Nós matamos o Cão-Tinhoso, de Luís Bernardo Honwana - Brasil Escola

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Brasil Escola Oficial
Assista a nossa videoaula para aprender um pouco mais sobre o conto “Nós matamos o Cão-Tinhoso”, do ...
Video Transcript:
Olá pessoal eu sou elissa professora de literatura tudo bem com vocês hoje estou aqui para falar um pouco sobre o conto do escritor moçambicano luí Bernardo Ruana mas primeiro inscreva-se em nosso canal e Ative o Sininho para receber as notificações antes de começar a falar de nós matamos o c eu preciso avisar alerta de gatilho é um conto triste é um conto violento é um conto difícil de ler difícil de de reviver de remoer de digerir né é um texto extremamente doloroso pertence ao gênero conto apesar da sua extensão né ele ele não é tão
curto como a gente costuma esperar como a gente costuma ver no gênero conto foi publicado no ano de 1964 ainda ainda numa Moçambique Colonial né Desse escritor desse escritor luí Bernardo Ruana Ruana né pode pode pronunciar Ruana ou Ruana esse sobrenome e é um texto que traz as marcas desse cenário desse momento né de uma Moçambique que está lutando pela própria Independência logo a gente tá falando de um cenário de instabilidade um cenário de insegurança e consequentemente um cenário de medo e de violência neste conto nós temos um narrador personagem é um garoto chamado Ginho
esse menino vai contar algumas memórias né vai contar alguns incidentes envolvendo o cachorro abandonado que vivia ali na escola onde ele estudava e esse Ginho faz parte de um grupo de meninos uma espécie de gang que dentro da narração ele nomeia como Malta Então a gente tem um grupo de meninos aí que que tem um comp tamento tanto quanto questionável né não são meninos muito eh muito carinhosos são meninos que são marginalizados são meninos que vivem a violência na pele então de certo modo nas relações que eles estabelecem é isso que eles aprendem a doar
porque é isso que eles recebem um dos supostos líderes desse grupo é o Kim Ele é um menino muito inteligente Apesar de muito a gente vê a uma certa dose de violência né uma espécie até de de maturidade violenta que que ele tem é como se ele nem fosse criança mais ele é muito inteligente Ele conta muitas histórias e uma das histórias que ele conta é de que o cão tinhoso esse cachorro abandonado que vive ali naquela escola ele é daquele jeito porque ele sobreviveu a Segunda Guerra Mundial sobreviveu aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial
e de fato esse cão tinhoso né que é gravado com letras maiúsculas é grafado com letras maiúsculas ele é triste ele tem uns olhos azuis muito grandes ele fica encarando as pessoas parece que ele tá sempre chorando mas também sempre sondando as pessoas para quem ele olha ele é magro ele é velho ele é doente maltratado né todo cheio de sarna então é um cachorro muito maltratado pelas circunstâncias da vida e ali naquele espaço onde ele transita também maltratado pelas pessoas justamente por suas condições físicas e por essas condições o cão tinhoso era rejeitado por
todo mundo Nenhuma das crianças ali da escola nenhum dos adultos gostava do cão tinhoso todos escurra avam ele né expulsavam esse cachorro é todos tinham nojo dele exceto uma menina chamada Isaura a quem os meninos apelidam de ter algum tipo de problema mental né de ter algum distúrbio emocional mental porque ela dava atenção ao animal e e e nesse nesse Episódio no meio dessa dessa situação desse cachorro que é excluído não só por humanos né adultos e crianças mas também pelos outros cachorros que ele tem tenta entrosar ele tenta adentrar um grupo de cachorros que
estão ali passando perto da escola e os cachorros latem para ele rosam ficam muito furiosos e ele é escurra assado também do grupo de cachorros logo a gente tem então no C tinhoso essa metáfora né do sujeito que é excluído da sociedade é uma figura periférica marginalizada simbolicamente então representaria o próprio africano que é é é ridicularizado é marginalizado dentro da sua própria casa do seu próprio território em virtude né dessa lógica eh de colonização dessa lógica Colonial eh O administrador da escola manda que o veterinário sacrifique que ele dê fim que ele dê cabo
do cão tinhoso mas o veterinário não consegue fazer isso com suas próprias mãos não quer não tá interessada em sujar suas mãos matando esse cachorro que já tá mais para lá do que para cá n circunstâncias sociais em que ele se encontra e manda os meninos da Malta os meninos da gang fazerem isso dar cabo da vida do do cão tinhoso ele usa um discurso chantagista cínico né Fala PR os meninos que sabem do que os meninos são capazes do que que os meninos costumam fazer que aquele tipo de coisa é missão para homens né
então ele tem esse discurso para tentar chantagear os meninos e os meninos caem nessa Ele oferece espingardas pros meninos Os meninos levam o canhoso pro meio do mato o Ginho o nosso narrador personagem é encarregado de levar o cachorro na corda pro meio do mato e ele fica com peso uma dor no coração porque ele sabe que tá carregando o animal pro abate e o animal encosta nele Em alguns momentos olha para ele e ele sente essa comoção né como se o animal estivesse pedindo para viver mesmo vivendo daquele jeito é então ele recua a
princípio né de dar o primeiro tiro ele é encarregado de dar esse primeiro tiro de dar o primeiro ataque contra o cão tinhoso e fica pedindo desculpas né se desculpando né Em algum momento do ponto ele começa a conversar com o cachorro e fala PR os meninos Olha eu vou levar para casa eu vou cuidar do canhoso deixa eu vou dar banho nele ele vai ficar bom vocês vão ver e fica conversando com o c tinhoso Me desculpe eu tô tentando né Mas isso não resolve a situação né de fato é um conto que realmente
não não está interessado em trazer happend pra gente trazer final feliz a reflexão mesmo é sobre as grandes tragédias que a vida nos coloca e nesse conto como é de se esperar né é um conto que realmente tem um um um um papel de tocar no leitor né mexer com o leitor levar o leitor a uma reflexão a problematizar a realidade a história de certos países a história da colonização obviamente que essa narrativa então vai se basear numa construção de cenário extremamente violenta né a gente tem um cenário de violência eh a gente percebe a
violência envolvendo a questão da guerra da luta pela independência mas mas a violência também ela é Ela é constituída nessas relações cotidianas que são estabelecidas Então a gente tem uma violência do sistema escolar professores e professoras que são muito rígidos que são muito severos e que aplicam inclusive castigos físicos eh humilhação eh exposição dos alunos e das alunas então a gente percebe também uma violência aí nas relações de trabalho entre as figuras que trabalham dentro dessa escola né as hierarquias que são estabelecidas dentro desse sistema educacional elas são opressoras elas são violentas entre as próprias
crianças a gente também tem uma linguagem muito violenta uma comunicação muito violenta a relação sempre também de muita hierarquia né de opressor violentando o Oprimido existe aí uma hierarquia por exemplo entre o Kim e os outros membros da gang né ele que manda é ele quem dá as ordens e os outros são zombadas ridicularizados facilmente quando tentam Contrariar uma decisão dele eh Há também essa violência na relação entre as pessoas e e os Animais né a gente percebe por exemplo na figura do cão tinhoso como ele é tratado a gente percebe também uma violência contra
a mulher a Isaura é a única figura que tem algum tipo de amenidade em relação a todo esse cenário Mas ela é tratada como se fosse uma pária também né ela não é especial porque ela consegue ter um olhar mais afetuoso em relação ao mundo em que ela está vivendo mas muito pelo contrário ela é mais rechaçada por isso ela é mais reduzida diminuída menosprezada por ser uma garota né isso também é levado em consideração a gente também tem outros elementos muito importantes a gente lê o conto a gente não percebe os personagens o narrador
não se coloca e não nomeia as outras personagens como figuras negras dentro da narrativa eh mas a gente sabe que Moçambique é povoado por pessoas negras né então a gente percebe que a a a questão do racismo ela aparece na linguagem nós percebemos por exemplo Que certas figuras quando vão quando vão falar quando vão se pronunciar tem uma uma retórica né tem um uma segurança na fala que marca esse lugar social e racial dentro da narrativa né pessoas que tem poder são pessoas brancas é a figura do Veterinário por exemplo que vez ou outra na
linguagem solta termos como preto como negro né se referindo à cor da pele dessas figuras que estão sendo ridicularizadas dentro do seu próprio território Então a gente tem aí uma série de violências que vão atravessando a obra e a violência mais exacerbada mais visível é a violência contra esse animal mas existem violências que são veladas que elas já estão como marcas estruturais eh como que possibilitando o funcionamento de uma sociedade que estab e que propõe a manutenção dessas hierarquias E aí na contramão na contraposição desse cenário todo já naturalizando a violência nós temos a humanização
do animal ou pelo menos a gente pode entender que esse animal resiste ele ele não permite né por meio do seu olhar poético triste carregado de emoção ele não permite se submeter à desumanização imposta por esse meio né porque a gente já tem uma espécie de institucionalização da violência nesse cenário de nação colonizada né então a violência ela vem de todos os lados de todas as formas possíveis em todas as relações mas o animal mesmo machucado mesmo ferido mesmo todo marcado e cicatrizado pelas violências que ele sofreu ao longo da existência dele ele ainda assente
a um carinho a uma comida a um lanche que é dado para ele ele segue pessoas ele tenta entrosar com pessoas e com outros animais é um animal que tenta ainda estabelecer um tipo de conexão afetiva um tipo de conexão afetuosa então a gente tem eh eh eh esse essa contradição dentro da obra de um lado a institucionalização da desumanização e um animal né um ser tão simplório dentro da sociedade muitas vezes tão menosprezado perpetuando ainda persistindo e insistindo na reumanize dentro da sociedade e outra coisa que chama atenção é que até então o Ginho
parecia alheio ele só queria ser se inserir né ele só queria ser aceito nesse grupo de meninos dessa Malta que andava para cima e para baixo então fazer de tudo para ser aceito quando ele tem essa oportunidade de ser aceito por esse grupo que esbanja violência ele tenta voltar atrás e ele tenta dissuadir esse grupo de matar o c tinhoso Não façam isso eu vou cuidar dele a até a alegoricamente parece né soa como uma tentativa de resistência da própria figura do colonizado em relação à colonização de não aceitar a matança de não aceitar o
derramamento gratuito de sangue e para ilustrar muito bem né eu não vou ler o conto todo porque ele é um conto longo e também merece que você tenha esse próprio contato com o texto né Eu acho que vale a pena a gente entrar em contato com o próprio texto pra gente poder sentir o que ele nos nos promove que ele nos oferece mesmo oferecendo esse alerta de gatilho aqui pra gente poder refletir sobre violências que ainda acontecem como a gente precisa resistir a essas desumanização a esses processos de desumanização eu vou ler um trecho do
conto que mostra de certo modo a figura do canhoso e como ela é forte como ela é icônica dentro do texto O Cão tinhoso olhava-me com força os seus olhos azuis não tinham brilho nenhum mas eram enormes e estavam cheio de Lágrimas que lhes corriam pelo focinho metiam medo naqueles olhos assim tão grandes a olhar como uma pessoa pedir qualquer coisa sem querer dizer quando eu olhava agora para dentro deles senti um peso muito maior do que quando tinha a corda a tremer de tão esticada com os ossos a querer fugir da minha mão e
com os latidos que saíam a chiar Afogados na boca fechada bem pessoal isso aqui foi um pouquinho da análise do conto nós matamos o cão tinhoso e eu espero que apesar de toda ter tristeza de toda dor que esse conto suscita em nós que ele também permita uma reflexão sobre a realidade e sobre o papel o poder da arte em relação ao mundo em que vivemos e a realidade em que estamos inseridos deixa o seu like compartilhe esse texto esse vídeo essa videoaula com outras pessoas que também se interessem por esse assunto Se quiserem saber
um pouco mais sobre o conto sobre literatura moçambicana sobre o autor a os links aqui na descrição eu vou ficando por aqui eu agradeço a atenção de vocês até a próxima
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