Você já se aprofundou na questão da dependência psicológica? Quando estamos em um estado de confusão, queremos que alguém nos tire dele. Então, estamos sempre preocupados com a maneira de escapar ou evitar o estado em que estamos.
No processo de evitar esse estado, nos tornamos propensos a criar algum tipo de dependência, que se torna a nossa autoridade. Se dependemos de outra pessoa para a nossa segurança, para o nosso bem-estar interior, dessa dependência surgem inúmeros problemas, e então tentamos resolvê-los. Mas nunca questionamos, nunca penetramos no problema da própria dependência.
Talvez, se pudéssemos de modo realmente inteligente, com plena consciência, penetrar nesse problema, poderíamos descobrir que a dependência não é absolutamente a questão, é apenas uma maneira de escapar de um fato mais profundo. Então; Por que Temos Dependências? Jiddu Krishnamurti.
Psicologicamente, interiormente, dependemos de um sistema, de uma filosofia. Pedimos a outra pessoa um modo, uma conduta. Procuramos professores que nos proporcionem um modo de vida que nos leve a ter alguma esperança, alguma felicidade.
Dessa forma, estamos sempre buscando algum tipo de dependência, algum tipo de segurança. Mas uma mente dependente nunca será livre. Então, é possível a mente se libertar desse senso de dependência?
Nós sabemos que somos dependentes – do nosso relacionamento com as pessoas, de alguma ideia, ou de um sistema de pensamento, mas por que? Temos que penetrar profundamente esta questão: Por que temos dependências? Você pode observar as suas próprias dependências?
Nesse momento, você depende de alguém? Você depende de uma crença? Você depende de algo para preencher este momento?
Essa dependência inevitavelmente cria ilusão. Na verdade, não acredito que a dependência seja o problema; acho que há um outro fator mais profundo que nos faz dependentes. Afinal, qual é a questão mais profunda?
É o fato de que a mente detesta e teme a ideia de estar só. A maioria de nós tem as mentes ocas, vazias. Somos terrivelmente solitários, e não sabemos o que significa o amor.
Então, devido á solidão, a essa insuficiência, à privação da vida, ficamos ligados a algo, dependentes de algo. Queremos nos identificar com uma coisa ou outra para evitarmos a nossa desesperada solidão; então, nos apegamos a uma ideia, a uma crença, a uma pessoa, principalmente a uma pessoa. Mas a mente conhece esse estado que é evitado?
Você sabe o que é a solidão? Enquanto essa solidão não for realmente entendida, sentida, penetrada, dissolvida, enquanto essa sensação de solidão permanecer, a dependência será inevitável, e a pessoa nunca poderá ser livre; nunca poderá descobrir por si mesma aquilo que é verdade. Da dependência nascem todos os nossos problemas.
Onde há dependência psicológica, há o medo. O medo é o percebimento de nosso vazio, de nossa solidão e pobreza interiores, e de não haver possibilidade de fazermos alguma coisa a tal respeito. O que nos interessa aqui é esse medo que gera a dependência.
Se compreendemos o medo, compreendemos também a dependência. Portanto, para compreendermos o medo, é indispensável a sensibilidade, para descobrirmos, percebermos como ele se origina. Se o indivíduo é suficientemente sensível, ele se torna consciente de sua medonha vacuidade — desse abismo sem fundo, que não se pode encher com o vulgar entretenimento das drogas, nem com o entretenimento das igrejas ou das diversões sociais; nada o preencherá.
Sabendo-se disso, cresce o medo. Este nos impele à dependência, e esta dependência nos torna cada vez mais insensíveis. E, vendo que é assim realmente, sentimos medo.
A questão, pois, agora, é de ultrapassarmos esse vazio, essa solidão, e não de aprendermos a depender de nós mesmos, ou de disfarçarmos permanentemente o nosso vazio. A primeira coisa que devemos fazer é observar com atenção. Observe todas as murmurações, todos os temores, ilusões e desesperos de nosso próprio ser.
Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser, segundo um certo padrão ou um ideal. Temos que ver o que realmente somos e, daí, iniciar a transformação radical. Não ter resistência, não ter quaisquer barreiras interiores, estar completamente e realmente livre de todo impulso, compulsão e exigência de menor importância, é caminhar pela vida de braços abertos.
A questão é: pode a mente ser absolutamente livre de todos os conceitos?