PRECONCEITO LINGUÍSTICO: o que é, como se faz (Marcos Bagno) AULA 3

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Felipe Aragão
Aula 3 - A desconstrução do preconceito linguístico BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é,...
Video Transcript:
[Música] Oh e vamos agora ao capítulo 3 A desconstrução do preconceito linguístico e como nós poderíamos romper o círculo vicioso do preconceito linguístico é uma coisa é nós não podemos deixar de reconhecer existe atualmente uma crise no ensino de língua portuguesa muitos professores alertados em debates e conferências ou pela leitura de bons textos científicos já não recorrem então exclusivamente à gramática normativa como única fonte de explicação para os fenômenos linguísticos muita gente acredita e defende que as variedades urbanas de prestígio é que devem constituir o objeto de ensino-aprendizagem em sala de aula mas como é
que se faz isso não é difícil perceber que o acesso as formas prestigiados de falar por diversas razões de ordem econômica política social e cultural é algo reservado a pouco as pessoas no Brasil e nós temos aqui alguns problemas básicos que contribui para esse círculo vicioso a quantidade injustificável de analfabetos que existem neste país somando-se a isso nós temos milhões de jovens que não cursam ensino médio que só atende metade do público que deveria estar nesse nível de escolaridade temos também um alto índice de analfabetos funcionais Isto é pessoas que frequentam a escola por um
período insuficiente para desenvolver plenamente as habilidades de leitura e redação a média de escolarização da força de trabalho no Brasil é de 3,9 anos baixíssimo para um país classificado como emergente e que aspira a ser uma das economias mais importantes do planeta China bem maior que o Brasil e com a população de mais de 1 milhão de habitantes tem seis por cento de analfabetos enquanto o Brasil tem 12 vir e as formas prestigiados de uso da língua como nós vimos estão tradicionalmente vinculadas a escrita literária a escrita de modo mais Geral com tantos analfabetos plenos
e funcionais lamentar a decadência ou a corrupção da língua culta no Brasil é no mínimo uma atitude cínica por razões históricas e culturais a maioria das pessoas plenamente alfabetizadas não cultivam nem desenvolvem suas habilidades linguísticas ou seja não cultivam nem desenvolvem seu próprio letramento na sua inserção no universo letrado ler e sobretudo escrever não fazem parte da cultura das nossas classes sociais mais escolarizados e o ensino Tradicional em vez de incentivar o uso das habilidades linguísticas do indivíduo deixando este indivíduo se expressar livremente para só depois ele corrige a sua fala ou a sua escrita
age exatamente ao contrário interrompe o fluxo natural da expressão e da comunicação com atitude corretiva e muitas vezes punitiva tendo aqui por consequência inevitável a criação de um sentimento de incapacidade de incompetência o dilema relativo a norma padrão se prende ao fato de que esse termo norma-padrão às vezes sobre a forma enganosa e impreciso de Norma culta né É porque Norma culta faz referência a norma que faz parte de uma cultura se nós temos Norma culta teríamos portanto uma Norma inculta né uma Norma que não faz parte da cultura O que é impossível portanto nós
temos aqui a crítica é esse a fatura Norma culta tudo seria Cultura né Então essa esse dilema em relação à Norma padrão é utilizado pela tradição gramatical conservadora para designar uma modalidade de língua que não corresponde a língua efetivamente usada pelas pessoas cultas do Brasil nos dias de hoje mas sim ao ideal linguístico inspirado no português Literário de Portugal nas opções estilísticas dos grandes escritores do passado nas regras sintáticas que mais se aproximem dos modelos da gramática Latina ou simplesmente no gosto pessoal do gramático para Napoleão Mendes de Almeida por exemplo o certo é dizer
eu odio e não eu odeio é preciso haver aqui pessoal para combater isso para combater esse preconceito linguístico é preciso haver aqui uma mudança de atitude cada um de nós Professor ou e precisa elevar o grau da própria autoestima linguística recusar com veemência os velhos argumentos que vivem menosprezar o Saber linguístico individual de cada um de nós temos de nos impor como falantes competentes de nossa língua materna da parte do professor em geral e da professor de língua em específico essa mudança de atitude deve refletir-se na não aceitação de dogmas na adoção de uma postura
crítica em relação ao seu próprio objeto de trabalho é necessário lançar dúvidas sobre o que está sendo dito questionar a validade daquelas explicações filtrá-las tomando inclusive como base seu próprio saber linguístico devidamente valorizado posta a dúvida passa-se a investigação ao levantamento de hipóteses A Busca de explicações que esclareçam o fenômeno que provocou questionamento e do ponto de vista prático a nova postura pode ser representada na eliminação de uma única sílaba em vez de reproduzir a tradição gramatical o professor deve produzir seu próprio conhecimento da gramática transformando-se num pesquisador no orientador de Pesquisas a serem empreendidas
em sala de aula junto com seus alunos parar de querer entregar regras mal descritas regras já prontas e começaram a descobrir métodos inteligentes e prazerosos para que os próprios aprendizes deduzam essas regras em textos vivos coerentes bem construídos interessantes tanto de língua escrita como de língua falada a gramática normativa tenta nos mostrar a língua como o pacote fechado um embrulho pronto e acabado mas não é assim a língua é viva dinâmica está em constante movimento toda a língua viva é uma língua em decomposição e enr a missão em permanente transformação tudo muda universo e a
língua também a comparação da língua ao Rio faz a Wagner que lembrar o filósofo Heráclito que disse que ninguém se banha duas vezes no mesmo Rio na segunda vez já não é a mesma pessoa já não é o mesmo rio mas afinal de contas O que é ensinar português que objetivo pretendemos alcançar com a nossa prática em sala de aula ensinar português tem que ser antes de mais nada ensinar a ler e escrever a tarefa da educação linguística EA tarefa do letramento constante e ininterrupto dos alunos o ensino da gramática normativa mais estrita essa obsessão
tecnológica a paranoia classificatória o apego a nomenclatura nada disso serve para formar um bom usuário da língua em sua modalidade mais prestigiada falada ou escrita a força se para que o aluno conheça de cor o nome de todas as classes de palavras saiba identificar os termos da oração e classifique as orações segundo os seus tipos de cor as definições tradicionais sujeito-objeto breve o conjunção nada disso é garantia de que esse aluno se tornará um usuário competente da escrita mais monitorada nós professores temos sim que conhecer profundamente né Essa estrutura da língua a mecânica do idioma
porque nós somos os instrutores os especialistas os técnicos mas não os nossos alunos romper com círculo vicioso do preconceito linguístico é reavaliar a noção de erro a noção tradicional de erro é que permite que pessoas comuns sacconi José Machado Dad squarisi e outros escrevam livros Absurdos enfim do milhares de exemplares deles uma a porcentagem no que se rotula de erro de português é na verdade mero desvio da ortografia oficial no exercício de pesquisa sugerido por um livro didático chamado Nossa palavra após apresentar aqui o poema erro de português de Oswald de Andrade os autores pedem
ao aluno para localizar erros de português em cartazes placas ou até mesmo na fala de pessoas que você conhece transcrevendo os em seu caderno hora em cartazes e placas não aparecem erros de português e sim erros de ortografia ortografia oficial é fruto de um gesto político é determinada por decreto é resultado de negociações e pressões de toda ordem e geopolíticas e econômicas e ideológicas esse tipo de exercício além de confundir português coreografia de português também admite implicitamente a existência de erros na fala de o que você conhece do ponto de vista científico simplesmente não existe
erro de português todo falante nativo de uma língua é um falante plenamente competente desta língua capaz de discernir intuitivamente a gramaticalidade ou a gramaticalidade anunciado ou seja se o enunciado obedece ou não as regras de funcionamento da língua ninguém comete erros a falar sua própria língua materna assim como ninguém comete erros ao andar ou ao respirar só Sierra naquilo que é aprendido naquilo que constitui um saber secundário obtido por meio de Treinamento prática memorização a língua materna não é um saber desse tipo ela é adquirida pela criança desde o útero e é absorvida junto com
leite materno por isso qualquer criança entre os 45 anos de idade já domina plenamente a gramática de sua língua poderíamos até dizer que existem erros é só que nem um falante nativo da língua cometeria esses erros de português e por exemplo seriam errados os enunciados abaixo aquela garoto me xingou eu nos vimos ontem na escola Julia chegou semana que vem esses enunciados precisamente por serem a gramaticais ou seja não respeitarem as regras de funcionamento da nossa língua não aparecem na fala espontânea e natural de falantes nativos do português brasileiro mesmo que sejam crianças pequenas que
ainda não frequentam a escola ou adultos totalmente e letrados algumas pessoas poderiam dizer que a eliminação da dessa noção de erro poderia dar a entender em termos de língua que tudo Valeria né não é bem assim na verdade em termos de língua Tudo Vale alguma coisa mas esse valor vai depender de uma série de fatores falar gíria Vale claro que vale no lugar certo no contexto adequado com as pessoas a si mesmo lugar errado no contexto errado e com as pessoas erradas se a intenção do falante por precisamente se contrapor à ordem estabelecida as normas
sociais convencionais estaria valendo e usar palavrão é a mesma coisa usar a língua tanto na modalidade oral como na escrita é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos o da adequação e o da aceitabilidade quando falamos ou escrevemos nós temos de nos adequar à situação de uso da fala em que nos encontramos se é uma situação formal nós vamos usar uma linguagem formal ser uma situação descontraída uma linguagem descontraída e assim por diante a atitude tradicional do professor de português ao receber um texto produzido por um aluno é procurar imediatamente os erros direcionar toda
a sua atenção para localização e erradicação daquilo que está incorreto e é uma preocupação quase exclusiva com a forma pouco importando o que haja ali de conteúdo nós temos aqui a chamada paranoia ortográfica Uma Obsessão neurótica para que todas as palavras Tragam acento gráfico que todos os dias tenham a sua cedilha que todos os jcg esteja nos lugares certos e assim por diante aliás uma porcentagem enorme daquilo que todo mundo chama de erro de português diz respeito à mera sem correções ortográficas hora saber ortografia não tem nada a ver com saber a língua são dois
tipos diferentes de conhecimento a ortografia não faz parte da gramática da língua Ou seja não faz parte das regras de funcionamento da língua e muitas pessoas nascem crescem vivem e morrem sem jamais aprender a ler e escrever sendo no entanto conhecedores perfeitos da gramática de sua língua vamos abandonar portanto a ideia preconceituosa de que quem escreve tudo errado é o ignorante da língua o aprendizado da ortografia se faz pelo contato íntimo e frequente com textos bem escritos e não com regras mal elaboradas ou com exercícios pouco esclarecedores ao Recebemos um texto escrito por alguém ou
a ouvir alguém falar vamos procurar ver antes de tudo o que ele está querendo comunicar para só depois nos preocuparmos com os detalhes de como ele está se comunicando isso é que educar Dá Voz ao outro reconhecer seu direito a palavra encorajá-lo a manifestar-se sem isso não é e admirar que a atividade de produção textual ou seja tanto problema a escola e também fora dela e nós finalizamos aqui este Capítulo bom estudo a todos e até a próxima E aí [Música]
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