No Velório Vazio da Minha Sogra

o relógio da funerária marcava exatamente 19 horas quando entrei naquela sala fria e silenciosa nem mesmo o som dos meus saltos contra o piso de mármore parecia ecoar naquele ambiente sepulcral apenas eu o caixão de madeira escura e o corpo da minha sogra Helena compunham aquela cena desoladora 70 anos de vida reduzidos a um velório sem veladores sem flores sem lágrimas que não fossem as minhas aproximei-me com passos hesitantes sentindo o peso do abandono em cada centímetro daquele espaço por 7 anos eu havia dedicado parte dos meus dias a cuidar daquela mulher presa a uma cadeira de rodas 7 anos ouvindo seu silêncio interpretando seus olhares alimentando um corpo que parecia cada vez mais distante da vida e agora em seu momento final apenas eu estava ali descanse em paz dona Helena sussurrei ajeitando meu vestido preto sobre o banco duro posicionado ao lado do caixão artur meu marido e filho único dela havia partido para Londres há três dias alegando uma emergência de trabalho "você cuida de tudo Elisa você sempre soube lidar melhor com minha mãe do que eu"" disse ele beijando minha testa antes de partir com duas malas enormes e um olhar que agora percebo escondia mais do que pressa passei os dedos pelos cabelos grisalhos e perfeitamente penteados de Helena o maquiador funerário havia feito um trabalho impecável seu rosto parecia quase vivo com um tom rosado nas maçãs do rosto que eu nunca havia visto durante seus últimos anos a ironia de parecer mais viva na morte do que em vida não me escapou meu telefone vibrou no bolso do casaco interrompendo o silêncio sagrado daquele momento o nome de Artur piscou na tela uma videochamada respirei fundo tentando organizar meus pensamentos para informá-lo sobre os detalhes do funeral que aconteceria na manhã seguinte "arthur estou no velório da sua mãe está tudo" minha voz morreu quando percebi que não era apenas o rosto do meu marido que ocupava a tela ao seu lado sorrindo com lábios vermelhos pintados com perfeição estava Vanessa minha melhor amiga de faculdade madrinha do nosso casamento e aparentemente muito mais do que uma simples amiga para Artur "olá querida esposa! " A voz dele soou estranhamente animada com um sotaque britânico forçado que ele adotava quando bebia demais "como está nossa querida mamãe rígida como sempre imagino a risada dele foi acompanhada pela de Vanessa que tentou disfarçar cobrindo a boca com as mãos de unhas perfeitamente manicuradas "arthur por favor tenha respeito sua mãe acabou de falecer e você nem mesmo está aqui para para que Elisa? " interrompeu ele aproximando o rosto da câmera para velar uma múmia de 70 anos que passou a vida me controlando e nos últimos anos controlando você também não obrigado prefiro começar minha nova vida aqui com alguém que realmente me entende vanessa acenou para mim seus olhos brilhando com uma mistura de triunfo e falsa compaixão "sinto muito que você tenha descoberto assim Elisa" disse ela sua voz doce demais para ser sincera não queríamos magoá-la mas essas coisas acontecem o coração não escolhe senti meu próprio coração se comprimir dentro do peito 12 anos de casamento reduzidos a uma videochamada de traição ao lado do corpo da minha sogra há quanto tempo consegui perguntar minha voz falhando tempo suficiente respondeu Artur passando o braço ao redor dos ombros de Vanessa mas isso não importa agora o que importa é que você vai ficar aí velando essa múmia enquanto nós vamos começar uma nova vida ele ergueu uma taça de champanhe que eu não havia notado até aquele momento o líquido dourado brilhou sob a luz do que parecia ser um quarto de hotel luxuoso a nossa liberdade brindou ele olhando para Vanessa antes de voltar-se para a câmera a Elisa não se preocupe em esperar por mim aquela casa nunca foi realmente minha sempre foi a prisão da minha mãe podem ficar juntas na morte como ficaram na vida duas amarguradas a chamada encerrou antes que eu pudesse responder a tela escureceu refletindo meu rosto pálido e chocado minhas mãos tremiam tanto que o telefone escorregou e caiu sobre o carpete escuro da funerária olhei para o corpo de Helena sentindo as lágrimas quentes descendo pelo meu rosto era isso 12 anos de dedicação ao meu casamento e 7 anos cuidando daquela mulher apenas para terminar sozinha em um velório vazio com um telefone caído aos meus pés contendo a prova da minha humilhação foi então que aconteceu algo que meu cérebro mesmo anos depois ainda luta para processar completamente um suspiro profundo e rouco não meu dela meus olhos se arregalaram quando vi e meu Deus como desejei estar alucinando os dedos longos e pálidos de Helena se moverem lentamente a princípio depois com uma firmeza surpreendente ela segurou a borda do caixão e se ergueu até estar sentada seus olhos que permaneceram fechados durante todo o tempo em que estive ali abriram-se de repente revelando um olhar vivo e penetrante que eu jamais havia visto nos anos em que cuidei dela "então ele finalmente mostrou sua verdadeira face" disse Helena sua voz clara e firme sem nenhum traço da fragilidade que eu conhecia exatamente como eu previ meu corpo inteiro congelou minha boca abriu-se mas nenhum som saiu helena ajeitou o cabelo meticulosamente arrumado e me olhou diretamente nos olhos hora do show querida vamos nos vingar os primeiros segundos após ver minha sogra supostamente morta se levantar do caixão se perderam em uma névoa de puro terror lembro vagamente de ter tentado correr para a porta apenas para ser detida pela voz autoritária de Helena elisa controle-se" ordenou ela agora completamente sentada no caixão alisando o vestido funerário com a naturalidade de quem arruma uma roupa para um jantar "se alguém entrar agora todo o plano estará arruinado.

" Plano que plano minha mente girava como um carrossel descontrolado enquanto eu me apoiava em uma das cadeiras para não cair olhei ao redor procurando câmeras testemunhas qualquer coisa que me dissesse que aquilo era uma brincadeira cruel isso não é possível consegui balbuciar finalmente você estava morta o médico confirmou eu vi o atestado de óbito helena sorriu um sorriso que nunca havia dirigido a mim em todos aqueles anos r$ 50. 000 compram muita coisa neste país querida inclusive um atestado de óbito perfeitamente legal e um médico disposto a atestar a morte de uma mulher perfeitamente viva ela moveu as pernas para fora do caixão e para meu completo espanto ficou de pé sem qualquer dificuldade aparente seus movimentos eram firmes seguros como os de alguém que caminha normalmente há anos não como alguém que deveria ter os músculos atrofeados após anos em uma cadeira de rodas mas a sua paralisia os derrames? " perguntei sentindo meu coração martelar contra minhas costelas "atuação minha querida Nora pura e simples atuação" respondeu ela caminhando em minha direção com uma elegância que jamais associaria aquela mulher frágil que eu conhecia embora tenha tido um pequeno derrame sete anos atrás me recuperei completamente após alguns meses mas percebi que era mais vantajoso continuar incapacitada ela se sentou graciosamente na cadeira ao meu lado e tocou minha mão seu toque era quente vivo completamente diferente da temperatura fria que eu esperaria de um cadáver por foi tudo que consegui perguntar porque suspeitava que meu filho estava tramando algo e porque precisava de tempo para reunir provas ela apertou minha mão e para entender quem você realmente era Elisa retirei minha mão bruscamente sentindo uma onda de raiva substituir o choque inicial você me enganou por 7 anos eu dediquei minha vida a cuidar de você sacrifiquei minha carreira meus sonhos tudo para estar ao seu lado limpar você alimentar você ouvir suas queixas e por isso estou eternamente grata" disse ela com uma sinceridade que me desarmou momentaneamente "foi durante esses anos que percebi que você era a única pessoa genuinamente boa naquela casa a única que não estava comigo por interesse diferente do seu precioso filho cuspi as palavras a imagem de Artur e Vanessa ainda queimando em minha mente sim diferente do meu filho concordou Helena seu rosto endurecendo o mesmo filho que vem desviando dinheiro das minhas contas há anos o mesmo que falsificou minha assinatura em documentos o mesmo que planejava me colocar em um asilo de quinta categoria assim que conseguisse transferir todo o meu patrimônio para seu nome ela se levantou novamente e caminhou até uma pequena bolsa que eu não havia notado antes escondida atrás de uma coroa de flores de dentro tirou um telefone gravei tudo Elisa cada conversa cada plano cada vez que ele trouxe aquela sua amiga para minha casa para a minha cama enquanto você trabalhava ou cuidava de mim ela me estendeu o aparelho com mãos trêmulas peguei-o e vi dezenas de arquivos de áudio e vídeo organizados por data "por que fingir sua morte agora?

" perguntei ainda tentando processar tudo aquilo "porque ele finalmente deu o passo que eu estava esperando" respondeu Helena voltando a se sentar ao meu lado transferiu uma quantia considerável para uma conta no exterior e comprou passagem só de ida para Londres estava planejando abandonar você com uma suposta inválida e uma casa hipotecada meu estômago se contraiu com a revelação algo em meu rosto deve ter revelado a profundidade da minha dor pois Helena tocou meu ombro com surpreendente gentileza ele não merece suas lágrimas Elisa nunca mereceu e o que fazemos agora perguntei enxugando as lágrimas com as costas da mão o sorriso que se formou no rosto de Helena tinha algo de predatório algo que me fez lembrar que afinal Artur era filho dela havia um brilho calculista em seus olhos que me causou um arrepio involuntário agora ela se inclinou em minha direção agora fingimos que o velório segue normalmente você vai para casa e age como se estivesse de luto enquanto isso eu vou para o apartamento que comprei secretamente há 5 anos onde venho preparando cada detalhe da nossa vingança nossa sim nossa afirmou ela com convicção porque ele traiu a nós duas Elisa a mim como mãe a você como esposa e ambas merecemos justiça olhei para o caixão vazio para o telefone em minhas mãos e para a mulher que até minutos atrás eu acreditava estar morta a realidade havia se transformado em algo irreconhecível minha vida como eu a conhecia havia terminado com aquela vídeochamada o que restava agora era apenas a possibilidade de justiça o que exatamente você tem em mente dona Helena ela sorriu novamente um sorriso que não combinava com o rosto de uma senhora de 70 anos deixe-me contar tudo desde o início o plano de Helena era tão meticuloso quanto audacioso enquanto voltávamos para a mansão onde eu havia morado pelos últimos 12 anos eu dirigindo e ela deitada no banco de trás coberta por um cobertor para evitar ser vista ela explicou como havia arquitetado cada detalhe ao longo dos anos o primeiro derrame foi real" confessou ela enquanto eu manobrava o carro para dentro da garagem fiquei realmente debilitada por alguns meses foi durante esse período que descobri através de documentos deixados descuidad sobre a mesa do escritório que Artur estava desviando dinheiro da empresa para contas pessoais estai e ajudei-a a entrar pela porta dos fundos uma entrada raramente usada que dava acesso à área de serviço a casa estava silenciosa e escura exatamente como eu a havia deixado horas antes por que não o denunciou imediatamente perguntei enquanto a guiava através da cozinha porque precisava entender a extensão do problema" respondeu ela caminhando com desenvoltura pelo ambiente que supostamente não via além da altura de sua cadeira de rodas há anos e principalmente precisava descobrir quem estava envolvido chegamos ao escritório no Andar térrio um cômodo que Artur havia transformado em seu território particular e que segundo as regras não ditas da casa eu raramente frequentava acenda apenas o abajur instruiu Helena dirigindo-se diretamente para um quadro na parede com precisão ela o removeu revelando um pequeno cofre embutido a combinação é 0305 o dia e mês do nascimento dele sempre tão previsível meu filho girei os números e o cofre se abriu com um clique metálico dentro havia várias pastas documentos e uma pequena caixa preta que Helena imediatamente pegou "esta é apenas uma parte das provas" explicou ela foliando rapidamente os documentos "o resto está no meu apartamento mas isto já é suficiente para você entender com que tipo de homem se casou ela me entregou uma pasta azul dentro encontrei extratos bancários contratos e para minha surpresa fotos fotos de Artur com várias mulheres ao longo dos anos incluindo Vanessa as datas impressas no canto inferior mostravam que o caso deles não era recente a mais antiga datava de 5 anos atrás 5 anos" murmurei sentindo uma nova onda de traição me atingir ela era minha melhor amiga vinha à nossa casa jantava conosco me consolava quando Artur viajava dizendo que eu merecia mais atenção enquanto dormia com seu marido nas mesmas viagens completou Helena sem rodeios sim a hipocrisia parece ser um traço comum nos amigos que meu filho escolhe folhei mais documentos tentando absorver tudo aquilo havia registros de transferências bancárias propriedades adquiridas em nomes de terceiros e até mesmo um plano detalhado para a internação de Helena em uma instituição assim que conseguissem a tutela legal dela eles planejavam declará-la mentalmente incapaz disse horrorizada ao ler um e-mail impresso entre Arthur e um médico psiquiatra exatamente helena guardou a caixa preta na bolsa que carregava foi quando percebi isso que decidi aprofundar minha condição quanto mais indefesa eu parecesse menos ameaçadora seria aos olhos deles e mais liberdade eu teria para me movimentar quando ninguém estivesse olhando a ideia de que aquela mulher que eu havia banhado alimentado e cuidado por anos estava na verdade coletando evidências e planejando sua vingança enquanto eu acreditava estar ajudando uma inválida era surreal demais para processar completamente "como conseguiu se manter em forma? " perguntei observando sua postura ereta e movimentos fluidos anos em uma cadeira de rodas deveriam ter causado atrofia muscular helena sorriu um sorriso de genuíno orgulho todas as noites após você me colocar na cama e se retirar eu fazia exercícios comecei com movimento simples e gradualmente progredi para rotinas completas nos dias em que você e Artur saíam eu caminhava pela casa nadava na piscina mantinha-me ativa ela fez uma pausa seu olhar suavizando-se um pouco devo admitir que sua dedicação em me ajudar com fisioterapia mesmo acreditando que era inútil contribuiu significativamente para minha recuperação lembrei-me das inúmeras sessões em que movimentava seus membros aplicava compressas quentes e massage músculos tudo seguindo orientações médicas para manter a circulação sem nunca esperar uma recuperação real então os médicos estavam envolvidos apenas o Drmendes respondeu ela referindo-se ao médico particular que a atendia em casa e mesmo assim ele não sabia de todo o plano apenas aceitou seguir tratando uma paciente que secretamente já estava recuperada o dinheiro fala mais alto para alguns profissionais infelizmente guardei os documentos de volta na pasta sentindo-me simultaneamente traída e impressionada com a determinação daquela mulher e agora o que exatamente é esse plano de vingança que você mencionou helena caminhou até a janela observando o jardim noturno com uma expressão contemplativa arthur acredita que estou morta e que você está sozinha vulnerável e provavelmente desesperada conhecendo meu filho ele vai esperar alguns dias talvez semanas e então retornará para consolá-la e garantir que todos os trâmites legais da herança estejam encaminhados ela se virou para mim seus olhos brilhando com uma intensidade quase febril o que ele não sabe é que não há herança alguma transferi tudo para novas contas empresas fantasmas e investimentos que ele jamais conseguirá rastrear a casa onde estamos agora é legalmente o único bem que resta em meu nome e quando ele descobrir isso quando ele descobrir já será tarde demais respondeu ela voltando a se sentar porque estaremos preparadas para expor não apenas suas traições pessoais mas também suas atividades ilegais tudo documentado tudo pronto para ser entregue às autoridades competentes ela pegou minha mão entre as suas um gesto surpreendentemente maternal vindo daquela mulher que sempre havia sido tão distante mas para isso preciso da sua ajuda Elisa preciso que você continue interpretando seu papel de viúva desolada por alguns dias que siga com o funeral que receba as poucas pessoas que aparecerão que chore sobre um caixão vazio algo dentro de mim hesitou uma coisa era descobrir a traição do meu marido e a farça da minha sogra outra completamente diferente era me tornar parte ativa desse plano de vingança não sei se consigo fazer isso dona Helena não sei se quero me envolver nesse tipo de que tipo interrompeu ela seu tom subitamente afiado o tipo que faz justiça o tipo que impede que um homem cruel e desonesto saia impune após anos enganando as duas mulheres que deveriam ser mais importantes em sua vida ela apertou minha mão com surpreendente força pense no que ele fez com você Elisa 12 anos de casamento jogados fora traída com sua melhor amiga prestes a ser abandonada com uma suposta inválida enquanto ele começava uma nova vida com o dinheiro que por direito também é seu as imagens da videochamada voltaram à minha mente o sorriso debochado de Artur o olhar falsamente compadecido de Vanessa o brinde à liberdade deles a humilhação queimou novamente em meu peito misturada agora com uma raiva que eu não sabia que era capaz de sentir "o que exatamente você quer que eu faça? " perguntei minha voz mais firme do que estiver em toda aquela noite o sorriso de Helena se alargou satisfeito primeiro vamos ao seu funeral amanhã o funeral de Helena Monteiro foi exatamente como ela havia previsto escassamente frequentado rápido e sem grandes emoções além de mim apenas alguns funcionários antigos da empresa dois ou três parentes distantes que apareceram mais por protocolo do que por afeto e um punhado de vizinhos curiosos compareceram mantive a cabeça baixa durante toda a cerimônia parcialmente para evitar olhares e perguntas mas principalmente para esconder o turbilhão de emoções que ameaçava revelar meu segredo o caixão agora selado e significativamente mais pesado graças aos sacos de areia colocados durante a madrugada foi enterrado no mausoléu da família Monteiro onde gerações de antepassados de Arthur descansavam exceto Helena é claro que naquele exato momento estava em seu apartamento secreto no outro lado da cidade monitorando tudo através das câmeras que havíamos instalado discretamente no cemitério a semana seguinte passou em um borrão de atividades cuidadosamente orquestradas durante o dia eu interpretava o papel da viúva em luto recebendo algumas visitas de condolências organizando documentos e agindo como se estivesse completamente alheia aos planos do meu marido à noite encontrava-me secretamente com Helena em seu apartamento onde refinávamos cada detalhe do que ela chamava de O grande final ele ligou hoje informei a Helena em uma dessas noites exatamente 10 dias após o funeral estávamos sentadas na sala minimalista do apartamento dela cercadas por papéis computadores e equipamentos de vigilância disse que está voltando na próxima semana para cuidar de mim e resolver pendências da sua herança helena sorriu aquele mesmo sorriso calculista que eu começava a reconhecer como prelúdio de seus planos mais audaciosos perfeito exatamente dentro do prazo que prevos ela deslizou os dedos sobre um tablet verificando algumas informações vanessa vem com ele não mencionou mas imagino que sim ele disse que precisa de apoio emocional para lidar com a perda da mãe uma risada seca escapou dos lábios de Helena meu filho sempre teve talento para o teatro pena que desperdiçou esse dom em mentiras ao invés de construir algo genuíno ela me passou o tablet onde uma série de e-mails trocados entre Artur e um advogado estrangeiro estava aberta ele já está consultando como transferir a propriedade da casa e liquidar outros bens" explicou ela "mal pode esperar para transformar a morte da mãe em lucro.

" Li os e-mailos com um nó no estômago a frieza com que Artur discutia a venda da casa onde cresceu o desmembramento da empresa fundada por seu próprio pai e a liquidação de bens familiares de valor sentimental inestimável era desconcertante "ele sempre foi assim? " perguntei devolvendo o tablet "tão calculista? " Helena suspirou um suspiro que carregava o peso de décadas de conhecimento sobre o filho que criou artur sempre foi ambicioso desde criança não é uma característica ruim em si mesma o pai dele meu finado marido também era um homem de grandes ambições ela fez uma pausa seus olhos perdendo-se momentaneamente em memórias distantes mas Eduardo tinha princípios tinha uma linha que jamais cruzaria nem mesmo pelo maior dos lucros artur arthur nunca entendeu esse conceito ela se levantou caminhando até uma estante onde uma foto emoldurada mostrava um homem de meia idade abraçando um adolescente ambos sorriam para a câmera em frente a um veleiro depois que Eduardo morreu quando Artur tinha apenas 17 anos tentei manter os valores que meu marido tanto prezava tentei mostrar ao nosso filho que caráter vale mais que dinheiro ela tocou o rosto do marido na fotografia com delicadeza falhei miseravelmente como pode ver havia uma vulnerabilidade naquele momento que me fez ver Helena sob uma nova luz não como a sogra distante e depois supostamente inválida que conheci nem como a estrategista implacável que planejava vingança mas como uma mãe que assistiu impotente seu filho escolher um caminho que ela sabia ser destrutivo ainda estamos a tempo de desistir" ofereci um súbito impulso de compaixão "podemos simplesmente confrontá-lo quando ele voltar mostrar que sabemos de tudo pedir um divórcio civilizado e deixá-lo sair impune.

" O tom de Helena endureceu instantaneamente deixá-lo ficar com aquela mulher rindo de nós duas vivendo confortavelmente com o dinheiro desviado ao longo dos anos não Elisa algumas lições precisam ser aprendidas da maneira mais difícil ela retornou à mesa onde um grande mapa da propriedade estava aberto o plano segue como combinado quando Artur chegar você o receberá como a esposa desolada que ele espera encontrar vai mencionar que em respeito à memória de sua sogra querida organizou um pequeno jantar com as poucas pessoas que realmente se importavam com ela um adeus mais íntimo e significativo após o funeral protocolar e ele vai concordar com isso arthur nunca recusa uma oportunidade de parecer o filho dedicado em público especialmente se achar que isso solidificará a imagem dele como herdeiro legítimo e enlutado helena apontou para diferentes áreas do mapa repassando o posicionamento das câmeras ocultas microfones e a localização estratégica de cada convidado todos cuidadosamente selecionados por ela ao longo dos anos um advogado um contador forense um investigador particular e duas pessoas que ela se recusava a identificar referindo-se a elas apenas como testemunhas chave "e onde você estará? " perguntei ainda não convencida de que conseguiria manter a compostura durante toda essa encenação o sorriso de Helena retornou agora com um brilho quase juvenil de excitação no lugar mais óbvio e ao mesmo tempo mais improvável" respondeu ela bem diante dos olhos dele artur chegou exatamente como havia anunciado em uma manhã de quarta-feira dirigindo um carro alugado e com Vanessa ao seu lado observei pela janela da sala enquanto eles descarregavam malas do porta-malas mais malas do que seria necessário para uma curta visita de condolências meu coração disparou ao vê-los se aproximarem da porta não pela ansiedade do reencontro mas pelo medo de não conseguir sustentar a farça que havíamos criado respirei fundo recordando as palavras de Helena não está mentindo está apenas omitindo use a raiva verdadeira a mágoa real apenas direcione-a para o momento certo a campainha tocou contei até três antes de atender tentando parecer apropriadamente abatida e surpresa "arthur! " exclamei forçando uma voz embargada "você não avisou que chegaria tão cedo eu teria preparado algo?

" completou ele me abraçando brevemente antes de entrar arrastando duas malas enormes "não se preocupe com isso querida sei que tem estado ocupada com tudo ele fez um gesto vago com a mão como se a morte da própria mãe fosse apenas um inconveniente burocrático atrás dele Vanessa entrou hesitante seus olhos evitando os meus enquanto murmurava algo que deveria soar como condolências não esperava ver você aqui Vanessa" comentei mantendo o tom neutro apesar da raiva que fervia em meu interior "um vulcão prestes a entrar em erupção contido apenas pela promessa da vingança que se aproximava. " Ela desviou o olhar mexendo nervosamente na alça da bolsa de grife pendurada em seu ombro delicado "vim dar suporte ao Artur neste momento difícil" murmurou ela sua voz doce demais falsa demais e também queria estar presente para você Elisa afinal somos amigas há tanto tempo somos amigas o presente do verbo ecuou em minha mente como uma bofetada a audácia daquela mulher em se colocar ainda como minha amiga enquanto dormia com meu marido há anos me causou uma náusea instantânea que precisei engolir junto com todas as palavras que desejava cuspir em seu rosto perfeitamente maquiado "claro" respondi forçando um sorriso trêmulo "toda a ajuda é bem-vinda neste momento. " Arthur largou as malas no hall de entrada e olhou ao redor seus olhos avaliando cada canto da casa como se já estivesse mentalmente colocando tudo à venda "como você está lidando com tudo querida?

" perguntou ele sua voz carregando aquela falsa preocupação que eu agora reconhecia tão bem deve ter sido difícil cuidar de todos os arranjos sozinha baixei os olhos permitindo que as lágrimas genuínas embora por motivos completamente diferentes dos que ele imaginava embaçasse em minha visão tem sido um processo respondi escolhendo cuidadosamente cada palavra conforme havíamos ensaiado na verdade organizei um pequeno jantar para esta noite apenas algumas pessoas que realmente se importavam com sua mãe adeus mais íntimo percebi o momento exato em que a notícia o desagradou um leve franzir de sobrancelhas um enrijecimento quase imperceptível dos ombros sob o terno caro mas como Helena havia previsto o teatro social falou mais alto que ideia tocante disse ele visivelmente contrariado mas mantendo o sorriso quem estará presente apenas algumas pessoas o Drmendes que cuidou dela por tantos anos Drricardo o advogado que ajudou com o testamento dela dona Cecília a vizinha que sempre enviava flores e hesitei propositalmente uma antiga amiga de sua mãe que entrou em contato comigo após o funeral uma senhora que aparentemente conheceu seus pais na juventude este último detalhe capturou a atenção de Artur exatamente como Helena havia antecipado meu marido sempre fora obsecado pela imagem pública da família pelo legado Monteiro e a ideia de uma desconhecida com conexões ao passado de seus pais claramente o intrigava "uma amiga que amiga? " perguntou ele subitamente alerta senora Aurora acho que esse é o nome dela respondi vagamente virando-me para esconder o tremor nos cantos dos meus lábios ela ligou há alguns dias muito emocionada com a notícia disse que tinha assuntos inacabados para resolver em nome da sua mãe percebia Artur e Vanessa trocando olhares preocupados o anzol estava lançado a isca mordida bem parece que você pensou em tudo disse Artur finalmente forçando um tom leve vamos subir e nos acomodar então a que horas começa esse jantar de despedida às 19 horas respondi observando-os pegar as malas preparei o quarto de hóspedes para vocês artur parou abruptamente uma expressão de confusão cruzando seu rosto quarto de hóspedes mas achei que seria mais apropriado interrompi permitindo que minha voz tremesse levemente ainda não me sinto pronta para você sabe nossas rotinas mudaram tanto preciso de um pouco de tempo vi o desconforto em seus olhos a irritação mal disfarçada pela necessidade de manter as aparências era uma pequena vingança pessoal este desconforto que eu impunha a eles uma prévia do que estava por vir claro querida respondeu ele finalmente sua voz tensa compreendo perfeitamente observei subir as escadas carregando suas malas para o pequeno quarto no final do corredor o mesmo quarto onde sem que eles soubessem Helena havia instalado microfones e uma câmera discreta durante minha última visita ao seu apartamento assim que ouvi a porta do quarto se fechar peguei meu celular e enviei uma única mensagem para o número que Helena usava exclusivamente para nosso plano eles chegaram pássaros na gaiola a resposta veio quase instantaneamente excelente aurora está ansiosa para o jantar as horas que se seguiram foram um exercício de autocontrole que eu não sabia ser capaz de executar enquanto preparava a sala de jantar selecionava as louças mais finas e arrumava as flores nos vasos de cristal minha mente trabalhava incansavelmente revisando cada detalhe do plano artur e Vanessa permaneceram em seu quarto por horas saindo apenas para um breve passeio pelo jardim tempo suficiente para que eu confirmasse que os equipamentos de gravação estavam funcionando perfeitamente e para verificar os últimos preparativos com os convidados que chegariam em breve às 18 horas comecei a me arrumar escolhi um vestido preto simples elegante mas discreto apropriado para uma viúva em luto enquanto aplicava uma maquiagem leve estudei meu reflexo no espelho olheiras autênticas emolduravam meus olhos testemunhas silenciosas das noites mal dormidas desde que descobri a verdade sobre meu casamento mas havia algo novo ali também um brilho determinado que nunca havia notado antes não era apenas o plano de Helena que me movia agora era uma força interior que despertava lentamente como se cada mentira descoberta tivesse removido um peso que me mantinha submissa apagada perdida em um relacionamento que agora percebia ter sido construído sobre falsas premissas desde o início às 18:45 a campainha tocou respirei fundo ajustei meu vestido e desci as escadas encontrando Artur já na sala servindo-se de um copo de whisky vanessa estava sentada no sofá visivelmente desconfortável em seu vestido vermelho uma escolha questionável para um jantar de luto mas perfeitamente alinhada com sua personalidade "deve ser o Drricardo" comentei dirigindo-me à porta mas não era o advogado quem esperava do lado de fora era Márcia a assistente de Helena por mais de duas décadas uma mulher discreta e eficiente que raramente frequentava eventos sociais da família em suas mãos trazia uma pasta preta e uma expressão solene que não precisava ser fingida ela era uma das poucas pessoas que conheciam o plano completo "senor Elisa" cumprimentou ela formalmente entrando após meu convite "sinto muito por sua perda. " Artur se aproximou visivelmente surpreso com a presença inesperada márcia não sabia que viria elisa não mencionou foi um convite de última hora interveio Márcia calmamente encontrei alguns documentos importantes no escritório da senora Helena que achei que deveriam ser discutidos o quanto antes os olhos de Artur brilharam momentaneamente com o que reconheci como ganância mal disfarçada documentos que tipo de documentos acredito que seja melhor discutirmos durante o jantar quando todos estiverem presentes" respondeu Márcia seu tom não admitindo contestação a campainha soou novamente desta vez eram o Drmendes e o Drricardo chegando juntos o médico parecia genuinamente abatido compreensível considerando que até onde sabia sua paciente havia de fato falecido o advogado por outro lado mantinha a compostura profissional de sempre mas havia algo em seu olhar quando cumprimentou Artur algo que sugeria conhecimento os próximos a chegar foram dona Cecília a vizinha idosa que sempre enviara flores para Helena durante sua enfermidade e Pedro Henrique o contador forense que Helena havia contratado secretamente meses antes para investigar as movimentações financeiras de Arthur ele foi apresentado simplesmente como um amigo da família uma descrição vaga o suficiente para não levantar suspeitas imediatas "estamos apenas aguardando a Senora Aurora?

" perguntou Artur consultando seu relógio pela terceira vez em 5 minutos sua impaciência começando a transparecer sim" confirmei ela garantiu que estaria aqui como que atendendo a uma deixa em uma peça cuidadosamente ensaiada a campainha soou uma última vez às 19 horas em ponto meu coração acelerou enquanto caminhava até a porta sabendo exatamente quem encontraria do outro lado abri a porta para revelar uma mulher idosa que eu jamais teria reconhecido como Helena Monteiro o cabelo antes grisalho estava completamente branco e arrumado em um coque elegante óculos de armação grossa escondiam parcialmente seus olhos perspicazes rugas estrategicamente acentuadas com maquiagem transformavam seu rosto apoiava-se em uma bengala mas não havia nada de frágil em sua postura senora Aurora Prado anunciou ela com uma voz ligeiramente mais rouca que seu tom natural espero não estar atrasada nossos olhares se encontraram brevemente o dela transmitindo uma confiança absoluta que ajudou a acalmar meu nervosismo crescente de forma alguma respondi dando um passo para o lado por favor entre estávamos aguardando sua chegada para iniciar o jantar helena ou Aurora como seria conhecida nos próximos momentos cruciais entrou na casa com a familiaridade de quem conhece cada centímetro do lugar habilmente disfarçada como a curiosidade educada de uma primeira visita arthur se aproximou imediatamente seu sorriso profissional estampado no rosto enquanto estendia a mão artur Monteiro apresentou-se ele filho de Helena não me recordo de minha mãe ter mencionado seu nome antes helena apertou sua mão seus olhos estudando o rosto do filho por trás dos óculos grossos com uma intensidade que felizmente ele confundiu com a emoção de uma senhora idosa sua mãe e eu perdemos contato há muitos anos" respondeu ela sua voz carregando uma tristeza que não precisava ser fingida "um lamentável desentendimento que nunca conseguimos resolver completamente quando soube de seu falecimento senti que precisava vir fechar esse capítulo. " Artur sentiu sua expressão calculadamente compadecida "compreendo é muito gentil da sua parte comparecer mesmo após tanto tempo por favor junte-se a nós conduzi todos à sala de jantar onde a mesa estava impecavelmente arrumada lugares marcados estrategicamente posicionavam Aurora Helena na cabeceira oposta a Artur com os demais convidados distribuídos de maneira a facilitar tanto a conversa quanto a captura de áudio e vídeo pelos dispositivos ocultos o jantar começou em um clima de formalidade tensa com conversas educadas sobre o legado de Helena memórias cuidadosamente selecionadas e observações sobre como ela seria sentida arthur interpretava seu papel de filho emlutado com a precisão de um ator experiente enquanto Vanessa mantinha-se predominantemente em silêncio claramente desconfortável com toda a situação foi durante a sobremesa uma torta de limão que ironicamente era a favorita de Helena que Aurora finalmente direcionou a conversa para o território que havíamos planejado "é fascinante como a vida nos prega peças não é? " comentou ela olhando diretamente para Artur por cima da borda de sua taça de vinho sua mãe e eu éramos inseparáveis na juventude compartilhávamos todos os segredos todas as esperanças mas um único desentendimento foi suficiente para nos afastar por décadas que tipo de desentendimento se me permite perguntar indagou Artur sua curiosidade aparentemente genuína helena pousou a taça delicadamente sobre a mesa descobertas desagradáveis respondeu ela cada palavra cuidadosamente medida descobri que Helena estava sendo enganada por alguém muito próximo alguém que ela confiava cegamente quando tentei alertá-la ela não acreditou em mim preferiu confiar na pessoa errada um silêncio perceptível caiu sobre a mesa márcia trocou um olhar discreto com o Drricardo que sutilmente ajustou o relógio um sinal pré-combinado de que as gravações estavam funcionando perfeitamente e depois perguntou dona Cecília a única pessoa completamente inocente na mesa genuinamente interessada na história depois fui embora continuou Helena aurora não podia ficar e assistir minha amiga ser traída anos mais tarde quando Helena finalmente descobriu a verdade era tarde demais para reatar nossa amizade o orgulho a vergonha barreiras que nunca conseguimos superar completamente artur mexeu-se desconfortavelmente em sua cadeira percebi seu olhar brevemente encontrando o de Vanessa um lampejo de preocupação rapidamente mascarado "uma história triste" comentou ele claramente tentando encerrar aquele tópico "mas acredito que minha mãe viveu uma vida plena apesar dos percalços.

" Oh sem dúvida" concordou Helena Aurora com um sorriso enigmático sua mãe era uma mulher extraordinariamente observadora e paciente duas qualidades que admiro profundamente foi quando Márcia interveio seguindo perfeitamente o roteiro que havíamos estabelecido "falando em observações" disse ela abrindo a pasta que trouxera encontrei alguns documentos no escritório da senora Helena que acredito serem relevantes para todos os presentes especialmente para você Senr artur o semblante de Artur mudou instantaneamente seu sorriso congelando enquanto observava Mácia retirar uma série de papéis da pasta "se me permitem" interveio o Drricardo o advogado aceitando os documentos que Márcia lhe entregava como representante legal da família Monteiro acredito que posso esclarecer o significado destes registros ele ajustou os óculos e começou a ler registro de transações financeiras não autorizadas da conta principal de Helena Monteiro para contas offshore em nome de Artur Eduardo Monteiro totalizando R 2. 430. 000 ao longo dos últimos 5 anos o silêncio que se seguiu foi absoluto vi o rosto de Arthur empalidecer enquanto seus olhos corriam pela sala avaliando as expressões de cada pessoa presente vanessa parecia paralisada sua mão congelada no ar a caminho da taça de vinho "iso é absurdo" disse Artur finalmente sua voz traindo seu nervosismo "deve haver algum engano eu jamais não há engano algum" interrompeu Pedro Henrique o contador forense falando pela primeira vez desde o início do jantar como especialista em fraudes financeiras analisei pessoalmente cada transação há um padrão claro de desvio sistemático com tentativas sofisticadas mas rastreáveis de ocultação artur se levantou bruscamente seu rosto agora vermelho de raiva quem é você que direito tem de investigar minhas finanças pessoais isso é invasão de privacidade é é evidência completou o Drricardo calmamente evidência solicitada pela própria Helena Monteiro há aproximadamente um ano quando começou a suspeitar das atividades financeiras irregulares em suas contas vanessa finalmente encontrou sua voz frágil e trêmula "arthur do que eles estão falando?

" Ele a ignorou completamente seus olhos agora fixos em aurora Helena uma suspeita começando a se formar em seu olhar isso é algum tipo de armação acusou ele uma tentativa de me estorquir de manchar a reputação da minha família após a morte da minha mãe helena colocou os talheres cuidadosamente ao lado do prato e olhou diretamente para o filho "não Artur" disse ela sua voz abandonando gradualmente o disfarce de Aurora isso é justiça com um movimento deliberado ela removeu os óculos grossos revelando os olhos que Artur conhecia tão bem os mesmos olhos que o haviam observado durante anos de uma cadeira de rodas absorvendo cada mentira cada traição mãe a palavra escapou dos lábios de Artur em um sussurro horrorizado o som de várias cadeiras sendo arrastadas preencheu o ambiente quando os convidados todos exceto dona Cecília que parecia prestes a desmaiar se levantaram em um movimento coordenado "sim Artur" confirmou Helena sua voz agora completamente natural sua mãe que você tão convenientemente declarou morta enquanto planejava sua nova vida com o dinheiro que roubou dela vanessa levantou-se de repente derrubando sua taça de vinho sobre a toalha branca imaculada "isso é impossível" murmurou ela seu rosto pálido como papel "você estava no caixão houve um funeral eu vi as fotos. " "O que você viu Vanessa? " respondi finalmente assumindo meu papel ativo nesta confrontação foram imagens cuidadosamente encenadas de um funeral vazio para uma mulher que está muito viva arthur olhou ao redor freneticamente como um animal encurralado buscando uma rota de fuga seu olhar passou por cada rosto na mesa finalmente compreendendo que não havia mais ninguém ao seu lado "você também Elisa?

" perguntou ele sua voz uma mistura de raiva e incredulidade depois de tudo que fiz por você senti uma onda de indignação me invadir tão poderosa que me surpreendeu tudo que você fez por mim repeti minha voz crescendo com uma força que eu não sabia possuir você traiu nossa confiança durante anos mentiu roubou e planejava me abandonar com uma suposta inválida enquanto começava uma nova vida com minha melhor amiga é tudo um mal entendido tentou Artur seu tom desesperado posso explicar tudo as transferências eram investimentos legítimos eu tinha planos de multiplicar aquele dinheiro e poupe-nos Artur" interrompeu Helena sua voz cortante as gravações das suas conversas com seu cúmplice no banco das suas chamadas com Vanessa planejando como se livrar de mim das instruções detalhadas sobre como falsificar minha assinatura tudo está documentado tudo foi entregue às autoridades competentes esta manhã como para confirmar suas palavras a campainha da casa soou mais uma vez o Drricardo consultou seu relógio e assentiu para Helena "deve ser o investigador Silva" comentou ele pontual como sempre artur deu um passo em direção à porta dos fundos mas Pedro Henrique já estava posicionado estrategicamente bloqueando aquela saída não complique ainda mais sua situação Sr monteiro aconselhou o contador com frieza profissional fuga seria apenas mais uma acusação na lista já considerável foi nesse momento que percebi que o rosto de Vanessa havia mudado não havia mais choque ou confusão apenas um cálculo frio que me fez lembrar por ela e Arthur se entendiam tão bem não tenho nada a ver com isso" declarou ela subitamente afastando-se de Artur como se seu toque pudesse contaminá-la qualquer coisa que Artur tenha feito fez por conta própria eu apenas Apenas o ajudou a planejar como se livrar de uma senhora idosa em uma cadeira de rodas completou Helena seu tom perigosamente suave apenas sugeriu um asilo discreto no interior onde eu seria bem cuidada enquanto vocês esbanjavam meu dinheiro apenas comemorou minha suposta morte com champanhe em um hotel em Londres vanessa empalideceu ainda mais se é que isso era possível "como você? " Gravei tudo" respondeu Helena simplesmente "Cada conversa telefônica cada visita que você fazia enquanto Elisa estava trabalhando cada plano sussurrado no quarto ao lado do meu. " O som de passos firmes no hallas o Drricardo abriu a porta da sala de jantar revelando dois homens em trajes formais senora Monteiro cumprimentou o mais velho dos dois dirigindo-se a Helena com respeito formal conforme combinado temos os mandados necessários helena assentiu uma expressão de profunda tristeza e resolução em seu rosto enquanto observava seu filho o menino que havia criado o homem que havia se tornado ser informado sobre seus direitos enquanto as acusações eram formalmente apresentadas artur parecia estranhamente pequeno agora sua arrogância evaporada deixando apenas a casca de um homem que construir sua vida sobre mentiras e traições vanessa não foi poupada como cúmplic-se em várias das atividades de Artur incluindo a tentativa de fraudar o testamento de Helena e o plano documentado de internação forçada ela também enfrentaria sérias consequências legais enquanto os observava sendo conduzidos para fora da sala um estranho vazio se instalou em meu peito não era a satisfação que eu esperava sentir nem o triunfo da vingança completa era algo mais complexo uma mistura de luto pelo casamento que nunca foi real alívio pelo fim das mentiras e uma inesperada sensação de liberdade helena se aproximou colocando uma mão gentil em meu ombro acabou Elisa disse ela suavemente ou talvez apenas começou olhei para aquela mulher extraordinária que havia orquestrado tudo com precisão meticulosa motivada não apenas pelo desejo de justiça mas também percebi agora por uma genuína preocupação comigo "o que acontece agora?

" perguntei sentindo-me subitamente exausta helena sorriu aquele sorriso que eu começava a reconhecer não como calculista mas como determinado agora minha querida reconstruímos você sua vida eu minha relação com o mundo ambas nossa dignidade naquele momento enquanto os últimos convidados se retiravam discretamente e a casa gradualmente retornava ao silêncio percebi que Helena tinha razão o velório vazio havia sido apenas o início não de uma morte mas de um renascimento para ambas seis meses se passaram desde a noite do confronto a mansão Monteiro foi vendida por decisão mútua nem Helena nem eu desejávamos permanecer em um lugar impregnado de tantas mentiras o dinheiro da venda somado aos valores recuperados das contas de Artur foi reinvestido na empresa da família agora sob nova gestão helena decidiu viajar realizando sonhos adiados por décadas de responsabilidades e posteriormente pela farça da invalidez cartões postais chegavam regularmente de praias paradisíacas cidades históricas e montanhas imponentes cada um assinado simplesmente com aurora um lembrete irônico do papel que ela desempenhara naquela noite decisiva quanto a mim descobri uma força interior que não sabia possuir retomei minha carreira interrompida em arquitetura inicialmente com pequenos projetos depois assumindo comissões cada vez mais significativas o divórcio contrariando as expectativas de Artur foi surpreendentemente rápido as evidências esmagadoras de suas atividades fraudulentas deixaram pouco espaço para contestações vanessa cumpriu sua pena relativamente curta ela havia feito um acordo fornecendo detalhes adicionais sobre outras atividades ilegais de Artur e depois desapareceu completamente de nossas vidas soube por amigos em comum que ela havia se mudado para outro estado presumivelmente para recomeçar longe do escândalo arthur não teve a mesma sorte as múltipl acusações somadas às evidências irrefutáveis cuidadosamente coletadas por Helena ao longo dos anos resultaram em uma sentença significativa visitei-o apenas uma vez na prisão não por perdão ou reconciliação mas por encerramento precisava olhar nos olhos do homem que havia construído nossa relação sobre falsas premissas e dizer em voz alta que estava seguindo em frente naquela visita encontrei um homem diferente do Artur arrogante que conheci envelhecido prematuramente com olheiras profundas e sem o brilho calculista no olhar por um breve momento sentiu uma pontada de compaixão não pelo criminoso que havia manipulado tudo e todos ao seu redor mas pelo menino que Helena uma vez amara pelo potencial desperdiçado em ganância e desonestidade sua mãe perguntou se você precisa de algo" disse eu após alguns minutos de conversa tensa um lampejo do antigo Artur surgiu momentaneamente ela preocupada comigo depois de tudo que fez "depois de tudo que você fez Artur. " Corrigi suavemente e sim apesar de tudo ela ainda é sua mãe ele não respondeu seu olhar perdendo-se em algum ponto distante além da janela adiada "sabe o que é mais difícil?