Queridos irmãos, o Evangelho nos descreve uma cena impactante: um cobrador de impostos, profissão infamante nos dias de Cristo, um homem odiado pela própria população, porque os cobradores de impostos eram considerados corruptos; eles enriqueciam, muitas vezes, à custa do lucro injusto que obtinham. Jesus passa por ele e diz: "Segue-me". Jesus não faz nenhuma pergunta sobre a sua vida, sobre as suas disposições, sobre como ele era.
Ele passa e chama Levi. Deixou tudo, levantou-se e o seguiu. É o mistério do encontro da Graça divina com a liberdade humana.
Deus chama, e a sua voz soberana atinge até o fundo das nossas almas. Diz o Salmo 46 que ele levanta sua voz e a terra se derrete, os montes se desfazem: "Aquietai-vos e sabei que sou Deus, que domina as nações, que domina a Terra". E, no entanto, apesar da força atrativa da sua graça, nós podemos resistir.
Nós podemos dizer-lhe não. A liberdade humana é um perigo quando não bem usada, porque nós podemos usá-la como arma para dizer não a Deus. Quantas vezes o Senhor já passou por nós e disse: "Segue-me, muda tua vida, vem comigo, faz com que a tua vida seja um espelho da minha".
Até quando você vai viver como se fosse um pagão que encontra a sua alegria no álcool, em companhias pouco edificantes, em prazeres pouco recomendáveis, em coisas tão carnais? "Segue-me, sou eu que te estou chamando! " A voz dele sacode as nossas estruturas, mas eu preciso me deixar mover pela sua graça.
Jesus não violentou Levi, não o obrigou; ele lhe fez um convite. Levi respondeu a esse convite porque se deixou comover pelo Senhor, se deixou arrastar por Ele. Mas não apenas isso; ele deu um grande banquete com todos os seus companheiros de pecado, ou seja, a sua conversão se estendeu como um convite amoroso aos demais.
Mas o texto não nos diz que os demais se converteram. Levi se converteu. Os fariseus perguntavam: "Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?
" Jesus respondeu: "Os sãos não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão". Ele não chama os pecadores para que continuem na sua rota de colisão com o pecado; ele não chama os pecadores para que eles continuem sendo pecadores, ou seja, para que eles continuem com o coração endurecido.
Ele chama os pecadores para a conversão, para que eles mudem de vida, para que eles mudem a sua consciência, para que eles voltem-se inteiramente para o Senhor. Mas o problema que nós temos que enfrentar é: será que nós realmente queremos nos converter? Essa pergunta é muito séria.
Nós vemos na atitude de Levi o significado de uma verdadeira conversão. Quem quer se converter, quem se converte, procura reparar o seu erro, procura mudar de conduta, coloca os meios. Vejam, digamos que nós magoamos a nossa própria mãe ou nosso próprio pai.
O que nós faríamos depois? Pediríamos desculpa, tentaríamos agradá-los, procuraríamos reparar o mal que causamos. Qual foi o mal que nós causamos?
Desgosto. Como é que nós reparamos o desgosto? Dando gosto, ou seja, agradando, fazendo aquilo que agrada, aquilo que traz contentamento.
Isso é conversão. Não basta eu simplesmente, por uns dias na Quaresma, dizer: "Olha, eu vou aqui tentar me afastar um pouco do pecado"; a Quaresma logo acaba. A ruptura tem que ser para sempre, e não apenas uma ruptura temporária.
Nós precisamos verificar no nosso coração se realmente queremos reparar. Veja, eu já passei por situações terríveis com algumas pessoas a quem fiz muito bem que me deram as costas. O grande sinal de que elas realmente não se arrependeram não é o fato de terem feito mal, mas sim o fato de terem dado as costas.
Isso demonstra a falta do desejo de reparar. Você pode ter uma aparência honesta, mas, por dentro, ser mesquinho, egoísta, egocêntrico, vaidoso, mentiroso. Você pode ser um monte de coisas no seu coração, mantendo uma aparência de honestidade.
A verdadeira conversão nos leva a reparar. Nós temos que nos converter, queridos irmãos. Eu lhes digo uma coisa: Deus está dando graças maravilhosas no início dessa Quaresma, graças espirituais.
Jesus está passando entre nós, semeando a sua palavra e tocando os nossos corações. Mas nós precisamos acolher o seu amoroso convite, seu convite gentil para nos convertermos. Não endureçais o coração, como diz o Salmo 94.
Escutai a voz do Senhor. Você sabe se Deus vai passar de novo? Você sabe se Ele vai te chamar mais uma vez?
Pode ser até que Ele passe, mas será que Ele te chama? E se Ele não passar? E se Ele passar e não te chamar?
Eu preciso ser movido pela graça, porque é o que diz o profeta Isaías na primeira leitura: se destruíres os teus instrumentos de opressão, se deixares os teus hábitos autoritários, se abandonardes a tua linguagem maldosa, se acolher de coração aberto o indigente, se prestares todo o socorro ao necessitado, a tua luz nascerá nas trevas e a tua vida obscura será como o meio-dia. O Senhor te conduzirá para sempre e saciará tua sede na aridez da vida. Renovará o vigor do teu corpo; serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão.
Ou seja, quando nós nos convertermos, a vida sobrenatural vai explodir em nós com todo o seu poder e sua exuberância. Nós seremos tal qual um jardim irrigado, cheio de vida. Mas eu preciso atender ao convite do Senhor.
O Salmo responsorial nos diz: "Piedade de mim, ó Senhor, porque clamo por vós todo dia. Eu clamo o dia inteiro; tu és perdão para quem te invoca. Escuta, Senhor, minha prece, escuta o lamento da minha oração".
Você tem buscado a Deus de verdade? Você tem se voltado ao Senhor de todo o teu coração, com lágrimas de. .
. Arrependimento, gemidos de contrição, jejuns e orações. É quaresma, é quaresma, é tempo de conversão.
Voltemo-nos, amados irmãos, para o Senhor com todo o nosso ser. Direcionem todos os nossos afetos, todas as nossas faculdades, todo o nosso ser para Ele. Deixemos atrás o pecado que nos embaraça, o caminho que nos impede de correr; depreciem as nossas más condutas e peçamos ao Senhor misericórdia.
Ele é bom, compassivo, clemente, inclinado a perdoar. Mas essa porta aí só pode ser aberta por dentro. Que você escute o Seu convite de uma vez por todas: entregue a sua vida ao único que é capaz de salvá-la.