preservação lidam com investigação mas também lidam com comunicação é
no âmbito da comunicação que nós poderemos visualizar e identificar a dimensão poética dos museus os museus têm uma dimensão poética um desejo de comunicação criativa com as pessoas e isso faz toda a diferença essa dimensão poética nos museus é fácil também com que eles sejam espaços propiciadores de encontro os museus são produtores de encontro de outro lado essa dimensão poética não está dissociada de uma dimensão política então aí nós temos um quadro importante para pensar os museus são lugares de memória sim não há dúvida de que os museus sejam lugares de memória mas também são
lugares de esquecimento não podemos ter a ingenuidade quando lidamos com 11 deus porque de um lado eles assim não tem essa dimensão política de outro lado tem a dimensão poética mas eles também aciona memória produzem memória mas também produzem esquecimento portanto os museus são passíveis de manipulação nós podermos manipulá los os museus atuam sobre nós eles são construções humanas nós construímos os museus mas eles também atuam sobre nós eles atuam sobre nós eles nos constroem eles nos informam eles são sujeitos atuando em nós e esse é um aspecto importante de ser considerado eles não são
apenas objeto de conhecimento são construtores também os museus são projetos poéticos e projetos políticos e um não elimina o outro ao contrário ilumina o outro a poética ilumina a política política ilumina poética então dentro de si como dizer desse quadro onde nós podemos visualizar os museus é um espaço para a criatividade e uma criatividade que é percebida na poética mas também é percebida na política fica portanto aqui a pergunta o que é o museu é claro que nós poderíamos recorrer a definição operacional de museus do ir com o conselho internacional de museus vamos observar essa
definição vamos ler essa definição com atenção vamos identificar vamos identificar ali o que são as características dos museus o que são as funções dos museus a finalidade dos museus tudo isso está lá nessa definição operacional dos museus mães e também surge um problema toda vez que nós definimos nós colocamos limites nós delimitamos definir é produzir de limitações e toda vez que nós delimitamos definimos o museu ele escapa pelas mãos o conceito sai pelos dedos porque não cabe toda vez que eu digo um museu é isso ele já pode ser uma outra coisa ele será isso
e mais alguma outra coisa toda vez que eu tento aprisionar museu num determinado conceito ele se apresenta como uma outra coisa nesse sentido eu gosto muito de pensar que o museu não é o território do é o território do e ele pode ser isso e aquilo e mais aquilo e mais uma outra coisa ele pode ser aquilo que nós ainda não pensamos que ele possa ser bom é assim como perguntamos o que é museu poderemos agora perguntar o que é memória o que é memória eis aí uma outra pergunta complexa na verdade dificilmente nós teremos
uma resposta única para a indagação o que é memória podemos compreender que a memória não é alguma coisa que esteja no passado ainda que possa se referir a um determinado passado a memória tem presença no presente tanto é que agora que a memória se coloca é uma potência do presente é esse aqui agora nesse momento exato portanto ela não é alguma coisa do passado se não há alguma coisa que estando presente produz conexão com o tempo que já passou mas eu também posso perceber que a memória tem desejos de projeção no futuro em desejo de
permanência e se colocará diante o que é memória afinal de contas o que é memória eu poderia por exemplo recorrer a achar que o negócio o historiador pesquisador intelectual francês e que em seu texto memória logo nas primeiras linhas diz memória é um conceito crucial e ela é um conceito crucial porque está atravessado e atravessa diversos outros conceitos ou seja eu só sou capaz de perceber o novo com memória sem memória eu não seria capaz de perceber o novo a novidade a memória articula também por exemplo a permanência ea mudança mas ela também vai articular
a identidade ea diferença ou identidade à alteridade então repetindo novo e velho passado e presente presente e futuro alteridade e identidade permanência e mudança revolução e conservação preservação e destruição tudo isso e muito mais é articulado pela memória nesse sentido que nós podemos dizer a memória é um conceito crucial e quando compreendemos que a memória não existissem o esquecimento até poderia dizer que há memória e esquecimento forma um pá que dançam juntos eles dançam juntos e aí a pergunta fica ainda mais complexa eles dançam juntos nessa imagem poética eles dançam juntos que música dança e
quem constrói essa coreografia tem contribui para essa dança eu quero com isso sugerir que a memória e esquecimento não tem valor em si não tem uma essencialidade eles dependem de outras atuações sujeito atuando sobre memórias sujeitos à tona sobre o esquecimento produzindo memórias e esquecimentos e aí nós vamos perceber a dimensão política da memória a memória tem um caráter seletivo ao dizer que a memória tem um caráter seletivo estou também com isso indicando que a memória tem um caráter seletivo eletivo ela produz eleições e já fica clara a dimensão política da memória memória utilizada para
a produção política e pela atuação política nós não podemos ter a ter a memória de tudo não temos a memória de tudo portanto sempre operamos com cortes com seleções com eleições e aí é que se insere e aí é que entra em ação a dimensão ideológica a ação política sobre a memória nem o museu tem a memória de tudo nem usei total todo museu é um recorte e aí eu já posso compreender agora que hoje museus acionam memórias e poderes o esses são aspectos importantes de serem levados em conta quando operamos trabalhamos estudamos últimos erros
os museus são lugares de memória mas são também lugares de esquecimento são lugares de poder mas são também lugares de resistência portanto memória e esquecimento poder e resistência tudo isso está articulado nos museus perguntamos o que é museu perguntamos o que a memória e vamos perguntar agora o que é património pode ser que alguns imaginem que a resposta seja simples poderíamos dizer o patrimônio é um conjunto de bens essa é uma resposta simples mas que nos iludir nos engana porque patrimônio não é apenas um conjunto de bens um conjunto de coisas aqui é certo a
que se atribui um determinado valor patrimonial também algo mais complexo do que isso primeiramente podemos observar a palavra patrimônio trata-se de um substantivo abstrato ou seja eu não tenho uma única imagem para a palavra patrimônio é trata-se de um substantivo abstrato aqui nós podemos associar imagens muito diferentes entre si mas além disso quando observamos a palavra patrimônio nós podemos compreender que diz respeito a uma herança paterna patri a ter relacionado portanto com pátria temos aí uma herança paterna alguma coisa que se transmite de uma geração para uma outra geração e aqui nesse momento nós já
podemos compreender que a noção de transmissão faz parte está associada fortemente a ideia de patrimônio patrimônio e brinquem transmissão mas se implica em transmissão também implica em recepção porque não basta alguém querer transmitir alguma coisa é preciso que o outro queira receber então nós temos património ligado à idéia de transmissão mas também ligada à idéia de recepção e que recebe cria o compromisso de transmitir mais uma vez e assim a cadeia patrimonial vai sendo acionada transmissão recepção nova transmissão nova recepção portanto a idéia de dar receber retribuir dar receber retribuir e isso vai movimentando essa
cadeia patrimonial patrimônio é aquilo que se transmite de um tempo para um outro tempo de uma geração para uma outra geração e ainda estamos operando numa escala até onde a noção do tai do patê está presente poderemos então perguntar o que é matrimônio porque nós não trabalhamos na ideia de matrimônio como uma herança materna seria possível pensar assim seria possível compreender que o matrimônio está articulado há uma ideia de ter essa materna alguma coisa que se transmite de uma geração para outra geração mas na perspectiva da mãe na mater como seria isso portanto estou convencido
que o matrimônio também emprego como herança uma herança materna e aí nós poderemos avançar um pouco mais e fazer a seguinte pergunta ora se temos o patrimônio temos o matrimônio não poderemos ter um fraco demônio uma herança fraterna não podemos pensar numa herança que não se transmite de a cronicamente que não se transmite de um tempo para um outro tempo mas que é criada aqui agora é criada neste momento é criado entre amigos entre irmãos é criada naquela geração mesma e é transmitida ali entre eles naquela geração mesmo nesse caso fica um desafio o que
é património é claro que a palavra está sendo criada o neologismo mas é um neologismo que pode ter utilidade para pensar exatamente na direção da museologia social para pensar os museus sociais para pensar museus comunitários para pensarmos os populares para pensar nessa direção de heranças que são construídas e partilhados naquele mesmo tempo em sincronia em sincronicidade e aí o campo do patrimônio ficou mais complexo mas agora já podemos pensar em herança paterna podemos pensar em herança materna mas também podemos pensar numa herança fraterna mas as coisas não terminam por aí porque assim como concretamente podemos
trabalhar e pensar e atuar com patrimônios também existe o contra patrimônio ou à tentativa de destruição de alguns patrimônios ea destruição concreta de patrimônios ou seja o que eu quero dizer aí nesse ponto é que o patrimônio assim como memória assim como o museu também são espaços de litígio de disputa e é bom buscar é perceber a evidência dessas disputas em muitas cidades nós vamos ver isso toda vez que se diz vamos preservar esses aspectos da cidade automaticamente está dizendo os outros podem ser destruídos ou seja a preservação do património ela implica uma destruição de
outras coisas ou libera para a destruição de outras coisas então também aí por exemplo a preservação e destruição caminho juntas onde a memória a esquecimento onde o poder a resistência e os museus são portanto espaços complexos práticas complexas que articulam memória e esquecimento poder e resistência mas que evidências nós temos de que esses elementos estão presentes nos museus ora os museus tanto vão servir para colocar em evidência determinadas memórias enquanto vão servir para a produção de esquecimento cda pagamentos se olhamos para alguns museus históricos e estão muitos museus no brasil que têm esse tipo de
atuação não vamos encontrar ali apenas as referências a determinados grupos sociais as oligarquias a história da escravidão no brasil e mais ainda do que isso a história dos negros no brasil tem sido sistematicamente apagada esquecida ea história dos povos indígenas no brasil de suas vitórias nas suas lutas nas suas conquistas mas também do genocídio que esses povos sofreram e continuam sofrendo tem sido sistematicamente apagados esquecidos e é claro que esses conhecimentos é também podem sofrer reveses e podem voltar à tona nós temos algumas evidências dessas relações entre memória e esquecimento poder de resistência em vários
museus no brasil em museus comunitários por exemplo que passaram a contar a história desse mesmo a história dos seus povos quando pensamos quando falamos sobre memória e esquecimento poder de resistência podemos lembrar nesse momento também a atuação da rede de museus indígenas do ceará da rede de museologia social do ceará porque ali muitos povos indígenas chamaram para si a responsabilidade de contar a sua própria história não se trata mais de uma história contada na terceira pessoa do plural ou do singular não os povos indígenas jenipapo kanindé canindé chamaram para si a responsabilidade de contar a
sua própria história e passaram a desenvolver uma prática que eu gosto de chamar de museologia e museografia criada na primeira pessoa do plural e do singular eles contam a sua própria história mas isso não é diferente quando nós olhamos para determinados pontos de memória quando eu olho para o ponto de memória da estrutural eu posso observar isso ali eles têm uma prática de museografia na primeira pessoa eles contam a sua própria história ou seja eles se recusam a aceitar o apagamento que se produziu sobre a estrutural o desejo de apagar do mapa a cidade estrutural
mas isso não ocorreu apenas na estrutural também se nós olhamos para um museu de favela nas favelas do cantagalo pavão e pavãozinho na cidade do rio de janeiro vamos observar essa prática ali eles resolveram contar a sua própria história e contam de um modo criativo contam com grafites com pinturas feitas em casas contam a história da ocupação e da resistência e da memória daquela favela daqueles moradores que ali estão mas a situação não é diferente quando nós olhamos para o museu da maré também na cidade do rio de janeiro lá os moradores da maré são
capazes de produzir novas memórias são capazes de resistência são capazes de deter o museu como uma ferramenta de luta uma ferramenta que luta a favor da melhoria da qualidade de vida daqueles moradores mas que conta a favor que trabalha a favor também da valorização da dignidade social e da coesão social daqueles moradores mas eu também posso perceber isso em outros lugares eu posso perceber a atuação do ponto de memória em terra firme eu posso perceber a atuação do ponto de memória e jacintinho eu posso perceber a atuação do povo de memória no coque na cidade
do recife em todos esses lugares e em muitos outros nós vamos encontrar uma capacidade de resistência e de produção de novas memórias mais uma vez aí são afetos criativos com atuação poética e afetos de resistência com uma atuação política esses museus esses pontos de memória tem essas dimensões isso é importante de ser levado em conta é importante de se observar é nesse sentido é possível compreender a importância dos museus para comunidades populares é possível compreender a importância do museu como uma ferramenta de luta onde eu posso perceber isso de modo concreto na concretude das coisas
bom se nós observamos por exemplo o museu das remoções na cidade do rio de janeiro ali nós vamos compreender de um modo muito claro como um museu articulado com a idéia de que há memória não se remove como o museu se constituiu num instrumento de luta para a defesa da terra para a defesa do direito à moradia para defender para a defesa do direito é da habitação concretamente o museu das emoções passou a ter uma atuação no sentido de combater as remoções que continuam acontecendo nas cidades brasileiras que continuam acontecendo no brasil e quem é
mais ameaçado pelas remoções as comunidades populares os povos quilombolas os povos indígenas esses são os mais ameaçados e aí já estamos falando em cidadania portanto na aula de hoje nesse nosso encontro de hoje onde abordamos o tema museu memória e cidadania esses aspectos vão ficando claros e como eles estão entrelaçados os museus podem ser uma instituição um processo e uma prática cidadã defensora de direitos dos direitos humanos e do direito à terra do direito à moradia do direito de a vida do direito de existência de defender a sua própria existência do direito à saúde então
esses são aspectos importantes que não são alheios aos museus ou não são alheios pelo menos aos mesmos a museus desse tipo aqui estamos aqui nos referindo os museus são espaços de memória e poder está claro portanto que é possível trabalhar o poder da memória ea memória do poder alguns museus surgem com um objetivo muito definido de trabalhar apenas a memória do poder e outros museus surgem com o objetivo de trabalhar o poder da memória a favor de determinadas lutas de determinadas causas aqueles museus que trabalham com o poder da memória se aproxima de uma perspectiva
cidadão são esses museus que eu diria se afirmam como zeus cidadãos e também passam a ser é eles mesmos elementos de cidadania porque passam a trabalhar a favor a favor de direitos direitos humanos direito à cidade direito à habitação direito à saúde direito à terra direito à vida e o próprio direito ao museu direito à memória direito à cultura direito ao patrimônio então esse conjunto de direitos é que nós podemos identificar dentro disso que hoje nós chamamos de museu memória e cidadania ou seja quando nós pensamos nesse tema museu memória e cidadania estamos aí trabalhando
patrimônio e memória museu cultura arte como direitos fundamentais isso tudo poderia ser sintetizado numa expressão que é a museologia que não serve para a vida não serve para nada os museus que não servem para a vida não servem para nada está claro portanto que nesse tema museu memória e cidadania nós estamos sustentando a importância da conexão do museu convida são museus bió filhos museus que trabalham a favor da vida e não de uma vida qualquer não de uma vida abstrata de uma vida concreta na concretude da vida o direito à vida à defesa da vida
a vida em relação à i d o museu ganha a sua maior potência a sua maior força então os museus são espaços poéticos espaços políticos a favor da vida