Olá, caros amigos que me acompanham aqui no YouTube! Vamos para a quarta live da série Emoções. Já falamos sobre a tristeza, já falamos sobre a alegria e já falamos sobre a raiva.
E mostramos, foi na última live, que entre a raiva e o ódio há uma diferença de gênero e não de grau. A raiva é algo distinto do ódio, está muito mais próxima da ira e falamos de algumas de suas causas, de alguns dos seus efeitos físicos e psíquicos. O vídeo interrompeu-se exatamente no momento em que eu falava de alguns remédios para a raiva, para que a pessoa não descambe nesse estado tantas vezes e, se porventura, descambar, para que ela se levante.
Então, alguns remédios de natureza meramente natural: respirar fundo e exercitar a continência, ou seja, tentar não responder de pronto, porque muitas vezes a precipitação, que é um efeito da raiva, pode quebrar cristais, digamos assim. Ela pode fazer com que a pessoa rompa definitivamente com uma amizade, com um relacionamento longo, seja de que natureza for. Então, a pessoa deve sempre exercitar essa continência, respirar fundo.
A respiração é muito importante como moduladora, digamos, em alguns estados anímicos. Muitas vezes, nós respiramos mal. Vamos ver aqui, inclusive, que em se tratando do medo, um dos efeitos que já na Idade Média Santo Tomás apontava é essa falta de ar, essa falta de áreas, incapacidade de respirar nos ritmos naturais.
Outro remédio é meditar sobre o sentido instrumental da raiva. A raiva, para quem está são — e aqui, sanidade na perspectiva da psicologia tomista —, ela é associada ao amor, enquanto é fusão benévola da alma na direção do próximo, ou seja, um ato livre da vontade. Eu peguei aqui um trecho para que serve, podia ter pegado vários outros nesta imensa obra de Santo Tomás, mas um trecho das suas conferências sobre os Dez Mandamentos, em que ele diz o seguinte: "As adversidades são úteis para quem ama".
Ou seja, se a pessoa está no estado amoroso, se ela habitualmente tem uma relação amorosa consigo mesma — amor próprio. O amor de si mesmo é o primeiro na escala natural. Se ela tem uma relação amorosa para com as pessoas, dos filhos mais próximos, seu relacionamento para com as coisas e, sendo crente, ou seja, sendo a pessoa religiosa para com Deus, ela vai encarar as adversidades não como um fim, como um término de trajetória, e sim como um instrumento para purificação no sentido da ascese.
Literalmente, muitas vezes é na dor que nós chegamos ao amor. Então, respirar fundo e exercitar a continência no responder, meditar sobre o sentido instrumental a respeito daquilo que suscitou a raiva. A primeira dessas, o primeiro desses conselhos, ele é contra.
Segundo, só um parênteses aqui: segundo Tomás de Aquino, é a ira, que aqui está associada à raiva, que tem entre as suas filhas, ou seja, como os seus efeitos, a rixa, que é o viver brigando. A pessoa raivosa vive brigando. Portanto, nas respostas, é um hábito que contraria uma das filhas da raiva, da ira, que é a rixa.
Meditar sobre o sentido instrumental da raiva combate outra filha e ela, sobre o sentido instrumental daquilo que suscitou a raiva, combate outra filha dela, que é aquilo que Santo Tomás de Aquino chama de perturbação da mente. A pessoa equilibra-se, traz a inteligência para o centro, para o comando da ação, e a inteligência reflui suas emoções e pode fazer com que as emoções, em vez de atrapalharem a pessoa, a favoreçam. E isso também serve para outras filhas; essa meditação serve para conter outras filhas da raiva, a ação, segundo Santos, mais um clamor, os insultos e plu-fêmeas.
Então, era isso que eu vinha dizendo quando o vídeo da live anterior foi interrompido. Então, só para completar tudo que foi dito ali, agora vamos ao medo. Ah, lá na, eu estava de curso em três aulas sobre o medo, que foram gravadas lá no início desta crise mundial, suscitada pelo convite e pelo depoimento que recebi de pessoas que fizeram, que compraram essas aulas.
Aquilo foi muito importante para elas evitarem estado de espírito tendentes ao desespero. E hoje, é óbvio, eu estou preso, mesmo que muitos dos que me veem aqui no YouTube não sejam assinantes da plataforma de cursos, ficam convidados a propósito, desde agora, para se tornarem assinantes por apenas 46 reais por mês. Há muito conteúdo lá já postado e eu agora estou retomando um ritmo maior de postagens e em diferentes cursos.
Então, acho que vale a pena. Conteúdo útil, pela experiência que eu tenho tido. Eu vou falar outras coisas sobre o medo e vou começar, como nas emoções anteriormente comentadas, pela etimologia.
Primeiro, vamos à etimologia grega. A "phobus" é um deus grego, filho de Marte e Vênus, ou Marte e Vênus. Já são a terminologia do panteão romano, né?
Os latinos se apropriaram dos deuses gregos e eles deram outros nomes: Fobos é filho de Marte, Vênus, ou Ares e Afrodite. Ele é a personificação do medo trazido pela guerra. Então, daí vem a palavra fobia.
Depois vamos ver, é óbvio, que há uma distinção entre medo, pânico e fobia. Eu não vou tratar amiúde disso aqui, sim no curso, no próximo curso de psicologia tomista, mas vou dar algumas indicações. Os romanos tiveram um deus com o nome de Timor.
O que é realmente quase idêntico a "phobus". É um deus que acompanhava Marte nas guerras e isso instigava medo nos inimigos em campo de batalha. Quem quiser, procure mitologia grega, porque, para o caso dos psicólogos, assim como dos filósofos, ela traz coisas interessantes, embora uma leitura crítica dela possa fazer mal à alma, como já ensinava Platão, o grego.
Platão, na sua República, outra palavra. O conceito está muito associado ao de medo e pânico. Pânico vem de um outro deus grego que era o deus Pan, que tem uma figura estranha; se vocês buscarem na internet, vão encontrar várias representações do deus Pan.
Pan era uma mistura de bode e homem, uma figura horrenda, digamos assim, e ele era aquela divindade que no panteão grego cuidava dos rebanhos, dos bosques ou florestas, dos pastores e dos campos em geral. Eu colho uma história da mitologia grega que eu tenho aqui em casa. Ele era temido por quem atravessava as florestas à noite.
Daí, a noite aqui é sinônimo de trevas, e as trevas costumam despertar, muitas vezes até por sugestionamento psíquico, pavores súbitos. Vale lembrar uma coisa que me parece muito interessante, pois sei que estou falando para um público que faz lives predominantemente da área de psicologia. Vale lembrar o seguinte: há uma patologia chamada agorafobia, e isso tem uma origem, digamos assim, o termo e o conceito têm origem grega.
Em algum momento, em Atenas, foi erguido, perto da Ágora, um santuário ao deus Pan. A figura que estava lá no santuário era tão horrível, tão feia, que despertava em muitas pessoas o medo daquele lugar, então elas evitavam aquele lugar por medo. A palavra grega "pânico" vem daí, né?
É relativa ao deus Pan. Peguei aqui um dicionário de psiquiatria que nos leva à agorafobia, que é o medo de lugares que podem causar pânico ou constrangimento; é um transtorno de ansiedade. Então, medo, fobia e pânico são conceitos analógicos, e nós vamos tratar deles um pouquinho mais quando nos referirmos a Santo Tomás de Aquino.
A psicóloga Ana Rocha, que é a coordenadora desses cursos de Psicologia Tomista, colheu de pesquisas algumas palavras relacionadas ao medo. Essas pesquisas laboratoriais foram feitas, reitero, como eu disse em lives anteriores, em consultórios de psiquiatria e psicologia, em hospitais psiquiátricos. Essas palavras aqui, no caso, chegaram-se a elas pela análise do que diziam as próprias pessoas que tinham medo, que sentiam medo, assim como do seu comportamento.
Algumas palavras que evocam medo incluem nervosismo, choque, ansiedade, tensão, terror e opressão. Às vezes, o medroso está literalmente oprimido por uma imagem daquilo que suscita o medo. O temor, que vem do latim "timor", origina a palavra timidez; como nós veremos daqui a pouco, a timidez é o medo habitual de se expor.
Outra palavra que foi trazida à luz nessas pesquisas é "choque". O medo, às vezes, deixa as pessoas em estado de choque. Estou chocada com aquilo, com aquele evento, com aquela pessoa, com aquele acontecimento.
Há um retraimento da alma nessas ocasiões. Mudanças biológicas e experiências de medo também foram colhidas nessas pesquisas. Nós vamos ver, como nas ocasiões anteriores, que muitas vezes aquilo que é contemporâneo e parece estar sendo descoberto agora, sobretudo pelo jovem estudante de psicologia, já está consignado na história do estudo da alma pelos filósofos ao longo dos séculos.
Assim, algumas mudanças biológicas como falta de ar: às vezes, a pessoa fica literalmente sem ar. Agora, por conta do coronavírus, várias pessoas que contraíram a doença, assim como outras que foram acometidas por outras condições, como obesidade, sentiram falta de ar por medo de que fosse a Covid-19. Em geral, eram pessoas muito grudadas nas notícias, ou seja, sempre vendo na TV, ouvindo no rádio ou lendo na internet o apocalipse prometido para "amanhã".
É um estado de morbidez que não é natural. Se pensarmos como a imprensa mundial, é óbvio que nos leva à ideia de orquestração e não a jogos espontâneos. Começou a ser divulgado desde março do ano passado os dados relativos a esse vírus.
Então, falta de ar, taquicardia, ou seja, aceleração dos batimentos cardíacos, frio na barriga: muitas vezes, a pessoa, quando está com medo, sente frio na barriga, e não só na barriga. Isso foi relatado por muitas pessoas que estavam com medo de algo, ou que estavam passando por uma crise de ansiedade, ou que tinham adquirido a síndrome do pânico. Há ânsia por gritar e pedir ajuda; às vezes, no estado de medo intenso, a pessoa não quer ficar sozinha, ela não suporta ficar sozinha, porque ela precisa de alguém para se sentir mais segura, alguém a quem recorrer.
Às vezes, isso é por meio de gritos; outras vezes, é por meio de um chamado a alguém da casa. A tensão muscular, ou seja, o represamento dos músculos, é muito comum nos estados de medo. A rigidez muscular está muito relacionada ao que diz Santo Tomás de Aquino.
O estresse, que é um conceito moderno, mas que possui uma origem mais antiga, pode ser entendido como uma corda muito esgarçada, que aumenta a tensão, fazendo com que a pessoa pareça estar sempre prestes a se fragmentar, a romper-se psiquicamente. Os efeitos posteriores ao medo ou à crise do medo incluem ficar hipervigilante. Ou seja, o medo, embora muitas vezes, quando intenso, possa ir embora, deixa a pessoa vigilante, ela não relaxa.
Muitas vezes, demora para relaxar. Os psiquiatras que me ouvem e me veem agora podem confirmar isso, pois já devem ter cansado de prescrever ansiolíticos ou até psicotrópicos para combater esse estado de hiperatividade que o medo causa. Às vezes, há isolamento; isso se reitera.
É fruto de pesquisas, e essas pesquisas não pertencem a nenhuma área da Psicologia contemporânea, em particular a nenhuma. Mas elas servem para todas as áreas. Por quê?
São pesquisas de campo; assim, são coletas de dados. Muitas vezes, a pessoa, amedrontada, isolada, sente até certo constrangimento. Muitas vezes, o medo causa vergonha.
Aliás, é o que diz Santo Tomás de Aquino na prima secunda da Suma Teológica, que estão 41 — não sei se é no artigo 4º, mas é por ali. Ele afirma que o medroso, aquela pessoa que está tremendo pelo medo, de alguma maneira, tem vergonha. A vergonha é um dos efeitos do medo.
Nesse sentido, imaginar é a possibilidade de novas perdas decorrentes da coisa temida e do que pode advir se a coisa temida consolidar-se. Nós vamos ver, daqui a pouco, que o que se teme é um mau futuro, né? Que se torna uma antecipação.
O medo é uma situação psicológica do mal que uma pessoa presume que acontecerá. As expressões do medo, nessas pesquisas, são a fuga, ou seja, a pessoa busca escapar. Se é um medo de natureza física, por exemplo, alguém aqui no Rio de Janeiro, é muito comum.
A maioria das pessoas que eu conheço, boa parte, já foi assaltada, algumas à mão armada. Numa situação dessa, o primeiro instinto que o medo traz é o de fuga; né? Esconder-se, para evitar o que se teme.
Aqui também já estão em uma espécie de subespécie dessa fuga. Uma das maneiras de fugir é se esconder, ficar com a voz trêmula ou tatibitati, gaguejante. Muitas vezes, a pessoa, quando está ali no pleno exercício do medo, não consegue nem falar.
Alguém se aproxima para perguntar o que houve, o que aconteceu, e se pode ajudar, mas ela não consegue dizer. Ela tem uma espécie de perturbação mental e, como está trêmula fisicamente, acaba por também tremular na voz. Outra coisa são diarreias e vômitos coletados nessas pesquisas.
Aliás, é a expressão popular, meio chula: “vou pegar de medo” ou “por um cagaço”, tem tudo a ver com a realidade. Muitas vezes, as pessoas se borram de medo — essa é outra expressão popular. Em Portugal, há uma expressão que define muitas vezes o medroso: é um “borra-botas”.
O sujeito borra-botas realmente, em casos mais extremos, pode soltar o intestino. Sudorese, ou seja, aumento dos suores. Muitas vezes, a pessoa com medo tem suores frios e a sua temperatura corporal abaixa.
Os pelos eriçados, muitas vezes, também foram relatados nessas pesquisas. Um dos efeitos perceptivos, ainda no plano físico, é esse “endurecimento” dos pelos. É como se a alma — a pessoa suscetível, por exemplo, diz que ela tem alma eriçada; qualquer coisa a deixa eriçada ou ouriçada.
São eventos que desencadeiam sentimentos de medo que, também colhidos nessas pesquisas, têm a ver com a vida, saúde ou bem-estar ameaçados. Nós estamos aí com a doença dita pandêmica, e há pessoas que perdem o sentido mesmo na sua própria existência por causa do medo da morte. Flashbacks: a pessoa rememora e nós vamos lembrar aqui a memória — aquele evento ou aquela coisa que suscita o medo.
O medo é uma paixão da alma, segundo Santo Tomás. Hoje, nós chamamos de emoção. A paixão é um movimento do apetite sensitivo, seja dos sentidos externos: tato, olfato, visão, audição e paladar, e dos quatro sentidos internos.
Não vou falar deles aqui para não mudar de assunto, mas um deles é exatamente o da imaginação. Que é isso? O labor de imagens.
É esse flashback, o retornar à imagem que suscita o medo. A sensação de estar numa situação nova ou desconhecida, ou seja, o desconhecido — aquilo cuja natureza não se conhece bem, não se percebe bem — suscita o medo, desencadeia o medo. Estar ou encontrar-se numa situação semelhante a outra em que a pessoa foi ameaçada ou ferida no passado, ou na qual coisas dolorosas aconteceram.
Então, isso é um sumário relacionado à emoção do medo. E eu lembro aqui com a psicóloga americana Chacra, a americana Magna Arnold, que tem a psicologia chamada da mãe da Psicologia das Emoções, que tem base completamente feita de paixão em Santo Tomás. As emoções são, digamos assim, uma componente muito importante.
Eu diria até decisiva na formação da personalidade e também do caráter, né? Que é o conjunto de hábitos. O caráter pode ser medido pela análise do conjunto de hábitos adquiridos por uma pessoa.
Se usados são de acordo com a natureza dela, ou seja, natureza intelectivo-volitiva, serão atos virtuosos, bons e trarão equilíbrio mental. Se forem contrários a essa natureza intelectivo-curitiba, serão viciosos. Então, as emoções, muitas vezes, quando se desgovernam, usurpam o lugar da vontade, que é uma potência superior da alma, e induzem as pessoas a praticar malefícios a si mesmas ou a outras.
Essa é a neuro, e pediu para comentar algo dos Santos. Vai chamar de experimento algo para se transformar em experiência. Eu vou fazer de maneira muito sumária e, lá, quando chegarmos ao curso, eu vou tentar aprofundar-me mais, né?
Porque isso dá pano para muitas mangas. Ora, alguma coisa só é experienciada quando, depois de recebida pelos sentidos externos, ela passa pelas potências, pelos sentidos internos, que são senso comum, memória e imaginação, e potência cogitativa. E essa potência cogitativa é aquilo que Santo Tomás de Aquino chama de razão inferior, embora ainda não seja a razão.
Está no plano sensitivo. Ela é a imagem para que o intelecto entre em ação, digamos assim. Então, a cogitativa é a estimativa da realidade, de algo que pode acontecer, que é o estímulo que possa vir a acontecer.
A égide da razão, os animais irracionais estão vendo aqui o rabo do boi a ficar deitada aqui do meu lado. Eles estimam a realidade; eles têm a potência que a pessoa mais chama de potência estimativa. Mas é só essa potência atualiza sob a égide não da razão que eles não têm, mas dos sentidos.
Então, para que algo se transforme em experiência, é necessário que, de alguma maneira, ainda no plano sensitivo, passe pelo influxo e pelo refluxo da razão sobre os sentidos. O tom que por aí se vê é muito importante nesta psicologia, que tem grande base antropológica, ou seja, de antropologia filosófica, e tem uma boa base da metafísica e a ciência do ser. Para essa psicologia que alguns chamam de realista, a alma humana não é um feixe de pulsões inconscientes, nem é fruto de emoções desgovernadas.
Ela pode chegar a esses estados, mas, no seu estado ordenado, ela não é outra coisa senão uma congregação de hábitos virtuosos, que podemos dizer, representam o estado de sanidade, estado à norma, estado de normalidade, que para muitas psicologias contemporâneas simplesmente não existe. Então agora vamos a Santo Tomás. Eu fiz vários apontamentos aqui, eu não quero perder nada, quero que a Live comece de forma mais ou menos sucinta, e não quero perder nada do notário e comentar.
Aqui eu vou pegar um excerto dessas aulas, da primeira dessas aulas que estão lá para os assinantes da plataforma, perdão de cursos, que não estão disponíveis para eles ou para quem as adquire separadamente. A primeira aula, se não me falha a memória, intitulava-se "Medo e Bem Comum". Santo Tomás diz: "Temor é de futuro.
" Malum quod excedit potestatem. O temor, ou medo, é de um mau futuro que excede o poder de reação daquele que teme. Ninguém tem medo de algo mais fraco, ou seja, algo que, se a pessoa reagir, não vai acarretar nenhum mal grande.
É o pectus, digamos assim, só até mesmo algo que em algum momento se apresenta à nossa consciência ou ao nosso corpo como mais forte do que nós, com potência para nos ferir de alguma maneira. Então, ela é uma emoção, que Santo Tomás chama de paixão especial. É do chamado apetite irascível, que é aquele movimento da alma.
São 11 grandes paixões, mas não vou aprofundar isso aqui na live. Mas é o apetite concupiscível. Entre outras coisas, ele é um movimento da alma de fuga, o movimento de fuga de algum mal percebido como mal sob algum aspecto.
Portanto, é um movimento de retraimento, ao passo que as emoções ou paixões do apetite concupiscível são movimentos de expansão da atividade. Então, é uma emoção especial. O medo é, e o objeto dele é, como está mais ou menos assinalado aqui na definição, um mau futuro, o que eu presumo ser mal, mas com certeza um futuro difícil de evitar, porque parece exceder as minhas forças.
Eu não tenho nada mais fraco do que eu, seja no plano psicológico ou no plano físico. Então, é isso. Por aí se vê como Tomás já que é muito, muito simples nas suas conceituações, embora a sua terminologia às vezes seja um pouco abstrata e ela requeira, da parte de quem o estuda, um certo conhecimento, pelo menos mínimo, da metafísica aristotélica.
Mas as definições são lapidares. Parece que Tomás escreve numa luz. Esse é um axioma, é um princípio, que muitas vezes ilumina a nossa vida no que diz respeito àquilo que ele está dizendo sobre o tema que ele está abordando.
As causas do medo, por si só, estão muito próximas daquilo que foi dito aqui, colhido em vez de colhido em pesquisas contemporâneas: a força daquilo que se teme é uma das duas grandes causas do medo, e o amor ao bem, o que corre o risco de se perder se aquele mal que eu temo realmente vier a suceder. Então, indiretamente, o amor causa medo. O amor, nesta perspectiva da psicologia tomista, é a raiz primária de todas as emoções.
Se uma pessoa odeia algo, é porque esse algo contraria outro algo que ela ama. Se a pessoa se entristece com algo, é porque sucedeu algo que já não é mais o temor; a tristeza é algo que contraria alguma coisa que ela tem em grande conta, em grande importância. Então, o amor é a raiz de todas as emoções da alma, sejam boas ou más.
E eu costumo dizer, para uma página do meu cosmogonia, uma das ordens. . .
Alguma delas, porque agora eu não estou com ele à mão, não tem como eu citar. . .
As doenças de natureza meramente psicológicas são doenças do amor malogrado, ou seja, do amor que tinha tudo para ser e não foi. Outra causa que Santo Tomás aponta são as dificuldades inerentes que estão ali presentes no sujeito que teme e que se amedronta com fantasmas. A timidez é uma dessas dificuldades; muitas vezes a pessoa, por timidez, perde um emprego na hora da entrevista, como assim nem vai buscar a solução de um problema porque teme se expor.
Então, isso pode ser a causa de um medo atual. A relação entre hábito e ato é análoga ao que há entre potência e ato. Muitas vezes, a pessoa não tem o medo habitualmente, mas.
. . Vou refazer: muitas vezes, a pessoa tem um medo habitual, e esse hábito induz novos atos, é como uma segunda camada da alma.
Efeitos físicos, segundo Santo Tomás, são muito semelhantes a alguns dos que foram colhidos nas pesquisas contemporâneas que estão servindo de base para fazermos essas lives. Medo constringe o coração. É como dar um aperto no coração quando, por exemplo, alguém tem medo de perder uma pessoa que ama; dá um aperto no coração e empalidece.
Aliás, existe uma expressão: a pessoa fica pálida de medo, ficou branca a ponto de parecer um fantasma, e o cara ficou com a cara branca de cagaço, de medo. Isso faz a pessoa tremer, isso é muito evidente, né? E esse tremor se percebe não só nas mãos; nas mãos ele é mais evidente, mas, às vezes, a pessoa tem um tremor na barriga, um tremor interno que ela própria não consegue explicar.
Às vezes, realmente, a pessoa apresenta uma síndrome do pânico. E a síndrome de pânico, né, os eventos de pânico, eles são suscitados por qualquer coisa de maneira súbita, diferente de um medo diante de um fato real. A pessoa, se estiver sentada jantando, pode estar conversando e, de repente, vem a crise de pânico; ela tem essa sensação de que vai morrer.
Essa crise dura cerca de meia hora, segundo vários psiquiatras consagrados. Vários remédios são receitados para pessoas com essa síndrome ou que estão apenas com crise de ansiedade, que, por não terem se transformado em síndrome, é outra coisa. Essas síndromes diminuem as forças corpóreas.
O medo nos enfraquece e não só enfraquece nosso sistema imunológico, mas também nos enfraquece fisicamente. Se ele está dentro, tem raízes na alma, causa efeitos psicológicos, e dificulta, obliterando a mente. Às vezes, a pessoa está em um estado de medo muito grande e não há ninguém que consiga chamar à razão.
Por mais que a pessoa ponha a razão em prática, fazendo isso ou aquilo, por mais que alguém diga para ela tomar um copo d'água com açúcar ou faça qualquer outra coisa, ela não ouve, ela não consegue, mas não por maldade. Não ouve porque não consegue, porque está com a mente, digamos assim, confusa, induzida a erros deliberativos. Outra coisa é que a pessoa, mais à frente, pode liberar um ato da inteligência, do intelecto.
Nós deliberamos a respeito daquilo que projetamos como ações, seja no plano pessoal, profissional, etc. O medo induz a pessoa a errar em seus julgamentos, tanto a respeito do que suscitou o medo como a respeito de si mesma. Ela começa a ter, às vezes, falsas certezas neuróticas.
O que já foi aludido aqui, eu falei dessas pessoas que não falei do flashback, aprisionando a alma no fantasma. A palavra "fantasma" é grega e latina: é uma imagem que fica na nossa estrutura psicossomática. Uma pessoa que tem um trauma, por exemplo, retorna a essa imagem muitas vezes.
Então, no caso do medo, é como se a pessoa ficasse refém dessa imagem; não é uma relação com o medo atual, que aquilo que Santo Tomás chama desse "temor" é um ato correndo de algo que possa vir a suceder. Por exemplo, a pessoa pode estar com medo de perder o emprego, pois a empresa está fazendo uma reestruturação. Esse é um medo que se pode dizer que não chega a ser patológico, é um medo habitual.
Agora, a timidez aqui, aqui, o aluno e a timidez, muitas vezes, destrói vocações. Hoje em dia, por exemplo, no caso de psicólogos, as tecnologias nos desafiam muitas vezes. O psicólogo ou mesmo filósofo, alguém que hoje precisa vender seu trabalho nas redes sociais, tem que fazer um vídeo.
A timidez, às vezes, faz com que a pessoa perca clientes. Então, assim, é preciso vencer a timidez. Existem várias maneiras de tentar vencer a timidez; podemos falar de algumas lá na frente.
No curso, a gente aprofunda isso em seus efeitos gerais. Esse é um ponto: o quanto a timidez já quer, ela aponta alguns vetores no ânimo. A conturbação faz com que a pessoa fique com o emocional conturbado a ponto de gesticular até mais do que o habitual.
A conturbação é uma espécie de perturbação, e já falei aqui ainda há pouco sobre isso, que afeta a mente. Então, a pessoa não consegue encontrar o equilíbrio, pelo menos enquanto o medo dura. No corpo, o terror ou tremor, já falei aqui, se dá nas extremidades, como nas mãos, mas também se dá no corpo, por dentro do corpo.
Há o frio na barriga; às vezes, a barriga treme quando se está com medo. A cabeça, ou seja, a mente, entra em um estado de horror, e o horror é um conceito de algo horrendo. Falei ainda há pouco, no início desta live da série emoções, que um pânico é um unicórnio.
Em grego, há uma palavra associada, muitas vezes, à reação que as pessoas tinham ao ver uma imagem – ou seja, uma imagem que foi colocada no santuário, ou Deus Pan, perto de uma ágora ateniense. Tem tudo a ver com horror. Falei que a imagem horrorosa, quando é vista, às vezes, é representada na iconografia.
As representações de Pan são muito semelhantes às de um diabo: um diabo tem chifres, uma espécie de fauno com a barba rala, com pés de bode, e muitas vezes é representado com um semblante imenso e uma aparência tão assustadora que causa arrepios, tanto que o capeta, que é uma criatura espiritual, não tem corpo, mas o rosto causa horror. Ainda falei que isso tem tudo a ver com o que as pesquisas contemporâneas apontam: pessoas isoladas não querem expor seu ambiente, sobretudo por serem tímidas. Isso se reflete nas extremidades do corpo, causando rigidez e dormência.
Santo Tomás já dizia isso, e ele disse isso há mais de 700 anos atrás. Ele tinha a mão e o bom senso. A observação da realidade, o sentido de observar as experiências, é um talento filosófico descomunal que eu fazia ir aos princípios e conhecer as coisas pelas suas formalidades.
Quem conhece a forma de um ente, seja real ou de razão, conhece melhor do que só quem conhece a matéria. Então, uma pessoa pode tremer de frio, por exemplo. Agora, se eu conheço a natureza do medo, eu vou atribuir esse tremor a uma outra causa, como rigidez ou dormência.
O que mais eu anotei aqui para falar quanto ao grau em razão de sua intensidade? Diz Tomás de Aquino que o medo causa pânico e pavor; a pessoa fica literalmente apavorada. E eu tenho certeza que muitos de nós já tivemos essa experiência.
Daqui a pouco, vou ler um trechinho da Suma Teológica. De que maneira se pode dizer que o medo não é um estado natural da alma? Diferentemente de outras emoções, em certo sentido é natural, ou noutro sentido, não é.
Então, o pânico não é natural. Nós não fomos feitos para isso; nossa estrutura ontológica não foi feita para ficarmos sentindo medo. Ela foi feita para o bem-estar, o estado de alegria, de felicidade.
Quanto à duração, a pessoa fica em um torpor; é uma experiência que causa espanto. É um torpor, literalmente. Aquilo atinge em cheio o coração; a razão está ali meio confusa, e ela não sabe o que fazer.
Essas são as principais características do medo. Vou ler um trechinho antes de encerrarmos. Quero mencionar também aqui dois autores: psicólogos e filósofos do século 20.
Olha aqui, na Suma Teológica, na Prima Secunda, questão 41, artigo 3, Santo Tomás se pergunta se há um temor natural e começa, quanto ao terceiro artigo: "Assim se procede, parece que o temor é natural. " Eu vou direto para a resposta: “Respondo que o movimento se chama natural porque a natureza, para ele, se inclina. ” O que acontece de modo mais simples?
A natureza é aquilo que sempre, ou quase sempre, alcança o mesmo fim a partir de suas próprias potências que dão vetor dessa inclinação. No primeiro modo, tudo se realiza pela natureza, sem qualquer ação da potência apreensiva, como mover-se para cima, que é o movimento natural do fogo; e crescer, que é o movimento natural dos animais e das plantas. No outro modo de ser natural, o movimento é aquele ao qual a natureza se inclina, embora não seja realizado senão pela apreensão.
Porque, como foi dito, o movimento das potências, como foi dito, e no outro artigo, é apetitivas e cognitivas, se reduzem à natureza como sendo o princípio. É desta maneira que, às vezes, chamam naturais até mesmo os atos da potência de apreender, conhecer, sentir, recordar. O temor se distingue do temor ou medo não natural porque tem um objeto diverso.
Com efeito, segundo Aristóteles, em sua Retórica, há um temor cujo objeto é o mal que corrompe, e a natureza repele pelo desejo natural de existir com a mesma forma. Esse temor se chama natural, mas, além dele, há o temor do mal que entristece. Olha só, vejam bem: o temor do mal que entristece não repugna a natureza mais ao desejo, ou seja, ao apetite.
Tal temor não é natural. Portanto, não é natural que fiquemos tristes de medo. Não é natural; estamos em um estado de alma que repugna ao nosso apetite natural do bem.
O bem é aquilo que todas as coisas apetecem, segundo Santo Tomás de Aquino. Aqui, antes de encerrarmos, eu vou dar alguns vetores. Uma das maneiras de combater o medo, de tentar fazer com que a virtude cardinal da Fortaleza deite raízes na alma, é que a Fortaleza tem dois grandes movimentos: atacar e sustentar, ou resistir e suportar.
Mas, sobretudo, suportar é o que é próprio da natureza da Fortaleza. Então, o forte é aquele que, por exemplo, resiste às tentações. O forte é aquele que, diante de uma situação que pode colocá-lo em risco, suporta em vista de um bem maior.
Então, não é à toa, aliás, que Platão, na República, diz, se não me falha a memória, no Livro 3, que a coragem é uma virtude cívica, uma das três principais virtudes da pólis, assim como as almas são as virtudes de sanidade da alma. Ela floresce nas pessoas quando elas mostram que têm coragem. A coragem implica que há um bem a ser defendido, e alguém precisa correr a defender o amedrontado.
Muitas vezes, é inclusive o egoísta que se fecha em copas e não faz nada. Ele não cumpre, às vezes, até coisas que são um dever moral seu, por exemplo, proteger um filho, proteger a família em caso de risco, etc. Então, assim, eu vou citar aqui dois autores.
Isso aqui está mencionado numa dessas aulas lá da plataforma de cursos Contra o Nantes. Um deles é o Zíper, um baita filósofo atomista, um psicólogo finíssimo, e ele diz o seguinte: ele faz uma conexão entre o temor e o egoísmo. Ele diz que o egoísmo implica uma espécie de soberba.
O problema é o amor desordenado à própria excelência. No caso do egoísmo, ele é o amor desordenado ao próprio eu, seja ele excelente ou não. E ele diz uma frase, se não me falha a memória, que foi colhida do seu Tratado das Virtudes Fundamentais, que o amor desordenado de uma pessoa à sua própria vida.
. . Acarreta distúrbios mentais graves.
É óbvio que devemos amar a nossa vida, mas não de maneira desordenada. Por exemplo, o egoísta ama de maneira desordenada. Ele quer o bem para si em detrimento do não alcançamento, não atingimento desse bem para outras pessoas.
E Rudolf Allers, um outro psicólogo, precisa ser urgentemente traduzido para o português. Ele foi um homem que chegou a travar contato pessoal com Freud e, jovem, chegou a aderir à psicanálise; depois, foi o grande anti-Freud. Há um livro chamado "Anti-Freud", que é de Luiz Junior, um filósofo atomista francês do século 20.
Alice Waters tem muitas coisas interessantes. Ele diz que o egocentrismo implica um desordenado anseio por segurança, ou seja, quem se trata o próprio eu sobre si mesmo, que é protegê-lo a todo custo, até de coisas imaginárias. Muitas vezes, o medo é completamente imaginário, e esse anseio de segurança exagerado leva a pessoa a um retraimento que é grandemente patológico.
Então, meus caros, era o que eu tinha para dizer na live de hoje. Com ela, nós completamos quatro emoções. Fica aqui dito que o próximo curso, eu ainda não vou anunciar o seu nome, terá como foco as emoções, mas não elas como um fim em si mesmas, e sim, no caso, as emoções desordenadas.
Nas maneiras terapêuticas, iremos usar uma linguagem contemporânea para combater essa desordem mental que as emoções acarretam quando saem do seu vetor, da sua trilha natural, e dessa desordem que elas podem acarretar. Então, meus caros, até breve! Espero que este vídeo tenha sido útil para você, está bom?
Não vivam com medo! Não vivam com medo! Uma pessoa que crê em Deus tem muita confiança.
Entre hoje a quem confia em Deus, tem um grande antídoto contra o medo. Existe um princípio religioso: Deus proverá. Mas um psicólogo não vai tratar de pessoas religiosas, nem fará isso em seu consultório.
Mas, se ele é um filósofo atomista, ele tem que ter um horizonte de conceito, né? Aquela certeza metafísica da existência desse próprio ser subsistente a quem normalmente chamamos Deus. E o próprio Cristo diz no Evangelho: "Não tenhais medo, eu venci o mundo".
Que ele abrace, gente.