Olá, meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs, bem vindos mais uma vez ao nosso programa Testemunho de Fé, o último programa deste ano de 2018, nós celebramos nesse último domingo do ano a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Trata-se do domingo que está na Oitava de Natal e a gente é convidado pela Igreja a contemplar essa realidade do convívio de Jesus, Maria e José, e esse caminho de santidade que é conviver com Jesus. Bom, o Evangelho desse domingo é um Evangelho um pouco, diríamos assim, um pouco surpreendente, Jesus nasceu agora, dia 25 de dezembro, acabamos de comemorar Jesus que nasceu, mas no domingo seguinte, Jesus já está com 12 anos, ou seja, houve uma espécie de pulo no tempo, porque o Evangelho nos apresenta Jesus com 12 anos, no Templo de Jerusalém.
Trata-se de São Lucas, capítulo 2, versículos de 41 a 52, mas é um Evangelho interessante porque ele nos mostra exatamente o convívio familiar e joga uma luz enorme sobre aquilo que é a nossa missão em nossas famílias. Então vamos lá, bom, primeiro vamos fazer uma contextualização histórica, diz assim que "os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa, quando Ele completou 12 anos subiram para a festa como de costume", bom, aqui nós vemos Jesus, Maria e José obedientes à Lei do Antigo Testamento, mas, o fato de Jesus estar com 12 anos é importante porque era nesta idade que o judeu, o homem judeu, se tornava responsável por seus atos. Mais tarde, alguns séculos depois de Jesus, os judeus desenvolveram um rito chamado Bar-Mitzvah, o Bar-Mitzvah é quando o menino completa 13 anos, na verdade, é proclamada a maioridade, o pai do menino faz uma oração de ação de graças, dizendo: "Graças a Deus eu não sou mais responsável pelos pecados do meu filho", até então o responsável era o pai, agora te vira nego, o menino que vai ter que responder diante de Deus, se você não tá respondendo à obediência da Lei antes dos 13 é culpa do seu pai e da sua mãe, daqui para frente você é quem tem que responder diante de Deus, então, todos os preceitos da Lei agora a responsabilidade é do menino.
Estou dizendo que hoje os judeus celebram, numa cerimônia de Bar-Mitzvah, com 13 anos, na época de Jesus essa cerimônia não existia, mas já existem documentos históricos que atestam que exatamente com 12 anos de idade, o menino já era considerado responsável e aqui nós vemos exatamente isso. Esse episódio que a gente está acostumado a contemplar quando reza o terço, Jesus perdido e reencontrado no Templo entre os doutores, é um episódio em que nós vemos o quê? Que Jesus, de fato, se comporta agora como um adulto, ou seja, Maria e José foram e Ele ficou, como um adulto responsável.
É importante essa história da idade porque se a gente está falando aqui de família, de pátrio-poder, de obediência dos filhos para os pais, temos que entender que nós consideramos uma pessoa responsável pelos seus atos com 18 anos, plenamente responsável com 21, mas, na época de Jesus, 12 bastava. Então, nós estamos vendo aqui Jesus mostrando a Sua identidade de adulto, também porque é evidente que na sabedoria que Ele mesmo vai demonstrar diante dos Mestres, Doutores da Lei ali no Templo, Jesus encontrado no Templo entre os Doutores discutindo a respeito da Lei, já mostra a sabedoria não somente de um adulto, mas, mais do que um adulto que é aqui o fato que nós estamos diante de Deus, a Palavra de Deus que Se fez Homem, a Sabedoria Encarnada. Jesus é a Sabedoria Encarnada.
Muito bem, tudo isso para colocar um pouco o contexto histórico, uma dificuldade que geralmente as pessoas apresentam com relação a essa história de Jesus perdido e reencontrado no Templo entre os Doutores, é a seguinte, o pessoa fica perguntando: "Espera lá, mas que irresponsabilidade de Maria e de José de perderem Jesus e só se dar conta um dia depois, quer dizer, eles partiram de Jerusalém, fizeram um dia de viagem e só no final do dia, cadê Jesus? Que pai, que mãe desleixados! É que acontece o seguinte, as caravanas era divididas entre um grupo de homens e um grupo de mulheres e as crianças, digamos assim, que ainda não tinham se casado, podiam escolher em qual dos dois grupos eles estariam e então, o que acontece é que São José pensava: "Ah, Jesus foi com Maria!
" e Maria pensava: "Não, Jesus está com José! ", eles caminharam o dia inteiro, chegaram e não encontraram Jesus, é evidente que se eles caminharam um dia, voltar para Jerusalém foi um dia de caminhada também, então, já foi o segundo dia, o terceiro dia para procurá-Lo e finalmente achá-Lo, os três dias simbólicos que também aludem e fazem a gente se recordar dos três dias de Jesus no túmulo. Os três dias em que nós perdemos Jesus.
Bom, até aqui só uma exploração meio externa da realidade do Evangelho, vamos ao que interessa, vamos à nossa meditação, primeira coisa, é o Domingo da Sagrada Família, o que quer dizer uma família? Nós temos que nos recordar que a família é uma realidade biológica sim, porque o homem se une à mulher e dali nasce a prole, nascem os filhos, sem dúvida alguma, mas é uma verdade muito mais do que biológica, ou seja, tem um substrato biológico do pai biológico, da mãe biológica, é necessário para que haja uma família completa que haja alguém do sexo masculino que desempenhe o papel de pai, alguém do sexo feminino que desempenhe o papel de mãe, mas não é só uma questão biológica, porque se fosse assim, filhos adotivos não seriam família, é uma questão também espiritual, uma questão espiritual também porque os animais não tem família, e onde é que a gente vê que está a realidade mais importante da família? Está no fato de que, na família, os filhos devem se abrir aos paternos conselhos, esse é um conceito que se encontra claramente na Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino e isso define com muita clareza uma família.
Para que haja uma família é necessário que haja não somente biologia, é necessário que haja virtude e aqui a gente já vê a diferença entre a família, tal qual Deus pensou e esses novos formatos de família que estão por aí. "Ah, nós não somos contra a família", dizem alguns ideólogos, "Nós somos a favor de todos os tipos de família. Família de homem com homem, mulher com mulher, dois homens e três mulheres, quatro mulheres e cinco homens, etc.
, então, qualquer coisa é família hoje em dia. Bom, acontece o seguinte, aqui tem um pressuposto que faz com que nós não possamos usar o nome de família para estas realidades, o primeiro pressuposto é o seguinte: é que nós só entendemos que existe família quando uma pessoa obediente a Deus e cheia de virtude alcançou a sabedoria e, nesta sabedoria, os seus filhos seguem paternos conselhos. Veja, isso significa que as famílias biológicas deveriam ter pais e mães virtuosos para serem famílias de verdade e não um aglomerado biológico, porque o que nós temos hoje em dia é isso, por que as famílias estão se destruindo?
As famílias estão se destruindo porque sangue somente, aglomerado biológico, não faz família, porque senão animais tinham família, as vacas tinham família, os bois tinham família, não têm, não têm, um aglomerado biológico não faz família, o que faz é o seguinte: a virtude dos pais. A virtude dos pais que, obedecendo a Deus, seguindo e buscando a sabedoria de Deus, então podem educar seus filhos. Um filho deve obedecer ao pai e à mãe quando este pai e esta mãe estão pedindo a este filho que faça algo que é vontade de Deus e nesse sentido, este Evangelho é exemplar, uma coisa exemplar: Maria e José procurando Jesus, quando encontra Jesus no Templo, o Menino, aparentemente desaforado, mas só aparentemente, se você olhar profundamente a frase não tem desaforo algum, o Menino, aparentemente desaforado, chega e diz: "Por que Me procuráveis?
", mas aí vem depois da pergunta, a frase que ilumina o aparente desaforo: "Não sabíeis que devia estar na casa do Meu Pai? ", ou seja, "convém antes obedecer a Deus que aos homens". Se um pai ou uma mãe pedir a uma criança de sete anos de idade, que já tem o uso da razão, para desobedecer a vontade de Deus, sabe o que essa criança tem que fazer?
Desobedecer aos pais e obedecer a Deus e morrer mártir, se for necessário. O pessoal acha que o quarto Mandamento é "obedecer pai e mãe", o quarto Mandamento não é "obedecer pai e mãe", o quarto Mandamento é "honrar pai e mãe", você honre o seu pai e a sua mãe, agora, obediência você deve a eles, eu devo obediência ao pai obediente, se meu pai está me pedindo pra eu ofender a Deus, devo desobedecê-lo, porque, naquele momento, ele deixou de cumprir a sua missão paterna. Qual é a missão de um pai em uma família?
A missão de um pai em uma família é obedecer a Deus e por paternos e sábios conselhos, levar seus filhos à obediência de Deus. No dia que esse pai desobedece a Deus e aconselha o filho a desobedecer a Deus, acabou a autoridade paterna, tchau, um abraço, fui, não te obedeço, então isso daqui já mostra porque as famílias estão se desfigurando, porque as famílias estão se desfazendo, estão se desmontando, porque pai e mãe devem ser obedientes a Deus, em primeiro lugar, para que então sejam obedecidos e respeitados pelos seus filhos. Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, obedecendo à Lei, aqui mostra como São José e Nossa Senhora eram obedientes a Deus, eram plenamente obedientes a Deus e por isso Jesus lhes prestava obediência, "era-lhes submisso", eis o que está escrito no versículo 51 deste Evangelho, "Jesus desceu então com seus pais para Nazaré e era-lhes obediente", submisso, nós devemos nos submeter uns aos outros, nós devemos nos submeter e obedecer aos obedientes.
Se uma pessoa obediente a Deus me dá paternos conselhos para que eu obedeça, eu devo obedecer, essa pessoa deve ser obedecida por mim e é isso que vai fazer a família crescer, o que faz uma família permanecer unida é a submissão a Deus. O pessoal que critica a Igreja Católica dizendo: "Ah, vocês têm uma visão ultrapassada de família, nós somos abertos às novas famílias", eles não entendem o seguinte, eles acham o quê? "Ah, o modelo da Igreja Católica é o seguinte: tem um ditador, macho patriarca, que é o dono da mulher e ele submete a mulher a uma escravidão, é o dono dos filhos e usa a mulher como instrumento também para submeter os filhos, para que os filhos estejam lá debaixo da sua ditadura", não, na visão natural da família e daquela que a Igreja defende, o primeiro submisso e obediente é o pai de família, e a este obediente pai de família então obedeça o resto da família, mas somente os obedientes é que têm autoridade para serem obedecidos.
E aqui então, o Evangelho desse domingo é extremamente, ao mesmo tempo, tradicional e revolucionário: tradicional porque mostra o princípio de obediência, a obediência aos pais, Jesus obediente aos pais vai a Jerusalém com eles, obediente aos pais volta para Nazaré e é submisso a eles, mas, ao mesmo tempo, mostra que existe uma obediência maior e superior, acima dos pais, que é a obediência a Deus e, com isso, Jesus libertou-nos, libertou-nos sim, libertou-nos de toda tirania, inclusive de todos os poderes ditatoriais dos Estados totalitários, das ditaduras, etc. , etc. , porque aqui Ele está estabelecendo o princípio de que "convém antes obedecer a Deus que aos homens", Jesus é obediente a José e a Maria, mas, sendo Filho de Deus, tem inspirações divinas que eles não conhecem, que Maria e José não conhecem e se o Pai do Céu está pedindo, Ele vai obedecer ao Pai do Céu.
Não é que Ele está desobedecendo Maria e José, é que Ele está obedecendo a Fonte a quem Maria e José eram obedientes. É por isto que Maria não se revolta, Maria quando ouve a resposta aparentemente desaforada do Menino: "Por que Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devo estar na casa do Meu Pai?
", ela, de início, não compreende a coisa, mas "Maria conservava no coração todas estas coisas e as meditava", porque sabia que aquele Menino era Filho de Deus e que ela devia se calar diante daquilo. Pois bem, como nós podemos aplicar isso na nossa vida? Vejam, existe um a leitura alegórica dessa passagem muito importante para o nosso dia a dia que é o seguinte: Orígenes, ao comentar essa passagem diz assim: "Não é correto dizer que Jesus Se perdeu", por que como pode Ele, o Filho de Deus, se perder?
Não tem como. Ele não se perdeu, é que José e Maria perderam Jesus, é diferente, a gente contempla no Terço "Jesus perdido (é o passivo) e reencontrado entre os doutores", quem perdeu? Quem perdeu foi Maria e José e quem reencontrou?
Maria e José, mas Jesus não se perdeu, Ele não ficou desorientado no meio da multidão, feito um bobão e se perdeu, não, Ele é sábio, é a Sabedoria Encarnada, não vai se perder. Então Orígenes lembra isso, assim são as Sagradas Escrituras, quando a gente lê a Bíblia, quando a gente lê a Palavra de Deus, é a Sabedoria que está ali, pode ser que você não entenda e tenha perdido o sentido da Bíblia, você pega uma página da Bíblia e diz: "Poxa, mas o que isso quer dizer? " e fica buscando o sentido durante três dias, porque Jesus perdido e reencontrado no Templo entre os doutores é a Palavra de Deus que, muitas vezes, nós, no nosso dia a dia, na nossa vida espiritual, ficamos perplexos e admirados com certas passagens bíblicas e a gente diz assim: "Poxa vida, perdi Jesus nessa página, cadê Ele?
" e é preciso buscar, porque não é possível, não existe nenhuma passagem das Sagradas Escrituras que não tenha ali uma sabedoria profunda e divina. Você dizer que aquela página da Bíblia não faz sentido, é a mesma coisa que você dizer que Jesus se perdeu no Templo como um boboca e Jesus não é um tolo, se você está achando uma passagem bíblica tola, é porque o tolo é você, foi você quem perdeu Jesus ali e você precisa procurá-Lo. Uma vez que você encontra Jesus, Sabedoria Encarnada, na Bíblia, nos ensinamentos da Igreja, nos ensinamentos dos Santos, na Santa Tradição, uma vez que você enxerga essa verdade, deve obedecê-la e deve fazer como Maria, meditá-la no seu coração, guardar estas coisas no seu coração, uma vez que você encontra a verdade de Cristo.
Vejam, Jesus nesta passagem do Evangelho está mostrando para Maria, para José e para os Doutores da Lei no Templo, que Ele é o pater-familias, Ele é o Pai de todas as famílias, como diz a profecia de Isaías, se não me engano, Ele é o Pai dos Tempos Futuros, Ele é o Pai no qual todas as nossas famílias têm um fundamento e Ele no Templo entre os Doutores, ensina. Ouça os paternos conselhos de Jesus, como nós ouvimos os paternos conselhos de Jesus? Simples, às vezes os paternos conselhos de Jesus chegam a você porque você está lendo a Bíblia, então, iluminado por Deus, chega e vê o sentido daquilo tudo, mas, mais comumente, os paternos conselhos de Jesus nos chegam através dos santos, nos chegam através do Magistério da Igreja, nos chegam através da Santa Tradição, nos chegam através do seu catequista fiel, nos chegam através de um padre, sacerdote, pregador fiel, nos chega através de algum grande teólogo, doutor da Igreja, ali, através de todas essas realidades boas e virtuosas, nos chegam os paternos conselhos e aí nós podemos ser família.
Eu costumo dizer aqui no site, no meu site padrepauloricardo. org que nós somos uma família e tem gente que acha que isso é um recurso de marketing, é um negócio assim, "Venha fazer parte da nossa família" ou "compre você também o nosso produto", não é nada disso, não é marketing, existe uma verdade por trás, se você vir que o que nós estamos ensinando é obediência, obedeça, se você obedecer aos paternos conselhos, você faz parte dessa família, nós somos família e de uma forma muito concreta. Só que pra você ser família de verdade, não adianta ouvir: "Ah, eu estou ouvindo o Testemunho de Fé, toda semana eu ouço", entra por um ouvido, sai pelo outro, você precisa fazer igual a Virgem Maria que "conservava no coração todas essas coisas" e se você conservar essas coisas no seu coração, Jesus vai crescer no seu coração em sabedoria, vai crescer em seu coração em estatura, vai crescer em seu coração em graça diante de Deus e diante dos homens, porque Jesus de verdade, histórico, Jesus não crescia na graça, Ele já era Deus, não tem como crescer na graça, vai crescer como?
Vai crescer na graça em seu coração e no meu, Jesus se torna maior dentro de nós. Então, nesse domingo da Sagrada Família, para resumir e amarrar as pontas de tudo aquilo que nós dissemos, entendemos o seguinte: ser família não é uma coisa meramente biológica, o Pai do Céu é Aquele sobre o qual se funda toda família, portanto, um pai de família aqui na terra é aquele obediente que, ouvindo os paternos conselhos do Pai do Céu, da Palavra de Deus Encarnada na Sabedoria de Jesus, dá também paternos conselhos a sua família, deve ser obedecido aquele que é obediente, então a família será unida ao redor da obediência a Deus e não ao redor da biologia. Agora, para nós sermos cada vez mais obedientes, sermos cada vez mais família é necessário buscar Jesus perdido, e Jesus, às vezes está perdido numa página da Bíblia que a gente não sabe o sentido, você vai buscar a solução nos Santos Doutores, nos ensinamentos do Magistério, na Tradição da Igreja e você, procurando, vai meditar, meditando, Jesus vai crescendo no seu coração e você vai se tornando mais sábio.
Se você hoje não dá conta de ser um pai de família, uma mãe de família, vai crescendo em virtude, Jesus vai crescendo em sabedoria, idade e graça dentro de você, para que então você também possa levar seus filhos com sabedoria e obediência ao Céu, pelos seus paternos conselhos. Deus abençoe você. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Amém.