Para uns, uma fotografia é uma janela para o passado, para outros, uma maneira de pagar o aluguel atrasado. Independente do uso que você faça dela, certamente você já a utilizou. Mas onde e quando foi que ela surgiu?
E como funciona? Basicamente, a fotografia surgiu com a descoberta de dois princípios importantes. A projeção de uma imagem em uma câmara escura e a descoberta de substâncias que são visivelmente reagentes à luz.
Em algum momento na antiguidade, alguém descobriu que se você fizesse um pequeno furo em uma câmara escura, você criava uma câmera escura. Quem sabe, uma pessoa estava dentro de uma sala totalmente fechada quando viu a imagem externa ser projetada de cabeça para baixo na parede interna, devido a um pequeno furo na janela ou na parede. Como a ideia surgiu não se sabe.
E até mesmo a origem da invenção meio que se perde no tempo. Para você ter uma ideia do que digo, foram encontradas referências da câmera escura em textos chineses que datam do ano 400 aC, e em textos do Grego Aristóteles por volta do ano 330 aC. Outro que também teria trabalhado com isso foi o Persa Alhazém por volta do ano 1000, um matemático, físico e astrônomo que viveu entre os anos de 945 e 1040.
Ele teria utilizado este dispositivo para demonstrar que a luz se propaga em linha reta. Inclusive, é por isso que a imagem que é refletida de fora, aparece invertida na parede. De todo modo, era um aparelho muito simples e que até os anos de 1600, era utilizado em diversos lugares do mundo para o estudo da óptica e da astronomia, como na observação de eclipses solares.
A utilidade do dispositivo era limitada até este momento, poque a imagem que aparecia lá dentro era bem fraca. Algo que não tinha muito o que fazer, já que se você aumentava o furo para a imagem ficar mais clara, ela perdia a nitidez, já que aumentava incidência de raios luminosos vindos de outras direções. Isso começou a mudar por volta do ano de 1600, com a invenção de lentes de alta qualidade que inclusive eu mostro no vídeo sobre a invenção do telescópio.
Com elas, foi possível aumentar o furo e captar mais luz sem perder a nitidez da imagem. O que possibilitou que artistas, engenheiros e arquitetos, utilizassem a câmera escura como uma ferramenta para elaborar desenhos mais realistas do mundo. Ela também permitiu surgissem as lanternas mágicas, precursoras do projetor moderno.
Estas lanternas mágicas, utilizavam os mesmos princípios ópticos da câmera escura para projetar uma imagem na parede. A diferença, era que as imagens projetadas vinham de desenhos em lâminas de vidro. Elas foram uma forma muito popular de entretenimento.
E até este momento, a única forma de registrar as imagens era por meio de desenhos. Muitos devem ter pensado em formas de fixar esta imagem projetada dentro da câmera escura, mas ninguém até então tinha conseguido. Foi só por volta de 1724, que os primeiros experimentos com produtos químicos fotossensíveis começaram a ser realizados pelo cientista alemão Johann Heinrich Schulze.
Ao colocar um pote com nitrato de prata na janela, ele descobriu que o elemento escurecia na presença da luz. Mas ele não realizou experimentos para produzir uma imagem permanente usando esta descoberta. E nem teria como, já que a imagem continuaria a escurecer na presença da luz.
Isso só aconteceria mais de 100 anos depois, em um belo dia de verão de 1826. Dia em que o cientista francês Joseph Nicephore Niepce, registrou o seu nome na história ao tirar a primeira fotografia do mundo utilizando uma câmera escura. Niepce era um cara que gostava de desenhar, mas que não tinha talento para isso.
Então ele focou em encontrar uma maneira de capturar imagens sem depender destas habilidades que ele não tinha. O caminho mais lógico, era o de encontrar uma forma de fixar aquela imagem que aparecia na câmera escura, mas como? Foram muitos experimentos, que começaram em 1816 com um papel coberto de cloreto de prata.
Mas o processo que permitiria obter esta que é primeira fotografia do mundo, viria apenas em 1826, com uma folha de estanho revestida por uma fina camada de Betume da Judéia dissolvido em óleo de lavanda. Como o Betume é um tipo de asfalto que endurece e fica insolúvel quando exposto a luz, ele permitiu que as áreas mais claras e iluminadas da imagem fixassem mais o material se comparado com as partes mais escuras. Então, após 8 horas de exposição, quando ele removeu o betume não endurecido com o óleo de lavanda, foi possível identificar a imagem do que seria a vista da janela do quarto dele.
Claro que ela não chega nem perto de uma fotografia atual, mas se você se esforçar, vai ver que aqui está a casa, aqui o telhado da frente, aqui a árvore e aqui o celeiro. E o processo foi tão lento que deu para registrar a luz do sol nos dois lados da construção. Apesar desta ser a placa original da foto, ela já foi mais visível do que é atualmente.
É que algum grosso que manuseou a placa nos anos seguintes, criou estes 3 amassados que refletem a luz e dificultam a visualização. Mesmo assim, estava na cara que alguém precisava melhorar esta foto não é mesmo! Esta pessoa seria o colega francês Louis Daguerre, que também estava experimentando maneiras de capturar uma imagem.
Em 1829, ele desistiu de lutar sozinho e formou uma parceria com o Niepce, para melhorar o processo que o Niepce havia desenvolvido. Só que a parceria com o primeiro fotografo do mundo não durou muito, foi interrompida pela dona morte em 1833, que levou o Niepce com um AVC. Mas, ela foi o suficiente para ajudar o Daguerre a desenvolver o primeiro processo prático de fotografia que o mundo conheceria em 1839.
Processo que reduziu o tempo de exposição para menos de 30 minutos, e permitiu que ele tirasse o seu próprio retrato. Era o processo daguerreótipo, que ele nomeou em homenagem a ele mesmo. Funcionava assim.
Uma folha de cobre coberta com prata, era polida até virar um espelho e depois exposta ao vapor de iodeto, que deixava a placa amarelada ao criar uma camada de iodeto de prata. Mas antes de pôr a placa na câmera, a imagem precisava ser focalizada neste fundo branco aí, com o auxílio de um pano preto para melhorar a visibilidade. Feito isso, a placa era então colocada na câmera escura e exposta a luz por um intervalo de 10 a 30 minutos, dependendo da iluminação.
Após esta etapa, ela era levada até uma sala escura e exposta ao vapor do mercúrio aquecido, que revelava a imagem que ainda estava invisível na placa, e garantia um câncer no fotógrafo. Por fim, a imagem era fixada na placa com um banho de tiossulfato de sódio, que removia os sais de prata não expostos e tornava a foto insensível a luz. O pulo do gato, foi descobrir que o tempo de exposição da imagem podia ser bem menor, se ele revelasse aquela imagem que ainda estava invisível na placa, usando o vapor de mercúrio.
Só que o que ele diminuía no tempo de fotografia, também diminuía na saúde. Mas apesar de tudo, era sem dúvidas um processo muito funcional. Veja esta foto aqui tirada por ele em 1838, é de uma qualidade impressionante.
Trata-se da vista de uma rua bem movimentada de Paris, mas como a exposição durou mais de 10 minutos, todos os objetos em movimento não apareceram na foto. Com exceção destes dois homens aí sem pressa e de uma suposta mulher na janela que eu não encontrei. Outro detalhe interessante, é que a imagem resultante era tanto positiva quanto negativa, dependia da iluminação e do ângulo em que era vista.
Nas partes mais claras da foto, ela apresentava uma cor branca e gelada. Já nas sombras prateadas e polidas da placa, ela apresentava uma infinidade de tons de cinza e uma cor preta vibrante, desde que estivesse inclinada na direção de uma sala escura. Esta outra foto aqui, tirada mais tarde entre 1846 e 1852 em Londres, conseguiu captar a lua com detalhes impressionantes.
Foram 18 exposições ao todo. Como pode imaginar, fotos como esta espalharam a fama do francês pelo mundo. A ponto do governo da França conceder uma pensão a ele, em troca do direito de apresentar a invenção como um presente da França para o mundo.
Algo que ocorreu em agosto de 1839, quando o Daguerre publicou um pequeno livro descrevendo o processo. A partir daí, o daguerreótipo ficou tão popular que só na cidade de Nova York em 1850, havia mais de 70 estúdios fotográficos pela cidade. Mas como toda nova invenção, ela também tinha suas desvantagens.
Além do tóxico mercúrio, havia o problema das imagens não poderem ser replicadas, cada foto era única. Esta capacidade de criar múltiplas cópias de uma única imagem surgiria do trabalho do inglês William Henry Fox Talbot, inventor do primeiro processo de foto por negativo. E tanto do inglês Talbot, quanto o francês Daguerre, trabalharam ao mesmo tempo na invenção da fotografia.
O detalhe é que eles só ficariam sabendo disso em 1839, com a divulgação do daguerreótipo pelo governo francês. Mesmo assim, seus processos eram bem diferentes. Talbot começou a realizar experimentos com sais de prata em 1834, com o objetivo de fixar imagens em um papel.
Nesta época, os cientistas já sabiam que a prata combinada com sais era muito sensível a luz. Com isso em mente, Talbot começou a realizar seus experimentos, que convergiriam no processo que ficou conhecido como “papel salgado”. O motivo do nome era porque ele usava um papel banhado em uma solução de cloreto de sódio, que é água salgada.
Depois disso, o papel era seco e coberto de um lado com uma solução de nitrato de prata, que criava um revestimento de cloreto de prata. Quando este papel era posto dentro da câmera e exposto a luz, ele reagia quimicamente ficando preto nos pontos mais claros da imagem, criando um negativo. Exposição que podia levar horas até atingir o grau de escurecimento desejado.
Na sequência, para evitar que a imagem continuasse a escurecer depois desta etapa, ela era posta em uma solução neutralizadora que podia ser brometo de potássio. Agora é que vinha o truque do Talbot que permitia ele reproduzir inúmeras copias. Quando ele colocava este negativo sobre outro papel de foto e colocava no sol, a imagem se invertia, já que as partes escuras bloqueavam a luz do sol e as claras a deixavam passar.
Pela primeira vez, múltiplas fotos podiam ser feitas a partir de uma única imagem. Outra evolução que ocorreu neste mesmo período, foi o aprimoramento das lentes por Max Petzval em 1840. A lente Petzval, foi projetada especificamente para fotografia.
Para termos uma ideia, ela aumentou em torno de 22 vezes a captação de luz se comparada com a lente utilizada por Daguerre em 1839, diminuindo para segundos o tempo de exposição de uma fotografia. Mas apesar desta evolução das lentes, o processo do Talbot ainda era muito lento e de baixa qualidade se comparado com o daguerreótipo, olha estas duas fotos de 1840. E ainda tem o fato de que daguerreótipo era de domínio público neste momento.
Então em 1841, ele aperfeiçoou bastante o processo ao substituir vários elementos químicos, como a troca do cloreto de prata por iodeto de prata, que era mais sensível a luz e que inclusive, era utilizado por Daguerre. Isso permitiu que o tempo de exposição diminuísse para segundos, com uma melhora significativa da imagem. Tanto que ele chamou o processo de Calótipo, que do grego quer dizer "bela imagem".
Mas apesar da propaganda dele, para muitos, ela não conseguia bater a qualidade do daguerreótipo. Principalmente porque na hora de passar do negativo para o positivo, as fibras do papel acabavam aparecendo impressão, deixando a foto meio granulada. A próxima evolução importante que precisava ocorrer, era a possibilidade de se tirar inúmeras fotos, em uma viagem, por exemplo, sem precisar aquele monte de produtos químicos tóxicos em frágeis garrafas de vidro, e uma caixa escura para revelar as fotos.
Porque até este momento, a maioria dos processos, envolviam o preparo da placa ou papel antes de tirar a foto, e a revelação dela logo após a foto ser tirada. Era preciso deixar este processo mais prático e eficiente. Isso mudou por volta de 1879 com a introdução do negativo de placa seca com gelatina de prata.
Resultado do trabalho coletivo de inúmeros fotógrafos e cientistas. Este processo usava uma placa negativa de vidro para capturar a imagem, que era revestida por uma película seca de gelatina, como aquela que você compra no mercado mesmo, e que continha os elementos químicos com o nitrato de prata em emulsão. Emulsão é quando você tem uma mistura de dois líquidos que não se misturam, como água com óleo.
Por ser uma placa de vidro, criava um negativo mais estável e detalhado. Que necessitava de apenas alguns segundos de exposição, e que podia ser armazenada por um longo período antes e depois de tirar a foto. Agora, fotógrafos sem muita experiência podiam pegar um pacote de placas, tirar as fotos e, dias ou meses depois, contratar técnicos para revelá-las.
E este processo de gelatina de prata era tão prático que não ficou restrito apenas as placas secas de negativo, ele também foi muito utilizado no papel de impressão e nos filmes fotográficos que viriam, dominando as fotografias em preto e branco no século XX. Até este momento, o negativo da fotografia tinha que ter o mesmo tamanho da impressão fotográfica que você queria fazer. Foi então que em 1888, um fotógrafo e industrial chamado George Eastman, registrou o nome de uma marca que faria uma revolução na indústria fotográfica, a Kodak.
As duas grandes inovações introduzidas por ele naquele ano, o filme fotográfico em rolo e a câmera kodak, colocariam a fotografia nas mãos das massas pela primeira vez, e dinheiro delas no bolso dele é claro. O filme transparente com uma base flexível vinha sendo desenvolvido desde 1883, quando a Empresa Eastman introduziu o produto para substituir as placas de vidro existentes, e que eles também vendiam. Ele era feito de nitrato de celulose e gelatina de prata, e vendido em conjunto com um suporte de rolo que era projetado para caber nas câmeras que os fotógrafos já tinham.
Além de ter uma qualidade de imagem igual aos negativos de vidro, apresentava a grande vantagem de poder ser enrolado, armazenando inúmeros negativos de foto em sequência e em um único recipiente. Isso acabava com a necessidade das frágeis placas de vidro. Outra coisa que também evoluiu rapidamente, foi a capacidade de ampliar um negativo para uma foto impressa muito maior.
Então, além de o negativo ser flexível, permitindo armazenar inúmeras imagem em um rolo, ele também era pequeno e compacto. Tendo aperfeiçoado o filme fotográfico, Eastman partiu para a evolução da câmera, recebendo em setembro de 1888, a patente para uma “câmera” que havia sido projetada para impulsionar a venda dos filmes em rolo. O lema era, "Você aperta o botão, nós fazemos o resto".
Agora, com apenas US$ 25 em valores da época, um amador podia comprar uma câmera com filme suficiente para 100 fotos. E assim que o filme terminasse, bastava enviar a câmera com ele ainda dentro para a fábrica da Kodak, onde o filme era removido da câmera, processado e impresso. Na sequência, ela era recarregada com um filme novo e devolvida para o fotografo com as fotos impressas.
Estava criada uma indústria bilionária. Mais tarde em 1900, a Kodak lançaria uma nova versão da câmera que recebeu o nome de "Brownie". Ela era muito mais barata, custava US$ 1,00, e era voltada para o público jovem e infantil.
Vendeu tanto que eles não venciam fabricá-las. A partir de agora, outras grandes fabricantes como Kodak iriam surgir, mas isso fica para o vídeo sobre a fotografia colorida. Agora, antes de encerrar este vídeo, uma curiosidade.
O termo Fotografia foi criado por um brasileiro em 1833, para nomear a sua invenção. Ele deriva das palavras gregas photos e graphos, que juntas significam desenho de luz. Antoine Hercules Romuald Florence era um imigrante francês que morava no Brasil desde seus 20 anos, e que trabalhou no seu próprio processo de fotografia em relativo isolamento da comunidade científica internacional.
As primeiras tentativas Florence para fixar uma imagem fotográfica ocorreram por volta de 1832, após o Niepce, mas antes do Daguerre e do Talbot. E de acordo com seus diários, ele teria usado um papel sensibilizado com cloreto de prata para registrar uma imagem, e a amônia presente na urina prefixá-la e evitar que ela desbotasse. Mas como ele morava no Brasil, a invenção passou desapercebia da comunidade internacional e não evoluiu.
Mas o vídeo deste brasileiro aqui não vai passar desapercebido não é mesmo! Então, se você quiser encomendar o próximo, aperta o like aí para fazer o pedido. Um abraço especial a todos os apoiadores do canal, e até logo!