FUVEST| O essencial sobre "Alguma poesia", de Carlos Drummond de Andrade

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Marcos Ferrari
Em 1930, Carlos Drummond de Andrade estreava na literatura brasileira com seu conjunto de poemas de ...
Video Transcript:
Oi pessoal tudo bom Eu sou Marcos Ferrari sou professor de Literatura e um dos idealizadores do podcast café para dois e tô aqui para conversar com você sobre as obras literárias do vestibular da Fuvest mais precisamente sobre esta aqui alguma poesia o livro de estreia do Carlos Drummond de Andrade e para falar desse livro que é o início né de uma grande obra a obra do Drummond um poeta que atravessou todo o século 20 e é talvez o poeta mais importante da literatura brasileira é preciso lembrar do contexto em que esses poemas foram publicados porque
o Drummond que nasceu em 1902 lá em Itabira em Minas Gerais ele vai se formar como escritor ele vai se formar como poeta mais ou menos ao mesmo tempo em que está se desenvolvendo aqui no Brasil o nosso modernismo modernismo que segundo a nossa tradição né segundo os grandes religiosos da literatura embora haja aí algumas controvérsias teria começado em 1922 em São Paulo com a semana de arte moderna em 1922 o Drummond é apenas 20 anos e aqui em São Paulo no teatro municipal né naquelas três noites míticas hoje míticas né da Semana de Arte
Moderna se iniciou um novo e revolucionário em movimento que veio trazer novos paradigmas para arte para literatura brasileira pautado sobretudo na negação da arte do passado né da literatura excessivamente parnasiana excessivamente retórica que esses poetas esses artistas chamavam simplesmente de arte do passado passadista reacionário escrita poemas e textos escritos numa língua que não parecia a língua portuguesa de verdade né um excesso de Pureza gramatical de preciosismo uma completa negação da fala popular português coloquial que era né você sabe uma das marcas da poesia parnasiana que fez imenso sucesso no Brasil sobretudo na virada do século
19 para o século 20 e combatendo essa literatura que não falava sobre nós e que não vinha escrita numa língua que parecesse de verdade com a nossa os modernistas trazendo a herança das vanguardas europeias do cubismo do futurismo sobretudo chegaram com o pé na porta querendo revolucionar a literatura brasileira querendo a brasileira a nossa literatura né isso aconteceu aqui em São Paulo grandes nomes né da Nossa Arte estão Associados a Semana de Arte Moderna Mário de Andrade Oswaldo de Andrade Anita Malfatti entre muitos outros enquanto isso né enquanto essas propostas estavam sendo encenadas aqui em
São Paulo o jovem Carlos Drummond de Andrade um estudante ainda de farmácia né Foi fazer faculdade de farmácia um pouco para agradar ao pai que nunca compreendeu muito bem essa posição do Drummond como poeta né é ali em Belo Horizonte o Drummond Funda com outros amigos uma revista chamada a revista que seria uma tentativa de trazer para que ele contexto da sua cidade né o seu contexto Mineiro alguma reverberação do modernismo e é nessa época que o Drummond vai ter um encontro que vai selar decisivamente o seu destino o Drummond como todos nós sabemos é
um jovem e foi durante toda sua vida um homem muito tímido muito reservado muito fechado ou como ele mesmo vai se apresentar no poema de abertura do seu livro um roxo né Um Estranho um torto um desajeitado mas o Drummond aos 22 anos isso era 1924 descobriu que os seus Ídolos que os modernistas de São Paulo aqueles que tinha feito grande estouro com a semana de 22 estavam em Belo Horizonte Mário Oswald Tarsila não é que não participou da Semana de Arte Moderna estava na Europa Mas neste momento já estava de volta ao Brasil e
outros membros da oligarquia Paulista estavam passando por Minas Gerais na verdade estavam fazendo uma excursão para Ouro Preto né para aquela cidade histórica em Minas Gerais levando cíceronando um poeta francês chamado gless Sandra que estava no Brasil e queria conhecer as igrejas Barrocas as esculturas do Aleijadinho esse mundo aí do Ouro preservado lá na cidades históricas de Minas então eles estavam levando esse amigo francês passaram por Minas Gerais e o Drummond ficou sabendo que esses grandes escritores Sobretudo o Mário né que era o Papa do modernismo era o líder intelectual estava lá então o Drummond
vencendo a sua timidez absurda né Depois o próprio Mário de Andra que vai ficar muito amigo do Drummond depois o Mário de Andrade vai dizer que o Drummond era time dízimo e inteligentíssimo no superlativo o Drummond vencendo o seu timidez se apresenta a esses heróis né do modernismo até se chama né Essa primeira geração de geração heroica e se apresenta uma área de Andrade eles Então a partir dali desse primeiro contato vão estabelecer um contato epistolar ou seja o Mário volta para São Paulo né conhecer o Drummond leu alguns poemas do Drummond e eles passam
a ser corresponder por cartas e essas cartas gente vão se alongar por muitos anos é uma troca muito intensa essas cartas estão publicadas hoje em dia né as cartas do Drummond para o mar e do mar e pro Drummond hoje são lidas são realmente maravilhosas e mostram uma relação de mestre e aprendiz né o jovem Drummond estava aprendendo a ser poeta com Mário de Andrade ele mandava poemas o Mário respondia elogiava sugerir alterações e entre 1924 data né em que Como o próprio Drummond diz Foi a minha semana de arte moderna né foi o momento
em que ele se integrou de alguma forma a esse núcleo até 1930 quando é publicado alguma poesia é essa correspondência de Mário e Drummond vai fazer com que o Drummond vá preparando o seu livro de estreia sobre a Batuta né sobre a orientação do Mário de Andrade esse livro sai em 1930 é a estreia do Drummond e é de certa forma o livro do Drummond mais influenciado por essas propostas do primeiro modernismo Ou seja a ruptura com o verso tradicional a busca pelo verso livre que é o verso sem métrica pelo verso branco sem rima
a colonialidade a ironia né o tratamento não sério né o tratamento irreverente de assuntos como o amor Pátria o nacionalismo né que é uma das marcas é do modernismo né quer dizer trazer os grandes assuntos da literatura para o chão da existência né ou assim chamado poema piada né que são aqueles poemas curtos de poucos versos em linguagem muito coloquial que geralmente tem essa essa atmosfera de piada de anedota de pequena história engraçada que também é uma forma de contra né a seriedade daqueles poetas parnasianos de Torre de Marfim contra os quais os modernistas né
se colocavam ou seja essa tentativa de uma arte mais coloquial mais próximo do cotidiano com irreverência com humor constatera o Drummond vai fazer na sua primeira poesia mas para você que vai ler ou alguma poesia para você que leu alguma coisa sem dúvida tem um poema que merece a nossa atenção um poema que Aliás já era conhecido antes mesmo de 1930 ou seja antes mesmo do livro sair é o Drummond já havia publicado este poema numa revista chamada revista de antropofagia dirigida aqui em São Paulo pelo Oswald de Andrade isso era 1928 o Drummond ainda
não era conhecido drumou ainda Vivi em Minas Gerais não era um poeta médio alcance Nacional como ele se tornaria alguns anos depois ele envia esse poema para ser publicado na quarta edição da revista de antropofagia e de fato poema sai ali né também quando esse poema sai ele não gera tanto escândalo não gera tanto alvoroso mas com o passar dos anos né esse mesmo poema vai aparecer aqui vai ser discutido vai ser lembrado vai ser atacado e talvez esse poema tenha se tornado o poema mais célebre do Drummond mas por um motivos talvez não convencionais
né E foi o poema mais atacado mas criticado mais odiado talvez da história da literatura brasileira e eu acho que você sabe que eu tô falando né é o poema No meio do caminho eu vou ler para vocês para quem já viu para quem não leu para quem não conhece ou para quem já conhece quer lembrar esse poema que havia aparecido em 1928 e que o Drummond né coloca no seu livro de estreia diz assim no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra Talvez hoje para nós né sonho um pouco estranho o fato desse poema ter despertado reações tão diversas tão negativas a ponto de o Drummond em 1967 ou seja quase 40 anos depois da publicação original quando o Drummond já era sem dúvida uma unanimidade Nacional em 1967 o Drummond junta imagina só todas as críticas que esse poema recebeu
seja positivas houve algumas positivos sejam as negativas que foram A grande maioria os estudos as análises os comentários tudo que se escreveu sobre esse poema o Drummond recortou guardou pois na gaveta em 1967 ele publica uma espécie assim de biografia desse poema aliás Esse é o título né no meio do caminho biografia de um poema ou seja foi Talvez um poema mais discutido mais comentado mais analisado e mais atacado na literatura brasileira do século 20 o que faz a gente pensar um pouco na irreverência desse primeiro Drummond né porque ele é um poema óbvio que
quando a gente lê pela primeira vez né ele chama a nossa atenção pelo seu caráter repetitivo né no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho isso já é chocante mas há outros aspectos que também despertaram a ira sobretudo dos leitores mais convencionais dos leitores que usaram esse poema em grande medida para mostrar o quanto o modernismo seria pobre né o quanto modernismo seria incapaz de compor grandes problemas esse poema virou um pouco assim temos assim o cavalo de batalha dos críticos do modernismo
Primeiro vamos começar do básico né esses críticos viam no poema do Drummond um mau uso da língua portuguesa né do português não castiço porque ele começa dizendo assim no meio do caminho tinha uma pedra e a gente sabe que os poetas parnasianos vamos lembrar que Olavo Bilac Raimundo Correia Alberto Oliveira e tantos outros né os grandes poetas institucionais né lá da república velha é primavam pelo português perfeito pelo português castiço né pelo português vernacular e aqui o Drummond usa o verbo ter no lugar do verbo haver né quer dizer segundo a gramática normativa pelo menos
naquela época que não aceitava certas construções que depois né se normalizar o correto seria no meio do caminho havia uma pedra e não tinha uma pedra né já começa por aí um uso coloquial do português que até na literatura não era tão comum mas há um outro aspecto né esse poema que fala sobre o encontro com obstáculo é claro que a pedra que se transforma numa metáfora daquilo que te impede de caminhada aquilo que te atrapalha daquilo que te travanca portanto de um obstáculo é isso se revela na forma do próprio poema E é isso
que as pessoas digamos assim mais conservadoras daquela época não conseguiu perceber né Ele é um poema também travado ele é um poema que se repete no meio do caminho de uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra ou seja é como se o poema fosse a pedra percebe é como se o poema também nos impedisse de continuar porque a gente anda em círculos a gente volta sempre para o mesmo Ponto Se você olhar para o poema novamente você percebe que o terceiro verso tinha uma pedra ele pode
tanto ser a continuação do segundo tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra ou pode ser o início do próximo do quarto tinha uma pedra no Rei do Ou seja é como se esse poema andasse em círculos é como se houvesse alguma coisa que nos impedisse de prosseguir então a própria estrutura do poema isso é muito genial Isso é só realmente Drummond né grande poeta ela em cena o encontro com obstáculo o poema é o próprio obstáculo né que faz com que a estrutura seja extremamente repetitiva então a repetição ela já é conteúdo
a repetição já aponta para o conteúdo do poema que é qualquer coisa que você encontrou na sua vida você está sua vida pessoal seja na sua vida escolar ou sei lá profissional que te impediu de avançar isso é muito moderno isso é muito interessante mas é uma outra camada né que torna esse poema um poema chocante que é justamente o seu primeiro verso no meio do caminho tinha uma pedra esse adjunto adverbial aí no meio do caminho ele não é Inocente né o Drummond sabia muito bem o que ele tava querendo dizer aí porque o
Olavo Bilac que era assim o inimigo número um dos modernistas né justamente por representar essa poesia de caráter mais acadêmico Mas a cademicista mas parnasiano mais inspirado nos modelos da literatura clássica da literatura europeia filtrados né pelo parnasianismo francês ou seja um poeta muito sofisticado um grande poeta não é nada Brasileiro né portanto os modernistas o desprezavam um pouco o Bilac havia escrito muitos anos atrás um soneto Aliás o soneto né é a forma mais clássica mais elevada da poesia muito praticada pelos parnasianos escreveu um soneto que começava assim Nelly metso de caminho três pontinhos
em italiano mesmo né O que significa no meio do caminho você havia um soneto do Bilac cujo título e é um poema muito bonito sobre um casal que se encontra no meio do caminho da vida depois você separa e esse desperta e numa estrada Belo Soneto que tinha esse título Talvez o Drummond esteja brincando e aí a gente vê um pouco esse perfil é irreverente o que ele herdou desse modernismo né de digamos assim uma postura iconoclasta né digamos assim de não reverenciar de desconstruir de debochar a gente sabe que o deboche era uma arma
importantíssima para esses primeiros modernistas né no sentido de destruir essas tradições aí empoeradas da literatura do século 19 mas não é só isso não é só com o poema do Bilac que o Drummond parece estar polinizando mas sim com a inspiração do Bilac E aí o título italiano não é gratuito né é a frase né o início da Divina Comédia do Dante alighier aquele livro aquele poema é fundador da literatura italiana da língua italiana e certamente um dos poemas mais importantes do ocidente né que começa justamente assim né caminho de Nostra vida né no meio
do caminho de nossa vida porque o Dante quando escreveu A Divina Comédia lá na Baixa Idade Média a expectativa de vida das pessoas não ultrapassavam 60 anos que o Dante tinha exatamente 30 anos quando começou a escrever A Divina Comédia Portanto ele estava no meio do caminho da sua vida aos 30 anos e aqui nós encontramos o nosso Drummond do Brasil no meio do caminho não encontrando o sentido da vida não encontrando o seu grande amor como na poesia do Milagre Mas encontrando tão somente uma pedra né então como se o Drummond rebaixasse né Toda
essa tradição da literatura essa tradição muito séria Muito respeitável a um acontecimento prosaico né um acontecimento ordinário a um acontecimento banal que é você tropeçar numa pedra no meio da rua né Isso não é exatamente muito poético mas talvez esse seja o exercício do Modernista né contra digamos essa tradição parnas na romântica né do século 19 encontrar a poesia mesmo onde ela parece não existir que é no cotidiano que é no dia a dia que são nas banalidades que a gente encontra por aí né mas há uma outra coisa interessante aqui que é como Drummond
mescla esse estilo digamos assim mais prosaico né esse estilo em que você pode usar o verbo ter no lugar do verbo haver como a gente fala mesmo né tinha uma pessoa ali te esperando né tinha muita gente na festa é portugueses de todo mundo né raramente a gente vai usar o verbo haver numa conversa cotidiana ali numa conversa com amigos né é um estilo digamos assim mais chão né mais rebaixado mas olha na segunda estrofe quando o Drummond diz assim nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas retinas fatigadas né são
expressões que tem um certo sabor meio parnasiano né não são expressões cotidianas Pelo contrário né Elas têm um ar mais energia fatigadas em vez de cansadas né Então veja como o Drummond também opera essa mudança ou esse estilo que nós poderíamos chamar de estilo mesclado né a mistura do nobre do elevado das retinas tão fatigadas que seria o português mais castiço né o português que os parnasianos defendiam com incidentes na sua postura elitista né a gente sabe que a poesia parnasiana é essencialmente Ametista porque jogava fora o português coloquial e ao mesmo tempo no meio
do caminho tinha uma pedra que é totalmente assim cabe na nossa boca né é o português do dia a dia e essa mistura também é engraçada essa mistura também é reverente essa mistura marca o Drummond de alguma poesia que além desse poema que acho que né parece um poema tão simples mas a gente poderia passar tanto tempo falando sobre ele é impossível falar desse primeiro Drummond sem falar do seu poema de abertura porque quando Dumont estreia na literatura e aliás o próprio Mário de Andrade nas correspondências nas inúmeras cartas que eles Trocaram o Mário de
que sugeriu que o poema de Sete Faces fosse o poema de abertura fosse o carro chefe do livro alguma coisa né E você lembra que é um poema que começa assim quando nasci um anjo torto desses que vive na sombra disse vai Carlos sergosto na vida esse é o primeiro poema do livro alguma poesia né e o Drummond está se apresentando para nós né o Drummond é um poeta que tava estreando em livro e se apresenta para nós como um como um poeta de Sete Faces né até porque esse primeiro esse primeiro poema que até
hoje é um dos poemas mais lembrados do Drummond né É o primeiro é o primeiro poema do primeiro livro mas certamente é um poema inesquecível é um poema de sete estrofes né então a Sete Faces que que o compõem seriam na verdade sete aspectos desse eu né desse eu que muitos anos depois o Drummond vai chamar de um eu todo retorcido né que é esse Eu moderno esse indivíduo moderno que já não se vê como uma coisa única mas sim como eu fragmentado multifacetado ou seja é isso mesmo que você tá pensando o primeiro poema
do alguma poesia é um poema em que um eu que é o Carlos né aliás nos primeiros poemas do Drummond ele usa o seu nome o tempo inteiro né ele se chama de Carlos ou alguém nos chama de Carlos né Sossegue Carlos sempre assim né tá muito voltado para o indivíduo né tá muito lotado para o eu eh ele se apresenta como um eu feito de faces que não conversam porque o primeiro poema do do livro né isso é importante que você lembra ele é um poema de composição cubista ou seja ele é influenciado por
aquela Vanguarda europeia é que nas artes plásticas vão pensar em Picasso rack tantos outros né se Paulo tava justamente pela ideia pela possibilidade das artes plásticas mostrarem o mesmo objeto por mais de uma de mais de um ângulo por mais de um ponto de vista né Você deve lembrar daqueles quadros do Picasso em que aparece uma mulher na frente e de perfil ao mesmo tempo no mesmo plano Então essa composição cubista em que vários ângulos de um mesmo objeto podem ser vistos simultaneamente o Drummond faz isso na literatura e faz isso no seu primeiro poema
em que cada estrofe apresenta um aspecto desse indivíduo e esses aspectos não não estabelecem entre as estrofes uma relação de continuidade ou de linearidade São fragmentos num poema de inspiração cubista e ali o Drummond se apresenta para nós como um Ghost Geo Chi não é uma palavra do português né é uma palavra do francês e aqui uma observação ghost em francês significa esquerda né a mão esquerda virar a esquerda é uma palavra comum francês né não é uma palavra assim exatamente poética né ser roxa mas pro Drummond servo não é exatamente ser esquerdo embora em
francês também exista essa conotação né ser esquerdo no sentido de não ser o normal de ser torto de ser diferente né mas para o Drummond O gochismo né que aliás é um termo que já foi usado por um outro grande poeta e veja como o Drummond embora fosse jovem né embora não tivesse chegado nem aos 30 anos já tinha lido muita coisa né tava dialogando com grandes poetas bodeler né Charles bodeleram dos maiores poetas do mundo Talvez o primeiro poeta moderno né o primeiro poeta a falar da cidade na poesia já havia dito num dos
seus poemas mais famosos chamado Albatroz que o poema que o poeta se comparam ao Albatroz nesse compara um pássaro que é goshi né quando tá voando ele é maravilhoso ele é altaneiro mas quando esse pássaro é obrigado a andar né no chão quando é obrigado a andar em terra firme as suas asas são tão grandes que ele tropeça nas próprias asas ele não consegue se manter em pé ele é coxa ele é desajeitado ele é torto né Ele é feio quando ele é obrigado a pisar o chão firme da existência né não é não são
as alturas do céu mas é o hammerhal né é o resto do chão e aí o poeta se torna exatamente o estranho né é aquele que não se enquadra na sociedade aquele que não se encaixa numa sociedade da produção né da produtividade o poeta vai ser sempre aquele ser aéreo né meio desinstalado das estruturas e o Drummond já se apresenta assim né ser poeta é ser boa aliás o Drummond nem da própria família ele se encontrava né nem na Província Aliás o Drummond veio de Tabira Itabira do Mato Dentro interior de Minas Gerais uma família
de grandes fazendeiros uma família de aristocratas decadente uma família decadente quando o Drummond nasceu mas tinha sobrenome tinha tradição também no seio da família o Drummond não se encaixava aí o Drummond vem para para o Rio de Janeiro né ele vai para o Rio de Janeiro onde ele vai morar sua vida inteira e vai trabalhar ele tinha grandes amigos importantes na intelectuais que de certa forma o absorveram na burocracia do governo Vargas né ele vai ser um burocrata sobretudo por conta do convite que ele recebeu do seu amigo Gustavo Capanema que era de Minas Gerais
vai integrar o governo Vargas outro irmão vai ser um funcionário público né mas veja dentro do governo Vargas que daqui a pouco tempo vai adquirir uma uma conformação fascista né e o Drummond era um homem de esquerda comunista durante parte da sua vida o que eu tô querendo dizer é que o Drummond sempre vai se sentir um tanto quanto fora do esquadro assim né o Drummond sempre foi se sentir um pouco desajeitado seja a província né da vida besta ou alguma poesia há um dos poemas mais engraçados que aquele poema da cidadezinha qualquer né um
homem vai criar um burro vai devagar né Eita vida besta meu Deus né a vida besta a vida lenta a vida sem movimento em que nada acontece que a vida rural a vida da cidadezinha qualquer de onde o Drummond veio a família onde também né digamos assim ele não nasceu para ser um proprietário nasceu para ser um fazendeiro não nasceu para ser uma aristocrata como ele mesmo vai dizer mais para frente num dos seus livros da maturidade fazendeiro do ar né o poeta a única coisa que o poeta tem é o ar né as palavras
não a terra não a propriedade demoram um fazendeiro do ar também não se encaixava na família e quando ele vai para o Rio de Janeiro para trabalhar e também para escrever a sua obra ele também não se enquadra né você lendo alguma poesia você vê vários poemas em que ele critica ou ele desconfia da modernidade da vida urbana né do bom de que passa cheio de pernas pernas pretas brancas amarelas ou como num dos poemas mais interessantes nesse sentido na roça penso no elevador no elevador penso na roça ou seja o Ghost o ser goshi
programão parece ser assim uma condição Vital né uma condição básica da sua existência um desajuste essencial que faz com que ele por não se encaixar nem na Província nem na vida urbana nem na família nem no trabalho nem na política nem aqui nem ali né faz com que o primeiro Drummond e aí vamos somar aqui mais um aspecto psicológico né Como o próprio Mário de Andrade escreveu na resenha do alguma poesia Drummond é timedíssimo ou seja outro irmão era um cara que preferia ficar na encolha né o Drummond é aquele cara que na sua primeira
poesia prefere ficar à parte fora só observando então quando nós lemos ou alguma poesia nós vamos perceber esse poeta é atrás dos seus óculos né dos seus famosos óculos redondos que em vez de participar que em vez de assumir digamos no centro né o palco ele prefere ser apenas um observador irônico da vida urbana da vida familiar da vida burguesa que é satirizada em vários poemas da vida política né dos acordos das hipocrisias e tal também aparece aqui na vida familiar Ou seja da vida amorosa que vai aparecer naquele poema também célebre quadrilha né João
amava Teresa que amava Raimunda etc o desencontro amoroso o amor por interesse tudo isso Drummond flagra de longe né então ler alguma poesia é ler um livro de estreia de um grande poeta influenciado ainda pelos seus mestres do modernismo heróico sobretudo Mário de Andrade em busca dessa linguagem mais coloquial e menos peidante parnasiana mas que se limita a olhar né olhar e registrar ironicamente a vida que passa em torno dele e com a qual ele não se identifica agora uma curiosidade sobre o Drummond né esse primeiro Drummond que nós poderiamos chamar de um Drummond individualista
né eu eu quando eu nasci vai Carlos né esse indivíduo que não se mescla com os outros esse indivíduo que prefere ficar de fora é ou como alguém já disse aí né é o poeta cujo eu é maior que o mundo né o eu interessa mais que esse mundo que é o mundo ridículo né que é o mundo digamos assim do artifício da mentira da hipocrisia do fingimento ou eu é maior que o mundo esse Drummond vai mudar é do Drummond muda muito ao longo da sua obra é e pensando no vestibular da Fuvest pode
pedir que você compare Como já fez em outros momentos esse primeiro Drummond com os outros drummons que vieram e se desdobraram ao longo do século 20 porque esse primeiro Drummond Ghost isolado desajustado tímido né e portanto que dá um passo atrás que recua em relação à sociedade para poder olhar desencanto ironia ele vai se politizando com o tempo né e a partir do final dos anos 30 é com a ascensão do estado novo aqui no Brasil embora né como eu disse o Drummond tenha sido um funcionário público mas enfim isso também explica mais uma das
suas contradições né é um funcionário do Vargas mas obviamente do ponto de vista ideológico contrário a política nas fascista é o Drummond vai se engajar né E aí nós teremos livros em que o Drummond em vez de se sentir em vez de encarar a poesia como uma brincadeira parece que é isso né uma coisa não séria jocosa o Drummond ele vai encarar a poesia como algo muito sério com a possibilidade inclusive de transformar a realidade denunciando Os horrores da Guerra Os horrores do totalitarismo E aí nós vamos ter livros Como José sentimento do mundo e
a Rosa do Povo que ouviu não publicou em 1945 justamente no ano em que termina a Segunda Guerra Mundial e teremos um outro Drummond né que seria o Drummond terceira fase dos anos 50 o drummome metafísico o Drummond melancólico Drummond da velhice que depois do final da segunda guerra desiludidos Sobretudo com eh a guerra fria né termina uma guerra começa a outra essa política que parece que nunca muda o Drummond se diz ilude também com a esquerda eu mesmo tempo com a direita esse Drummond dos anos 50 é um Drummond que se recolhe é um
Drummond que vai voltar as formas fixas é o Drummond que vai escrever grande sonetos é o Drummond que vai escrever a máquina do mundo é o Drummond que vai voltar ao verso metrificado sendo muito criticado por isso né o Drummond lá dos anos 50 vai dizer assim não quero mais ser Moderno agora eu quero ser eterno e vão cair de porrada no Drummond de novo vamos dizer que ele traiu o modernismo ou dizer que o Drummond encaretou né mas esse Drummond digamos assim mais clássico né esse Drummond da velhice esse Drumond da madureza né como
ele dizia é vai renegar Inclusive o seu passado Modernista né nessa altura o Mário de Andrade já tinha morrido também né ele vai renegar as suas Primeiras Experiências mais assim e quando classes e mais irreverentes e no livro Claro Enigma o Drummond escreve um poema muito amargo porque o Drummond da terceira fase é o Drummond que se desiludiu né o Drummond amargo Drummond tanto quanto melancólico depressivo né é o Drummond da Escuridão o Drummond vai escrever um poema e que ele vai dizer que da sua obra não vai ficar nada não vai sobrar nada ninguém
vai ler nada o seu nome vai ser esquecido a poesia não pode contra o mundo a poesia né Orfeu já não consegue mais cativar os monstros atuais é um poema muito bonito né chamado legado e no final o Drummond diz assim que de tudo que ele escreveu na sua vida só vai sobrar uma coisa uma pedra que havia em meio do caminho uma pedra que havia em meio do caminho ou seja o domínio dos anos 50 é dentro dessa sua visão amarga em relação a sua própria obra vai dizer que tudo que sobrou foi a
pedra quer dizer aquele poema aquela peça de escândalo aquele poema que foi criticado atacado só vamos lembrar dele por causa disso agora veja como ele próprio reescreve o próprio verso uma pedra que havia não tinha né que havia e-mail e não no meio do caminho e se você fizer a contagem de sílabas poéticas esse último verso essa chave de ouro do seu Soneto tem 12 sílabas né uma pedra que havia em meio do caminho é um verso Alexandrino perfeito um verso preferido dos parnasianos então o Drummond dos anos 50 Releia a sua própria obra reescreve
o seu verso escandaloso adequando agora por uma perfeita linguagem parnasiana Esse é o Drummond né o poeta de muitas Faces um poeta complexo e um poeta que sem dúvida marcou a literatura do século 20 e a gente se vê no próximo vídeo numa próxima conversa sobre algum outro escritor ou alguma outra obra da lista da Fuvest tchau boas leituras para você e até a próxima
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