A relação entre pais e filhos é uma das mais importantes na vida de muitas pessoas e, em alguns casos, um dos pais pode ser indevidamente afastado do seu filho ou filha. Isso tem a ver com um fenômeno conhecido na psicologia como alienação parental. Eu sou o André, tenho um doutorado em psicologia e hoje, com a ajuda do amigo e também doutor em psicologia Victor Keller, quero esclarecer alguns pontos sobre a alienação parental e quais são os efeitos que ela pode ter sobre as crianças.
Se achou ijnteressante o assunto que escolhemos abordar hoje, não deixa de clicar no joinha para nos ajudar, inscreva-se no canal e siga a gente nas redes sociais! Nem todo afastamento de um dos pais do filho ou filha é um exemplo de alienação parental. Em casos envolvendo abuso ou negligência, por exemplo, o afastamento do pai ou mãe pode ser necessário para garantir a integridade da criança e não seria considerado uma alienação.
Quando a criança é afastada de um deles sem uma justificativa legítima, aí sim é um caso de alienação e ela pode ter consequências negativas para a criança e o pai ou mãe afastada, além de consequências legais para a pessoa que a comete. O conceito de alienação parental ganhou destaque na década de 1980, quando o psiquiatra Richard Gardner propôs que ela era um transtorno psicológico vivido pela criança por conta da manipulação psicológica de um dos pais. Ele observou que, em certos casos extremos de separação ou divórcio, a criança se aliava a um dos pais e desenvolvia uma grande aversão em relação ao outro pai, o que Gardner entendia como não justificada ou irracional.
Se a criança demonstrasse comportamentos como críticas unilaterais e sentimentos irracionais de rejeição voltados a um dos pais, além de um apoio automático ao outro pai, Gardner concluia que a criança tinha sido manipulada e desenvolvido a alienação parental. Outros profissionais também observaram que algumas crianças exibiam esse tipo de comportamento, especialmente em casos de divórcios conflituosos e nos quais a criança parecia ter sido manipulada por um dos pais. Um grupo desses profissionais propôs que a alienação parental fosse reconhecida por instituições profissionais da área da psicologia e saúde familiar como um transtorno mental que poderia ser revertido através da psicoterapia.
Apesar de ser possível que crianças sejam manipuladas para terem esses sentimentos em relação a um dos pais, muitos profissionais criticam a visão de que esses sentimentos e condutas refletem um transtorno mental. Os pesquisadores e clínicos responsáveis por atualizar o DSM, que é o principal manual diagnóstico de transtornos mentais no mundo, chegaram a considerar a inclusão da alienação parental na última edição do manual, mas, devido à várias críticas, decidiram não incluí-la. Uma das críticas à literatura de alienação parental é que a principal teoria sobre como o transtorno ocorreria é muito simplista.
Muitos proponentes desse conceito dizem que a alienação ocorre através de uma manipulação da criança por um dos pais, fazendo ela rejeitar o outro pai. Só que existem outros fatores além da manipulação que podem fazer com que uma criança rejeite um dos seus pais. Aspectos da personalidade dos 2 pais, da criança e das circunstâncias em que a família se encontra, como o contexto cultural e sócioeconômico, podem influenciar as opiniões da criança sobre os pais.
Alguns pesquisadores argumentam que, na maioria dos casos, dificilmente a causa da rejeição é apenas o que um dos pais disse sobre o outro. Inclusive, a depender das circunstâncias, uma criança pode se sentir progressivamente mais distante e se afastar de ambos os pais, e não apenas de um deles. Casais vivenciando uma crise no relacionamento podem ter dificuldade em manter uma relação próxima e positiva com os filhos, além da crise também ser capaz de estressar a criança.
Outra crítica à essa ideia é que os termos usados por proponentes da alienação parental são excessivamente vagos. Um exemplo disso é a expressão "lavagem cerebral" que era muito usada para descrever como a manipulação ocorria. De acordo com os críticos dessa ideia, não existem critérios objetivos para determinar se uma lavagem cerebral ocorreu.
Ela costuma ser deduzida a partir das impressões do pai alienado e da criança depois de ela ter idade suficiente para relatar o que aconteceu. Por não contar com critérios claros e objetivos de diagnóstico, algumas pessoas podem se aproveitar disso para conseguir a guarda do filho indevidamente. Em casos mais extremos, pais que abusam dos filhos podem acusar falsamente o outro pai de ter causado a alienação parental.
Através de um processo, esse pai abusivo pode conseguir fazer com que o filho ou a filha seja obrigada a visitá-lo ou até ficar com a guarda integral dela a depender da decisão judicial. Como é considerada até hoje por alguns como um transtorno, existem propostas de tratamento para a alienação parental. Em geral, elas consistem de sessões supervisionadas e guiadas por um terapeuta em que a criança convive com o pai pelo qual ela tem aversão.
Um problema com esse tipo de tratamento é que ainda não existem evidências claras e produzidas de forma rigorosa que demonstrem os seus níveis de segurança e eficácia. Apesar dessas críticas, crianças podem sim ser influenciada e passar a ter uma rejeição extrema a um dos pais. Mesmo que não seja considerada de maneira formal um transtorno psicológico, essa rejeição pode ser estudada e se tornar o alvo de intervenções psicológicas como qualquer outro fenômeno que cause sofrimento a alguém.
É especialmente comum que algo assim ocorra quando um casal está passando por um processo de divórcio ou quando há a disputa legal pela custódia de um ou mais filhos. A rejeição por parte da criança pode ser estimulada de forma proposital por um dos pais, mas também pelos próprios comportamentos inapropriados do pai ou da mãe, por exemplo. Em alguns estudos, adultos com pais divorciados responderam questionários sobre as relações que tiveram com seus pais durante a infância e adolescência, assim como sobre sua saúde mental atual.
Aqueles que foram afastados de um dos pais se mostraram mais propensos a desenvolver problemas ligados à depressão, ansiedade, baixa autoestima e um estilo de apego inseguro. Esse tipo de estudo mostra que a alienação parental se correlaciona com problemas ligados à saúde mental, mas não demonstra que ela causa tais problemas diretamente. Para averiguar isso melhor, o ideal seria que estudos experimentais fossem conduzidos, só que isso esbarraria em dificuldades práticas e éticas a depender do formato do estudo.
Outro fator que pode estar relacionado com a alienação, mas que possui um impacto maior e mais claro na saúde mental de crianças, são os maus-tratos infantis, assunto que já abordamos em outro vídeo. Em muitos casos, pode ser que eles sejam o principal fator prejudicando a saúde mental da criança e não a alienação. O problema é que, como os maus-tratos aumentam a chance de que se inicie um processo de alienação, pode ser difícil separar o impacto de cada fator.
Apesar de ainda existir controvérsia sobre o que é a alienação, quando ela ocorre, quais são as suas causas e consequências, parece claro que crianças podem ser levadas a rejeitar um dos seus pais de maneira indevida e que isso traz repercussões negativas para a vida de todos os envolvidos. Pode até ser que algumas pessoas aleguem a existência da alienação de forma falsa, mas existem casos reais de alienação nos quais a criança foi incentivada intencionamente por um dos pais a se afastar do outro. Por esses e outros motivos, é tão importante que sejam conduzidos estudos mais rigorosos sobre a alienação parental.
Também é fundamental que novas teorias sobre esse fenômeno sejam desenvolvidas e averiguadas, já que, hoje em dia, sabemos que as coisas podem ser bem mais complexas do que se imaginava antes. A necessidade de entender melhor a alienação parental é especialmente importante para nós aqui no Brasil, já que apresentamos índices elevados de violência doméstica e contra a criança. Embora ainda não existam dados super claros sobre isso, tudo leva a crer que a alienação também é alta por aqui.
Quando alguém pensa na psicoterapia, pode imaginar que ela se resuma a tratamentos individuais para dificuldades ligadas à saúde mental. Só que alguns psicólogos também se dedicam a ajudar famílias a lidarem com seus conflitos e a encontrarem formas mais saudáveis de conviverem. Isso tem a ver com a terapia famliar e se você quer que a gente fale mais sobre ela aqui no canal, comenta aqui embaixo.
Se você ou alguém que você conhece está passando por esse tipo de problema, pode ser uma boa ideia procurar pela indicação de um bom profissional que trabalhe com essa forma de psicoterapia. Caso você se interesse em entender melhor como os nossos relacionamentos impactam o bem estar, então não deixa de conferir o meu livro que acabou de ser lançado, o "Ser humano: Manual do usuário - As origens, os desejos e o sentido da existência humana". Você pode comprá-lo no link que está aqui embaixo, na descrição do vídeo.
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Também discutimos algumas das principais críticas que esse conceito já recebeu e como é importante que esse fenômeno seja melhor estudado aqui no Brasil. O que você achou do vídeo de hoje? Se gostou, clique no joinha, inscreva-se no canal e clique no sininho!
Um vídeo que você pode assistir agora e que tem tudo a ver com o tema de hoje é o que a gente fez sobre a psicologia dos casamentos.