[Música] curso livre de [Música] humanidades módulo 1 filosofia [Música] medieval Agostinho e a Cidade de Deus [Música] novis eu vou dar uma aula no espírito das aulas regulares que eu que a gente costuma dar na universidade pranto eu vou ler um texto e talvez seja um pouco árido mas é como os senhores sabem a filosofia não é exatamente suave então eu vou tentar fazer isso se não suave Pelo menos é compreensível uma das coisas que faz de Agostinho Um clássico é a sua capacidade de elaboração e transformação daquilo que recebeu da filosofia antiga [Música] [Aplausos]
[Música] [Música] [Aplausos] como se sabe Agostin viveu na chamada antiguidade tardia entre o fim do século i e o começo do século V esta situação histórica singular fornece o contexto adequado paraa recepção de temas e de teses da antiguidade e sua transmissão à posteridade medieval de um lado entre os gregos nós temos Platão Aristóteles PL [Música] Cícero sal e virg [Música] quanto ao vasto e profundo legado que Agostinho esquadrinhou e sua obra quanto a repercussão nós sabemos que a influência agostiniana foi determinante para toda a idade média de sorte a constituir um dos eixos centrais
da filosofia medieval só comparável ao aristotelismo redescoberto pelos árabes [Música] neste quadro geral Muitos são os temas herdados da grega ou Romana devidamente reexaminados e modificados Nós escolhemos para hoje um tema estratégico na medida em que para ele confluem preocupações de natureza muito diversa que é o tema do regresso da Alma antes de mais nada convém lembrar que o regresso da alma é o título de uma obra de porfo tanto a obra como o autor deram ensejo a páginas fundamentais da Cidade de Deus para Agostim não se trata simplesmente de aceitar ou rejeitar a tese
de um necessário regresso da alma mas sim de examinar o tema para daí extrair a crítica necessá A neoplatonismo a mesmo tempo em que ele elaborava as suas próprias teses o que está em jogo quando se fala de um regresso da alma não é difícil perceber como essa ideia pode estar vinculada à tese de que o corpo é um cárcere da alma a tese de que a presença da Alma neste mundo em um corpo não seria uma presença confortável que correspondesse à sua verdadeira natureza estar neste mundo significaria uma prisão de tal forma que a
alma deve sempre aspirar a um retorno ao seu lugar de origem fora do cárcere do corpo parece natural pensar que esta concepção de libertação da Alma como fim do Vin o corpo seja uma concepção própria a filosofias de pensamentos de pensadores cristãos como Agos Mas as coisas não são bem assim embora a ideia de um regresso e de uma libertação da alma não fosse estranha a filosofia agustiniana ele não aceitava a condenação da natureza corpórea e muito menos a tese de que o corpo seria um cárcere para nós vamos ver hoje em linhas bem Gerais
De que modo nosso autor faz a crítica de uma certa concepção da relação entre alma e o corpo e dá um novo sentido à ideia de regresso da alma a partir daí para terminar Então nós vamos fazer algumas indicações sobre o vocabulário metafísico Agostiniano pertinente a este assunto e que terá consequências importantes na filosofia da idade média o que não quer dizer que esse vocabulário será Aceito Sem problemas em outras palavras nós pretendemos apresentar a crítica agustiniana a concepção de que o esforço filosófico de procura da Verdade implique primordialmente uma Purificação da Alma notadamente uma
Purificação com respeito ao corpo aquela natureza que contaminaria e pesaria sobre a alma para que ela não pudesse acender a verdade essa crítica de um projeto de purificação é Central para o agostinismo na medida em que tem como alvo especial o platonismo sabemos que Agostinho considerava o platonismo a doutrina mais próxima da filosofia Cristã fazer a crítica do platonismo será então um requisito decisivo para a afirmação da singularidade e da Excelência do cristianismo como a única e verdadeira filosofia ora em comum com o platonismo Agostinho afirmava a necessidade de uma certa negação do mundo presente
conforme um itinerário de procura do mundo verdadeiro daquele mundo inteligível do qual este mundo sensível não é senão signo vestígio e nesta medida mero ponto de partida nestes termos Agostim entende que o platonismo compartilha com ele a crítica A uma outra doutrina ao maniqueismo porquanto o platonismo assim como Agostinho valorizam as coisas inferiores mesmo as coisas ínfimas desde que tomadas como ú ao conhecimento do que é superior enquanto a gnose maniqueísta via nas coisas inferiores um polo real de atração da vontade um polo substancialmente Malu a ser negado em proveito das coisas superiores a filosofia
agustiniana encontra no platonismo uma possibilidade de valorização relativa deste mundo sensível ora em que diferem então agostinismo e platonismo ou melhor esse platonismo na medida em que o retrato que Agostinho traça do platonismo não é necessariamente um retrato historicamente fiel Agostinho tem a sua maneira muito peculiar de reconstruir as filosofias com as quais ele dialoga a diferença estaria agora no modo de conceber as condições desse trajeto das coisas inferiores às coisas superiores em geral a crítica agostiniana assinala O que seria um erro Platônico acerca da natureza da mediação entre o corporal e o espiritual entre
o sensível e o inteligível aqui nos interessa todavia destacar outra diferença porque ela permitirá elaborar o sentido preciso da oposição entre os regimes de interioridade e de exterioridade discutiremos a recusa de um projeto de purificação da alma de libertação com respeito aos impedimentos corpóreos impr proveito de um processo cujo termo desejado é a verdadeira reunião de alma e [Música] corpo ao invés de um progressivo destacamento trata--se de uma restauração da saudável unidade do homem como Corpo e Alma Talvez os senhores eh já escutem na qualificação saudável um Eco que me parece que é pertinente eh
da noção de salvação né a a salvação é ao mesmo tempo a salvação da espécie humana mas ao mesmo tempo também a restauração da saúde ou seja da integridade da natureza humana e portanto a reunião do corpo e da alma isso quer dizer que Agostinho não desconhece a opressão do corpo sobre a alma como ele seria forçoso admitir a partir da autoridade bíblica segundo o livro da sabedoria 9:15 um corpo corruptível pesa sobre a alma or Na verdade o exame do problema será precedido no livro 14 da Cidade de Deus por uma espécie de doxografia
sobre a carne na qual Agostinho recolhe motivos para discutir as relações entre o corpo e a alma e desde logo as compreende como uma relação de opressão daquele sobre esta quando a alma vive segundo a carne contudo ele não entende que esta situação Deva ser considerada como um conflito de naturezas se tal conflito fosse naturalizado então o mal encontraria sua causa sua razão em algo alheio à vontade humana o homem estaria então lançado em um mundo já carregado de mal uma vez que ele próprio já seria o portador de duas naturezas antagônicas porém Agostin entende
o conflito entre o corpo e a alma estritamente como um sintoma sinal de uma desordem na natureza a ordem natural determina o Império da Alma sobre o corpo se tal não se dá se ocorre justamente o inverso um império do corpo sobre a alma então é preciso fazer o correto diagnóstico desse mal entender sua etiologia e seus sintomas e procurar o restabelecimento da saúde do homem todo alma e corpo o império do corpo é reconhecido mas não como causa do mal e sim como sintoma a naturalização do mal é a consideração do Mal como já
presente numa natureza foi a princípio um problema na crítica ao maniqueísmo o dualismo maniqueísta é que concebia o mal como uma substância princípio contraposto ao princípio do bem mas também muitas filosofias que reconheciam apenas um princípio um princípio único incorri no erro de conceber A Origem do Mal fora da vontade essa concepção está expressa em programas de purificação da Alma mediante o controle das paixões ou mesmo a sua completa supressão Agostinho precisa fazer uma nova análise das paixões humanas de É não mais excusar a alma racional ou a vontade racional em Face dos problemas conhecidos
na carnalidade considerar a carne como problema parece acarretar um projeto filosófico de distanciamento a alma deveria se libertar dos influxos corpóreos para conquistar uma tranquilidade imperturbado na verdade esse distanciamento poderia ser de tal ordem que as paixões do corpo mesmo persistindo não afetariam propriamente a alma agustin faz referência a duas situações do Repertório clássico que atestam nitidamente a concepção de uma completa e almejada dissociação entre os movimentos do corpo e o estado da alma em primeiro lugar a anedota de um filósofo estoico narrada nas noites áticas por aul gélio um certo filósofo vive o grande
perigo de um naufrágio Tremendo e empalidecendo durante uma tempestade intensa para explicar que o tremor e a palidez não contradizem a sua condição de filósofo Ele explica que tudo não passava de uma inevitável manifestação corpórea de perturbações igualmente corpóreas as quais não exprimiam contudo o estado imperturbável de sua alma a anedota vai mais longe mas a outra parte eu não contto de modo similar Agostinho recorre também a Eneida de Virgílio [Música] f que apresenta a firmeza de Enéias Face aos apelos e Sofrimentos de Dido segundo o mesmo divórcio o pranto de Eneias não denuncia a
sua alma e aí Agostinho cita Virgílio seu espírito de Eneas permanece inabalável as lágrimas inutilmente corre enas chorava mas era só o corpo que chorava a alma estava firme nos dois casos presume-se que tanto o filósofo como o herói já teriam alcançado a necessária distância o que está em jogo é a ideia de que a natureza corpórea é um lastro para a alma um cárcere cego diria Virgílio para sua natureza Luminosa eu cito novamente Virgílio tem esses germes de vida vigor ío que devem a sua origem Celeste enquanto as impurezas do corpo não os contamina
nem os embota nossos órgãos terrenos ou os nossos membros já destinados à morte é Portanto o vínculo entre a alma e o corpo que acarreta as paixões ao contaminar a alma ao utilizar rigorosamente o vocabulário das paixões Vigílio na ineida será porta-voz do platonismo na sequência dos versos citados acima o poeta enuncia uma verdadeira sistemática eu cito novamente quando Porém isso acontece as almas conhecem o desejo e o medo a alegria e a dor se a alma quer se reunir a Deus então seria primeiro teria primeiro perdão que se livrar da opressão do corpo desse
modo a literatura apenas exprimia um ponto de vista compartilhado pelo estoicismo e por platônicos como por fil [Música] que recomenda evitar todo o corpo uma uma frase clássica que Agostinho comentou muito evitar todo o corpo a condenação da exterioridade eh da qual Agostino compartilhava pode resultar se mal interpretada na reabilitação do maniqueísmo vale dizer numa nova naturalização do [Música] mal se o maniqueísmo erra ao atribuir à matéria um mal intrínseco como se o mal e o bem fossem dois princípios rivais de valências Opostas mas igualmente dotados de realidade agora mesmo aqueles que admitem um único
princípio também parecem naturalizar o mal ao propor a condenação pura e simples de todas as paixões ou ao menos o seu controle e domesticação pela alma para enfrentar esse ponto de vista Agostinho deve primeiro neutralizar moralmente as paixões seu propósito consiste em mostrar que as paixões não são intrinsecamente boas ou macho nem o desejo nem o medo nem a alegria nem a dor devem ser qualificados como maus por si [Música] mesmos apenas a partir desta neutralização é que a exterioridade poderá ser condenada sem o risco de reincidência na substancialização do mal a carne não é
por natureza um cárcere da alma aí agora eu cito a Cidade de [Música] [Aplausos] [Música] Deus não há necessidade de acusar da natureza da Carne por causa dos Vícios e pecados o primeiro passo consiste em mostrar que as paixões devem ser encaradas como diferentes vontades desejo medo prazer tristeza eu cito novamente Agostinho em todos eles a vontade melhor diríamos todos eles não passam de vontade o segundo passo será questionar a distinção entre paixões intrinsecamente boas e intrinsecamente má nenhuma paixão vai dizer vontade será aprovada ou recusada por si mesma de tal forma que que resulta
sem sentido o propósito da ausência de Paixões a impassibilidade ou a apatia ou a ataraxia se a gente quiser falar grego ou mesmo o simples propósito de um controle que discrimine entre afecções más as perturbações e afecções boas as constâncias ou eupati o resultado geral dessa análise será a exibição do papel preponderante da vontade lugar da Alternativa entre o bem e o mal e uma redefinição do vínculo entre o mal e as paixões eu naturalmente não vou fazer toda reconstruir toda análise agustiniana o que interessa aqui é que essa análise não resulta num elogio das
paixões mas a sua simples tradução como formas variadas de vontade paixão Medo Desejo tristeza é uma vontade e seu valor moral depende do valor daquela vontade valor que não será determinado pela espécie de vontade se ela é medo se ela é tristeza se ela é alegria ou desejo Agostinho recusa a ideia de que uma sistemática pudesse fixar vontades boas ou vontades más por exemplo segundo uma tal sistemática o amor seria uma vontade boa mas o desejo seria uma vontade má a precaução seria boa em contraste com o medo paixão imprópria ao sábio na verdade agustin
vai explorando uma certa fluidez do vocabulário da literatura pagã e das escrituras como indício de que o valor da vontade não está univocamente associado a tipos de vontade H bons e maus desejos bons e maus amores bons e maus temores e assim por diante nesse sentido que nós falamos em neutralização das paixões O que determina o seu valor moral são as coisas a vontade elege ou aborrece se elege ou aborrece o que deve é uma vontade boa uma boa paixão se apetece ou Evita o que não deve então é uma vontade perversa Isto é se
apetece o que não deve apetecer ou se evita o que não deve evitar entretanto uma tal neutralização das paixões não pode simplesmente negligenciar o seu vínculo o vínculo n paixões com a percepção de miséria de Sofrimento os exemplos de boas paixões em particular Os Bons ódios os bons medos as boas tristezas tem que ser analisados mais de perto mesmo que se Admita que odiar o vício seja um bem que temer a Deus seja uma afecção segundo a razão reta Que a misericórdia seja uma vontade Nobre o mal parece que continua a visitar essas expressões do
livre arbítrio a a Tábua estóica das eupati parece que procura assinalar justamente isso uma vez que não há uma eupati uma Constância correspondente à tristeza se a perturbação do desejo Corresponde à sábia vontade a perturbação da Alegria corresponde o sábio gozo e ao medo corresponde a sábia precaução não haveria correspondente na alma do sábio para tristeza e não basta argumentar que a tristeza poderia ter uma Constância correspondente quando de um justificado arrependimento uma vez que o autêntico sábio não terá jamais de que se arrepender ora para recusar as eaas as constâncias Será preciso aoo encarar
as paixões como um elemento da vida humana sem naturalizar o mal ao indicar que a economia das paixões tem que ser estudada a expressão é dele na peregrinação desta vida Agostinho sinaliza o fundamento da sua crítica a ideia de purificação da alma nesta vida as paixões são necessárias como sintomas de uma certa condição Isto é da condição decaída que contrasta com a tranquilidade edênica o que queremos mostrar basicamente é que as paixões da Alma como o ódio ao vício ou o temor a Deus não podem ser valorizadas sem levar em conta esta vida a análise
de Agustinho pressupõe a concepção de que esta vida é uma vida de peregrinos Isto é daqueles que não vivem em sua terra natal exilados os homens tem necessidade de Paixões a pressão peregrinos aqui se reporta pouco eu acho a forma de devoção que vão ser conhecidas propriamente na Idade Média em que os peregrinos vão fazer eh caminhadas eh piedosas Peregrino aqui eu acho que diz respeito muito mais ao vocabulário jurídico romano ou seja daquele homem que vive em Roma Vive sobre o império de Roma mas a sua terra natal é outra é esse estatuto jurídico
que Agostinho eh atribui aos cristãos eles vivem neste mundo mas esse mundo não é a sua terra natal para compreender esse exílio Será preciso então levar em conta o diagnóstico desta vida como uma condição decaída a quem da integridade da Natureza Humana o ponto de partida deve ser pois a memória de outra vida de cuja perda o filósofo deve ganhar progressiva consciência os movimentos da alma são importantes nesta vida aí eu cito o livro 14 Capítulo 9 entre nós segundo as sagradas escrituras e a Sã Doutrina os cidadãos da cidade santa de Deus que que
vivem segundo ele na peregrinação desta vida temem e desejam sofrem e gozam e ele continua mais adiante no mesmo Capítulo 9 portanto é preciso admitir que embora nossas afeições sejam retas elas são privativas desta vida e não daquela que esperamos AD vir então o verdadeiro problema para moral portanto não é o conflito do corpo com a alma mesmo que os homens experimentem tal conflito e mesmo que lhes Pareça que o corpo embaraça a alma impede a sua livre escolha esse conflito é apenas um sintoma sintoma do conflito da Alma consigo mesmo hoje nós não temos
tempo para examinar com minúcia ou com a mencia necessária a análise agustiniana da queda da expulsão do Paraíso daquele momento em que os homens perderam o privilégio da condição adâmica basta assinalar que esta queda foi causada não pelo influxo do corpo ou da Carne mas sim por uma livre decisão da vontade naturalmente uma decisão infeliz ocorre que ao fazê-lo a vontade entrou em conflito consigo mesmo como nós tentaremos comentar daqui a pouco por enquanto é preciso entender que Agostinho era bem consciente dos conflitos dos dramas Morais do homem mas não os atribui Ao corpo e
sim a alma vejamos então uma passagem que exprime com clareza esse ponto Agostinho narra a sua hesitação moral antes de [Música] con em meio à grande luta interior que eu violentamente travava No íntimo do coração contra mim mesmo [Música] [Aplausos] [Música] [Aplausos] [Música] tal Richa interior que ele também chama de tempestade de hesitação ocorria na alma na Alma contra si mesma eu cito novamente a alma comanda o corpo e este lhe obedece imediatamente comanda a si mesma e esta resiste a alma ordena a mão que se mova e a obediência é tão fácil que mal
se distingue a ordem da execução a alma ordena que a alma queira e ainda que se trate da mesma alma ela não obedece Qual a origem dessa monstruosidade nós não vamos aqui examinar a origem dessa monstruosidade eu posso adiantar para os senhores que a palavra chave nesse caso é a soberba mas sim situar uma de suas consequências relevantes para a teoria das paixões para Então finalmente encerrar com duas palavras sobre o quadro metafísico que sustenta essas noções e recuperar algum sentido pressão regresso da al nós falamos acima de regimes regime de interioridade regime de exterioridade
por hora associemos o seno político desse termo regime a outro termo igualmente político a tirania [Música] para comentar o conflito da alma com o corpo que há o conflito nesta vida Agostinho recusou o termo cárcere em proveito de outro a uma tirania do corpo sobre a alma por quê Porque a tirania é o exercício de um poder contrário à natureza o verdadeiro e autêntico soberano é a alma mas uma vez que a alma entrou em conflito consigo mesma uma vez que ela destruiu por razões que nós não podemos aprofundar aqui a sua integridade edênica ela
mesma é que promoveu uma sublevação de seus súditos os membros do corpo o que nos importa destacar aqui é que este diagnóstico não recomenda então uma Purificação da alma não recomenda que ela se do corpo ao contrário esse diagnóstico indica que a terapia almejada deverá promover a reunião saudável de alma e corpo a restauração da natureza humana na sua integridade [Música] [Música] quem já leu um pouco da sobre a biografia de Agostinho ou leu a As Confissões sabe que ele não desconhecia os conflitos da Carne Ele simplesmente sabia situá-los como decorrência de uma dinâmica moral
e não como de uma como decorrência dos movimentos do corpo um programa filosófico de purificação da alma e de domesticação das paixões poderia significar A negação do papel do livre arbítrio imputando a corporeidade e os males do homem mas nesta vida cabe ao homem conhecer sua condição decaída conhecer a tirania do corpo e fundamentalmente conhecer a própria alma racional se nós devemos destacar uma das múltiplas consequências dessas análises feitas aqui de maneira muito sumária claro podemos dizer que Agostinho dá lugar a uma renovação do programa filosófico conhece-te a ti mesmo que remonta a ao Oráculo
de [Música] Delos procurar conhecer a si mesmo só faz sentido em vista daquele diagnóstico de que a alma racional está dividida com respeito a si mesmo é notável porque ele ele faz uma bela análise de porque esse imperativo em princípio não faria menor sentido Como assim conhece a ti mesmo se a coisa mais presente para cada um é cada um a alma não tem nada mais presente esse mesmo do que ela própria Então porque um programa conhece-se a ti mesmo e só é compreensível a partir dessa análise contra PR finalmente voltemos ao nosso tema inicial
disos que a ideia de regresso da alma não era totalment Estranha de fato tentaremos explicar isso agora mediante um REC para um cenário [Música] bastante Deus onde se encontrará uma explicação das naturezas da alma e do corpo bem como de suas relações para tanto Vamos fazer uma consideração muito simples trata-se de decompor o ato criador de Deus a criação do mundo pode ser analisada em dois gestos divinos é claro que Deus único e absoluto não fez dois gestos fez um só e tava tudo feito mas do ponto de vista da análise que a alma racional
é capaz de fazer é possível e desejável decompor em pelo menos dois gestos o primeiro consiste tão somente no ato de criar algo que não é Deus mas sim criatura de Deus Isto é trata--se de algo inteiramente outro diferente de Deus desse ponto de vista nós temos Total diferença e autoridade entre Deus e a sua criatura entretanto o ato criador implica outro Gesto o gesto de este outro diferente traços de semelhan com o próprio criador embora não chegue a estabelecer uma identidade entre criador e criatura o ato Divino imprime alguma semelhan ao outro que são
as criaturas esse duplo ato pode ser ainda descrito com um vocabulário metafísico bastante peculiar que vai irritar sobretudo alguns aristoteles da Idade Média a criar este outro que Deus estava sozinho né esse outro Deus criou a matéria e para imprimir a este outro que é a matéria as marcas de semelhança Deus lhe impôs a forma assim cada coisa pelo fato de não ser Deus é matéria e pelo fato de ser semelhante a Deus tem forma cada coisa não é o Supremo bem mas é um bem cada coisa não é a suprema verade mas é verdadeira
cada coisa não é o Supremo ser mas é um ser Cada corpo tem matéria e forma e cada alma racional também pode ser analisada em termos de matéria e forma Cada corpo é matéria pelo simples fato de ser criatura e tem forma porque tem beleza simetria ordem e assim por diante as análises Agostinianas sobre isso são muito bonitas inclusive literariamente capaz de mostrar como a beleza forma eh numa briga de galo numa pulga num punhado de folhas que tá entupindo uma canaleta por o qual escorre a a uma chuva de outono é é muito tudo
isso tem matéria e forma agora cada alma racional é matéria porque é criatura porque é outro do que Deus e cada alma tem forma porque é semelhante a Deus na sua racionalidade na sua vontade e assim por dia acent temos agora mais um elemento para pensar o ato criador segundo aquela decomposição o primeiro gesto lança algo outro algo fora de Deus o segundo Gesto o que dá a forma convoca este outro de volta à sua origem a forma ao conferir semelhança é como um chamado de cada criatura a que se reaproxima do Criador importante sublinhar
Esse aspecto porque ele permite considerar os papéis peculiares da alma e do corpo enquanto todo o universo foi criado à semelhança de Deus o homem foi criado À imagem e semelhança Agostin interpreta essa diferença as criaturas a semelhança e o homem a imagem e semelhança segundo um aspecto moral a alma humana tem um papel especial porque a sua volta é livre Assim como Deus é livre o homem feito à imagem de Deus também é livre para fazer essa volta ora ao comandar o homem inteiro cabe a alma escolher essa volta então se nós passamos desse
ponto de vista metafísico Geral do imperativo de volta gerado no próprio gesto criador e consideramos agora em acréscimo a condição Peregrina o estado desta vida decaídos expulsos do Paraíso vemos como o tema do regresso da Alma vem a ser importante agora somam-se duas exigências aquela exigência primordial de retorno da criatura feita à imagem de semelhança e a carência histórica diríamos da condição decaída da condição [Música] Peregrina para Agostinho análise da condição humana deve integrar dois aspectos o regresso da Alma vem a ser na verdade uma história da salvação no sentido de uma recuperação da saúde
do homem como um todo o regresso da alma é o regresso comandado pela alma mas não o regresso da alma para libertar-se do corpo com isso fica ainda uma observação sobre a herança deixada por Agostinho para a idade média [Música] [Música] é patente que o seu vocabulário filosófico Era bastante peculiar a alma Então não é o mesmo que a forma assim como o corpo não é o mesmo que a matéria se explica naturalmente um certo primado da relação entre a alma e a forma e um primado da relação entre o corpo e a matéria mas
só um primado por qu porque se a alma que escolhe Então ela tá mais próxima desse elemento dinâmico de fazer o retorno que é o retorno da forma e o corpo como ele obedece a alma ele tá mais próximo da matéria porque El ele é mais alteridade com relação a Deus do que a alma mas isso não pode significar uma identidade entre alma e forma e de um lado e do outro lado corpo e matéria mas como os senhores verão essa esse vocabul tão útil para pensar uma crítica das paixões e um tema agustiniano vai
ser inteiramente reformulado e talvez até desrespeitado pelos pelos que o seguiram [Música] l [Música]