Por que jovens de antigamente pareciam mais velhos?

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DW Brasil
Você já teve a sensação, assistindo a vídeos de programas antigos de TV ou vendo uma foto do álbum d...
Video Transcript:
Olha bem essa foto. É de uma menina de 15 anos  de idade. A atriz brasileira Maria Gladys.
Você tem a impressão de que ela parece mais velha? E o que dizer da participação icônica  do Osvaldo no programa Namoro na TV, apresentado pelo Silvio Santos na década de 80? Você tem quantos, Osvaldo?
24, 18, 22, 18, 24.  Por que fica essa sensação de que as pessoas do vídeo ou de uma  foto antiga não eram tão jovens? As jovens de 20 e poucos anos que acabavam  de se casar, elas já, automaticamente, né, deveriam adotar a aparência de jovem senhora. 
Mas veja que são variações muito individuais. A gente não pode dizer então que  uma geração inteira vai envelhecer mais rápido ou mais lentamente por  conta dessas variações individuais. Quero lembrar que a idade também é uma criação  social, o tempo é uma criação social, né?
Então o idadismo, ele acaba  levando ao preconceito etário. A DW conversou com diferentes  especialistas sobre esse assunto: da estética relacionada à história  da moda à biologia do envelhecimento. A ideia é ajudar você a entender, afinal: o que está por trás dessa aparência  envelhecida da juventude do passado?
Se você tiver passado dos 30 e for revisitar os  álbuns de família, tenho certeza que vai encontrar um monte de fotos assim, em preto e branco ou mais  amareladas, com os familiares, claro, mais jovens. Essa aqui, por exemplo, é da minha  mãe, com 22 anos de idade na década de 70. Nessa outra aparecem dois tios e uma  tia, mais ou menos na mesma faixa etária, além dos meus avós maternos.
E esse é meu pai,  com 24 anos de idade, no dia do casamento. São cenas de um tempo distante que o nosso olhar  de hoje às vezes estranha. Não é para menos.
Tudo ali, naquele instante  desbotado, parece muito diferente. E você não conheceu aquelas  pessoas com a idade das fotografias Mas olha que quando a imagem não é de  um parente pode impressionar até mais. Olha esse jogador polonês na  copa de 74.
le tinha 24 anos. E esse elenco da série americana Cheers, dos anos 80? A TV brasileira  também produziu verdadeiros ícones.
Quem nunca viu os memes feitos com trechos  do programa apresentado pelo Silvio Santos, o Namoro na TV? Essa moça número  três, qual é o seu nome? Rosineide.
Tem quantos anos? 22. A gente vê esses momentos e fica se  perguntando: cadê a juventude das pessoas?
Ou será que o problema não está na  nossa maneira de enxergar o passado? Para nossa conversa avançar, a gente  precisa logo esclarecer o seguinte: cada época tem seus dilemas, suas questões, e algumas delas acabam tendo reflexos no modo  como as pessoas se apresentam socialmente. Vamos a um exemplo: os jovens dos  anos 20, 30 40 se casavam bem mais cedo e isso afetava a aparência deles,  como conta a Maria Cláudia Bonadio, professora de História da Moda na  Universidade Federal de Juiz de Fora.
As jovens de 20 e poucos  anos que acabavam de se casar elas já, automaticamente, né, deveriam adotar a aparência de jovem  senhora. Deixar de se parecer com uma mocinha e passar a usar uma roupa de  jovem senhora. Ou seja, luvas, chapéu, tallerzinho, uma roupa que trazia  uma ideia de respeitabilidade, né?
Isso a gente está falando de uma  estética que vai predominar aí até pelo menos a primeira metade  dos anos 60. No caso dos homens, houve um movimento parecido. O terno passou  a ser valorizado na virada para o século 20 em contraposição aos trajes da antiga  nobreza imperial, cheios de brilho e peruca.
Um rapaz vestido desse jeito projetava  uma imagem de trabalhador, respeitado. Inclusive no ambiente escolar, para  onde essa estética se estendia. Nada a ver com um garoto de 18 anos de  hoje, que chega na faculdade até de bermuda.
Não estou fazendo nenhum juízo de valor,  porque, no fundo, é tudo apenas consequência de transformaçoes culturais. Já nos anos 50, mas  sobretudo a partir da metade dos anos 60, onde a juventude passa a ser um valor, também um maior  tempo de estudo, um maior tempo na faculdade, o adiamento do casamento,  as novas formas de lazer, quer dizer, tudo isso vai fazer com que, né, essas aparências não precisem  mais parecer tão controladas. Então, essa mulher que antes tinha  que se vestir de um jeito que passasse uma ideia de respeitabilidade para a  vizinhança, não é, ou para a família, ela vai, sobretudo pós-revolução cultural dos  anos 60, passar a falar, usar aquilo que ela quer.
E a mesma coisa  vai acontecer com os homens, que vão cada vez mais deixar esse terno de lado  pra usar a calça jeans, pra usar bermuda, até pra trabalhar, dependendo do trabalho. Todos esses elementos da moda  e da cultura acabam moldando as nossas impressões sobre o que as  imagens de antigamente retratam. Porque nós julgamos o que vemos a  partir da estética do nosso tempo.
Então, tudo que observamos num jovem do passado  que um jovem de hoje provavelmente não usaria, quem sabe nem conhece, provoca  um sentimento de estranheza. E isso vai do penteado à forma de se  vestir, de se comportar, de falar. E você, tem quantos anos?
28. 28. Você mandou uma carta querendo namorar com ela? 
Isso. E tem quantos anos? 18.
E tem mais uma coisa que é especialista chamou  a atenção: para além de aspectos culturais, vídeos e fotos antigas, têm uma  aparência envelhecida, afinal, foram produzidos em outros contextos técnicos.  E nós somos levados quase que automaticamente a olhar para esse conteúdo e associar o que  vemos a algo velho. Não deixa de fazer sentido, claro, mas a verdade é que o  que envelheceu foi a imagem.
As pessoas que aparecem, naquele recorte  específico do tempo, continuam jovens. Só estão numa filmagem de qualidade inferior na comparação  com padrões de agora ou num papel amarelado. Vamos fazer um teste de percepção?
Olha essa foto do físico alemão Albert  Einstein. . .
e agora a mesma foto, só que é colorida digitalmente para aparecer atual. E esse antes e depois da atriz americana  Elizabeth Taylor. Fez muita diferença para você?
Conta aqui nos comentários. Na internet,  existem vários trabalhos desse tipo, mostrando diferentes artistas e  situações do cotidiano de anos atrás. As cenas repaginadas colocam à prova nossas  percepções e nos confrontam também com uma possibilidade: será que o nosso olho não  está é acostumado demais ao que é digital?
Então eu acho que também existe um treino do  olho, né, a partir do que se vê nas redes sociais. . .
. se vê nas telas, nas muitas telas, né, que permeiam a nossa vida, dessa aparência  que eu diria até mais do que jovem Eu digo assim que é uma aparência semidade, né? É uma aparência que a gente fala,  é uma aparência de procedimento, é uma aparência de plástica ou de filtro.
A cultura define, em parte, o nosso olhar, mesmo se você disser que não liga para  a sua forma de agir, de se vestir. Existem opções de escolha ditadas pelo  que é popular, comum. Mas a gente não tem como fugir de alguns aspectos menos  subjetivos desse debate, como biológico.
Será que as pessoas de antigamente,  com uma medicina não tão avançada, mais trabalho braçal, não envelheciam de  fato mais rápido e acabavam, por isso, com uma aparência mais velha cedo demais? Segundo esse estudo, publicado em  2016, a genética é responsável por algumas pessoas terem uma aparência mais  jovem que outras da mesma idade. Ou seja, parecer mais jovem ou mais velho  é sim possível do ponto de v físico.
Porém, o envelhecimento em si  é um processo muito mais complexo do que a gente imagina e não tem só  a ver com o que um rosto revela. A mesma publicação considerou, por  exemplo, a importância de fatores ambientais e comportamentais, o que para  esta especialista também é o essencial. O envelhecimento é um processo  muito, muito complexo, né?
Ele envolve fatores ambientais, fatores de  estilo de vida e fatores genéticos também. Então, se uma pessoa, por exemplo, vive  em um ambiente em que ela se cuida, tem um estilo de vida saudável. .
. . .
. se a pessoa usa filtro solar,  vai ter esse cuidado com a pele, provavelmente ela vai ter uma  aparência mais jovem do que uma pessoa que se expôs a vida inteira, por  exemplo, trabalhando debaixo do sol, né? Isso é notável, é visível, então provavelmente isso também se manifesta na  idade biológica dessa pessoa.
Mas veja que são variações muito é individuais. A gente não pode dizer então que  uma geração inteira vai envelhecer mais rápido ou mais lentamente por  conta dessas variações individuais. O envelhecimento é tão complicado de  entender que você pode pensar o seguinte: Ah, então a nossa aparência melhorou  porque migramos do campo para as cidades nos últimos 30 anos, o trabalho de sol a  sol diminuiu para uma parte da população, e agora está todo mundo preocupado com uma coisa  que lá atrás não tinha tanto valor: nunca deixem de usar filtro solar.
Mas cuidado! A  vida em grandes centros centros urbanos, na opinião da professora da UFSCar, não  nos poupa em nada do envelhecimento. Pode, em alguns casos, até ter  um impacto negativo no processo.
As pessoas deixaram então  de se expor, por exemplo, a um trabalho que envolvia muita exposição ao sol. Mas ao mesmo tempo, pode acontecer de que elas  vivam num ambiente muito mais estressante, né? E isso também contribui para o envelhecimento.
Fica a sensação de que não tem para  onde correr. E talvez não tenha mesmo. Os hábitos ruins, que podem impactar  o envelhecimento, vêm e vão.
Você deve se lembrar que os jovens brasileiros  fumavam muito mais cigarro de papel antes dos anos 90. Agora o problema é o consumo  de cigarros eletrônicos, que explodiu em seis anos entre os brasileiros,  segundo Ipec. Mesmo sendo proibido.
A gente também tem avanços  que não são muito bons, né, para nossa saúde. Por exemplo, o  uso inadequado e exagerado de telas. A gente então deixa de fazer as  coisas, de se exercitar, por exemplo, e fica preso nessa, nessas telinhas que  nos impedem de fazer algumas coisas.
O carro é um outro exemplo. Se  a gente for olhar fotos antigas da cidade de São Paulo, da praia de de Ipanema,  a gente vê de vez em quando essas imagens. .
. . .
. As pessoas eram todas muito magras, né? Provavelmente porque andavam mais.
Ou a alimentação era melhor, era  com produtos menos industrializados. Ou seja, não tem essa de uma geração que envelhece  mais rápido ou mais lentamente que outra. Uma vez que o envelhecimento é de cada indivíduo  e é influenciado por uma série de fatores.
A única coisa que é possível, sim, afirmar é  que estamos tendo mais chance de envelhecer com o aumento na expectativa de vida  do brasileiro. Ela cresceu bastante. Era de 45 anos em 1940, e ficou em 75 anos em  2022, de acordo com o IBGE.
Os dados refletem a queda na mortalidade infantil, maior acesso  à água encanada e outros avanços econômicos. O brasileiro parece que está pensando cada vez  mais cedo sobre o envelhecimento e a aparência. O último levantamento da Sociedade  Brasileira de Cirurgia Plástica registrou um aumento de 18,3% na realização  de procedimentos estéticos.
E adivinha o perfil dos pacientes: 34,7% eram  jovens adultos de 19 a 35 anos. O Brasil também é o oitavo  maior consumidor do mundo de produtos para cuidados com a pele,  segundo uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Higiene  Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Será que isso, de alguma forma, contribui  para acharmos os jovens de antigamente mais descuidados?
Boa noite! Tem quantos anos? 14 anos?
Não, 17. 17 anos. A gente  acha curioso vídeos assim e questiona a juventude porque ela virou um produto,  um aspecto moral na contemporaneidade.
Em outras palavras, se você  não for ou não parecer jovem, você está sujeito a ser rejeitado,  como, aliás, aconteceu com Osvaldo. Tem quantos anos, Rosângela? 19.
Sim ou não? Não. Quem fez essa análise para a nossa reportagem  foi Andrea, docente no grupo que pesquisa Envelhecimento, Aparência e Significado na  USP.
Esse culto da Juventude eterna, né, ele primeiro é um produto. A  gente tornou isso um produto que é muito lucrativo, é extremamente lucrativo. Muito do que a gente promove em  torno de um corpo saudável está muito ligado a essa crença de que é um  corpo saudável é igual a um corpo jovem.
Então esse culto, né, em torno da juventude, que virou um produto, que  virou um aspecto moral, né. . .
Então, se você não parecer jovem,  você é horrível, tá fora de moda, é antiquado. O que reforça a importância de  debatermos o assunto sem alimentar preconceitos etários. Quero lembrar que a idade também é uma  criação social, o tempo é uma criação social, né?
Então o idadismo, ele acaba  levando ao preconceito etário. E isso não é só para pessoas idosas,  isso para pessoas de qualquer idade. Se você conversar com jovens, é uma pressão muito  grande também por uma série de exigências sociais.
É por isso que eu acho que a  gente não pode se resumir a parecer alguma coisa que mandaram a gente parecer. A gente tem que se parecer conosco. Mas para  isso a gente tem que pensar quem eu sou, né?
E quando a gente cultua muito um só viés ou  uma só perspectiva, por exemplo, da juventude, a gente perde a chance de ter essa  clareza sobre quem a gente é e como que a gente pode ficar confortável com  quem a gente é. Essa é a grande questão: parecer. Estamos aqui falando, acima  de tudo, do poder da imagem e o que ela projeta em termos de aparências, que  pode ser nada mais que uma baita ilusão.
Por isso, cuidado. Olhar demais para  o passado pode até ser divertido, mas às vezes também é perigoso. A gente até pode olhar para o passado e pensar que o passado se conformava de uma  outra maneira, que não é a de hoje.
Mas enquanto a gente não olhar o presente  e o que a gente quer daqui para frente, a gente não vai conseguir dar o dalto que eu acho  necessário, que é prezar pela nossa diversidade. Tanto uma pessoa em comparação a outra como  uma geração em comparação a outra, não é? A gente precisa ter um empenho maior em entender  quem nós somos hoje, na contemporaneidade.
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