o cemitério era meu refúgio por mais que isso pudesse suar estranho para outras pessoas o silêncio e a calmaria daquele lugar me traziam uma paz que nenhum outro lugar conseguia proporcionar 20 anos trabalhando como coveiro haviam me ensinado a respeitar aquele ambiente e a viver em harmonia com sua Quietude durante o dia os visitantes traziam suas dores e lembranças enchendo o ar com suspiros e lágrimas mas à noite tudo ficava em perfeita serenidade o vento suave dançando entre as árvores e os sons dos Grilos eram os únicos companheiros que me restavam naquela noite o céu
estava limpo a lua cheia lançava uma luz pálida sobre as lápides e tudo parecia seguir o mesmo curso tranquilo de sempre eu estava conferindo minhas ferramentas um ritual que fazia todas as noites antes de recolher a minha pequena Cabana nos fundos do cemitério quando ouvi passos se aproximando do portão olhei no relógio passava das 11 da noite um horário Improvável para visitantes quem viria aqui a essa hora caminhei até o portão e encontrei Ricardo um velho amigo ele estava visivelmente agitado seus olhos cheios de uma inquietação que eu não via nele há anos Ricardo era
um homem forte mas naquele momento parecia vulnerável quase assustado ele me cumprimentou a apressadamente e explicou que tinha vindo de outra cidade para visitar o túmulo da mãe seu pai havia sonhado que algo ruim acontecera a lápide e ele queria verificar se estava tudo em ordem disse que o trânsito o atrasara e pediu Quase suplicando que eu o deixasse entrar mesmo sabendo que era contra as normas pensei por um momento aquilo não era permitido mas conhecendo Ricardo e sua devoção à mãe não tive coragem de recusar abri o portão com a condição de que o
acompanharia ele concordou imediatamente agradecendo com um aperto de mão firme mas ainda inquieto caminhamos juntos pelo cemitério os sons do vento e das Folhas sendo a única companhia além de nossas respirações Ricardo continuou sua voz pesada como a noite ao nosso redor desde que ela se foi meu pai nunca mais foi o mesmo ele sofre todos os dias como se a aa carregasse o peso da perda nos ombros é como se ele tivesse ficado preso naquele momento incapaz de seguir em frente chegamos ao túmulo e Ricardo parou ficando em silêncio por um momento a lápide
estava ali Serena e imponente com o nome da mãe dele gravado em letras douradas que brilhavam Sob a Luz da Lua ele se ajoelhou colocou uma pequena flor no chão e passou a mão pelo mármore frio como se aquele gesto pudesse trazer algum consolo meu pai ficou muito perturbado com aquele sonho disse Ricardo Ele disse que viu vândalos destruindo a lápide sei que pode parecer besteira mas meu pai raramente sonha e quando sonha sempre é algo importante às vezes os sonhos não passam de reflexos da nossa mente respondi tentando tranquilizá-lo mas é claro não custa
nada verificar acordou parecendo um pouco mais calmo ele tirou o celular do bolso e disse que Tiraria uma foto para mostrar ao pai e tranquilizá-lo acendi a lanterna para iluminar melhor e ele capturou a imagem o som do obturador do celular ecoou levemente no ar e então tudo voltou àquele silêncio característico Conversamos por mais alguns minutos lembrando histórias sobre sua mãe até que Ricardo decidiu que era hora de ir falou que iria dormir em um hotel próximo dali agradeceu me novamente e saiu visivelmente aliviado voltei para minha rotina sem suspeitar que aquela noite estava longe
de terminar por volta das 3 da madrugada enquanto organizava algumas ferramentas fui surpreendido por batidas desesperadas no portão quando abriu o portão lá estava Ricardo novamente Mas agora ele não era o mesmo homem em que havia deixado o cemitério horas antes ele estava pálido ofegante e segurava o celular como se aquilo fosse a única coisa que o mantinha ligado à realidade cara olha isso disse ele com a voz trêmula estendendo o celular na minha direção peguei o aparelho e olhei para a tela era a foto que ele tinha tirado do túmulo mas o que vi
me deixou congelado no canto da imagem ao lado da lápide da mãe de Ricardo havia a silhueta de uma mulher sentada em um banco a figura era assustadoramente nítida apesar da Escuridão ao redor vestia roupas que pareciam de outra época e sua expressão era Serena mas ao mesmo tempo perturbadora o mais estranho não havia nenhum banco naquele lugar isso é algum tipo de brincadeira perguntei tentando manter a compostura mas sentindo um arrepio percorrer minha espinha eu não brinco com esse tipo de coisa respondeu Ricardo quase desesperado não tinha ninguém lá eu estava sozinho e não
há bancos perto daquele túmulo você sabe disso Olhei novamente para a foto não havia como negar o que estava ali a mulher parecia estar olhando diretamente para a câmera como se soubesse que estava sendo fotografada sua presença na imagem era tão sólida quanto qualquer outra coisa ao redor Ricardo continuou eu enviei a foto para o meu pai para tranquilizá-lo mas quando ele respondeu Cara você não vai acreditar no que ele disse eu o encarei esperando que ele continuasse Ele disse que reconheceu a mulher Ricardo revelou sua voz agora quase um sussurro Ele disse que é
minha avó a mãe dele ela morreu Anos Antes de eu nascer as palavras de Ricardo pairaram no ar carregadas de um peso que parecia muito maior do que aquele momento Fiquei em silêncio tentando processar tudo aquilo era difícil acreditar mas a expressão de Ricardo não deixava dúvidas de que ele acreditava em cada palavra algo além da nossa compreensão havia acontecido naquela noite isso isso não faz sentido murmurei mais para mim mesmo do que para Ricardo Eu sei ele respondeu passando as mãos pelos cabelos em um gesto de frustração mas o que mais pode ser ela
está lá na foto olhando para mim como se quisesse dizer alguma coisa O que você acha que significa não consegui responder meu trabalho me expunha a muitas histórias de lendas e superstições Mas aquela era diferente aquela era real e eu tinha a foto para provar Olhei novamente para a imagem e por um momento senti como se os olhos da mulher estivessem me observando mesmo através da tela um calafrio percorreu meu corpo Talvez seja um sinal sugeri finalmente algo que ela quer que você saiba Ricardo Balançou a cabeça claramente perturbado ele agradeceu por ouvir e disse
que precisava ir mas antes de sair olhou para mim com uma expressão Grave se algo mais acontecer me avisa por favor disse ele concordei e ele foi embora deixando-me sozinho com meus pensamentos e aquela sensação incômoda de que a noite ainda mais mistérios depois que Ricardo se foi sentindo um impulso que eu mesmo não entendia decidi investigar peguei minha lanterna coloquei meu casaco e caminhei novamente até o túmulo da mãe de Ricardo o cemitério parecia diferente daquela vez como se o silêncio tivesse um peso maior como se algo estivesse me observando a luz da lua
lançava sombras inquietantes nas lápides e o vento parecia sussurrar algo apreensível quando cheguei ao túmulo tudo parecia normal à primeira vista a vela que Ricardo havia acendido ainda queimava espalhando uma luz bruxuleante a lápide estava intacta assim como o solo ao redor caminhei ao redor tentando encontrar algo que pudesse explicar o que havia Aparecido na foto procurei sinais de pegadas ou Algum objeto que indicasse a presença de outra pessoa mas não havia nada a lanterna iluminou o espaço onde na foto aparecia o banco com a mulher sentada mas ali só havia grama e Terra nada
que pudesse justificar o que estava na imagem Meu Coração batia rápido não por medo mas por uma estranha mistura de curiosidade e inquietação era como se eu precisasse entender aquilo como se algo maior estivesse me puxando para o mistério tem alguém aqui perguntei minha voz ecoando entre as lápides Claro não esperava uma resposta mas o silêncio que se seguiu pareceu mais denso mais carregado o tempo Parecia ter parado e eu podia ouvir meu próprio coração batendo forte no peito dei mais alguns passos ao redor iluminando tudo com a lanterna não havia nada estava prestes a
desistir e voltar para a minha Cabana quando ouvi algo foi um som suave quase imperceptível como um suspiro virei-me imediatamente apontando a lanterna para a direção de onde vinha quem está aí perguntei novamente minha voz agora mais firme por um momento pensei ter visto uma sombra se movendo entre as árvores ao fundo mas poderia ser apenas minha imaginação apertei os olhos tentando distinguir alguma coisa na escuridão mas não vi nada então novamente senti a brisa fria e o aroma floral decidi que era o suficiente por uma noite voltei para a Cabana mas não consegui dormir
a foto de Ricardo e a sensação de algo inexplicável no cemitério não me deixavam em paz passei horas revirando na cama até que finalmente o cansaço me venceu na manhã seguinte fui Verificar novamente o túmulo com a luz do dia esperando que a claridade trouxesse alguma resposta tudo parecia absolutamente normal foi então que lembrei de algo que meu pai também C diz os mortos falam com quem está disposto a ouvir Sempre achei que ele se referia a um sentido metafórico algo sobre respeitar as histrias das pessoas enterradas aqui mas agora não tinha tanta certeza Passei
o dia dividido entre continuar a investigação ou deixar isso para lá mas no fundo Sabia que não conseguiria ignorar assim decidi que naquela noite eu investigaria novamente desta vez mais preparado Esperei até que o sol desaparecesse completamente e o cemitério mergulhasse novamente na escuridão peguei uma câmera fotográfica antiga que mantinha guardada e um gravador pensando que se algo realmente acontecesse eu teria como registrar estava decidido a encontrar alguma resposta por mais assustadora que pudesse ser ao chegar ao túmulo sentei-me em um pequeno banco de Pedra que ficava a alguns metros de distância acendi uma vela
para iluminar a área ajustei a câmera e comecei a tirar fotos ao redor Depois de alguns minutos peguei o gravador e hesitante comecei a falar se há alguém aqui se você quer se comunicar pode se manifestar eu estou ouvindo o silêncio que se seguiu Foi Tão Profundo que parecia engolir o som da minha própria voz esperei alguns segundos antes de continuar eu vi você na foto quer me dizer algo deixe um sinal nada aconteceu nenhum som nenhum movimento apenas o vento balançando levemente as árvores pensei em desistir mas então sem aviso a vela que eu
havia acendido apagou a lanterna tremia na minha mão enquanto eu a girava ao redor tentando encontrar a origem do som Foi então que a vi por um breve momento a luz da lanterna iluminou algo ao longe perto de uma árvore era a figura de uma mulher vestida como na foto com roupas antigas ela parecia flutuar seu rosto calmo mas seu olhar fixo em mim meu corpo congelou incapaz de se mover ou desviar o olhar e então ela desapareceu como se nunca tivesse estado ali peguei a câmera e olhei as fotos que havia tirado meu coração
quase parou quando percebi que em várias delas a silhueta da mulher estava presente sempre na mes postura Serena sempre olhando na minha direção naquele momento senti que havia algo mais que eu precisava entender aquela mulher não estava ali por acaso naquela noite dormir foi impossível Ricardo precisava saber disso por mais que eu hesitasse em contar senti que ele tinha o direito de saber o que estava acontecendo no dia seguinte enviei uma mensagem pedindo que ele viesse ao cemitério assim que pudesse a responder prometendo que estaria lá à tarde quando Ricardo chegou mostrei as fotos e
reproduzi o áudio do gravador embora nada significativo tivesse sido captado no áudio o momento em que descrevi o suspiro e o apagão da vela parecia deixar Ricardo cada vez mais tenso você está dizendo que viu ela de novo perguntou ele com a voz baixa Sim eu vi não foi só na foto estava lá perto de uma árvore e não parecia hostil mas tinha algo nela algo que não sei explicar Ricardo ficou em silêncio por alguns minutos olhando para as fotos como se tentasse absorver tudo aquilo então ele finalmente falou meu pai disse que minha avó
era uma pessoa muito ligada à espiritualidade ela acreditava em sinais em sonhos em mensagens que vinham de outros planos quando minha mãe morreu ele dizia que sentia a presença dela o tempo todo como se ela nunca tivesse partido de verdade Talvez seja isso respondi talvez ela esteja tentando dizer algo talvez seja por isso que ela apareceu Ricardo Balançou a cabeça claramente lutando para encontrar sentido naquilo Mas por que agora por que depois de tanto tempo essa era uma pergunta que eu não sabia responder decidimos que a única maneira de tentar entender seria voltar ao túmulo
naquela noite Ricardo estava relutante mas concordou levamos comigo a câmera o gravador e até um pequeno notebook onde eu poderia anotar qualquer coisa estranha que acontecesse enquanto esperávamos o cair da noite Ricardo me contou mais sobre sua avó ele descreveu-a como uma mulher forte uma mãe devotada que faria qualquer coisa por sua família ela havia morrido vítima de uma doença que na época não tinha cura o pai de Ricardo sempre dizia que ela era a base de tudo e que sua perda havia deixado um vazio irreparável quando a noite chegou fomos juntos até o túmulo
novamente o ambiente parecia diferente daquela vez o vento estava mais forte e o aroma floral já estava presente antes mesmo de acendermos qualquer vela ou começarmos a gravar era como se algo estivesse nos esperando acendemos a vela novamente colocamos o gravador próximo a lápide E começamos a fazer perguntas em voz alta Ricardo inicialmente hesitante tomou coragem e perguntou diretamente vovó se é você porque está aqui o que você quer nos dizer o silêncio foi absoluto por alguns segundos então A chama da vela tremeu quase se apagando Ricardo olhou para mim Assustado mas não disse nada
eu sabia que não era o vento o movimento era Sutil demais como se algo tivesse tocado a chama de propósito está tentando se comunicar perguntei segurando a lanterna firme para evitar que minhas mãos trêmulas denunciassem o meu nervosismo mais silêncio Mas desta vez ao revisar as fotos que eu havia tirado algo novo apareceu a mulher estava lá novamente mas agora ela parecia estar de de pé ao lado do túmulo sua figura era mais clara do que antes quase tangível Ricardo viu a foto e deixou escapar um suspiro ela está mais próxima disse ele quase num
sussurro Foi então que ouvimos novamente o som do Suspiro Mas desta vez mais prolongado quase como um lamento Ricardo segurou meu braço e eu senti a tensão em seu corpo a lanterna começou a piscar e o aroma floral ficou ainda mais forte de repente algo inesperado aconteceu uma das flores que Ricardo havia colocado no túmulo caiu lentamente como se tivesse sido empurrada por mãos invisíveis ficamos ali congelados incapazes de nos mover ou falar isso isso é um sinal disse Ricardo com a voz trêmula ela quer que saibamos de algo mas o qu Meu Coração batia
acelerado mas forcei racionalmente havia algo que estávamos perdendo algo que precisávamos entender foi quando Ricardo teve uma ideia espere disse Ricardo interrompendo o silêncio enquanto mexia no celular ele parecia perdido em pensamentos como se algo importante tivesse acabado de lhe ocorrer eu lembrei de uma coisa na casa do meu pai temos um vaso grande com flores que sempre esteve na sala é um daqueles vasos antigos que minha mãe adorava ela sempre dizia que era especial a gente nunca mexeu nele desde que ela se foi e se e se houver algo dentro dele olhei para ele
com curiosidade a ideia parecia Improvável mas considerando tudo o que já havia acontecido naquela noite nada mais me Parecia Impossível Ricardo rapidamente ligou para o pai que atendeu com um tom preocupado já que era tarde Pai eu sei sei que é estranho mas preciso que faça algo para mim agora começou Ricardo a voz tensa lembra do vaso grande com flores na sala preciso que você tire as flores e veja se há algo dentro dele do outro lado da linha o pai de Ricardo hesitou confuso o vaso por quê do que você está falando filho por
favor pai insistiu Ricardo apenas confie em mim é importante Houve um momento de silêncio na ligação seguido pelo som de passos e móveis sendo arrastados eu e Ricardo esperamos em silêncio trocando olhares ansiosos alguns minutos depois ouvimos o pai de Ricardo arfando como se tivesse encontrado algo meu Deus disse O pai dele a voz trêmula o que foi pai Ricardo perguntou quase desesperado tem tem uma carta aqui respondeu ele a respiração pesada estava dentro do vaso no fundo é da sua mãe reconheço a letra dela Ricardo ficou estático por alguns segundos você pode ler pai
por favor o pai concordou ainda suando abalado o som do Papel sendo desdobrado ecoou pelo telefone então ele começou a ler a voz quebrando com emoção querido se você está lendo esta carta provavelmente já me odeia eu não sei como explicar isso de forma que faça sentido mas preciso que você saiba que eu amei você sempre amei mas há algo que eu nunca tive coragem de dizer há algum tempo conheci outra pessoa não foi algo que eu planejei e eu lutei Contra esse sentimento com todas as forças que tinha mas o amor que sinto por
ele é tão forte quanto o que já senti por você é diferente mas verdadeiro sei que isso soua cruel mas não quero mais mentir para você ou para mim mesma eu decidi que preciso ser honesto e por isso estou indo embora sei que isso pode destruir você mas também sei que ficar aqui fingindo ser quem eu não sou destruiria nós dois Estou deixando esta carta para explicar minha partida porque você merece ao menos isso sei que nada do que eu diga pode consertar a dor que vou causar mas espero que um dia você possa entender
por favor cuide bem do nosso filho e diga a ele que eu o amo mais que tudo no mundo isso nunca mudou nem nunca vai mudar Adeus Ana enquanto o pai de Ricardo Lia a carta sua voz ficou cada vez mais carregada de emoção até que ele começou a chorar do outro lado da linha só conseguíamos ouvir soluços Ricardo estava paralisado o rosto pálido os olhos arregalados pai eu não sabia Ricardo murmurou sem conseguir completar a frase O Silêncio do outro lado foi quebrado pelo som abafado de Lágrimas finalmente o pai respondeu eu também não
sabia filho Ricardo segurava o celular com força enquanto ouvia os soluços do pai do outro lado da linha a carta encontrada no vaso havia virado seu mundo de cabeça para baixo a mãe que ele tanto admirava e que seu pai havia colocado em um pedestal durante tantos anos tinha um lado oculto que ninguém jamais suspe eu eu não acredito nisso disse o pai de Ricardo sua voz entrecortada pelo choro ela estava realmente pronta para ir embora para me deixar para deixar você Ricardo fechou os olhos tentando manter a calma ele respirou fundo antes de responder
mas suas palavras saíram com peso pai sim é isso que está na carta ela estava pronta só não foi porque porque não teve tempo o ataque do coração aconteceu antes de ela conseguir colocar o plano em prática as palavras de Ricardo pairaram no ar e a respiração do pai do outro lado da linha ficou ainda mais pesada Então tudo o que Vivi tudo o que achei que sabia sobre ela era mentira não era mentira Ricardo disse sua voz firme mas cheia de dor mas Pai ela não era quem você pensava ela te amava mas também
amava outro homem e naquele momento ela escolheu outra vida só que o destino não deu tempo para ela seguir adiante O silêncio que veio a seguir foi devastador por alguns instantes o único som que se ouvia era a respiração tensa do pai de Ricardo quando ele finalmente falou sua voz estava baixa quase um sussurro e um ela teria ido se não fosse pelo Ataque Ela teria me deixado ele disse mais para si mesmo do que para Ricardo sim Ricardo respondeu Sem Rodeios ela teria ido e você não merecia isso pai você não merecia ser tratado
assim a avó foi ela quem apareceu na foto ela estava tentando mostrar isso pai é como se ela quisesse que a gente soubesse mas por qu o pai perguntou a dor Evidente em sua voz Ricardo hesitou Mas então algo em seu olhar mudou como se ele tivesse chegado a uma conclusão porque ela está cansada de ver você sofrendo pai todos esses anos você idealizou uma mulher que estava pronta para te abandonar você viveu com culpa pensando que ela foi arrancada de você quando na verdade ela já estava planejando partir a vovó de onde ela está
não aguentava mais ver isso o pai de Ricardo começou a chorar novamente Mas desta vez havia uma uma mudança em seu Tom não era apenas tristeza era um misto de raiva e libertação todos esses anos todos esses anos Eu me culpei achei que tinha feito algo errado que se eu tivesse sido um marido melhor ela ainda estaria aqui ele disse a voz trêmula mas não era sobre mim era sobre ela ela ia embora porque quis e não ficou porque me amava ficou porque não teve tempo acho que acho que sua avó tem razão não posso
mais viver assim não posso mais sofrer por alguém que estava disposta a me deixar Ricardo sorriu apesar das Lágrimas ela ficaria orgulhosa De ouvir isso pai pouco depois a ligação terminou Ricardo deixou o celular cair em seu colo e inclinou a cabeça para trás encarando o teto da minha Cabana seu rosto estava marcado pelo cansaço emocional mas havia algo novo em sua expressão algo que parecia paz acho que a vovó conseguiu o que queria ele disse com a voz baixa ela trouxe a verdade à tona mesmo que fosse difícil ela sabia que o meu pai
precisava disso para seguir em frente naquela noite quando Ricardo foi embora o cemitério parecia diferente o ar estava mais leve e o silêncio era mais reconfortante do que opressor enquanto fechava o o portão senti novamente uma brisa suave passar por mim trazendo o mesmo aroma floral de antes mas desta vez não houve medo ou mistério apenas uma sensação de gratidão como se alguém Estivesse se despedindo pela última vez e naquele momento eu entendi Às vezes a verdade por mais dura que seja é o único caminho para a liberdade depois que Ricardo foi embora fiquei pensando
em tudo o que aconteceu é estranho como a gente pode viver anos ao lado de alguém e ainda assim não conhecer de verdade quem essa pessoa é o pai dele sofreu tanto pela mãe carregou uma dor enorme achando que ela era perfeita que ele tinha perdido o amor da vida dele mas aí vem a verdade e ela mostra que as coisas nem sempre são como a gente pensa a mãe do Ricardo tinha outra vida nos pensamentos se ela não tivesse morrido teria ido embora deixado tudo para trás não dá para dizer que ela não amava
a família mas ela tinha desejos e escolhas que ninguém sabia a gente idealiza quem ama finge que conhece tudo mas só conhecemos o que a pessoa deixa mostrar aprendi uma coisa com isso tudo nem todo mundo é exatamente como a gente imagina Às vezes quem tá do nosso lado tem segredos coisas que nunca vamos entender e tá tudo bem Não dá para julgar porque a vida é assim mesmo o que importa no fim das contas é aceitar que ninguém é perfeito todo mundo tem suas histórias seus erros e suas razões a gente só precisa aprender
a lidar com isso sem se prender em idealizações que só fazem a gente sofrer no fim acho que a avó do Ricardo só queria que o filho dela parasse de sofrer por algo que nunca foi real talvez em sabendo a verdade e eu vou levar ISO como uma li a gente pode até achar que conhece as pessoas mas no fundo sempre tem algo que fica escondido e tá tudo bem assim