Capítulo 1 de senhora esta é uma gravação librivox todas as gravações librivox estão no domínio público para mais informações ou para ser um voluntário por favor visite librivox.org gravado por Leni Senhora de José de Alencar ao leitor este livro Como os dois que o precederam não são da própria Lavra do escritor a Quem geralmente os atribuem a história é verdadeira e a narração vem de pessoa que recebeu diretamente e em circunstâncias que ignoro a confidência dos principais atores deste drama Curioso o suposto autor não passa rigorosamente de editor É certo que tomando ass si O
encargo de corrigir a forma e dar-lhe um lavor Literário de algum modo apropria-se não a obra mas o livro em todo caso encontram-se muitas vezes nestas páginas exuberâncias de linguagem e afol tezas de imaginação a que já não se lança apenas sóbria e refletida do escritor sem ilusões e sem entusiasmos tive tentações de apagar alguns desses quadros mais plásticos Ou pelo menos de sombrear as tintas vivas e cintilantes mas devia eu sacrificar a alguns cabelos grisalhos esses Caprichos artísticos de estilo que tal sej para osos cultores da estética o mais delicado ma do Liv e
será unicamente fantasia deista e Adorno de forma oasen antes de deeo quilate de um há etivo deesser que resiste todas as seduções aos impulsos da própria paixão como ao arrebatamento Dos sentidos José de Alencar primeira parte o preço Capítulo 1 há anos raiou no céu Fluminense uma nova estrela desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro foi proclamada a rainha dos Salões tornou-se a deusa dos bailes a musa dos Poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade era rica Formosa duas opulências que se realçam com a flor em vaso de alabastro dois
esplendores que se refletem como o raio de sol no Prisma do diamante quem não se recorda da Aurélia Camargo que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor tinha ela 18 anos quando apareceu a primeira vez na sociedade não a conheciam e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia diia muita que não repetirei agora pois se tempo saberemos a verdade sem os comentos malévolos de que usam vesla os noveleiros Aurélia era ã e tinha em suia Vel parenta
viva Dona Firmina Mascarenhas que sempre a acompanhava na sociedade Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina guardando com a viúva as deferências devidas à idade a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse constava também que Aurélia tinha um tutor mas essa desconhecida a julgar pelo caráter da pupila não devia exercer maior influência em sua vontade do que a velha apenta a convicção geral era que o
futuro da moça dependia exclusivamente de suas inclinações ou de seu Capricho e por isso todas as adorações se iam prostrar aos próprios pés do ídolo assaltada por uma turba de pretendentes que a disputavam como o prêmio da Vitória Aurélia com sagacidade admirável em sua idade avaliou da situação difícil em que se achava e dos perigos que a ameaçavam daí provinha talvez a expressão cheia de desdém e um certo ar provocador que eriçam a sua beleza aliás tão correta e cinzelada para a meiga e Serena expansão da alma se o lindo semblante não se impregnar constantemente
ainda nos momentos de cismo e distração dessa tinta de sarcasmo ninguém veria nela a verdadeira fisionomia de Aurélia e sim a máscara de alguma profunda decepção Como acreditar que a natureza houvesse traçado as linhas tão puras e límpidas daquele perfil para quebrar-lhes a harmonia com o riso de uma pungente ironia os olhos grandes e rasgados Deus não os aveludar com a mais inefável ternura se os destinasse para vibrar chispas de escárnio para que a perfeição estatuária do talhe de se em vez de arfar Ao Suave influxo do amor ele devia ser agitado pelos assomos do
desprezo na sala cercada de Adoradores no meio das esplêndidas reverberações de sua beleza Aurélia bem longe de nebri arse da adoração produzida por sua formosura e do culto que lhe rendiam ao contrário parecia unicamente possuída de indignação por essa turba viu e abjeta não era um triunfo que ela julgasse digno de si a torpe humilhação dessa gente ante sua riqueza era um desafio que lançava ao mundo orgulhosa De esmagá-lo sobre a planta como a um réptil venenoso e o mundo é assim feito que foi o fulgor satânico da Beleza dessa mulher a sua maior sedução
na acerba veemência da Alma revolta pressentiam se abismos de paixão e entrevia se que procelas de Volúpia havia de ter o amor da vi virem bacante se o sinistro vislumbre se apagasse de súbito deixando a Formosa estátua na penumbra suave da candura e Inocência o Anjo Casto e puro que havia naquela como há em todas as moças talvez passasse desapercebido pelo turbilhão as revoltas mais impetuosas de Aurélia eram justamente contra a riqueza que lhe servia de trono e sem a qual nunca por certo apesar de suas prendas receberia como rainha de denhos a vassalagem que
lhe rendiam Por isso mesmo considerava ela o ouro um vio metal que rebaixava os homens e No íntimo sentia-se profundamente humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava ela a sua pessoa não merecia uma só das bajulações que tributavam a cada um de seus mil contos de réis nunca da pena de algum chatterton desconhecido saíram mais Cruci Anes apóstrofes contra o dinheiro do que vibrava muitas vezes o Lábio perfumado dessa Feiticeira menina no seio de sua opulência um traço basta para desenhá-la sob essa Face convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados sem
exceção de um a pretendiam unicamente pela riqueza Aurélia reagia contra essa afronta aplicando a esses indivíduos o mesmo estalão assim costumava ela indicar o merecimento de cada um dos entes dando-lhes certo valor monetário em linguagem financeira Aurélia cota os seus Adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial Uma Noite no cassino aí suares que fazia-se íntima com ela e desejava ardentemente vê-la casada dirigiu um gracejo acerca do Alfredo Moreira rapaz elegante que chegara recentemente da Europa é um moço muito respu Aurélia sorrindo Vale bem como noivo 100 contos de réis mas eu tenho
dinheiro para pagar um marido de maior preço l não me contento com esse riam-se todos desses ditos de Aurélia e os lançavam a conta de gracinhas de moça espirituosa porém a maior parte das senhoras sobretudo aquelas que tinham filhas Moas não cansavam de criticar desses modos desenvoltos impróprios de meninas bem educadas Os Adoradores de Aurélia sabiam pois ela não fazia mistério do preço de sua cotação no rol da moça e longe de se agarem com a franqueza divertiam-se com o jogo que muitas vezes resultava do ágil de suas ações naquela empresa nupcial dava-se isto quando
qualquer dos Apaixonados tinha felicidade de fazer alguma coa a contento da moça e satisfazer-lhe as fantasias porque nesse caso ela elevava lhe a cotação assim como a baixava a daquele que a contrariava ou incorri em seu desagrado muito devia a cobiça embrutecer esses homens ou cegás à paixão para não verem o frio escárnio com Que Aurélio os ludibria nestes brincos ridículos que eles tomavam por garridice de menina e não eram senão ímpetos de uma irritação íntima e talvez mórbida a verdade é que todos porfi avam às vezes colhidos por desânimo passageiro mas logo restaurados por
uma esperança obstinada nenhum se resolvia a abandonar o campo e muito menos o Alfredo Moreira que parecia figurar a cabeça do rol não acompanharei Aurélia em sua efêmera passagem pelos salões da corte onde viu jungido a seu carro de Triunfo tudo que a nossa sociedade tinha de mais elevado e Brilhante proponho unicamente a referir o drama íntimo e estranho que decidiu do destino dessa mulher singular fim do capítulo 1 Capítulo 2 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar Capítulo 2 seriam 9 horas do dia um
sol ardente de Março esbate nas venezianas que vestem as adas de uma sala nas laranjeiras a luz coada pelas verdes empanadas debua com a suavidade do nimbo o gracioso busto de Aurélia sobre o aveludado Escarlate do papel que forra o gabinete reclinada na conversadeira com os olhos a vagar pelo Crepúsculo do aposento a moça parece imersa em intensa cogitação o recolho apaga-luz ela desfere de si como a chama Sul fúria de um relâmpago mas a serenidade que se derrama por toda sua pessoa se de alguma sorte desmaia a cintilação de sua beleza a embebe de
um fluido inefável de meiguice e carinho que a torna Irresistível seus olhos já não têm aqueles fulvos lampejos que despedem nos salões e que a igual do mormaço Cram nos lábios em vez do cáustico sorriso borbulha agora a flor d'alma a rever os íntimos Enem levos sombreia o Formoso semblante uma tinta de melancolia que não lhe é habitual desde certo tempo e que não obstante se diria o Matiz mais próprio das feições delicadas Há Mulheres assim a quem um perfume de tristeza idealiza as mais violentas paixões são inspiradas por esses Anjos de exílio Aurélia concentra-se
de todo dentro de si ninguém ao ver essa Gentil menina Na aparência tão calma e tranquila acreditaria que nesse momento ela agita e resolve oa de sua existência e prepara-se para sacrificar irremediavelmente todo seu futuro alguém que entrava no gabinete veio arrancar a Formosa pensativa a sua long meditação era dona Firmina Mascarenhas a senhora que exercia junto de Aurélia o Ofício de guarda moça a viúva aproximou-se da conversadeira para instalar um beijo na face da menina que só nessa ocasião acordou da profunda distração em que estava absorta Aurélia correu à vista surpresa pelo aposento e
interrogou uma miniatura de relógio presa à cintura por uma cadeia de ouro fosco entretanto Dona Firmina acomodando a sua gordura semise em uma das vastas de braços que ficavam ao lado da conversadeira dispunha-se a esperar pelo almoço está fatigada de ontem perguntou a viúva com a expressão de afetada ternura Que exigia o seu cargo nem por isso mas sinto-me lânguida há de ser o calor respondeu a moça para dar uma razão qualquer de sua atitude pensativa estes baires que acabam tão tarde não podem ser bons paraa saúde por isso é que no Rio de Janeiro
há tanta moça magra e amarela ora ontem quando servam a ceia pouco fala para to matinas Santa Teresa se a primeira quadril come o toque do Aragão havia muita confus servço não esteve andou tão Firmina por aí além Desc suas impressões do ba daa sem tirar olhos do semblante de Aurélia espiava oito de suas palavras pronta desdizer de qualquer observação ao menor indício de contrariedade deixou-a a moça falar desejosa de desprender-se de suas preocupações e embalar-se ao rumor Dessa voz que ouvia sem compreender sabia que a viúva conversava acerca do baile mas não acompanhava o
que ela dizia de repente porém interrompeu Que tal achou a amaralzinho dona Firmina a velha fez semblante de recordar-se amarin é aquela moça toda de azul com espigas de prata nos cabelos e nos apanhados da saia simples e de muito bom gosto lembra-me é uma menina bem Galante afirmou a viúva e bem educada dizem que toca piano perfeitamente e que tem uma voz muito agradável mas não costuma parcer na sociedade é a primeira vez que a encontramos não me lembro de a ter visto antes foi a primeira vez pronunciando estas palavras a moça parecia de
novo sentir sua alma refr Anger se atraída imperiosamente por esse pensamento recôndito que a absorvia mas reagiu contra essa preocupação e dirigiu-se à viúva em tão Vivo e instante diga-me uma coisa Dona Firmina que é Aurélia mas há de ser Franca promete-me Franca mas do que eu sou menina se este é o meu defeito a moça hesitava Experimente senhora Quem acha a senhora mais bonita a amaralzinho ou eu disse Afinal Aurélia empalidecendo de l Ora ora acudiu a viúva a rir está zombando Aurélia pois a amaralzinho para se comparar com você seja sincera outras muito
mais bonitas que ela não chegam a seus pés a viúva citou quatro ou cinco nomes de moças que então andavam no galarim e dos quais não me recordo agora é tão elegante disse Aurélia como se completasse uma reflexão íntima são gostos todo caso é mais bem educada do que eu do que você Aurélia há de ser difícil que se encontre em todo o Rio de Janeiro outra moça que tem a sua educação lá mesmo por Paris de que tanto se fala duvido que haja obrigada é esta a sua franqueza Dona Firmina Sim senhora a minha
franqueza está em dizer a verdade e não em escondê-la demais isso é o que todos veem e repetem você toca piano Como arn canta como uma prima dona e com Vera na sala com os deputados e os diplomatas que eles ficam todos enfeitiçados e como não há de ser assim quando você quer Aurélia fala que parece uma novela já vejo que a senhora não é nada lisonjeira está desmerecendo os meus dotes acudiu a menina sublinhando A Última Palavra com um fino sorriso de ironia então não sabe Dona Firmina que eu tenho um estilo de Ouro
o mais Sublime de todos os estilos a cuja eloquência arrebatadora não se resiste as que falam como uma novela em viil prosa são essas moças românticas e pálidas que se andam evaporando em suspiros eu falo como um poema sou a poesia que brilha e deslumbra entendo o que você quer dizer o dinheiro faz do feio bonito e dá tudo até saúde mas Repare bem os seus maiores admiradores são justamente aqueles que não podem Pretender sua riqueza uns casados outros já velhos quando pela primeira vez fumaram perto da senhora não sentiu alguma coisa um atordoamento pois
o ouro tem uma fumaça invisível que embriaga ainda mais do que a do charuto de Havana e até mesmo do que a desse nojento cigarro de papel com que os rapazes de hoje Se incensam toda essa gente que rodeia um velho ricaço ministros senadores e fidalgos de certo que não espera casar-se com a burra do sujeito mas sofre a atração do dinheiro agora mesmo Aurélia está você me dando razão e mostrando sua instrução quem há de dizer que uma menina de sua idade sabe mais de que muitos homens que aprenderam nas academias e assim é
bom porque senão com a riqueza Que Lhe deixou seu avô sozinha no mundo por força que havia de ser enganada antes fosse murmurou a moça recaindo em sua meditação Dona Firmina ainda proferiu algumas palavras em continuação da conversa mas notou que a moça não lhe prestava a menor atenção antes parecia esquivar-se a qualquer impressão exterior para mais profundamente reconcentrando com o tato dessas almas feitas para domesticidade moral ergueu-se e trocando alguns passos pela sala disfarçou a reparar nas estatuetas de Alabastro e vasos de porcelana colocados no mármore vermelho dos consolos assim de costas para a
conversadeira mostrava-se desapercebida daquele enlevo de Aurélia a quem de certo havia de Contrariar quando voltasse da distração a presença de uma pessoa a escrutar lhe nos gestos o segredo dos Pensamentos não teriam decorrido 5 minutos quando ouviu Dona Firmina um som trépidant como uma estátua de cera que transmutando se em Jaspe de repente se erige altiva e desdenhosa desferindo de si os lívidos e fulvos reflexos do mármore polido ela caminhou para as janelas e com petulância nervosa suspendeu impetuosamente as duas venezianas que pareciam um peso excessivo para sua mão fina e Mimosa a torrente da
Luz precipitando-se pela abertura das janelas encheu o aposento e a moça adiantou-se até a sacar para banhar-se nessas cascatas de sol que lhe borbotão sobre a Régia Fronte coroada do diadema de cabelos castanhos e desdobravam pelas formosas espáduas como uma túnica de ouro embebem hav visse nesse momento assim resplandecente poderia acreditar que sob as pregas do roupão de Cambraia estava ondular voluptuosamente A Ninfa das chamas a lava salamandra em que se transformara de chofre a fada Encantada depois de saturar se de sol como a Alva Papoula que se Cora aos beijos de seu real amante
a moça dirigiu seu piano e estouvados turbilhões da estrepitosa Tempestade cromática que revolvia o teclado desprendeu-se Afinal a Sublime imprecação da Norma quando rugindo ciúme fulmina a perfídia de polião moderando os arrojas dessa instrumentação vertiginosa para fazer o acompanh a moça Começou a cantar mas as primeiras notas sentindo-se tolhida pela posição abandonou o piano e em pé no meio da sala rossando a saia do roupão como se fosse a cauda do Pálio gauls ela reproduziu com a voz e o gesto aquela epopeia do Coração Traído Que tantas vezes tinha visto representada por Lagrange a ferocidade
da mulher enganada sanha da leoa ferida nunca teve para exprimi-la nem mesmo na exímia cantora uma voz mais Bram um gesto mais Sublime as notas que desatava dos lábios de Aurélia possantes de vigor e harmonia deixavam após si um frêmito que lembrava o Silvo da serpente sobretudo quando este braço Mimoso e torneado distendia de repente com um movimento irto para vibrar o Supremo desprezo Dona Firmina apesar de habituada desde muito ao caráter excêntrico de Aurélia contemplava com surpresa nesse momento e desconfiava que alguma coisa de extraordinário ocorrera na vida da moça que a tornara a
princípio tão pensativa e produzia agora esse acesso sentimental entretanto ela com a mesma volubilidade que a Tomara ao erguer-se da conversadeira Correu para Dona Firmina travou lhe do pulso fazendo-a de polião e deu imediatamente um jeito cômico a cena que terminou em risadas fim do capítulo dois parte 1 Capítulo 3 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 1 Capítulo 3 era a hora do almoço As duas senhoras puseram-se à mesa Aurélia distinguia-se pela sobriedade que era nela consequência de temperamento e educação não quer isto
dizer que fosse Dessa espécie de moças papilionáceas que se alimentam do pólen das flores e para quem o comer é um ato desgracioso e prosaico bem ao contrário ela sabia que a nutrição dá seiva de beleza sem a qual as cores desmaiam nas faces e os sorrisos nos lábios como as efêmeras e pálidas florações de uma roseira ética assim não não tinha vergonha de comer e Sem Vaidade acreditava que o esmalte de seus dentes não era menos gracioso quando eles se triscar como a crepitação de um colar de pérolas nem o Matiz de seus lábios
menos saboroso quando chupavam uma fruta ou se entreabriu para receber o alimento nessa ocasião a moça fez exceção a seus hábitos de sobriedade ela que não gostava de especiarias e só de longe em longe bebia algumas gotas de licor quis experimentar quanto molho e condimento picante havia em casa e para remate bebeu um cálice de xerez Dona Firmina sem esquecer o almoço continuava a observar de parte a menina cada vez mais convencida da existência de um acontecimento importante que havia alterado a calma habitual da moça esse acontecimento na opinião da viúva não podia ser outro
senão aquele que tamanha influência exerce nas meninas de 18 anos sobretudo se não dependem de ninguém para dispor de si Dona Firmina tinha pois como certo que Aurélia a desdenhosa sentira Afinal uma inclinação e estava ansiosa a viúva para conhecer o feliz que tivera o poder de cativar a altiva rainha dos Salões tão adorada quanto fria e indiferente revolvia na mente as recordações da noite anterior para certificar-se que não aparecera no baile nenhum moço conhecido de quem Aurélia se pudesse apaixonar de súbito devia ser pois qualquer dos antigos Adoradores dos que ela escarnecia que por
alguma circunstância inexplicável alcançara render-lhe enfim o coração não se pôde conter a viúva em risco de desagradar a menina dirigiu-lhe uma indireta com que se propunha a entabular a conversa e conforme a resposta dirigi-la para o ponto não sei que l acho hoje Aurélia parece-me tão contente e até mais bonita se é possível do que de costume Deveras não é exageração não olhe as moças quando se vestem para um baile onde esperam encontrar alguém ficam mais bonitas do que são Mas você está hoje ainda mais bonita do que nos bailes Nunca lhe vi assim aqui
anda a volta de algum segredinho quer saber qual é perguntou Aurélia com um sorriso não sou curiosa replicou a viúva sentindo pungir daquele sorriso resolvi ser freira está bom mas o meu convento há de ser este mesmo mundo em que vivemos que nenhum outro teria mais penitências e mortificações para mim desmentindo logo após a gravidade destas palavras com uma risada galhofeira a Aurélia deixou na sala de jantar Dona Firmina espantada de que uma menina imensamente rica e formosa desejada por todos pudesse ter semelhantes pensamentos ainda mesmo por gracejo Aurélia que se dirigira ao seu toucador
sentou-se a uma escrivaninha de Araribá guarnecido de relevos de bronze dourado e escreveu uma carta de poucas linhas a todos os pormenores dessa comezinha operação no dobrar a folha de papel encerrá-la na capa derreter o lacre e imprimir o cete a moça adamente aplicava a maior atenção e esmero ou essa carta era destinada a quem tudo lhe merecia ou nesse apuro e cuidado buscava Aurélia disfarçar a hesitação que a Surpreenda no momento de realizar uma ideia anteriormente assentada depois de sobrescrita a carta a moça tirou do segredo da secretária um cofre de sândalo embutido de
marfim havia ali entre cartas e Flores murchas um cartão de visita já amarelo que Ela escondeu no Bolso do roupão depois de Guardado na sua carteirinha de veludo ao som do tímpano apareceu um criado Aurélia entregou-lhe A Carta com um gesto vivo e a voz breve como receosa de súbito arrependimento para o Sr Lemos depressa sentiu então Aurélia essa Quietude que sucede as lutas do coração ela tinha Afinal resolvido o problema inextricável de sua vida em vez de abandonar-se ao acaso e deixar-se levar pelo turbilhão do mundo achara em sua alma a força precisa para
dirigir os acontecimentos e dominar o futuro daí provinha a calma de que revestia Ao deixar o tocador e que outra vez imprimia a sua beleza Uma Doce expressão de melancolia e resignação Dona Firmina como de costume esperava que Aurélia dispusesse a maneira Por que passar amanhã pois a viúva não tinha outra ocupação que não fosse agradar a menina fazer-lhe companhia e prestar-se a todas as suas vontades e Caprichos para isto recebia além do tratamento uma boa mesada que ia acumulando para os tempos difíceis como já os havia passado logo depois da perda do marido você
não sai hoje Aurélia pode ser mas não se constranja por meu respeito há de ficar sozinha ten em que empregar o tempo ócio grave tornou a menina sorrindo é já alguma penitenci Zinha ainda não é a profissão de noviça nessa ocasião e no meio das risadas da menina anunciaram o Senor Lemos que foi imediatamente introduzido na sala recebi a sua carta em caminho e ao Botafogo o José encontrou-me no Largo do Machado estou às suas ordens Aurélia era o Sr lemos um velho de pequena estatura não muito gordo mas rolho e bojudo como um vaso
chinês apesar de seu corpo rechonchudo tinha certa vivacidade buliçosa e Saltitante que lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os olhinhos de azou logo a primeira apresentação reconhecia-se o tipo desses folgaz que trazem sempre um provimento de boas risadas com que se festejam a si mesmos quando o Lemos na qualidade de tio fora pelo juiz de órfãos encarregado da tutela de deu-se um incidente que desde logo determinou a natureza das relações entre o tutor e sua pupila pretendia o velho levar a menina para a companhia de sua família opôs-se formalmente a Aurélia e
declarou que era sua intenção viver em casa própria na companhia de Dona Firmina Mascarenhas mas atenda minha menina que ainda é menor tenho 18 anos só os 21 é que poderá viver sobre si e governar-se é a sua opinião vou pedir ao juiz que me dê outro tutor mais condescendente como diz e Tais argumentos lhe apresentarei que ele há de atenderme à vista desse Tom positivo o Lemos refletiu e julgou mais prudente não contrariar a vontade da menina aquela ideia do pedido ao juiz para a remoção da tutela não lhe agradara pensava ele que as
mulheres ricas e bonitas não faltam protetores de influência logo depois dos cumprimentos Dona Firmina retirou-se para deixar a moça em liberdade bem desejos tinha a viúva de assistir a essas conferências que o Lemos costumava ter de vez em quando com a pupila acerca de contas da tutela Mas neste ponto a Aurélia era de extrema reserva e não gostava que ninguém entendesse com o que ela chamava seus negócios faça favor meu tio disse a moça abrindo uma porta lateral essa porta dava para um gabinete elegantemente ilado o centro era ocupado por uma banca oval como o
resto dos trastes de erable e coberta com um pano azul de franjas escarlates sobre a mesa em salva de prata havia o tinteiro e mais preparos de escrever no momento em que Aurélia depois de passar o Lemos ia por sua vez entrar no gabinete Apareceu à porta da saleta a Bernardina velha a quem a menina protegia com esmolas a sujeita parara com modo tímido esperando permissão para adiantar-se Aurélia aproximou-se dela com um gesto de interrogação quis vir ontem segredou a Bernardina mas não pude que atacou meu reumatismo era para dizer que ele chegou já sabia
ah quem lhe contou mas foi ontem havia de ser mais de meio dia entre Aurélia cortou o diálogo indicando a velho corredor que levava para o interior e passando ao Gab cerrou a porta sobre si não escapou este pormenor ao Lemos que pela solenidade da conferência avaliava de sua importância com Que história virá ela hoje dizia entre si o Alegre velhinho Aurélia sentou-se à mesa de erable convidando o tutor a ocupar a poltrona que lhe ficava de fronte fim do Capítulo 3 parte 1 Capítulo 4 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado
por Leni Senhora de José de Alencar parte 1 Capítulo 4 quem observasse Aurélia naquele momento não deixaria de notar a nova fisionomia que tomara o seu belo semblante e que influía em toda sua pessoa era uma expressão fria pausada inflexível que jasiava sua beleza dando-lhe quase a gelidez da estátua mas no lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam as irradiações da Inteligência operava-se nela uma revolução o princípio Vital da mulher abandonava seu foco natural o coração para concentrar-se no cérebro onde Residem as faculdades especulativas do homem nessas ocasiões seu espírito adquiria tal Lucidez que fazia
correr um calafrio pela medula do Lemos apesar do lombo maciço de que a natureza havia forrado no roliço velhinho o tronco do sistema nervoso era realmente para causar pasma aos estranhos e susto a um tutor a perspicácia com que essa moça de 18 anos apreciava as questões mais complicadas o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios e a facilidade com que fazia muitas vezes de memória qualquer operação aritmética por muito difícil intrincada que fosse não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo pedantismo de certas moças que tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas se
metem a tagarelar de tudo bem ao contrário ela recat sua experiência de Que só fazia uso quando o exigiam seus próprios interesses fora daí ninguém lhe ouvia falar de negócios e emitir opinião acerca de cousas que não perten a sua especialidade de moça solteira o Lemos não estava a gosto tinha perdido aquela jovialidade Saltitante que lhe dava um gracioso ar de pipoca na gravidade desusada dessa conferência ele homem experiente e Sagaz entrevia sérias complicações assim era todo ouvidos atento às palavras da moça tomei a liberdade de incomodá-lo meu tio para falar-lhe de objeto muito importante
para mim Ah muito importante repetiu o velho batendo a cabeça de meu casamento disse Aurélia com a maior frieza e serenidade o velhinho saltou na cadeira como um balão elástico parafar sua comoção esfregou as mãos rapidamente uma na outra gesto que indicava nele grande agitação não acha que já estou em idade de pensar nisso perguntou a moça certamente 18 anos 19 19 cuidei que ainda não os tinha feito muitas casam-se desta idade e até mais moças porém é quando tem o paizinho ou a mãezinha para escolher um bom noivo e arredar certos Espertalhões uma menina
Órfã inexperiente eu não lhe aconselharia que se casasse senão depois da maioridade quando conhecesse bem o mundo já o conheço demais tornou com o mesmo tom sério então está decidida tão decidida que lhe pedi esta conferência já sei deseja que eu aponte alguém que eu lhe Procure um noivo Nas condições precisas hã é difícil o sujeito no caso de Pretender uma moça como você Aurélia enfim há de se fazer a diligência não precisa meu tio já o achei teve o Lemos outro sobressalto que o fez de novo como tem além de ol Perão tio não
entendo suing figurada dig es o homem quend mas bem como tutor tenho depr de certo tutor essa Senor não h de tão cruel que a neg se o Fer o que eu nãoo oiz de a supr o juiz que histórias são essas que lhe andam metendo na cabeça Aurélia Sr Lemos disse a moça pausadamente e trasp com um olhar frio a vista perplexa do velho completei 19 anos posso requerer um suplemento de idade mostrando que tenho capacidade para reger minha pessoa e bens com maioria de razão obterei do juiz de órfãos Apesar de sua oposição
um alvar licença para casar-me com quem eu quiser se estes argumentos jurídicos não lhe satisfazem apresentar-lhe um que me é pessoal vamos a ver acudiu o velho para quebrar o silêncio é a minha vontade o senhor não sabe o que ela vale Mas juro lhe que para levar a efeito não se me dará de sacrificar a herança de meu avô é próprio da idade são ideias que somente se tem aos 19 anos Isso mesmo já vai sendo raro esquece que desses 19 anos 18 os Vivi na extrema pobreza e um no seio da riqueza para
onde fui transportada de repente Tenho as duas grandes lições do mundo a da miséria e a da opulência conheci outrora o dinheiro como um tirano hoje o conheço como um cativo Submisso Por conseguinte devo ser mais velha do que o que nunca foi nem tão pobre como eu fui nem tão rico como eu sou o Lemos olhava com pasmo essa moça que lhe falava com tão profunda lição do mundo e uma filosofia para ele desconhecida não valia a pena ter tanto dinheiro continuou Aurélia se ele não servisse para casar-me a meu gosto ainda que para
isto seja necessário gastar alguns Miseráveis contos de réis aí que está a dificuldade acudiu Lemos que desde muito espreitava uma objeção bem sabe Aurélia que eu como tutor não posso dispender um vint sem autorização do juiz o senhor não me quer entender meu tutor replicou a moça com um tênue assomo de impaciência sei disso e sei também muitas coisas que ninguém imagina por exemplo sei o dividendo das apólices a taxa do juro as da praça sei que faço uma conta de Prêmios compostos com a justeza e exatidão de uma tábua de câmbio o Lemos estava
Tonto e por último sei que tenho uma relação de tudo quanto possuía meu avô escrita por seu próprio punho e que me foi dada por ele mesmo desta vez o purpurino velhinho empalideceu sintoma assustador de tão completa e maciça carnadura como aquele acoa as calças igrad e frac e preto isto quer dizer que se eu tivesse um tutor que me contrariasse e caísse em meu desagrado ao chegar a minha maioridade não lhe daria quitação sem primeiro passar um exame nas contas de sua administração para o que felizmente não careço de advogado nem de guarda livros
Sim senhora está em seu direito tornou o velho contrito cabendo porém a fortuna de ter um tutor meu amigo que me faz todas as vontades como o senhor meu tio lá isso é verdade neste caso em vez de matar a paciência e aborrecer-se com altos e contas dou tudo por bem-feito ainda mais sei que a tutela é gratuita mas assim não deve ser quando os Órfã têm de sobra com que recompensar o trabalho que dão lá isso não Aurélia este encargo é uma dívida Sagrada que pago a memória de sua mãe a minha boa e
sempre chor Irã o Lemos enxugou no canto do olho uma lágrima que ele conseguira espremer se é que não a tinha inventado como parece mais provável e a moça em tributo à memória de sua mãe evocada pelo velho ergueu-se um instante a pretexto de olhar pela janela quando voltou a seu lugar o Lemos estava de todo restabelecido dos choques porque havia passado e mostrava-se ao natural fresco titilante risonho estamos entendidos perguntou a menina com a sisudez que não deixarem todo este diálogo você é uma feiticeirinha Aurélia faz de mim o que quer reflita bem meu
tio vou confiar-lhe meu segredo um segredo que a ninguém neste mundo foi revelado e que só Deus sabe se depois de conhecê-lo o senhor não me quiser servir ou não souber eu jamais lhe perdoarei pode confiar em mim sem seu segredo Aurélia que mostrar-me ei Digno dessa confiança creio Senor Lemos e para tirar-lhe qualquer escrúpulo que por acaso o assalte lhe Juro pela memória de minha mãe que se há para mim felicidade neste mundo é somente esta que o senhor me pode dar disponha de mim Aurélia parou um instante conhece o Amaral qual deles perguntou
o velho um tanto acanhado Manuel Tavares do Amaral empregado da Alfândega disse a moça consultando sua carteirinha tem a bondade de tomar nota não é rico mas possui alguma ca ajustou o casamento da filha Adelaide com um moço que esteve ausente do Rio de Janeiro e a quem ele ofereceu de Dote 30 contos de réis ao proferir estas palavras sentiu-se um fugaz tremor na voz Seme tão lmpida da que logo após tomou um timbre rpido o Lemos ficara roo de vermelho que já era e para disfarar o seu vame Rem a cabeça mu desinquieto com
o dedo a repar e a largar o colarinho como se este o sufocasse Aurélia demorou um instante o seu olhar no semblante do velho depois desviando com placidez à vista para fitá-la na página aberta de sua carteirinha deu tempo ao tio de reportar-se O que foi breve o Lemos tinha o traquejo do mundo 30 contos observou ele já não é ma começo Aurélia continuou é preciso quanto antes desmanchar este casamento a Adelaide deve casar com o d Torquato Ribeiro de quem ela gosta ele é pobre e por isso o pai o tem rejeitado mas se
o senhor assegurasse ao Amaral que esse moço tem de seu uns 50 contos de réis acha que ele recusaria Suponha que eu assegurasse isso Dee sairia esse dinheiro eu o darei com maior prazer mas minha menina para que nos vamos nós intrometer nos negócios alheios o senhor é bastante perspicaz para perceber aquilo que debalde lhe procuraria ocultar prefiro confiar-me sem reservas a sua lealdade a moça fez um esforço Esse moço que está justo com a Adelaide amal é o homem a quem eu escolhi para meu marido já se vê que não podendo pertencer a duas
é necessário que eu o dispute Conte comigo acudiu o velho esfregando as mãos como quem entrevia os benefícios que essa paixão prometia a um tutor hábil Esse moço o nome perguntou o velho molhando a pena Aurélia fez um aceno de espera este moço chegou ontem é natural que trate agora dos preparativos para o caso que estáo a perto de um ano o Senor Dev procurá-lo quanto antes hoje mesmo e fazer-lhe sua propost estes arranjos sãoo comuns noio de Janeiro estão fazend todos os dias o senhor sabe melor do que eu como se haviam encomendas de
noivos hora hora previno de que meu nome não Dev figurar em tudo isto Ah quer conservar o incógnito até o momento da apresentação entretanto pode dizer quanto baste para que não suponham que se trata de alguma velha ou aleijada Percebo exclamou o velho rindo um casamento romântico não senhor nada de exageres só tem licença para afirmar que a noiva não é velha nem feia quer preparar a surpresa Talvez os termos da proposta Com licença desde que deseja conservar o incógnito não devo aparecer Aurélia refletiu um instante não quero que isto passe do Senhor caso ele
o reconheça como meu tio e tutor não poderia o senhor convencê-lo de que eu não tenho nisso a mínima parte que é um negócio da família ou dos parentes Bem lembrado eu cá me arranjo não tenha cuidado os termos da proposta devem ser estes atenda bem a família da tal moça misteriosa deseja casá-la com separação de bens dando ao noivo a quantia de 100 conos de réis de Dote se não bastar em 100 e ele exigir mais será o dote de 200 onde bastar não tenha dúvida em todo caso quero que o senhor compreenda bem
o meu pensamento desejo como é natural obter o que pretendo o mais barato possível mas o essencial é obter e portanto até metade do que possuo não faço questão de preço é a minha cidade que vou comprar estas últimas palavras a moça proferiu as com uma indefinível expressão não será caro oh exclamou Aurélia eu daria por ela toda a minha riqueza outras a temm de graça que lhes vem diretamente do céu mas não me posso queixar pois negando esse bem Deus compadeceu-se de mim e enviou-me quando menos esperava tamanha herança para que eu possa realizar
a aspiração de minha vida não dizem que o dinheiro traz todas as venturas a maior Ventura que dá o dinheiro é possuí-lo as outras são secundárias disse o Lemos como entendido na matéria Aurélia que um instante se deixar arrebatar pelo sentimento voltava ao Tom frio e refletido com que havia discutido até ali a questão de seu futuro falta-me ainda meu tio recomendar-lhe um ponto a palavra a além de esquecer está sujeita a equívocos não seria possível tratar este negócio por escrito passar o sujeito um papel certamente mas se ele roer a corda não há meio
de obrigá-lo a casar não importa eu prefiro confiar a honra dessa pessoa antes do que aos tribunais com uma obrigação em que ele empen sua palavra ficarei tranquila há de se arranjar eis o que espero de sua amizade meu tio o Lemos Deixou passar a ironia que acentuar a palavra amizade e esticou a prumo diante dos olhos e contra luz a folha de papel em que tomara suas notas vejamos Tavares do Amaral empregado da Alfândega a filha dona Adelaide 30 contos de réis o Dr tor Ribeiro garantir 50 o outro de 100 até 200 só
me falta o nome Aurélia tirou da carteirinha o bilhete de visita e a apresentou ao tutor como este se preparasse para repetir em alta voz o nome ela o atalhou com a palavra breve e imperativa que às vezes lhe crispa os lábios escreva o velhinho copiou as indicações que havia no cartão e o restituiu nada mais nada sen não repetir lhe ainda uma vez que entreguei em suas mãos a única felicidade que Deus me reserva neste mundo a moça proferiu estas palavras com um tom de profunda convicção que penetrou o bonacho ceticismo do velho há
de ser muito feliz eu lhe garanto dê-me esta felicidade que eu tanto invejo eu lhe darei da que me sobra conte comigo Aurélia o velhinho apertou a mão da moça que lhe tocara o coração com a última promessa e retirou-se quando chegou à casa ainda o Lemos não estava de todo restabelecido do atordoamento que sofrera fim do Capítulo 4 Parte 1 Capítulo 5 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 1 Capítulo 5 havia a Rua Do Hospício próximo ao campo uma casa que desapareceu com
as últimas reconstruções tinha três elas de peitoril na frente duas pertenciam à sala de visitas a outra a um gabinete contigo o aspecto da casa revelava bem como seu interior a pobreza da Habitação a mobília da sala consistia em sofá seis cadeiras e dois consolos de Jacarandá que já não conservavam o menor vestígio de verniz o papel da parede de branco passara a amarelo e percebia-se que em alguns pontos já havia sof a abeis remendos o gabinete oferecia a mesma aparência o papel que fora primitivamente Azul Tomara a cor de folha seca havia no aposento
uma cômoda de Cedro que também servia de toucador um armário de vinhático uma mesa de escrever e finalmente a Marquesa de Ferro como o lavatório e vestida de mosqueteiro Verde tudo isto se tinha o mesmo ar de velice dos móveis da sala era como aqueles cuidadosamente limpo e espanejando-se aí colocados e de uso do morador assim no recosto de uma das Velhas cadeiras de Jacarandá via-se neste momento uma casaca preta que pela fazenda superior mas sobretudo pelo corte elegante e esmero do trabalho conhe ter o chique da casa do ronier que já era naquele tempo
o alfa da moda ao lado da casaca estava o resto de um trajo de baile que todo ele saíra daquela mesma tesoura em voga finíssimo chapéu claque do melhor fabricante de Paris luvas de juvan cor de palha e um par de botinas como o campas só fazia para os seus fregueses prediletos sobre um dos aparadores Tinham posto uma caixa de charutos de Havana da marca mais estimada que então havia no mercado eram regalias como talvez só saboreavam nesse tempo os 10 mais puros fumista do império no velho sofá de palha escura havia uma almofada de
cetim Azul bordada a froco e ouro a mais suntuosa das salas do Rio de Janeiro não se arrea por certo com uma obra de Tapeçaria nem mais delicada nem mais Mimosa do que essa trabalhada por mãos aristocráticas passando a alcova na mesquinha banca de escrever coberta com um pano desbotado e atravancada de rumas de livros a maior parte romances apareciam sem ordem tinteiros de bronze Dourado sem serventia portas de vários gostos cinzeiros de feitios esquisitos e outros objetos de fantasia a Tábua da cômoda era verdadeiro balcão de perfumista aí achavam-se arranjados toda a casta de
pentes e escovas e outros utensílios no tocador de um rapaz à moda assim como as mais finas essências francesas e inglesas que o respectivo rótulo indicava terem saído das casas do Bernardo e do Lui a um canto do aposento notava-se um S de guarda-chuvas e bengalas algumas de muito preço parte destas naturalmente provinha de mimos como outras curiosidades artísticas em bronze e Jaspe atiradas para baixo da mesa e cujo valor excedia de certo ao custo de toda mobília da casa um observador reconheceria nesse disparate a prova material de completa divergência entre a vida exterior e
a vida doméstica da pessoa que ocupava esta parte da casa se Edifício e os móveis estacionários e de uso particular denotavam escassez de meios senão extrema pobreza a roupa e objetos de representação anunciavam um trato de sociedade como só tinham cavalheiros dos mais ricos e Francos da corte esta feição característica do aposento repetia-se em seu morador o Seixas derreado neste momento no sofá da sala a ler uma das Folhas diárias estendidas sobre os joelhos erguidos que assim lhe servem de cômoda estante é um moço que ainda não chegou aos 30 anos tem uma fisionomia tão
nobre quanto sedutora belos traços teis finíssima cuja alvura realça macia barba Castanha os olhos rasgados e luminosos às vezes calham em um enlevo de ternura mas natural e estremece de afetação que há de torná-los irresistíveis quando o amor os acende a boca vestida por um bigode elegante mostre o seu molde gracioso sem contudo perder a expressão grave e sóbria que deve ter o órgão da palavra viril sua posição negligente não esconde de todo o Garbo do Tali que se deixa ver nessa mesma retração do corpo é esbelto sem magreza e de elevada estatura o pé
pousado agora em uma chinela não é pequeno mas tem a Palma Estreita e o firme arqueado da forma aristocrática vestido com um Chambre de fustão que briga com as Mimosas chinelas de chamalote bordadas a Matiz vê-se que ele está ainda no desalinho matutino de quem acaba de erguer-se da cama ainda o pente não alisou os cabelos que deixados a si tomam entretanto sua elegante ondulação depois de lavar o rosto e enfiar o Chambre Viera à sala buscar na porta que dava para a escada os jornais do dia pois era ele dos que se consideram inem
jejum e ficam de cabeça oua se eu acordarem não espreguiçam o espírito por essas toalhas de papel com que a civilização enxuga a cara ao público todas as manhãs deitara-se então de bruços no sofá para ler mais a cômodo e maquinalmente corria os olhos pelas rubricas dos artigos a cata de algum escândalo que lhe agasse a curiosidade embotada pela fadiga de uma prolongada vigília Apareceu à porta da escada uma pessoa que deitou a cabeça a espiar dizendo mano já acordou entra mariquinhas respond deu o moço do sofá a moça aproximou-se do sofá reclinou-se para o
irmão que sem mudar de posição cingiu lhe o colo com o braço esquerdo atraindo a a jeito de pousar lhe um beijo na face quer o seu café perguntou mariquinhas traze menina momentos depois voltou a moça com a xícara de café enquanto o irmão soerguendo o busto sorvia aos goles a aromática bebida dos Poetas sibaritas ela ia ao cor buscar um charuto de marca Pérola e acendia um fósforo todos estes pormenores praticava os como quem tinha perfeito conhecimento dos hábitos do irmão e sabia por experiência que regalia não era o charuto para fumarse logo pela
manhã e depois do café aceitava o indolente estes serviços como um Sultão os receberia de sua almeia favorita de tão acostumado que estava já não os agradecia convencido que para a moça era uma consentir que lhos prestasse depois que o irmão acendeu o charuto mariquinhas sentou-se perto dele à beira do sofá divertiu-se muito mano nem por isso Acabou bastante tarde quando você entrou deviam ser 3 horas e não valeu a pena perdi a noite quando podia recobrar das péssimas que passei a Bordo É verdade fez mal em ir a um baile no mesmo dia da
chegada o moço acompanhou com os olhos a espiral de um alvo froco da Fumaça de seu Havana até que de todo se desfez nos ares sabes quem lá estava e era a rainha do baile a Aurélia Aurélia repetiu a moça buscando na memória a recordação desse nome não te lembras olha e o irmão cruzando o pé esquerdo sobre o joelho direito mostrou com um aceno da mão Alva e delicada a chinela de chamalote Ah já sei exclamou a moça vivamente aquela que morava na Lapa justamente você gostava bem dela mano foi a maior paixão da
minha vida mariquinhas mas você esqueceu a pela amaralzinho observou a irmã com um sorriso Seixas moveu a cabeça com um meneio lento e melancólico depois de uma pausa em que a irmã contemplou compassiva e arrependida de ter evocado aquela saudade ele continuou em tom Vivo e animado ontem no cassino estava deslumbrante mariquinhas nem tu podes imaginar vocês mulheres TM isso de comum com as flores que umas são flores da sombra e abrem com a noite e outras são filhas da luz e carecem de sol Aurélia como estas nasceu para a riqueza Eu bem o pressenti
quando admirava a sua formosura naquela salinha térrea de Santa Teresa parecia-me que ela vivia ali exilada faltava o Diadema o trono as galas a multidão submissa mas a rainha ali estava em todo o seu esplendor Deus a destinara a opulência Está rica então pareceu-lhe de repente uma herança creio que de um avô não me souberam bem explicar o certo é que possui hoje segundo me disseram cerca de 1000 contos ela também tinha muita paixão por você mano observou a moça com uma intenção que não escapou a Seixas tomou ele a mão da irmã a Aurélia
está perdida para mim quantos a admiravam ontem no cassino podem pretenda embora se arrisquem a ser repelidos eu não tenho esse direito sou o único por que mano é por causa da amaralzinho com quem dizem que você há de casar-se isto ainda não é cousa decidida mariquinhas tu bem sabes a razão é outra Qual é então depois depois eu te direi terceira voz interveio no diálogo com estas palavras pode dizer já mano eu me vou embora não quero surpreender seus segredos a pessoa que falara era outra moça que pouco antes entrara na sala e ouvir
as últimas réplicas da conversa pois vem cá nicota que eu te direi a ouvido Meu Segredo retrucou Seixas A rir-se do amul da irmã não mereço Isto é bom para mariquinhas tornou a nicota de longe que é isto agora decota porque eu estava conversando com Fernandinho será algum crime não é por isso voltou a irmã com os olhos a marejar você enganou dizendo que ia engomar seu vestido e veio espiar se o mano já tinha acordado para trazer-lhe oaf pois fui mesmo engomar porém ouvi o mano abrir porta e você por que se deixou ficar
EUA acabando a costura daquela senhora que você bem sabe que devo hoje sem falta tinha pido mamã para mear logo que fandinho acordasse e ela não ouvindo aar como costuma pensou que estivesse dormindo ainda com o cansaço da viagem e do baile Seixas acompanhava com um sorriso de remoque mas repassado de ternura e desvanecimento a contestação das Duas irmãs mas afinal que culpa tenho eu nicota do que fez a senhora dona mariquinhas não me dirás menina não lhe acuso mano Alguém tem culpa de querer mais bem a uma pessoa do que a outra ciumenta exclamou
Seixas o moço ergueu-se e foi ao meio da sala buscar a nicota que por despeito se conservara redia encostada à última cadeira é escusado te agastar comigo que eu não admito estes arrufos Quanto mais franzes a testa mais beijos te dou para desmanchar estas rugas tão feias é o que ela queria observou Mariquinha já com sua ponta de ciúme Ora vamos a saber senhora ingrata disse Seixas trazendo a nicota para o sofá e sentando junto a si em que mostrei eu querer mais bem a mariquinhas do que a ti não reparti meu coração em duas
fatias bem iguaizinhas das quais cada uma tem a sua Mas você gosta mais de conversar com mariquinhas tanto que toda esta manhã estiveram aqui em segredinhos é este o ponto da queixa pois senhora dona mariquinhas vá-se embora que eu quero conversar outro tanto tempo com nicota e com ela só está satisfeita assim fica bem paga nicota sorriu ainda entre o arrufo como Raio de Sol através da nuvem e o café Ah também temos o café pois filha vai buscar outra xícara que eu receberei com muito prazer de tuas mãos e também me darás um charuto
que eu fumare até o meio em lugar desta ponta ainda falta alguma coa a jovialidade do Seixas e o seu carinho não só desvaneceram as queixas da nicota como restabeleceram a cordialidade entre as duas meninas que se queriam estremamente com afeto só estremecido pelo ciúme desse irmão Mimoso fim do Capítulo 5 parte 1 Capítulo 6 de senhora esta gravação Libo está no domínio público gravado por Len Senhora de José de Alencar parte 1í 6 filho de um empregado públic e óf aos 18 anos seas foi obrigado abandonar seus estudos na fauldade de São Paulo pela
impossibilidade em que se achou sua mãe dehe a mesada já estava no terceiro ano e se a natureza que o ornara de excelentes qualidades lhe desse alguma energia e força de vontade conseguiria ele vencendo pequenas dificuldades concluir o curso tanto mais quanto um colega e amigo o Torquato Ribeiro lhe oferecia hospitalidade Até que a viúva pudesse liquidar o espólio mas Seixas era desses espíritos que preferem a trilha batida e só impelidos por alguma forte paixão rompem com a rotina ora a carta de Bacharel não tinha grande solução para sua bela inteligência mais propensa à Literatura
e ao jornalismo cedeu pois a Instância dos amigos de seu pai que obtiveram en cartáo em uma secretaria como praticante assim começou ele essa vegetação social em que tantos homens de talento consomem o melhor da existência numa tarefa em Glória ralados por contas decepções continuando a carreira de empregado público que lhe impunha a necessidade Seixas buscou para seu espírito superior Campo mais brilhante e encontrou-o na imprensa admitido a colaboração de uma das Folhas diárias da corte em princípio como simples tradutor depois como noticiarista veio com o tempo a ser um dos escritores mais elegantes do
jornalismo Fluminense não diremos Festejar como agora é moda porque nesta nossa terra os cortejos e aplausos rastejam a mediocridade feliz o pai de Seixas deixara seu escasso patrimônio complicado com uma hipoteca além de várias dívidas miúdas depois de uma difícil e morosa liquidação com que a viúva achou-se embaraçada pode se apurar a soma de 12 contos de réis a Foram uns quatro escravos partilhados estes bens Dona Camila a mãe de Seixas por conselho de amigos pôs o dinheiro a render na Caixa Econômica de onde ia tirando os juros semestrais com que acudia aos gastos da
casa ajudada dos aluguéis de dois escravos e também de algumas costuras dela e das duas filhas Fernando quis concorrer com seu ordenado para despesa mensal mas tanto a mãe como as irmãs recusaram sentiam elas ao contrário não poder reservar alguma quantia para acrescentar aos vencimentos que mal chegavam para o vestuário e outras despesas do rapaz no geral conceito esse único filho varão devia ser o Amparo da família Órfã de seu chefe natural não entendiam assim aquelas três criaturas que se desviam pelo ente querido seu destino resumia-se em fazê-lo feliz não que elas pensassem nisso e
fossem capazes de o exprimir masam que um moço tão bonit e prendado como seu Fernandinho se vestisse no Rigor da moda e com a maior elegância que em vez de ficar em casa aborrecido procurasse os divertimentos e a convivência dos camaradas que em suma fizesse sempre na sociedade a melhor figura era para aquelas senhoras não somente justo e natural mas indispensável durante que fandinho alardeava nas salas de espetáculos elas passavam o serão na sala de jantar em volta do Candieiro que alumiava a taref noturna o mais das vezes solitárias outras acompanhadas de alguma Rara visita
que as frequentava no seu Modesto e recatado viver o tema da conversa era invariavelmente o ausente Não cansavam nunca os elogios cada comunicava sua conjetura sobre a realização de certos desejos e esperanas pois desde Essa época se acostumara Fernandinho a fazê-las confidentes de seus menores segredos se aquela de quem tanto gostava o rapaz estaria no baile se lhe concederia a contradança predileta a quarta que se reserva para o escolhido pela razão Não somente de ser a infalível como de dançar no momento da maior animação se o Fernandinho conseguiria enfim dar-lhe a entender sua paixão e
como receberia a moça essa declaração Tais eram as graves preocupações dessas três criaturas que privadas de toda distração trabalhavam à luz da Candeia para ganhar uma parte do necessário outras noites era o acolhimento que faria oo rapaz a mulher de certo figurão a quem ele devia ser apresentado contava Seixas grar os favores da senhora com a mira de alcançar por seu emprenho a proteção do ministro para um acesso a mãe e as irmãs às quais ele confiara oo projeto inquietas do resultado rezavam para que fosse bem sucedido não percebendo em sua ingenuidade a natureza dessa
influência feminina que devia malear o Ministro foi assim que Seixas insensivelmente afei à dupla existência que de dia em dia mais se destacava Homem de Família no interior da casa partilhando com a mãe e as irmãs a pobreza herdada tinha na sociedade onde aparecia sobre si a representação de um moço rico dessa vida faustosa que ostentava na sociedade trazia Seixas para a intimidade da família não só as provas materiais mas as confidências e seduções era então muito moço e não pensou no perigo que havia de acordar no coração virgem das irmãs desejos que podiam sulas
quando mais tarde a razão devia adverti-lo já o doce hábito das confidências havia adormecido felizmente Dona Camila tinha dado a suas filhas a mesma vigorosa educação brasileira já bem rara em nossos dias que se não fazia donzelas românticas preparer para sublimes abões que protegem a família e fazem da humilde casa um santo marquinhas mais velha que fando vira escoar-se os anos da Mocidade comena resign se alguém se lva de que o outono que é a estação nupal I passando sem esperança deamento não era ela a mãe dona Camila que sentia apertar-lhe o coração quando l
notava o desbote da Mocidade também Fernando algumas vezes a acompanhava nessa mágoa mas nele breve a apagava o bulício do mundo nicota mais moça e também mais linda ainda estava na flor da idade mas já tocava aos 20 anos e com a vida concentrada que tinha a família não era fácil que aparecessem pretendentes à mão de uma menina pobre e sem proteções Por isso cresciam as inquietações e tristezas da boa mãe ao pensar que também esta filha estaria condenada à mesquinha sorte do aleijão Social que se chama celibato quando Fernando chegou à maioridade Dona Camila
nele resignou a autoridade que exercia na casa e a administração do módico patrimônio que ficara por morte do marido e que embora partilhado nos altos ainda estava intacto e em comunhão os rendimentos da caderneta da Caixa Econômica e dos escravos de aluguel andava em um conto e meio de rés ou mensais como porém a despesa da família subia a r 150.000 as três senhoras supriam o resto com seus trabalhos de agulha engomado no que as ajudavam as duas pretas do serviço doméstico ao tomar a direção dos negócios da casa Seixas fez uma alteração nesse regulamento
declarou que entraria por sua parte com os 25000 ré que minguavam ficando as senhoras com todo o produto de seu trabalho para as despesas Ares no que ele ainda as auxiliaria logo que pudesse nessa época já ele era segundo oficial com esperanças de ser promovida primeiro e seus vencimentos acumulados à gratificação que recebia pela colaboração assídua do jornal montavam acima de três contos de réis mais tarde subiriam a sete em virtude de uma comissão que lhe deu o ministro por haver simpatizado com ele assim tinha anualmente um rendimento de 8 e me contos de réis
do qual deduzindo 1 conto 800.000 quantia que dava a família em prestações de 150.000 cada mês ficavam lhe para seus gastos de representação 6 contos 700.000 réis quantia que naquele tempo não gastavam com sua pessoa muitos celibatários ricos que faziam figura na sociedade uma noite Seixas sofreu uma decepção amorosa ao entrar no baile e retirou-se despeitado não tendo onde consumir as horas e aborrecido da sociedade recolheu-se à casa a desventura pungu lhe a musa que era de índole melancólica lembrou-se do seu Byron e das imitações que havia feito de algumas das mais acerbas exprobração do
bar do inglês era extraordinário passar Fernando à noite em casa para evitar explicações Resolveu entrar in apercebido e subiu às escadas de Manso abriu a porta da sala com a chave que ele trazia na argola assim como a da rua para não incomodar a família quando voltava a 10 horas e ganhou sua alcova Dona Camila com as filhas estava ao chá havia de visita Uma Família da vizinhança as moças conversavam alto no meio dessa garr olice ouvi o Fernando que falavam da representação de uma ópera que se dava então no teatro lírico as amigas tinham
assistido ao último espetáculo e referiam por miúdo as duas irmãs sendo divertimento com muitos louvores ainda não viram pois não devem faltar vale a pena peçam ao seu irmão tomadas de surpresa pela interpelação direta as duas irmãs arrefeceram logo no interesse com que escutavam a descrição do espetáculo retraíram ambas silenciosas mas insistindo as outras com alguma Malícia a mariquinhas que era mais desembaraçada respondeu Fernandinho já nos convidou muitas vezes mas tem havido sempre um transtorno qualquer É verdade observou nikota pela primeira vez desenhou-se claramente no espírito de Seixas um contraste que aliás tinha diante de
si todos os dias a cada instante e do qual era ele próprio um dos termos enquanto lhe minguavam as horas para os prazeres de que se fartava aquelas três senhoras ali desfiava além da tarefa jornaleira ou daqueles ecos do mundo que até lá chegavam com alguma Rara visita consigo unicamente despendia ele mais do triplo da subsistência de toda a família nessa mesma noite para ir a um baile de que saíra apenas chegado dissipara a maior quantia da necessária para dar à suas irmãs a satisfação de um espetáculo lírico estas ideias apossaram-se de seu espírito em
vez de riscar fósforo já em mão para acender a lmpada que alume a vigília poética e o charuto que lhe opass a musa atirou-se à cama fincou cabeça no travesseiro e dmi o sono Doo na primeira noite dees lírica fando levou ao teatro a famlia foi festa para três senhoras Dona Camila apes de sua Alan e modstia sentiu ao atravessar a multidão pelo braço do filho um aroma de orgulho mas desse orgulho repassado de susto que é antes a consciência da própria humildade do que desvanecimento De egoísmo as filhas partilhavam este sentimento e acreditavam que
todas as outras moças lhes invejavam aquele irmão quando Fernando depois de instalar a família no camarote saiu a percorrer o salão encontrou um camarada ó Seixas Não me dirás onde foste desencar aquele Terno de roceiras Aposto que andas com tões sinistras uma delas não é nenhuma asneira que temível Fernando cortou este diálogo a pretexto de cumprimentar um conhecido que passava ao sair de casa com a pré e a luz mortiça do Candieiro não tinha ele reparado no vestuário da mãe e irmãs no camarote porém ao clarão do gás não escaparam a seu olhar Severo em
Pontos de elegância os esquisitos do vestuário das três senhoras tão alheias às modas e usos da sociedade o resto da noite que lhe pareceu interminável esquivou-se do camarote e quando lá demorava-se não Chegava à frente durante alguns dias andou Seixas sorumbático e preocupado com este incidente Chegou a pretextar um incômodo para ficar-se em casa e fugir dos divertimentos É verdade que esta esquivança da sociedade também servia ao despeito da noite do baile ao cabo resultou dessa crise um raciocínio que Serenou o nosso jornalista frequentando assiduamente e com algum brilho a sociedade adquirindo relações e cultivando
a amizade de pessoas influentes que o acolhiam com distinção era natural que ele Seixas fizesse uma bonita carreira poderia de um momento para outro arranjar um casamento vantajoso como tinham conseguido muitos que não estavam em tão favoráveis condições não era difícil também que de repente se lhe abrisse essa estrada real da ambição que se chama política uma vez rico e ilustre montaria sua casa com um estado correspondente à sua posição então sua família participaria não só dos gozos materiais desse viver opulento como do brilho e prestígio de seu nome o trato da sociedade lhes imprimiria
o cunho de distinção de que precisavam para bem se apresentarem casaria as duas irmãs vantajosamente e faria assim a felicidade de todos esses entes queridos confiados a seu desvelo se ao contrário ele Seixas se honer asse desde logo no princípio de sua carreira com o peso da família prendendo-se à vida obscura de que não podia tirá-la ainda mesmo com sacrifício de todos seus rendimentos que outra coa devia esperar sen não vegetar na penumbra da mediana e consumir esteril mente sua mocidade firmou-se pois Seixas nesta convicção que o luxo era não somente a porfia infalível de
uma ambição como o penhor único da Felicidade de sua família assim dissipam-se os escrúpulos Seixas acabava de chegar de Pernambuco Onde se demorara 8 meses desembarcar na véspera a tempo de não perder o cassino o motivo ostensivo dessa viagem fora uma comissão creio que de secretário da presidência dizia-se porém nas rodas políticas que o nosso escritor fora lançar as bases de uma candidatura próxima sem contestar o fato acrescentavam os invejosos que o levara ao norte o fulgor dos belos olhos negros de uma moreninha Pernambucana que fora o astro da última sazão parlamentar todas estas circunstâncias
influíram na resolução de Seixas mas a razão predominante que o moveu a ele carioca da Gema a ausentar-se da corte por 8 meses a seu tempo a saberemos fim do Capítulo 6 parte 1 Capítulo 7 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 1 Capítulo 7 brincava Fernando com as irmãs quando bateram Palmas à escada as meninas fugiram pela alcova seix sem mudar de posição disse em alta voz suba este modo de receber tão sem cerimônia talvez cause reparo em um moço de educação apurada mas
Seixas Não era procurado em casa senão por algum cacheiro ou por gente de condição inferior borboto é o termo próprio borboto pela sala dentro a nédia e roliça figura do senr Lemos que de relance fez as carreirinhas um zigue-zague e achou a queima-roupa no Seixas estático três apertos de mão um sobre o outro Coroados das respectivas cortesias é o Senor Fernando Rodrigues de Seixas que tenho a honra de falar o nosso escritor ergueu-se de pronto compondo as abas do Chambre com um gesto rápido tomou o ar de suprema distinção que ninguém revestia com tanta nobreza
e tato temha bondade de sentar-se disse oferecendo ao lemos o sofá e desculpar-me este desarranjo de quem acaba de chegar sei desembarcou ontem Seixas Confirmou com a cabeça a quem tenho a honra de receber Lemos tirou do bolso uma carta que apresentou ao moço fitando nele o olhar perspicaz a pessoa que me fez a honra de apresentá-lo senr Ramos merece tudo é para mim uma fortuna esta ocasião de provar-lhe minha estima pondo-me inteiramente as ordens de vossa senhoria quando Seixas pronunciou o nome ros o velhinho desfez-se em mesuras corrigindo Lemos mas com uma presteza E
no meio de afinados de garganta que não o percebeu o seu interlocutor eis a explicação do equívoco ao chegar à sua casa na rua de São José Lemos tinha traçado um plano como indicava este monólogo que não tem remédio remediado está desengane-se meu Lemos com a tal menina é escusado trapassar que ela corta-lhe as asas Portanto o que de melhor pode fazer um espertalhão da sua marca é tirar partido da situação saltando do tilbury o velhinho subiu ao sobrado de onde voltou logo munido de um par de óculos verdes que usara outrora por causa de
um ameaço de oftalmia fez ao cocheiro sinal de acompanhá-lo e dobrou pela Rua da Quitanda pouco adiante entrou em uma loja ó Comendador dá-me aí uma carta de apresentação para o Seixas O negociante a quem estas palavras eram dirigidas puxou pela memória Seixas Não conheço hás de conhecer por força vamos escreve lá em favor do Senor Antônio Joaquim Ramos era esta a carta que o tutor de Aurélia acabava de apresentar ao Seixas Viera ele confiado nos dois disfarces o dos óculos e o do nome do recomendado se Apesar disto o moço reconhecesse ele acharia meio
de sair perfeitamente da dificuldade desculpe-me vossa senhoria se eu procuro logo no dia seguinte ou de sua chegada quando ainda deve estar fatigado da viagem mas o assunto que me traz é de sua urgentíssimo estou pronto a ouvi-lo com toda atenção é negócio importante que exige a maior reserva e descrição pode contar com ela o Lemos bambo na cadeira com sua frenética aldade e prosseguiu trata-se de uma moça sofrivelmente rica bonitota a quem a família deseja casar quanto antes desconfiando desses peral vilos que por aí andam a farejar dotes e receando que a menina possa
de repente enfeitiçar por algum dos Tais bonates assentou de procurar um moço sisudo de boa posição embora seja pobre porque samente os pobres que sabem melhor o valor do dinheiro e compreendem necessidade de poupá-lo vez de atirá-lo pela janela fora como fazem os filhos dos ricaços Lemos fitou os olhinhos de azog no semblante de Seixas fui encarregado por essa família que me honra com sua amizade de procurar a pessoa que se deseja e minha presença aqui neste momento significa que tive a fortuna de encontrá-la sua escolha devia lisong me o amor próprio se o tivesse
senr Ramos porém há de compreender que não posso aceder perdão em negócio Ten o meu sistema faça a proposta com lisura sem omitir os encargos e as vantagens porque não costumo regatear o outro pensa e aceita se lhe convém já vejo que é um verdadeiro negócio que me propõe observou fando com ironia Cortez sem dvida atestou o velho mas ainda não disse tudo aen bastante e Dota o marido comos de réis Ema sonante como seas se calasse agora vossa senhoria me dirá se posso levar uma boa deis nenhuma como assim nem recusa nem aceita sua
proposição sen Ramos permita-me esta franqueza não é séria disse o moço com a maior urbanidade Por que razão antes de tudo cumpre-me declarar-lhe que estou de algum modo comprometido e embora não haja um ajuste formal todavia não poderia dispor livremente de mim os compromissos rompem-se de um momento para outro é exato às vezes ocorrem circunstâncias que desatam as mais solenes obrigações mas as razões que movem a consciência não se conta o interesse ele daria o arrependimento a feição de uma transação e o que é a vida no fim de contas se não uma contínua transação
do homem com o mundo exclamou Lemos não vejo ainda a vida por esse Prisma Compreendo que um homem sacrifique por qualquer motivo Nobre para fazer a felicidade de uma mulher ou de entes que lhe são caros mas se o fizer por um preço em moeda não é sacrifício mas tr o Lemos insistiu com todos os recursos da dialética materialista que ele manejava habilmente não conseguiu porém desvanecer os escrúpulos do moço que o ouvia com afabilidade mantendo-se inflexível na negativa bem resumiu o velho não são negócios que se resolvem assim de palpite o Senor Seixas pensará
e se como eu espero decidir-se me fará o favor de prevenir vou deixar-lhe minha morada agradeço mas para esse objeto é inútil observou Seixas ninguém sabe o que pode acontecer o velho escreveu a lápis a rua e o número de sua casa numa folha da carteira que deixou sobre o consolo meia hora depois Seixas descia a Rua do Ouvidor em busca do hotel de Europa onde ia almoçar a Fidalga pela volta do meio-dia de caminho encontrava Os Camaradas e conhecidos que o festejavam pedindo-lhe novas da viagem e dando-lhe as mais frescas da corte entre estas
figuravam a aparição de Aurélia Camargo que datava de meses mas era ainda o grande sucesso do mundo Fluminense havia nessa noite teatro lírico cantava Lagrange no rigoleto Seixas depois de um exílio de 8 meses não podia faltar ao espetáculo às 8 horas em ponto com o fino binóculo de marfim na mão esquerda calçada por macia luva de pelica cinzenta e o elegante sobretudo no braço subia as escadas do lado do mar no patamar encontrou Alfredo Moreira com quem de véspera apenas falara de relance no cassino ontem não sei onde te meteste Seixas cansei de procurar-te
pois andava bem perto de ti é que estavas ontem muito encandeado respondeu Fernando a sorrir é verdade que mulher Seixas não imaginas Olhas de longe vez um anjo de beleza que te fascina e arrasta a seus pés Ébrio de Amor quando lhe tocas não achas senão uma moeda sob aquele esplendor ela não fala Tine como o ouro era para apresentar-te que eu te procurei EA que chega esta última exclamação Alfredo soltou-a avistando um carro que nesse momento parar a porta efetivamente dele saltou Aurélia que se dirigiu acompanhada de Dona Firmina a seu camarote na segunda
ordem envolvia desde a cabeça até aos pés um finíssimo e amplo manto de Alva cachemira que apenas descobria lhe o fino rosto à sombra do capuz e uma orla do vestido azul era preciso ter a suprema elegância de Aurélia para dentre esse envolto singelo e fofo desatar o Garbo de um talhe encantador ela parou justo em frente dos dois moços voltando-lhe às costas à espera de Dona Firmina que se demorara em descer do carro não é uma beleza perguntou Moreira ao camarada tom de ser ouvido deslumbrante respondeu Seixas mas para mim é uma beleza de
espectro não entendo é a imagem de uma mulher a quem amei e que morreu esta semelhança me repele Aurélia ficou impassível Moreira que se adiantara para cortejá-la pensou que o amigo tinha razão efetivamente havia alguma coa de Fantástico naquela Fronte lívida e cintilante Dona Firmina se aproximara a moça retribuindo com um afável cortejo ao cumprimento do Alfredo passou como se não se apercebesse de Fernando e subiu à segunda ordem fim do Capítulo 7 parte 1 Capítulo 8 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Lenin senhora de José de lencar parte 1
Capítulo 8 Lemos Voltara satisfeito com o resultado de sua exploração era o velho um espírito otimista mas à sua maneira confiava no instinto infalível de que a natureza dotou o bípede social para farejar seu interesse e descobri-lo tinha pois como impossível que um moço no seu perfeito juízo dirigido por conselho de homem experiente repelisse a fortuna que de repente lhe entrava pela porta da casa e Casa da Rua do hospício a R 60.000 réis mensais para tomá-lo pelo braço e conduzi-lo de carruagem recostado em fofas almofadas a um Palácio nas laranjeiras sabia Lemos que os
Escritores para arranjarem lances dramáticos e quadros de romance caluniam a espécie humana atribuindo-lhe estultice desses jais Mas na vida real não admitia a possibilidade de semelhantes fatos não se recusam 100 contos de réis pensava ele sem uma razão sólida uma razão prática Seixas Não a tem pois não considero como tal essas palavras oucas de tráfico e mercado que não passam de um disparate queria que me dissessem os senhores moralistas que é esta vida senão uma Quitanda desde que nasce um pobre diabo até que o leve à Breca não faz outra ca se não comprar e
vender para nascer é preciso dinheiro e Para Morrer ainda mais dinheiro os ricos alugam os seus capitais os pobres alugam-se a si enquanto não se vendem de uma vez salvo o direito do estelionato assim convencido de que Seixas não tinha o que ele chamava uma razão sólida para rejeitar o casamento proposto não vira Lemos na primeira recusa senão um disfarce ou talvez o impulso dessa tímida resistência que os escrúpulos costumam opor à tentação esperava pois pela salutar revolução que dentro de poucos dias se devia operar nas ideias do mancebo ao sair da casa de Seixas
lemos dirigiu-se à casa do Amaral onde entabulou uma negociação que devia assegurar o êxito da primeira desenganado o moço da Adelaide dos 30 contos não tinha remédio senão aceitar a Consolação dos 100 consol que levaria o pico de uma vazinha não sei como pensarão a fisiologia social de Lemos a verdade é que o velhinho não mostrou grande surpresa quando uma bela manhã veio dizer-lhe seu agente que o procurava um moço de nome Seixas esse agente chamava-se Antônio Joaquim Ramos e era o mesmo de quem o velho Tomara emprestado o nome estava prevenido pelo patrão desta
circunstância que não surpreendia pois era jubilado Em tais alicantinas que espere gritou o velho tinha Lemos na loja da casa de morada uma cousa chamada escritório de agências era um corredor que dava porta para a rua e estendia-se até à área do fundo onde o velho trabalhava dentro de uma espécie de gaiola feita de tabique de madeira com balaústres fora daí que respondera era seu costume sempre que ia tratar de negócio importante rinlo de antemão para não ser tomado de improviso foi o que fez nesse momento de que disposições virá o sujeito quererá sondar a
respeito da Noiva desconfiado de que lhe pretendo impingir alguma carcaça ah ah por esse lado não há perigo terá a intenção de regatear a menina não se importa de chegar até aos 200 e aposto que se for preciso vai por aí a fora que isso de mulher o dinheiro faz-lhe cócegas mas eu é que não estou pelos altos segura-me nos 100 que daí não me arrancam quando muito uns 20 de quebra pro enxoval e nem mais R real tendo feito seus cálculos Lemos chegou à porta do cubículo e gritou para a frente do armazém mande
entrar quando Seixas chegou ao escritório já Lemos estava de novo trepado no mocho e debruçado à carteira continuava a despachar seus negócios sem erguer a cabeça fez com a mão esquerda um gesto ao moço indicando-lhe o sofá queira sentar-se já lhe falo terminada a carta e enxuta com Mat borrão Lemos fechou a na competente capa pôs-lhe sobreescrito e só então girando sobre o Mocho como uma figurinha de catavento apresentou à frente ao moço o senhor deseja falar-me perguntou já não se recorda de mim perguntou Seixas inquieto tem uma lembrança vaga o senhor não me é
de todo estranho não há três dias estivemos juntos tornou Seixas É verdade que pela primeira vez há TRS dias e Lemos fez semblante de recordar-se desde que entrara Seixas mostrara em sua fisionomia como em suas maneiras um constrangimento que não era natural ao seu caráter parecia lutar contra uma força interior que o demia da resolução tomada mas se não podia subtrair-se a esses rebates dominava bante para subjugá-los à necessidade o esquecimento de Lemos porém veio abalar aquela firmeza momentânea no semblante do moço pintou-se imediatamente a vacilação do Espírito não escapou essa alteração ao velho que
recostando na cadeira a jeito de olhar o seu interlocutor de meio perfil se desfez em exclamações de surpresa ora o Senor Seixas O meu amigo desculpe isto de negociantes o senhor deve saber temos a memória na carteira ou no borrador São tantas as coisas de que nos ocupamos que realmente só uma cabeça de 200 folhas como esta pode chegar para tanto o velho soltou uma risadinha cacof e apontou para um livro Mercantil colocado sobre a carteira aqui está a minha rubricada pelo tribunal do Comércio e competentemente selada com todas as formalidades legais então meu amigo
que manda a seu serviço o Sr Ramos mantém a proposta que me fez anteontem em minha casa perguntou Seixas Lemos fingiu que refletia um dote de 100 contos no ato do casamento é isto resta-me conhecer a pessoa ah Este ponto parece-me que deixei-o bem claro não tenho autorização para declarar senão depois de fechado nosso contrato o Senhor nada me disse a este respeito estava subentendido qual a razão deste mistério faz respeitar algum defeito observou Fernando garanto-lhe que não se o enganar o Senhor está desobrigado ao menos pode dar-me algumas informações todas Seixas dirigiu ao velho
uma série de interrogações acerca da idade educação Nascimento e outras circunstâncias que lhe interessavam as respostas não podiam ser mais favoráveis aceito concluiu o moço muito bem aceito mas com uma condição sendo razoável preciso de 20 contos até amanhã sem falta o velho saltou na cadeira este caso apanhava de surpresa meu amigo se dependesse de mim mas o senhor sabe que neste negócio eu sou apenas um procurador oficioso não tenho ordem para adiantar a menor quantia quanto ao Dote depois de realizado o casamento este sim garanto não pode emprestar-me sobre essa gantia aemos escapou Uma
careta que ele procurou disfarçar tem raz observou seas sem alterar-se vossa senhoria não me conhece Senor Ramos e a posição em que me coloi dando este passo não é própria de certo para inspirar confiança não é isso homem acudiu velho ainda um tant atrapado mas é que H viver e morrer Desculpe o incômodo que lhe dei tornou o moço fazendo um cumprimento de despedida o negociante estava tão atarantado e perplexo que não correspondeu à cortesia de Seixas e o viu sair do escritório indeciso sobre o que havia de fazer para que diabo quererá estimar rec
os 20 contos Aposto que anda aqui volta do alcazar o rapaz está caído por alguma das Tais francesinhas e elas que são umas gioias finas como um alambre mas capazes de engolir um homem que Dirá isso a senhora minha pupila estará disposta a correr todos os riscos e perigos da ação neste ponto de seu monólogo o velho recobrando Sua petulante agilidade deu uma corrida à porta do Armazém onde ainda chegou a tempo de avistar o moço que afastava-se a passos lentos pensativo e de cabeça baixa ó senr Seixas faz favor o negociante adiantar-se alguns passos
na rua para ir ao encontro do moço é só uma pergunta foi logo dizendo velho para não incutir vã Esperança se recebesse os 20 contos ficava fechado de uma vez o nosso ajuste Sem dúvida já o declarei não tínhamos Mais Uma objeção De qualquer espécie nem essas patranhas de Honra e dignidade com que andam por aí uns certos sujeitos a embaçar os outros negócio decidido sem olhar a fazenda quero dizer a pequena sendo ela como o senhor assegurou está visto escute não prometo nada mas espere-me amanhã em sua casa que eu lá estarei por volta
das 9 Lemos aviou uns negocinhos uniu-se de uma folha de pap selado de R mil ré Depois de jantar deu um pulo à Laranjeiras Aurélia estava lendo na sala de conversa mas o estilo de George Sand não conseguia nesse momento cativar o espírito que às vezes batia as asas e láia borboleteando pelo azul de uma cesta Mena quando lhe anunciaram o Lemos ela sobressaltou-se e o tremor que agitou as rosas asas da narina revelou a comoção interior dificuldade que ocorreu naquele nosso negócio é o que me traz Qual foi o Seixas já lhe pedi que
não pronuncie este nome disse a moça com um modo austero É verdade desculpe-me Aurélia a precipitação ele exige 20 contos de rés à vista até amanhã sem o que não aceita pague os a moça proferiu Esta palavra com aquele timbre sibilante que Em certas ocasiões tomava sua voz e que parecia o Ger do diamante no vidro cobrir-se lhe o semblante de uma palidez mortal e por momentos parecia que a vida tinha abandonado aquele Formoso vulto congelado em uma estátua de mármore não percebeu lemos esse profundo confrangimento atrapalhado Como estava a tirar do bolso uma das
folhas de papel selado que Estendeu sobre a mesa alisando a com as palmas das mãos depois molhando a pena apresentou à moça uma orden Zinha a Aurélia sentou-se à mesa e traçou com uma letra miúda de talho oblíquo algumas linhas para que pede ele este dinheiro perguntou a menina enquanto escrevia não me quis dizer mas eu suspeito e tratando-se de uma união de que depende o seu futuro Aurélia não devo ocultar cousa alguma é um favor que lhe agradeço Não tenho certeza mas desconfio que é uma rapaziada o nosso José Clemente fez um palácio para
guardar os ddos mas vieram os meus francesinhos e inventaram o tal alcazar que é uma casa de fazer ddos de modo que já eles não cabem na praia vermelha Aurélia mordia a extremidade da caneta cujo Marfim escurecia entre os dois rocis de seus dentes de pérola não importa e assinou a ordem no dia seguinte a hora apras estava o Lemos em casa de Seixas O senhor é um rapaz feliz aqui lhe trago a bolada negoci tirou do bolso a segunda folha de papel selado Temos que passar primeiro um recibo Zinho em que termos depois de
uma pequena discussão em que os escrúpulos de Seixas relutaram contra a imposição da Necessidade assinou o moço contrariado esta declaração recebi do ilustríssimo Senor Antônio Joaquim Ramos a quantia de 20 contos de ré como avanço do dote de 100 contos pelo qual me obrigo a casar no prazo de tr com a senhora que me for indicada pelo mesmo Senor Ramos e para garantia empenho minha pessoa e minha honra depois de verificar que o recibo estava em regra Lemos contou com a destreza de um cambista o março de notas que trazia e o entregou ao moço
recolhendo uma das cédulas 19 contos 80 ré com de selo seas recebeu o dinheiro com tristeza maganão feliz soltando a sua implicante risadinha Lemos fez duas piruetas deu três saltinhos beliscou a coxa de seu interlocutor e Desceu a escada como uma bola de borracha aos ricochetes fim do capítulo 8 Parte 1 Capítulo 9 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni senhora de José de Alencar Capítulo 9 Seixas era homem honesto mas ao atrito da secretaria e ao calor das salas sua honestidade havia tomado essa têmpera flexível de cera que se
molda as fantasias da vaidade e aos reclamos da ambição era incapaz de apropriar-se do alheio ou de praticar um abuso de confiança mas professava a moral fácil e cômoda tão cultivada atualmente em nossa sociedade segundo essa doutrina tudo é permitido em matéria de amor e o interesse próprio tem plena Liberdade desde que transija com a lei e evite o escândalo no dia seguinte a visita de Lemos logo pela manhã Dona Camila procurou um pretexto para ir à alcova do filho venho falar-te de um negócio de família Fernandinho Há um moço aqui mesmo desta rua que
tem paixão pela nicota sua vida mas já é dono de uma lojinha não quis decidir nada antes de tua chegada Dona Camila contou então ao filho os pormenores do inocente namoro Fernando concordou com prazer no casamento Já Era Tempo disse a boa senhora suspirando estava com tanto medo que a nicota também fosse ficando pro canto como minha pobre Marinhas Coitada Mas eu ainda tenho esperança de arranjar-lhe um bom partido minha mãe Deus te ouça Ah ia me esquecendo então há de ser preciso tirar algum dinheiro da Caixa Econômica por conta do que ela tem para
cuidar do enxoval já o moço ainda não a pediu Só espera a licença de nicota e ela não quis dar sem primeiro saber se era de teu gosto e meu hoje mesmo está bem logo que eu possa Irei tirar o dinheiro mas se precisa já de algum tenho aqui não melhor é comprar tudo de uma vez Fernando saiu contrariado com a vida que tinha avava sua despesa o dinheiro que recebia mensalmente gastava com hot o teat aia oogo gorget e mil outras verbas próprias de rapaz que Lua no fim do ano quando chegava a ocasião
de saudar a conta do Alfa sapateiro perfumista e da coira não havia sobras recorreu ao dinheiro da Caixa Econômica e não teve escrúpulo de o fazer desde que pontualmente continuou a entregar à mãe a mesada de R 150.000 réis esperando mar aragem da Fortuna para restituir ao pecúlio o que desfalcar Mas em vez da Restituição foi entrando por ele de modo que muito havia se esgotara onde pois ia ele buscar o dinheiro que a mãe lhe pedira para o enxoval e mais tarde o resto do quinhão da nicota assinou Fernando ponto na repartição e como
de costume saiu para almoçar depois do que dirigiu-se à casa do correspondente a quem ele incumbira de na sua ausência pagar a mensalidade à Dona Camila e enviar-lhe algumas encomendas contava com um saldo das remessas que havia feito de Pernambuco e dos atrasados que deixara cobrar esbarrou se porém com um alcance superior a dois contos de réis ao qual o correspondente começava a contar um juro de 12% Seixas compreendeu a eloquência dessa taxa que significava uma intimação de imediato pagamento ao escurecer tornando à casa para trajar-se pois tinha de ir a uma partida achou três
cartas que haviam trazido em sua ausência uma era do Amaral enchia duas laudas dizia muito mas nada concluí verdadeiro logogrifo epistolar cuja decifração o autor deixava a perspicácia do Seixas em suma o pai de Adelaide escrevera uma folha de papel para preparar O Pretendente a um próximo arrependimento da promessa quem estivesse traquejado no trato do Lemos conheceria naquela prosa o seu estilo pint Alegrete como seu físico as duas outras cartas eram simplesmente umas contas avulsas mas não insignificantes que Seixas deixara ao partir para Pernambuco de que já não tinha a menor ideia elas se faziam
lembrar com o laconismo brutal desta verba importância de sua conta entregue no ano passado reais etc Fernando amassou as três missivas em uma pelota que arremessou Ao canto a ruptura do ajuste de casamento que em outra circunstância porventura o contentaria com a restituição da liberdade e responderia a um oculto desejo naquele instante o acabrunhado a prova esmagadora da ruína que ia traga-o de que eram documentos as contas não pagas e as dívidas acumuladas na reunião onde foi passar a noite esperava a última decepção aceitando a comissão em Pernambuco Seixas alcançara A Promessa de na volta
continuar com a sinecura da recopilação das leis mas nessa manhã apresentando-se na secretaria surgiram certas dúvidas confiou em seus protetores apenas chegado o ministro que era um dos dados despachou lhe Fernando um após outro seus melhores empenhos dos do sexos caso inaudito o excelentíssimo foi inflexível por força que andava aí volta de alguma intriga era um desfalque de conto e 600 nos rendimentos e quandoas urgências mais avultavam Decididamente a mão do destino pesava sobre ele e o punia severamente dos pecados da Mocidade quando Seixas achava-se ainda so o império desta nova contrariedade apareceu na sala
a Aurélia Camargo que chegara naquele instante sua entrada foi como sempre um deslumbramento todos os olhos voltaram-se para ela pelaos e Brilhante sociedade ali reunida passou o frêmito das fortes Sensações que o baile se ajoelhava para recebê-la com o ferv da adoração se afse essa mulher humilhava-o desde a noite de sua chegada que sofrera a desagradável impressão refugiava-se na indiferença esforçava-se por combater com o desdém a funesta influência mas não o conseguia a presença de Aurélia sua esplêndida beleza era uma obsessão que o oprimia quando como agora atirava da vista fugindo-lhe não podia arrancá-la da
lembrança nem escapar a admiração que ela causava e que o perseguia nos elogios proferidos a cada passo em torno de si no cino Seixas tivera um reduto onde abrigar-se dessa Cruel Fascinação ocupar-se de Adelaide que então ainda tratava como noivo e desfizeram-se em atenções e request para não deixar presa a preocupação nessa noite porém obrigado a afastar-se da moça com quem estavam rotas suas relações ele não sabia o que fizesse e pensava em retirar-se Aterrado com a ideia de tornar-se o ludíbrio daquela mulher fatal quando ouviu uma voz que o agitou ao voltar-se tinha diante
de si Aurélia pelo braço de Torquato Ribeiro e Adelaide conduzida por Alfredo Moreira Seixas quis retirar-se mas estava em uma estreita saleta e um grupo de senhoras impedia lhe a passagem proponho lhe uma troca dona Adelaide Qual é Dona Aurélia troquemos os pares aceita Adelaide corou observando timidamente podem ofender-se não tenha susto Aurélia deixou o braço de Torquato e tomou do Moreira que exultou como se imagina esta troca é paga da outra que fizemos o que fizeram por nós ouviu dona Adelaide solando estas palavras com um riso argentino Aurélia perpassou pelo semblante de Seixas o
olhar sarcástico e imperioso Fernando saiu desesperado compreendera que Aurélia escarnecia da repulsa que ele sofrera triunfava com seu Infortúnio esta irrisão depois dos transtornos econômicos fez-lhe o efeito de um cautério aplicado ao táo lembrou-se da moça dos 500 contos que lhe haviam proposto na véspera para Ostentar sua riqueza nos salões diante dessa mulher enfu de seu ouro valia a pena casar-se ainda mesmo com uma sujeita feia e talvez roceira a roça é o viveiro de noivas ricas onde se provê a mocidade elegante da corte daí vinha a suposição de Seixas no outro dia depois de
uma insônia atribulada Fernando recapitulando as contrariedades com que o recebera a sua corte predileta depois de uma ausência prolongada chegou a esta dolorosa conclusão que estava arruinado pobre desacreditado reduzido a vida de expedientes com a sua carreira cortada que futuro era o seu não lhe restava senão resignar-se à vegetação de emprego público com a ridícula esperança de alforria lá pros 50 anos sob a forma da mesquinha aposentadoria esta perspectiva o horroriza entretanto sua posição nada tinha de assustadora com um pouco de resolução para confessar à mãe suas faltas e algumas perseveras em repará-las podia ao
cabo de do anos de uma vida modesta e poupada restabelecer a antiga abastança mas essa coragem é que não tinha Seixas deixar de frequentar a sociedade não fazer figura entre a gente do Tom não ter mais por Alfaiate o ronier por sapateiro campas por camiseira creten por perfumista o Bernardo não ser de todos os divertimentos não andar ao rigor da moda eis o que ele não concebia sentia-se com ânimo para matar-se mas para tal degradação reconhecia-se pusilânime este pico da pobreza apoderou-se de Seixas e depois de trabalhá-lo o dia inteiro levou na manhã seguinte à
casa do Lemos onde efetuou-se aação que el próprio havia qualificado não pensando que tão cedo havia de tornarse ré dessa indignidade a umati porém tem ele direito se previsse oses porque ia passar durante a realização do mercado e especialmente no ato de assinar o recibo talvez se arrependesse mas arrastado de concessão em concessão a dignidade Abatida já não podia reagir três dias depois daquele em que recebera os 20 contos de réis achou Seixas ao recolher-se um recado do tal Ramos nestes termos prepare-se que amanhã às 7 da noite vou buscá-lo para a apresentação no dia
seguinte a hora marcada com pontualidade Mercantil parava à porta do Sobradinho da Rua do hospício um carro do qual poucos momentos depois seguia o Lemos Caminho das Laranjeiras com o noivo que ele havia negociado para sua pupila durante o rápido trajeto o velho diverti em meter sustos no rapaz acerca da noiva a quem sorrateiramente I emprestando certos senões a pretexto de os desculpar ora dava a entender que aa tinha um olho de vidro Ora inculcava que era uma perfeita roceira a qual o marido devia logo depois do casamento mandar para o colégio tão depressa inventava
o negociante suas pilhérias como as destruía com o costumado repique de riso batendo três palmadinhas na perna de seu companheiro ficou passado hein mangan qual roceira esteja descansado não precisa de colégio se ela já é uma academia Tome meu conselho trate de estudar sen não o senhor faz má figura Seixas não prestava atenção às facécias do velho seu espírito estava nesse momento pela dolorosa convicção que tinha do abatimento e vergonha de sua posição agora sobretudo ao começar a realização do mercado que ele havia feito de sua pessoa quando ia encontrar-se com a mulher a quem
se alienara sem a conhecer em troca de um Dote agora é que toda a humilhação desse procedimento se lhe desenhava com as cores mais carregadas o carro acabava de parar o velhinho saltando ágil e lépido bateu no chão com os pés a fim de consertar as calças que haviam subido pelos canos das Botas escuso preveni-lo observou Lemos de que a pequena nada sabe nem suspeita Por enquanto não dê a perceber fim do capítulo n parte 1 Capítulo 10 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte
1 Capítulo 10 o portão ficava a uns 30 passos da casa que se erguia no centro de vasto Jardim inglês todas as janelas do primeiro pavimento estavam abertas e despejavam cortinas de luz que tremulavam nas águas do tanque e na folhagem Verde agitada pela brisa as visitas foram conduzidas pelo criado ao salão onde apenas se achava Dona Firmina Mascarenhas e o Torquato Ribeiro Com quem o velho trocou algumas palavras no vão de uma janela enquanto Seixas sentado junto ao sofá aguardava o Terrível momento ouviu-se um frido de sedas e Aurélia assomou na porta do salão
trazia nessa noite um vestido de nobreza Opala que assentava lhe admiravelmente debuch como uma o Formoso busto com as rutila da seda que onava o reflexo das luzes tornavam-se ainda mais suaves as inflexões harmoniosas do T sedutor Como que banhava-se essa estátua voluptuosa em um gás de leite e fragrância seus opulentos cabelos colhidos na nuca por um Diadema de Opalas borot em Cascatas sobre as alvas espáduas bombeadas com uma elegante simplicidade e Garbo original que a arte não pode dar ainda que o imite e que só a própria natureza incute via-se bem que essa altiva
e Gentil cabeça não carregava um fardo Talvez o espólio de um crânio morto jogo Cruel que a moda impõe à moças vaidosas o que ela ostentava era a coma abundante de que a toucar a natureza como as árvores frondosas era a juba soberba de que a galanteria moderna coroou a mulher como emblema de sua Realeza cingia o braço torneado que a manga arregaçada descobria até a curva uma pulseira também de Opalas como eram o frouxo colar e os brincos de longos pingentes que tremulavam na Ponta das orelhas de naar com o andar crepitava as pedras
das pulseiras e dos brincos formando um trilo argentino música do Riso mavioso que essa Graciosa criatura desprendia de si ia deix em sua passagem como os arpejos de uma Lira atravessou a sala com o Brando arfar que tem o sisne no Lago Sereno e que era o passo das deusas no meio das ondulações da seda parecia não ser ela quem avançava mas os outros que vinham a seu encontro e o espaço que ia se dobrando humilde a seus pés para evitar-lhe a fadiga de o percorrer se Aurélia contava com o efeito de sua entrada sobre
o Espírito de Seixas frustrarao essa Esperança porque os olhos do mancebo nublados por um súbito deslumbramento não viram mais do que um vulto de mulher atravessar o salão e sentar-se no sofá a moça porém não carecia dessas ilusões cênicas aquela aparição esplêndida era em sua existência um fato de todos os dias como o orto dos astros se sua beleza surgia sempre brilhante no Oriente dos Salões assim conservava-se toda a noite no apogeu de sua graça o Lemos vendo entrar sua pupila foi-lhe ao encontro e acompanhou-a até o sofá Aurélia tenho a honra de apresentar-lhe o
Senor Seixas A moça correspondeu com uma leve inclinação da Fronte à cortesia de Seixas a quem estendeu a mão que ele apenas tocou ainda neste momento o moço não conseguiu de si fitar a pessoa que tinha em Face esse rosto desconhecido incutia lhe indizível pavor porque era a fisionomia de sua humilhação Aurélia para romper o enleio da apresentação começara com o tio uma dessas conversas de sala que suprem o piano e o canto e que não passam como eles de um rumor sonoro para entender o ouvido a Extrema volubilidade com que a palavra lhe brincava
nos lábios fazia contraste com a rispidez do gesto sempre harmonioso e com um refr que por assim dizer congelava lhe o lado do perfil voltado para Seixas Entretanto dissipou-se a grande comoção que peruti profundamente o organismo desse homem desde o momento da entrada de Aurélia no salão e lhe havia embotado os sentidos uma voz melodiosa penetrou lhe na alma acordando ecos dali adormecidos pela primeira vez pôs os olhos no semblante da moça e imagine-se qual seria o seu pasmo reconhecendo Aurélia Camargo por algum tempo julgou-se vítima de uma Alucinação custava-lhe a convencer-se que tivesse realmente
diante de si a mulher de quem se julgava eternamente separado a comoção foi tão forte que desvaneceu quase de seu espírito a lembrança do motivo que o trouxera aquela casa e a posição falsa em que se achava uma satisfação íntima veu completamente e não deixou presa as amargas preocupações que pouco antes o dominavam também Aurélia de sua parte havia recobrado a calma pois voltou-se sem o mínimo acanhamento para o moço e perguntou-lhe esteve ultimamente no norte Senor Seixas sim minha senhora cheguei a semana passada de Pernambuco Onde desempenhou uma comissão importante acrescentou Lemos oci tão
bonito como dizem creio que poucas cidades do mundo lhe poderão disputar em Encantos de perspectiva e beleza de situação nem o nosso Rio de Janeiro perguntou Aurélia com um sorriso O Rio de Janeiro é sem dúvida superior na Majestade da natureza o Recife porém prima pela graça e louçania a nossa corte parece uma rainha altiva em seu trono de montanhas a capital de Pernambuco será a princesa Gentil que se debruça sobre as ondas dentre as moitas de seus Jardins é por isso que a chamam Veneza brasileira não conheço Veneza mas pelo que sei dela não
posso compreender que se compare um acervo de mármore levantado sobre o lodo das restingas com as lindas várzeas do Capiberibe toucas de seus verdes coqueirais a cuja sombra a Campina e o mar se abraçam carinhosamente já vejo que o senhor encontrou a musa no Recife observou Aurélia gracejando acha-me poético não fiz senão repetir o que provavelmente já disse algum Vate Pernambucano quanto a minha musa ficou anjinho morreu de sete dias e ja enterrada na poeira da secretária respondeu Seixas no mesmo tom tinham entrado várias visitas cuja chegada interrompeu este diálogo Aurélia ergueu-se para receber as
senhoras enquanto os cavaleiros se derramavam pela sala esperando o momento de apresentar as homenagens à dona da casa notava-se a completa ausência dos pretendentes declarados de Aurélia se algum conseguira ser convidado devia o favor à circunstância de não ter revelado ainda suas intenções fatigada das adorações de que era alvo nos bailes e que se transformavam em verdadeira perseguição Aurélia fizera dessas reuniões em família um como Remanso onde se abrigava da obsessão do mundo aproveitando a confusão levou seas à janela então enganei ao contrário nunca eu poderia supor que fosse ela pois agora que a conhece
é tempo de saber que sou eu o feliz tutor deste amorzinho e que chamo Lemos e não Ramos diferença de duas letras apenas enquanto não se fechava o negócio era preciso guardar o segredo compreende hein mang não e Lemos beliscou o braço de Seixas O que era uma das mais significativas demonstrações de sua amizade por meio da noite a moça ao atravessar a sala quando voltava de despedir-se de uma senhora viu Seixas recostado a uma janela pela parte de fora A pretexto de fumar o moço tinha saído ao Jardim e para de todo não sequestrar
da sociedade tomar aquela posição da qual parecia acompanhar com a vista o que se fazia na sala mas era como se ali não estivesse pela preocupação que nesse momento o recona essa primeir a pausa que lhe deixavam os deveres da sociedade depois da entrada de Aurélia na sala seu pensamento a aproveitou para bem compenetrar se dos Fatos que se acabavam de passar e aos quais buscavam uma causa ou uma explicação a moça a pretexto de olhar para o céu veio debruçar-se à mesma janela está tão retirado também cultiva as estrelas Quais as do céu pois
há outras nunca lhe disseram talvez alguém além se lembrasse disso mas ainda não achei quem me fizesse acreditar respondeu a moça com um sorriso Seixas calou-se seu espírito além de pouco propenso a esses torneios da palavra estava cativo de uma ideia importuna quem sabe se vim perturbar alguma visão encantadora insistiu Aurélia não a tenho estava pensando nos Caprichos da Fortuna que me trouxe esta noite à sua casa é isto uma graça ou uma ironia da sorte a senhora quem poderá dizer-me Aurélia desatou a rir era preciso que eu estivesse na intimidade Dessa senhora para conhecer-lhe
as intenções e apesar de muita gente considerar-me uma de suas prediletas acredite que no fundo não nos gostamos isto disse o a moça galando mas logo ficou séria e prosseguiu o que eu compreendo dessas palavras é que o Senor Seixas arrependeu-se de não haver empregado melhor seu tempo tenho eu o direito de arrepender-me disse o moço em voz baixa como temendo que o ouvissem como está misterioso meu Deus não fala sen não por enigmas confesso que não o entendo carece alguém de direito para arrepender-se de uma ca tão simples como uma visita tem razão Dona
Aurélia desculpe ainda não me recobrei da surpresa vindo a esta casa não esperava encontrá-la estava longe de pensar tanto lhe desagradou o encontro perguntou a Aurélia sorrindo se eu ainda acreditasse na felicidade diria que ela me tinha sorrido E por que descu seas fitou um olhar melancólico no semblante da moça que interesse lhe pode isso inspirar questão de gênio a alguns nunca a esperança os abandona a outros falta de todo a fé e desanimam com a menor decepção e a senhora Dona Aurélia há pouco Ouvi uma alusão foi de certo gracejo diga-me é feliz Creio
que sim pelo menos todos o afirmam e eu não posso ter a presunção de conhecer melhor o mundo do que tantas pessoas mais sabedoras e experientes que a minha cabecinha de Vento assim para não desmentir a opinião geral considero-me a mais ditosa moça do Rio de Janeiro todos os meus Caprichos são logo satisfeitos não form um desejo que não veja realizado por toda parte cercam de adorações e louvores que eu não mereço e que por isso mesmo se Mais lisonjeiros Nada lhe falta portanto diz meu tutor que me falta um marido e ele incumbiu-se de
o escolher qualquer é lhe isto indiferente perguntou Seixas sorrindo está entendido que só aceitarei o que me agradar mas não quero ter o aborrecimento de ocupar-me com semelhante assunto tão pouco lhe interessa ao contrário tanto receio tenho de comprometer eu mesmo o meu futuro que o fio a sorte Deus proverá Seixas interrogava o semblante risonho da moça para descobrir laivos de ironia sobre aquela Graciosa volubilidade e no seio de sua opulência nos raros instantes de repouso que permitem os prazeres de sua vida elegante não lhe acode alguma recordação de outros tempos Não falemos do passado
exclamou a moça com um modo ríspido meigo sorriso porém apou log a vecia do g e atil do Olhar noso conhecimento data de hoje sen se os moros deixemos verend al osvos de in Aurélia retir da 10 parte 1 Capítulo 11 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 1í 11 então seas encontrou-se quase todas as noites com Aurélia ou casa desta ou na sociedade a mane afável aa o tratava tinha se não desvanecido completamente a menos embotado suscetibilidades de sua conscia acerca do auste que
fizer comemos não que se absolvessem pelo amor suas conversas com Aurélia versavam ordinariamente sobre temas de sala às vezes porém ele aproveitava um pretexto para falar-lhe Nesse estilo terno e mavioso que é como o canto do amor e por isso não carece da ideia mas somente do vocábulo sonoro para embalar o coração aos suaves arpejos dessa música então Aurélia pendia Fronte e escutava com recolhimento o lirismo da palavra inspirada pelo moço todavia nunca em seu rosto ou em sua pessoa transpareceu o menor sinal de retribuição a esse afeto ela abria a alma ao amor porém
o amor que filtrava nas meigas falas de Seixas evaporava como uma fragrância que envolvia um instante sem penetrar-lhes outra alusão ao passado como da primeira vez ela o atalhou esse tempo não existe para mim Nasci Há um ano encontrando-se uma tarde com Lemos Seixas O interpelou tenho um favor a pedir-lhe dois que sejam diga-me com franqueza Qual o motivo porque o Senhor escolheu-me de preferência para marido de sua pupila quando nem me conhecia o velho debulhou uma risadinha que lhe era peculiar Então quer saber pois lá vai não faço mistério não me convinha que a
pequena se deixasse iludir pelas lábias de um desses bigodinhos quehe andam ao Faro do dude Então sou que ela outrora goar do Senhor e como P informações que tinha me quadrava fui procurá agora oo é por sua magan esta expli mais Serenou o espírito do moço e dissipou uns últimos rebates que ainda o assaltavam às vezes pensando bem o modo Por que ajustara seu casamento não era nenhuma novidade todos os dias se estavam fazendo dessas alianças de conveniência em termos idênticos senão mais positivos além disso a sorte por uma feliz coincidência fizera que desse projeto
de casamento de razão surtis se um enlace de amor de modo que o coração absolvia e santificava quanto se havia feito para a realização de seus votos continuou pois Seixas com os seus doces madrigais e os maviosos noturnos Ao canto da sala depois da noite da apresentação deixara lemos a seu protegido como chamava o cuidado de arranjar seus negócios apareceu-lhe Porém uma manhã meu amigo se não tem que fazer agora vamos concluir o negócio isto de casamento é como a sopa não se deixe esfriar Seixas também tinha pressa de sair da situação em que se
achava temia a cada ver dissipada a doce ilusão com que sua alma disfarçava a transação por ele aceita a ideia de aparecer ante a moça so o aspecto de um especulador era-lhe suplício acedeu prontamente ao convite do negociante e acompanhou à casa de Aurélia em trajo de Cerimônia a moça prevenida da visita os esperava no salão onde foram logo introduzidos depois dos cumprimentos e de uma conversa frouxa e distraída Lemos formalizando tomou a palavra Dona Aurélia o Senor Seixas a quem já conhece por suas excelentes qualidades pessoa digna de toda estima pediu-me sua mão porha
parte eu não podia fazer melhor escolha em todos os sentidos mas tudo isto nada vale se não tiver a fortuna de merecer o seu agrado Aurélia fitou em seu pretendente um olhar que desmentia o sorriso em flor de seus lábios não lhe assustam Caprichos e excentricidades se eu os adoro respondeu Seixas galando não lhe parece difícil fazer a felicidade de um coração desabusado como este meu e tão afligido pela dúvida tenho fé no meu amor com ele vencerei o impossível apagou-se nos lábios de Aurélia o sorriso e a expressão de um ardente anelo rumando do
mais profundo de sua alma emergiu lhe o semblante aqui tem a minha mão e tudo quanto posso dar-lhe a mulher que ama e que sonhou essa não a possuo mas se o senhor tiver o poder de a realizar ela lhe pertencerá absolutamente como sua criatura acredite que esta é a esperança de minha vida eu a confio de sua afeição a moça com um gesto de sublime abandono oferecera sua mão acetinada a Seixas que a beijou murmurando exclusões de seu júbilo e gratidão o Lemos que se apartara discretamente para não acanhar os noivos tornou a conversação
que reassumiu o Tom ligeiro das banalidades do costume a notícia do próximo casamento de Aurélia produziu na sociedade Fluminense grande assombro ninguém podia capacitar-se de que essa moça pretendida pelo creme dos noivos Fluminenses podendo escolher à vontade entre os seus inúmeros Adoradores maridos de todas espécie tivesse o mau gosto de enxovalhar se com um escrivinhador de folhetins o Alfredo Moreira quando a encontrou depois da novidade não pôde esconder o despeito então casa-se é verdade Afinal achou cotação muito alta Sem dúvida replicou O elegante com ironia não tornou-lhe a moça no mesmo tom ficou-me por uma
ninharia Ah estimo muito que preço quer saber o preço estou curioso foi o seu Moreira mordeu os beiços e riu-se apesar de tudo não perdera a derradeira esperança o projetado casamento podia desfazer-se por qualquer motivo e não era difícil que a moça de um momento para o outro se arrependesse da Escolha com a mesma volubilidade com que a tinha feito de repente e por um capricho assim pensava O malogrado Pretendente enquanto que todos os indícios pareciam revelar da parte de Aurélia a firme intenção de na primeira resolução que ela não tomara senão depois de muito
refletida desde que anunciou-se o casamento começou a moça a aparecer mais raramente na sociedade até que de todo retirou-se limitando-se ao pequeno círculo que frequentava sua casa e no qual ela por assim dizer espane a sua alma de um certo entorpecimento que lhe deixavam as ternas confidências e devanei os namorados do noivo Seixas pelas palavras que Aurélia havia proferido tão na ocasião de dar-lhe a mão de esposa julgara compreender o segredo das estranhezas e oscilações do caráter da moça ela duvida que eu a ame pensou consigo suspeita que tenho a mira em sua riqueza é
preciso que a convença da Sinceridade de minha afeição se ela soubesse um desgraçado pode sacrificar sua liberdade mas a alma não se vende imbuído dessa ideia não é de estranhar que seix estivesse em suas expansões uma exuberância que des caía em exageração muitas vezes fatigada senão oppressa dessas demonstrações apaixonadas Aurélia que debal de tentar adormecer com elas as desconfianças de sua alma exclamava entre fagueira e irônica ah deixe-me respirar nunca fui amada nem pensei que eu seria Com tamanha paixão careço de habituar aos poucos a residência de Laranjeiras fora recentemente preparada com luxo correspondente as
avultadas Posses da herdeira e já na previsão do próximo consórcio poucos eram os preparativos a fazer para a celebração do casamento e esses apressou o dinheiro que é o primeiro e mais eloquente dos improvisadores tratou-se pois de marcar o dia o Lemos pôs em discussão a questão dos padrinhos já ele tinha cogitado sobre o assunto e segundo a moda de nossa sociedade julgava indispensável pelo menos uma Baronesa para madrinha e dois figurões cousa entre Senador e Ministro para padrinhos não tinha ele amizade com gente Dessa plaina mas entendia que um simples conhecimento de chapéu e
até mesmo a carta de recomendação eram títulos suficientes para solicitar semelhantes favores com que a vaidade dos grandes se lisonjeia e a presunção dos pequenos se exalta grande foi Portanto o embaraço de Lemos quando Aurélia declarou que um dos seus padrinhos havia de ser o Dr Torquato Ribeiro que lembrança disse Fernando involuntariamente desagrada lhe na fisionomia da moça perpassou um súbito lampejo podia-se tomar esse brilho pela xispa do Solitário de seu anel que a luz feria quando a mão corrigia um crespo do cabelo desprendido do toucado podia escolher outra pessoa Aurélia não é seu amigo
ah cuidava não tem posição dê certo acud o Lemos posição é essencial um simples Bacharel não correspondia Por modo algum à noção aristocrática que o velho tinha do paraninfo de uma herdeira Milionária Além de que transtorn Ava o plano pois os altos personagens convidados declinaram infalivelmente de ombrear com um rapazola que nem Comendador era Aurélia porém não cedeu no dia seguinte assinou-se a escritura nupcial de separação de bens que a curava a Seixas um dote de 100 contos de réis a moça que sempre esquivar-se a mínima interferência em assuntos pecuniários deixando-se cuidado ao tutor e
conservando-se de todo estranha a semelhantes arranjos ainda desta vez soube evitar qualquer inteligência com seu noivo acerca de interesses materiais Lemos levou Seixas ao cartório do Fialho dizendo-lhe que era isso uma exigência do juiz de órfãos no que não faltou a verdade embora fosse antes a vontade da herdeira quem determinar essa condição que facilmente se ilude no fórum só mais tarde assinou Aurélia para o qual levou-lhe o tabelão o livro à casa nenhuma palavra porém trocou-se entre ela e o noivo a tal respeito fim do Capítulo 11 Parte 1 Capítulo 12 de senhora esta gravação
librivox está no domínio gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 1 Capítulo 12 reunir-se na casa das Laranjeiras a convite de Aurélia uma sociedade escolhida e não muito numerosa para assistir ao casamento a moça não aceitou a ideia de dar um baile por esse motivo mas entendeu que devia cercar o Ato da solenidade precisa para tornar bem notória a espontaneidade de sua escolha e oaz que sentia com esse enlace não faltaram amigos e conhecidos que sugerissem a Aurélia a lembrança de fazer o casamento a moda europeia com o romantismo da viagem logo depois
da cerimônia a lua de mel Campestre e o baile de estrondo na volta à corte ela porém recusou todos esses alvitres resolveu casar-se ao costume da Terra à noite em Oratório particular na presença de algumas senhoras e cavalheiros que l a ela Órfã e só no mundo às vezes da família que não tinha celebrar-se a cerimônia às 8 horas lemos conseguira um barão para servir de contrapeso ao Ribeiro e um monsenhor para oficiar quanto à madrinha Aurélia escolhera Dona Margarida Ferreira respeitável senhora que lhe mostrara desinteressada amizade desde a primeira vez que a encontrou na
sociedade no momento de ajoelhar aos pés do celebrante e de pronunciar o voto Perpétuo que a ligava ao destino do homem por ela escolhido Aurélia com o decoro que revestia seus menores gestos e movimentos curvar a Fronte envolvendo-se pudic nas sombras diáfanas dos cândidos véus de noiva malgrado seu porém o contentamento que lhe enchia o coração e estava borot nos olhos cintilantes e nos lábios aljofres Fronte Gentil cingida nesse instante por uma auréola de júbilo no Altivo Realce da cabeça e no enlevo das feições cuja formosura se touca de lumes esplêndidos estava se debuch a
soberba expressão do Triunfo que exalta a mulher quando consegue a realidade de um desejo fér viid e longamente ansiado os convidados que antes lhe admiravam a graça Peregrina essa noite a achavam deslumbrante e compreendiam que o amor tinha colorido com as tintas de sua palheta inimitável a já tão Feiticeira beleza envolvendo-a de Irresistível Fascinação como ela é feliz diziam os homens e tem razão acrescentaram as senhoras volvendo os olhos ao noivo também a fisionomia de Seixas se iluminava com o sorriso da Felicidade o orgulho de seu escolhido daquela encantadora mulher ainda mais lhe ornava o
aspecto já de si Nobre e Gentil efetivamente no marido de Aurélia podia-se apreciar essa fina flor da suprema distinção que não se anda a suh nos gestos pretenciosos e nos ademanes artísticos mas reverte do íntimo com uma fragrância que A modéstia busca recatar e não obstante exala dos seios d'alma depois da cerimônia começaram os parabéns que é de estilo dirigir aos noivos e a seus parentes só então reparse na presença de uma senhora de idade que ali estava desde o princípio da noite era dona Camila mãe de Seixas que saíra de sua obscuridade para assistir
ao casamento do seu Fernando e sentindo-se deslocada no meio daquela sociedade retirou-se com as filhas logo depois de concluído o ato para animar a reunião as moças improvisaram quadrilhas no intervalo das quais um insigne pianista que fora mestre de Aurélia executava os melhores trechos de óperas então em voga por volta das 10 horas despediram-se as famílias convidadas encaminhou-se então Lemos com Seixas para aquela parte da casa onde ficavam os aposentos que Aurélia destinara a seu marido os quais estavam preparados com muito luxo e sobretudo com uma novidade de muito gosto meu amigo o senhor está
casado pelo que já lhe dei os meus parabéns falta-me porém cumprir Um dever que me cabe como tutor que fui de sua mulher e a quem nesta noite ainda faço às vezes de pai também eu esperava este momento para agradecer-lhe os cuidados e desvelos que dispensou a Aurélia e assegurar-lhe minha sincera amizade não fiz mais do que pagar uma dívida minha boa irmã estimo esta pequena como se fosse minha filha vi a nascer tirando do bolso uma argola de Chaves o velho passou a abrir os diversos móveis de erable que ia Deixando as escanar enquanto
Expedia nessa tarefa ia falando vou ter a satisfação de o instalar em seus novos aposentos aqui está o seu gabinete de trabalho ali é o tocador deste lado do Jardim fica um quarto de banho e uma saleta de fumar com entrada independente para receber seus amigos tudo isto é um brinco bem reconheço a mão de Aurélia estou sentindo em todos esses objetos o aroma que exala de sua beleza disse Seixas inebriado de felicidade foi ela sim senhor que se incumbiu disso mas ainda não viu tudo olha o enxoval Lemos mostrou Então as gavetas e prateleiras
dos guarda-roupas e cômodas atados das várias Peas de vestuário feito de superior Fazenda e com maior apuro nada faltava do que pode desejar um homem habituado a todas as comodidades da moda no toucador se o tabuleiro de márm ostentava toda casta de perfumarias as gavetas continham cópias de joias próprias de um cavaleiro elegante algumas havia de grande preço como o anel de Rubim e uma abotoadura completa de brilhantes tudo isto lhe pertence disse o velho terminando o inventário é ca lá da pequena não entrou em nosso ajuste Seixas experimentou sensação igual a do homem que
no meio de um sonho Aprazível fosse arremessado a um Pântano e acordasse chafado na torpe realidade a palavra ajuste ali naquele instante quando acaba de santificar pelo juramento o eterno amor que votava a sua esposa quando estava se revendo em sua lembrança de que a moça deixara impregnada a cada passo o luxo e elegância daqueles aposentos essa palavra proferida sem intenção pelo velho infringiu lhe a mais acerba das humilhações entretanto Lemos fechava as portas e gavetas que tinha aberto e terminou apresentando a Seixas A argola de Chaves aqui tem meu caro só uma chave não
l posso eu dar é dali o velho indicou na extrema de um breve corredor uma porta oculta por um reposteiro de seda azul com Flecha Dourada quando aquela porta abrir-se não haverá em todo este Rio um maganão mais feliz e o velho repicando a sua fustigante risadinha de falsete tornou ao salão onde encontrou cinco negociantes velhos camaradas que a seu pedido se haviam demorado e achavam-se um tanto embrulhados com a história ó Lemos não que fazemos nós ainda a esta hora aqui olhe que para trapalhão Temos conversado querem ver que o brejeiro pretende fazer o
negócio com toda a solenidade vocês não viram o aquele o tabelião É verdade chamaram-no agora mesmo e nós seremos as testemunhas aqui desafogar se os sujeitos em boas risadas quase que adivinharam vocês disse o Lemos venham cá e verão O que é na saleta onde Lemos introduziu seus amigos estava sentado à mesa do centro um Tabelião que assistira a cerimônia como convidado e parecia agora em atitude de exercer algum ato do Ofício pela porta Fronteira acabava de entrar Aurélia em companhia de Dona Firmina a moça trazia nos ombros uma peliça de Caxemira cinzenta que disfarçava
seu traje de noiva cingindo a cabeça com o frouxo capuz a auréola de júbilo que resplandecia lhe a beleza quando ajoelhada aos pés do altar e ao lado do noivo não se buara mas ia empalidecendo às vezes súbito errio estremecia lhe o talhe delicado percebia-se nesses momentos um eclipse da Luz íntima como vag do de uma lâmpada a apagar-se ela sentou-se de fronte do tabelião aos lados da mesa tomaram lugar Lemos e os outros negociantes Peço aos senhores que me desculpem este incômodo e aceitem meu reconhecimento por sua bondade em acompanhar-me neste Capricho houve uns
protestos murmuradas é minha última excentricidade tornou Aurélia com adorável sorriso ainda estou me despedindo da vida de Moça por isso mereço alguma indulgência demais pensando bem não é tão extravagante o que faço agora pois o testamento também faz parte da confissão quero aproveitar este momento em que ainda sou Senhora de mim e das minhas vontades para declarar a última que foi também a primeira de minha vida apesar da garridice com que feriu à moça estas palavras e da Graça jovial que o seu mago sorriso esparcia sempre em torno de si um sentimento de vaga e
indefinível tristeza pungi as pessoas presentes Especialmente quando Aurélia entregou ao Tabelião o testamento por ela escrito em uma folha perfumada de papel cetim ag Gume dourado com o monograma ac C em relevo Escarlate a associação de dois atos tão opostos a Aurora da existência e sua despedida a ideia da morte a entrelaçar-se naquela Mocidade Tão rica de todas as prendas a grinalda de noiva cingindo uma Fronte a desfalecer esse contraste era para deixar Funda impressão no ânimo aviou Tabelião o termo de aprovação com as fórmulas consagradas E no meio do mais profundo silêncio restituiu a
moça o testamento já Cerrado com um toral de seda e Pingos de lacre Dourado cujo perfume ram-se pela sala nunca a abstrusa e rançosa algaravia de cartório se vira tão Catita o papel com ser testamento não desdiz da Linda mão que traçara o contexto e da Alma Gentil que talvez nele havia encerrado com sua última vontade o perfume de Lágrimas ignotas ao despedir-se da pupila lemos apertou-lhe a mão desejo-lhe que seja muito e muito feliz se o não for será minha e só a culpa respondeu a moça agradecendo-lhe Dona Firmina quis acompanhar a moça ao
tocador para prestar-lhe os serviços de camareira de honra que são de costume privilégio da mãe e na falta desta da mais próxima parenta recusou Aurélia Abraçando a velha senhora disse-lhe comovida Reze por mim ficando só a moça fechou a chave à porta da saleta e murmurou enfim em todo aquele lado da casa não havia sen ela e seoo 12 de senora estação Lio está domo públicado por Len Senhora de José de Alencar par 1í 13 afastemos indiscretamente uma dobra do reposteiro que recata a câmara Nal é uma sala em quadro toda ela de uma alvura
deslumbrante que realça o azul celeste do tapete de riço recamado de estrelas e a bela cor de ouro das Cortinas e do estofo dos móveis a um lado duas estatuetas de bronze Dourado representando o Amor e a castidade sustentam uma cúpula oval de forma ligeira donde se desdobram até o pavimento bambins de caça finíssima poré a diáfana limpidez dessa nuvens de linho percebe-se o molde elegante de uma cama de pal setim pudic envolta em seus véus nupciais e forrada por uma colcha de chamalote também cor de ouro do outro lado há uma lareira não de
fogo que o dispensa nosso Ameno clima Fluminense ainda na maior força do inverno essa chaminé de mármore cor-de-rosa é meramente pretexto para o cantinho de conversação pois que não podemos chamá-lo como os franceses o qu feu a bem dizer a lareira não passa de uma jardineira que espar o aroma de suas flores em vez do Brando calor do lume por aqu cículo Onde estão dispostas algumas poltronas baixas e deradas transição entre A Cir e leito o aposento é iluminado por uma grande lmpada de gso globo de crist opaco filtra uma claridade Serena e doce que
derrama-se sobre os objetos e os envolve como de um creme de luz corre-se uma cortina e Aurélia entrou na Câmara nupcial seu passo deslizou pela alcatifa de veludo azul marchetado de alcachofras de ouro como o andar com que as deusas perlam no céu a galáxia quando subiam ao Olimpo A formosa moça trocara seu vestuário de noiva por esse outro que bem se podia chamar trajo de esposa pois os suaves emblemas da Pureza Imaculada de que a virgem se reveste quando caminha para o altar já se desfolhem como as pétalas da flor no outono Deixando entrever
as castas Primícias do Santo amor conjugal trazia Aurélia uma túnica de cetim Verde colhida à cintura por um cordão de torçal de ouro cujas borlas tremiam com seu passo modulado pelos golpeados deste simples roupão borbulhavam os froc de transparente Cambraia que envolviam as formas sedutoras da jovem mulher as mangas amplas e esvazada eram apanhadas na covinha do braço e sobre a espádua por um broche onde também prendia a ombreira mostrando o braço Mimoso cuja Tez rava a camisa de Cambraia abotoada no punho por uma pérola os lindos cabelos negros reflui lhe pelos ombros presos apenas
com o aro de ouro que cingia lhe a opulenta madeixa o pé escondia-se em um pantufo de cetim que às vezes beliscava a orla da anágua como um Travesso Beija Flor o Casto vestuário da moça recat lhe as graças do talhe entretanto quando ela andava e que seu corpo Airoso nadava nas ondas de seda e Cambraia sentia-se mais na alma do que nos olhos o debuxo da estátua palpitante de emoção a cada movimento que imprimia lhe o passo ondulo acreditava-se que o broche da ombreira partia-se e que os véus se abatiam de repente aos pés
dessa mulher Sublime desvendando uma criação divina mas de beleza imaterial e vestida de esplendores celestes Aurélia atravessou o aposento e chegando à porta que ficava Fronteira aquela por onde entrara curvou de leve a cabeça recolhendo-se para escutar mas não ouviu senão o arfar do seio que ofegava afastou-se rapidamente e foi atirar-se a uma das poltronas em um gesto de desânimo cruzando as mãos e erguendo ao céu com um olhar repassado de angústia meu Deus por que não me fizeste como as outras porque me deste Este Coração exigente Soberbo e egoísta posso ser feliz como são
tantas mulheres neste mundo e beber na taça do amor em que talvez nunca mais toquem estes lábios não é o Néctar Divino que eu sonhei não mas dizem que embriaga a alma e faz esquecer o espírito de Aurélia rastreou a ideia que despontava e por algum tempo como que embalse num sonho não exclamou arrebatam seria a profanação deste Santo amor que foi e será toda a minha vida ergueu-se deu algumas voltas pela câmara nupcial acariciando com os olhos todos estes móveis e adereços que ela escolhera para ornem o regaço de sua felicidade e nos quais
tinha como que esculpido suas mais queridas esperanças depois que assim repassou das reminiscências que lhe acordavam esses objetos foi reverse no espelho e enviou a sua Feiticeira imagem reproduzida no Cristal um sorriso de indefinível expressão dirigiu-se Então à porta onde pouco antes escutara deu volta à chave e afastou uma das bandas pouco depois Seixas ragou a cortina e cingindo o talhe de sua mulher foi sentá-la em uma das cadeiras como tardaste Aurélia disse ele queixoso tinha um voto a cumprir quis emancipar logo de uma vez para pertencer toda a meu único senhor respondeu a moça
galando não me mates de felicidade Aurélia que posso eu mais desejar neste mundo do que viver a teus pés adorando pois que és a minha divindade na terra Seixas ajoelhou aos pés da Noiva tomou-lhe as mãos que ela não retirava e modulou o seu canto de amor essa óia Sublime do coração que só as mulheres entendem como somente as mães percebem o balbucear do filho a moça com o t languidamente recostado no espaldar da cadeira a Fronte reclinada os olhos coalhados em uma ternura maviosa escutava as falas de seu marido toda ela sebeb dos eflúvios
de amor de que ele a repassava com a palavra ardente o olhar Rendido e o gesto apaixonado é então verdade que me ama pois duvida Aurélia e amou-me sempre desde o primeiro dia que nos vimos não lhe disse já então nunca amou a outra eu lhe juro Aurélia estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher que não fosse minha mãe o meu primeiro beijo de amor guardei-o para minha esposa para ti S erguendo-se para alcançar-lhe a face não viu Seixas A súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva a Aurélia estava
lívida e a sua beleza Radiante a pouco se marmorizar ou de outra mais rica disse ela rindo-se para fugir ao beijo do marido e afastando com a ponta dos dedos a voz da moça Tomara o timbre cristalino Eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio e que parecia ringir-lhe nos lábios como Aço Aurélia que signica isses coméia na qual ambos desemp oo com perícia consumada podemos este quees ates nos eedi éo de termo esta Cruel misica com que nos esend mamente Senor entremos por Maise que ela seja e resigne-se cada um
ao que é eu uma mulher traída o Senor um homem vendido vendido exclamou Seixas ferido dentro da Alma vendido sim não ten outro nome sou rica muito rica sou milionária precisava de um marido traste indispensável às mulheres honestas o senhor estava no mercado comprei-o custou-me 100 contos de réis foi barato não se fez valer Eu daria o dobro o triplo toda a minha riqueza por este momento Aurélia proferiu estas palavras desdobrando um papel no qual Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos não se pode exprimir o sarcasmo que salpicava dos lábios da moça
nem a indignação que vazava dessa alma profundamente revolta no olhar Implacável com que ela flagela o semblante do marido Seixas trespassado pelo Cruel Insulto arremessado do êxtase da Felicidade a esse ab De Humilhação a princípio ficara atônito depois quando os assomos da irritação vinham subland a alma recalcou esse poderoso sentimento do respeito à mulher que raro abandona o homem de Fina educação penetrado da impossibilidade de retribuir o ultrage à senhora quem havia amado escutava imóvel cogitando no que lhe cumpria fazer se matá-la ela matar-se a si ou matar a ambos Aurélia como se L adivinhasse
o pensamento esteve por algum tempo afrontando oo com inexorável desprezo agora meu marido se quer saber a razão porque o comprei de preferência a qualquer outro vou dizê-la e peço-lhe que me não interrompa deixe-me vazar o que tenho dentro desta alma e que há um ano a está amargurando e consumindo a moça apontou a Seixas uma cadeira próxima sente-se meu marido com que tom acerbo e excruciante lançou a moça esta frase meu marido que nos seus lábios ríspidos acava se como um dardo herv de cáustica ironia Seixas sentou-se dominava A Estranha Fascinação dessa mulher e
ainda mais a situação incrível a que fora arrastado fim do Capítulo 13 parte do Capítulo 1 de Senor esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar segunda parte quitação Capítulo 1 dois anos antes deste singular casamento residia a Rua de Santa Teresa uma senhora pobre e enferma era conhecida por Dona Emília Camargo tinha em sua companhia uma filha já moça a que se reduzia toda a sua família passava por viúva embora não faltassem malévolos para quem essa viuvez não era mais do que manto decente a vendar o abandono
de algum amante Havia uns laivos de verdade nessa injusta suspeita quando moça Dona Emília Lemos teve inclinação por um estudante de medicina que dela se apaixonara certo de que seu afeto era era retribuído Pedro de Souza Camargo O estudante animou-se a pedi-la em casamento vivia Emília na companhia do Senor Manuel José Correa Lemos seu irmão mais velho e chefe da família tratou este de colher informações acerca do moço veio ao conhecimento de que era filho natural de um fazendeiro abastado que o mandara estudar e tratava a grande não o tinha porém reconhecido o que era
de su importância pois além de existir a mãe do fazendeiro lá para as bandas de Minas o sujeito ainda estava robusto e podia bem casar-se e ter filhos legítimos à vista dessas informações entendeu Lemos que não se podia prescindir de certas formalidades dispensáveis no caso de ser o rapaz herdeiro necessário o irmão de Emília era apenas remediado e já custava-lhe bem aguentar com o peso de 12 pessoas que tinha as costas para arriscar ainda ao contrapeso de mais esta nova família em projeto por nossa parte Não há dúvida meu camaradinha arranja a licença do papai
ou reconhecimento por escritura públ o resto fica por minha conta era uma recusa formal porquanto Pedro Camargo jamais se animaria a confessar o seu amor ao pai que lhe inspirava desde a infância pela rudeza e severidade da índole um supersticioso terror Sua família me repele Emília porque sou pobre e não posso contar com a herança de meu pai disse o estudante a primeira vez que encontrou-se com a namorada a irmã de Lemos sabia pelas explicações dos parentes que efetivamente era aquele o motivo da recusa ela o repele porque é pobre Senor Camargo mas eu o
aceito por essa mesma razão quer ser minha mulher ainda Emília apesar da oposição de seus parentes apesar de não ser eu mais do que um estudante sem Fortuna desde que o motivo da oposição de meus parentes não é outro senão sua pobreza sinto-me com forças de Resistir que maior felicidade posso eu desejar do que partilhar sua sorte boa ouar eu não me animava a pedir-lhe esta prova de seu amor Emília você é um anjo 15 dias depois Pedro Camargo parava à porta de Lemos em um carro era hora do chá Estavam todos na sala de
jantar Emília que se recolhera a pretexto de incômodo Desceu a escada sem que a percebessem no dia seguinte pela manhã Lemos de jornal aberto tomava nota dos anúncios tarefa habitual com que estreava o dia quando lhe entregaram uma carta a capa era de relevos e o conteúdo um quarto de papel cetim com estas palavras Pedro de Souza camar e Dona Emília Lemos Camargo tem a honra de participar a vossa senhoria o seu casamento Rio de Janeiro etc na casa de Lemos ninguém acreditou em semelhante casamento para a família a moça não era senão amante de
Pedro Camargo e Por conseguinte uma mulher perdida entretanto o casamento fora celebrado na matriz do Engenho Velho em segredo mas com todas as formalidades pois os noivos eram maiores e haviam requerido das dispensas necessárias por esse tempo o fazendeiro Lourenço de Souza Camargo recebeu o aviso de que o filho vivia com uma rapariga que tirara de casa da família acrescentava o oficioso amigo que o estudante já se inculcava de casado portanto não seria de espantar se coro asse a primeira extravagância com a loucura de semelhante União despachou imediatamente o velho um de seus camaradas o
mais decidido com intimação ao filho para recolher-se à Fazenda no prazo de uma semana o emissário trazia a ordem terminante de conduzi-lo à força caso não obedecesse Pedro Camargo arrancou seus braços de sua Emília prometendo-lhe voltar breve para não mais separarem-se passados os primeiros assomos da irritação do velho aproveitaria qualquer ocasião para confessar lhe tudo o pai que o amava não lhe negaria o perdão de uma falta irremediável e santificada pela religião faltou porém ao moço a coragem para afrontar novamente as iras do fazendeiro com a revelação de seu casamento preparava-se fazia firme tensão mas
no momento propício fugia-lhe a resolução assim correram se os dias e prolongou-se a ausência de Pedro Camargo escrevia ele a sua Emília longas cartas de ternuras e Protestos nas quais prometia lhe partir dentro em poucos dias para levá-la à Fazenda ao mesmo tempo e por intermédio de um amigo remetia à mulher os meios de prover a sua subsistência enquanto não podia chamá-la para sua companhia o que se realizaria logo que revelasse ao pai o segredo do casamento Emília muito sofreu com essa ausência não tanto pela posição falsa em que ficara mas sobretudo pelo amor que
tinha ao marido era porém feita para as abnegação em suas Cartas a Pedro nunca lhe escapou a menor queixa longe despr ar-l os receios que a mantinham Na incerteza de sua sorte ao contrário o consolava do dois esposos depois de tão longa ausência e amaram-se nesses poucos dias por todo o tempo da Separação encontrou Pedro Camargo já com dois meses o seu primeiro filho a quem deu o nome de Emílio apesar das instâncias da mãe que instava por Pedro não Pedro não é o nome de um infeliz respondi o marido com os olhos cheios de
Lágrimas continuou este singular teor da vida dos dois esposos que passavam juntos em sua casinha da Rua de Santa Teresa algumas semanas intercaladas por muitos meses de separação essas ausências acrisol avam o amor e lhe davam uma exuberância que mais tarde expandia-se com ignoto fervor os dias que Pedro Camargo demorava-se na corte era uma bem-aventurança para dois corações que se reproduziam um no outro Emília se resignou à sorte que lhe reservara evidência ainda assim julgava-se bem feliz com a afeição e ternura do homem a quem escolhera refletira que sabendo de seu casamento talvez se irritasse
o velho fazendeiro e destruísse de repente essa aventura que lhe coubera em partilha a ela e seu marido Além de que Pedro Camargo era filho natural ainda não reconhecido seu futuro dependia exclusivamente da vontade do pai que podia abandoná-lo como a um estranho deixando reduzido à indigência esta circunstância influiu muito no espírito de Emília não por si que não tinha ambição mas era esposa e mãe a esse tempo já lhe havia nascido também uma filha que chamou-se Aurélia por ter sido este o nome da mãe de Pedro Camargo infeliz rapariga que morrera da Vergonha de
seu erro convencida do perigo de revelar o segredo de seu casamento Emília condenou-se a uma existência não somente obscura mas suspeita bem custava a sua virtude o desprezo injusto que a envolvia e o escárnio a pungia-me ência e abastança tanto mais quanto não tinha ele cousa com que distraísse dinheiro daquele honesto emprego a não ser o seu Modesto vestuário haviam decorrido 12 anos depois do casamento de Pedro Camargo e estava ele com 36 quando seu caráter fraco e irresoluto foi submetido a uma prova Cruel por diversas vezes mostrar o fazendeiro ao filho desejos de vê-lo
casado mas essas veleidades sem alvo determinado passavam e as lações da vida rural Distraí o velho das preocupações domésticas Pedro Camargo quitava deste perigo um pequeno susto Afinal porém o pai exigiu formalmente dele que se casasse e indit a pessoa já escolhida era a filha de um rico fazendeiro da vizinhança tinha ela completado 15 Anos Antes que a notícia deste Dote sedutor chegasse à corte V Camargo de arranjá-lo para o filho Pedro opôs à vontade do pai a resistência passiva nunca Se animou a dizer não mas também não se moveu para cumprir as recomendações ou
antes ordens que lhe dava o fazendeiro este esbravejava ele abaixava a cabeça e passada A tormenta caía outra vez na inércia quando o fazendeiro viu que apesar dos seus ralos e gritos o filho não se decidia a visitar a moça irou-se Por modo que ameaçou salo de casa se não montasse a cavalo naquele mesmo instante para ir a fazenda vizinha ver a noiva e reiterar ao pai o pedido feito em seu nome Pedro Camargo não disse palavra desceu a estrebaria selou o animal pois ag garupa sua maleta e partiu mas não para a fazenda vizinha
foi ter a um rancho onde contava demorar-se o tempo preciso para dar alguma direção à sua vida durante esta prova tinha continuado a escrever a mulher mas ocultou o trans porque estava passando para não afligi a resistência à vontade do pai a quem acatava profundamente e as sublevações de sua consciência contra o receio de confessar a verdade abalaram violentamente o robusto organismo desse homem forte para os trabalhos físicos mas não feito para essas convulsões Morais Pedro Camargo foi acometido de uma febre cerebral e sucumbiu no rancho a onde um abrigo longe dos Socorros e quase
ao desamparo apenas teve para acompanhá-lo em seus últimos instantes um tropeiro que vinha para a corte trazia infeliz consigo cerca de três contos de réis que desde certo tempo começar a juntar Com intenção de estabelecer-se nalguma modesta Rocinha onde pudesse viver tranquilo com a família a sorte não o consentiu confiou ele o dinheiro ao tropeiro pedindo-lhe que entregasse de sua parte a sua mulher recomendou-lhe porém que não Contasse o desamparo em que o vira para não acabrunhar ainda mais cumpriu o tropeiro O encargo com uma probidade de que ainda se encontram exemplos frequentes nas classes
rudes especialmente do interior Emília cobriu-se Do Luto que não despiu senão para trocá-lo pela mortalha mais negro porém e mais triste do que o vestido era o dó de sua alma onde jamais brotou um sorriso fim do capítulo parte 2 Capítulo 2 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni senhora de José de Alencar parte 2 capítulo 2 A viuvez tornou ainda mais isolada e recolhida a existência de Emília acrescentando-lhe a indiferença e desapego do mundo o único Elo que aprendia à Terra eram seus filhos mas tinha o pressentimento de que
não permaneceria muito tempo com eles o marido a chamava abandonou-se àquela Atração que a aproximava doente a quem mais Amara e a desprendia aos poucos do espólio que ainda retinha neste Vale de Lágrimas só uma inquietação a afligia ao pensar no próximo termo de seu Infortúnio era lembrança do desamparo em que ia ficar sua filha Aurélia já nesse tempo moça na flor dos 16 anos de sua família não podia Emília esperar a rimo para A Órfã as relações cortadas por ocasião de seu casamento nunca mais se haviam reatado os parentes continuavam a considerá-la mulher perdida
e evitavam o contágio de sua reputação do sogro também já recebe A pobre viúva o desengano depois do falecimento do marido e logo que a dor lhe permitiu outros cuidados escrevera ao Lourenço de Souza Camargo revelhe O Segredo do casamento e implorando sua proteção para os filhos de seu filho o fazendeiro da mesma forma que os parentes de Emília não acreditou na realidade de um casamento oculto até aquela época e do qual não aparecia documento ou outra prova a carta da viúva só lhe revelou a continuação de relações que ele supunha desde muito extintas atin
que for a influência dessa mulher a causa da desobediência do filho lançava lhe a culpa da desgraça que sobreveio esquecido de que ninguém sofrera tanto como ela pois além da viuvez a morte do marido deixa-lhe a pobreza e a desonra ainda assim nessa disposição de ânimo foi generoso o Camargo mandou entregar a Emília um conto de réis dinheiro cruo e seco Sem uma palavra de consolo ou de esperança a pessoa que o levou à viúva fez-lhe sentir que tão avultada esmola devia livrar o fazendeiro de futuras importunações O Emílio que podia ser o Amparo natural
da irmã quando Viesse faltar-lhe a mãe não estava infelizmente Nas condições de receber o difícil encargo ao caráter irresoluto do pai juntava ele um espírito curto e tardio apesar de haver frequentado dos melhores colégios achava seus 18 anos tão atrasado como o menino de regular inteligência e aplicação aos 12 anos reconhecendo sua inaptidão para algumas das carreiras literárias Emília lembrar-se de encaminhá-lo à Vida Mercantil por intermédio do correspondente do marido e pouco tempo depois da morte deste fora o rapaz admitido como cacheiro de um corretor de fundos por mais esforços que fizesse o pobre Emílio
não lograva destrinçar as efemérides financeiras do Movimento dos Fundos públicos e oscilações do mercado monetário isto que aí qualquer filhote de Zangão a quem não desponta ainda o bigode havia em duas palhetadas era para Emílio ciência mais abstrusa do que a astronomia Chegava à casa com sua tábua de câmbios o preço corrente a cotação da praça e as notas que lhe havia dado o corretor sentava-se à mesa preparava o tinteiro papel mas não havia meio de começar seu espírito embrulhava se por modo na tal meada que não atava nem desatava ao cabo chorava de raiva
corria então Aurélia a consolá-lo sabia ela já a causa daquele pranto cuja explicação uma vez lhe arrancara a força de carinho e meiguice tirava o do desespero animava o a tentar a operação e para sust ter-lhe os esforços ia auxiliando lhe a mó e dirigindo o cálculo a natureza adotar Aurélia com a inteligência viva e Brilhante da Muler de talento que se não ae a vigoroso racio do homem tem a prosa ductilidade de prestarse a todos os assuntos por mais diversos que sejam que irmão não conseguir em meses prática foi para ela estudo de sem
desde então o caixeiro que ia à Praça receber as ordens do patrão e levar-lhe os recados era o Emílio mas o corretor que fazia todos os cálculos e operações ou arranjava o preço corrente era Aurélia assim poupava a menina um desgosto ao irmão e o mantinha no emprego a tanto custo arranjado bem se vê pois que emlio long de prometer um Amparo à irmã aoo tinha de ser se não era um oneroso sacrifíci para menina obrigada consumir el temp e os poucos recursos fruto de seu trabalho nestas circunstâncias a mãe só via para a filha
o natural e eficaz apoio de um marido por isso não cessava de tocar a Aurélia neste ponto E a propósito de qualquer assunto se vinha a falar-se de sua moléstia que fazia rápidos Progressos dizia Emília à filha o que me aflige é não ver-te casada mais nada quando lse que o dinheiro deixado por Pedro Camargo e a esmol do fazendeiro haviam de acabar-se um dia ficando elas na indigência acudia a viúva ah se eu te visse casada Aurélia é quem suportava todo o peso da casa sua mãe Abatida pela desgraça e tolhida pela moléstia muito
fazia evitando por todos os modos tornar-se pesada e incômoda a filha envolver-se ainda em vida em uma mortalha de resignação que lhe dispensava o médico a enfermeira e a Botica os arranjos domésticos mais escassos na casa do pobre porém de outro lado mais difíceis o cuidado da roupa a conta das compras diárias as contas do Emílio e outros mistérios tomavam-lhe uma parte do dia a outra parte ia sem trabalhos de costura não lhe sobrava tempo para chegar à janela a exceção de algum domingo em que a mãe podia arrastar-se até a igreja à hora da
missa e de alguma volta à noite acompanhada pelo irmão não saí de casa esta reclusão afligia a viúva que muitas vezes lhe dizia vai pra janela Aurélia não gosto respondia a menina outras vezes ante a insistência da mãe buscava uma desculpa estou acabando este vestido Emília calava-se contrariada uma tarde porém manifestou todo seu pensamento tu és tão bonita Aurélia que muitos moços se te conhecessem haviam de arse Poderias então escolher algum que te agradasse casamento Imortal no céu se talham minha mãe respondia a menina rindo-se para encobrir o rubor o coração de Aurélia não desabrochara
ainda mas virgem para o amor ela tinha não obstante a vaga intuição do pujante afeto que funde em uma só existência o destino de duas criaturas e completando-as uma pela outra forma a família como todas as mulheres de imaginação e sentimento ela achava dentro em si nas cismas do pensamento essa Aurora Dalma que se chama o ideal e que doura ao longe com sua doce luz os horizontes da vida o casamento Quando acontecia pensar nele alguma vez apresentava-se a seu espírito como uma cousa confusa e obscura uma espécie de enigma do seio do qual se
desdobrava de repente um céu esplêndido que a envolvia inundando a cidade em sua ingenuidade não compreendia Aurélia a ideia do casamento refletido e preparado mas a insistência de sua mãe inquieta pelo futuro fez que ela se ocupasse com esta Face da vida real reconheceu que não tinha direito de sacrificar a um sonho de imaginação que talvez nunca se realizasse o sossego de sua mãe primeiro e depois seu próprio destino pois que sorte a esperava se tivesse desgraça de ficar só no mundo o golpe que sofreu por esse tempo ainda mais a dispôs ao sacrifício de
suas aspirações Emílio recolhendo-se muito fatigado uma tarde de excessivo calor cometeu a imprudência de tomar um banho frio a consequência foi uma febre de mau caráter que o levou em poucos dias Aurélia não deixou a cabeceira do leito desse irmão a quem ela amava com desvelo maternal os cuidados incessantes e os extremos de que cercou bem como a necessidade de acudir a tudo foi talvez o que a salvou de ser fulminada por essa desgraça a viúva que mal resistira ao golpe da perda do filho ainda mais se aterra agora com o isolamento em que ia
deixar a Aurélia se Emílio não prometia a irmã um arrimo em todo caso era uma companhia e podia dar-lhe ao menos a proteção material quando não fosse sinão de sua presença redobraram pois as insistências da pobre viúva e Aurélia ainda coberta Do Luto pesado que trazia pelo irmão condescendeu com a vontade da mãe pondo-se à janela Todas As Tardes foi para a menina um suplício Cruel essa exposição de sua beleza com a mira no casamento venceu a repugnância que lhe inspirava semelhante à mostra do balcão e submeteu-se a humilhação Por Amor daquela que lhe dera
o ser e cujo único pensamento era sua Fel cidade fim do Capítulo 2 Parte 2 Capítulo 3 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de elencar parte 2 Capítulo 3 não tardou que a notícia da menina bonita de Santa Teresa se divulgasse entre certa roda de moços e não se contentam com as rosas e Margaridas dos Salões e cultivam também com ardor as Violetas e Cravinas das rótulas a solitária e plácida rua animou-se com um trânsito desusado de tores e passeadores a pé atraídos pela graça da flor
modesta e rasteira que uns ambicionavam colher para transplantar ao turbilhão do mundo outros apenas se contentaram de crestar lhe a pureza abandonando-a depois a miséria os olhares ardentes e cúpido dessa multidão de pretendentes e os sorrisos contrafeitos dos tímidos os gestos Fatos e as palavras insinuantes dos mais afultos quebravam se na fria impassibilidade de Aurélia não era a moça que ali estava a janela mas uma estátua ou com mais propriedade a figura de cera do mostrador de um cabeleireiro da moda a menina cumpria estritamente a obrigação que se tinha imposto mostrava-se para ser cobiçada e
atrair um noivo Mas além dessa tarefa de exibir sua beleza não passava os artifícios de galanteio com que muitas realçam seus encantos a tática de ratear os sorrisos e carinhos ou negá-los para irritar os desejo nem os sabia Aurélia Nem teria coragem para usá-los depois de uma hora de estação à janela recolhia-se para começar o serão da costura e de todos aqueles homens que haviam passado diante dela com a esperança de cativar lhe a atenção não lhe ficava na lembrança uma fisionomia uma palavra uma circunstância qualquer no primeiro mês a investida dos pretendentes não passou
de uma escaramuça rondas pela calçada cortejos de chapéus suspiros ao passar gestos simbólicos de lenço algum elogio à meia voz e presentes de flores que a menina rejeitava Tais é os meios de ataque breve porém começou o assalto em regra e quem abriu o exemplo foi pessoa já muito Nossa conhecida e da qual não se podia esperar semelhante desembaraço o Lemos que andava sempre metido na roda dos rapazes veio a saber do aparecimento da bisca daa de Santa Tera entendeu á velinho em sua qualidade de tio cabia-lhe um certo direito de primazia sobre esse bem
de família entrou na fieira e à tarde fazia volta pela rua de Santa Teresa para conversar um instante com a sobrinha a quem desde o primeiro dia se dera a conhecer Aurélia teve grande contento por ver o tio a afabilidade com quehe falar el enua da es de uma próxima famlia temendo opição do ponor ofendido de sua mãe oca ocorrência nos seguintes medrou a esan da menina a estada à janela deixara de ser intolerável já vi o interesse que a demorava ali a espiar o momento em que apontasse o tio no princípio da rua ela
que não tinha para os mais elegantes Cavaleiros um pálido sorriso achou de repente em si para seduzir o velhinho o segredo da gentileza e faceirice que é como a fragrância da mulher formosa o restabelecimento das relações entre Dona Emília e o irmão interessava Aurélia mui intimamente assegurando-lhe um arrimo Para o Futuro essa conciliação não só restituir o sossego à mãe como lhe pouparia a ela essa espera ao casamento que era para a pobre menina uma humilhação foi para a turba dos Apaixonados aradores grande assombro e maior escândalo esse de verem Todas As Tardes recostado insolentemente
à janela de Aurélia o rolho velhinho conversando e brincando na maior intimidade com a menina ignorantes do parentesco atribuíam essas liberdades a uma preferência inexplicável pois o Lemos notoriamente pobre senão arrebentado carecia do condão que dispensa todas as virtudes o dinheiro O Sagaz do velhinho tratou de aproveitar a disposição de ânimo da sobrinha antes que alguma circunstância fortuita viesse perturbar essas relações íntimas por ele tecidas com habilidade uma tarde depois de ter borboleteando com Aurélia como de costume fazendo a rir com suas facécias despediu-se deixando entre as mãos da sobrinha uma carta faceira de capa
floreada com um emblema de miosotes no fecho recebeu a Aurélia ao de leve surpresa mas logo acudindo lhe uma ideia guardou-a no seio palpitante de esperança que enchia lhe a alma essa carta devia ser a mensageira da conciliação por ela tão ardentemente desejada ao fechar da noite correu à alcova para ler as primeiras palavras foi-lhe congelando nos lábios o sorriso que os floria até que se crispou em um ofego de ânsia quando terminou jas espiava lhe a fisionomia essa lividez marmórea que tantas vezes depois a empan como um eclipse de sua alma esplêndida dobrou friamente
o papel que fechou em seu cofre Zinho de bucho e foi ajoelhar-se à beira da cama diante do crucifixo suspenso à cabeceira como a andorinha que não consente lhe Manche as penas a poeira levantada pelo vento e revoando m a constantemente as asas na onda do Lago assim a alma de Aurélia sentiu a necessidade de banhar-se na oração e purificar-se do contato em que se achara com essa voragem de torpeza e infâmia a carta do Lemos era escrita no estilo banal do namoro realista em que o vocabulário o comezinho da Paixão tem um sentido figurado
e exprime a maneira de gíria não os impulsos do sentimento mas as seduções do interesse o velho acreditou que a sobrinha como tantas infelizes arrebatadas pelo turbilhão Estava à espera do primeiro desabusado que tivesse a coragem de arrancá-la da obscuridade onde a consumiam os desejos Famintos e transportá-la ao seio do Luxo e do escândalo apresentou-se pois francamente como empresário dessa metamorfose lucrativa para ambos e acreditou que Aurélia tinha bastante juízo para compreendê-lo quando no dia seguinte a entrega a carta notou que a rótula fechava-se obstinadamente à sua passagem conheceu o Lemos que tinha errado o
primeiro tiro mas nem por isso desacor ooou do projeto ainda não chegou a ocasião pensou ele o velho rapaz arranjar para seu uso como todos os homens uma filosofia prática de extrema simplicidade tudo para ele tinha um momento Fatal a ocasião a grande ciência da vida portanto resumia-se nisto espiar a ocasião e aproveitá-la entendeu lá para si que o Moral da sobrinha não se achava preparado para a resolução que devia decidir de seu destino esse coração de mulher ainda estava passarinho em plume quando lhe acabassem de crescer as asas tomaria o voo e remaria aos
o que lhe cumpria a ele Lemos era espreitam e dessa vez tinha certeza de que não falharia o alvo o exemplo do velho estimulou os mais animosos um deles confiando na Audácia PIS em Sítio a rótula especialmente à noite quando Aurélia cozia a claridade do Lampião junto ao aparador pelas grades e o conquistador insinuando súplicas e Protestos de com que perseguia a moça insistindo para que lhe acudisse à rótula ou lhe recebesse mimos e cartinhas após este seguiam-se outros conservava-se Aurélia impassível e tão alheia a essas competências que parecia Nem aou Menos aperceber-se delas algumas
vezes assim era distraía com suas preocupações de modo que ficava estranha aos rumores da rua todavia aquelas importunações a incomodavam e tudo a insultavam como não cessassem acabaram por inspirar uma resolução em que já se revelavam os impulsos do seu caráter certa noite em que um dos mais assíduos namorados a impaci ergueu-se a Aurélia mu Senhora de si e dirigiu-se à rótula que abriu convidando o conquistador a entrar este tomado de surpresa e indeciso não sabia o que fizesse Mas acabou por aceder ao oferecimento da Moça tenha bondade de sentar-se disse Aurélia mostrando-lhe o velho
sofá encostado à parede do fundo eu vou chamar a minha mãe o leão quis impedi-la e não conseguindo começava a deliberar sobre a conveniência de eclipsar quando voltou a Aurélia com a mãe a moça tornou a sua costura e Dona Emília sentando-se no sofá travou conversa com sua visita as palavras singelas e modestas da viúva deixaram no conquistador apesar da de ceticismo que forra essa casca de bípedes a convicção da inutilidade de seus esforços a beleza de Aurélia só era acessível aos simplórios que ainda usam do Meio trivial e anacrônico do casamento este incidente foi
o sinal de uma deserção que operou-se em menos de um mês toda aquela turba de namoradores debandou em roda batida desde que pressentiu os perigos e escândalos de uma Paixão matrimonial assim recobrou a a sua tranquilidade livrando-se do suplício que lhe infi aquelas homenagens insultantes agora quando ficava na janela para satisfazer aos desejos de sua mãe não lhe custa essa condescendência tão amargo sacrifíci sua natur esquiva Era bastante para veleidades do refratários esses aind não setin desquitado ao todo da esperança de inspirar alguma paixão Irresistível das que domam a mais austera virtude fim do capítulo
3 parte 2 Capítulo 4 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 2 Capítulo 4 Seixas ouvira falar da menina de Santa Teresa mas ocupado nesta ocasião com uns galanteios aristocráticos não o moveu a curiosidade de conhecer desde logo a nova beldade Fluminense aconteceu porém jantar na vizinhança em casa de um amigo e em companhia de camaradas veio a falar-se de Aurélia que era ainda o tema das conversas contaram-me comentos de toda sorte Depois do jantar no fim da tarde saíram os amigos a pé com
o pretexto de dar uma uma volta de passeio mas efetivamente para mostrar a Seixas a falada menina e convencê-lo de que era realmente um Primor de formosura Seixas era uma natureza aristocrática embora acerca da política tivesse a balda de alardear uns aops de liberalismo admitia a beleza rústica e Plebeia como uma convenção artística Mas a verdadeira formosura a suprema graça fem a humana do Amor essa ele só a compreendia na mulher a quem cingia a auréola da elegância em frente da casa de Dona Emília pararam os amigos formando grupo e Seixas pôde contemplar a gosto
o busto da moça a princípio examinou a friamente como um artista que estuda o seu modelo viu-a através da expressão de altiva e triste indiferença de que ela vestia-se como de um véu para recatar sua beleza aos olhares insolentes quando porém Aurélia enru becc volveu o rosto e seus grandes olhos nublarse de uma névoa diáfana ao encontrar a vista escrutador que lhe estava cinzelando o perfil não se pôde conter Fernando que não exclam asse realmente atalhos entusiasmo corrigiu não nego é bonita nessa noite Aurélia Quando trabalhava na tarefa da costura quis lembrar-se da figura desse
moço que a estivera olhando por algum tempo à tarde não o conseguiu virao apenas um instante não conservara o menor traço de sua fisionomia mas cousa singular se recolhia-se No íntimo aí o achava e vi-lhe a imagem como a tivera diante dos olos tarde era um VTO quase uma sombra ela o conhecia e não o confundiria com quer out homem dois depois seas tornou passaa de Santa Teresa mas só desta vez de long seus olos enar os de Aurélia para vol tímidos e submissos ao passar o moço cortejou ela respondeu com uma leve inclinação da
cabeça decorreu uma semana Seixas Não passara a tarde como costumava era noite Aurélia ia recolher-se triste e desconsolada ao fechar a rótula distinguiu um vulto e esperou era Fernando o moço apertou-lhe a mão declarou-lhe seu amor Aurélia ouviu-o palpitante de comoção e ficou absorta em sua felicidade e a senhora Dona Aurélia interrogou Seixas ama-me eu a moça pronunciou este monossílabo com expressão de profunda surpresa pensava ela que Fernando devia ter consciência da Posse que tomara de sua alma com o primeiro olhar não sei respondeu sorrindo o senhor é quem pode saber não compreendeu se destas
palavras singelas e modestas da moça o galanteio dos Salões embotar lhe o coração cegando o tato delicado que podia sentir as tímidas vibrações daquela alma virgem Fernando frequentou assiduamente a modesta casa de Santa Teresa onde passava as primeiras horas da noite que de ordinário ia acabar no baile ou no espetáculo lírico quando saía da sala humilde onde a paixão retinha preso dos olhos de sua amada sentia o elegante moço algum acanhamento parecia-lhe que derroga de seus hábitos aristocráticos e inquietava o a ideia de macular o Primor de sua fina distinção um mês durante Aurélia ineb
da suprema felicidade de viver amante e amada as horas que Seixas passava junto de si era um de em levo para ela que bebia se Dalma do amigo esta provisão de afeto chegava lhe para encher de sonhos e devaneios o tempo da ausência seria difícil conhecer a quem mais vivia se do homem que a visitava todos os dias ao cair da tarde se do ideal que sua imaginação copiara daquele modelo como pigma Leão ela tinha cinzelado uma estátua e talvez como o artista mitológico se apaixonasse por sua criatura de que o homem não fora senão
o grossir esbo e não é esta a eterna legenda do amor nas almas iluminadas pelo fogo sagrado entre os apaixonados de Aurélia contava-se Eduardo Abreu rapaz de 25 anos de excelente família rico e nomeado entre os mais distintos da corte apesar de sisudo e não propenso a aventuras Abreu foi tentado pela Fascinação do amor fácil e efêmero alistou-se a já numerosa legião dos conquistadores de Aurélia mas Andara sempre na retaguarda entre os mais tímidos quando os namoradores de profissão debandaram ele perseverou sem apartar-se todavia de seu modo reservado e esquivo um velho sapateiro que tomara
a si o registro dessa barreira continuou a ver todas as tardes o rapaz que passava em seu cavalo do cabo a impressão que Aurélia deixara no espírito do moço tornou-se mais profunda a proporção que se foi manifestando a pureza da menina vendo Afinal quebrar-se de Encontro à sua virtude a Audácia dos mais perigosos sedutores do Rio de Janeiro a afeição de Abreu repassou de admiração e Respeito é natural que esse moço em condições de aspirar as melhores alianças na sociedade Fluminense vacilasse muito antes da resolução que tomou Mas uma vez decidido não hesitou em realizar
seu intento dirigiu-se a Dona Emília e pediu-lhe a mão da filha a viúva ainda balada do inesperado lance da Fortuna falou a Aurélia Deus ouviu minha Súplica agora posso morrer descansada a moça escutara sem interrompê-la a exposição que Dona Emília lhe fez das vantagens de um casamento com Abril nas palavras de sua boa mãe não somente sentiu os extremos de uma ardente reconheceu também o conselho da Prudência não obstante sua resposta foi uma recusa formal tinha resolvido aceitar o primeiro casamento que minha mãe julgasse conveniente para sossegar seu espírito e desvanecer o susto que tanto
a consome meus sonhos de moça que bem mesquinhos eram sacrificava os de bom grado para vê-la contente agora tudo mudou não posso dar o que não me pertence amo o outro sei o Seixas e tem certeza de que ele se case contigo nunca lhe perguntei minha mãe pois é preciso saber eu não lhe falo nisso pois falarei eu efetivamente essa noite quando Fernando chegou Dona Emília dirigiu a conversa para o ponto melindroso no primeiro ensejo interrogou o moço acerca de suas intenções fez valer o argumento formidável da sombra que um galanteio ostensivo projeta sobre a
reputação de uma menina quando não o perfuma os botões de laranjeira a abrirem flor lembrou também que a preferência exclusiva afugenta os pretendentes sem garantia do Futuro Seixas perturbou-se por mais preparado que esteja um homem de sociedade para essa colisão deve comovê-lo a necessidade de escolher entre a afeição e as conveniências Ainda mais quando para furtar seu dilema esse homem delineou uma Vereda sinuosa por onde se arraste como réptil serpi Entre o Amor e o interesse assevero lhe Dona Emília que minhas intenções são as mais puras se ainda não as tinha manifestado era por aguardar
a ocasião em que possa realizá-las de pronto como convém semelh assunto minha carreira Depende de acontecimentos que devem efetuar-se neste ano próximo então poderei oferecer a Aurélia um futuro Digno dela e que lhe invejem as mais elegantes senhoras da corte antes disso não me animi a associá-la a uma sorte precária que talvez se torne mesquinha amo sinceramente sua filha minha senhora e esse amor dá-me forças para resistir ao egoísmo da Paixão prefiro perdê-la a fá-la este procedimento de sua parte é muito Nobre Senor Seixas Não podia com efeito Dar maior prova de estima a Aurélia
do que renunciar a ela para não servir de obstáculo a um enlace que há de fazê-la feliz ditas estas palavras a valetudinária senhora a quem a conversa havia fatigado em extremo recolheu seu interior Fernando ficou na sala aturdido com a conclusão que tivera a conversa tão outra da que ele havia esperado de feito acreditara que Dona Emília embalada na esperança do futuro brilhante por ele dourado com palavras maviosas e comovida pelos assentos de sua paixão o deixaria cultivar docemente o amor perfeito aí no canteiro dessa pobre salinha mal alumiada por um Lampião mortiço erguendo-se Afinal
o moço dirigiu-se Ao canto da sala onde Aurélia trabalhava inteiramente absorta em suas reflexões e alheia a cena que se acabava de passar da qual entretanto era ela o assunto e quem sabe se a vítima que motivo tinha inexplicável indiferença da moça naquele momento talvez ela própria não soubesse manifestar é possível que as consequências da conversa preocupassem mais seu espírito do que as palavras trocadas entre sua mãe e Seixas que significa isto Aurélia perguntou o moço ela é mãe Fernando e tem o direito de inquietar-se pelo futuro de sua filha quanto a mim sabe que
amo sem condições e nunca lhe perguntei onde me leva esse amor sei que ele é minha felicidade e isto me basta no dia seguinte Dona Emília comunicou à filha o resultado da conversa que tivera com Seixas e reiterou os seus conselhos com as razões do costume se eu tivesse a desgraça de perdê-la minha mãe sua filha já não ficaria só teria para compará-la Além de sua lembrança um amor que não a abandonará nunca a viúva deixou escapar um gesto de dúvida Creia minha mãe o desejo de conservar me digna do homem a quem amo me
protegeria melhor do que um marido do acaso Dona Emília não insistiu mais lembrou-se que ela também sacrificar-se por um amor igual e não podia exigir da filha mais coragem do que ela tivera para resistir ao impulso do coração Seixas que a noite anterior deixara Aurélia comovido pela Cândida abnegação da menina quando soube que ela havia rejeitado sem ostentação um partido porque suspiravam muitas das mais fidalgas moças da corte não pode conter os impulsos da Alma Generosa apresentou-se em casa de Dona Emília e pediu a mão de Aurélia que lhe foi concedida fim do Capítulo 4
parte 2 Capítulo 5 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de lencar parte 2 Capítulo 5 ao saber que estava justo o casamento da sobrinha considerou-se o Lemos derrotado em seus planos como porém era homem que não abandonava facilmente uma boa cogitou no modo de não perder a partida a única ideia que lhe ocorreu foi de expediente banal Mas acontece que são estes precisamente os que surtem melhor efeito quando se trata de assuntos que se resolvem pelas conveniências sociais em sua passagem para a casa de Aurélia via
Seixas a janela na Rua das Mangueiras uma menina apontada entre as elegantes da corte para o nosso jornalista fora inqualificável grosseria encontrar-se com uma senhora bela e distinta sem enviar-lhe no olhar e no sorriso a homenagem de sua admiração Seixas pertencia a essa classe de homens criados pela sociedade moderna e para a qual o amor deixou de ser um sentimento e tornou-se uma fineza Obrigada entre Os Cavalheiros e as damas de bont Tom a moça pertencia à mesma escola também ela era noiva como Seixas e não obstante recebia com prazer o cortejo Galante se por
acaso os do se encontrassem em alguma sala ausentes daqueles com quem estavam prometidos desceriam sem o menor escrúpulo um inocente Idílio para divertir a noite nessa casa da Rua das Mangueiras morava o Tavares do Amaral empregado da Alfândega Lemos que frequentava um velho camarada da vizinhança talvez já na intenção de manter um ponto de observação notou aquela mútua correspondência de Fernando com Adelaide A primeira vez que encontrou ao Amaral na Rua do Ouvidor o velho ensin continuou-se em sua intimidade a título de felicitação encareceu lhe ao último ponto as vantagens do casamento da filha com
Seixas com jeito o melro está seguro concluiu ao despedir-se Amaral não via de boa sombra a intimidade de sua filha Adelaide com o Dr Torquato Ribeiro que além de pobre estava desarranjado a ideia do Lemos sorriu-lhe achou modos de introduzir em casa Seixas para quem este novo conhecimento veio a ser um tônico poderoso desvanecidas as primeiras efusões do puro e íntimo contentamento Que Lhe deixou o Generoso impulso de pedir a mão de Aurélia começara Fernando a considerar praticamente a influência que devia exercer em sua vida esse casamento calculou os encargos materiais que ia sujeitar-se para
montar casa e mantê-la com decência lembrou-se quanto avulta a despesa com o vestuário de uma senhora que frequenta a sociedade e reconheceu que suas Posses não lhe permitiam por enquanto o casamento com uma moça bonita e elegante naturalmente inclinada ao Luxo que é a flor dessas borboletas de asas de seda e tule encerrar-se no obscuro mas doce Aconchego doméstico viver das afeições plácidas e íntimas dedicar-se a formar uma família onde se revivam e multipliquem as almas que uniu o amor conjugal essa felicidade Suprema não a compreendia Seixas O Casamento visto por este Prisma aparecia-lhe como
um degredo que inspirava lhe indefinível terror jamais poderia viver longe da sociedade retirado desse mundo an que era sua Pátria e o berço de sua alma as naturezas superiores obedecem a uma força recôndita é a predestinação uns a TM para a Glória outros para o dinheiro a dele era essa a galanteria algumas vezes Seixas receando pela saúde exposta sem repouso a ação de hábitos pouco higiênicos so a influência de um clima enador I A Fazenda de um amigo em Campos comão de por lá do meses em completa vegetação acordando com o sol recolhendo-se com ele
se era na estação da festa e haviam lá pela roça baires e Partidas que arrem a vida da corte demorava-se uns 15 dias o tempo de compor com alguma espirituosa fazendeirinha um Gentil romance pastoril que terminava com umas estâncias gênero Lamartini quando porém a fazenda estava sossegada e na doce monotonia dos rurais Fernando entregava-se ao que ele chamava a vida Campestre com um ardor infatigável erguia-se ao romper da alva e ao banho corria as plantações e voltava para o almoço com um feixe de parasitas Orquídeas e Bromélias na força da su alheira andava pelas fábricas
a ver des poupar o café ou fazer o fubá Durava este entusiasmo campesino três dias no quarto Fernando achava um pretexto ququ para a volta precipitada e antes de uma semana Estava restituído à corte a primeira noite de baile ou partida era uma ressurreição de um homem assim organizado com a molécula do Luxo e do galanteio não se podia esperar o sacrifício enorme de renunciar à Vida elegante e cedia isso à suas forças era uma aberração de sua natureza mais fácil fora renunciar à Vida na flor da mocidade quando tudo lhe sorria que sujeitar-se a
esse suicídio moral a esse aniquilamento do eu quando Seixas convenceu-se que não podia casar com Aurélia revoltou-se contra si próprio não se perdoava a imprudência de apaixonar-se por uma moça pobre e quase Órfã imprudência a que pusera remate o pedido do casamento o rompimento deste enlace refletido era para ele uma cousa irremediável fatal mas o seu procedimento indignava havia nessa contradição da consciência de Seixas com a sua vontade uma anomalia psicológica da qual não são raros os exemplos da sociedade atual o falseamento de certos princípios da moral dissimulado pela educação e conveniências sociais vai criando
esses aleijões de homens de bem quem não conhece o livro em que Otávio feui glorificou sob o título de honra as últimas hesitações de uma alma profundamente corrompida Seixas estava muito longe de ser um camor mas já nele começava o embotamento do senso moral que o influxo de uma civilização adiantada e no seio de uma sociedade corroída como a de Paris acaba por abortar aqueles monstros para o leão Fluminense mentir a uma senhora ensinar-lhe uma esperança de casamento trair um amigo seduzir lhe a mulher eram passes de um jogo social permitidos pelo código da vida
el mor invent para US dos colégios n tinha que ver com distrações da gente do Tom falt porém palar sem motiv form erit de seix que desair umir no palse mais Gra não tinha outro arrimo senão a mãe consumida pela enfermidade que pouco tempo de vida lhe deav faltando Dona Emília ficaria a filha Órfã Sem Abrigo ao desamparo abandonar nessas tristes condições a uma pobre moça Tida por sua noiva seria dar escândalo independente da reprovação que o fato receberia de seu círculo a própria consciência lhe advertia da irregularidade desse proceder que ele não julgava qualificar
severamente taxando de desleal estas apreensões abater um ânimo igual e prazenteiro de Seixas não perdeu o semblante a expressão afável que era como a flor da Nobre inteligente fisionomia nem apagou-se nos lábios o sorriso que parecia o molde da palavra persuasiva mas soub essa jovialidade de aparato flutuava a sombra de uma tristeza que devia ser profunda pois se fixara nessa natureza volúvel e descuida Aurélia percebeu imediatamente a mudança que se hav operado em seu noivo e inquiriu do motivo Fernando disfarçou a moça não insistiu e até pareceu esquecer a sua observação uma noite porém que
Seixas se mostrara mais preocupado na despedida ela disse-lhe a sua promessa deamento está afligindo Fernando eu l a restituo a mim basta-me o seu amor já lhe disse uma vez desde queeu não lhe pedi nada mais Fernando opôs as palavras de Aurélia frouxa negativa e formulou uma pergunta cuja intenção a moça não alcançou julga você Aurélia que uma moça pode amar a um homem a quem não espera unir-se a prova é que o amo respondeu a moça com candura e o mundo proferiu Seixas com reticências no olhar o mundo tem o direito de exigir de
mim a dignidade da mulher e esta ninguém melhor do que o senhor sabe como a respeito quanto a meu amor não devo contas senão a Deus que me deu uma alma e ao senhor a quem a entreguei Fernando retirou-se ainda mais descontente e aborrecido essa afeição ardente profunda Sublime de abnegação ao passo que Lis onava lhe o amor próprio ainda mais o prendia essa Formosa menina de quem o arredava fatalmente seus instintos aristocráticos e o terror Pânico da mediania laboriosa quando propusera a Aurélia a questão de sua posição equívoca esperava acordar escrúpulos que lhe dariam
pretextos para de todo cortar essas tão doces quanto perigosas relações a resposta da menina o desconcertou foi nestas circunstâncias que Seixas recebeu o oferecimento do Amaral e cedendo as suas instâncias amáveis começou a frequentar lhe a casa sem este incidente ficaria a debater-se na terrível colisão a que o haviam trazido os acontecimentos esperando do tempo uma solução que seimo indolente não se animaria a precipitar aquele pequeno desvio porém o lanara fora do tor velinho submetendo-o a uma nova corrente que ia apoderarse dele e conduzi-lo para longe o Torquato Ribeiro amava sinceramente a Adelaide A volubilidade
da moça ofendeu e ele retirou-se da casa deixando o campo livre a seu adversário que não carecia dessa vantagem Amaral dócil aos conselhos do Lemos tratou como dizia o velho de bater o ferro quente Seixas convidado a jantar um domingo em casa do empregado fumava um delicioso Havana ao levantar-se da mesa coberta de finas iguarias e debuch com um olhar lânguido os graciosos contornos do talhe de Adelaide que lhe sorria do piano embalando em um noturno suavíssimo Amaral sentou-se ao lado sem preâmbulos nem rodeios a queima roupa ofereceu-lhe a filha com um dote de 30
contos de réis Seixas aceitou esse projeto de casamento naquele instante era a prelibação das delícias com que sonhava a sua fantasia excitada menos pelo champanhe do que pela Sedução de Adelaide a principal razão que moveu Seixas foi outra porém fez como os devedores que se liberam dos compromissos quebrando oso de sua coragem para recup aen penhorou a outros que oass e defendessem comoa suao 5te 2 Capítulo 6 de senhora esta gravação Libo está noo público gravado por Leni Senhora de José de Alencar par 2 Capítulo 6 auré pass noites solitá vees ap fando que Aran
uma desculpa qualquer para justificar sua ausência aina que não pensa em interrogá-lo também não contesta esses fúteis inventos ao contrário buscava afastar da conversa o tema desagradáv conhecia a moça que Seixas retirava lhe seu amor mas a altivez de coração não lhe consentia queixar-se Além de que ela tinha sobre o amor ideias singulares talvez inspiradas pela posição especial em que se achara ao fazer-se moça pensava ela que não tinha nenhum direito a ser amada por Seixas e pois toda a afeição que lhe tivesse Muita ou pouca era graça que dele recebia quando se lembrava que
esse amor AP poupara a degradação de um casamento de conveniência nome com que se decora o mercado matrimonial tinha impulsos de adorar a Seixas como seu Deus e Redentor parecerá estranho essa paixão veemente rica de heróica dedicação que entretanto assiste calma quase impassível ao declínio do afeto com que lhe retribuía o homem amado e se deixa abandonar sem proferir um queixume nem um esfor para reter a aventura que foge esse fenômeno devia ter uma razão psicológica deja investigação nos abstemos porque oa e ainda mais o daul que é toda ela representa o caos do mundo
moral ningém sabe que Maravilhas ou que monros V desses limbos suspeito eu porém que a explicação dessa singularidade já ficou assinalada Aurélia amava mais seu amor do que seu amante era mais poeta do que mulher preferia o ideal ao homem quem não compreender a força desta razão pergunte a si mesmo porque uns admiram as estrelas com os pés no chão e outros a levantar os as grimpas curvam-se para apanhar as moedas no tapete desde que se comprometeu com Amaral pensou Fernando em cortar de uma vez o fio que ainda o prendia nesse Suit emio a
cuid que seas L vola e-se joube queeo de vê e estar el o oo suis osamente distraído e como perplexo o senhor quer dizer-me algisa mas receia afirme observou a menina uma noite com Angélica resignação Fernando Aproveitou a ocasião para resolver a crise meu voto mais ardente Aurélia Son Dourado deha vida era conquistar uma posição brilhante para depô-la a pés da única Muler que amei nesse mundo mas a Fatalidade que pesa sobre mim aniquilou todas as minhas esperanças e eu seria um egoísta se prevalecendo de sua afeição a associasse a uma existência obscura e atribulada
a santidade de meu amor deu-me a força para resistir a seus próprios impulsos disse uma vez a sua mãe pressentindo com sua situação sou menos infeliz renunciando à sua mão do que seria aceitando-a para fazê-la desgraçada e condená-la às humilhações da pobreza essas já as conheço respondeu Aurélia com tên ironia e não me aterram nasci com elas e tem sido as companheiras de minha vida não me compreendeu Aurélia referi-me a um partido vantajoso que de certo aparecerá logo que esteja livre pensa então que basta uma palavra sua para restituir me a liberdade perguntou a moça
com um sorriso sei que a Fatalidade que nos separa não pode romper O Elo que prende nossas almas e que há de reuni-las em um mundo melhor mas Deus nos deu uma missão neste mundo e temos de cumpri-la a minha é amá-lo a promessa que o aflige o senhor pode retirá-la tão espontaneamente como a fez nunca lhe pedi nem mesmo simples indulgência para esta afeição não lhe Pedirei neste momento em que ela o importuna atenda Aurélia lembre-se de sua reputação que não diriam se recebesse a corte de um homem sem esperança de ligar-se a ele
pelo casamento iam talvez que eu sacrificava um amor desdenhado um partido brilhante O que é uma a moça cortou a ironia retraindo mas não faltariam a verdade não sacrifiquei nenhum partido o sacrifício é a renúncia de um bem o que eu fiz foi defender a minha afeição sejamos Francos O senhor já não me ama não o culpo e nem me queixo Seixas balbuciou umas desculpas e despediu-se Aurélia demorou-se um instante na rótula como costumava para acompanhar ao amante com a vista até o fim da rua Se Fernando não estivesse tão entregue a satisfação de haver
readquirido sua liberdade teria ouvido no dobrar da esquina o eco de um soluço no dia seguinte Dona Emília recebeu de Seixas uma dessas cartas que nada explicam mas que em sua calculada ambiguidade exprimem tudo compreendeu a viúva ao terminar a leitura do logogrifo epistolar que estava roto o projetado casamento e estimou o resultado a boa mãe nutria ainda a esperança de persuadir a filha a aceitar a mão de Abreu por esse tempo entrou Torquato Ribeiro a frequentar a casa de Dona Emília soubera ele do procedimento que Seixas tivera com a viúva e a conformidade de
infortúnio o atraiu referiu a Aurélia a inconstância de Adelaide que atrib a sua pobreza a moça o ouvia com meiguice e o consolava Mas apesar da intimidade que se estabeleceu entre ambos nunca lhe falou de seus próprios sentimentos tinha o pudor de sua tristeza que não lhe consentia confidências seria altivez mas ela a vestia de um recato Modesto ilano as exprobração de Ribeiro contra a infidelidade de que fora vítima haviam lançado no espírito de Aurélia uma suspeita acerba seria a abastança do Amaral que atraí Fernando e não o amor de Adelaide A moça repeliu constantemente
essa ideia que lhe imb buíram os ressentimentos de Ribeiro Mas chegou o momento em que lhe arrancaram a dúvida consoladora recebeu uma carta anônima comunicavam lhe que Seixas A tinha abandonado por um dote de 30 contos de réis acabando de ler estas palavras levou a mão ao seio para suster o coração que se lhe esvaía nunca sentira dor como esta sofrera com resignação e indiferença o desdém e o abandono mas o rebaixamento do homem a quem amava era um suplício infindo de que só podem fazer ideia os que já sentiram apagarem se os lumes d'alma
ficando-lhes a inanidade debalde Aurélia refugiou-se nos primeiros Sonhos de Seu amor a de Seixas repercutia no Ideal que a menina criara em sua imaginação e imprimia lhe o estigma tudo ela Perdoou a seu volúvel amante menos o tornar-se indigno do seu amor que pungente colisão ou expelir do coração esse amor que tinha decaído e deixar a vida para sempre erma de um afeto ou humilhar-se adorando um ente que se aviltar e associando-se à sua vergonha a notícia do procedimento atribuído a Seixas não passava de uma denúncia anônima que podia ser inspirada pela malignidade não obstante
Aurélia não hesitou em acreditá-lo uma voz interior dizia-lhe que era aquela a verdade poucas horas depois aproximando-se da rótula para abri-la A Criada viu por entre as grades passar o Lemos que olhava para casa com Ares garotos atravessou lhe pelo Espírito a ideia de que era o autor da carta e confirmou-se nela quando notou os manejos com que o velho nos dias subsequentes tentou inutilmente apanhá-la à janela como esperava Dona Emília Eduardo Abreu voltou apenas soube da retirada de Seixas Aurélia recebeu cheia de reconhecimento pela afeição que havia inspirado a esse moço e de admiração
por seu nobre caráter não meço Senor abil arrancar a este amor fatal e recuperar a posse de mim mesma creia que Teria orgulho em partilhar a sua sorte três dias depois partia um vapor para a Europa Abreu tomou passagem e foi aturdir se em Paris onde lhe ficaram As Ilusões da Mocidade e algumas dezenas de contos de réis mas não a lembrança de Aurélia entretanto Seixas começava a sentir o peso do novo julo a que se havia submetido o casamento desde que não lhe trouxesse posição brilhante e riqueza era para ele nada menos que um
desastre as despesas de ostentação com sua pessoa unicamente absorviam lhe todo o rendimento anual além dos créditos suplementares que seria dele quando além do seu tivesse de prover também ao Luxo de uma mulher elegante que ela só come em sedas mais do necessário ao alimento de uma numerosa família isto sem falar da casa que se em solteiro ele conseguira reduzir ao estado de Mito adquiria para o marido de uma senhora à moda uma evidência cara a promessa feita ao pai de Adelaide era explícita e formal em caso algum Seixas se animaria negá-la e faltar desgarrar
a realizar o casamento em prazo fixo esperava do tempo que é grande e resolvente uma emergência feliz que o libertasse por essa época pred dispuseram-se as cousas para a candidatura que o nosso escritor sonhava desde muito tempo e coincidindo elas com a partida da tal estrela nortista lembrou-se Fernando de fazer uma excursão erola por Pernambuco a expensas do estado nunca porém se resolveria a esse desterro de ano se não Esperasse com esse adiamento esgotar a paciência de Adelaide tanto a moça como o pai estaram para efetuar o casamento antes da partida mas Fernando que do
seu tirocínio de oficial de gabinete aprendera todas as manhas de Ministro e se preparava para copiá-las em um futuro não muito remoto apôs a pretensão da noiva a razão de estado receber a ordem do governo para partir imediatamente se não obedecesse arrisca-se a uma demissão fim do Capítulo 6 parte 2 Capítulo 7 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 2 Capítulo 7 um dia por manhã bateram a porta de Dona Emília quando a viva e a filha vieram à sala acharam sentado no sofá um
velho alto e robusto cujo traj denotava provinciano ou homem do interior tinha o rosto sanguíneo e os traços duros e salientes cravou ele o olhar pesado no semblante de Aurélia sem erguer-se a chegada das senhoras depois de ter assim examinado a menina com insistência desusada volveu à vista para a viúva reparou no vestido preto desbotado que ela trazia por casa e tornou a descarregar os olhos torvos sobre a moça Dona Emília a assustada com estes modos trocou um sinal de inteligência com a filha ambas receavam achar-se Em presença de algum louco ou Ébrio julgando-se expostas
a um desacato não sabiam o que fazer entretanto as lágrimas saltavam aos molhos das pálpebras do velho que erguendo-se de supetão correu à Aurélia e suspendeu a moça nos braços antes que ela se pudesse esquivar que é isto senhor está louco disse Dona Emília levantando-se para defender a filha às palavras da viúva e ao grito que soltara a Aurélia o velho recuou e quis falar mas o soluço embarg lhe a voz não me conhece minha filha sou o pai de seu marido o senr Lourenço Camargo ele mesmo não consente que abrace minha neta foi Aurélia
quem se lançou nos braços do velho e este depois que a teve serrada ao peito por algum tempo desviou-se bruscamente e foi sentar-se no sofá enxugando o rosto com o grande lenço de seda enrolado em uma bola é o retrato de meu Pedro pobre Rapaz murmurou o velho depois de algumas perguntas acerca do nome e idade de Aurélia explicou o fazendeiro a razão de ali achar-se naquele momento reconciliado com sua nora e pesaroso do modo Por que se portara com ela na Estalagem ou rancho em que falecera deixou ped sua Maleta guardou-a o dono da
casa com tenção de levá-la à fazenda ou mandá-la pelo primeiro portador por lá ficou anos até que pairou aí por acaso um formigueiro nome que dão ao indivíduo perito em destruir o inseto Daninho que devora as roças esse de que se trata ia à fazenda do Camargo oferecer os seus serviços e incumbiu-se de levar a mala ao recebê-la avivam ao fazendeiro as saudades do filho enxugou os olhos e mandou acender uma fogueira no terreiro para queimar os objetos que haviam pertencido ao morto enquanto se cumpria sua ordem abriu ele próprio a maleta e tirou uma
por uma as peças enxovalhadas um pequeno estojo de toucador e outras cousas de uso comum no fundo havia um volume envolto em papel e atado com uma fita preta conha as fotografias de Pedro Camargo da mulher e doss dois filhos a certidão de casamento e as de batismo dos dois meninos e finalmente uma carta sem sobreescrito dirigida ao fazendeiro essa carta de data muito anterior ao falecimento indicava que Pedro Camargo tinha a princípio pensado em suicidar-se e se preparara para levar a efeito esse desígnio escrevendo ao Pai a fim de implorar-lhe o perdão de sua
falta depois de fazer a confissão do casamento que havia ocultado só pelo receio de afligir ao pai suplicava lhe que protegesse sua viúva e aqueles órfãos inocentes que eram seus netos e que o haviam de substituir a ele Pedro no amor e na veneração lendo essa carta Lourenço Camargo afigurou Se receber as últimas palavras do filho e lembrou-se quanto fora injusto duvidando da realidade desse casamento de que ali tinha a prova irrecusável era uma alma Rude mas direta nessa mesma noite partiu para a corte por intermédio do correspondente mandou colher informações na vizinhança e soube
que a viúva ainda morava na mesma casa depois dessas explicações que arrancaram lágrimas As duas senhoras sobretudo quando leram a carta de Pedro Camargo o velho deu um giro pela sala e tomando o chapéu disse chorem a seu gosto eu voltarei depois de feito voltou todos os dias enquanto Demorou na corte por seu gosto teria enchido de presentes a Aurélia e a mãe porém As duas senhoras acanhar se com a excessiva liberalidade pelo que amuou se o velho fazendeiro pois bem não lhes darei mais nada quando precisarem peçam dois dias depois desse incidente apresentou-se o
velho com um maço de papel lacrado ao tirá-lo do bolso do jaleco refran jocosamente a cara para Aurélia não vá pensando que é presente não Sen Dona fique descansada quero que me guarde aqui este papel até a volta se tem dinheiro acho melhor ia dizendo a Aurélia qual dinheiro você parece que tem nojo dos meus cobres não é por isso meu avô bem vê que duas mulheres numa casa como esta oferecem pouca segurança pois saiba que isto é um papel uma escritura que passei e para não perder na viagem deixe em sua mão na capa
do maço estavam escritas em bastardinho estas palavras para minha neta Aurélia guardar até eu seu avô lhe pedir l s Camargo partiu o velho para a fazenda tendo mandado adiante de si pedreiros carapinas e pintores a fim de quanto antes transformar o velho e sujo cazebre em uma habitação digna de receber a família de Pedro Camargo com certo aparato que o fazendeiro considerava indispensável como reparação de sua anterior indiferença além do material do edifício havia também no regime da casa certos hábitos inveterados que se estabelecem em algumas fazendas sobretudo quando são os donos Solteirões Camargo
carecia pelo menos de um mês para coibir umas familiaridades antes toleradas e abolir certa moda de saia ou tanga que dava às crioulas uns Ares de dançarinas menos a calça de meia e os froc de gaze compreendia o Camargo que estas minudências inocentes para um velho barbaço como ele deviam arrepiar os escrúpulos da corte mas quando essa ideia não lhe acudisse bastava-lhe ter visto a Aurélia e respirado a atmosfera de altiva castidade que envolvia a Formosa menina para não ousar profan com o contágio daquelas indecências logo após a partida de Camargo Dona Emília teve um
dos costumados acessos da moléstia crônica porém tão forte que inspirou sérios receios ao médico O paroxismo cedeu à aplicação de remédios enérgicos mas a viúva não se levantou mais do leito onde agonizou cerca de do meses foi este o período mais difícil da vida de Aurélia porque mágoas acerbas de seu amor ludibriado acresceu a dor dos Sofrimentos de sua mãe e como se não bastasse esse golpe para acabrunhar veio agravar esta situação a miséria com seu cortejo quando apareceu o Camargo enviado pela providência para reconhecer a nora e a neta a existência das duas senoras
já era bastante penosa consumido o dinheiro que lhes entregar o tropeiro viviam das costuras de Aurélia e do preço de algumas joias aind presentes de Pedro não chegam porém estes escassos recursos e teri passado em clemas se não fosse o crédito obtido na e venda em que se supriam com algum dinheiro que o fazendeiro deixar a viva pagar ela essas dívidas e o resto entregar à filha para as despesas enquanto durou essa quantia pode Aurélia fazer fácil as despesas mas estas Av voltaram com a moléstia da mãe e breve não houve com que mandar ao
mercado comprar um frango para o caldo da enferma foi só nessa ocasião que Aurélia cedeu à instâncias do Dr Torquato Ribeiro e recebeu dele emprestados R 50.000 ré até então rejeitara sempre o seu oferecimento e esforçava-se por ocultar a penúria em que se achava É verdade que Aurélia esperava receber a cada instante os socorros que pedira ao avô escrever-lhe logo que a moléstia da mãe agravou-se e admirava-se de não receber resposta nem ter notícia da fazenda a razão só depois a soube de volta à Fazenda achou Lourenço Camargo uma caterva de Peraltas que se diziam
seus sobrinhos e com eles as respectivas mulheres e a réa dos marmanjos e sirait que formavam a ninhada dessa parentela o Camargo não os podia suportar para ver-se livre deles deixava-se fintar uma vez no ano mas não consentia se demorassem em sua casa mais do que uma noite se fazia mal tempo imagine-se pois como ficou o velho quando aí achou os todos de uma vez com os seus apêndices e muito a gosto mas o Furor de Camargo não teve limites quando os intrusos tiveram o desfaço de confessar o motivo que ali os reunia constara lhes
de fonte certa que o velho tinha feito testamento na corte e segundo as suas conjeturas deixava todos os bens a uma rapariga filha de certa mulher perdida antiga amásia de Pedro Camargo à vista disso haviam se reunido e ali estavam para declarar ao tio que não consenti jamais em semelhante espoliação se como esperavam ele não reparasse o seu erro para o que já traziam o escrivão de paz o preveniam desde logo que anulariam esse Testamento pela instituição de pessoa indigna neste ponto apoiavam-se no voto de um rábula de que por cautela se tinham acompanhado o
velho Camargo conteve-se durante essa exposição mas como se contém a torrente que sobe para romper o Dique e a tempestade que se condensa até desabar quando rábula aberta a caixa de rapé fechou a chave dos dois dedos tabaquista para agarrar a pitada que devia destilar lhe no nariz o monco e a eloquência não achou presa a de tartaruga voara pelos ares a um murro de Camargo que apanhando uns arreios de mula cargueira suspensos à varanda caiu na parentela e dispersou a a lambadas de couro e ferro homens mulheres e meninos tudo foi escovado ao mesmo
tempo o fazendeiro gritava pela negrar e Armando a de peias e mangua enxotava de casa a praga que a tinha invadido só depois que a deixou na estrada com as trouxas e malas de bagagem voltou o velho mas o corpo robusto que apesar dos 70 anos desenvolveu aquele prodigioso esforço físico não pôde resistir à explosão da cólera estupenda que subverteu lhe a alma quando não teve mais em quem descarregar a indignação esta subiu-lhe ao cérebro e fulminou o ataque paralisou completamente a vitalidade de sua organização lutou cerca de 2 meses nesse corpo morto até que
afinal extinguiu-se em todo esse tempo não deu acordo de si as cartas de Aurélia ficaram na gaveta onde as guardara o administrador com diferença de dias veio a falecer também Dona Emília deixando Aurélia em completa orfandade nesse trans Cruel o Dr Torquato Ribeiro não abandonou a moça e foi a rogos dele que dona Firmina mas levou a órfã para sua casa a exceção dessa parenta afastada nenhuma outra pessoa da família apareceu Ou mandou a casa de Aurélia durante a enfermidade da mãe e depois do passamento o Lemos e sua gente não deram sinal de si
fim do Capítulo 7 parte 2 Capítulo 8 de senhora esta gravação librivox está no domínio públ gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 2 Capítulo 8 aceitando a companhia de Dona Firmina não era a intenção de Aurélia tornar-se pesada a sua parenta passados os o dias de nojo enviou pelo Dr Torquato Ribeiro um anúncio ao jornal oferecendo mediante condições razoáveis seus serviços como professora de colégio ou mestra em casa de família estava porém disposta a descer até o Mister mais Modesto de costureira ou mesmo de Aia de alguma senhora idosa decorreu mais de
mês sem que aparecesse cousa séria apenas se apresentaram alguns desses farejadores de aventuras baratas a r réis por linha Dona Firmina porém percebeu lhes a manha e despediu da escada sem consentir que vissem a moça pensava Aurélia em mandar outro anúncio quando a procurou um negociante que Andara a cata de sua nova morada era o correspondente do Falecido Camargo que vinha comunicar à moça o falecimento do fazendeiro a senhora tem em seu poder um papel que o meu amigo lhe deu a guardar recomendando que no caso de acontecer-lhe alguma coa lhe avisasse para abri-lo parece
que tinha um pressentimento o papel conha o testamento em que Lourenço de Souza Camargo reconhecia e legitimava como seu filho a Pedro Camargo que fora casado com Dona Emília Lemos declarando que a sua neta Dona Aurélia Camargo nascida de um legítimo matrimônio instituía sua única e Universal herdeira ao Testamento juntara o velho uma relação detalhada de todo o seu possuído escrita do próprio punho com várias explicações relativas a alguns pequenos negócios pendentes e conselhos acerca da futura direção das fazendas Calculava o Cabedal de Camargo em mil contos ou cerca apenas divulgou-se a notícia de ter
Aurélia herdado tamanha riqueza acudiram lhe à casa todos os parentes e à frente deles o Lemos com seu Rancho enquanto a mulher e as filhas sufocavam de interesseiros agrados e bajulações A Órfã a quem tinham faltado Quando pobre com a mais trivial caridade o Lemos Expedito em negócios arranjava do juiz de Órfã a nome ação de tutor da sobrinha de primeiro impulso Aurélia pensou em revoltar-se contra essa nomeação mostrando ao juiz a Infame carta que lhe escrevera o tio Mas além de repugnar lhe o escândalo sorriu-lhe a ideia de ter um tutor a quem dominasse
aceitou pois o tio mas com a condição que já sabemos de morar em casa sua e não ter relações com uma família cuja presença lhe recordava a injúria feita a sua mã isso mesmo disse-o a tia e primas quando estas se esforçavam por cobri-la de Carícias a riqueza que lhe sobreveio Inesperada erguendo-a subitamente da indigência ao fastígio operou em Aurélia rápida transformação não foi porém no caráter nem nos sentimentos que se deu a revolução estes eram inalteráveis tinham a fina têmpera de seu coração a mudança consumou-se apenas na atitude se assim nos podemos exprimir dessa
alma perante a sociedade com uma existência calma e um amor fiz a Aurélia teria sido meiga esposa e mãe estremos atravessaria o mundo como tantas outras mulheres envolta nesse Cândido enlevo das ilusões que são a Alva pura do anjo Peregrino na terra mas a flor de sua juventude Ela a viu desabrochar na atmosfera impura das torpes seduções que a perseguiam sem o nativo orgulho que protegia sua castidade talvez que o torpe hálito do vício lhe maculasse o seio mas teve força para cerrarse como cacto à calma abrasadora e viveu de seus próprios sonhos cotejando seu
Formoso Ideal com o aspecto sórdido que lhe apresentava a sociedade era natural entrasse a desprezá-la e a olhar o mundo como um desses charcos pútridos mas cobertos por folhagem estrelada de flores brilhantes que não se podem colher sem atravessar o lodo daí o terror que sentia ao ver-se próxima desse Abismo de objeções e o afastamento a que se desejava condenar bem vezes revoltavam lhe a alma as indignidades de que era vítima e até mesmo as vilanias cujo Eco chegava a seu obscuro Retiro mas que podia ela frágil menina em Véspera de orfandade e abandono contra
a formidável besta de mil cabeças quando a riqueza veio surpreender a ela que não tinha mais com quem a partilhar seu primeiro pensamento foi que era uma arma Deus lhe enviava para dar combate a Essa sociedade corrompida e vingar os sentimentos nobres escarnecido pela turba dos agiotas preparou-se Pois para a luta a qual talvez a impel principalmente a ideia do casamento que veio a realizar mais tarde quem sabe se não era o aviltamento de Fernando se que ela punia com o escarnio e a humilhação de todos os seus Adoradores logo nos primeiros dias que seguiram-se
à abertura do testamento Aurélia tratou de pagar as dívidas de sua mãe e recompensar os serviços que lhe haviam prestado durante a enfermidade de Dona Emília várias pessoas pobres da vizinhança nessa ocupação a ajudava o Dr Torquato Ribeiro com quem ela se aconselhava sobretudo acerca dos negócios da tutela o Bacharel não vava Mas consultava aos colegas para satisfazer a menina e dirigi-la com acerto também temos uma dívida saudar entre nós dois disse Aurélia mas essa fica para depois não lhe pago agora uma bagatela tornou-lhe Ribeiro oh não sabia que era tão rico sou pobre bem
sabe Dona Aurélia sei se fosse rico nunca seria sua devedora a despesa que fez com o enterro de minha mãe deve fazer-lhe falta perdão não fui eu quem foi então perguntou Aurélia no auge da surpresa Ribeiro tirou a carteira nunca lhe falei nisso com receio de afligi no dia do falecimento de Dona Emília saí Como sabe para tratar do enterro já tinha dado muitas voltas inúteis quando recebi esta carta sem assinatura aceitei porque não havia outro recurso eu não tinha de meu 20.000 R A Carta continha estas palavras apenas previne-se ao Senor Dr Torquato da
Ribeiro que o enterro da Senhora Dona Emília Camargo já foi encomendado e pago por uma parenta da mesma senhora Aurélia leu a carta cuja letra lhe era desconhecida e guardou-a Então devo-lhe somente R 50.000 réis que Pagarei quando for maior agora peço-lhe que receba esta lembrança a lembrança era o retrato da moça em um quadro de ouro maciço cravejado de brilhantes cujo valor bruto desprezado o feitio Valia um conto de réis o Bacharel compreendeu a intenção da moça que era dar-lhe por aquela forma delicadíssima um auxílio pecuniário de que ele bem carecia refletiu um instante
e resolu aceitar com franza e sem falsa modéstia agradeço-lhe seu Mimo Dona Aurélia acima de tudo mais ainda do que o próprio retrato aprecio nele o que a senhora ocultou suas feições são apenas a cópia da beleza a intenção é o reflexo da Alma que Deus lhe deu foi depois de passados os seis meses de luto que a Aurélia apareceu na sociedade tinha-se ela ensaiado para seu papel Desde o Primeiro Momento em que apresentou-se nos salões firmou neles seu império e tomou posse dessa turba avalada cujo destino é bajular as reputações que se impõe encontramo-la
deslumbrando a multidão com sua beleza e aul a fome do ouro nos Cavalheiros do lansquenete matrimonial regozijava se em arrastar após si rojando os pelo pó e fustigando os com o sarcasmo a esses sócios e êmulo de Fernando Seixas ansiosos de venderem se como ele ainda que por maior preço por isso os tinha reduzido a mercadoria o traste fazendo-lhes a cotação como se usava outrora com os lotes de escravos aquele marido de maior preço a que ela se referia não era outro senão seu antigo amante que a desprezar por ser pobre no meio desta acrimônia
que lhe inspirava a socied não perdera porém Aurélia de todo a crença na nobreza d'ma sabia respeitá-la onde quer que a descobria assim quando algum homem honesto sinceramente seduzido pelos dotes de sua pessoa e não pelo brilho da riqueza lhe fazia a corte ela porta-se com ele de modo inteiramente diverso acolhia com afabilidade e distinção mas aproveitava o primeiro momento para desvanecer lhe toda a esperança só com os caçadores de dotes era Loureira se tal nome pode aplicar ao constante Lud humilhação a que submetia seus apaixonados encontrou Aurélia uma vez na sociedade Eduardo Abreu já
de volta da Europa soube quetinha atima e fuzo pobreza como se esquivasse aça dirigi a ele e insistiu Para que frequentasse sua casa Abreu fez uma visita de Cerimônia a moça inventou um pretexto qualquer para uma carta urgente e mandou buscar o tinteiro de repente voltou-se para o moço e pedi que escrevesse um recado a certa loja auré examinou a letra e murmurou consigo eu tinha adivinhado disse uma Abu sobre ISS pores pagasse as contas que o moço tinha em várias casas da Rua do Ouvidor que já não lhe queriam fiar a primeira vez que
a moça encontrou-se com Abreu depois do incidente perguntou-lhe ainda me ama ele corou já não tenho esse direito lembre-se do que lhe disse uma vez se eu rir-me de meu cativeiro minha mão lhe pertence não a querendo Senhor ninguém mais a terá neste mundo o Dr Torquato Ribeiro não pode de resistir a paixão que nutria pela Adelaide Amaral com o tempo e a ausência do rival foi se desvanecendo o primeiro ressentimento e como o procedimento de seixa já causava estranheza não se Demorou a reconciliação Aurélia percebeu que o Bacharel estava cada vez mais apaixonado era
uma verdadeira recaída a princípio admirou-se dessa indulgência e eu não amo um homem que não somente me esqueceu por outra mas que se rebaixou pensou Então em faer ess amor do Ribeiro que obteve conendo para realiz doeto que afaga e aja realização assistimos estes forte P Prime nos salões cgoo 2 Capítulo de senhora Estação Lio estáo público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 2 capítulo tornemos à Câmara nupcial onde se representa a primeira cena do Drama Original de que apenas conhecemos o prólogo os dois atores ainda conservam a mesma posição em que
os deixamos Fernando Seixas obedecendo automaticamente a aur sse Fit ol estupefato arrastou uma cadeira e colocou-se em face do marido cujas Faces cresta o seu hábito abrasado não careço dizer-lhe que amor foi o meu que adoração lhe votou minha alma Desde o Primeiro Momento em que o encontrei sbe o senhor e se o ignora sua presença aqui nesta ocasião já lhe revelou para que uma mulher sacrifique assim todo o seu futuro como eu fiz é preciso que a existência se tornasse para ela um deserto onde não resta senão o cadáver do homem que a assolou
para sempre Aurélia calcou a mão sobre o seio para comprimir a emoção que a ia dominando o senhor não retribuiu meu amor e nem o compreendeu supôs que eu lhe dava apenas a preferência entre outros namorados e o escolhia para herói dos meus romances até aparecer algum casamento que o Senhor Moço honesto estimaria para colher à sombra o fruto de suas flores poéticas bem vê que eu distingo dos outros que ofereciam brutalmente mas com franqueza e sem rebuço a perdição E a vergonha Seixas abaixou a cabeça conheci que não amava-me como eu desejava e merecia
ser amada mas não era sua a culpa e só minha que não soube inspirar lhe a paixão que eu sentia mais tarde o senhor retirou-se essa mesma afeição com que me consolava e transportou a para outra em quem não podia encontrar o que eu lhe dera um coração virgem e cheio de paixão com que eu adorava entretanto ainda tive forças para perdoar-lhe e amá-lo a moça agitou então a Fronte com uma vibração altiva mas o senhor não me abandonou pelo amor de Adelaide e sim por seu dote um mesquinho dote de 30 contos eis o
que não tinha o direito de fazer e que jamais lhe podia perdoar desprezasse embora mas não descesse da altura em que eu havia colocado dentro de minha alma eu tinha um ídolo o Senhor abateu de seu pedestal e atirou no pó essa degradação do homem a quem eu adorava Eis o seu crime a sociedade não tem leis para puni-lo mas é um remorso para ele não se assassina assim um coração que Deus criou para amar incutindo-lhe a descrença e o ódio Seixas que tinha curvado a Fronte ergueu de novo e fitou os olhos na moça
conservava ainda as feições contraídas eas de suor borbulhavam na raiz de seus belos cabelos negros a riqueza Que deus me concedeu chegou tarde nem ao menos permiti o prazer da ilusão que T as mulheres enganadas quando a recebi já conhecia o mundo e suas misérias já sabia que a moça rica é um arranjo e não uma espos pois bem disse eu essa riqueza servirá para dar-me a única satisfação que ainda posso ter neste mundo mostrar a esse homem que não me soube compreender que mulher o amava e que alma perdeu entretanto ainda eu afagava uma
esperança se ele recusa nobremente a proposta aviltante eu irei lançar-me a seus pés suplicar-lhe Ei que aceite a minha riqueza que a dissipe se quiser consinta que eu o ame essa última Consolação o senhora arrebatou que me restava outrora atava o cadáver ao homicida para expiação da culpa o senhor matou me o coração era justo que o prendesse ao despojo de sua vítima mas não desespere o suplício não pode ser longo este constante martírio a que estamos condenados acabará por extinguir me o último alento o senhor ficará livre e Rico proferidas as últimas ument de
indefinível irão a moça tirou oel que trazia passado cinta e abriu diante dos olhos deixas era um cheque de 80 contos sobre o Banco do Brasil é tempo de concluir o mercado dos 100 contos de réis em que o senhor avaliou-se já recebeu 20 aqui tem os 80 que faltavam estamos quit e posso chamá-lo meu meu marido Pois é este o nome de convenção a moça Estendeu o papel que sua mão crispa amarrotada convul Seixas permaneceu imóvel como uma estátua apenas duas plicas Profundas sulcam lhe As Faces desde o canto dos olhos até a comissura
dos lábios Afinal o papel escapou dos dedos trêmulos da moça e caiu sobre o tapete aos pés de Fernando seguiu-se um momento de silêncio ou antes de estupor Aurélia irritava se contra a Invencível mudez de Seixas e talvez a atribuía uma cínica insensibilidade moral pensava exacerbar os nobres estímulos de um homem ainda capaz de reabilitar-se da fragilidade a que fora arrastado e achava um indivíduo tão embotado já em seu pudor que não se revoltava contra a maior das humilhações Aurélia soltou dos lábios um estrídulo antes do que um sorriso agora podemos continuar a nossa comédia
para divertir-nos é melhor do que estarmos aqui mudos em Face um do outro tome a sua posição meu marido ajoelhe-se aqui a meus pés e venha dar-me seu primeiro beijo de amor porque o Senhor ama-me não é verdade e nunca amou outra mulher senão a mim seas ergueu-se sua voz Afinal desprendeu-se dos lábios calma porém fremente não não a amo ah é verdade que a amei mas a senhora acaba de esmagar a seus pés esse amor aí fica ele para sempre sepultado na abjeção a que eu arremessou eu só a amaria Agora se a quisesse
insultar pois que maior afronta pode fazer a uma senhora um miserável do que marcando-a com o estigma de sua paixão Mas fique tranquila ainda quando me dominasse a cólera que não sinto há uma Vingança que não teria forças para exercer é essa de amá-la Aurélia ergueu-se impetuosamente então enganei-me exclamou a moça com estranho arrebatamento o senhor ama-me sinceramente e não se casou comigo por interesse Seixas demorou um instante o olhar no semblante da moça que estava suspensa de seus lábios para beber lhe as palavras não Senhora não enganou-se disse Afinal com o mesmo tom frio
e inflexível vendi pertenço lhe a senhora teve o mau gosto de comprar um marido aviltado aqui o tem como o desejou podia ter feito de um caráter talvez gasto pela ucação um homem de bem que se nobree com sua afeição preferiu um escravo Branco estava em seu direito pagava com seu dinheiro e pagava generosamente esse escravo aqui o tem é seu marido Porém nada mais do que seu marido o rubor afogueou As Faces de Aurélia ouvindo essa palavra acentuada pelo sarcasmo de Seixas ajustei por 100 contos de réis continuou Fernando foi pouco mas o O
mercado está concluído recebi como sinal da compra 20 contos de réis falta-me arrecadar o resto do preço que a senhora acaba de pagar-me o moço curvou-se para apanhar o cheque leu com atenção o algarismo e dobrando lentamente o papel guardou no bolso do rico Chambre de gorgorão azul quer que lhe passe um recibo não confia na minha palavra não é seguro enfim estou pago o escravo entra em serviço soltando estas palavras com pasmosa volubilidade que parecia indicar o Requinte da impudência Fernando sentou-se outra vez defonte da mulher espero suas ordens Aurélia que até esse momento
escutara com ansiedade perscrutando sofrega no semblante do marido e através de suas palavras um sintoma de indignação disfarçada por aquele desgarro as mãos rosto abrasado Deon me Deus tragou o soluço que lhe sublevava o seio e refugiando-se no outro canto do sofá como se rasse o contágio do homem a quem se unira pela eternidade abism na voragem de sua consciência revolta após longo trato Aurélia como se despertasse de um pesadelo ergueu os olhos e encontrando de novo o semblante de Seixas que a observava com um sossego escarninho teve um enérgico assomo de repulsão ou antes
de asco minha presença está incomodando porque assim o quer não é senhora não tem direito de mandar ordene que eu me Retiro oh sim deixe-me exclamou Aurélia o senhor me causa horror devia examinar o objeto que comprava para não arrepender-se Seixas atravessou a câmara nupcial e desapareceu por essa porta que uma hora antes ele entrara cheio de vida e de felicidade palpitante de júbilo e emoção e que repassava levando a morte na alma quando Aurélia ouviu o som dos seus passos que afastam-se pelo corredor precipitou-se com um arremesso de terror e deu volta à chave
depois quis fugir mas arrastou uns passos trôpegos e caiu sem sentidos sobre o tapete fim do capítulo no parte 3 Capítulo 1 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 1 chegando a seu aposento Seixas nem teve tempo de sentar-se arrim se como um ébrio à cômoda que estava próximo ao corredor e ali ficou no estupor da Alma violentamente subvertida pela crise tremenda parecia uma criatura fulminada na qual arqueja apenas um último sopro sua respiração angustiada cibila lhe nos lábios como as vascas do
moribundo e Era este o único sinal de vida nessa organização jovem e rica de seiva de repente Saiu daquele tpor mas foi preciso um esforço supremo para arrancarse a insânia que o invadia em seu rosto desenhou-se o pavor que dele se havia apoderado com a ideia de que a vida o abandonava Ou pelo menos de que a luz da Alma ia apagar-se Deus não me tires a vida neste momento agora mais do que nunca preciso de minha razão Seixas arrojou se pelo aposento a Passos [Música] precípuo mesmo tempo impelido pelo Desejo de arrebatar se a
obsessão que o aniquilar correu pela casa um olhar ansiado buscando Algum objeto a que seu espírito se agarrasse como O Náufrago que trava do menor fragmento no meio das ondas em que se debate o rico tocador esclarecido por duas arandelas de cristal com velas cor deosa ostentava os primores do Luxo então nessa alma sucumbida Luzi uma centelha foi o instinto da elegância por certo a corda mais Vivaz dessa índole poética e dalga Seixas aproximou-se do tocador levado por indefinível impulso e entrou a contemplar minuciosamente os objetos colocados em cima da mesa de mármore lavores de
marfim vasos e grupos de porcelana fosca taças de cristal lapidado joias do mais apurado gosto a proporção que se absorvia nesse exame ia como ressurgindo a sua existência anterior a que vivera até o momento do cataclismo que o submergira sentia-se renascer para esse fino e delicado materialismo que tinha para seu espírito aristocrático tão poderosa sedução e tão meiga voluptuosidade todos esses Mimos da arte pareciam-lhe estranhos e despertavam nele ignotas emoções tal era o abismo que o separava do Recente passado era com uma sofreguidão pueril que os examinava por um não sabendo em qual se fixar
fazia cintilar os brilhantes aos raios de luz e aspirava a fragrância que se exalava dos frascos de perfumaria com um inefável prazer nessa fútil ocupação demorou-se tempo esquecido porventura sua memória atraída pelas reminiscências Que suscitavam objetos idênticos a esses remontava o curso de sua existência e descendo-o depois o trazia a aquela noite fatal em que se achava e a pungente realidade desse momento recuou com um gesto de repulsão esses primores de arte que pouco antes lhe acariciavam a imaginação Agora inspiravam lhe nojo apartou do toucador e chegou à janela a noite estava plácida e serena
no Céu recamado de Estrelas a brisa acariciava uns froc de nuvens alvas como a penugem das Garças uma onda trépied que recorta-se bizarramente no horizonte luminoso como um relevo gótico estremecia com o doce arrepio da aragem que espar os aromas das Rosas e das Magnólias Seixas parou um instante a contemplar a doce placidez da natureza essa calma suave da noite penetrou relaxaram se-lhe as fibras da Alma apoiando à Fronte à ombreira da janela deixou cair as lágrimas que lhe assoberbar o seio depois desse pranto que o desafogou Seixas aproximou-se da elegante escrivaninha de mirap ninga
e a abriu ainda chegou a puxar a pasta de chamalote Escarlate na aba superior dentro de um florão Branco aparecia bordado em debo de ouro seu monograma f r s Entrelaçados esteve a olhar maquinalmente essas letras que se lhe figuravam um enigma como na fábula antiga a esfinge o estupida que significação tinha isso depois do desenlace que momentos antes o havia arremessado a maior abjeção Afinal tomou a resolução que o levar à mesa Estendeu sobre a pasta uma folha de papel e preparou-se para escrever uma carta mas a pena estacou ao penetrar no bocal do
tinteiro Seixas retirou com vivacidade e examinou inquieto os bicos vendo os intactos ergueu-se precipitadamente e percorreu o aposento ao cabo de algum tempo Voltou ao toucador com um modo decidido mudara de resolução abriu as gavetas e guardou nelas cuidadosamente todos os objetos de preço que ali havia concluída a tarefa trancou o móvel e o mesmo fez a todos os outros de que poucas horas antes o Lemos lhe fizera exibição apesar da recomendação do tutor de Aurélia Seixas tinha pela manhã enviado uma secretária em cujas gavetas inferiores acomodara a melhor roupa de seu uso branca e
exterior procurou esse traste e achando-o em um quarto próximo onde o tinham colocado verificou se com efeito ali estava roupa e teve ao achá-la grande satisfação tirou de si o rico Chambre de seda as chinelas de veludo e vestiu-se com um trajo mais Modesto dos que trouxera na secretária havia charutos acendeu um e sentou-se a janela sentiu-se com forças de encarar a situação a que fora arrastado e a crise em que se achava sua existência no meio das reflexões acerbas que lhe despertara a recordação da cena recente das revoltas por muito tempo contidas de sua
dignidade contra o orgulho da mulher que o humilhava flutuava um sentimento que afinal desprendeu-se do turbilhão de seus pensamentos e o dominou esse sentimento era a intensa admiração que lhe inspirava a energia e veemência do amor de Aurélia havia nessa paixão que o acabava de insultar uma Beleza fera que incutia lhe entusiasmo cheio de espanto Não compreendi esse amor e como podia eu compreendê-lo se alguém me referisse o que se acaba de passar comigo eu receberia semelhante conto com um sorriso de incredulidade que outrora quando a família sequestrava a mulher da sociedade a paixão subisse
a esse auge e absorvesse uma existência inteira então não havia tempo de amar-se mais de uma vez e o amor deixava a alma Exausta mas atualmente que a mulher vive ser ccada de Adoradores e que todas as distinções se ajoelham ante sua beleza o amor não é mais do que um capricho Uma Doce preferência um terno devaneio até que se transforme na amizade conjugal assim o examinei sempre assim o senti e me foi retribuído quando Aurélia me falava de sua afeição estava bem longe de pensar que ela Nutrisse uma paixão capaz de Tais ímpetos pensava
que eram romantismos os tinha eu também não jurei tantas vezes um amor eterno que no dia seguinte desfolhas no turbilhão de uma valsa esse amor que eu supunha uma ilusão de poeta um sonho da Imaginação aí está em sua realidade esplêndida suas asas de fogo roçaram por minha alma e aaram para sempre seis ficou um momento como estático ante a imagem que se lhe debuch no pensamento representando a figura de Aurélia quando soberba de Cólera e indignação o cobria de acerbas exprobração uma Paixão como a sua tinha direito de ser Implacável e essa mulher que
se deu a mim com a mais Sublime abnegação essa mulher a quem a sorte ligou-me eternamente essa mulher única eu a admiro e não posso amá-la nunca mais encontrei em meu caminho e perdi a para sempre também não amarei outra depois de a ter conhecido Não profanare minha alma com a afeição de mulher alguma os arbois da manhã já se arrai avam no horizonte uma brisa mais fresca derramava-se no espaço e os primeiros atit das aves misturavam-se com os rumores confusos da cidade que ia acordando por detrás dos muros da Chácara Seixas desceu ao Jardim
e percorreu os passeios sinuosos do artificial coberto de Fina grama e recortado à inglesa os tabuleiros de Margaridas e Boninas abertas ao primeiro raio de sol recam com suas coroas matizadas a verde alcatifa de Relva fias e begonias lavam pelas grades das latadas compondo graciosos bambins com os tiros de flores caprichosas os botões das Camélias e Magnólias cheios de seiva Auri com a frescura da noite esperavam O calor do dia para desabrochar enquanto as flores da véspera que tinham Cerrado o seio à tarde abriam de novo mais pálido e Langue para despedir-se do Sol que
lhe tinha dado a vida e a crestar como Caprichoso artista Seixas como homem de sociedade que era conhecia a natureza de tradição apenas ou quando muito de vista as árvores As flores As perspectivas eram para ele ornatos que se confundiam com os tapetes cortinas trastes Dourados e toda a casta de adereços inventados pelo luxo a força de viverem em um mundo de convenção esses homens de sociedade tornam-se artificiais a natureza para eles não é a verdadeira mas essa fictícia que o hábito lhes embutiu e que alguns trazem do berço pois aí os espera a moda
para fazer neles presa transformando lhes a mãe em uma simples produtora de filhos frequentemente em seus versos Seixas falava de estrelas flores e brisas de que tirava imagens para exprimir a graça da mulher e as emoções do amor pura imitação como Em geral os poetas da civilização ele não recebia da realidade essas impressões e sim de uma variada leitura originais somente são aqueles engenhos que se infundem na natureza musa inexaurível porque é divina para isso é preciso ou nascer nas idades primitivas ou desprezar a sociedade e refugiar-se na solidão naquele momento porém assistindo ao romper
do dia ali no Meio do Jardim Seixas sentia que além das cores brilhantes das formas graciosas e dos perfumes agrestes havia alguma coa de imaterial que palpitava no seio desse ermo e que fundia-se em seu ser era a alma da criação que o envolvia e comungava com sua alma a inefável serenidade da límpida e fresca manhã com a calma que derramou-se em seu espírito ainda mais robustece - a resolução tomada pouco antes encheu-se dessa fria resignação que imprime a alma uma têmpera inflexível tirou de suas cogitações um rumor que levantava-se ali perto voltou-se e reconheceu
que estava próximo à grade exterior oculta nesse lugar pela folhagem do Arvoredo afastou os Ramos e aproximou-se para conhecer a causa do ruído talvez reass que o estivessem esitando e talvez fosse movido por essa curiosidade fútil que se apodera do homem a quem um Abalo violento arrancou as preocupações habituais um mascate de quinquilharias arrear na calçada a caixa que trazia tiracolo e sentado no chão com as costas apoiadas ao muro fazia suas contas e dava balanço à mercadoria ou madrugar Com intenção de estender o giro ou apanhado pela noite longe da casa a passar em
alguma Estalagem e ia agora recolhendo-se o que parecia mais provável na tampa emborcada da Caixa viam-se presos de cadarços pregados vários objetos que atraíram especialmente atenção de Seixas fez ele um movimento para diante Como se quisesse chamar o mascate retrai-se poré com certo vame dirse ia que estivera a praticar uma leviandade da qual o adverti em tempo sua razão como quer que fosse ao cabo de alguma hesitação venceu a primeira repugnância mas não ao pejo do ato que ia praticar lançou pelos arredores um olhar perscrutador e verificando que a rua estava Deserta Estendeu o braço
fora da grade e bateu no Ombro do mascate que vá exclamou o mascate voltando-se não viu as feições de Seixas que se afastar da grade e escondia-se por trás da folhagem mas percebeu uma nota de ré que flutuava a da cabeça e tinha para ele de certo mais encanto do que a fisionomia do freguês pente escova de dentes disse se em tom rápido depressa perguntou o masc tirando da tampa um pente de búfalo sim qualquer não posso esperar mascate passou os objetos arrecadou a nota e querendo apresentar o troco percebeu que o freguês havia desaparecido
birbone entendeu o mascate que um dinheiro assim atirado fora com tanto desamor era Furtado e por cautela foi arrumando a trouxa e fazendo-se ao Largo antes que lhe surgisse alguma complicação entretanto Seixas ganhava seus aposentos com receio de que o descobrissem no Jardim àquela hora matinal e suspeitassem do que ocorrera a casa Porém não dava o menor sinal da labutação diária todos de certo dormiam ainda so influência da festa nupcial fazendo esta observação lembrou-se Fernando da posição em que deixara Aurélia na véspera e de si mesmo inquiriu O que teria ela feito nessa longa noite
de agonia naturalmente passara extasi no júbilo da humilhação que lhe infligir e afinal saciada dessa Vingança brutal adormecera na febre de seu orgulho se ao atravessar o Jardim ele examinasse disfarçadamente a janela desse lado de casa talvez satisfizessem parte sua curiosidade uma das alvas e diáfanas cortinas de caça estendidas por detrás da vidraça tinha-se esfumado de uma sombra interior que desenhava o contorno delicado de um busto já era Sol Alto quando sees ouviu mexer na maçaneta da porta que de seus aposentos comunicava para o interior da casa era sem dúvida O criado que vinha preparar-lhe
o toucador para o Ace da manhã achando a porta fechada e pensando que era escusado bater aquela hora retirou-se havia água no jarro de porcelana de seva que ornava o rico lavatório de pau cetim Seixas esteve em dúvida algum tempo mas pensando que a louça Não perdia o seu verniz de novidade por ser molhada uma vez resolveu-se a lavar o rosto no serviço luxuoso usou porém No resto de seu adereço do pente e escova que havia comprado terminando enxugou com uma toalha de seu próprio enxoval a bacia e o lavatório trancou em sua secretária os
objetos que o podiam denunciar e abrindo a porta de comunicação sentou-se já vestido e pronto com seu costumado Auro na otomana à espera nem ele sabia de que depois da decepção que o precipitara do cúmulo da Felicidade aquela incrível situação podia ele conhecer que perip a oama em que se agitava sua existência com pouco apareceu o criado senhor já está pronto eu vim preparar o tocador mas achei a porta fechada nada faltou respondeu se o senhor ordena que el traga os jornais a seu gabinete para os ler logo ao acordar ou quer que Fiquem na
saleta onde fé agora Naor como Sen foi a ordem que recebi o criado lançava um olhar pelo aposento muito admirado da ordem que encontrava todos os objetos inclusive os adereços do lavatório oiro Pergunta se o senhor quer sair antes do almoço de carro ou a cavalo não obrigado a Diana já está selada mas em um momento pode mudar a cela para o Nelson ou aprontar-se a vitória é escusado a que horas o senhor deseja almoçar h Não há necessidade de alterar então às 10 o criado retirou-se para voltar uma hora depois o almoço está na
mesa quem mandou chamar a senhora Seixas fez um aceno de cabeça e deixou se conduzir pelo criado fim do Capítulo 1 Parte 3 Capítulo 2 de senhora esta gravação librivox está a Domínio Público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 2 no centro da sala estava a mesa onde os mais finos cristais iriz avamse aos raios da Luz cambiando o esmalte da fina porcelana e as cores das frutas apinhadas em corbeel de prata o almoço era um banquete não pela quantidade o que seria de mau gosto mas pela variedade e delicadeza
das iguarias pelas janelas abertas sobre o Jardim entravam com a brisa da manhã e a claridade de um Formoso dia de verão a fragrância das flores e o trinado dos Canários de um elegante viveiro achavam-se na sala Aurélia e dona Firmina a moça recostar-se em uma cadeira de balanço no Claro de uma janela de modo que seu gracioso vulto emergia na plena luz ao vê-la Radiante de beleza e risos se acreditava que ela de propósito afrontava O esplendor do dia para Ostentar a pureza Imaculada de seu rosto e sua graça inalterável trajava um roupão de
linho de alvura deslumbrante eram azuis as fitas do cabelo e do cinto bem como o cetim de um sapato Raso que lhe calçava o pé como o engaste de uma pérola Fernando parou um instante ao entrar na sala depois do que firmando na resolução tomada dirigiu-se à sua mulher para saudá-la todavia não Calculava ele de que modo se desempenharia desse dever Aurélia viu o movimento a saudação matinal do marido ia despertar suspeitas em Dona Firmina seas adianta-se a moça ergueu-se estendendo-lhe a mão e inclinando a cabeça sobre a espádua com uma ligeira inflexão apresentou-lhe a
face para receber o Casto beijo da esposa aquela mão porém estava gelada e irta como se fora de Jaspe a face pouco antes risonha e faceira contraíra de repente em uma expressão indefinível de indignação e desprezo Fernando só reparou nessa mutação quando seus lábios roçavam a fria cutes cuja pubescência rava como o pelo áspero do feltro retraiu-se involuntariamente embora naquela circunstância a Carícia dessa mulher de quem erao o humilhasse mais do que sua repulsa Vamos almoçar disse a moça dirigindo-se à mesa e acenando ao marido e a dona Firmina que se aproximassem já não se
via em seu belo semblante o menor traço do sarcasmo que o demara nem se conceberia que essa esplêndida formosura pudesse transformar-se na satânica imagem que Fernando vira pouco antes auréa tomou a cabeceira da mesa Fernando ficou à sua direita em frente à Dona Firmina a princípio a moça ocupou-se unicamente em servir depois trincando nos alvos dentes a polpa vermelha de uma lagosta animou a conversação com uma palavra viva e cintilante nunca ela tinha revelado Como nessa manhã a graça de seu espírito e o brilho de sua imaginação também nunca o sorriso borbulhar de seus lábios
tão Florido nem sua beleza se passara daquelas efusões de contentamento Seixas se Distraí ao ouvi-la por tal modo embebeu se ele no enlevo da Gentil gulce que chegou a esquecer por momentos A Triste posição em que o colocara a Fatalidade junto dessa mulher Nas folgas que o apetite deixava a reflexão Dona Firmina admirava-se do desembaraço que mostrava a noiva da véspera na qual melhor diria um Casto em leio mas já habituada à inversão que tem sofrido nossos costumes com a invasão das modas estrangeiras assentou A viva que o último chique de Paris devia ess de
trarem os noivos oic a FR recato femino enquanto a saia alardeava o depl do leão efeitos da emancipa das mulheres penser que lva desta salada ou daquela empada de caça perguntou Aurélia notando que seas estava parado nada mais obrigado Seixas tinha comido um bife com uma Naca de pão e bebera meio cálice do vinho que lhe ficava mais próximo sem olhar o rótulo não almoçou tornou a moça a felicidade tira o apetite observou Fernando a sorrir nesse caso eu devia jejuar retorquiu Aurélia gracejando é que em mim produz o efeito contrário estava com uma fome
devoradora por isso tem comido muito acudiu Dona Firmina prove desta lagosta está deliciosa insistiu Aurélia ordena perguntou Fernando prazenteiro mas com uma inflexão particular na voz Aurélia trin uma risada não sabia que as mulheres tinham direito de dar ordens aos maridos em todo caso eu não usaria do meu poder para cousas tão insignificantes mostra que é Generosa mas Enganam o torneio deste diálogo não desdiz do tom de nascente familiaridade próprio de dois noivos felizes haviam entonações e relances dohos que Os Estranhos não percebiam e que eles sentiam pungir como alfinetes escondidos entre os rufos de
cetim da sala de jantar Fernando acabado o almoço passou a saleta de conversa onde com pouca demora o acompanhou a orélia dona Firmina para não perturbar o mavioso aó dos noivos saiu a pretexto de encomendas Seixas tinha aberto maquinalmente um dos jornais do dia que estavam em uma bandeja de Charão com pés de bronze Dourado junto ao sofá quando Aurélia entrou ele ofereceu-lhe a folha que tinha em mão e as outras a escolha agradeço disse Aurélia sentando-se no sofá o criado apresentava a Seixas com um porta charutos J Araribá Rosa talado de Prata e guarnecido
de legítimos avanas uma lâmpada também de prata em cujo bico cintilava a Flama azulada do espírito de vinho obrigado tenho os meus disse Fernando recusando com gesto os charutos oferecidos e tirando a carteira do bolso e estes de quem são perguntou vivamente Aurélia designando os avanas apresentados pelo criado Seixas fez um movimento para responder lembrando-se que não estavam sós retraiu-se referia aos que trouxe comigo disse frisando as últimas palavras são melhores talvez ao contrário mas estou habituado com eles não lhe incomoda a fumaça Faria prova de mau gosto a senhora que atualmente mostrasse repugnância dessa
ordem Além de que preciso de conformar aos hábitos de meu marido por esse motivo não como seu marido não tenho hábitos e somente deveres Aurélia cortou o fio a este diálogo com indiferença que trazem de novo os jornais ainda não os li que mais L interessa naturalmente a parte noticiosa o folhetim ao mesmo tempo abria Seixas as folhas uma após outra e percorrendo com os olhos li em voz alta para Aurélia o que encontrava de mais interessante a moça fingia ouvi-lo mas seu espírito repassava interiormente os últimos acontecimentos de sua vida e interroga el hav
todavia do criado fez repar que se ainda tinha por acender o charuto não fuma perguntou ao marido permite já lhe disse que não incomoda ror aa asso decip Tend recebido um consentimento formi contrari H receios que maisem desejos OBS aça com ironia o tempo a convencerá de minha sinceridade o tempo Ah se realizasse tudo quanto dele se espera exclamou Aurélia com acerba e rizão subtraindo-se a esse ímpeto de sarcasmo que sublevou-se numa banalidade O melhor é não confiar nele e viver do presente o verdadeiro livro é o jornal com a crônica da véspera e os
anúncios do dia Seixas continuou a percorrer os jornais como se acede ao gosto de Aurélia nesse rápido exame ia lendo as epígrafes a ver se alguma tinha a virtude de exitar a curiosidade da moça como são interessantes estas folhas disse Aurélia que buscava um pretexto para expandir a irritação íntima quando me lembro de abri-las o que faço raras vezes porque não tenho braços que cheguem para essa difícil empresa sucede sempre julgar que estou lendo um jornal do ano anterior a culpa não é do jornal mas da cidade em que se publica e da qual deve
ser Como disse há pouco o livro Diário ou a história da véspera perdão não me lembrava que também foi jornalista como Aurélia se calasse e as folhas não fornecessem mais assunto à conversação Seixas aprovou a censura frequentemente dirigida à imprensa periódica em nosso país para fazer sobre o tema algumas variações com que enchesse o tempo está entendido que tratou a questão sob um ponto de vista Ameno que pudesse conciliar a atenção de uma senhora Aurélia escutou alguns momentos com atenção mas observando que o marido falava com o Tom monóculo de dar Franca expansão ao pensamento
ao contrário solicita o espírito Rebelde a moça interrompeu essa dissertação erguendo-se do sofá deu algumas voltas pela saleta percorreu com os olhos o aposento reparando no papel nos adereços como se nunca os tivesse examinado ou indag se nada faltava passou depois a observar atentamente as figurinhas de porcelana e outras quinquilharias que havia sobre os consolos tirando-as de seu lugar e Mudes a posição daí encaminhou seu piano que é para as senhoras como charuto para os homens um amigo de todas as horas um companheiro dócil e um confidente sempre atento o instrumento lembrou-se que não era
próprio a uma noiva de véspera entregar-se a esse passatempo quando vizinhos e criados todos deviam supor àquela hora engolfada na felicidade de amar e ser amada Ah ela não conhecia essa Aurora Mística do amor conjugal que se lhe transformara em vigília de angústia e desespero Mas adivinhava qual devia ser a transfusão mútua de duas almas e compreendia que ávidas uma da outra não se podiam aliar um estranho passatempo abandonando o piano disfarçou em percorrer os livros de música arrumados sobre o móvel apropriado uma espécie de estante baixa de prateleiras verticais aí esteve a foliar apenas
solfejando a meia voz os trechos favoritos e quiçá buscando um que respondesse aos recônditos pensamentos ou antes que traduzisse o indefinível sentimento de sua alma naquele instante parece que achou Afinal essa nota simpática pois sua voz desprendia num alegro de bravura quando lembrou-se que não estava só volveu um olhar para o sofá onde havia deixado o marido que porventura estaria observando surpreso de sua mímica Seixas ao apartar-se a moça Tomara de cima da mesa um álbum de fotografias e entretinha em ver as figuras está vendo celebridades perguntou a moça que de novo sentar-se ao sofá
Fernando compreendeu que a pergunta não era senão malha para travar a conversa e dispôs-se a satisfazer o desejo da mulher é verdade celebridades europeias pois ainda não as temos brasileiras Isto É em fotografia que no mais sobram admira que nesta terra tão propensa à especulação e ao charlatanismo ainda ninguém se lembrasse de arranjar uns álbuns de celebridades nacionais Pois havia de ganhar muito dinheiro não só na venda de álbuns mas sobretudo na admissão dos pretendentes à lista das celebridades diga antes ao rol é com efeito mais expressivo que isso prova observou Aurélia é que a
literatura tem feito maiores Progressos em nosso país do que a arte Pois se não me engano já há por aí dentro e fora do país empresas montadas para exploração da biografia tem razão escapou de casar-se com uma contemporâ ilustre acrescentou Aurélia grifando as últimas palavras com o mais fino sorriso Ah não sabia lamento profundamente não ter de acumular essas tantas honras que recebi pois estive ameaçada de andar por aí não sei que revista ou gazeta na qualidade de brasileira notável creio eu que o meu título A Celebridade era a herança de meu avô foi-me preciso
tomar umas 10 assinaturas para defender-me da Conspiração armada contra a minha obscuridade e livrar-me da Glória que esses senhores pretendiam infligir nesta conversa e na revista dos retratos consumiram os do muito tempo a pêndula acabava de soar uma hora o criado abriu com estrépito a porta da sala de jantar como para advertir de sua entrada e disse a portugues termo inglês Lun segundo o costume geral o lancho está pronto vamos perguntou a moça erguendo-se se fechou o álbum e acompanhou a mulher o criado que vira os dois noivos inclinados sobre o álbum sorriu com ar
brejeiro Fernando percebeu O sorriso e corou fim do Capítulo dois parte 3 Capítulo 3 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 3 frutas da estação abacaxis figos e laranjas seletas rivalizando com as maçãs peras e uvas de importação ornavam principalmente a refeição meridiana que os costumes estrangeiros substituíram a nossa brasileira merenda da tarde usada pelos bons avós havia também profusão de massas ligeiras como empadinhas camarões e Ostras recheadas além de queij de vários países e doces de cdal cristalizados os melhores vinhos de
sobremesa desde o xerez até o moscatel de Setúbal desde o champanhe e até o Constança estavam ali tentando o paladar uns com seu rótulo eloquente outros com o Topázio que brilhava através das facetas do Cristal lapidado não tenho a menor disposição disse Fernando obedecendo ao gesto de Aurélia e sentando-se à mesa ora disse a moça com volubilidade para provar frutas e doces não é preciso ter fome faça como os passarinhos que prefere um figo uma pera ou abacaxi é preciso que eu tome alguma coa perguntou Fernando com seriedade é indispensável nesse caso tomarei um figo
aqui tem um figo e uma pera é apenas um casal colou o prato diante de si e come asas frutas pausada e friamente como um homem que exerce uma ação meica nada em sua fisionomia revela sensação agradável do paladar Aurélia que esa entreos lbios porpinos bagos de uva moscat segu olos os movimentos aticos de fando e se não adivinhava confusamente pressentia o motivo que atuava sobre seu marido ergueu-se então da mesa e saindo fora à beirada da casa onde já fazia sombra divertiu-se em dar de comer aos canários e Sabiás que festejaram sua chegada com
uma brilhante abertura de tinos e gorjeios pensava Aurélia que sua presença porventura acanhar ao marido e buscava aquele pretexto para rar um instante e deixá-lo mais livre de cerimônias desvaneceu-se porém essa ideia do seu espírito quando Espiando pela fresta da janela viu Seixas imóvel com os olhos fitos na parede fronteira e completamente absorto Depois do lanche Aurélia convidou o marido para darem uma volta pelo jardim mas havia senhoras nas janelas da vizinhança e a moça não quis expor-se aos olhares curiosos ela não era a noiva feliz e amada mas as outras a supunham e tanto
bastava para que seu pudor arreat as vistas dos Estranhos voltaram pois a saleta aí andaram a borboletear de um a outro assunto mas apesar do desejo que tinham de prolongar a conversação ou talvez por essa mesma preocupação que os distraía não encontraram tema para devagar Afinal recaíram nas fotografias desta vez foi o álbum dos conhecidos que forneceu matéria em um dos primeiros cartões figurava o Lemos cuja aparição coincidiu com esta observação de Aurélia o álbum das pessoas de minha amizade eu o guardo comigo Estes são álbuns de sala tabuletas semelhantes às que TM os fotógrafos
na porta mas não apresentam de certo as antíteses curiosas das tabuletas os tais senhores parece que o fazem de propósito não há mais perfeita democracia Seixas emérito conhecedor da Rua do Ouvidor começou a especificar alguns dos contrastes de que se recordava abst temo-nos porém de reproduzir suas observações que ressentiam se de singular mordacidade esse tom cáustico não era natural ao mancebo cuja índole benévola e afável nunca passava de uns toques de fria ironia ele próprio já notara em si essa alteração de seu caráter e achava um sainete especial em saturar se do féu que tinha
no coração ao cabo de algum tempo notou Fernando que Aurélia erguia frequentemente os olhos para a pêndula e farou porque ele também interrogava a miúdo e furtivamente o mostrador ansioso de ver escoar-se o dia uma vez os olhos de ambos encontraram-se quando buscavam a pêndula Aurélia corou de leve cuidei que fosse mais cedo disse ela como passa rapidamente o tempo exclamou Fernando quase 3 horas ainda falta muito são apenas 2:155 ah é verdade talvez esteja atrasado observou Aurélia consulte seu relógio havia uma diferença de minuto e meio entre o relógio de Seixas e a pêndula
da sala foi o pretexto para consumir o resto do tempo Aurélia quis acertar a pêndula Aproveitou a ocasião para dar-lhe corda depois do que veio uma discussão acerca da conveniência de mudá-la para outro consolo já 3 horas exclamou Afinal a moça é tempo de vestir-nos para o jantar até logo Aurélia fez um gracioso de fronte ao marido e desapareceu pela porta que dava para o seu tocador Quando ela entrou nesse aposento e fechou a porta sobre si não teve tempo de desatar o corpinho do vestido meteu as mãos pelos ilzes e magoando os dedos mimosos
nos colchetes despedaçou a aela para não sufocar o coração que ela recalcar por tanto tempo sublevava Afinal e estalava os soluços que lhe dilaceravam o seio de seu lado Fernando ao ficar só respirava como um homem que repousa de uma tarefa laboriosa e fatigante ele desejaria sair daquele teto perder de vista casa ir bem longe daí para gozar desses momentos de solidão e recuperar durante hora sua liberdade mas um passeio e ainda mais Solitário não era conveniente no dia seguinte ao de Umo de amor o criado pediu licença para entrar o senhor não precisa de
mim não obrigado a que hora janta às 5 se o senhor não der outra ordem bem o senhor sai a passeio Depois de jantar de carro ou a cavalo não sei que não é próprio logo nos primeiros dias do casamento mas foram as ordens que recebi que nada faltasse ao senhor quem as deu a senhora este cuidado que em outra circunstância lhe causaria íntimo prazer em sua posição humilhava-o sentia a influência da tutela que pesava sobre ele e o reduzia à condição de um pupilo nupcial senão ca pior mas estava resignado às duras provações da
situação a que seu erro o submetera ainda nessa ocasião Seixas revelou uma nova alteração em sua índole Ou pelo menos em seus hábitos ele tinha essa flor da ingênua elegância que não se alimenta da vaidade de ser mirada mas da satisfação íntima vestir-se era para ele outrora um prazer o contato de um novo trajo causa-lhe uma sensação deliciosa como a de um banho frio em hora de calma nesse dia Porém quando os guarda-roupas e cômodas regurgitam limitou-se ele apenas a reparar algum leve desarranjo e dar ao trajo da manhã uma feição de novidade pela mudança
de uma gravata Quando entrou na saleta de conversa já ali estava Dona Firmina e Aurélia não se Demorou a moça trajava de verde ela tinha dessas audácias só permitidas às mulheres realmente belas de afrontar a monotonia de uma cor seu lindo rosto o colo harmonioso e os braços torneados desabrocham dessa folhagem de seda como Lírios d'água levemente rosados pelos rubores da manhã quando a porta abriu-se para dar-lhe passar seas cuidou que assistia a metamorfose da Ninfa transformada em Loto mas logo depois admirando a graça que se desprendia dessa Peregrina gentileza como a irradiação de um
astro pareceu-lhe antes que a flor tomava as formas da mulher e anima-se ao sopro divino Dona Firmina trouxera da rua muitas novidades recomendações de umas amigas de Aurélia mil inquirições de outras acerca do casamento rios dos noivos e toda a outra bagagem de agradáveis banalidades que na máxima parte compõe a vida nas grandes cidades com esta provisão encarregou-se ela de preencher a meia hora que faltava para o jantar é voz geral que não se podia escolher um par mais perfeito disse a viúva a modo de resumo já vê que nos casamos por unânime aclamação dos
povos observou Aurélia sorrindo para o marido nada nos falta para sermos mais do que eu sou não é possível tornou Seixas esta primazia me pertence e não lhe cederei Dona Firmina aplaudiu essa contestação que revelava os extremos de amor dos noivos um pelo outro o jantar correu como o almoço Aurélia isenta do enleio ou antes opressão que atolia quando se achava só com o marido recobra na presença de Dona Firmina e dos criados a sua Feiticeira volubilidade na qual Um observador calmo Notaria certa irritabilidade nervosa habilmente encoberta com a galanteria do gesto e a graça
do Sorriso Seixas Não se demoveu da sobriedade que havia guardado pela manhã senão para aceder aos Desejos da mulher a qual por mais de uma vez exerceu essa tirania feminina que a semelhança de certas realezas compra-se com as minúcias ao levantarem-se da mesa dirigiu-se à porta do Jardim e esperava divagando os olhos pelo Arvoredo que dessem destino ao resto da tarde Aurélia aproximou-se enquanto Dona Firmina estava ocupada em arranjar a caa de seu vestido nado moda a que ainda se não pudera habituar que bela tarde exclamou a moça ao lado do marido logo sombreando a
voz disse-lhe quase ao ouvido com tom rápido e incisivo ofereça-me o braço depois prolongando a exclamação continuou mostrando no horizonte uns ar rebois encantadores em que os mais finos matizes se ciav sobre a nive e a polpa de um grande cirro que de repente incendiou-se como um rosicler de fogo veja até o céu está festejando a nossa Aventura quem já teve desses fogos de artifício que o sol preparou para obsequiar noos é pena que não possamos que eu não possa gozar da festa mais de perto para melhor apreciá-la Aurélia voltou-se rapidamente para fitar no semblante
do marido um frio olhar de interrogação mas Fernando contemplava as gradações da luz no acaso e só voltou-se para oferecer o braço à mulher conforme a recomendação que recebera fê-lo porém mais com o gesto pois as palavras apenas murmuradas mal se ouviram Acenda seu charuto disse a moça vendo que ele esquecia-se desse pormenor apesar de lhe ter o criado oferecido fogo Aurélia conduziu o marido a um caramanchão que havia no meio da chácara e cuja espessa Ramada os escondia à vistas de Dona Firmina e do jardineiro e hortelão que andavam na lida acostumada Seixas tinha
umas tinturas de orquídeas e parasitas que havia colhido um verão em Petrópolis no tempo em que a cultura e o estudo desses dois gêneros de plantas esteve na moda para alguns degenerou em Mania como um dos leões Fluminenses estava ele na obrigação de sujeitar-se a esse novo Capricho da Soberana e cumpria lhe habilitar-se para em uma reunião nomear por sua designação científica a flor da moda que ornava uma Gruta de jardim ou um vaso de sala justamente embaixo do caramanchão havia uma bela coleção de orquídeas que o jardineiro ali guardava do Sol Fernando aproveitou-se do
tema para fazer mostra do dos seus conhecimentos botânicos Aurélia ouviu-o com atenção só quando o marido Parecia ter esgotado o assunto foi que ela encart uma reflexão como todo mundo eu sempre fui muito apaixonada de flores mas houve um tempo em que não as pude suportar foi quando se lembraram de ensinar-me botânica quer ISO dizer que tive a infelicidade de aborrecê-la com a minha conversa eis o que é a prevenção conseguiu reconciliar me com a botânica Não há melhor calmante já estava escuro quando Aurélia se recolheu do Jardim pelo braço do marido Dona Firmina os
esperava da saleta já esclarecida com um doce Crepúsculo artificial Coado pelo Cristal fosco dos globos a viúva sentara-se à mesa do centro para devorar os folhetins dos jornais e teve a desrição de voltar às costas para o sofá Onde se tinham acomodado os noivos Aurélia fatigada da comédia que representara durante o dia recostar-se à almofada e cerrando as pálpebras engolfou em seus pensamentos Fernando respeitou essa meditação tanto mais quanto seu espírito cedia também a uma Irresistível preocupação a noite causar-lhe um indefinível desassossego que mais crescia agora com a aproximação da hora de recolher não sabia
de que se receava era umaa vaga informe ignota que o enchia de pavor assim cada um em seu canto de sofá separados ainda mais pela completa aliação do que pelo espaço que entre ambos medea ela absurda ele agitado passaram esse primeiro serão de sua vida conjugal Dona Firmina às vezes n algum ponto menos interessante do folhetim aplicava o ouvido e aquele silêncio peito a fazia sorrir pensando nos Abraços e beijos furtivos que surpreenderia se de repente se voltasse para o sofá com discreta Malícia a pretexto de procurar o lenço fazia menção de voltar-se para gozar
do prazer de assustar os dois pombinhos então percebia um leve rumor cuidando que eles se afastavam quando ao contrário fingiam ocupar-se um do outro para não traírem sua mútua indiferença pelo meio da noite Aurélia saiu da sala depois de uma pequena ausência durante a qual ouviu-se dentro algum rumor ela voltou a ocupar seu lugar no canto do sofá Afinal a pêndula marcou 10 horas Dona Firmina dobrou seus jornais e despediu-se Aurélia acompanhou-a lentamente como para certificar-se de que se afastava depois do que cerrou a porta deu duas voltas pela sala e caminhou para o marido
se viu a aproximar-se Assombrado pela estranha expressão que animava o rosto da moça era um sarcasmo cruel e lacio o que transluzia-lhe a coroa de pâm sobre as tranças esparsas e o Tirso na destra em face do marido porém essa febre aplacou como por encanto e surgiu outra vez do corpo da bacante em Delírio a vir mosha mão dois objetos semantes envoltos um em brco out em Deere primo a substitu out esta dis se OB o que isto significava fez com a cabeça umaação boa noite e retirou-se fim do capítulo [Música] 3 parte 3 Capítulo
4 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 4 Fernando dirigiu-se a seu aposento com tanta precipitação que esqueceu-lhe o objeto fechado em sua mão só deu por ele no toucador ao cair lhe no chão abriu então o papel havia dentro uma chave e presa a argola uma tira de papel com as seguintes palavras escritas por Aurélia chave de seu quarto de dormir ao ler estas palavras Seixas tornou-se lívido e lançou um olhar esvair para o reposteiro da câmara em que ele que entrara
na véspera palpitante de amor e que não poderia nunca mais penetrar senão Ébrio de vergonha e marcado com o ferrete da infâmia com o movimento que fez descobriu uma modificação que sofrera o aposento fora arredado o guarda-roupa que ocultava uma porta agora patente e apenas coberta por uma cortina também de seda Azul a chave servia nessa porta que dava para uma alcova elegante mobiliada com uma cama estreita de ER e outros acessórios era o mais Casquilho dormitório de rapaz solteiro que se podia imaginar Seixas adivinhou pela onda de fragrância derramada no aposento que Aurélia ali
estivera pouco antes talvez saíra ao ouvir o rumor da chave na fechadura meu Deus exclamou o mancebo comprimindo o crânio entre as palmas das mãos que me quer esta mulher não me acha ainda bastante humilhado e abatido está se saciando de Vingança ela tem o instinto da perversidade sabe que a ofensa grosseira ou caleja a alma se é infame ou a indigna se ainda resta algum brio mas esse Insulto Cortez cheio de atenção e delicadezas que são Outros tantos escárnios essa ostentação de generosidade com que a todo momento se está cevando o mais soberano desprezo
flagelação cru como out suos hemes a fora resignação essa abá por CR que seja proves Fas nasc daa de m como primeir noivos na out em que oev de se possem permite soeto ao homema habis no quto dia se apresentou-se na repartição onde foi muito festejado por suas prosperidades tomaram os companheiros aquele pronto comparecimento por mera visita Se Quando pobre sua frequência somente se fazia sentir no livro do ponto Agora que estava rico ou quase milionário com certeza deixaria o emprego ou quando muito o conservaria honorari como certos enxertos das secretarias grande foi pois a
surpresa que produziu a assiduidade de Seixas na repartição entrava pontualmente às 9 e às 3 da tarde todo temp dedicava ao trabalho apes contínuas tentações dos companheiros consumia como cost outrora parte del palestra e no fat Olha que isto é meio de vida e não de mor diz umara via ve esta bid Vivi muitos anos à custa do estado meu amigo éo que também ele viva um tanto à minha custa outra mudança notava-se em Seixas era a gravidade que sem desvanecer a afabilidade de suas maneiras sempre distintas imprimia lhes mais nobreza e elevação ainda seus
lábios se ornavam de um sorriso frequente mas esse trazia o reflexo da meditação e não era como Dantes Um cesto de galanteria o casamento é geralmente considerado como a iniciação do mancebo na realidade da da vida ele prepara a família a maior e mais séria de todas as responsabilidades atualmente esse ato solene tem perdido muito de sua importância indivídu H que se casa com a mesma consciência e serenidade com que o viajante aposenta-se em uma hospedaria Por isso estranhavam os colegas de Seixas aqueles modos tão diversos dos que tinha antes em solteiro e não concebendo
que o casamento mudasse repentinamente a natureza do homem atribuíam a transformação à riqueza e A modéstia chamaram impostura para chegar em tempo à repartição tinha seix de almoçar mais cedo e só o que poupa-lhe e também a Aurélia cerca de meia hora de suplício que ambos se infligiam um ao outro com sua presença está muito assídua agora a repartição disse um dia a moça ao marido pretende algum Seixas deixou cair o remoque e respondeu francamente É verdade há uma vaga e desejo obter a preferência que ordenado tem esse emprego 4 contos 800 e precisa disso
preciso Aurélia soltou uma risada Argentina quanto Má e Venenosa Pois então seja antes meu empregado asseguro-lhe o acesso sou seu marido respondeu Seixas com uma Calma heróica a moça continuou a gorjear o seu riso sarcástico mas voltou às costas ao marido e afastou-se Seixas ia a pé tomar em caminho a gôndula cujo ponto ficava distante da repartição uma vez a mulher o interpelou acerca disso por não serve-se do carro quando sai prefiro o exercício a pé é mais higiênico faz-me bem ao corpo e ao Espírito é pena que não tivesse feito seus estudos de higiene
quando solteiro não imagina quanto o lamento mas sempre é tempo de aprender nestes poucos dias tenho aproveitado muito a mim parece que desaprendeu naquele tempo sabia que eu era rica muito rica hoje tem na conta de uma Muler cujo marido anda de gôndola Fernando mordeu os beiços a riqueza também tem sua decência casou-se com uma milionária é preciso sujeitar-se aos onos da posição os pobres pensam que só temos gozos e delícias e mal sabem a servidão que nos impõe esta Gleba Dourada incomoda lhe andar de carro e a mim não me tortura este luxo que
me cerca H silício de crina que se compare a estes cíclicos de tule e seda que eu sou obrigada a trazer sobre as carnes e que me estão rebaixando a todo instante porque me lembra que aos olhos deste mundo eu a minha pessoa a minha alma vale menos do que esses trapos as últimas palavras pareciam escapar-se dos lábios da moça radas de Lágrimas Seixas esquecendo a pungente alusão que sofrera pouco antes fitou-a com olhos compassivos mas ela recobrar já o tom de agressiva ironia assim o mundo achar a sua criatura a mulher que festeja e
enche de adorações eu serei para ele o que ele me fez esse mundo Fernando compreendeu que era o pronome de sua infelicidade e ambição restituído à realidade de sua posição de que eu ia arrancando súbita comoção disse penso então que a decência de sua casa exige que seu marido ande de carro penso que me casei com um cavalheiro distinto que sabe usar sua fortun e não com um homem vulgar tem o quehe per eu seria um Vel se recusasse o que comão bit de firmin de dati salet se ela só cortejam apen Palas a ismo
depois do que recolham-se cada a seu aposento e preparavam-se para oar se havia alguém com Aurélia seas passa-lhe a mão pela cintura e roçava um beijo irto por aquela Face aveludada que se crispa ao seu hálito frio Depois do jantar vinha o passeio ao Jardim era nessa ocasião quando escondidos pela folhagem os supunham na troca de ternuras que Aurélia criava ao marido de epigramas e mote de ordinário Seixas opunha a esse fogo rolante uma paciente diferença que acabava por fatigar a moça alguma vez porém acontecia retribuir seix o sarcasmo o que irritava o ânimo já
acerbo de Aurélia cuja palavra tornava-se então de uma causticidade Implacável à noite havendo visitas passavam no salão quando estavam sós ficavam na saleta Seixas abria um livro Aurélia fingia escutar os trechos que o marido Lia em voz alta outras noites improvisava um jogo em que tomava parte Dona Firmina e cuja fútil monotonia matava as horas tinham perto de um mês de casados durante esse tempo vendo-se e falando-se todos os dias não acontecera uma só vez pronunciarem o nome um do outro usavam do verbo na terceira pessoa respeitavam entre si esse anônimo Tácito sublinhando a palavra
com o gesto uma ocasião estava a sala cheia cheia de gente Aurélia dirigiu-se ao marido quando este de pé a pequena distância conversava com várias pessoas não respondeu Seixas ela quis aproximar-se para chamar-lhe a atenção mas cercavam nos amigos Fernando disse então fazendo um Supremo esforço Seixas voltou-se atônito encontrou nos lábios da mulher um sorriso que satura de féu a doçura daquela voz chamou-me para acompanhar Dona Margarida que se retira a mudança que se havia operado na pessoa de seix depois de seu casamento fez-se igualmente sentir em sua elegância não mariou se a fina distinção
de suas maneiras e o apuro do trajo mas a faceirice que outrora cintilava nele essa desvanecer-se sua roupa tinha o mesmo corte irrepreensível mas já não afetava os requintes da moda A Fazenda era superior porém de cores modestas já não se viam em seu vestuário os vivos matizes e a artística combinação de cores Aurélia notou não só essa alteração que dava um tom varonil à elegância de Seixas como outra particularidade que ainda mais excitou lhe a observação dos objetos que faziam parte do enxoval por ela oferecido não se lembrava de de ter visto um só
usado pelo marido ao mesmo tempo a chucalho de uma circunstância ignorada por ela e que se prendia a outra ordenava ela a mucama que distribuísse pelas outras uns enfeites e vestidos já usados Sinhá muito desperdiçada observou a mukama com a liberdade que as escravas prediletas costumam tomar não sabe poupar com o senhor que traz tudo fechado até sabonete não tens que ver nem tu nem as outras com o que faz teu Senhor atalhou Aurélia com severidade bem ímpetos sentiu a moça de interrogar a mucama mas resistiu a esse desejo veemente para conservar o decoro de
sua posição e não abaixar-se até a familiaridade com a criadagem despediu a rapariga Mas resolveu verificar por si o que teria valido a Seixas essa reputação de avaro que lhe conferia o opinião pública da cozinha e da coxe fim do Capítulo 4 Parte 3 Capítulo 5 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 5 no dia seguinte depois do almoço lembrou-se Aurélia de sua resolução da véspera aquela hora o marido estava na repartição e já o criado devia ter acabado de fazer o serviço
dos quartos Por conseguinte podia sem Despertar a atenção realizar seu intento deu volta à chave da porta que um mês antes fechar-se entre ela e seu marido abriu de leve o reposteiro de seda azul para certificar-se de que ninguém havia no aposento e trêmula agitada por uma comoção que lhe parecia infantil entrou naquela parte da casa onde não tornara depois de seu casamento Que horas encantadoras passara ela ali nos dias que precederam a cerimônia quando ocupava-se com o preparo e adereço desses aposentos destinados ao homem a quem ia unir-se para sempre embora para dele separar-se
por um divórcio moral que talvez fosse eterno o sentimento que e a dominava naquele tempo ela própria não poderia definir tão singulares eram os afetos que se produziam em sua passo que ela acaricia um acerbo Requinte aaon de seu amor ludri e prelib o cáustico prazer da humil desse homem que a traficava vinham momentos em que aliava completamente dessa preocupação da vingança para entregar-se às fagueiras Ilusões tinha sede de amor e como não o encontrava na realidade ia bebê-lo a longos austos na taça de ouro que lhe apresentava a fantasia essas horas vias com seu
ideal e eram horas inebriantes e deliciosas nelas foi que a jovem mulher se esmerou em ornar estas salas e gabinetes sonhava que iam ser habitados pelo único homem a quem Amara que lhe retribuía com igual ch queria que esse ente querido achasse como que entranhada na elegância dos aposentos sua alma palpitante que o envolvesse e encerrasse dentro em si ao rever o lugar e objetos que tinham sido companheiros daquelas cismas e ardentes emoções Aurélia cedeu um instante a mágica influência de Record os quais se desdobravam como as névoas aljofres que empam a luz do sol
e mitigam lhe a arrancando-o Afinal a esse enlevo de um passado que nem ao menos era real e só existira como uma doce queima a moça percorreu então o aposento e volveu um olhar perscrutador notou o que Aliás era bem visível o toucador estava completamente despido de todas as galanter de que ela o havia ornado com sua própria mão Parecia um móvel chegado naquele instante da loja os guarda-roupas cômodas secretárias tudo fechado e na mesma nudez que denunciava a falta de uso É por isso murmurou a moça consigo o criado não suspeita o motivo e
atribui a mesquin uma das mais tocantes puerilidades de Aurélia quando sonhava o casamento com o homem amado fora a igualdade das Fechaduras de todas as partes imóveis do uso especial de cada um duas almas que se unem pensava ela em sua terna abnegação não tem segredos e devem possuir se uma a outra completamente quando reuniu em argolas de Ouro as duas séries de Chaves ao todo iguais sorriu-se e imaginou que na noite do casamento quando seu marido se lhe ajoelhasse aos pés ela o ergueria em seus braços para dizer-lhe aqui estão as chaves de minha
alma de minha vida eu te pertenço fiste meu senhor e só te peço a felicidade de ser tua sempre em que Abismo de dor e vergonha se tinham submergido essas visões maviosas já o sabemos ninguém suspeitou jamais nem ela revelou nunca a voragem de desespero oculta sobre aquele Formoso colo que parecia arfar unicamente com as brandas emoções do amor e do prazer a abriu com suas chaves os móveis e confirmou-se em uma conjetura tudo joias perfumarias utensílios de toucador roupa tudo ali estava guardado em folha como Viera da loja que significação tem isso murmurou a
moça interrogando atentamente seu espírito parece desinteresse mas não não pode ser em todo caso há um plano uma ideia fixa outro dia o carro agora isto refletiu algum tempo mais e concluiu Não compreendo Aurélia tinha razão se com essa obstinação Seixas queria mostrar desapego à riqueza adquirida pelo casamento fazia um ridículo papel pois o enxoval não era senão um insignificante acessório do Dote em troca do qual tinha negociado sua liberdade a porta do quarto de dormir estava fechada Aurélia abri com a ch parelha que havia em sua argola ali aou a escrivaninha que servia de
TC aix eent eimo quer moric depois doidos afagava com as pétalas macias o cetim de suas mais puro que o Matiz da flor Hoje estive em seu tocador disse ela com simulada indiferença ah fez-me esta honra uma dona de casa bem sabe tem obrigação de ver tudo a obrigação e o direito o direito aqui seria da mulher e não só este como outros mais eu os reconheço disse Fernando Ainda bem vejo que nos havemos de entender este diálogo quem o Ouvisse de não descobriria a menor expressão hostil ou agressiva os dois atores deste drama singular
já se tinham por tal forma habituado a vestir sua ironia de afabilidade e galanteria que vendam completamente a intenção muitas vezes Dona Firmina aproximava-se no meio de uma dessas escaramuças de espírito supunha ao ouvi-los que estavam arrando finezas e ternuras quando eles se criavam de alusões pungentes a moça hesitou um instante mas fitando de chofre o olhar no semblante do marido perguntou-lhe que fez dos objetos que estavam no tocador Seixas conteve um assomo de Nobre ressentimento e sorriu-se com desdém não tenha susto estão fechados nas gavetas intactos como os deixou pensava talvez que parasse em
alguma casa de penhor estes objetos lhe pertencem pode dispor deles como lhe aprouver sem dar contas disso a ninguém era a resposta que supunha receber e eu não teria que replicar pois reconheço o seu direito e o respeito penhora Com tamanha generosidade disse Seixas sentindo o dardo da alusão não se apress em agradecer Se respeito o seu direito de dispor livremente do que é seu também por minha parte reclamo a garantia do que adquiri com o sacrifício de minha felicidade casei-me com o Senor Fernando Rodrigues de Seixas Cavalheiro distinto Franco e liberal e não com
um Avarento Pois é este o conceito em que o tem os criados e brevemente toda a vizinhança se não for a cidade inteira Seixas escutara com uma calma forçada estas palavras da mulher e replicou-lhe vivamente a dias a propósito do carro agitou-se entre nós esta questão volta agora o caso do toucador e pode renovar-se a cada momento o melhor pois é liquidá-lo de uma vez liquidem dê-me o braço que ali vem Dona Firmina Aurélia passou a mão pelo braço de Seixas passeando ao longo de uns painéis de fúcsias de várias espécies e admirando as flores
tiveram eles esta conferência que de certo nunca houve entre marido e mulher a senhora comprou um marido tem IMP pois o direito de exigir dele o respeito a fidelidade a convivência todas as atenções e homenagens que um homem deve a sua esposa até hoje faltou-lhe mencionar uma talvez por insignificante o amor atalhou Aurélia brincando com um cacho de fucas estava subentendido Há apenas uma reserva a fazer acerca da espécie desse produto Suponha que a senhora não possuísse esta bela e opulenta madeixa suntuoso Diadema como não o tem nenhuma rainha e que fizesse como as outras
moças que compram os coques as tranças e os cachos não teria de certo a pretensão de que esses cabelos comprados lhe nascessem na cabeça nem exigiria razoavelmente senão os postiços o amor que se vende é da mesma natureza desses postiços froc de lã ou despojo alheio ó ninguém eu sabe melhor do que eu que espécie de amor é esse que se usa na sociedade e que se compra e vende por uma transação Mercantil chamada casamento o outro aquele que eu sonhei outrora esse Bem sei que não oá todo o ouro do mundo por ele por
um dia por uma hora dessa bem-aventurança sacrificaria não só a riqueza que nada vale porém minha vida e creio que minha alma Aurélia no afogo destas palavras que lhe brotavam do seio agitado retirara a mão do braço de de Seixas ao terminar voltar-se rapidamente para esconder a veemência do afeto que lhe incendiara o olhar e As Faces Seixas acompanhou este movimento com um gesto de profunda mágoa que um instante confrange lhe o semblante mas logo passou já ele estava ocupado em entrançar nos losangos do gradil verde alguns pâm mais longos de Madre Silva quando Aurélia
aproximou-se não acaso dessas puerilidades são os últimos arrancos do passado cuidei que já estava morto de todo ainda respira mas em poucos dias nós o teremos enterrado TZ que então eu consiga auler que lhe convinha uma de tantas que o mundo festeja e admira a senhora será o que l aprouver de qualquer mod Dev convir Desde que não empobreças chamou Aurélia a realidade de sua posição É verdade esqueci-me que entre nós só há um vínculo posso continuar Estou ouvindo as obrigações e respeitos que lhe devo como seu marido ainda não me eximi de cumpri-los e
não me eximi Qualquer que seja a humilhação que eles me imponham Aurélia sentiu uma estranha repulsão ao ouvir estas palavras o rubor queimou lhe As Faces a senhora pretende também que não comprou um marido qualquer e sim um marido elegante de boa sociedade maneiras distintas fazendo violência a minha modéstia concordo tudo quanto for preciso para pavonear essa vaidade de mulher rica eu o farei e o tenho feito salvas algumas modificações ligeiras que a idade vai trazendo sou o mesmo que era quando recebi sua proposta por intermédio de Lemos estaria enganado Aurélia respondeu com um gesto
de suprema indiferença V que sou exato e escrupuloso na execução do contrato conceda-me ao menos este mérito vendi lhe um marido temo à sua disposição como dona e senhora que é o que porém não lhe vendi foi minha alma meu caráter a minha individualidade porque essa não é dado ao homem aliá de si e a senhora sabia perfeitamente que não podia jamais adquiri-la a preço Douro a preço de que então a nenhum preço está visto desde que o dinheiro não bastava se me der o capricho para fingir sóbrio econômico trabalhador estou em meu pleno direito
ninguém pode proibir esta hipocrisia nem impor-me certas prendas sociais e obrigar-me a ser a força um glutão um dissipador e um indolente prendas que possuía quando solteiro justamente e que me grar a honra de ser distinguido pela senhora é por isso que desejo revivê-las neste ponto sou livre e a senhora não tem sobre mim o menor poder O Fausto de sua casa exige que tenha um Palácio mesa lauta carros e cavalos de preço que viva no meio do Luxo e da grandeza não a contrario no mínimo detalhe moro nessa casa sento-me a essa mesa entrarei
nesses carros para acompanhá-la não serei nos esplêndidos salões um traste indigno de emparelhar com os outros móveis quanto ao mais ter por exemplo apetite para suas iguarias e prazer para suas festas eis ao que não me obriguei e porventura será defeito que rebaixe o homem de sua posição social de seus méritos o fastio ou o hábito de andar a pé porventura pergunto-lhe eu será agradável a alguma senhora ter um marido que serva de tema a risota dos criados e passa por trancar o sabonete e veja quanto se mandam que já chegaram a meus ouvidos os
chascos dessa gente Compreendo que se ofenda com isso o seu orgulho mas há um remédio deixar que roubem esses objetos ou dá-los sob qualquer pretexto contanto que eu não me sirva deles Aurélia fez um gesto de impaciência não contesto lhe o direito que pretende haver sobre o que chama sua alma e seu caráter ou este meio engenhoso de Contrariar não lhe roubarei o prazer mas se deseja saber o que penso tenho até o maior empenho sua opinião é para mim como um farol indica-me o parcel o que não impediu seu naufrágio mas não gastemos o
tempo em epigramas que necessidades temos nós desses trocadilhos de palavras quando somos a sátira viva um do outro há neste mundo certos pecadores que depois de obtidos os meios de gozar da vida arranjam umas duas virtudes de aparato com que negociam a absolvição E se dispensam assim de restituir a alma de Deus o aspecto de Seixas denunciava a cólera que sublevava em sua alma não tardava PR romper Mas desta vez ainda conseguiu domar a revolta de seus brios acabe já tinha acabado mas para satisfazê-lo aí vai o ponto do I sua economia e sobriedade são
do número daquelas virtudes oficiais dos pecadores timoratos a senhora tem uma sagacidade prodigiosa bem mostra que a sobrinha do Senor Lemos Aurélia que seguira adiante voltou-se como se uma víbora tivesse picado no Calcanhar tão eloquente foi o assomo de dignidade ofendida que vibrou à Fronte da Formosa moça e tal o império de seu olhar de rainha que Seixas arrependeu-se Desculpe disse ele com brandura sua ironia às vezes é Implacável Aurélia não respondeu adiantando-se entrou em casa e recolheu seu toucador era a primeira noite depois de casados que ela não voltava do Jardim na companhia e
pelo braço do marido fim do Capítulo 5 Parte 3 Capítulo 6 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 6 fazia um luar magnífico Seixas conversava com Dona Firmina na calçada de mármore de frente que a folhagem das Árvores cobria de sombra à direita do marido estava Aurélia reclinada em uma cadeira mais baixa de encosto derreado como do pregu para o corpo e o espírito que deseja cismar desde a tarde da explicação relativa ao tocador as relações dos dois companheiros dessa Gril matrimonial se
tinham modificado como se houvessem naquela ocasião exaurido toda a dose de féu e acrimônia acumulada nesse primeiro mês de casados desde o dia seguinte suas palavras correspondendo à amenidade e apuro das maneiras perderam a ponta de ironia de que anteriormente vinham sempre Armadas como as vespas de seu dardo Sutil e virulento conversaram menos de si falando sobre C indiferentes ou banais acontecia lhes durante muitas horas esquecerem-se da Fatalidade que os tinha unido em uma eterna colisão para se dilacerem mutuamente a alma Seixas descrevia naquele momento a dona Firmina o lindo poema de Byron parisina o
tema da conversa fora trazido por um trecho da Ópera que Aurélia tocara antes de vir sentar-se na calçada depois do poema ocupou-se Fernando com o poeta ele tinha saudade dessas brilhantes fantasias que outrora haviam embalado os sonhos mais queridos de sua Juventude a imaginação como a borboleta que o frio entorpeceu e desfraude raio do sol do dejava por essas flores d'alma não falava para Dona Firmina que talvez não o compreendia nem para Aurélia que certamente não o escutava era para si mesmo que expandia as abundâncias do Espírito o ouvinte não passava de um pretexto para
esse monólogo Às vezes repetia as traduções que havia feito das Poesias soltas do bar do inglês essas joias literárias vestidas com esmero tomavam maior Realce na doce língua Fluminense e nos lábios de Seixas que as recitava como um trovador Aurélia a princípio entregar-se ao encanto daquela noite brasileira que lhe Parecia um sonho de sua alma pintado no azul diáfano do céu umas vezes ela refugiava-se no mais espesso da sombra como se rasse que os raios indiscretos da lua viessem espiar em seus olhos os recônditos pensamentos daí da Escuridão em que se embua entretinha se a
ver as árvores e os edifícios flutuando na claridade que os inundava como um lago Sereno outras vezes inclinava a medo e lentamente a cabeça até encontrar a faixa de luar que passava entre duas folhas de Palmeira e vinh es bater-se na parede Então essa veia de luz caía alhe sobre a Fronte e banhava a de um Cândido esplendor ficava um instante nessa posição com os olhos engolfados no luar E os lábios entreabertos para beberem os eflúvios celestes depois saciada de luz recolhia-se outra vez sombra e como a que desabrocha em flores a Raios de Sol
sua almaa os fulgores da noite em sonhos ali perto rec os corimbos deed balados PIS e foi através desso de luz e fragância que voz sonora de Seixas penetrou n cismas de Aurélia e en nas de modo que a moça imaginava escutar não a conversa do marido mas uma fala de seu sonho para ouvir apoiar-se ao braço da cadeira e insensivelmente a cabeça descaído reclinou sobre a espádua de Seixas com um movimento de graciosa languidez um dos mais lindos poemetos de Byron É O Corsário dizia Seixas conte murmurou lhe ao ouvido a moça com a
voz que teria um silf se falassem Fernando cedia nesse instante a uma suavíssima influência contra a qual desejava reagir mas faltava-lhe o ânimo a pressão dessa Formosa cabeça produzia nele o efeito do toque mágico de uma fada presa do Encanto não se lembrou mais quem era e onde estava a palavra fluía lhe dos lábios trêmula de emoção mas rica inspirada Colorida não contou o poema do bardo inglês bordou outro poema sobre a mesma teia e quem o ouvisse naquele instante aaria e pido Origin ante o plágio Elo é que neste havia Alma palit enant no
outen mudos do G que Senor poem disse Dona Firmina não nem sou empregado público e nada mais agora não precisa do emprego está rico nem tanto como pensa Aurélia levantou-se tão arrebatou repelir o braço do marido no qual pouco antes se apoiava tem razão Não traduza Byron não o poeta da dúvida e do ceticismo só podem compreender aqueles que sofrem dessa enfermidade Cruel verdadeiro Marasmo do coração para nós os felizes é um insípido visionário depois de ter lançado envoltas em um riso tô com estas palavras aixas a moça afastou-se da calçada mal entrou na zona
de luz que prateava a fina areia teve um calafrio esse esplêndido luar onda suave em que ela banhava-se voluptuosamente momentos antes a transpassar como um lençol de gelo voltou precipitadamente e entrou na sala onde apenas havia a frouxa claridade de dois bicos de gás em lamparina fora ela mesma quem dispusera assim para que a luz artificial não perturbasse a festa da natureza agora batia o tímpano chamando o criado para fazer inteiramente o contrário os lustres acesos entornar as torrentes deslumbrantes do gás que expeliram da sala os níveis reflexos do luar pretendem ficar aí toda a
noite perguntou Aurélia estávamos gozando do luar disse Dona Firmina entrando com Seixas há quem admire as noites de luar eu acho insuportáveis O Espírito afoga-se nesse mar de azul como o infeliz que se debate no oceano para mim não há céu nem Campo que vale estas noites de sala cheias de conforto de calor e de luz em que nos sentimos viver aqui não há risco de afogar-se o pensamento não mas asfixia observou Fernando antes isso Aurélia sentou-se à mesa de mosaico voltando costas ao Jardim para não ver a Formosa noite que lhe caíra no desagrado
como porém no espelho fronteiro reproduzia com a cintilação do Cristal uma nesga do Jardim onde a claridade Argentina da lua parecia coalhar se nos Lírios e cactos a moça chamou novamente o criado e ordenou-lhe que fechasse a janela pela qual entrava aquele importuno bosquejo do Soberbo painel da noite Havia em cima da mesa uma caixa de jugo onde Aurélia tirou um baralho com que se entreteve a fazer sortes vamos jogar disse dirigindo-se ao marido este tomou lugar na mesa em frente à Aurélia que entregou-lhe o baralho e tirou o outro da Caixa o carart seixos
fez um gesto de assentimento ou obediência Preparadas as cartas para o jogo e tocando-lhe começar deu o baralho a partir R 10.000 ré à partida disse Aurélia vibrando o tímpano Seixas procurou com os olhos Dona Firmina que se recostar à janela e não prestava atenção ao julo a esse tempo entrou o criado Luísa que traga a minha carteira podemos continuar perdão contestou Seixas a meia voz eu não jogo a dinheiro por quê não gosto tem medo de perder é uma das razões eu lhe empresto também já perdi este mal costume de contar com dinheiro alheio
tornou seas sorrindo e frisando as palavras depois que sou rico só gasto do meu não lhe mereço esta fineza retorque Aurélia acando também o soriso seja ao menos esta noite jogador perdulário paratis o mepro aç recebeu carteir da mucama e tirou del libra esterlina que deitou sobre mesa não se tenta é muito pouco tornou seas com um riso amargurado este riso incomodou a aurela que ocultou a moeda e a carteira ainda esteve algum tempo baralhando as cartas distraída então escaparam lhe palavras soltas que pareciam de um monólogo dizem que a água no vinho faz de
duas bebidas excelentes uma péssima o mesmo acontece a mistura da virtude com o vício torna o homem um ente híbrido nem bom nem mal nem digno de ser amado nem tão viu que se lhe Evite o contágio Compreendo que deve sentir uma mulher que sentiu uma amiga minha quando conheceu que amavam desses homens equívocos produtos da sociedade moderna essa amiga sua que supõe o conhecer talvez preferisse que o marido fosse em vez de algum desses equívocos pura e simplesmente um Galé perguntou Seixas de certo se o marido fosse um ela quebraria imediatamente a grilhetas com
a morte na alma mas eu a senhora interrompeu o marido vendo a hesitar as pálpebras franjadas de Aurélia ergueram-se desvendando os grandes olhos pardos que deslumbraram Seixas seu colo se distender com o movimento que fez para aproximar-se e a voz soou vibrante profunda eu não me importaria que ele fosse Lúcifer contanto que tivesse o poder de iludir-me até o fim e convencer-me de sua paixão e inebriar dela mas Adorar Um ídolo para vê a todo instante transformarse em uma coa que nos escarnece e nos repele é um suplício de tântalo Mais Cruel Do que o
da sede da Fome Aurélia proferidas estas palavras ergueu-se e atravessando a sala entrou em seu aposento Onde está Aurélia perguntou Dona Firmina quando saiu da janela já recolheu-se a noite estava fresca o sereno fez-lhe mal boa noite outro dia foi um domingo ao jantar Aurélia disse ao marido há mais de um mês que estamos casados carecemos pagar nossas visitas quando quiser começaremos amanhã ao meio-dia não é boa hora não seria melhor à tarde consultou o marido causa-lhe transtorno de manhã não desejo faltar à repartição Pois então há de ser mesmo de manhã retorquiu a moça
a sorrir não consinto nessa falta de galanteria não acha Dona Firmina preferir o emprego a minha companhia de certo confirmou a viúva Seixas nada pois era seu dever acompanhar a mulher quando esta quisesse sair ele estava ouvido a cumprir escrupulosamente todas as obrigações fim do Capítulo 6 Parte 3 Capítulo 7 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de lencar parte 3 Capítulo 7 Seixas escreveu a seu chefe uma carta justificando sua ausência com um motivo grave e remetendo-lhe alguns papéis que havia despachado na véspera ao entrar na
saleta encontrou Aurélia que examinava o tempo está um dia tão quente o melhor talvez fosse adiar nossas visitas que diz Decida porque ainda tenho tempo de ir à secretaria Vamos almoçar resolverei depois quando se ergueram da mesa ainda Aurélia não tinha decidido Seixas compreendeu queem intenção da mulher era contrariá-lo no que ela achava um prazer especial e resignou-se a perder o dia a uma hora a moça chegou-se a ele jantaremos hoje mais cedo e sairemos às 5 horas não lhe convém assim convém qualquer hora que escolher respondeu Seixas talvez não goste de sair de tarde
então ficará para amanhã às 11 horas pois seja amanhã faltará outra vez partição sendo preciso não sairemos esta tarde Aurélia chamou o criado e deu suas ordens como havia determinado apressou-se o jantar e às 5 horas descia ela a escadaria de seu Palacete em cujo Pórtico a esperava a elegante Vitória tirada por um aparelha de cavalos do cabo a moça trajava um vestido de gorgorão azul entretecido de fios de prata que dava a sua Tez pura tons suaves e diáfanos o movimento com que apoiando Sutilmente a ponta da botina no estribo ergueu-se do chão para
reclinar se no acolchoado amarelo da Carruagem lembrava o surto da borboleta que agita as grandes asas e se Aninha no clix de uma flor o vestido de Aurélia encheu a carruagem e submergiu o marido o que ainda lhe aparecia do semblante do busto ficava inteiramente ofuscado pela deslumbrante beleza da moça ninguém o via todos os cumprimentos todos os olhares eram para a rainha que surgia depois de seu passageiro Retiro o carro parou em diversas casas indicadas na nota que o cocheiro recebera Seixas oferecia a mão à mulher para ajudá-la a apearse e a conduzia pelo
braço à escada que ela subia só pois precisava de ambas as mãos para nadar nesse dilúvio de sedas rendas e joias que atualmente compõe o mundos da mulher aí como na rua todas as atenções eram para Aurélia que as senhoras rodeavam pressurosa e os homens fascinados por sua graça Seixas apenas recebia um pálido reflexo dessa consideração quanto exigia a estrita urbanidade houve casa onde no afã de acolher a mulher o deixaram atrás desapercebido como um criado em outras circunstâncias aquela anulação de de sua individualidade bem pode ser que não o incomodasse talvez se reparasse nela
fosse para desvanecer-se de ser o preferido dessa Formosa cercada da admiração e disputada por tantos admiradores todo esse culto que lhe prestava a sociedade não seriam a seus olhos senão o tributo a ele oferecido pelo amor de sua Muler mas as condições em que se achava deviam mudar completamente a disposição de seu ânimo quanto mais se elevava a mulher a quem não o prendia o amor e somente uma obrigação pecuniária mais rebaixado sentia-se ele exagerava a sua posição chegava a comparar-se a um acessório ou adereço da senhora não tinha dito Aurélia naquela noite Cruel que
o marido era um traste indispensável à mulher honesta e que o comprara para esse fim ela tinha razão ali naquele carro ou nas salas onde entravam parecia que sua posição e sua importância eram a mesma senão menor do que tinha o leque a peliça as joias o carro no trajo e luxo de Aurélia quando ele oferecia a mão à mulher para pearse ou levava no braço a manta de Caxemira considerava-se a igual do cocheiro que dirigia o carro e do lacaio que abria o estribo A única diferença era serem aqueles serviços dos que Os Cavalheiros
geralmente prestam as senhoras e que só em falta desses recebem elas de um criado mais graduado uma das últimas visitas foi a família de Lízia suares que se dizia a amiga mais íntima de Aurélia quando solteira depois dos cumprimentos e felicitações quando a conversa vacilava À Espera de um tema al Lízia que era maliciosa lembrou-se de soprar uma Faísca não podia ver para ela maior prazer do que o de picar a Aurélia cujo espírito muitas vezes a tinha beliscado lembra-se Aurélia quando você fazia a cotação de seus pretendentes disse a maligna alando a voz para
ser bem ouvida se me lembro perfeitamente respondeu Aurélia sorrindo o que me disse uma noite a respeito do Alfredo morira que valia quando muito 100 contos de réis mas que você era muito rica para pagar um marido de maior preço e não disse a verdade então o Senor Seixas interrompeu Lízia com uma reticência impertinente que estancou lhe a palavra nos lábios para borrifar a malícia no sorriso e no olhar pergunte-lhe disse Aurélia voltando-se para o marido nunca depois que se achava sob o julo dessa mulher ou antes da Fatalidade que o submetia seus Caprichos nunca
Seixas precisou tanto da resignação de que se revestira para não sucumbir a vergonha de semelhante degradação primeiro Abalo produzido pelo diálogo das duas amig foi terv e não perceber porque a atenção conver para Aurélia nesse domin porém quandoos olares oo daam natur gra corte embora aass em ningém sener insistiu l o que minha senhora perguntou o moço por sua vez e com maior paride que disse Aurélia não vês que é um gracejo observou a mãe de Lízia ela foi sempre assim amiga de brincar disse uma prima não querem acreditar tornou Aurélia com um modo indiferente
É sério Senor Seixas perguntou Lízia novamente responda disse Aurélia ao marido sorrindo da parte de minha mulher não sei e só ela poderá dizer-lhe Dona Lízia quanto a mim asseguro-lhe que me casei unicamente do deos de réis que rece devo queha mudou da ideia em que estava deido de Mai se est por tamb cerere timbre fos como sente estofo de cees perplexas acerca do sentido e crédito que deviam a semelh asseveração nisto ressoaram os trilos cristalinos da risada de Aurélia eis o que você queria Lízia era fazer desconfiar Fernando quer saber se eu comprei E
por que preço não faço mistério disso comprei-o muito caro custou-me mais muito mais de 1 milhão e paguei não em Ouro mas em outra moeda de maior valia custou-me o coração por isso já não o tenho estas palavras e a expressão que palpitava nelas convenceram a todos que aé tivera efetivamente a gracejar acerca de seu casamento a resposta a Lízia não fora senão um disfarce para provocar aquela confissão inconveniente da Paixão com que se estremeciam ela e o marido assim quando retiraram-se as visitas o tema da conversa foi o desfrute dos dois noivos que depois
de um mês de casados andavam pela rua requebrando como dois pombinhos namorados lisia asseverava ter visto a orélia de tal modo enleada ao braço do marido que este não podia andar entretanto rodava o carro pelo Catete e Aurélia balançando se ao Brando movimento das almofadas Parecia ter completamente esquecido Seixas sentado a seu lado quando este dirigiu-lhe a palavra desde que estamos casados uma só vez não inquiri de suas intenções respeito as como é meu dever e conformo me com elas quando posso por mais estranhas que me pareçam mas para satisfazer suas vontades é preciso pelo
menos conhecê-las embora não as compreenda Aurélia Voltara o rosto para o marido Como já não receava ser vista por causa do lusco fusco deixou que seu semblante tomasse a expressão de soberba desdenhosa que o vestia nesses momentos de surda irritação que pretende com este prólogo a princípio quis me parecer que desejava ocultar dos Estranhos a realidade de nossa posição confesso que nunca pude atinar com o motivo dessa singularidade criar deliberadamente uma situação para ter o gosto de a negar a todo instante é absurdo não é também me parece a mim não perscruta seu pensamento a
senhora devia ter uma razão que ignoro como eu importa-me porém saber se mudou de propósito como indica a cena que acaba de representar e se resolveu Dora em diante fazer escândalo do que ontem fazia mistério e para que deseja saber isso já o dis para conformar à sua vontade e afinar pela mesma Clave o Dueto será mais aplaudido não duvido mas eu é que não me casei para fazer de minha vida uma soufa de música Serei Leviana e inconsequente terei estes defeitos mas o que não tenho pode estar certo é o talento do cálculo deixe-me
com meu gênio excêntrico agora neste momento sei eu porventura o que farei esta noite que extravagância me vir Irá tentar como Pois havia de formular um programa conjugal para nosso uso eu posso fazer de nossa união um mistério ou um escândalo conforme o capricho o senhor é que não tem esse direito tanto como a senhora a orelha contestou com fria impassibilidade engana-se o Senor Seixas Não pode desacreditar meu marido e expô-lo a irrisão pública mas a mulher do infeliz pode tem esse direito o Sr deu-lho não use do termo vendilo Aurélia não respondeu derre o
corpo nas almofadas e voltando o rosto para ver o recorte das árvores e chácaras na tela iluminada do ocaso deixou cair a conversa ainda fizeram algumas visitas eram mais de 8 horas quando parou o carro à porta de casa dona Firmina tinha saído Aurélia queixou-se de fadiga cortejou o marido e recolheu-se em seu quarto lembrou-se Seixas de algumas palavras que haviam escapado a Aurélia na conversação da tarde sei eu acaso que farei esta noite que extravagância me virá tentar dissera a mulher ele sabia que valor tinham em seus lábios essas frases enigmáticas desde a noite
de luá Os devaneios poéticos sobre Byron que a orelha mostrava uma irritabilidade contínua qual devia ser a resolução inspirada por essa febre de sua alma já tão propensa aos Caprichos e excentricidades esteve Seixas cogitando um momento sobre este ponto a fazer conjeturas faou se porém da tarefa e abandonou pensando que não havia piores na posição intolerável em que se achava já não pensava naquilo quando súbito atravessou o espírito uma ideia que o fez estremecer um impulso de curiosidade o dominou correu à porta que o separava da câmara nupcial dos aposent da mulher ergueu a mão
para bater começou o nome de Aurélia mas não Se animou a realizar o primeiro intento aplicou o ouvido a escutar reinava naquela parte da casa o mais profundo silêncio que fazer agitado pela ideia terrível que o assaltava deu a esmo algumas voltas pelo aposento numa perplexidade Cruel seu olhar que não deixava a porta notou um esguicho de luz no fundo do Corredor escuro e conheceu que saía pela greta da fechadura aproximou-se cautelosamente e sem rumor pelo recorte da chave pode ver na parede Fronteira um quadro iluminado que se destacava no Crepúsculo da câmara nupcial era
o espelho colocado sobre a jardineira de mármore que refletia obliquamente pela porta aberta uma faixa de outro gabinete Essa zona abrangia um divã onde nesse instante destacava-se do brocado Verde a estátua de Aurélia deitada como o alto relevo que outrora ornava as campas dos Nobres envolvia o corpo da moça um roupão de Cambraia cujas pregas caíam sobre o tapete semelhantes aos borbotões da Nívia espuma de uma cascata e deixavam lhe o talho debuch sob a fina teia de linho estava muito pálida e imóvel um dos braços desca desfalecido pela borda do Divã tinha o outro
suspenso até a moldura do recorte onde a mão se crispa talvez no esforço de erguer o corpo havia na imobilidade dessa posição e em seu perfil alguma coa de irto que assustava fim do Capítulo 7 parte três Capítulo 8 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 8 sucedem-se no procedimento de Aurélia atos inexplicáveis e tão contraditórios que derrotam a perspicácia do mais profundo fisiologista convencido de que também o coração tem uma lógica embora diferente da que rege o espírito bem desejar o narrador
deste Episódio perscrutar a razão dos singulares movimentos que se produzem na alma de Aurélia como porém não foi dotado com acidez precis estudo dosos psicológicos limita-se aer o que sabe aão pois deé quando que anen abatendo de repente a de prostrada no daara ncial não foi propriamente um desmaio que a tomou ou este não passou de breve síncope mas o resto da noite ela o passou ali sem forças nem resolução de erguer-se em um torpor intenso que se não lhe apagava de todo os espíritos os sopa em uma modorra pesada tinha a consciência de sua
dor sofria acerbamente porém faltava-lhe naquele instante a Lucidez para discriminar a causa de seu desespero e avaliar da situação que ela própria havia criado pela madrugada o sono embora agitado trouxe um breve repouso à sua angústia dormiu cerca de uma hora tendo por leito o chão e com a cabeça apoiada nesse mesmo estrado que devia servir de degrau a sua felicidade a claridade da manhã que filtrava pela caça das Cortinas despertou ergueu arreb e ao impulso de uma ideia terrível que atravessara como um raio de luz a sombra confusa de suas reminiscências correu à porta
por onde saíra Seixas e escutou presa de viva inquietação por vezes levou a mão à chave retirou assust vol a esmos passos rápidos pelaa Afinal aproximou-se da janela sem intenção automaticamente foi nessa ocasião que viu Seixas atravessar o jardim furtivamente e entrar em casa ainda reinava o silêncio por toda essa parte da habitação de modo que ela pode ouvir o leve rumor dos Passos do marido no próximo aposento um riso de Acre desprezo crispou os lábios é um cobarde depois do que se havia passado entre ambos na noite de seu casamento pensava Aurélia que só
havas do meios de quebrar o jogo humilhante a que o tinha submetido não lhe restava senão matá-la a ela ou matar-se a si para uma dessas duas soluções se tinha a moça preparado É certo que às vezes seu coração afagava uma esperança impossível se o homem a quem amava se ajoelhasse a seus pés e lhe suplicas o perdão teria ela forças para resistir e salvar a dignidade de seu amor por este lance não teve ela de passar as suas primeiras palavras Seixas retrair-se para Ostentar depois uma imprudência que ela jamais podia esperar e que produziu
em sua alma indizível horror o laço que a unia aquele homem tornou-se uma objeção quase uma infâmia entretanto ao espelo de sua presença ainda esperava que as palavras proferidas pelo marido fossem apenas uma heronia amarga não concebia que tivesse Amado um ente tão de e viu cinismo que pouco antes a indignar devia ter uma reação foi quando vi Seixas pela manhã que de todo acabou de convencer-se da miséria do indivíduo então operou-se em sua alma uma revolução na qual só sobraram todos os sentimentos bons e afetuosos ficando à tona unicamente os instintos agressivos e malignos
que formam a Lia do coração quando Aurélia deliberar o casamento que veio a não se inspirou em um cálculo de Vingança sua ideia a que afagava e sorria era patentear a Seixas A imensidade da paixão que ele não soubera compreender sacrificando sua liberdade e todas as esperanças para unir-se a um homem a quem não amava e nem podia amar desnuda a seus olhos o ermo sáfaro en ficava a alma depois da perda desse amor que era toda a sua existência esse casamento póstumo de um amor extinto não era senão esplêndido funeral em face do qual
Seixas devia sentir-se mesquinho e ridículo como em Face da essa o Soberbo comp penetra-se da miséria humana o sentimento que animava Aurélia podia chamar-se orgulho mas não Vingança era antes pela exaltação de seu amor que ela ansiava do que pela humilhação de Seixas embora essa fosse indispensável ao efeito desejado não sentia ódio pelo homem que a iludir estava-se contra decepção e queria vencê-la subjugá-la obrigando esse coração frio que não lhe retribuía o afeto a admirá-la no esplendor de sua paixão mas naquele instante recordando as palavras que Seixas proferira poucas horas antes vendo-o tranquilo e disposto
a aceitar como natural a terrível situação pensando no desbrio com que esse homem sujeitava-se a uma degradação de todos os instantes Aurélia tivera um verdadeiro ímpeto de veng ança seas queria afrontá-la com seu desgarro impudente pois bem ela aceitava o desafio se esse infeliz não estava completamente desamparado dos últimos resquícios do amor próprio e da vergonha ela propunha-se a pungi com o seu mais virulento sarcasmo a menos que a alma não estivesse morta sentiria o estigma do ferro em brasa foi nestas disposições que Aurélia vestiu-se para o almoço e nessas disposições conservava-se ainda na tarde
em que saíra com o marido às visitas todavia quando no dia seguinte ao casamento sentada na cadeira de balanço viu entrar Seixas na sala de jantar sua resolução vacilou o aspecto Nobre e distinto do mancebo a elegância natural de seu Gesto recobraram o prestígio que esses dotes nunca deixam de exercer em espíritos elevados e que o dela estava já afeito não a abandonou o pensamento da vingança mas do mento e a ira excitados pela indignação da véspera revestiram a forma Cortez e o Tom delicado que raro e só em um instante de violento Abalo desamparam
as pessoas de Fina educação nas alternativas desse desejo de Vingança a miúdo contrariado pelos generosos impulsos de sua alma se escoar ao primeiro mês depois do casamento se abandonando-se a irritação íntima que exacerbava lhe o espírito deleitava se em flagelar com seu Implacável o sarcasmo a dignidade do marido quando recolhia-se depois de uma cena destas era para desafogar o pranto e soluços que entam lhe o seio então reconhecia que a vítima de sua Ira Não fora o homem a quem detestava mas seu próprio coração que havia adorado esse ente indigno de tão Santo afeto se
fatigada desse constante orgasmo d'ma sempre crispada pelo escárnio restituí insensivelmente à sua índole meiga as relações com o marido tomavam uma expressão afetuosa de repente a invadia um gelo mortal e ela estremecia espavorido a orelha aquela noite de luar em que Seixas falava de poesia e ela escutava reclinada seu braço no enlevo de que arrancara dolorosamente uma palavra do marido quando a sós consigo pensou neste incidente encheu-se de terror houve um instante embora no qual chegou a lamentar que Seixas não tivesse conseguido enganá-la nessa ocasião adormecendo ou antes c-l os brios quando se dissipasse essa
ilusão seria tarde e ela pertenceria irrevogavelmente ao marido este sentimento que apenas pronunciado ela repeliu com todas as forças de sua alma deixou-lhe contudo um desgosto profundo acompanhado do Pânico de semelhantes alucinações daí a abilidade que desde então a possuía E que tocara ao auge nessa tarde das visitas entretanto em seu tocador Aurélia tinha febre febre da paixão que a abrasara abriu todas as portas e janelas atirou-se vestida como estava sobre o divã e ali ficou imóvel como a vira Seixas pela broca da fechadura assustado com essa imobilidade o marido ia bater quando a mukama
atravessou por diante do quadro iluminado o qual apagou de repente fechar-se a porta do toucador refletida pelo espelho no dia seguinte Aurélia deixou-se ficar em seu aposento toda a manhã voltando da repartição Seixas encontrou-a pálida e Abatida ao jantar foi Dona Firmina quem fez os gastos da conversação na véspera a viúva passar a noite em uma casa da vizinhança onde havia reunião semanal acertou falar-se no Abreu que diziam ter caído na miséria por essa ocasião recordaram Se todas as extravagâncias e prodigalidades com que o rapaz havia esbanjado em pouco mais de ano a avultada herança
deixada pelo pai Dona Firmina repetindo o que ouvira lamentava a sorte do Abreu que sacrificara tão bonito futuro revestindo-se dessa moral Severa que em geral se cultiva para uso alheio e não para o próprio gasto acusava o rapaz com excessivo Rigor a culpa não é dele Dona Firmina observou Aurélia volando de sua distração de quem mais pode ser de quem o fez rico não o tendo educado para a riqueza o ouro desprende de si não sei que miasmas que produzem febre e causam vertigens e delírios é necessário ter um espírito muito forte para resistir a
essa infecção ou então possuir algum Santo afeto que o Preserve do veneno sem o que sucumbe infalivelmente quer dizer que a riqueza é um mal Orelha não é é um mal muitas vezes torna-se um bem mas em todo caso é um perigo aqueles que se exercitam em jogar as armas pensam que tudo se decide pela força o mesmo acontece com o dinheiro quem o possui em abundância persuade se que tudo se compra tinham acabado de jantar Aurélia ergueu-se da mesa e entretinha se em dar aos canários as migalhas de pão que esfarela na palma da
mão entretanto Seixas acenderam o charuto e se iia distraído pela rua que serpe entre os tabuleiros de Margaridas e os tapetes de Relva ia sumir-se em Um Bosque de Palmeiras mancebo recordava-se das cenas da véspera cotejava as com as palavras que pouco antes haviam escapado a Aurélia e buscava a explicação do enigma interrompeu a voz da moça que achava-se a seu lado este passeio Todas As Tardes já deve aborrecê-lo porque não sai a cavalo deve distrair-se Aurélia falava brincando com as flores para evitar que seu olhar encontrasse o de Seixas sua companhia não me pode
aborrecer nunca sempre torna-se monótona demais é o meu dever tornou Seixas frisando a palavra Aurélia afastou-se deu alguns passos esteve reparando nas flores escarlates de uma trepadeira a que chamam brincos de dama e tendo se firmado na resolução que a preocupava tornou para o marido nossos destinos estão ligados para sempre a sorte recusou me a felicidade que sonhei tive este Capricho que nenhuma outra possuiria enquanto eu viva mas não pretendo condená-lo ao suplício dessa existência que vivemos há mais de um mês não retenho é livre disponha de seu tempo como lhe aprouver não tem que
dar-me contas a moça calou-se esperando uma resposta a senhora deseja ficar só perguntou Seixas ordene que eu me Retiro agora como quer outra ocasião não me compreendeu Há um meio de aliviar lhe o peso dessa cadeia que nos prende fatalmente e de poupar-lhe as constantes explosões de meu gênio excêntrico é o divórcio que lhe ofereço o divórcio exclamou Seixas com vivacidade pode tratar dele quando quiser respondeu Aurélia com um tom firme e afastou-se fim do Capítulo 8 parte 3 Capítulo 9 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José
de Alencar parte 3 Capítulo 9 Seixas surpreso e agitado pela proposição da moça refletiu um momento o resultado dessa reflexão foi aproximar-se da Mulher ocupada nesse momento a ver os Peixinhos vermelhos do tanque fervilhar à tona d'água para devorar os bucos de um Jambo com que ela os tentava estes peixes agora divertem disse Fernando se amanhã aborrecem mandará que os deitem fora que os deixem morrer a fome a moça ergueu para o marido os olhos cheios de surpresa talvez nunca lhe acontecesse refletir sobre este problema social continuou Fernando o senhor tem o direito de despedir
o cativo quando lhe aprouver creio que ninguém porá isso em dúvida respondeu Aurélia então entende que depois de privar-se um homem de sua liberdade de o rebaixar ante a própria consciência de O Haver transformado em um instrumento é lícito a pretexto de auria abandonar essa criatura a quem sequestraram da sociedade eu penso o contrário mas que relação tem isso toda a senhora fez-me se marido não me resta outra missão neste mundo desde que impôs me esse destino sacrificou meu futuro não tenho direito de negar o que paguei tão caro pois o paguei a preço de
Minha Liberdade essa liberdade eu a restituo e pode restituir com ela o que perdi aliando-a receia Talvez o escândalo que produzirá o divórcio não há necessidade de publicarmos nossa resolução podemos viver inteiramente estranhos um a out na mesma cidade e até na mesma casa se for preciso temos o pretexto das viagens por moléstia da mudança de clima do passeio à Europa a senhora fará o que for de sua vontade a minha obrigação é obedecer-lhe como Seu servo contanto que não lhe falte com o marido que a senhora [Música] comprou Aurélia fitou no semblante de Seixas
um olhar soberano acredita que eu possa mudar de sentimentos para com o senhor não ten esse receio Se eu não estivesse convencido que o amor entre nós é impossível não estaria aqui neste momento estranho sorriso iluminou a Fronte de Aurélia que vibrou com um gesto de sublime altivez Qual é Então o motivo porque não aceita o que lhe ofereço o que a senhora me oferece custou-lhe 100 contos de réis e receber esmolas desse valor é roubar ao pródigo que as deita fora como quiser disse Aurélia desdenhosamente o senhor pensa de certo que sua presença me
incomoda e por isso lhe Sorria a ideia de impô-la como uma contrariedade engana-se pode ficar não era por mim mas por si mesmo que oferecia lhe a separação rejeita melhor não poderá queixar-se pelo que venha a acontecer apesar da recusa de Seixas suas relações com Aurélia tornaram-se desde aquela tarde mais esquivas a moça não capricha como n primeiras sem em passar a maior parte do tempo Naia doido este de seu lado receando tornaro conserva aio enquanto a mul não manifestava o desejo de tê per de sias hou que não seas saoo reparti Aurélia I jantar
com alguma amiga só no outro dia às 4 hor da tarde Se encontravam de novo essas tardes em que Fernando ficava sozinho em casa pois Dona Firmina acompanhava Aurélia ele as aproveitava para ir ver a mãe que ainda habitava na mesma casa da Rua do hospício excitava reparo entre os conhecidos de Dona Camila que o filho a deixasse na vida obscura e necessitada em vez de chamá-la para sua companhia ou pelo menos de ajudá-la a passar com outra decência e abastança dona Camila não se queixava mas apesar de seus extremos por aquele filho e da
abnegação de sua ternura tinha estranhado consigo que Fernando depois de casado não pensasse em dar às irmãs uma lembrança qualquer mui raras vezes aparecia Fernanda em casa da mãe e de passagem nisso não reparava Dona Camila embora lamentasse que a posição do filho e seus deveres sociais não lhe permitissem possuí-lo por mais tempo mariquinhas a princípio excitava a mãe para irem casa de Seixas nas laranjeiras e até para lá passarem um dia a mãe deshabitada à sociedade receava da crítica de Aurélia todavia essa razão não a demover se Fernando insistisse porém ele ao contrário fez
se desentendido e desconversou aos primeiros rodeios da irmã não passou desapercebida Aurélia essa esquivança da Família do marido uma tarde em que Seixas recebeu à sua vista um bilhete de cota ela o interpelou sua família depois da noite de nosso casamento nunca mais voltou a esta casa será por meu respeito não o culpado sou eu que nunca lhes falei nisso E por quê julgam me feliz não quero roubar-lhes essa doce ilusão aqueles que nos visitam e que frequentamos não andam iludidos são indiferentes olhos de mãe leem na alma do filho como em livro aberto aquilo
que não veem adivinham quer fazer uma aposta sobre sou capaz de enganá-la como tenho enganado a todos é possível ela não é sua mãe o bilhete de nicota comunicava a Fernando o dia que fora marcado para seu casamento o qual celebrou-se na seguinte semana em um sábado conforme o uso geral Seixas ocultou da mulher essa particularidade na tarde em que devia ter lugar o casamento sai Dea a pretexto de fazer visita ao Ministro e assistiu a cerimnia levar a irmã uma joia mas de valor insignificante para sui mesquinhez junta circunstância de apresentar-se a pé fizeram
susit Ases que a imprevista opulência abalar Oter de Seixas a ponto deformá-lo de perdulário que era em refinado Avarento outro casamento efetuou-se por esse tempo foi o do Dr Torquato Ribeiro com Adelaide Amaral dias antes o noivo recebeu por intermédio de lemos um recado de Aurélia que pedia-lhe o seu recibo de r000 ré pois chegar a ocasião de pagá-lo foi Ribeiro à Laranjeiras cogitando na surpresa que a moça lhe preparava aqui tenho o que lhe devo as três cifras são o presente de Adel Ribeiro abriu o papel era uma letra ao portador de 50 contos
passada pelo Banco do Brasil ele fez um gesto de recusa a moça talhou não tenho direito de rejeitar foi o preço da minha felicidade meu tio garantiu ao Amaral que o senhor possuía este dinheiro sem o que ele não consentiria em desfazer o casamento da filha com Fernando e este não seria meu marido como lhe havemos de pagar nunca tamanho benefício disse o moço comovido sendo feliz respondeu Aurélia basta-me ser tanto como a senhora como eu sim não é tão feliz muito como não pode imaginar auréa Serviu de madrinha Adelaide e Seixas foi obrigado a
assistir a esse casamento que desdobrava lhe por assim dizer diante dos olhos um passado a que ele em vão tentava subtrair-se ali estavam juntas diante do altar duas mulheres a quem ele traíra sucessivamente e não arrebatado da Paixão Mas seduzido pelo interesse quando absorto em suas cogitações abandonava-se a melancolia daquelas reminiscências Aurélia que se aproximara murmurou o ouvido mostre-se Alegre quero que todos mas principalmente esta mulher acreditem que sou feliz e muito o senhor Dev me menos esta ridícula satisfação em troca do que roubou-me tomando o braço de Seixas e reclinando com esse voluptuoso orgulho
da mulher que se rende a Um Imenso Amor dirigiu-se à porta da igreja onde esperava o seu carro nesse momento como durante a noite em casa do Amaral não houve quem não invej a felicidade do par Formoso que Deus havia acumulado de todos os dons de formosura de graça de de amor de saúde e de riqueza tinham tudo isto e não passavam de dois infelizes essa festa Alegre e aparatosa ninguém imaginava que suplício era para essas duas almas que estavam queimando-se nas luzes da sala e dilacerando nos sorrisos que desfolhar dos lábios no dia seguinte
domingo aela deixou-se ficar em seu aposento e até quarta-feira não vi o marido nem Dona Firmina nem os fâmulos desconfiaram do fato embora suspeitassem de algum estremecimento entre os noivos como nessas ocasiões o marido e a mulher encerravam cada um de seu lado as pessoas da casa ignorantes do interdito a que fora condenada a câmara nupcial presumiam que eles se correspondessem por essa comunicação interior estas esquivanças de Aurélia repetiram-se muitas vezes daí em diante Seixas percebeu que ela o evitava e desconfiou que sua presença começasse a importuná-la não se enganava desde que a moça não
achava mais em si a irritação e o sarcasmo em que a princípio se deleitava seu coração a aproximação do marido a oprimia Seixas Não a contrariava conservando-se em casa ao ALC da voz e ao aceno da mulher poupa-lhe o Desgosto de o ver entrava isso na resolução que havia tomado mas não era sem grande esforço e luta acérrima que obtinha de si permanecer ao lado dessa mulher para a qual se havia tornado ele o sentia verdadeiro flagelo uma razão poderosa o retinha devemos supor e tão forte que subjugava a todo instante a revolta de seus
brios magoados pela versão cheia de desdém da Qual era alvo desse tempo data agitação em que laborou ele à busca de um recurso para subtraí-lo à terrível colisão todas as ideias que lhe sugeria seu espírito alvoroçado ele as aceitava com sofreguidão para logo as rejeitar com desânimo Afinal decidiu-se antes de ir à repartição procurou Lemos com quem só de passagem se encontrara depois do casamento o velho recebeu-o com seu modo folgazão que honraria meu amigo esta pobre casa não merecia tinha necessidade de falar-lhe respondeu Seixas O velinho piscou os olhos ele adivinhava que o moço
não tinha procurado aquela hora para fazer-lhe uma visita de Cortesia desejava consultá-lo continuou seas hesitando consta que as apólices vão baixar consideravelmente e que seria um bom negócio vendê-las neste momento para comprá-las mais tarde talvez daqui a 2 meses não é mal porém há outro melhor neste momento disse Lenos qual vender libras esterlinas não as possuo isso não impede não entendo venda a entregar no fim do mês pelo preço de R ré nesse tempo elas baixam a r ré Com certeza e o senhor ganha em 15 dias sem despender RS contos de réis que não
fazem mal a ninguém agora compreendo libras deixariam 20 contos e se ao contrário subirem perde a diferença aí está o risco só um meio de ganhar sem risco é o de não pagar Seixas despediu-se apesar das instâncias de Lemos que desejava levá-lo à Praça do Comércio nesse mesmo dia encontrou Abril que depois de ter esbanjado a herança dera em jogador E vivia segundo era Fama da banca pela conversa que tiveram os do se quando porar toma e não Sen emao parte 3 Capítulo 10 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni
Senhora de José de Alencar parte 3 Capítulo 10 no pavimento térreo ao lado esquerdo havia na casa das Laranjeiras uma varanda de estilo Campestre decorada com Palmeiras vivas e corbelas de parasitas servia de de bilhar E aí costumava Aurélia e o marido Passarem a tarde quando o tempo não convidava ao passeio no Jardim aí foi Seixas encontrar do grandes quadros colocados nos respectivos cavaletes na tela viam-se os esboços de do retratos o de Aurélia e o seu que um pintor notável êmulo de Vitor Meires e Pedro Américo havia delineado a vista de alguma fotografia para
retoc em Face dos Delos ao olhar interrogador do marido a Aurélia respondeu é um Ornato indispensável à sala julga que seja indispensável parecia-me ao contrário Inconveniente reproduzir ainda que seja por esse modo uma presença que tanto lhe deve importunar não se tira retrato da Alma felizmente observou Aurélia com um misterioso sorriso que desde certo tempo acompanhava essas palavras de sentido recôndito se prestou-se passivamente ao papel de modelo as sessões já tarde tinham ficado reservadas para ele a fim de não estorvar o trabalho da repartição Aurélia retirou-se deixando-o em plena liberdade no dia seguinte pela manhã
quando o pintor voltou para trabalhar em seu retrato a moça antes de tomar posição fez-lhe suas observações acerca da expressão fria e Seca da fisionomia de Seixas Pintei o que vi se deseja um retrato de fantasia é outra coa respondeu o artista tem razão meu marido não anda bom é melhor interromper seu trabalho por alguns dias eu lhe mandarei aviso quando for ocasião essa tarde Seixas achou a orela inteiramente outra da que era nos últimos tempos sua expressão meiga e sobretudo a candura e singeleza de seu modo restauraram em sua memória a imagem da Formosa
menina de santa a quem Amara outrora deixou-se aliciar por essa ilusão embora estivesse bem convencido de que haveria dissipar-se de repente e dolorosamente como as outras mas sua alma tinha necessidade de repouso e ainda mais do conforto de uma crença consoladora abandonou-se aquela doce Quimera e quis padir de que revivia um Idílio de seu passado Aurélia trouxe a conversa para os assuntos que mais podiam seduzir um espírito poético e elegante como de Seixas falou de música de versos de flores e de artes quando a ironia não lhe acava a palavra ela tinha uma exuberância de
afeto e ternura Que manava de seus lábios e derramava em torno de si uma atmosfera de Amor À noite tocou o piano e cantou os trechos prediletos do marido não era ela de certo apesar dos elogios de Dona mina uma mestra nem mesmo uma discípula exima e correta mas poucas teriam seu gênio artístico ela tocava por inspiração e o canto eram as emoções de sua alma que ressoavam espontaneamente como os arpejos da Brisa no seio da floresta os dias seguintes correram na mesma doce intimidade à tarde no jardim ou admiravam juntos as flores ou Liam
no mesmo livro algum romance menos interessante do que o seu próprio Seixas incumbia da leitura e Aurélia escutava sentada a seu lado às vezes ou porque se distraísse um momento ou por sofreguidão de antecipar a narração reclinava para correr os olhos pela página onde ia brincar um anel de seus cabelos castanhos foi no meio de uma dessas cenas que o pintor apareceu de novo Seixas deu sinal de contrariedade que a gentileza de Aurélia conseguiu desvanecer conservou durante a sessão a mesma expressão afável e Graciosa que pouco antes iluminava seu nobre semblante e que fora a
sua fisionomia de outrora quando a subversão da existência ainda não o tinha revestido de gravidade melancólica na manhã seguinte Aurélia examinando trabal do pintor viu palit de emoção a sorrir-lhe hom quea aí t onde o pincel do artista o havia fixado com admirável felicidade era um desses retratos em que o modelo em vez de impor-se inspira o artista e que deixam de ser cópias e tornam-se criações ainda Aurélia estava em levada em sua contemplação quando chegou o artista que recebeu seus elogios acompanhados de sinceros agradecimentos o pintor supunha ter feito apenas uma obra de arte
como podia ele suspeitar o segredo dessa mulher da Vivo Senor ti para quant traj fazli pint o trajo que devia fig retrato do marido e Tomi para conu o se ao voltar da repartição notou Seixas que sua mulher não conservava a mesma disposição de ânimo em que a deixara na véspera não tornou a primitiva irritação mas foi a pouco e pouco retraindo e acabou por isolar-se de tudo passava os dias encerrada em seu tocador quando aparecia era sempre distraída e tinha o aspecto dessas pessoas que se habituam a viver no mundo da fantasia e que
sentindo-se como aturdem a realidade refugiam-se em suas quimeras a casa das Laranjeiras tornara-se uma verdadeira solidão habitada por dois cenobitas que não se viam nem tratavam a não ser na hora de jantar ao levantarem-se da mesa a Aurélia escondia-se no fundo de algum espesso caramanchão de onde seguia de longe com os olhos o vulto do marido que passeava pelo jardim à noite cada um tomava seu livro Seixas Lia Aurélia aproveitava esses instantes de liberdade para tornar aos seus pensamentos e aos suaves devaneios que abandonava ao sair do toucador Dona Firmina a princípio estranhar os modos
de Aurélia mas era uma senhora de muito juízo e bastante prática da vida atinou logo com a causa dessa alteração E aproveitou a primeira oportunidade para dar mostra da sua não acha Aurélia tão diferente do que era Senor Seixas Fernando surpreendido pela pergunta volveu os olhos pra mulher cujo pálido semblante iluminado nesse momento por um reflexo do Sol no ocaso tinha a difa aparência da ca algum incômodo passageiro precisa sair da cidade passar algum tempo fora a Tijuca ou em Petrópolis não tenho moléstia respondeu Aurélia com indiferença moléstia não tem Aurélia mas é ca que
se parece tornou a viúva e os passeios no campo são excelentes para essas melancolias e desmaios que você anda sofrendo engana-se não sofro ca alguma ora não disfarce Quem não vê que a anda volta de de quê insistiu Aurélia completamente alheia à intenção da viúva de um neném soltou a moça uma gargalhada mas tão descompassada e ríspida que dona Firmina mais confirmou-se em sua convicção Fernando erguera-se a pretexto de regar os tabuleiros de Violetas de Parma que rodeavam os pedestais das estátuas de bronze decorreram meses de repente sem causa conhecida com o contraste o improviso
que tinham as resoluções dessa mulher singular operou-se uma revolução na casa das Laranjeiras e na existência de seus moradores saiu Aurélia do isolamento a que se condenara durante tanto tempo mas para lançar-se no outro extremo mostrava pelos divertimentos uma sofreguidão que nunca tivera nem mesmo em solteira entrou a frequentar de novo a sociedade mas com furor e sem repouso os teatros E os bailes não lhe bastavam as noites em que não tinha convite ou não havia espetáculo improvisavam uma partida que em animação e alegria não invejava as mais lindas funções da corte tinha arte de
reunir em sua casa as formosuras Fluminenses gostava de rodear-se dessa corte de belezas os dias destinava os para as visitas da Rua do Ouvidor e os piqueniques no jardim ou Tijuca lembrou-se de fazer da Praia de Botafogo um passeio a semelhança do buad de Bolonha em Paris do prater em Viena e do Hyde Park em Londres durante alguns dias ela e algumas amigas percorriam de carro aberto por volta de 4 horas a extensa curva da pitoresca Enseada espairecendo à vista pelo Panorama encantador e respirando a fresca Viração do mar os passantes olhavam nas surpresos e
com um aspecto que traduzia a malignidade de suas conjeturas Aurélia não fazia o mínimo caso dessas caras mexeriqueiras mas as amigas incomodaram e ela foi obrigada a abandonar o lindo passeio às aves de arribação esta ânsia de festa e distrações suced Endo a uma inexplicável apatia E recolhimento Faria desconfiar que Aurélia buscava na sociedade não o prazer mas talvez o esquecimento porventura tentava aturdir o espírito e arrancá-lo por este modo as cismas e enlevos em que se engolfar por tantos dias deve estranhar esta febre de divertimentos disse ela ao marido é uma febre É mas
não tem perigo quero que o mundo me julgue feliz o orgulho de ser invejada talvez me console da humilhação de nunca ter sido amada ao menos gozarei de um aparato de ventura no fim de contas O que é tudo neste mundo sen não uma ilusão para não dizer uma mentira assim desculpe se incomodo tirando de seus hábitos para acompanhar-me há de reconhecer que mereço esta compensação é minha obrigação acompanhá-la e me achará sempre disposto a cumpri-la moça Formosa e rica deve gozar da vida que lhe sorri o mundo tem esta virtude o que não absorve
gasta daqui algum tempo a senhora verá existência por um prisma bem diverso e do passado não lhe ficará senão a lembrança de um pesadelo de criança é o que eu procuro Justamente que não dera eu para pagar estas crenças ou antes essas incômodas ilusões de minha infância com que educou minha alma e conformar à realidade da vida ah se o conseguisse a reticência desfez-se nos lábios da moça em um sorriso sardônico então nos havíamos de entender fim do Capítulo 10 fim da terceira parte parte 4 Capítulo 1 de senhora esta gravação librivox está no domínio
público gravado por Leni senhora de José de Alencar Parte 4 Capítulo 1 quarta parte Resgate havia baile em São Clemente Aurélia ali estava como sempre Deslumbrante de formosura de espírito e de luxo seu trajo era um Primor de elegância suas joias valiam um tesouro mas ninguém apercebia-se disso O que se via e admirava era ela sua beleza que enchia a sala com um esplendor o baile em vez de fatigá-la ao contrário a expandia semelhante às flores tropicais filhas do Sol que ostentam o brilhante Matiz nas horas mais ardentes do dia era justamente nesse pélago de
luz e paixões que a Aurélia revelava toda a opulência de sua beleza Seixas A contemplava de parte as outras moças de meite em diante comeavam a afanarse o cansaço desbotava-lhes a cor ou afogueava-lhes o rosto o Tali denunciava o excesso da Fadiga na languidez das inflexões ou na rispidez do gesto Aurélia ao contrário à medida que adianta-se a noite desferia de si mais seduções e parecia entrar na plenitude de sua graça a correção artística de seu trajo ia desaparecendo no bulício do baile como o primeiro esboço que surge Afinal do cinzel Impetuoso do artista a
fogo da Inspiração sua estátua recebia da admiração da turba os últimos toques quando em torno se revolvia o turbilhão ela conservava Sua inalterável serenidade o colo arfava lhe mansamente ao influxo das brandas emoções o sorriso coalhava-se em levos nos lábios entreabertos por onde escapava a respiração calma desprendia de seus olhos de toda sua pessoa uma fusão Celeste que era como a sua irradiação quando completou-se esta Assunção de sua beleza o baile estava a terminar Aurélia fez um gesto ao marido e envolvendo-se na manta de Caxemira que ele apresentar-lhe trancou o braço no seu no meio
das adorações que a perseguiam retirou-se orgulhosamente reclinada ao peito desse homem tão invejado que ela arrastava após si como um troféu o carro Estava à porta ela sentou-se rebatendo os amplos folhos da saia para dar lugar ao marido que linda noite exclamou recostando a cabeça nas almofadas para engolfar os olhos no azul do céu marchetado de estrelas com esse movimento sua espádua tocou no ombro de Seixas e os cachos de cabelo castanho agitados pelo movimento do carro afagaram a face do mancebo desprendendo perfumes de nebar de momento momento a claridade do gás entrava pela portinhola
do carro em frente ao Lampião e debuch o mavioso semblante de Aurélia e seu colo que a manta escorregando tinha descoberto na posição em que estava olhando por cima da espádua da moça ele via na sombra transparente quando o decote do vestido sublevava com o movimento da respiração as linhas harmoniosas desse colo Soberbo que apo em contornos como brilha aquela estrela disse a moça qual perguntou seas inclinando-se para olhar ali por cima do muro não vê Seixas Só via a ela acenou com a cabeça que não Aurélia distraidamente travou da mão do marido e apontou-lhe
a direção da estrela é verdade respondeu fando que vira uma estrela qualquer retirando a mão soa no joelho não advertindo sem dúvida que ainda tinha presa a do marido não sei que Ten o luzir das Estrelas murmurou a moça é uma coisa que notei desde menina sempre que fico assim a olhar para elas e a beber os seus raios sinto uma Vertigem que me dá sono quem sabe se a luz que elas sentil não embriaga parece-me que bebi um cálice de champanha mas feito do sumo daqueles cachos Dourados que lá estão no céu estas palavras
o olhar de Aurélia dirigiu as ao marido envoltas em um sorriso Feiticeiro então foi de ambrosia que é a bebida dos Deuses tornou Fernando correspondendo ao gracejo mas fora de graça que sono me fez será cansaço talvez dançou tanto pois reparou que queria que eu fizesse Aurélia esperou um momento para não interromper o marido vendo que este calava-se conchegar quando se arrufo para dormir não posso mais estou tonta derou então pelas almofadas a pouco e pouco descaído lhe ao balanço do carro o corpo lânguido de sono sua cabeça foi repousar no braço do marido seu
hálito perfumado banhava As Faces de Seixas que sentia a doce impressão daquele T sedutor era como se aur sua belza fando não sabia que fizesse vees queria eser para sarse que era desser que atinha nosos quando queria um morphe inerte tinha Med de todia ninguém sabe o que aconteceria se o carro não parasse tão depressa à porta da casa Aurélia sobressaltou-se caindo em si retraiu-se para deixar que Seixas saltasse e lhe oferecesse a mão nunca me senti tão fatigada creio que estou doente disse ela descendo do carro não devia ter ficada até tão tarde observou
Fernando com solicitude teme seu braço murmurou a moça com um gesto abatido Seixas começou a inquietar-se Ainda mais quando avio suspensa seu braço arrastar-se pra escada está realmente incomodada estou doente muito doente respondeu com a voz alquebrada nos olhos porém e nas covinhas da boca cinou um raio de malícia que desmentia aquelas palavras Seixas retribuiu O gracejo é uma enfermidade muito grave não é que ataca lhe todas as noites e a deixa sem sentidos por muitas horas chama-se sono não sei n ca ative volveu a moça abaixando as pálpebras e velando os lindos olhos chegados
a saleta onde costumavam despedir-se Aurélia dirigiu-se para o tocador na porta Fernando parou leve-me que eu não posso comigo disse Aurélia atraindo a si brandamente marido levou-a ao Divan onde ela deixou-se cair prostrada de fadiga ou de sono não tendo ado logo o braço de Seixas este reclinou-se para acompanhar lhe o movimento e achou-se debruçado para ela Aurélia conch as roupas fazendo lugar à beira do Divã e acenando com a mão ao marido que se sentasse entretanto com a cabeça tirada sobre o recosto de veludo o colo nu debuch sobre o fundo azul um Primor
de estatuária cinzelado no mais fino mármore de paros Seixas desviou os olhos como se visse diante de si um abismo sentia a Fascinação e reconhecia que faltam-lhe as forças para escapar a Vertigem até amanhã disse ele hesitando veja se não tenho febre Aurélia Procurou a mão do marido e encostou-a na testa debruçando-se para ela com esse movimento Seixas roçar com o braço contorno de um seio palpitante moça estremeceu como se a percu tise uma vibração íntima e apertou com uma crispação nervosa a mão do marido que ela conservara na sua Aurélia balbuciou Fernando que a
pouco e pouco resvalar do Divan e estava de joelhos buscando os olhos da mulher ela ergueu de leve a cabeça para vazar no semblante do marido à luz dos olhos e Sorriu Que sorriso uma voragem onde submergi-la lhe na alma como lava em ebulição ele voltou o rosto para o lado da porta como receoso de que estivesse aberta Aurélia cerrara as pálpebras e aar de novo a cabeça sobre a almofada com esse delicios abandono que oo remite depois de um exivo exer fando mesi contemp formos queha aliit ol e cont doit froc do doeso aflando
a Vivo fego da respiração e todavia não ousa nunca nos tempos em que ele fazia o contrabando do amor mulher alguma por mais defesa que fosse a seu desejo inspirou o respeito ou antes o susto que o toia naquele momento junto de sua esposa a moça levantou o braço com um gesto deado e deixou sobre o recosto do Divan onde foi deslizando fracamente para o ombro de seas a doce prão que o cingia ele vergou a cabeça e chegou a embeber a flor dos lábios nas tranças de cabelos que borbulhavam em anéis pelas espáduas e
reflui pela Face de Aurélia mas a moça Voltara à cabeça escondendo o rosto no acolchoado de veludo com um gesto rápido ao passo que retra a mão para velar a face bastou este movimento que não passava talvez de frágil resistência da castidade para impulso deas depois de um instante de perplexidade ia levantarse quando Aurélia surgiu aramente dopor Eide que a Prost e sse obou a ajoelhar de novo seus pés então aão na Fronte vergou aabe e-he no semblante um olar long penetrante que pare submergir na consciência daquele homem e sarl os arcanos não me engana
ama-me enfim perguntou ela com meiguice ainda não acredita venceu então o impossível fui vencido por ele essa felicidade não a tenho eu exclamou a moça erguendo-se do Divã E caminhando pela sala com o passo frouxo e a cabeça baixa Fernando que a seguia com um olhar surpreso viu-a aproximar de um quadro colocado sobre um estrado e contra a parede fronteira a cortina azul do docu correu a luz do gás que batia em cheio desse lado destacou-se do fundo do painel o retrato ulto inteiro de um elegante Cavalheiro era o seu retrato mas do mancebo que
fora 2 anos antes com o toque de suprema elegância que ele ainda conservava e com o sorriso inefável que se apagara sob a expressão grave e melancólica do marido de Aurélia o homem que eu amei e que amo é este disse Aurélia apontando para o retrato o senhor tem suas feições A mesma elegância a mesma nobreza de porte mas o que não tem é sua alma que eu guardo aqui em meu seio e que sinto palpitar dentro de mim e possuir quando ele me olha Aurélia fitou o retrato com delícia arrebatada pela veemência do afeto
que entum lhe o seio pousou nos lábios frios e mortos da imagem um beijo Fido pujante Impetuoso um desses beijos exuberantes que são verdadeiras explosões da Alma herrup pelo fogo de uma Paixão subterrânea longamente recalcada Seixas estava atônito s ludíbrio dessa mulher que o subjugava a seu pesar escutava lhe as palavras observava lhe os movimentos e não a compreendia chamava a si a razão e esta fugia-lhe deixando-o estático Aurélia acabava de voltar-se para ele soberba de Volúpia fremente de amor com os olhos Em Chamas os lábios tgid e o seio pulando aos ímpetos da paixão
por que meu coração que vibra assim diante desta imagem Fica frio junto a si Por que seu olhar não penetra nele como o raio desta pupila imóvel por o toque de sua mão não comunica a minha esta chama que me embriaga como um néctar Aurélia parou de repente uma onda de rubor banhou lhe o rosto Mimoso atalhada no ímpeto da paixão por um assomo de pudor ela confrange como a flor da noite ao raiar da Luz suspendeu a capa de Caxemira que lhe tinha resval dos ombros pra cintura e envolvendo-o de um calafrio encolheu-se no
canto do Divan Seixas aproximou-se fazendo-lhe a cortesia do costume com a voz já tranquila e o modo natural disse boa noite a moça entreabriu a Caxemira quanto bastava para tirar os dedos afilados da mão direita que Estendeu aunt el erguendo olos entrep e despóticos estem Sutil doe palão orden disse Trêm queim repassada do Sorriso quehe servia assim dizer de maz ninguém oina Seixas retirou-se levando na alma A Mais Cruel humilhação que podia infligir lhe o desprezo dessa mulher fim do Capítulo 1 Parte 4 Capítulo 2 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado
por Leni senhora de José de Alencar Parte 4 Capítulo 2 aconteceu uma noite caira conversa em assunto de literatura Nacional fato raro entre nós H moda para tudo nos salões menos pras letras pátrias que ficam à porta ou quando muito vão para o fatri servir de tema a do ou três incorrigíveis nesse dia fez-se uma exceção alguém que tinha aprir lhe nos lábios a condenação dogmática de um livro que lera recentemente apesar de desde muito aproveitou o momento para essa execução literária já leram a diva respondeu um silêncio cheio de surpresa ninguém tinha notícia do
livro nem supunham que valesse a pena de gastar o tempo com essas cousas É um tipo Fantástico impossível sentenciou o crítico acrescentou ele ainda algumas coisas acerca do romance cujo estilo censurou de incorreto cheio de galicismos e crivado de erros de gramática o desenlace especialmente provocou acres censuras a crítica por maior que seja a sua malignidade produz sempre um efeito útil que é de aguçar a curiosidade o mais rigoroso sensor malgrado seu presta homenagem ao autor e o recomenda pela manhã Aurélia mandou comprar o romance e o Leu em uma cesta ao balanço da cadeira
de palha no vão de uma janela ensombrada pelas jaqueiras cujas flores exalavam perfumes de Magnólias à Noite Apareceu o crítico já li a diva disse depois de corresponder ao cumprimento Então não é uma mulher impossível não conheço nenhuma assim mas também só podia conhecê Augusto sar o homem que ela amava e o único ente a quem abriu sua alma em todo caso é um caráter inoc e o que há de mais inverosímil que a própria verdade retorquiu Aurélia repetindo uma frase célebre sei de uma moça se alguém escrevesse a sua história diriam como senhor é
impossível esta mulher nunca existiu entretanto eu a conheci mal pensava Aurélia que o autor de Diva teria mais tarde a honra de receber indiretamente suas confidências e escrever também o romance de sua vida a que ela fazia alusão nessa noite entre as novidades do dia que deram tema à palestra houve uma que bastante afligiu Aurélia corria que Eduardo Abreu estava dominado pela ideia do suicídio um de seus camaradas que vinha com ele de Niterói o impedira de precipitar-se ao mar da borda da barca outro o Surpreenda com um revólver no bolso no dia seguinte houve
espetáculo no teatro lírico Aurélia escreveu a Adelaide Ribeiro um bilhete oferecendo-lhe seu camarote e prometendo-lhe sua companhia As duas senhoras não tinham relações íntimas apenas haviam trocado entre si as visitas de Rigor depois do casamento Aurélia aproveitou o pretexto da Ópera nova não para estreitar essas relações cerimoniosas mas ter ocasião de falar com o Dr Torquato Ribeiro às 8 horas quando Aurélia entrou no camarote pelo braço de Seixas encontrou Adelaide com o marido lse que iam passar a noite Face a Face instintivamente sem propósito por uma Irresistível emulação havi esmerado amb noend de sua belza
masos antítese Adelaide pobre nooro do toda garridice e requintes da moda Aurélia a milionária afetava extrema simplicidade vestiu-se de pérolas e rendas só tinha uma flor que era sua graça ao levantar-se o pano a dona do camarote como de costume ocupou o lado da cena reservando lugar de Honra para sua convidada os maridos revezaram-se ficando Ribeiro perto de Aurélia e Seixas da parte de Adelaide passada a primeira curiosidade que desperta sempre as decorações e trajos de uma cena ainda não Vista Aurélia voltando-se para atender a amiga que lhe falava notou a posição e a atitude
de Seixas este recostar-se à divisão do camarote e observava a cena por cima do ombro de Adelaide mas a moça pareceu que a vista do marido não Chegava à rampa e refran i-se como uma réa de sol diante do obstáculo que se lhe antepunham graciosamente diante de Fernando as espáduas que a luz do gás es batendo-se em cheio jasiava se a moça apoiava s indolentemente a coluna era o seu lindo colo vazado por decote de ninfa que se oferecia aos olhos de Fernando Aurélia agitava o leque de madrepérola com um movimento rápido e nervoso que
fazia crepitar em as aspas violentamente batidas umas contra as outras duas ou três grados às vezes dardejam um olhar imperioso ao marido para adverti-lo de sua inconveniência outras examinava a fisionomia de Ribeiro com o sentido de observar o efeito que nele produzia aquela faceirice da mulher mas Seixas estava completamente absorvido na cena ou no que lhe ficava ao rumo da cena e Ribeiro passava revista de binóculo aos camarotes quanto a Adelaide toda a satisfação de brilhar nem reparava na impaciência da amiga nem se ap percebia que o excessivo esvazia ao T desnuda lhe quase todo
o busto Aos olhos do homem a quem voltava as costas sente a estátua o olhar que insinua-se entre os véus transparentes a mulher da moda tem aces da estátua quando se veste para o baile Aurélia não pôde conter-se Afinal troquemos de lugar Fernando a luz do gás está incomodando me a vista venha para aqui disse Adelaide querendo ceder-lhe a cadeira não ali estou melhor fico na sombra no intervalo saíram a passear no salão a lembrança foi de Aurélia que desejava uma ocasião de dizer algumas palavras em particular a autor qu antes de sair porém insistiu
com Adelaide para que pusesse a capa pode se resfriar está úmido ao contrário faz um calor não e cobriu os ombros com sua própria capa que agasalhavam mais Seixas ofereceu o braço a Adelaide como era de Rigor Aurélia seguindo ao braço de Ribeiro e sem perdê-los de vista começou a conversar com seu Cavalheiro ontem tive uma notícia que me afligiu o Eduardo Abril tentou suicidar-se já me disseram e parece que não abandonou a ideia quero salvá-lo dessa loucura é um dever para mim e um tributo que pago a memória de Minha Mãe posso contar com
o senhor permita que não responda esta pergunta diga-me o que devo fazer Obrigada basta que eu traga a minha casa e faça que a frequente ele foi rico perdeu a riqueza e com ela Os amigos a consideração Tudo que lhe tornava doce a existência nada mais natural do que olhar para o mundo como um inimigo a quem deve fugir se porém no meio desse deserto moral em que se acha surgir uma ideia uma vontade um sentimento Consolador esse Elo prenderia de novo a existência mas não tem receio observou Ribeiro hesitando pensa que ainda não esteja
de todo extinta sua paixão é justamente com que eu conto éu marido é meu marido respondeu a moça erguendo a cabeça com Serena altivez Ribeiro compreendeu a palavra e o gesto em verdade o homem que tinha Suprema Ventura de ser o esposo querido dessa mulher podia suspeitávamos com um abandono que ela sua mulher não se animaria a mostrar em público Aurélia por um impulso que não pôde conter apesar do império que se habituara a conservar sobre si deixou o braço de Ribeiro para lançar-se ao encontro do outro par e separou os dois insinuando-se entre eles
aí recobrou ao perceber a surpresa que se pintava no semblante dos outros buscou disfarçar afetando uma risada e trançando no seu o braço da mulher de Ribeiro escute quero dizer-lhe um segredo dona Adelaide afastou-se levando a amiga o segredo foi um remoque a propósito de certa Loureira que passava e depois uma indireta ao desgarro de certas Senhoras que timbr em imitar aquelas a quem mais desprezam teme a minha capa disse Aurélia com rispidez a Seixas antes que este pudesse satisfazê-la tirou-lhe da mão a Caxemira que Adelaide tinha dado a guardar embrulhou nela e tomou o
braço do marido vamos Seixas admirado deixou-se conduzir supondo que tornavam ao camarote ao chegarem defronte da escada Aurélia esperou para despedir-se de Adelaide já se retira perguntou a amiga cada vez mais surpresa Prometi a minha madrinha Dona Margarida Ferreira ir vê-la esta noite passei por aqui somente para gozar da sua companhia Aurélia tivera esta lembrança no caminho do do salão para o camarote era uma excelente explicação de seu descaso de tomar a amiga o braço do marido e o melhor pretexto para cortar de vez o desagradável incidente Seixas acompanhou a mulher sem a mínima observação
entraram no carro o coeiro que não recebeu ordem alguma dirigiu-se à Laranjeiras Dona Margarida Ferreira morava em andar aí não vai à casa de sua madrinha a resposta foi breve e seca não já é tarde Aurélia revoltava contra si mesma por causa daquele momento de fragilidade como é que ela depois de haver arrebatado a sua rival o homem a quem amava e de haver desdenhado esse Triunfo por indigno de sua alma Nobre dava a essa rival o prazer de recear de suas seduções descontente contrariada cogitava uma vindita desse Eclipse de seu orgulho O que é
o ciúme disse de repente sem olhar o marido e com um tom incisivo Seixas compreendeu que aí vinha a refrega e preparou-se chamando a si toda a calculada resignação de que se costumava revestir Exige uma definição fisiológica ou a pergunta é apenas mote PR conversa acredita na fisiologia do coração não lhe parece um disparate esta ciência pretensiosa que se mete a explicar defir o incompreensível aquilo que não entende o próprio que o sente e que sente-se sem ter muitas vezes a consciência desse fenômeno moral só há um fisiologista Mas esse não define julga é Deus
que formando sua criatura do limo da terra como ensina a escritura deixou-lhe ao lado esquerdo por amassar uma porção de caos de que atirou quanto ao ciúme Todos nós sabemos mais ou menos a significação da palavra que Eu des era saber sua opinião sobre este ponto se o ciúme é produzido pelo amor assim pensam geralmente e o senhor como nunca o senti não posso ter opinião minha pois tenho a eu e por experiência o ciume não nasce do amor e sim do orgulho o que dói neste sentimento creia-me não é a privação do prazer que
out trem goza quando também nós podemos gozá-lo e mais é unicamente o Desgosto de ver o rival possuir um bem que nos pertence ou cobiçamos ao qual nos julgamos com direito exclusivo e em que não admitimos partilha há mais ardente ciúme do que o do avaro por seu ouro do ministro por sua pasta do ambicioso por sua glória pode-se ter ciúme de um amigo como de um traste de estimação ou de um animal favorito eu quando era criança tinha um de minhas bonecas Aurélia calou-se À Espera da réplica prolonga a pausa continuou um exemplo há
pouco no teatro quando vi o modo porque a Adelaide Ribeiro lhe dava o braço tive ciúmes do Senhor entretanto eu não o amo bem sabe e não posso amar esta prova é decisiva e a senhora não acredita na fisiologia quer melhor definição o ciúme é o zelo do Senhor pelaa que lhe pertence ou pessoa acrescentou auréa com pela ca que lhe pertence insistiu Seixas seja esta animada ou inanimada temos ainda outra prova em favor de minha opinião o senhor que amou tanto e tantas vezes nunca teve ciúmes H pouco me confessou e como o ciúme
é o sintoma do orgulho ou em outros termos da dignidade a consequência é lógica mas eu a dispenso preferia que o senhor me recitasse alguma de suas poesias por exemplo o capricho fim do Capítulo 2 Parte 4 Capítulo 3 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar Parte 4 Capítulo 3 as partidas de Aurélia ou recepções como as chamava o Alfredo Moreira a parisiense eram das mais brilhantes que então se davam Na curte sem galopes Infernais e as extravagantes figuras que fazem das quadrilhas inv valsas um
perfeito corrupio de idos ou um remoinho de gente tocada da tarântula reinava ali sempre uma animação de bom gosto que excitava o prazer e derramava a alegria sem amarrotar as moças nem espremer as damas entre Os Cavalheiros Aurélia descobriu ir um meio engenhoso de obter Este resultado quando os rapazes que deviam dar o Tom à reunião se retraídas esquivanças e não se apressavam em tirar pares e trazê-los ao meio da sala a dona da casa anunciava A Quadrilha dos Casados essa quadrilha como o nome indica era dançada unicamente pelos maridos com suas mulheres ninguém escapava
não se admitia isenção alguma nem de idade nem de moléstia Aurélia era inflexível não havia resistir à sua doce tirania se ela tinha desses Caprichos despóticos e impertinentes possuía em compensação um Tato superior para cativar a todos com sua fina e Graciosa amabilidade o disparate das idades e a obrigação do galanteio entre as duas caras metades às vezes tão desencontradas servia de divertimento geral até aos próprios velhos reumáticos as matronas avam interiormente desta fantasia que as remoa embora deitasse em sua cafa como exigia a descencia o mais apreciado porém era a pirraça feita aos rapazes
que além de ficarem de fora e perderem os lindos pares escolhidos entre as senhoras casadas sofriam de ricochete os amul das meninas solteiras aborrecidas por não dançarem e obrigadas a fazer o papel de tias ocupando o lugar das mães que tinham tomado os seus disso resultava que os rapazes com receio da tal quadrilha jarreta desenvolviam uma atividade exemplar a primeira arcada da rabeca e entretinham constante animação na sala sem que a Aurélia se incomodasse em rogar a esses meus senhores o especial obséquio de dançar al Lízia Soares dizia que essa invenção não passava de um
desfarce de Aurélia para dançar com o marido de quem andava cada vez mais namorada a tal ponto que dava-se a esses desfrutes aparecera nessas partidas Eduardo Abreu a quem os camaradas desde muito não viam na sociedade Aurélia acolheu com afetuosa distinção e reservava-lhe sempre uma de suas quadrilhas tão disputadas pelos inúmeros admiradores acabava de dançar com ele e passeava pelo salão ao seu braço o Alfredo Moreira com esse espírito de restio que fornece a vida Leviana aos leões de sala vendo-os passar disse para um companheiro retrospecto sentimental não entendo a charada tornou-lhe o outro não
sabes que o Abreu teve uma paixão estrepitosa pela aela e fez as maiores loucuras para casar-se com ela já percebo ela recusou o casamento porque amava o Seixas mas agora que está casada com este é muito capaz de transportar o amor para o jovem Lírio abandonado o jeito é disso este trecho de diálogo travou-se na lamida artificial que em noites de reunião se dispunha ao longo da sala de jantar com Palmeiras Acácias e Magnólias plantadas em vasos de louça e caixas de madeira Fernando que se havia refugiado um instante naquele Recanto e fumava sentado em
um sofá rústico à sombra de um plátano ouviu a maledicência dos Dois Leões buscando com os olhos O Alvo do remoque viu sua mulher que falava ao Calheiro com uma insistência meiga e sedut que lhe época de seus primeiros amores amaou depois vi mais n o par desaparecera da sal e submergem sua só deu acordo de Quando vo dapres tempo procuro disse Aurélia sentando-se a seu lado e olhando inquieta está incomodado Não senhora tive há pouco prazer de vê-la dançar com Abreu Aurélia lançou um olhar rápido e penetrante ao marido é verdade dancei com ele
é um de meus pares habituais tornou com volubilidade e o Senhor por que não dançou também porque a senhora não me ordenou é esta a razão pois vou dar-lhe um par quero oferecer-me seu braço replicou Aurélia sorrindo seria ridículo oferecer A senhora manda e é obedecida Aurélia tomou o braço do marido e afastou-se lentamente ao longo da lamida Por que me chama senhora perguntou ela fazendo suar o ó com a voz cheia defeito de pronúncia mas as outras di senhora tenho notado ainda esta noite essa é creio eu a verdadeira pronúncia da palavra mas nós
os brasileiros para distinguir da Fórmula Cortez a relação de E domínio usamos da variante que soua mais forte e com certa vibração metálica o súdito diz a Soberana como o servo a sua dona Senhora eu talvez não reflita e confunda quer isso dizer que o senhor considera-se meu escravo perguntou Aurélia fitando Seixas creio que lhe declarei positivamente desde o primeiro dia ou antes desde a noite de que data a nossa comum existência e minha presença aqui a minha permanência em sua casa sob outra condição fora acrescentar a primeira humilhação uma indignidade sem nome Aurélia replicou
dando a sua voz inflexão triste e repassada de sentimento já não é tempo de cessar entre nós estas represalias que não passam de truques de palavras temos para separar-nos eternamente motivos tão graves que não carecemos de estar abeles carnos a todo momento comel an puerilidades eu dei o meu exemplo devo ser a primeira a fazer ato de contrição o senhor é meu marido e somente meu marido o que lhe disse não é uma banalidade mas uma convicção profunda uma coa séria A mais séria de minha vida breve há de reconhecê-lo não empreguei a palavra escravo
no sentido da domesticidade seria soberbamente ridículo Mas a senhora deve saber que o casamento começou por ser a compra da mulher pelo homem e ainda neste século se usava em Inglaterra como símbolo do divórcio levar a repudiada ao mercado e vendê-la ao martelo também não ignora que no Oriente há escravas que vivem em suntuosos Palácios tratadas como rainhas as sultanas ora esse poder ou esse luxo que o homem se arrog por que não o terá A mulher deste século e desta sociedade desde que lhe cresce nas mãos o ouro que é afinal o grande legislador
como o sumo pontífice a palavra de Seixas era Acre e queimava os lábios Sou Seu marido é verdade como sherazad era mulher do sultão menos o lenço acudiu Aurélia com um remoque mas a ironia não pôde abafar a sublevação Irresistível do pudor que serrou lhe as palpebras cobriu lhe As Faces e o colo de vivos rubores pulemos aos nossos mutos sarcasmos a Augusta santidade do amor conjugal disse ela comovida Deus não nos concedeu essa inefável alegria a fonte pura de quanto há de Nobre e grande para o coração ficamos eu pelo menos órfãos e deserdados
dessa bênção Celeste mas nem por isso podemos recusar-lhe a nossa veneração mal acabava de proferir estas palavras sentidas e Vindas do íntimo que a moça arrependida de haver cedido a emoção desfolhou dos lábios um riso argentino e afetou o seu costumado tom de volubilidade quer saber minha opinião isto que o senhor chama escravidão não passa da violência que o forte exerce sobre o fraco e nesse ponto todos somos mais ou menos escravos da lei da opinião das conveniências dos prejuízos uns de sua pobreza e outros de sua riqueza escravos verdadeiros só conheçam um tirano que
os faz é o amor e este não foi a mim que o cativou achavam-se nesse instante na sala em Face da cadeira ocupada por Adelaide Ribeiro dona Adelaide faz-me um favor guarde-me este fugitivo e tenha o cativo ao menos durante esta contradança é um depósito perguntou Adelaide maliciosamente Aceito mas sem responsabilidade não há risco enquanto a mulher de Ribeiro consert fos e a CDA de seu elegante vestido para tomar o braço do par que a dona da casa l oferecera com tanta amabilidade Aurélia estreitando-se ao flanco do marido disse a ouvido e com expressão estas
palavras res sua liberdade já o disse uma vez agora o realizei e eu rejeitei Então como agora respondeu o marido no mesmo tom por perguntou a moça com viva interrogação na voz e no olhar não é porque desejo tolher a sua esteja descansada de certo disse Aurélia com desdenhosa inflexão da Fronte a razão é outra quero saber espero em Deus que a saberá um dia tinham se afastado alguns passos para não serem ouvidos Aurélia fitar os olhos no marido excitada pelo Tom das últimas palavras e preparava-se talvez a exigir a explicação quando ouvi o frolo
do vestido de Adelaide que se aproximava Soltou o braço do marido e afastou-se a música dava o sinal da quadrilha passou o Alfredo Moreira que vinha borboleteando pela sala como um Sátiro que adeja na Silva a cata de uma flor Fernando adivinhou que essa flor era um par e encart dou-lhe a Adelaide Ribeiro em risco de infringir o código dos Salões faltando as regras da polidez não tem par Moreira aqui está dona Adelaide que sem dúvida estimará a troca pois lhe dá por Cavaleiro em vez de uma entado o príncipe da elegância Fluminense sem esperar
resposta deixou a moça ao Leão que expandia-se como uma tulipa esticando as guias do Bigode encerado Seixas contava com a sua posição de dono da casa empenhado em fazer dançar seus convidados para desculpar a estratégia com que se dispensar da quadrilha frustrou assim o capricho de Aurélia o qual incomodara por quê Não poderia bem apurar a razão no encontro das impressões do momento desejo de convencer a mulher de Sua Indiferença para Adelaide repugnância de prestar-se a esse ludíbrio necessidade de manter a gravidade de umaa situação que se complicava tudo isto passou-lhe pelo Espírito corria a
reunião sempre animada tinham chegado mais convidados e a partida transformara-se em baile como muitas vezes acontecia a frala soltou o cintilante Prelúdio de uma valsa de straus os valsista afamados deixaram-se ficar de parte Sem dúvida para se fazerem desejar os caloiros e a gente de encher hesitavam em tomar a dianteira algum mais afouto achou-se em branco não encontrou par de repente correu pela sala este rumor a Valsa dos casados e logo após ouviu-se a risada Cristalina de Aurélia esse trilo fresco límpido que às vezes escapava lhe dos lábios como se os seus dentes de pérolas
se lhe desviassem entre os rubins arro uns nos outros A formosa mulher atravessava a sala pelo braço do velho General Barão do T que para não desmentir o seu Garbo Marcial fazia naquele momento prova de um heroísmo superior ao que mostrara na última guerra do Paraguai onde havia sido um meio baiar s mas não s reproche o ilustre guerreiro que nunca voltar o rosto ao canhão fosse ele crp admitia contudo a possibilidade de curvar-se alguma para que a bala não lhe cortasse a pluma do chapéu ou a Metralha não lhe queimasse a barand como uma
nuvem iluminada pelo sol mas curvar o peito Arcado e altaneiro bambear a per firme Rija e direita Quando levava braço a mais bela Muler do mundo era uma cobardia ainda mais uma indignidade que ele não podia cometer a Soares acusou ael da lembrança da talva dos Casados esta defendeu-se a ideia do General que está morto por dançar uma valsa com a Baronesa recordações da Mocidade o famoso Guerreiro não recuou porém jamais carga de Cavalaria contra um quadrado ou uma trincheira debaixo do fogo cruzado de uma bateria de canhões custou-lhe como Aquela valsa que ele dançou
decidido a morrer como um bravo fim do Capítulo 3 Parte 4 Capítulo 4 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar Parte 4 Capítulo 4 Aurélia estava ocupada em reunir os diversos casais e enviá-los ao meio da sala desembargadores de todo top e calibre conselheiros carunchos viscondes mofados marqueses carras tudo tratava de executar-se da melhor vontade que era o meio de tomar mais leve a Penitência nisto chegou-se alizia suares ao braço de Fernando a Travessa trazia nos lábios um sorriso maligno o olhar beliscava como um alfinete
está muito entretida com os outros e não se lembra de si disse ela como perguntou Aurélia voltando-se não disfarce a justiça começa por casa aqui está seu marido deu exemplo Aurélia compreendeu A Vingança da amiga despeitada por não valsar com Alfredo Moreira desde a primeira vez que apareceu na sociedade depois do luto de sua mãe Aurélia que apesar da palavra fta e viva tinha o Casto recato de sua pessoa resolveu não valsar para não arriscar-se a encontrar um desses pares que põe ao vivo a comparação poética da trepadeira enroscada ao tronco musgoso declarou portanto que
não sabia valsar e que nunca poderia aprender porque o Giro Rápido causava lhe Vertigem havia nesta segunda parte um fundo de verdade quando valsava no colégio com as amigas sentia tão vivo prazer nessa dança impetuosa que deixava se arrebatar e desprezando o compasso da música volvia uma velocidade prodigiosa até que o atordoamento a obrigava a sentar convencida de que ela não sabia realmente valsar Liz lembrou-se de tomar uma desforra obrigando-a a fazer triste figura na sala ou então a retratar-se de sua esquisitice e acabar com a tal Valsa dos Casados o que mais estimulara a
moça fora a suspeita de que a Aurélia fizera aquilo por maldade e só para privá-la de dançar com Moreira nisto era injusta a razão que mover a Aurélia não sei mas que ela nesse momento não se lembrava da existência da Lízia e do Moreira disso posso dar certeza não seja má Lízia disse Aurélia com um modo queixoso que não ocultava de todo o f no motejo do olhar nada minha cara você não dispensa ninguém tenha paciência eu não sei valsar aí é que está a graça meu pai também não sabia ela sabe era meu par
no colégio observou uma senhora há de dançar pena de talião Dizia um velho advogado gotoso que voltava da valsa tão estafado como nunca o deixar a mais complicada defesa do Júri caso de justa represália acudiu um velho Diplomata que fizera sua carreira em eterna disponibilidade sem trocadilhos a coroa S an opinião orav Ministro para quem coroa e opinião no Brasil eram a chapa e o cunho da mesma moeda em que se recebia o saláo as senhoras insistiam para se despicar da entrega quees fizera a dona da casa as moças por pirraça e os rapazes pelo
Desejo de quebrar o encanto a Aurélia e terem daí em diante como par certo de valsa não é preciso essa revolução eu me submeto disse Aurélia curvando gentilmente a cabeça dirigindo-se ao marido que estava de fronte e a quem Alia não consentia que se retirasse tomou-lhe resolutamente o braço e deixou-se conduzir ao meio da sala por que se constrange não quer valsar eu tomo sobre mim a recusa segredou Seixas é questão de vaidade compreende a força que tem para nós mulheres este nosso ponto de honra tornou auré também a meia voz neste momento não não
compreendo veja Lízia como está saboreando meu vexame de não saber valsar e o fiasco que me espera demais sua voz teve uma nota vibrante demais o senhor pode pensar que tenho medo Aurélia pousar a mão no Ombro do marido e imprimindo ao T um movimento gracioso e ondulado como o arfar da borboleta que palpita no seio do cacto colocou-se diante de seu Calheiro e entregou-lhe a cintura Mimosa era a primeira vez e já tinham mais de seis meses de casados era a primeira vez que o braço de Seixas enlaça A Cintura de Aurélia explica-se pois
o estremecimento que ambos sofreram ao mútuo contato quando essa cadeia Viva os surpreendeu balançava se o Airoso par a Cadência da música arrebatadora e todos o admiravam menos Lízia suares que ralava de despeito a ver a seu Fide e graça com que Aurélia valça triunfando quando ela esperava humilhá-la Aurélia n noiteo de tule de our que aesa uma gaz de voltear da Vala sa e mang Ross que erguer paraar par como nuvens diáfanas em bebidas de sol e envolviam a ela e ao caviro como um brilh arrebol parecia que voavam ambos Arrebatados ao céu por
uma Assunção radiosa a cabeça de Aurélia afrontar atirada para o ombro com um gesto sobranceiro e uma expressão provocadora que por certo havia de desairar outro semblante mas tinha no seu uma sedução Irresistível e uma beleza fatal e deslumbrante nunca se fixou na tela nem se lavrou no mármore tão Sublime imagem da Tentação como Aí estava encarnada na altivez fascinante da Formosa mulher aos primeiros compassos principiou este rápido diálogo cortado pelas evoluções da dança Não sei valar devagar pois apreciemos o passo não l tonteia não a cabeça é forte e o coração este já calejou
pois eu sou o contrário o coração nunca vacilou a moça continuar soltando frases interm a cabeça que é fraca mas que singularidade em tudo sou esquisita devagar é que Ton teio a casa roda em torno de mim depressa não quando tudo desaparece quando não vejo mais nada então sim então gosto de valar e posso valar muito tempo passavam perto da música Seixas disse ao Regente da orquestra aprece o compasso o arco do Regente deu sinal mais disse Aurélia amaram-se as pancadas do arco ainda mais ordenou a moça o arco se bilou os instrumentos estreitaram as
notas desenhavam não já em escalas mas em borbotões não era mais valsa de straus era um turbilhão musical um pampeiro como saía das mãos inspiradas de list o lindo par arrojou deixando a trotar classicamente os outros que não acompanhar aquela torrente impetuosa obscurecia a vista que buscava acompanhá-lo ele passava nublado por aquela espécie de atmosfera oscilante que a velocidade da rotação estabelecia em torno de si a Aurélia cerrara a meio as pálpebras seus longos cílios franjadas que roçavam o cetim das faces sombrear o fogo intenso do olhar que escapava agora em chispas sutis e feriam
o semblante de Seixas como os rutilos de uma estrela a valsa é filha das da Alemanha e irmã das louras Valquírias do Norte talvez sobre essas regiões do Gelo com os doces esplendores da neve o cé derrame alguma da serenidade e Inocência que fruem os bem-aventurados talvez que os povos da fecunda Germânia quando vão ao Ba mudem o temperamento com que marcham à guerra e façam correr nas veias cerja em vez de sangue a ser assim pode a valsa ter naqueles países as honras de uma dança de sala em outra latitude deve ser desterrada para
os bailes públicos onde os homens gastos Vão buscar as Sensações fortes que O Ébrio pede ao álcool há nessa dança impetuosa alguma coa que lembra os mistérios consagrados a Vênus pela Grécia pagã ou o Delírio das bacantes quando agitavam o Tirso é na frase do grande poeta a valsa impura e lava desfolhando as mulheres e as flores nunca a linguagem que se rei da palavra chamado Vittor Hugo subjuga e maneja como um brioso Corcel prestou-se à mais eloquente expressão do pensamento é realmente a desfolha da mulher a despolpa de sua beleza e de sua pessoa
o que a valsa impudica faz no meio da sala em plena luz aos olhos da turba Ávida e curiosa as senhoras não gostam da valsa senão pelo prazer de sentirem-se arrebatadas no turbilhão há uma delícia uma voluptuosidade pura inocente nessa embriaguez da velocidade aos volteios rápidos a mulher sente nascer lhe as asas e pensa que voa rompe-se o casulo de seda desfralda se a borboleta mas é justamente aí que está o perigo esse enlevo inocente da dança entrega a mulher palpitante inebriada as tentações do Cavalheiro delicado embora mas homem que ela sem querer está provocando
com o Casto requebro de seu talhe e traspassado com as tépidas emanações de seu corpo o que é a valsa mostrava o aquele Formoso par que girava na sala e ao qual entretanto defendia dos olhos maliciosos a casta e Santa auréola da Graça conjugal com que Deus os abençoar Fernando arrependia-se de ter cedido ao desejo da mulher e começava ele um dos impertérrito valsista da corte a recear a Vertigem seu olhar alucinar pelas fascina de que se coroava naquele instante a beleza de Aurélia tentou desviar-se e vagou pela sala voltou porém atraído por força poderosa
embebeu no Êxtase da adoração quando a mão de Aurélia calca lhe no ombro transmitindo-lhe com a Branda e Macia pressão o seu doce calor era como se todo seu organismo estivesse ali naquele ponto em que um fluido magnético punha em comunicação com a moça pois essa estranha sensação tornou-se ainda mais intensa já não tinha consciência de si para perceber distintamente a pressão dos Dedos em seu ombro o que se passava nele era uma verdadeira intercepção da forma Peregrina dessa mulher que ele via em Face mas sentia dentro em si Aurélia não consente como outras que
seu Cavaleiro aconchega ao peito entre os bustos de ambos mantém-se a distância necessária para que não se unam com o volver da dança e tanto que deixam passagem à claridade do gás Entretanto a sensação viva que Fernando Experimenta neste momento é do contato Estreito íntimo do talhe palpitante da moça como se o tivesse fechado em seus braços Sua calma semelhante ao molde que concebe a cera Branda vazava em si Formosa estátua e recebia o seu toque mavioso se o colo de Aurélia puls rápido no ofego da valsa embora os rofos do decote nem de leve
roçasse o colete ele fechando os olhos e recolhendo-se palava em seu peito o Rijo galbo do seio voluptuoso se um retraimento lacio peculiar a raça felina imprimia ao dorso de Aurélia uma flexão ondulosa que dilatando-se no Abalo nervoso brandia o corpo esbelto essa vibração elétrica repercutia em todo o organismo de se era uma verdadeira transfusão operada pelo toque da mão da moça no Ombro do marido e da mão deste na cintura dela mas sobretudo pelos olhos que se imergiam e pelas respirações que se trocavam não há flor de aroma delicado como a boca pura e
fresca de uma moça outros perfumes conheço mais vivos alguns fortes e excitantes nenhum tem a Maga suavidade de um hálito ros fragrância de sua alma que aura infundia no lbios doir neste deleite em que se engolfa se um moment de e press o perig quis e por termo essa prova terv que auler o submeter cer no propósito de o render a seé como uma vez fizer naquela noite do div noite Cruel de que ainda conservava aente recordação para preparar a parada conteve a velocidade do Passo percebeu Aurélia o leve movimento se não teve a repercussão
do pensamento do marido antes que este o realizasse os lábios murmuraram uma palavra súplice não as pálpebras ergueram-se os grandes olhos cheios de luz e de amor inundaram o semblante de Seixas e cerraram-se logo levando-lhe toda a vontade e consciência como uma onda que depois de espraiar-se reflui trazendo no seio quanto encontrou em sua passagem Seixas abdicou de si e arrojou novamente no turbilhão tudo isto se passar em Breves momentos durante o espaço que o par valsante levara para descrever pelo vasto salão duas ou três elipses nos quatro cantos da casa havia para Ornato altas
jardineiras de bronze verdadeiro e de trabalho artístico lembr de Aurélia que as encomendara da Europa eram grupos agrestes onde se tinham disposto os lugares dos vasos mas estes em vez de flores recebiam plantas vivas que formavam assim um bosque a cada ângulo da sala concorrendo para dar-lhe o aspecto Campestre que tanto se Aprecia agora e com razão há nada mais encantador do que trazer o campo para dentro da cidade e até a casa do que entrelaçar com as magnificas do Luxo as galas da natureza no enlace da valsa o lindo par ansioso deaço e sentindo-se
apertado na sala alongar a elipse até a extremidade voltando por detrás de uma das jardineiras onde não estava ninguém naquela ocasião houve um ápice rápido como o pensamento em que o par achou-se oculto pelas longas Palmas de uma muscia que se aravam graciosamente em umbela nesse momento um relâmpago se ouos a ambos duas rosas Se embalam cada um em sua aste à aragem da tarde inclinam de leve o clix e frisam roçando as pétalas assim tocam-se as frontes de Aurélia e Fernando e os lábios de ambos afloraram no Sutil perpasse foi um relance o elegante
paro mira-se atrás da folhagem e já emergia da sombra e nadava na claridade deslumbrante da sala que ia de novo atravessar na elipse fugaz mas Fernando sentiu na face um sopro gelado olhou Aurélia estava desmaiada em seus braços a gentil cabeça ao desfalecer não Vergara para o peito como se aprendesse o ã dos olhos que a en levara inclinou a espádua do cavaleiro com o rosto voltado para ele os lábios descorados moviam-se brandamente como se a sua alma que ali ficar estivesse conversando com a outra alma que ali passara Seixas ergueu a mulher nos braços
e levou-a da sala fim do Capítulo 4 Parte 4 Capítulo 5 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Lenin senhora de José de Alencar parte qu Capítulo 5co no meio do alvoroço causado pelo incidente enquanto acudiam médicos vinham os sais e corriam as amigas umas inquietas e outras curiosas choviam os comentos que imprudência aquele desespero eu logo vi e ela que não tem costume de valsar quis fazer-se de forte não é senhora aquilo foi o vestido não vê como acocha a cintura ora romantismos dizia Lízia com ucho e acrescentou para Adelaide
acredita no desmaio pensa que foi fingimento requebros com o marido queria que ele a carregasse no meio da sala e a vista de todos gosta de mostrar que Seixas A adora e derrete-se por ela pudera não uma boneca de mil contos nesse tema continuou a menina que tinha a balda muito comum de falar como um realejo pensando que assim abism os outros com um espírito gasoso quando ao contrário aguava o que a natureza lhe dera entretanto Seixas tinha conduzido a mulher ao tocador e deitara o belo corpo desmaiado em um sofá estava inquieto mas não
aflito no transportar a moça havia sentido o calor de sua epiderme e o pulsar do coração não passava o acidente de ligeira síncope com efeito antes que a inundasse de hétero álcali e que lhe desatem a cintura a aurel abriu os olhos e arredou com um gesto as pessoas que se apinhar junto ao sofá não é nada uma tonteira já passou o médico que tomava lhe o pulso confirmou limitando-se a recomendar além do repouso o desafogo do vestido para respirar melhor não é preciso Basta que me deixem espaço respondeu Aurélia retiraram-se todas as senhoras e
voltaram à sala Dona Firmina demorou-se Com intenção de não deixar a moça Mas esta pediu-lhe que a substituísse nas funções de dona da casa Fernando fica vá pra sala e faça continuar a dança estou boa não tenho nada se constrangerem é que me incomodam seare que estou doente Dona Firmina riu-se inclinou-se para beijar a moça na testa e voltou à sala ao aproximar-se da porta viu alguns curiosos que espiam para dentro e cerrou as duas bandas fechas com aldraba Aurélia ficara deitada no sofá de costas na posição inclinada em que Seixas A colocara sobre as
almofadas quando Dona Firmina afastou-se ela cerrara outra vez as pálpebras e engolfou se no sonho delicioso a que a tinham arrancado sua mão tateou hesitando pela borda do sofá e encontrou a de Seixas que estava sentado junto dela e contemplava a Formosa mulher ainda mais bela nesse Langue delíquio do que em suas deslumbrantes radiações eu caí na sala murmurou Aurélia sem abrir os olhos e corando de leve não respondeu Seixas quem segurou-me podia eu confi a outro disse Fernando os dedos da moça responderam apertando a mão do marido quando vi que tinha desmaiado tomei-a nos
braços e trouxe para aqui para onde pro seu tocador não conhece não lembro Seixas calou-se Aurélia permaneceu na mesma imobilidade com a mão do marido presa na sua que às vezes recebendo uma ligeira vibração contra-se nisto bateram discretamente à porta Seixas fez movimento de erguer-se para ver quem era mas Aurélia ao fugir-lhe a mão que tinha na sua ergueu-se em pé de um jato e lançando os dois braços ao colo do marido curvou so esse jugo irresistível Seixas foi obrigada a sentar-se outra vez e Aurélia deixando-se cair também sentada sobre o sofá o retinha fechado
na Mimosa cadeia enquanto darde à porta o olhar colérico erigindo busto com a retração da serp que-se para o bote que se passava nesse momento no espírito da moça exaltada pelas comoções dessa noite afigura-se a Aurélia que achar enfim a Encarnação de seu ideal o homem a quem adorava e cuja sombra a tinha cruelmente escarnecido até aquele instante desvanecendo quando ela julgava tê-lo diante dos olhos agora que eu achara que ele aí estava perto dela que tomará posse de sua vida parecia-lhe no desvario de sua Alucinação que o queriam disputar lhe arrancando-o de seus braços
e deixando a outra vez na viuvez em que se estava consumindo Não não quero exclamou com veemência continuavam a bater podem abrir Aurélia e surpreender-nos estas palavras do marido ou antes o receio que as ditava provocaram em Aurélia um assomo ainda mais Impetuoso que me importa minha opinião dessa gente que me importa esse mundo que separou eu desprezo mas não consentire que me roube meu marido não tu me pertences Fernando és meu meu só comprei ó Sim comprei te muito caro Fernando erguera-se como impelido por violenta distensão de uma mola e tão alheio de si
que não ouviu o fim da frase Pois foi ao preço de minhas lágrimas e das ilusões de minha vida concluiu a moça que ao movimento de Seixas sou ergue-se também suspensa pela cadeia com que lhe cingia o pescoço Seixas dominara O ímpeto que o precipitava e conseguiu afogá-lo no escárnio que é uma válvula para essas grandes comoções da Alma sentou de novo e murmurou ao ouvido da mulher que o inundava com seu olhar o lenço o lenço repetiu a moça maquinalmente e apanhando o Seu Lenço de rendas que jazia sobre o sofá olhou-o como se
buscasse nele explicação daquela singular pergunta do marido súbito estremeceu com Abalo tão forte que a levantou em pé soberba de Ira e indignação não se desmancharam um só anel de seus cabelos que se cache avam em torno da serviz com a mesma correção não se amarrotar nenhum dos folhos de seu trajo vaporoso todavia quem contemplasse Aurélia nesse momento acreditaria na desordem do lindo vestuário tal era a exacerbação que incendiada pelos sinistros clarões da borrasca a estrela fizera-se relâmpago o Anjo despira as asas celestes e vestiam o fulgor lucífera a Aurélia soltou uma gargalhada tem razão
é o único amor que pode haver entre nós a mão da moça que machucava convulsivamente o lenço ergueu-se para arremessá-lo a Seixas com as palavras de desprezo que acabava de proferir mas foi apenas um simulacro a meio do gesto a mão retrair-se com energia se fosse possível que eu decaía de minha virtude e até da minha altivez havia um homem a quem não me rebaixaria jamais de todas as indignidades a maior seria a profanação do único amor de minha vida com o sibilo da voz da moça ao soltar estas frases misturou-se o esgarçou das rendas
do Lenço que ela acabava de despedaçar aproximando Então as tiras do gás que ardia em uma marandel ao lado do espelho do toucador comunicou-se consumirem sobre o mármore haverá quem acuse Seixas de ter no momento em que a mulher lhe fazia confissão de seu amor e lhe oferecia um perdão espontâneo proferido aquela palavra que envolvia um insulto Cruel ele próprio que pouco antes não achava uma expressão bastante eloquente para sua revolta ali estava agora arrependido com os olhos compassivos fitos na mulher que abria uma janela e encosta-se à sacada para banhar-se na brisa e na
treva da noite não só arrependia-se pela primeira vez duvidava disso a que ele chamava sua honra na mesma noite em que a Aurélia lhe infligir a atrz humilhação desse consórcio monstruoso do sarcasmo com a vergonha Seixas considerou-se impossível para semelhante mulher não poderia amá-la nunca mais e ainda menos aceitar seu amor até o momento da Revelação afrontosa Seu procedimento podia ser repreensível ante uma moral Severa mas não ia além de um casamento de conveniência ca banal e frequente que tinha não somente a tolerância como a consagração da sociedade desde porém que esse casamento de conveniência
fora convertido em um mercado positivo ele julgava uma infâmia para si envolver sua alma e afunda transação torpe seu corpo sim estava vendido ele não o podia subtrair ao indigno Mister desde que havia recebido salário mas a alma nunca tivesse o embora essa mulher na conta de um especulador sem escrúpulos ele sentia que a honra não o abandonara e que se outrora ia se embot esse acidente lhe restituí o vigor foi este pensamento que Seixas sob a impressão das suspeitas relativas ao abril enunciou de um modo a auréa no diálogo que trava com ela no
princípio da noite veio porém a valsa e ele subjugado pela beleza da mulher por sua prodigiosa Fascinação esqueceu todos os protestos de dignidade só viveu na Adoração do ídolo a que não o conseguira arrancar sua apostasia O desmaio arrefeceu a exaltação do amante sentado à Cabeceira do sofá Onde Aurélia se conservava deitada com os olhos cerrados lhe a mão por intermitentes pulsações dos dedos ele não se pôde esquivar a uma reflexão que o reclamava aquela Vertigem súbita na circunstância em que se dera e tão prontamente dissipada seria uma afetação não estaria a moça representando uma
cena da comédia matrimonial que a divertia Seixas apesar da revolução que nele se havia operado nos últimos se meses ainda não gastara de todo seus hábitos de homem de iedade para quem a vida é uma série de etiquetas e cerimônias regradas pelo uso a rotina da sala não conhece os movimentos impetuosos e desordenados das paixões ali tudo se faz com regra e medida uma menina que desde os 7 anos se habitua a entregar os lábios à Carícias dos amigos da casa recebe o seu primeiro beijo de amor com um pudor gracioso mas Sereno e o
homem que sugara tantas bocas travess como se fossem os cálices de cristal Rosa onde libava goles de moscatel esse homem que tiver em seus braços calmas e risonhas tantas namoradas podia compreender que a ponta da asa de um ósculo pois não fora outra ca causasse um desmaio Aurélia tinha em suas relações com o marido Especialmente nos instantes de animação gestos e atitudes de uma grande expressão dramática esses movimentos naturais não eram senão acenos das paixões e sentimentos de sua alma pareciam artísticos porque revestiam se de uma Suprema elegância Seixas admirando-as como poeta suspeitava os de
teatris por isso entrou a Desconfiança de que Aurélia preparava lhe com todos aqueles rendimentos uma nova humilhação igual senão maior do que a da noite do baile naquele mesmo toucador foi nessa disposição de espírito que penetrou como a lâmina de um estilete a frase comprei-o bem caro que o Lábio de Aurélia vibrava com viva intonação não ouviu mais nada fez-se em sua consciência um imenso deserto que enchia a só ideia do mercado Avante o pensamento que o dominara antes da valsa e que um enlevo passageiro havia sopado ressurgiu ele refugiou-se no sarcasmo que desde o
casamento era um derivativo ações de sua Cólera sem intenção de injúria somente com uma cerba ironia soltou a palavra de que se arrepender entretanto Aurélia na janela derramava a vista pelo azul da atmosfera onde se recortava o perfil das montanhas uma Nebulosa vislumbrava o seu vago lampo A moça ficou olhando a um instante E cuidou ver o rasto de sua alma que subia ao céu guarda noite da Dev fazer-lhe mal sobretudo agitada como está disse Fernando timidamente julgando que a moça não ouvira aproximou-se repetiu sua observação engana-se estou calma perfeitamente calma disse a moça e
para exibir a prova de sua afirmação deixou a sacada e expôs-se a claridade do gás tinha no semblante e em todo o aspecto a inalterável serenidade de que sabia revestir-se quando queria conter e domar os impulsos da Paixão Fernando deu um passo e ia talvez pedir-lhe perdão quando a porta abriu-se a pessoa que batera antes como não lhe abrissem insistiu Mas desta vez Resolveu se a levantar a a draba era a dona Firmina que vinha a saber notícias da moça bravo já de pé e pronta para dançar respondeu Aurélia rindo-se aproximou-se do psiquê compôs as
ligeiras perturbações de se trage anelou um cacho dos cabelos consertou os fofos da saia e tomou o braço do marido para entrar na sala não faça imprudências Aurélia disse Dona Firmina não tenha susto agora estou preservada a viúva não entendeu Aurélia afastando-se atirou em voz rápida esta advertência ao marido cuja fisionomia conservava os traços das comoções Por que passara sejamos desgraçados mas não ridículos tudo menos dar minha vida em espetáculo a este mundo escarninho todos estes incidentes foram curtos e sucederam-se tão Breves que um quarto de hora depois do desmaio Aurélia entrava no salão pelo
braço do marido tão fresca e Viçosa como no princípio do baile e ainda mais deslumbrante de beleza seus convidados ao vê-la caminharam ao seu encontro mas não puderam apresentar-lhe suas felicitações porque a orquestra despejava o mesmo turbilhão da valsa de straus e Aurélia voltea na sala com o marido que loucura foi a voz que se ouviu de todos os cantos Seixas quisera demovê-lo mas ela emudecera com uma palavra é a reparação que o senhor me deve valsar tanto tempo quanto da primeira vez e o mínimo alvoro não agitou esses dois corações que ainda pouco se
confundiam na mesma pulsação e agora batiam isolados e cadentes apenas agitados pelo movimento como ponteiros de relógio havia entre ambos um oceano de gelo acabada a valsa a Aurélia recebeu risonha as felicitações das amigas e convidados Seixas censuras e exprobração por ter consentido em dançar segunda vez com a mulher podia ser-lhe fatal era preciso curar-me da Vertigem acudiu Aurélia rindo ele tinha obrigação e agora está curada perguntou o general Oh para sempre o baile continuou cada vez mais animado fim do Capítulo 5 Parte 4 Capítulo 6 de senhora esta gravação librivox está no domínio público
gravado por Leni Senhora de José de lencar Parte 4 Capítulo 6 tinha saído O Último dos convidados se que esper dehe Boa noite e i retirar fando atalhou desejo dar uma explicação é inútil não tive intenção de ofendê-la de certo um cavaleiro tão delicado não podia injuriar uma senhora umaa desagradável que que me afligiu profundamente tirou doal est de qualquer alusão é a hisória de ontem que o senhor me está contando exam Aurélia e apontou para o mostrador da pula que marcava Du horas tratemos de amanhã vamos dormir fazendo ao marido uma risonha mesura a
moça deixou na sala recolheu-se a seus aposentos onde esperava para despi podes ir não priso de de para servço de sua pessoa como não gosta de entregar seu corpo a mãos alheias nem consentia que outros olhos que não os seus eass o natural recato Poupa Sempre que podia a muama a qual já não estranhava esse modo fechada porta por dentro aa Em um instante operou a sua metamorfose o trajo de baile ficou sobre o tapete de fronte do espelho como as asas da borboleta que finou-se no seio da flor surgiu dali daquele desmoronamento de sedas
a casta menina envolta em seu alvo roupão de Cambraia sentou-se no sofá Onde estivera poucas horas antes com Seixas e Ficou pensativa até que levantou-se para ir correr a cortina ao quadro e acender a arandela próxima esteve contemplando o retrato e falou como se tivesse diante de si o homem de que via a imagem exclamou cheia de júbilo negues embora Eu o conheço eu o vejo em ti e sinto em mim um homem de Fina educação como és só insulta mulher quando a ama e com paixão tu me insult porque o meu amor era mais
forte que tu porque aniquila tua natureza e fez do cavaleiro que és um déspota feroz não te desculpes não Não foste tu foi o ciúme que é um sentimento grosseiro tal eu bem o conheço tu me amas ainda podemos ser felizes ó então havemos de viver a dobro para descontar esses dias que desviver a gentil senhora apoiou-se à moldura do quadro e outra vez Ficou pensativa E por que não podemos ser felizes desde este momento ele está ali pensando em mim talvez me espera basta me abrir aquela porta virá suplicar seu perdão eu receberei meu
meus braços e estaremos para sempre unidos um sorriso Divino iluminou A formosa mulher Ela desceu do estrado e atravessou a câmara de dormir com o passo trêmulo Mas afo e as Faces a arderem chegou à porta afastou o reposteiro azul aplicou o ouvido sorriu murmurou baixinho o nome do marido recordou as notas apaixonadas com que a cantava a área da Fernando Afinal Procurou a chave não estava na fechadura ela própria havia tirado e guardara na gaveta de sua escrivaninha de Araribá Rosa voltou impaciente para procurá-la quando sua mão tocou o aço a impressão fria do
Metal produziu um arrepio rejeitou a chave e fechou a gaveta não é cedo é preciso que ele me ame bastante para vencer-me a mim e não só para se deixar vencer eu posso não o duvido mais eu posso no momento em que me aprouver trazê-lo aqui a meus pés suplicante Ébrio de Amor subjugado ao meu aceno eu posso obrigá-lo a sacrificar-me tudo a sua dignidade os seus brios os últimos escrúpulos de sua consciência mas no outro dia ambos acordar desse horrível pesadelo eu para desprez ele para odiar então é que nunca mais nos perdoar eu
a ele meu amor profanado ele a mim o seu caráter abatido então é que principiar a eterna separação depois de breve pausa continuou falando outra vez ao retrato quando ele convencer-me do seu amor e arrancar de meu coração a última raiz desta dúvid atrz que o deera quando nele encontrarte a ti o me ideal soberano de meu amor quando tu e ele fores um e que eu não vos possa distinguir Nem no meu afeto nem nas minhas recordações nesse dia eu lhe pertenço não que já lhe pertenço agora e sempre desde que eu amei nesse
dia tomará posse de minha alma e a fará sua afastando-se a moça levava ainda o pensamento de seu amor que subiu ao céu na primeira frase da prece da noite concedei meu Deus que seja breve dizia ela cruzando as mãos de joelhos no escabelo e com os olhos em um crucifixo de prata e Ébano terminada a prece Aurélia fechou o gás deixando apenas no toucador uma lamparina cujos frouxos vislumbres esclareciam o rosto do retrato de sua cama onde se acabava de aninhar como uma rula entre Os Finos lençóis de Irlanda com a cabeça no travesseiro
ela via pela porta aberta lá no toucador a imagem querida e com os olhos nela adormeceu passando como costumava de um sonho a outro ou antes continuando o mesmo e único sonho que era toda a sua vida os choques dessas duas almas que uma fatalidade prendera para arrojá-las uma contra a outra produziam sempre afastamento e frieza Durante algum tempo a remissão foi mais sensível e duradoura depois da noite do baile porque também a crise fora mais violenta durante essas pausas Aurélia observava o marido e assistia comovida a transformação que se fora operando naquele caráter outrora
frágil mundano e volb a quem uma salutá influência restituí gradualmente a sua natureza Generosa ela adivinhava ou antes via que sua lembrança enchia a vida do marido e a ocupava Tuda a cada instante na circunstância revelava-se essa Possessão absoluta que tomara naquela alma havia em Fernando uma como repercussão dela sabia que a atenção do marido nunca deixava de todo embora solicitassem assuntos da maior importância ou pessoas de consideração na sociedade como em família ela descobria através dos disfarces o olhar que a buscava muitas vezes no reflexo do espelho ou por entre uma fra de cortina
e quando não era o olhar o ouvido preso a sua voz as flores que Seixas regava eram as Hortênsias suas prediletas dela Aurélia quando aproximava-se do viveiro os canários mimosos da senhora mereciam todas as suas carícias no Jardim como em casa os sítios favoritos fora ela quem os escolhera Aurélia não gostava de Byron embora o admirasse seu poeta quer era Shakespeare em quem achava não o simples cantor mas o Sublime Escultor da Paixão muitas vezes aconteceu-lhe pensar que ela podia ser uma heroína dessa grande epopeia da mulher escrita pelo Imortal poeta no dia do casamento
sua imaginação exaltada chegou a sonhar uma morte semelhante a de desdêmona Seixas renegar ao poeta de seus antigos devaneios para afeiçoar-se ao trágico inglês que ele outrora achava monstruoso e ridículo Lia os mesmos livros que ela os pensamentos de ambos encontravam-se nas páginas que um já tinha percorrido e confundiam-se aplaudiam reciprocamente ou censuravam poucas mulheres possuíam como auréa esposo tão dedicado e tão preso à sua vida Seixas Não estava ausente senão o tempo do emprego o resto do dia passavam em sua companhia na intimidade doméstica ou nas visitas e reuniões desde os primeiros dias no
seu propósito de passiva obediência o marido se impusera a tarefa de lhe dar uma conta minuciosa das Horas passadas fora de casa dos acidentes da viagem dos encontros que fizera e até dos trabalhos da secretaria aquilo que não passava de uma ironia do marido veio a tornar-se um costume e ela que a princípio incomodar-se com a Fingida subserviência não pode mais tarde dispensar essa confidência que lhe restituí a pequena fração da existência de Seixas vivida longe de si mas não era unicamente A Possessão dela pelo amor que se operara em Seixas era também a assimilação
do caráter como todas as almas que se regeneram a de Seixas exercia sobre si mesma uma disciplina rigorosa tinha severidade que em outras circunstâncias haviam de parecer ridículas a desculpa o inofensivo pretexto tomavam para ele proporções de mentira a amabil constante geral era hipocrisia os indiferentes não tinham direito senão a polidez e não podiam usurpar os privilégios da Amizade algumas vezes Aurélia de parte o ouvira conversando acerca de outros reprovar essa existência de negaças e galanteios em que ele consumira os primeiros anos da mocidade em qualquer ocasião revelava-se o seu modo grave e austero de
considerar agora a sociedade e de resolver as questões práticas da vida como uma cera Branda o homem de coração e de honra se formara aos toques da mão de Aurélia se o artista que szela o mármore enche-se de entusiasmos ao ver a sua concepção que surge do buril imagine-se quais seriam os júbilos da moça sentindo plasmar de sua alma a estátua de seu ideal Encarnação de seu amor assim apesar da esqu sucedera ao baile o drama dessa paixão encaminhava a um desenlace feliz quando um incidente veio complicá-lo perturbando seu desenvolvimento e precipitando desfecho já se
tinha desvanecido a impressão da cena violenta e voltava aos poucos à calma intimidade Fernando saíra para repartição ao chegar à cidade avistou com um negociante seu antigo conhecido encontrá-lo ten uma boa notícia a dar-lhe aquele privilégio afinal desencantou se qual privilégio perguntou Seixas surpreso ora já esqueceu não faz mais caso dessas ninharias o nosso privilégio de Minas de cobre Ah já sei atalhou o moço um tanto perturbada pois o Frey sempre conseguiu vendê-lo em Londres deram uma bagatela 50 contos de réis em todo caso é melhor que nada porque do tal cobre das minas meu
caro eu já não esperava nemhum tacho veio a notícia pelo último paquete fazia atenção de procurá-lo todos os dias e faltou-me o tempo felizmente encontrei o desculpe não há de que Senor Barbosa deduzidas umas despesas que se fizeram toca-nos a cada um cousa de 15 contos e pouco quando quiser recebe sua parte é mandar-me a cautela que lhe passei a cautela Aposto que a vendeu não devo tê-la em casa pois à vista dela passar bem despediu-se o Barbosa e Seixas continuou seu caminho mas distraído e perplexo a notícia dada pelo negociante sugeria lhe várias e
encontradas reflexões aquele privilégio era um póstumo da antiga existência que findar-se com seu casamento começara a desenvolver-se a febre das empresas um espertalhão teve a ideia da exploração de umas minas de cobra em São Paulo e para obter a concessão lembrou-se de associar à especulação um negociante que fornecesse os Fundos e um empregado que abrisse os canais administrativos Seixas achava-se em relações com o Freud e veio a ser o empregado escolhido a seu pedido o requerimento subiu ao Ministro como um balão cheio do gás de pomposas informações o despacho não se Demorou o oficial de
gabinete o alcançara fumando um charuto com seu Ministro e dando-lhe os mais amplos esclarecimentos não sobre a Projetada empresa mas sobre uma uma bela mulher por quem a excelência se apaixonara concedido privilégio tratou o Freud de negociá-lo muito esperançoso de obter pelo menos uns 300 contos mas essas esperanças mofar e os três Associados chegaram a acreditar que suas minas de cobra em papel valiam menos de que o Tacho velho pelo qual os carcamanos sempre dão uma meia pataca Seixas não pensou mais nisso e desde então ficou na ignorância das tentativas do e de seus cálculos
de probabilidade até receber nesse momento a notícia da venda do privilégio que lhe trazia de repente inesperadamente um lucro de 15 contos o primeiro e o mais vivo movimento que em Seixas produziu a notícia foi de alegria pelo ganho dessa quantia que tinha para ele um preço incalculável assaltou porém certo desgosto pela origem daquele dinheiro a intervenção de um empregado público nestes negócios se outrora lhe parecera lícita já não era apreciada por ele com a mesma tolerância quaisquer porém que fossem seus escrúpulos ele carecia desse dinheiro e julgava-se com direito de empregá-lo em serviço de
tamanho alcance como era aquele a que o destinava salva mais tarde a restituição da quantia por um meio indireto para descargo desses escrúpulos de consciência tomada esta resolução sobreveio um receio acerca da cautela passada pelo negociante como capitalista da empresa não recordava-se de ter visto o papel desde muito tempo talvez TRS anos onde andaria na queima que fizerem vésperas de casar-se teria sido poupada essa inutilidade grande importância devia Seixas ligar a esse negócio pois estando já a trabalhar na repartição interrompeu sua rigorosa assiduidade meteu-se em um tilburi e correu à casa esperando achar-se de volta
em uma hora fim do Capítulo 6 Parte 4 Capítulo 7 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni Senhora de José de Alencar Parte 4 Capítulo 7 deviam ser 11 horas quando tilb chegou a Laranjeiras Seixas embora não pensasse em ocultar para não curiosidade quea se não a perce de sua vol M subin interiormente elã fo salel hora a eaa costam est no interi passia sem que viss estranhou achar a porta da saleta cerrada embora não fechada com o trinco supôs que não estando presa ao rodapé pelo ferrolho o vento a
tivesse encostado empurrou-a devagar e entrou para estacar na soleira pálido e estupefato no sofá colocado ao longo da parede que lhe ficava à esquerda viu Aurélia sentada e conversando de um modo animado e instante com Eduardo Abreu que ocupava a cadeira próxima e tinha a cabeça baixa erguendo os olhos sem animar-se AF fitados na moça deu o mancebo com o vulto transtornado de Seixas em pé na porta a encará-lo e levantou-se por um impulso Irresistível Foi então que Aurélia avistou o marido cuja presença imprevista e semblante desmudar a perturbaram mas rápido quase imperceptivelmente com a
segurança que tinha de si prontamente recobrou se pode entrar Fernando disse ela a sorrir não quero perturbá-los respondeu Seixas desprendendo a custo a voz dos lábios secos o negócio é urgente tornou ela mas pode bem suportar a demora de alguns minutos sente-se senhor Abreu Seixas dera alguns passos automaticamente pela sala dentro não foi hoje a repartição perguntou Aurélia para disfarçar a confusão dos dos o marido e o hóspede voltei à procura de um papel que me esqueceu Com licença Seixas aproveitara o primeiro ensejo para fugir desse lugar onde temia representar alguma cena ridícula ou medonha
fazendo um cumprimento a esmo retirou-se apressado na direção de seus aposentos se até ali tinha necessidade de dinheiro agora mais do que nunca foi direto à sua secretária abriu a gaveta on os seus papéis antigos espos pelo de mistura com outos objetos encontrando a ca que procur sapit abando o vib logse estende mão Abreu dizendo-lhe não tenho direito de recusar e eso que não Me prive desta satisfação Adeus seja feliz o mancebo apertou comovido a mão Gentil que lhe era oferecida com tanta sinceridade e balbuciando expressões de reconhecimento despediu-se apenas ele desapareceu na escada Aurélia
dirigiu-se ao gabinete do marido bateu à porta e chamou-o não recebendo resposta entrou a primeira coa que viu Foi a gaveta da secretária escancarada e arruma de papéis atirada sobre o pavimento a moça certificou-se que Seixas não estava em casa adivinhou que saíra pela escada particular cuja porta fechara levando a chave lançando um olhar aos papéis esparsos e Resistindo a ânsia de conhecer aquelas relíquias de um passado que não lhe pertencia encaminhava à porta para sair Eis que descobriu entre maços de cartas um trabalho de Tapeçaria apanhou-o para examinar com simples curiosidade artística era uma
fita de marcar folha de livro tinha bordados a fio de ouro de um lado a palavra amor do outro lado em semicírculo o nome Rodrigues de Seixas no centro do qual estava um monograma composto de um F e um a Entrelaçados esta prenda de Adelaide Amaral e a alusão ao próximo casamento feita na comunidade do apelido não diziam novidade a Aurélia ela sabia cousas maises para seu amor porém o tempo tinha espido da mema era a cicatriz que essaa veio uler todo doos de que mal comea aprendi de ante ela espetro novem hora que ali
esteve imóvel todas as aflições E angústias que havia sofrido durante 2 anos esta fita Escarlate queimava lhe os olhos e os dedos Como uma lâmina em brasa e ela não tinha forças para retirar a vista e a mão das Letras de ouro e púrpura que entrelaçavam com o nome de seu marido o nome de outra mulher Afinal prorrompeu a indignação a Seda rangu entre as mãozinhas crispadas que debalde tentaram os peda sála não conseguindo seu intento a moça levou a boca a fita um Soberbo ímpeto de Cólera cortou com os dentes os fios que teciam
as letras e dilacerou a prenda de sua rival atirou então de si com ASC os fragmentos mas em lugar onde não escapassem a vista do marido e foi encerrar-se em seu tocador Seixas entrou à hora habitual de ordinário passava pela saleta onde sempre encontrava a mulher que já vestida para a tarde vinha esperá-lo trocavam algumas palavras depois do que ele ia ao seu quarto preparar-se para o jantar nesse dia subiu pela escada particular já estava senhor de si mas quis evitar o encontro naturalmente porque necessitava daqueles momentos efetivamente logo que chegou ao gabinete sem dar-se
ao trabalho de apanhar os papéis que jaziam pelo chão nem aperceber-se dos fragmentos da fita que estavam em cima da secretária abriu uma gaveta de segredo tirou um livrinho de notas de que est traiu alguns algarismos sobre estes começou uma série de cálculos e operações que o absorveram até o momento de chamá-lo criado para jantar Aurélia não podia ocultar sua irritação criou o marido de remoque e epigramas nem a inofensiva dona Firmina escapou a essa veia sarcástica mas o alvo principal foi Adelaide sobre quem choveram as alusões Seixas mostrou-se indiferente às provocações Deixou passar os
motejo sem redarguir mas sua fisionomia desdenhosa e sobranceira opunha à exacerbação da moça fria e surda resistência que ainda mais a irritava o orgulho contrariado de Aurélia acava o Gume as suas armas para abater aquela atitude de ameaça que a afrontava mas não conseguiu as lutas constantes tinham acabado por aguerrir o caráter de Fernando e afinar lhe a têmpera ao erguer-se da mesa a moça lançou ao marido um olhar de desafio e foi esperá-lo ao Jardim no lugar retirado onde costumavam reunir-se de tarde para conversarem em mais Liberdade Fernando aoua sentada em um banco rústico
na posição altiva e imperiosa de uma rainha que se prepara a ouvir as súplicas dos súditos prostrados suas plantas descansava o braço direito sobre a Copa en folhada de um bogarim cujas flores esmagava entre os dedos seix sentou-se de fronte não tenho e nunca tive senhora pretensões a seu amor seria uma rematada loucura eu acho-me no uso frio e calmo de toda a minha razão para ver a barreira que nos separa também não tenho o direito de pedir-lhe contas de seus sentimentos nem mesmo de suas ações Desde que não ofendam aquilo que o homem preza
acima de todos os bens abdicando na senhora minha liberdade e com ela minha pessoa uma cousa porém não lhe transferi e não o podia a minha honra e de que serve a mim esse traste a sua honra não me dirá interrogou Aurélia com a sátira mais picante no olhar lembre-se que a senhora fez-me seu marido e que eu ainda o sou vendesse lhe eu embora esse título e as obrigações que a ele correspondem a origem não importa ele existe e ata-me esse direito reconhecido ou antes conferido por si mes mesma o direito que tem todo
o esposo senão à fidelidade da mulher ao menos ao respeito da Fé conjugal e ao decoro da família ah deseja que se guardem as aparências E contenta-se com isso por enquanto Aurélia relanceou um olhar com o intento de surpreender o pensamento do marido na expressão da fisionomia terá a bondade de dizer-me qual é esse escândalo de que se queixa já não se recorda acha muito naturais as liberdades que tem deixado tomar esse moço Eduardo Abreu haverá um mês em uma noite de partida a senhora conversava com ele de um modo que deu tema à pilhérias
do Moreira nessa ocasião Não castiguei a insolência desse fato para evitar uma cena foi na noite da valsa não contente com isso leva a inconveniência a ponto de receber Aquele Moço na ausência de seu marido e só en coloque o reservado como os encontrei acabou creio que é bastante bem toca minha vez de responder como o confessou Não lhe devo conta de minhas ações só o homem a quem eu amasse teria o direito de mas pedir quero porém supor um momento que o senhor fosse esse homem hipótese absurda que eu figuro somente para mostrar-lhe que
ainda assim é para estranhar a sua suscetibilidade oh pareço lhe um hotelo disse Fernando a chasquear não hotelo tinha razão em todos os seus ultrag e brutalidades amava e compaixão mas o senhor não é aqui outraa mais do que o advogado da decência Fernando esmagado pelo sarcasmo contra o qual não podia reagir teve ímpetos de confessar a essa mulher toda a insânia do amor que sentia e depois quando ela exult com seu Triunfo e a humilhação dele a batê-la a seus pés fim do Capítulo 7 Parte 4 Capítulo 8 de senhora esta gravação librivox está
no domínio público Senhora de José de Alencar Parte 4 Capítulo 8 Aurélia continuou com os olhos fitos nas alvas pétalas aveludadas de um jasmim do cabo o recato é o mais puro véu de uma senhora feliz aquela que vive a sombra do Zelo materno e só a deixa pelo abrigo do amor santificado sua virtude tem como esta flor a teis Imaculada e o perfume Vivo essa aventura não me tocou achei-me só no mundo sem Amparo sem guia sem conselho obrigada a abrir o caminho da vida através de um mundo desconhecido desde muito cedo vime exposta
as suspeitas as insolências e as viis paixões habituei-me para lutar com essa sociedade que me aterra a envolver-me na minha altivez desde que não tinha para guardar-me o desvelo de uma mãe ou de um esposo a expressão tocante melancólica da moça ao proferir essas palavras comu Seixas que já não se lembrava de seus ressentimentos Quando Eu Era Uma Menina Ingênua que não deixava acompanhia de sua mãe e nunca se achara só em presença de outro homem a não ser aquele a quem amava e unicamente amou neste homem abme por out por outa e foi entrelar
o se nome ao de uma era noiv outrem tme Porã Eos que mais só vees de reposto esse homem desabusado casou-se comigo sem a men repugnância a moça fitou os olhos no marido confesse que os escrúpulos desse Senhor e o seu Pânico de escândalo vem tarde fora de tempo esses escrúpulos nascem da posição atual outro Engano seu essa posição é um encargo e não um direito o senhor falou-me em sua honra penso eu que a honra é um estímulo de coração que resta dela quem alienou o seu o senhor tem uma honra e eu acredito
essa me pertence eu posso usar e abusar dela como me aprouver assim julga-se dispensada de guardar qualquer reserva para o senhor e para o mundo julgo dispensada de tudo nada lhes devo que me dão são apenas as homenagens à riqueza e ela as paga com o luxo e a dissipação sou Senhora de mim e pretendo gozar da minha Independência sem outras restrições Além do Meu Capricho foi o único bem que me ficou do naufrágio de minha vida este ao menos he de defendê-lo contra o mundo agradeço-lhe ter me desiludido a tempo acreditava que sacrificando a
liberdade Não renunciava a minha honra perante o mundo e não me sujeitava ser apontado como um indigno a senhora entende o contrário aplaudo esta colisão ela vem a propósito para romper uma situação intolerável que já durou demais para a dignidade de ambos sobretudo daquele que tendo alienado sua pessoa em um casamento livre e refletido conserva as prendas de outra noiva Seixas surpreso interrogou a mulher com os olhos nunca pensei ter feito a aquisição de seu amor nem contei com a fidelidade Que jurou mas esperava do Senhor ao menos a lealdade do negociante que depois de
vendida a mercadoria não substitui por outra marca a do comprador Seixas Não podia a compreender esta alusão cujo sentido só atinou mais tarde quando ao entrar no gabinete viu os destroços da prenda de Adelaide quis pedir a explicação mas avistou um criado que dirigia-se para Li está aí o senr Eduardo Abreu que deseja falar a senhora bem disse Aurélia despedindo com um gesto criado que afastou-se Seixas custou a conter-se até esse momento a senhora não pode receber esse homem era minha intenção tinha o recebido esta manhã pela última vez mas à vista de sua desconfiança
mudei de resolução respondeu Aurélia friamente pois saiba que hoje depois que saiu de sua casa encontrei o de face na rua e recusei claramente o cumprimento voltando-lhe às costas razão demais para que o receba é preciso convencê-lo de que foi uma simples distração de sua parte para não supor ele que o senhor honrou com uma suspeita que ultraja me Aurélia tomou o braço do marido e dirigiu-se à saleta onde acharam o Eduardo abriu os dois mancebos trocaram um cumprimento seco e cerimonioso depois do qual Seixas foi debruçar-se janela ao lado de Dona Firmina e deixou
a mulher em liberdade com sua visita desculpe-me esta insistência um dever de lealdade à justiça hoje tive de repelir a um leviano certa insinuação viil e logo depois encontr do Senor Seixas percebi diferença notável em seu tratamento alguma preocupação afligiu me a ideia de ser causa involuntária ou mesmo pretexto de qualquer desconfiança e por isso vim desistir da promessa que me fez do segredo sobre seus benefícios e confessar eu próprio a seu marido tudo quanto lhe devo a fim de que ele ainda mais admire a nobreza de sua alma essa confissão o senhor não a
fará seria uma ofensa grave a minha min dignidade meu marido não carece de seu testemunho para conservar-se na mesma elevada estima inacessível aos assaltos da maledicência no dia em que eu precisasse justificar-se estaria divorciada pois se teria extinguido a confiança que é o primeiro vínculo do amor e a verdadeira graça do casamento esteja tranquilo pois seu segredo não lançou a menor sombra em minha felicidade a moça disse essas palavras com Uma emoção que persuadiu a abriu e desvaneceu lhe os receios de seu lado Seixas tinha refletido em Véspera de uma resolução definitiva que devia operar
mudança profunda em seu destino pareceu-lhe fraqueza esse ridículo desabafo semelhante aos agastamento do ciúme banal que ele acreditava não sentir fazendo portanto um esforço aproximou-se do abru com a maneira Cortez porque o costumava tratar e confirmou assim a explicação dada por Aurélia ao incidente da manhã essa noite era de partida a reunião não foi numerosa Mas correu animada Fernando esteve muito alegre nunca se ocupou tão ostensivamente da mulher como nessa noite não a deixava as mais delicadas flores as mais galantes finezas que se disseram naquela escolhida sociedade foram del a Aurélia Aurélia pelo contrário mostrou-se
preocupada essa amenidade depis da cena do Jardim a inquietava seu pesar por mais esforços que fizesse não podia arar seu espírito das palavras proferidas por Seixas Naquela tarde acerca de um rompimento que devia solver a suposta colisão qual intenção era sua nesse problema fatig o espírito durante a noite no dia seguinte seas almou às 8 hor conforme o ordinário e parti a essa hora Aurélia ainda estava recolhida mas seu quarto de dormir que ficava no pavimento superior deitava janelas para o Jardim da última delas via perfeitamente parte da sala de jantar onde estava a mesa
a moça tinha uma devoção de todas as manhãs quando ouvia o rumor dos Passos deixas na escada soltava da cama e envolta na sua colcha de Damasco para não perder tempo a vestir o roupão corria a janela porre um inst olar temp como nin noã poré ter t sentirse contemplando o sem de com um sentimento de tristeza que não podia desterrar de si um pressentimento vago advertia lhe que Não deixasse partir seu marido sob a impressão dos sarcasmos implacáveis que lhe tinha lançado na véspera mas triunfou a altivez de Seu Amor Ainda maguada pelas recordações
pungentes que havia acordado em sua alma à vista do mimo de Adelaide Seixas saiu e ela para disfarçar a impaciência logo depois do almoço meteu-se no carro com Dona Firmina e foi gastar o tempo na Rua do Ouvidor por causa das modistas e das amigas procurava nas novidades parisienses nas tentações do Luxo um atrativo que lhe cativasse o pensamento e o arrancasse à suas inquietações conseguiu atordoar se até 4 horas em que chegou à casa Seixas Não estava o que era extraordinário não havia exemplo de ter excedido dessa hora Aurélia disfarçou para não mostrar seu
desassossego a dona firm criados recolheu-se a seus aposentos para mudar o vestu mas encostou-se ao portal da janela com os olhos no camins 5 hor veio aama chamla senhora não veem jantar na mes quem mandou deitar são 5 hor e Senor disse ao José para prevenir a senora que TZ não voltasse hoje senão muito tarde quando falou o senhor com José esta manhã na cidade e não disse a razão porque se demorava Não sei vou chamá-lo o José interrogado nada adiantou de modo que Aurélia permaneceu na mesma inquietação Mas para não dá-la perceber a dona
Firmina atribuiu a ausência do marido à conferência que ele devia ter com o ministro acerca de trabalhos importantes da repartição quando sentavam-se à mesa abriu-se a porta e entrou Seixas a surpresa Não deu tempo a Aurélia para dominar o primeiro de sua alegria que logo arrefeceu ante a fisionomia de Seixas ele trazia Na expressão rígida e grave do rosto o cunho de uma resolução inflexível entretanto não apartou da Natural polidez desculpou-se delicadamente com a mulher pela demora precisava concluir um negócio urgente que lhe comunicarei e concluiu felizmente perguntei para saber se devia esperá-la amanhã agora
Creio que não há de esperar mais por mim tornou Seixas com um sorriso fugaz Aurélia viu o sorriso e sentiu a modulação especial da voz terminado o jantar quando seguiam ambos pelos meandros recortados na grama Seixas disse a mulher desejo falar-lhe em particular Vamos sentarnos então disse Aurélia indicando o sítio onde habitualmente passavam As Tardes aqui no Jardim não prefiro um lugar mais reservado onde não venham interromper noos no meu tocador serve ou no seu Gabinete no seu toucador é melhor já perguntou a Aurélia simulando indiferença não basta a noite e se não lhe incomoda
depois do chá antes de recolher-se como quiser disse Aurélia abrindo as folhas das Violetas a cata de uma flor Seixas tomou o regador da moça guardado com os outros utensílios de jardinagem Em um ninho rústico praticado no muro e entreteve se a regar os tabuleiros de Margaridas e os vasos de Hortênsias uma vez na volta do repuxo onde fora buscar água ao passar perto de Aurélia a moça perguntou-lhe distraído como se não tivessem interrompido o diálogo É sobre o negócio de que falou-me justamente Seixas ficou parado em frente de Aurélia supondo que ela ia fazer-lhe
Nova pergunta enquanto a moça esperava uma explicação que não queria pedir diretamente vendo que o marido calava-se voltou de novo às Violetas e ele continuou em sua ocupação fim do capítulo 8it parte 4 Capítulo 9 de senhora esta gravação librivox está no domínio público gravado por Leni senhora de José de lencar parte 4 Capítulo 9 eram 10 horas da noite Aurélia que se havia retirado mais cedo da saleta trocando com o marido um olhar de inteligência esta nesse momento em seu tocador sentada em frente à elegante escrivaninha de arib cor de rosa com relevos de
bronze Dourado a fogo a moça trazia nessa ocasião um roupão de cetim Verde Cerrado a cintura por um cordão de fios de ouro era o mesmo da noite do casamento e que desde então ela nunca mais usara por uma espécie de superstição lembrar-se de vesti-lo de novo nessa hora na qual a crer em seus pressentimentos iam decidirse Afinal o seu destino e a sua vida a moça reclinar à Fronte sobre a mão direita cujo braço nu apoiado na mesa surgia de entre os rufos de Cambraia que froc a manga do rp esta absa em uma
profunda cisma da qual arrancou o tímpano da pêndula soando as horas ergueu-se então e tirou da gaveta uma chave atravessou a câmara nupcial que estava às escuras apenas esclarecida pelo reflexo do toucador e abriu a f m aquela porta que havia fechado 11 meses antes num ímpeto de indignação e horror empurrando a porta com estrépito de modo a ser ouvida no outro aposento e prendendo posteiro para deixar Franca a passagem voltou rapidamente depois de proferir estas palavras quando quiser Fernando ao penetrar nessa Câmara nupcial cheia de sombras e silêncio Esqueceu Um momento a pungente recordação
que ela devia vivar e que parecia ter se apagado com a escuridão o que ele sentiu foi a fragrância que ali recendia que o envolveu como a atmosfera de um céu do qual ele era o Anjo decaído Aurélia esperava o marido outra vez sentada a escrivaninha ela tinha afastado o braço da arandela de modo que a luz do gás interceptada por um refletor de Jaspe representando o carro da Aurora deixava a imersa em uma penumbra diáfana que dava a sua beleza tons de maviosa suavidade Seixas sentou-se na cadeira que Aurélia lhe indicara frente dela e
depois de recolher-se um instante buscando o modo Por que devia começar entregou-se à inspiração do momento é a segunda vez que a vejo com este roupão A primeira foi há cerca de 11 meses não justamente neste lugar mas perto daqui naquele aposento deseja que conversemos no mesmo lugar perguntou a moça singelamente não senhora este lugar é mais próprio para o assunto que vamos tratar lembrei aquela circunstância unicamente pela coincidência de representá-la a meus olhos tal como a vi naquela noite de modo que parece continuar uma entrevista suspensa recorda-se de tudo eu Suponho haver feito umaa
muito vulgar que o mundo ten admitido com o nome de casamento de conveniência a senhora desenganou definiu a minha posição com a maior clareza mostrou que realizaram uma transação Mercantil e exibiu o seu título de compra que naturalmente ainda conserva é a minha maior riqueza disse a moça com um tom que não se podia distinguir se era de ironia ou de emoção Seixas agradeceu com uma inclinação de cabeça e prosseguiu se eu tivesse naquele momento os 20 contos de réis que havia recebido de seu tutor por adiantamento de dote a questão resolvia isse de si
mesma desfazia-se O equívoco restituí-los o dinheiro recuperava minha palavra e separávamos noos como fazem dois contratantes de boa fé que reconhecendo seu engano desobrigam se mutuamente Seixas parou como se aguardasse uma contradição que não apareceu Aurélia recostada na cadeira de braço com as pálpebras a meio cerradas ouvia brincando com um punhal de de madrepérola que servia para cortar papel mas os 20 contos eu já os não possuía naquela ocasião nem tinha onde havê-los Em tais circunstâncias restavam duas alternativas trair a obrigação estipulada tornar-me um caloteiro ou respeitar a fé do contrato e cumprir minha palavra
apesar do conceito que lhe mereço faça-me a justiça de acreditar que a primeira dessas alternativas eu não a formulei senão para repelir o homem que se vende pode depreciar se mas dispõe do que lhe pertence aquele que depois de vendido subtrai-se ao dono rouba o alheio dessa infâmia isentei eu aceitando o fato consumado que já não podia conjurar e submetendo lealmente com o maior escrúpulo à vontade que eu reconhecer a como Lei e a qual me alienara invoco sua consciência por mais sever que se mostre a meu respeito estou certo que não me negará uma
virud a fidelidade à minha palavra não senhor cumpri como um Calheiro é o que desejei ouv de suaa antes de informá-la do motivo desta a qua que me FT 11 meses na noite deo eu a possuo finalmente tenho comig trago aqui nesta carteira e com ela venho negociar o meu Resgate estas palavras romperam dos lábios de Seixas com uma impetuosidade que ele dificilmente pode conter como se elas lhe desoprimir o peito de um peso grande respirou vivamente apertando com movimento sôfrego a carteira que tirara do bolso se não estivesse tão preocupado com a sua própria
comoção Notaria de certo a percussão íntima que sofrera Aurélia cujo talhe reclinado sobre o descanso da cadeira como a lâmina de uma mola de Aço o sobressalto que a agitou levara à boca a folha de madrepérola na qual os lindos dentes rangeram ao abrir a carteira Seixas suspendeu o gesto antes de concluir a negociação devo revelar-lhe a origem deste dinheiro para desvanecer qualquer suspeita de o ter eu obtido por seu crédito e como seu marido não senhora adquiri por mim exclusiv mente e para a maior tranquilidade de minha consciência prové de data anterior ao nosso
casamento cerca de seis contos representam o produto de meus ordenados e das joias e trastes que apurei logo depois do cativeiro pensando já na minha Redenção ainda tinha muito que esperar e talvez me faltaria resignação para ir ao cabo se Deus não abreviasse este martírio fazendo um milagre em meu favor era sócio de um privilégio concedido H 4 anos e do qual já nem me lembrava anteontem a mesma hora em que a senhora me submetia à mais dura de todas as provas o céu me enviava um socorro imprevisto para quebrar Enfim este julgo vergonhoso recebi
a notícia da venda do privilégio que me trouxe um lucro de mais de 15 contos aqui estão as provas Aurélia recebeu da mão de Seixas vários papéis e correu os olhos por eles gostavam de uma declaração do Barbosa relativa ao privilégio e contas de vendas de joias e outros objetos agora nossa conta continuou Seixas desdobrando uma folha de papel a senhora pagou 100 contos de réis 80 em um cheque do Banco do Brasil que lhe restituo intacto e 20 em dinheiro recebido H 330 dias ao juro de 6% essa quantia lhe rendeu 1 conto 84000
R 710 tenho pois de entregar-lhe 21 contos R 84.71 além do cheque não é isto Aurélia examinou a conta corrente tomou uma pena e fez com facilidade o cálculo dos juros está exato então Seixas abriu a carteira e tirou com o cheque 21 maços de notas de conto de réis cada um além dos quebrados que depositou em cima da mesa tenha bondade de contar a moça com a fleuma de um negociante abriu os maços um após outro e contou as cédulas pausadamente quando acabou essa operação voltou-se para Seixas e perguntou-lhe como se falasse ao procurador
incumbido de receber o dividendo de suas apólices está certo quer que eu lhe passe um recibo Não há necessidade Basta que me restitua o papel de venda É verdade não me lembrava Aurélia hesitou um instante parecia recordar-se do lugar onde havia guardado o papel mas o verdadeiro motivo era outro consultava receosa de revelar sua comoção caso se levantasse faça-me o favor de abrir aquela gavetinha a segunda dentro h de estar um maço de papéis atado com uma fita azul Justamente não conhece esta fita foi a primeira coa que recebi de sua mão com um ramo
de Violetas ah perdão estamos negociando aqui tem seu título a moça tirara do maço um papel e o deu a Seixas que fechou na carteira enfim partiu-se o vínculo que nos prendia reassumir a minha liberdade e a posse de mim mesmo não sou mais seu marido a senhora compreende a solenidade deste momento é o da nossa separação confirmou Aurélia talvez ainda nos encontremos neste mundo mas como do desconhecidos creio que nunca mais disse Aurélia com o tom de uma profunda convicção em todo caso como esta última vez que lhe dirijo a palavra quero dar-lhe agora
uma explicação que não me era lícita 11 meses na noite do nosso casamento então eu faria a figura de um coitado que arma a compaixão e a senhora que pisava aos pés a minha probidade não acreditaria uma palavra do que então lhe dissesse a explicação é supérflua ouça-me desejo que em um dia remoto quando refletir sobre este acontecimento me restitua uma parte da sua estima nada mais a sociedade no seio da qual me eduquei fez de mim um homem a sua feição o luxo dava meus Vícios e eu não via através da Fascinação o materialismo
a que eles me arrastavam hab habituei-me a considerar a riqueza como a primeira Força Viva da existência e os exemplos ensinavam-se que o casamento era meio tão legítimo de adquiri-la como a herança e qualquer honesta especulação entretanto ainda assim a senhora me teria achado inacessível à tentação se logo depois que seu tutor procurou-me não surgisse uma situação que aterrou me não somente vi-me ameaçado da pobreza e o que mais me afligia da pobreza endividada como achei-me o causador embora involuntário da infelicidade de minha irmã cujas economias eu havia consumido e que ia perder um casamento
por falta de enxoval ao mesmo tempo minha mãe privada dos módicos recursos que meu pai lhe deixara e de que eu tinha disposto imprevidentes que os poderia refazer mais tarde tudo isto abateu me não me defendo eu devia resistir e lutar Nada justifica a abdicação da dignidade hoje saberia afrontar a adversidade e ser homem Naquele tempo não era mais que um ator de sala sucumbi Mas a senhora regenerou e o instrumento foi esse dinheiro eu lhe agradeço Aurélia ouviu imóvel Seixas concluiu eis o que pretendia dizer-lhe antes de separarmos para sempre também eu desejo que
não leve de mim uma suspeita injusta como sua mulher não me defenderia desde porém que já não somos nada um para o outro Ten o direito de reclamar o respeito devido a uma senhora Aurélia referiu sucintamente o que Eduardo Abreu fizera quando falecera Dona Emília e a resolução que ela Tomara de salvá-lo do suicídio eis a razão porque chamei Esse moço à minha casa seu segredo não me pertencia e entre mim e o senhor não existia a comunidade que faz de duas almas uma Aurélia reuniu o cheque e os maços de dinheiro que estavam sobre
a mesa este dinheiro é abençoado Diz o Senhor que ele o regenerou e acaba de o restituir muito a propósito para realizar um pensamento de caridade E servir a outra Regeneração a moça abriu uma gaveta da escrivaninha e guardou nela os valores depois do que bateu o tímpano a mucama apareceu permita-me disse Aurélia e voltou-se para dar em voz baixa uma ordem à escrava esta acendeu o gás nas arandelas da câmara nupcial e retirou-se enquanto Aurélia dizia ao mostrando o aposento iluminado não quero que erre o caminho agora não há perigo agora repetiu a moça
com um olhar que perturbou seas houve uma pausa talvez a senhora para evitar a curiosidade pública deseja um pretexto para qu A Viagem à Europa seria o melhor o paquete deve partir nestes 15 dias uma prescrição médica tudo explicará a separação e mais tarde quando venham a saber já não causará surpresa Aurélia deixou perceber ligeira comoção entretanto foi com a voz firme que respondeu desde que uma ca se tem de fazer o melhor é que se faça logo e sem evasivas Fernando ergueu-se de pronto neste caso Receba as minhas despedidas Aurélia de seu lado erguera-se
também para cortejar o marido Adeus senhora acredite sem cumprimentos atalhou a moça que poderíamos dizer um ao outro que já não fosse pensado por ambos tem razão Seixas recuou um passo até o meio do aposento e fez uma profunda cortesia a qual Aurélia respondeu depois atravessou lentamente a câmara nupcial agora iluminada quando erguia o reposteiro ouviu a voz da mulher um instante disse Aurélia chamou-me o passado está extinto estes 11 meses não fomos nós que os vivemos mas aqueles que se acabam de separar e para sempre não sou mais sua mulher O senhor já não
é meu marido somos dois estranhos não é verdade Seixas Confirmou com a cabeça pois bem agora ajoelho-me eu a teus pés Fernando e suplico-te que aceites meu amor este amor que nunca deixou de ser teu ainda quando mais cruelmente ofendia te a moça travar das mãos de Seixas e o levara Arrebatados lugar onde cerca de um ano antes ela infringir o mancebo ajoelhado a seus pés A cruel afronta aquela que te humilhou aqui a tens Abatida no mesmo lugar onde ultrajou nas iras de sua paixão a a tens IMP adorando seu perdão e feliz porque
te adora como senhor de sua alma Seixas ergueu nos braços à Formosa mulher que ajoelhar seus pés os lábios de ambos se uniam já em Fido beijo quando um pensamento funesto perpassou no espírito do marido ele afastou de si com gesto grave a linda cabeça de Aurélia iluminada por uma Aurora de amor e fitou nela o olhar repassado de profunda tristeza não Aurélia tua riqueza separos para sempre a moça desprendeu-se dos braços do marido correu ao tocador e troue um pap lacrado que entregou a seas o que é isto auréa meu Testamento ela despedaçou o
lacre deu a ler a seas o papel era efetivamente um testamento em que ela confessava o imenso amor que tinha a marido e o instituí seu Universal herdeiro eu o escrevi logo depois do nosso casamento pensei que morresse naquela noite disse Aurélia com um gesto Sublime Seixas contemplava os olhos rasos de Lágrimas esta riqueza causa te horror pois faz-me viver meu Fernando é o meio de arre repelir se não for bastante eu a dissiparei as cortinas cerraram-se e às auras da noite acariciando o seio das Flores cantavam o hino misterioso do Santo amor conjugal fim
do capítulo nove fim de senhora de José de Alencar