Este promete ser o maior porto comercial da América do Sul. Ele fica na costa do Pacífico, no Peru, e foi feito com dinheiro chinês - em um dos mais ambiciosos projetos da China no continente. O megaprojeto não só cria uma rota direta de comércio entre a América do Sul e a China, como também amplia a influência de Pequim.
Algo que não passou despercebido durante a recente visita do governo chinês para participar de cúpulas na América do Sul. . .
Eu sou André Biernath da BBC News Brasil e neste vídeo eu vou contar como é o Porto de Chancay e por que ele é importante – e também polêmico. Chancay, a 70 quilômetros da capital Lima, está em construção faz oito anos. A primeira fase das obras foi entregue em novembro de 2024 O projeto faz parte da Nova Rota da Seda, uma enorme iniciativa chinesa implementada na última década, de investimentos em grandes obras de infraestrutura em várias partes do mundo Nesse caso, o investimento de 3,4 bilhões de dólares foi da Cosco Shipping Company, estatal chinesa de transporte marítimo A Cosco tem participação acionária de 60% em Chancay, e os demais 40% são de uma holding peruana, a Volcán.
O porto vai ter mais estrutura e a profundidade do que outros portos da região, para que atraquem ali os maiores cargueiros do mundo, capazes de transportar 24 mil contêineres cada um. Graças à localização estratégica do porto, o trajeto desses cargueiros entre o Peru e a Ásia pode ser reduzido de 40 dias para 28. Em outras palavras, o objetivo é transportar mais carga com mais rapidez, reduzindo custos operacionais e desafogando outros portos peruanos.
Por isso, a expectativa é de que Chancay, quando estiver operando em capacidade máxima, tenha bastante impacto na relação comercial entre a América Latina e a Ásia. A estimativa do Banco Central peruano é de que Chancay injete na economia dinheiro equivalente a 0,9% do Produto Interno Bruto já em 2025. Mas nem todo mundo enxerga tantas vantagens assim pro Peru ou pro continente.
Primeiro, porque aumenta a dependência econômica da região com relação à China. Já na questão de empregos, alguns analistas acham que a maior parte das sete mil e quinhentas vagas diretas e indiretas que o porto promete gerar acabarão sendo preenchidas por trabalhadores chineses, e não por moradores locais – assim como aconteceu em outras megaobras chinesas pelo mundo. Outra dúvida é como o Peru vai tirar o máximo proveito dessa mega-infraestrutura portuária, se, em terra, ainda conta com uma malha de rodovias precárias.
Ou seja, como fará as mercadorias irem do interior pro porto e vice-versa. E tem também o impacto social e ambiental no pequeno município de Chancay por conta da construção do porto. É mais mau do que bom E para o Brasil e outros países da América do Sul qual vai ser o impacto dessa megaobra?
O governo peruano afirma que Chancay vai virar um hub portuário regional, atraindo comércio com os vizinhos Chile, Equador e Colômbia. A China também argumenta que o novo porto vai fomentar todo o comércio entre Ásia e Pacífico. E como fica o Brasil, que é o principal parceiro comercial da China no continente?
Por sinal, o Brasil foi a segunda parada do governo chinês em sua viagem recente pela América do Sul. O presidente Xi Jinping participou da cúpula do G20 e assinou acordos de cooperação com o Brasil. De volta a Chancay, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, visitou o porto peruano em março de 2024.
O governo brasileiro inclui esse porto no que chama de rotas de integração: projetos para aumentar a cooperação comercial com os vizinhos sul-americanos. Mas é uma iniciativa de longo prazo. No curto e médio prazo, alguns especialistas acham que o Brasil poderá se beneficiar de Chancay para suas exportações, substituindo trajetos hoje feitos pelo canal do Panamá.
Outros acham que as longas distâncias e as deficiências das redes de transporte terrestre entre Brasil e Peru vão inviabilizar qualquer vantagem. Do lado chinês, as vantagens estão bem claras: analistas dizem que Chancay é visto como um investimento estratégico, para expandir suas pegadas logísticas em pontos importantes do comércio marítimo e para manter sua competitividade comercial, num momento em que a rivalidade com os Estados Unidos só cresce. Com isso eu fico por aqui.
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