Em um intervalo de apenas três anos, seres humanos foram para a Lua seis vezes. Desde a primeira viagem em 1969 até a última em 1972, doze pessoas puderam pisar no nosso satélite. Para muita gente que viveu essa época, a impressão era de que visitar a Lua postaria ser algo extremamente comum, e que testemunhar essa viagem fascinante se tornaria um acontecimento frequente dali em diante.
Mas. . .
não foi o que aconteceu. A verdade é que mais de 50 anos se passaram e ninguém mais colocou os pés na lua novamente. Mas por quê?
Por que a gente nunca voltou? Para entender a razão do ser humano não ter ido mais à lua, nós primeiro precisamos entender a razão de ele ter ido à lua. E essa razão se chama Guerra Fria.
Recapitulando rapidamente essa página da história, a gente pode dizer que depois da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética passaram a disputar a hegemonia global na política, na economia e em todos os aspectos imagináveis, tanto aqui na Terra, como no espaço. E apesar de soviéticos serem sido os primeiros a mandar um satélite, a cadela laica, um homem, uma mulher, a primeira caminhada espacial, a primeira acuplagem de dois veículos, a primeira estação espacial, foram os americanos que conquistaram o grande prêmio da corrida espacial, a chegada à Lua. Ao fincar a bandeira dos Estados Unidos no solo lunar, ficou bem claro quem era o vencedor dessa disputa.
E pra não deixar dúvidas, eles ainda voltaram outras 5 vezes! Viajar pra Lua se tornou tão corriqueiro que muita gente perdeu o interesse em acompanhar as alunissagens. E sim, caso você não saiba, aterrissagem é só na Terra.
A-ter-ri-sagem. No caso da Lua, o nome correto é a-lunissagem. Vivendo e aprendendo.
Censo todo dia também é conhecimento. Até que chegou num ponto em que o governo americano percebeu que não precisava mais provar nada pra ninguém. Ainda mais porque o custo de mandar seres humanos pra Lua era extremamente alto.
E com todos esses fatores, mais uma pressão popular pra gastar menos, o programa lunar acabou sendo suspenso. Mas o que muita gente não sabe é que mesmo tendo chegado ao fim, o programa Apolo deixou um legado de grandes avanços científicos não só para a própria conquista espacial, mas até mesmo para o nosso dia a dia. Querem alguns exemplos?
Ferramentas sem fio foram desenvolvidas para que astronautas pudessem perfurar o solo lunar mesmo sem conexão com a base. E graças a isso, hoje nós temos desde furadeiras até aspiradores de pó sem fio. As roupas utilizadas por bombeiros também surgiram nessa época.
Depois do incêndio no lançamento da Apollo 1, que matou os três astronautas, os cientistas desenvolveram um tecido anti-chamas feito com uma fibra sintética que é usada até hoje. Também dá pra perceber os impactos da polo na saúde. As pesquisas da NASA pra purificar a água durante longos períodos levaram ao aperfeiçoamento das máquinas de hemodiálise, que são usadas hoje em dia pra filtrar o sangue de quem tem problemas dos rins.
E algumas máquinas de exercícios usadas em academias e clubes esportivos tiveram origem em equipamentos criados pela NASA pros astronautas utilizarem durante os períodos sem gravidade. E sabe aquela comidinha congelada que salva nossa vida quando bate a fome e também a preguiça de cozinhar? A gente também deve um agradecimento ao Programa Apolo, porque foi por causa dele que os cientistas desenvolveram métodos de desidratar e congelar alimentos para reduzir o peso e aumentar o prazo de validade dos alimentos.
Mas mesmo com todos esses avanços, o fato é que o Programa Apolo chegou ao fim no início dos anos 70. Desde então, nessas últimas cinco décadas, até existiram planos de retomar as viagens, mas elas sempre esbarraram no obstáculo econômico. No início desse século, por exemplo, o presidente americano George Bush chegou a anunciar a retomada do Projeto Lunar, mas o sucessor dele, Barack Obama, não quis gastar os mais de 100 milhões de dólares que essa jornada ia custar.
Da mesma forma, outros políticos concordaram que era preciso focar nos problemas aqui da Terra ao invés de voltar pra Lua. E com isso a ideia acabou sendo engavetada em várias ocasiões. A verba destinada aos projetos da NASA passou a ser enxugada todo ano.
Se lá na década de 60 a agência espacial recebia quase 5% de todo o orçamento do governo americano, hoje em dia esse valor não passa de 0,5%. E com isso a própria atuação da NASA mudou bastante de lá pra cá. Nesse meio tempo a agência concentrou esforços no lançamento da Estação Espacial Internacional e de satélites mais potentes, como o Hubble e o James Webb.
E esses dois satélites têm objetivos nada fáceis. A gente basicamente construiu eles para explorar as origens do universo. Então, ao invés de mandar seres humanos para a Lua, a gente passou a enviar sondas para o espaço.
E por um lado essa estratégia faz sentido. Ela é bem mais barata e segura. É muito melhor do que enviar seres humanos para um ambiente que tenta matar seres humanos em qualquer oportunidade.
O espaço não é fácil. Por outro lado, essa decisão tem um problema. O envio de sondas no lugar de seres humanos é, pra usar um termo não técnico, muito menos legal.
Fala sério, a gente ia adorar ver novamente o ser humano pousando na lua. Ainda mais porque, pra todo mundo que tem menos de 60 anos de idade, meu caso, seria a primeira vez! Imagina o quão emocionante deve ser ligar a televisão, reunir os amigos e assistir ao vivo seres humanos pousando na Lua!
A boa notícia é que depois de todo esse tempo, isso finalmente vai acontecer. O ser humano vai voltar pra Lua. Mas se foram tantos empecilhos nas últimas décadas, por que nós finalmente vamos fazer isso agora?
É isso que nós vamos descobrir nesse vídeo. Mas rapidinho, se você quiser uma camiseta igual a essa, as primeiras 10 pessoas a usarem o cupom LUATODODIA vão ganhar 20% de desconto na minha loja inteira. É só clicar no link aqui embaixo e as regras estão na descrição.
Bora lá! Agora sim, vamos entender. Por que nós precisamos voltar pra Lua?
Assim como aconteceu na Guerra Fria, os Estados Unidos começaram, nos últimos anos, uma nova corrida espacial. Mas o inimigo agora é outro. Dessa vez a disputa é contra a China.
E quem diz isso não sou eu, é o próprio diretor da NASA, que no momento é o astronauta Bill Nelson. Os chineses já anunciaram que eles pretendem chegar à Lua antes de 2030. E os americanos, como a gente sabe, não gostam muito de ficar para trás.
Por isso, eles planejam pisar no Sol lunar ainda em 2026. Mas para que exatamente eles vão querer voltar para a Lua? Por que tanto os chineses quanto os americanos e a humanidade como um todo têm interesse em começar uma nova corrida espacial em direção ao nosso satélite?
Talvez a principal resposta para essa pergunta seja o hélio 3, conhecido como combustível do futuro. O hélio 3 é um isótopo do hélio, ou seja, ele contém a mesma quantidade de prótons que o hélio, mas tem um número diferente de nêutrons. Enquanto o átomo original tem dois prótons e dois nêutrons, o hélio 3 possui dois prótons e apenas um nêutron no núcleo.
A existência dele foi proposta há 90 anos, mas foi só nas últimas décadas que os cientistas começaram a observar o seu enorme potencial como uma fonte de energia. E isso é possível graças à fusão nuclear, que é o processo em que dois núcleos atômicos se juntam e formam um novo núcleo, com um número atômico maior. Só que esse processo requer muita energia, mas ele também gera muita energia.
Tanto é que é através da fusão nuclear que as estrelas obtém a energia delas. Só que para uso comercial, nós só sabemos fazer fissão nuclear, que é o oposto da fusão, onde núcleos pesados são bombardeados com nêutrons para serem quebrados e liberar energia no processo. Atualmente não existem reatores de fusão comerciais, e nós nem sequer temos reatores de fusão conectados a uma rede elétrica.
Toda fusão nuclear é realizada de forma experimental e o principal combustível é o isótopo de hidrogênio extraído da água do mar, o deutério, que é um hidrogênio com um próton e um nêutrono nu. A produção de energia por fusão é bem mais segura e não gera nenhum lixo nuclear de longa duração. Mesmo assim, fusão nuclear usual ainda cria restos radioativos de curta duração, tanto na forma de trítio, que é um isótopo radioativo de hidrogênio, quanto através do bombardeio indireto de nêutrons.
O material formando o reator pode absorver esses nêutrons e gerar isótopos radioativos no processo. E é aí que entra o Hélio 3. Quando ele é utilizado no lugar de um desses isótopos hidrogênio, a energia sai imediatamente em partículas carregadas, sem produzir neutrons.
E com isso, a reação não gera subprodutos radioativos. Ou seja, é um processo muito mais seguro, que não possui risco de contaminação. É a maneira ideal de gerar uma energia limpa e superpotente.
Mas se o Hélio 3 é tão maravilhoso e tem todo esse potencial revolucionário, por que a humanidade já não está usando ele como combustível hoje em dia? É uma excelente pergunta. O problema é que o hélio 3 é muito raro aqui na Terra.
Ele é encontrado com mais facilidade exatamente onde vocês pensaram. Na Lua. Isso porque durante bilhões e bilhões de anos a ação dos ventos solares disseminou partículas de hélio 3 pelo espaço, que acabaram caindo na Lua.
Ok, mas por que eles vão cair numa Terra? Por causa da atmosfera. A atmosfera da Terra serve como um escudo protetor.
Se por um lado isso é fundamental pra nós, já que ela barra a entrada de radiação no nosso planeta, por outro lado isso impediu essa chuva de hélio 3 ao longo da história da Terra. Já a Lua não possui uma atmosfera, por isso o hélio 3 é bem mais abundante por lá. Mas assim, também não é como se fosse algo extremamente comum.
Você não pode pegar um pedaço de Lua e ver que está cheio de hélio 3. A concentração é de aproximadamente 4 partes por bilhão do solo lunar. Por isso é preciso um trabalho muito avançado de mineração na Lua, o que obviamente é um grande desafio no aspecto financeiro e também tecnológico.
Mas que ao mesmo tempo pode ser altamente recompensador. Júpiter e Saturno também produzem hélio 3 na sua atmosfera e nós podemos pensar na possibilidade de coletar de alguma forma para usar em outras atividades futuras, como por exemplo na mineração de asteroides. Isso porque o hélio 3 pode ser usado, por exemplo, em foguetes movidos à fusão nuclear, que seriam ainda mais potentes do que os foguetes atuais.
E com isso a exploração do hélio 3 permitiria um avanço sem precedentes na exploração espacial. Transportar hélio 3 para a Terra pode ser muito caro. Então a ideia desses projetos é criar na Lua uma nova base fixa, uma espécie de posto de combustível sideral, onde os foguetes poderiam abastecer para dar início a viagens muito mais distantes do que se possa imaginar.
E é essa a ideia da próxima missão da NASA em direção à Lua, criar um ponto de partida para a futura conquista de Marte. E eu agora estou falando do Projeto Artemis. Na mitologia grega, Artemis era a irmã gêmea de Apolo.
O que se vocês me perguntarem, é uma homenagem muito justa para a missão que levou pessoas para a Lua há algumas décadas no passado. Só que dessa vez, mais do que só um nome feminino, a NASA também vai levar uma mulher nessa missão. Ela é Christina Koch, que juntamente com outros três homens, incluindo o primeiro homem negro a ir para a Lua na história, vão viajar em direção à Lua em breve.
Mas como que vai funcionar o projeto Artemis? A primeira parte dele já aconteceu. A missão Artemis 1 decolou em 2022.
Foi um voo não tripulado que era só para teste. A Artemis 2 iria acontecer agora em 2024. Iria, mas ela foi adiada para 2025.
Isso devido a alguns problemas técnicos, especialmente no circuito responsável pela ventilação do ar e pelo controle da temperatura. E essa viagem faz ser tripuladas com esses astronautas que eu acabei de falar. Mas eles ainda não vão pousar na Lua, eles vão apenas orbitar a Lua e voltar pra Terra.
E aí então, se tudo der certo, chega a vez a tão aguardada missão Artemis III, em 2026. E vai ser nessa missão que um ser humano vai finalmente voltar a pisar na Lua. E eu tô muito ansioso pra isso!
E mesmo pra depois dessa viagem, já existem outras missões planejadas. A Artemis IV, por exemplo, vai servir para a montagem do Lunar Gateway, que é uma estação espacial que vai passar a orbitar a Lua. Em todas essas viagens, os astronautas vão ficar a bordo da cápsula Órion.
Ela vai estar acoplada ao SLS, que é o Space Launch System. Ele é o foguete mais poderoso de todos os tempos. Ao todo, ele pesa 2,7 milhões de quilos, sendo mais de 2,3 milhões somente de combustível, que é hidrogênio líquido.
Esse gigante espacial vai lançar a cápsula dos astronautas numa viagem de cerca de 380 mil quilômetros durante três longos dias em direção ao nosso satélite natural. E aí eu, você e toda a nossa geração finalmente vai poder dizer que vimos um ser humano chegando na Lua. Mas e se a gente não quiser apenas.
. . ver?
Será que existe alguma possibilidade de que alguém que já esteja vivo hoje em dia, quem sabe até assistindo esse vídeo, visite a Lua algum dia? A resposta honesta é não sei. É impossível de cravar exatamente quando pessoas normais vão poder visitar a Lua.
Mas para tentar chegar pelo menos a uma previsão, o site de tecnologia Gizmodo, fundado nos Estados Unidos, perguntou para vários especialistas qual era a expectativa deles sobre a possibilidade de cidadãos comuns irem para a Lua. E as respostas foram bem variadas. Por exemplo, o diretor do Global Space Center da Universidade de Cleveland, Mark Sunhall, espera que já no início da próxima década existam filas se formando para fazer uma viagem para a Lua.
Já o especialista em História da Tecnologia da Universidade de Duke, Alex Holland, diz que com certeza não será nos próximos 50 anos. E a professora de estudos avançados do ar e do espaço da Força Aérea Americana, Wendy Cobb, acredita que isso pode acontecer só no final do século 21. Ou seja, são muitas possibilidades diferentes.
Mas quase todos concordam que cedo ou tarde isso vai acontecer. Pelo menos pra quem tiver muito, mas muito dinheiro pra fazer essa viagem. Já existem algumas empresas privadas que oferecem voos espaciais.
Tudo bem, eles não chegam nem perto da Lua, mas os preços já são exorbitantes mesmo assim. No caso da Virgin Galactic, por exemplo, as passagens de um voo espacial já foram vendidas por 450 mil dólares, que é o equivalente a mais de 2 milhões de reais. Será que eles aceitam piques?
Já a Blue Origin fez um leilão de um assento que foi arrematado por 28 milhões de dólares, quase 140 milhões de reais. E o vencedor do lance precisou ser substituído porque ele teve conflito de agenda no dia do lançamento. E eu só fico imaginando que tipo de compromisso é mais importante do que ir pro espaço, ainda mais depois de pagar 28 milhões de dólares.
Eu só perderia se fosse por dia de gravação. E eu não falo isso só porque a equipe inteira está me olhando com cara de brava. E caso vocês não saibam, um brasileiro já foi para o espaço com a Blue Origin.
Esse é o Victor Espanha. Fala galera que assisto Ciência todo dia! Salve para vocês!
Esse é um mercado em expansão. Cada vez mais outras empresas entram no setor do turismo espacial, como é o caso da SpaceX, do Elon Musk. Ela não foi criada com esse objetivo, mas ela aos poucos é emigrando para esse ramo.
Ou seja, deu para perceber que o turismo espacial já é uma realidade para pessoas normais, caso você considere normal ser multimilionário. Quem sou eu para julgar o que é normal ou não? Eu sou só uma pessoa que faz vídeos para o YouTube, num canal de ciência.
Mas em relação à Lua, além da parte financeira e da parte tecnológica, alguns outros desafios precisam ser superados para que as visitas se tornem possíveis e frequentes. Novas leis vão ter que regular a venda desse tipo de pacote turístico. Tratados internacionais vão precisar definir as regras para essas expedições.
E até alguns detalhes que podem parecer irrelevantes vão ser cruciais. Por exemplo, nós vamos precisar definir um fuso horário lunar. Hoje em dia a gente não sabe que horas são na Lua.
Mas com tantas chegadas e partidas, vai ser fundamental determinar como que vai ser a marcação do tempo por lá. E depois que todas essas questões, as mais simples, as mais complexas, forem finalmente resolvidas, aí sim vai ser possível presenciar mais um capítulo emocionante na história dos homens e das mulheres que sonhavam em desbravar o universo. Graças ao nosso espírito aventureiro, nós vamos poder ir para outros planetas.
E sabe-se lá para onde mais o futuro vai nos levar. E é por isso que, primeiro, nós precisamos voltar pra Lua. Ela vai ser o grande porto de partida pras próximas etapas.
E é animador saber que essa viagem está prestes a começar. Desde o aspecto filosófico até o científico, a conquista espacial é provavelmente o feito mais impressionante já realizado por seres humanos. É incrível pensar que um animal que deixou as cavernas à terra juntou apenas as peças que ele encontrou por aqui e conseguiu se lançar em direção ao espaço.
E é ainda mais fantástico pensar que essa jornada está só no início. Com os avanços imprevisíveis da ciência, as distâncias siderais vão sendo cada vez mais suprimidas. Os mistérios do universo vão sendo revelados e o que parecia impossível vai se tornando real.
Um passo de cada vez, nós estamos vivendo um novo salto gigantesco para a humanidade. Muito obrigado e até a próxima. Muito obrigado e até a próxima!