a divisão sexual do trabalho é uma questão de gênero as mulheres ainda dedicam o dobro do tempo semanalmente as tarefas domésticas ao cuidado dos filhos das pessoas idosas do que o tempo dedicado pelos jovens isso diz muito sobre como organizamos a vida no cotidiano [Risadas] [Música] eu vejo a divisão sexual do trabalho como elemento central para que a gente possa entender a permanência das desigualdades de gênero é central também porque olhando para as relações de trabalho a gente percebe que as vantagens das mulheres não se estabelecem apenas numa perspectiva de gênero é conectando gênero classe
raça que é possível com quem vender algo foi dito fura algumas alturas que analisaram as mudanças nas relações de gênero no patriarcado na modernidade que é que as mulheres hoje elas não são exatamente excluídas das relações na esfera pública da esfera pública mas elas entraram em condição de desvantagem e essa desvantagem ela vai sendo reproduzida ela é reproduzida no âmbito institucional é reproduzida por um cotidiano que alimenta e instituições que contam com papéis bastante diferentes de homens e mulheres e que qualificam o trabalho de homens e mulheres de maneira muito distinta isso é particularmente relevante
quando se pensa na posição das mulheres negras que são maioria entre as pessoas que exercem trabalho precarizado e são também aquelas que chefia os usuários com menor renda no brasil então a gente observa que não se trata exatamente de pensar as mulheres na sua posição na vida doméstica mas de entender como é que se articulam posições na vida doméstica e na vida pública que tem a ver com como o circuito da precarização do trabalho e da desvalorização das vidas das mulheres negras se estabelece a divisão sexual do trabalho ela é uma questão de gênero as
mulheres ainda dedicam o dobro do tempo semanalmente as tarefas domésticas ao cuidado dos filhos das pessoas idosas do que o tempo dedicado pelos jovens isso diz muito sobre como organizamos a vida no cotidiano é algo que tem consequências para além desse cotidiano do méxico uma vez que dedicando mais tempo as tarefas domésticas as mulheres têm menos tempo para dedicar a outras atividades como a política por exemplo é menos energia é a muita energia consumida no trabalho do méxico trata se de algo que se repõe dia após dia é vejo a divisão sexual do trabalho doméstico
como elemento muito importante para se entender o fato de que a renda média das mulheres permanece cerca de 25% menor que a dos homens no momento em que elas têm maior acesso à educação formal então não é possível utilizar o argumento de que essa renda menor ela guarda uma memória de quando as mulheres eram menos formalmente capacitadas por exercício profissional não ela não guarda a memória desse tempo ela é a atualização de responsabilização desigual por outros aspectos da vida com o trabalho doméstico cuidar dos filhos e cuidar das crianças essa renda desigual do trabalho ela
tem relação sobretudo com dois aspectos das relações de gênero o é que alguns tipos de trabalho são marcados pela gratuidade historicamente então o exercício do trabalho do méxico cuidar de alguém lavar a louça cozinhar para os alimentos é foi visto como o trabalho gratuito a ser exercido por mulheres em favor dos homens que são portanto deliberadas né então esse é um aspecto importante porque mesmo quando são exercidos de maneira remunerada eles guardam esse registro da gratuidade é o trabalho feminino é marcado por uma história da oferta gratuita de tipo de trabalho que é só são
pouco valorizados porque é exercido por mulheres porque olhando de uma outra perspectiva são trabalhos fundamentais é compensar o cotidiano da vida sem que esses trabalhos sejam realizados mas há um outro ponto é a gente precisa se perguntar porque é que esse problema da desvalorização de um trabalho fundamental não é transformado num problema político num problema político central e aí entram outras questões uma delas é que não é uma coincidência que quem desempenha o trabalho do méxico trabalho de cuidado seja justamente quem está presente em menor número na política nos espaços em que o debate público
toma forma é em espaços institucionais sobretudo nos espaços em que os recursos são alocados bom então se a gente pensa que é que exerce todos os dias esse trabalho é quem é que o exerce é como uma forma de manter a vida andando manter a reprodução da vida e quem é que está dentro do congresso nacional que está nos legislativos estaduais os legislativos municipais a gente entende que existe uma desconexão entre a experiência cotidiana que está envolvida no trabalho doméstico e como a agenda pública se definir quem toma parte na construção dessa agenda pública por
isso que eu faço uma relação é é uma relação complexa mas que parece incontornável entre a permanência da responsabilização desigual das mulheres pelo trabalho doméstico ea sub representação das mulheres na política porque de um lado a divisão sexual do trabalho ela retira das mulheres recursos importantes para que possam atuar politicamente de outro porque não estão na política essa condição não é politizada esse problema não é trazido aos debates como um problema público de de grande relevância ainda que a experiência das pessoas aaaah o trabalho doméstico seja um aspecto central mas ele é central de lugares
diferentes é a gente tem que se perguntar de que maneira ele é central para quem desempenha de que maneira ele é central para quem recebe e talvez nem perceba o que é que ele significa o tempo que é tomado pela realização do trabalho doméstico a energia que é tomada é a desvalorização que existe deste trabalho pensando na conexão que existe entre o trabalho doméstico ea política é interessante observar que os homens são maioria na política mas não é só isso são determinados homens que constituem a maioria na política são homens brancos e são homens cujas
mulheres também têm uma posição que lhes permite contratar outras mulheres para realizar trabalho doméstico então o trabalho doméstico remunerado fornecido é sobretudo pelas mulheres negras nesse país ele é o que está mais distante da experiência da ampla maioria dos jovens que estão nos espaços da política institucional isso nos ajuda a compreender por que demorou tanto tempo pra gente conseguir equiparar os direitos das trabalhadoras domésticas aos direitos de outras trabalhadoras e trabalhadores algo que infelizmente é significa menos do que poderia significar uma vez que a nova legislação trabalhista ela retira direitos e deveres regulamenta o trabalho
de maneira que fica difícil é que a gente de fato perceba uma efetividade nas mudanças existentes na legislação ou melhor nessa efetividade é menor do que ela poderia ser uma vez que as garantias foram retiradas a todas as pessoas no livro eu afirmo que a produção do gênero se dá nas relações de trabalho que a divisão sexual do trabalho é um lócus fundamental na produção do gênero e talvez causa alguma estranheza porque as pessoas talvez tenham mais contato com a literatura que situa a produção do gênero no âmbito da sexualidade e de fato esse é
um outro da produção do gênio mas me parece importante que a gente resgate o fato de que os sentidos do feminino e do masculino e mesmo a mesma construção binária é dessa dualidade do feminino e do masculino tem uma relação estreita com as expectativas se tem das responsabilidades que devem ser assumidas das tarefas que devem ser desempenhadas por mulheres e por homens isso evoca um problema fundamental que é o da socialização das meninas e dos meninos desde muito cedo essas expectativas elas são parte da construção do que é então tornar-se uma mulher tornar se um
homem de uma maneira às vezes muito distante mesmo com todas as mudanças que aconteceram então a uma conformação conjunta pé do feminino e do masculino no âmbito da sexualidade e do desempenho de tarefas que se espera que sejam mulheres ou de homens não se trata no entanto de uma questão de diferenças mas de uma questão de como os privilégios se estabelecem as expectativas que têm de que as mulheres desempenho prioritariamente o trabalho doméstico o trabalho de cuidado no modo de organização atual da nossa sociedade elas implicam desvantagens profundas para as mulheres são parte dos circuitos
que tornam suas vidas especialmente vulneráveis sobretudo as vidas das mulheres negras eu sou flávio biroli sou professora de ciência política da universidade de brasília e autora do livro gênero desigualdades limites da democracia no brasil sobre o qual fala nessa série de vídeos produzida pela boitempo