Quando você terminar de assistir a este vídeo, 10 milhões de xícaras de café terão sido consumidas no mundo todo. O café é apreciado há pelo menos mil e quinhentos anos — e há quem diga que o impacto dele foi tão grande que inspirou até o Iluminismo, o movimento que deu origem a algumas das grandes ideias que sustentam o mundo como o conhecemos. O principal componente do café é a cafeína, considerada a droga psicoativa mais consumida no planeta!
Mas de onde vem o café e o que ele faz com nosso corpo quando bebemos? Eu sou André Biernath, da BBC News Brasil em Londres, e neste vídeo te conto os detalhes históricos e científicos sobre uma das bebidas mais populares do mundo. O café vem do fruto da planta Coffea arabica, originária da Etiópia.
Uma lenda afirma que um pastor do século 9 chamado Kaldi viu que suas cabras ficavam cheias de energia depois de comer frutas de café — e aí ele resolveu experimentar, por que não? Registros históricos sugerem que foram os sufis, um grupo religioso do Iêmen, que torraram a semente do fruto do café pra criar a bebida que conhecemos hoje. No século 15, as primeiras cafeterias começaram a aparecer no Império Otomano, antes de se espalharem pela Europa nos séculos seguintes.
As cafeterias da Europa acabaram virando espaços pra falar de negócios, política e novas ideias. E um filósofo — o alemão Jurgen Habermas — chegou a dizer até que sem café, o Iluminismo talvez nem tivesse existido. É que, lá pelo século 18, filósofos como Kant e Voltaire - que por sinal aparentemente tomava 72 xícaras de café por dia - começaram a questionar a interpretação do mundo feita pela Igreja Católica.
Em vez disso, eles recorreram à ciência, e acreditavam que tudo no universo poderia ser explicado de forma racional. Essa chamada Era do Iluminismo mudou radicalmente o mundo. Ela levou à derrubada de monarcas, ao crescimento da democracia e a inúmeras descobertas científicas.
E o café tem tudo a ver com isso. Especialmente porque ele passou a ser consumido no lugar de uma outra bebida que até hoje também faz bastante sucesso… Mas o café também alimentou o comércio escravagista. Os franceses levaram pessoas escravizadas da África pra plantações no Haiti.
E, no início do século 19, o Brasil produzia um terço do café mundial usando a mão de obra de escravizados de origem africana. Alguns especialistas também argumentam que o café ajudou a dar origem ao capitalismo. Durante a Revolução Industrial, fábricas começaram a dar café aos seus funcionários e, eventualmente, permitiram as famosas pausas para o cafézinho.
Agora vamos avançar pro presente: atualmente, 2 bilhões de xícaras de café são consumidas todos os dias. Essa é uma indústria que movimenta 90 bilhões de dólares por ano. E, mais do que isso, é uma parte fundamental da vida cotidiana de bilhões de pessoas.
Mas como o café afeta o nosso corpo? Quando a cafeína entra no sistema digestivo, ela é absorvida pelo intestino e chega à corrente sanguínea. Mas os efeitos só começam pra valer quando a cafeína atinge o sistema nervoso É que a cafeína possui uma estrutura química muito semelhante a de uma substância produzida pelo nosso próprio corpo: a adenosina.
A cafeína se liga aos receptores de adenosina do corpo, que podem ser encontrados na superfície das células nervosas. É como uma chave abrindo uma fechadura. A adenosina é conhecida por desacelerar o sistema nervoso simpático – e, com isso, reduzir a frequência cardíaca e gerar um estado de sonolência e relaxamento.
Ao bloquear esses receptores, a cafeína gera o efeito oposto. A pressão arterial, por exemplo, pode aumentar ligeiramente, principalmente se você não está acostumado a tomar café com frequência. O mesmo acontece com a atividade cerebral: a cafeína estimula o cérebro, diminui a fome e ajuda você a ficar em estado de alerta, para que você consiga se concentrar por mais tempo.
A cafeína pode ter um impacto positivo no humor, inibir a sensação de fadiga e até melhorar o desempenho físico. E é por isso que muitos atletas usam a cafeína como um suplemento. Esses efeitos todos podem durar entre 15 minutos e 2 horas.
O corpo remove a cafeína entre 5 a 10 horas depois do consumo, mas os efeitos residuais dela podem durar ainda mais tempo. Ah, e vale lembrar aqui: a cafeína não é encontrada apenas no café, mas também na erva mate, no chá verde, no guaraná e no cacau, entre outras plantas. A substância também é adicionada a energéticos, refrigerantes e remédios.
O que muda é a concentração de cafeína em cada produto: enquanto um espresso tem cerca de 64 miligramas de cafeína, um chá verde tem 28 miligramas, por exemplo Se você quiser otimizar os efeitos da cafeína, os especialistas tem uma sugestão inusitada: moderação. O café de fato exige alguns cuidados no consumo. Para adultos saudáveis, o limite máximo recomendado é de 400 miligramas de cafeína por dia – o que equivale a cerca de quatro ou cinco xícaras de café.
Ultrapassar esse limite pode causar alguns efeitos colaterais como insônia, irritação, ansiedade, taquicardia, desconforto estomacal, náusea e dor de cabeça. Efeitos tóxicos, como convulsões, podem acontecer depois do consumo rápido de cerca de mil e duzentos miligramas de cafeína – o que equivale a cerca de 12 xícaras de café. É claro que esses limites variam de pessoa para pessoa, até porque algumas são geneticamente mais sensíveis à cafeína.
Para crianças e adolescentes, as autoridades desencorajam o consumo de café. Já durante a gestação, algumas mulheres podem ficar mais sensíveis à cafeína. Por isso, a recomendação é conversar com o médico para ver qual é o limite durante a gravidez.
Mas quando apreciado com moderação, o café pode fazer bem à saúde. Ele diminui o risco de diabetes, doenças cardiovasculares e até de Parkinson E esses ganhos para a saúde não estão ligados apenas à cafeína. O café possui outras substâncias benéficas, como o ácido clorogênico, um potente antioxidante que pode reduzir o risco de muitas doenças.
E, claro, o consumo de café também envolve aspectos sociais. Bom, com isso eu fico por aqui — espero que o vídeo tenha mudado a forma que você enxerga a xícara de café que toma todos os dias… Um abraço e até a próxima.