Vamos lá. Como eu aí começou pessoal, tudo bem? Espero que sim. Sou o Marco Milel, psicanalista, pesquisador na Universidade de Viga de Almeida e idealizador desse projeto, Sala. Então, eu quero dar as boas-vindas para quem é a primeira vez está aqui. Sejam bem-vindos, bem acolhidos. Esse aqui é um projeto que eu reforço muito, é um projeto gratuito, tá? E assim será enquanto existir forças na natureza para nos manter vivos. Então, por favor, podem compartilhar, podem convidar os amiguinhos a entrarem no grupo do WhatsApp, não tem problema nenhum. Aquele grupo fica aberto, tá? Às vezes eu
travo um pouquinho ali só pra gente conseguir ter uma certa atenção na informação quando tá circulando, mas podem postar as coisas lá, podem trocar material, ideias, né? E esse projeto aqui, ele tem essa essa função mesmo, fazer a teoria do saber, o conhecimento, a discussão, circular, né, de uma forma horizontal, sem ter hierarquias verticais, tudo. Eu acho que é assim que se faz a psicanálise também em forma de pares, tá? E ele nasceu com uma forma de uma força contrária aí a esse movimento psicanalístico que nós estamos acompanhando na internet, uma vulgarização do movimento psicanalístico
muito forte, né? Então, acho que nós temos que ter um comprometimento com essa ética e tá aqui falando sustentado numa teoria, não é num achismo, né? Não é numa vulgarização e sim num conhecimento. Então, toda semana estamos aqui. Seja bem-vindos aí os que estão aqui pela primeira vez, tá bom? Hoje tem duas pessoas, acho que hoje vai ser o primeiro formato que nós vamos fazer, eh, um três, né? Sempre foi dois. Hoje temos o terceiro, terceiro excluído aqui, né? E um triângulo de piano aí formando brincadeira. Então hoje nós vamos estar conversando sobre psicanálise e
negritude. Antes só de falar dessas pessoas que não está aqui, eu sou uma pessoa que eu me simpatizo muito com os grupos minoritários. Hoje mesmo eu tava até compartilhei com o professor Daniel Mar Perz uma pesquisa na Unicamp que a grande maioria dos alunos na Unicamp são brancos e o dos escolas particulares. Eh, a Unicamp parece que ela passa uma casca de uma universidade muito aberta, mas ela é extremamente conservadora. Existe uma um grupo de conservadorismo muito forte. E o conservadorismo parece que me faz até num processo de vestibular, porque todo processo de vestibular que
existe uma premissa de conhecimento para você entrar, ele é elitista. Ele é elitista. Por isso sim que temos que ter cotas, porque ainda existe um sistema elitista, tá? Então eu acho que esse é um tema que a gente tem que ter muito muito apreço para ouvir e para aprender com ele também, né? Então nós vamos estar conversando hoje sobre psicanálise, negritude. Hoje vai estar conosco aqui a Graziele, que é a primeira vez que ela está participando conosco e dialogando também junto com nós o Daniel Reis, que já teve uma participação aqui, né, e voltou, ele
que sugeriu esse tema para nós. E agradeço, viu, Daniel, essa produtividade tua em retornar. é um tema que eu acho extremamente muito legal e interesse em voltar. E também, Graziel, você tá aqui disponibilizando o seu tempo para tá colaborando com a gente, porque é um projeto gratuito, então todos que estão aqui estão na forma colaborativa, tá pessoal? Então, sejam bem-vindos. por favor, Grazel, se apresente para nós. Muito obrigada aí, Marco, né, esse projeto Sala Beta, por oportun esse diálogo, né, com esse tema tão necessário e que muit das vezes se tem pouco espaço, né? Eh,
eu ouvi na semana retrasada de uma colega minha dizendo que a sociedade ainda não está preparada para esse diálogo, né? Eh, forte, né? E então você eh oportunizar isso desta forma, né, de forma horizontal, de forma aberta, projeto sala aberta é sensacional. Então, como você já me apresentou, sou grande, sou psicanalista, tenho alguns percursos em algumas escolas e estou aqui para eh dividir algumas questões, né? Não estou aqui para trazer respostas, mas para que a gente possa tecer um pouquinho essa coxa de retalho, talvez trazendo oportunidades para desconstruir, construir ou deixar algumas questões em aberto
para, né, pra gente ir pensando um pouco sobre mesmo que depois desse momento aqui. E é isso, é uma alegria estar aqui com vocês. É, o espaço tá aberto sempre, não é nenhuma questão de oportunidade, não. Passo aberto para ser dito mesmo. Daniel também tá conosco. Daniel, rapidinho antes de você abrir a fala, né? Eh, você falou que é um tema que nós não estamos preparados, né? Quer dizer, e me veio aqui a cabeça uma vez eu tava escutando de uma pessoa que é psicanalista também, ela é pesquisadora na UFMG na PH e ela traz
um trabalho que ela fala que a cor da pele determina inclusive o nosso gênero, né? justamente por ter uma sociedade aonde tem uma erotização dos corpos negros, né? A não permissividade de de ter uma outra escolha da do seu do seu lugar de prazer sexual, aonde o homem tem que performar num numa relação erótica. E a mulher também, né, ela existe uma sedução implícita que a cultura coloca em cima disso, né? Então eu eu me lembrei desse tema porque você falou que a sociedade não está preparada ainda para falar e me veio isso. Bom, sim,
é muito desse lugar, né? Eh, ô Dani, você quer comentar um pouco antes? Por favor, Dan. Eu fiz uma um corte aqui, mas um recorte aqui, mas fica à vontade. Desculpa. Não, na verdade assim, agradecendo de novo a oportunidade de estar aqui, agradecendo eh por você ter acolhido, né, a sugestão e, enfim, isso demonstra claramente o quanto a gente também se sente à vontade de estar aqui, à vontade com você, eh, dessa oportunidade de estar falando sobre eh esse tema que tá sempre permeando e penso que sempre vai permear de uma certa maneira, porque a
gente tá sempre lidando com o dito entre parênteses aqui, entre aspas, entre um monte de coisa, diferenças, né? As diferenças vão aparecer eh em toda a questão, não como uma diferença destacada, mas como algo que necessita ter um acolhimento ou um olhar mais preciso para além das superficialidades, né? Eh, sobre isso, antes de mais nada, né? Meu nome é Daniel, psicanalista também, tenho percursos em alguns lugares. A gente, né, lá na comunidade do do dos cartéis, a gente tá sempre trocando, construindo muitas coisas, né, e a gente vai caminhando aí. Eh, então esse preparada, sociedade
não estar preparada para alguma coisa. E a gente sempre escuta de o que ela quis dizer com isso também, né? Não está preparada porque não quer ouvir ou não está preparada de algo que tá aí, que tá acontecendo, que tá em movimento e não tá preparada em que sentido, né? A gente é psicanalista, a gente começa a questionar até a própria pergunta que a pessoa tá fazendo, de onde tá vindo isso, né? O que que ela quer dizer com isso? O que que ele quer dizer com isso? Mas assim, só dar esse início aqui, na
verdade, e aí passo a fala paraa GRZ, porque aí a gente já teve até uma uma certa uma combinação de como a gente vai construindo e gostei, gosto muito desse termo de coxa de retalhos, trama. Eu gosto muito desses que me dá uma ideia de que não se faz sozinho, né? Eu gosto muito desse desse desses termos. E aí a gente vai construindo aqui essa coxa de retalhos, eh, sem sem dando nós nessas linhas, né? porque depois a gente possa desfazer isso e fazer outras coxas. E é isso. Diga para nós, GRZ, então o que
você é Vamos lá, né? Eh, para compartilhar conosco. Eu, eu conversando com Dani, enfim, aqui a gente combinou de trazer uma linguagem muito simples, muito acessível, né? porque para ter um alcance para além, né, dos colegas que estão aqui presentes, né, para ter esse acesso à compreensão o máximo possível. Eh, já trazendo um pouquinho de Lacan, né, da sua, uma das teorias centrais de Lacan, ele diz que mesmo antes de darmos conta de falar, nós somos falados, né? Antes mesmos de darmos conta do significado, das regras sociais, eh, a gente é posto num lugar pelo
um outro. Esse um outro pai, esse um outro a mãe, a avó, avô, a cultura. E quando a gente pega essa teoria psicanalítica lacaniana dentro do contexto do tema, né, psicanálise negritude, qual é este lugar, qual é essa fala, né, qual é esse discurso como herança que a gente possibilita, né, a pessoa negra de estar, né? Muitos aqui, ou se todos, conhecem boa parte da história, do lugar que a pessoa negra vem ocupando no discurso, né? Ali discurso histórico numa posição de servidão, de escravidão, de sofrimento, de não merecimento, de exclusão, né? Eh, e a
grande questão é, esse discurso ainda existe na nossa sociedade? né? O sujeito que nasce hoje dentro do do do contemporâneo, o que ele ouve, o que ele tem escutado? Será que em parte diz desse passado, né? Eh, de um sofrimento, né? Que que a gente escuta na clínica, né, Dani? E eh a nossa conversa foi bem eh de como a gente poderia falar disso, desse tema da psicanálise de Lacan ou de qualquer outro eh psicanalista, sem ficar termos muito complicados, mas não temos como não fazer uso deles, né? até mesmo para tá baseado aqui na
teoria para pra gente poder até justificar o porquê dessa conversa, né? Porque não é somente uma conversa de eh como atender o sujeito que se sente numa posição discriminado ou discriminatória, aonde alguns dirão: "É besteira, é coisa da sua cabeça". Ou outros dirão: "Isso tem que ser escutado porque vem de algum lugar". Então, quando a gente fala isso, e aí já pegando uma coisa, eh, uma continuidade com a GR, quando ela fala da linguagem de a gente já foi construído antes de chegar, né? O meu nome não é meu, deram para mim, ele se tornou
meu a partir do momento que eu comecei a fazer alguma coisa com ele e atribuir coisas a ele partindo de mim, né? Mas ele, esse nome em si, ele veio de algum lugar, me deram. Quando a gente fala nome que eu tô trazendo aqui, vamos colocar como linguagem, né? essa linguagem que somos inseridos, o discurso da mãe, o discurso do social, o discurso da cultura, que eu me deparo com isso e começo a me fixar em algumas questões ali, talvez a gente possa chamar isso de significantes, né? Me fixo naquilo que veio do outro, né?
que diz que o lugar do negro é esse, a maneira como o negro sente é essa. E eu tô falando isso na nos discursos triviais do dia a dia, né? Na fala de um amiguinho, na fala da mãe, na fala do pai, na fala da mãe que diz: "Meu filho, filho, pro menino preto, né? Não corra na rua porque senão a polícia vai te pegar". Aí esse menino olha e diz: "Ué, mas os outros meninos brancos não escutam isso. O que que mamãe quer dizer? Ele tá ouvindo isso de algum lugar e ele tá se
situando em algum lugar. tá na linguagem e isso marca o corpo. E e lembrando, né, que a linguagem, quantas linguagens nós temos acesso todos os dias? Porque cada um é portador de uma linguagem também. Então, quando eu tô num grupo social, eu tô sendo ali inundado pela linguagem de todos aqueles que estão ali, seja onde for, né? A subjetividade também de cada um que é nesse lugar. Então, quando a gente tá trazendo isso aqui, é quando eu escuto um sujeito na clínica que vem uma linguagem, a linguagem dele não surgiu dele próprio, se formou do
outro, do outro, do outro, do outro. Então são vários sujeitos, entre aspas, que aparecem na clínica. São vários corpos. Então, eu não levar em consideração algo para além daquele sujeito que está ali, para além daquele corpo, para além daquela linguagem, a gente pode dizer que eu não estou tentando ver algo da singularidade do sujeito, independente da questão da cor, que é a questão aqui, né, que a gente tá trazendo da negritude, mas eu não tô escutando o sujeito na sua individualidade, na questão da cultura, da cor, do sexo, do gênio e de várias outras coisas.
A gente pontuou a negritude aqui como um ponto que é que eu já ouvi isso uma vez em algum lugar, não me lembro onde, onde, né, um analisante foi falar desse lugar e o psicanalista disse: "Isso é fantasia, isso é coisa da sua fantasia". E e aí eu terminei esse comentário e aí, né, GR, a gente tem trazido isso aqui como como a gente falar do significante de uma maneira mais simples, mas não empobrecendo o termo, né? Não empobrecendo o conceito. Deixa só fazer um comentário para ver se entendi aqui e pra gente dar uma
continuidade. Então, o que vocês estão trazendo, eu eu se eu tô entendendo assim, eu concordo, tá? Parece que existe já parece não existe um discurso antes de nós estarmos aqui, né? Já existe um mundo já, né? Ou seja, aquele discurso que todo ser humano é uma tábula rasa, não existe, né? Que você constrói a sua história, aquela coisa do do meninismo todo de de onum, então não existe aquela tábula rasa. Ou seja, então, antes desse corpo estar aqui, já existe um discurso que coloca esse discurso do negro ou do preto em algum lugar e já
está determinado o lugar daquele discurso. Uhum. Né? Por por uma questão de historicidade e por todo um lastro que vem aqui na na cultura, né? Então, o que vocês estão trazendo é que já existe então esse lugar pré-estabelecido por consequência de um preconceito, de um racismo. É isso sim. Assim como o discurso que coloca a mulher antes de nascer, já existe um lugar que diz: "A mulher é isso". Já existe um discurso que diz que o homem é aquilo. Isso marca o pouco. Perfeito. Marca os modos de gozar, inclusive. Legal. Eu vi um uma pergunta
uma vez, um artigo que eu li que falava assim: "Aonde estão os corpos negros dentro da escola?" É uma reflexão. Aonde esses corpos negros estão dentro da escola? Diga, Grazi. Grazie. Eh, o Dani, ele trouxe, né? É bem isso mesmo, Marco. Eh, o nosso corpo, né, enquanto pessoa negra, já é uma linguagem dentro do que você acabou de falar. Antes da Graziele dizer, as pessoas estão escolhendo escutar algo, algo de uma herança, algo de uma introjeção, né? Outra teoria de Lacan, né, que diz: "O inconsciente é estruturado como uma linguagem, né? Então, a partir do
momento que esse esse sujeito, né, que nasceu, já é falado, né, e já tem um lugar que tá sendo dado a ele, né, por questões históricas, crenças, cultura, o desejo de um pai, de uma mãe, um lugar, enfim, né, tem esse lugar. Então ele tá recebendo ali, né, a a a uma linguagem, um significante, um significado. Ele tá herdando isso. Então isso vai estruturando o inconsciente dele que vai reverberando ao longo de toda uma vida, né? Então isso é o que a gente chama aí, né? A gente conversou do S1, né, Dani? do primeiro lugar
ali do conjunto de significantes. E e aí pensando assim, olha, se eu me eh por algum motivo, vamos colocar um vamos vamos inventar aqui um um significante que talvez marque a maneira de agir de um sujeito preto, de pensar e de decidir toda a sua vida de eh cresci num lar onde o meu próprio pai preto, inventando, né, dizia: "Eh, meu filho, você só vai ser feliz na sua vida ou conseguir alguma coisa se você trabalhar até sair sangue do seu corpo, você vai precisar ralar muito, porque esse é o lugar do preto. Aqui o
pai tá falando da história dele, mas trazendo isso para, tá fazendo uma interpretação do mundo. O menino está recebendo essa interpretação do mundo, aderindo a ela e falou: "Eu acho que é isso, então vamos lá. Eu passo a ver o mundo desse lugar. Então, as minhas decisões, as minha a minha maneira de agir, a maneira de de me de repente me relacionar no trabalho, de aceitar o lugar aonde me dão mais trabalho, onde me vem como aquele que precisa trabalhar mais, já é conhecido. Meu pai já me avisou, ele já diz que é assim. Então
isso não, isso não me assusta. Eh, fazer hora extra até me matar, não receber algo por isso, tá tudo certo. Meu pai disse que já era assim. Não consigo me desvencilhar disso. Eu tô falando de um sujeito talvez ainda fora da análise, né? Eu tô nesse lugar aqui e não quer dizer que a análise vai garantir, mas eu tô dizendo que pelo menos na análise isso talvez poderia ser questionado. Então aqui, ó, ele se coloca e vê o mundo dessa perspectiva de um significante que coloca ele num lugar de desfavorecimento. E olha que os exemplos
que eu dei. significante trazido de um pai preto contando a sua história e que diz: "Meu filho, é isso". Ele pega, se fixa nisso e decide a sua vida e passa a olhar o mundo a partir deste lugar. Ah, basta ter um olhar diferente sobre isso. Não basta. Eu tô aqui olhando aqui. Ah, tem que ter uma um olhar diferente das coisas. Não adianta só fazer isso assim, ó. Eu tô vendo a tela diferente, mas é a mesma pessoa tá na mesma perspectiva. Eu não, eu não tive uma, como é ver o mundo fora deste
lugar aonde eu acho que eu posso trabalhar sem dar o sangue? Não sei fazer. Não, não, não, não sei. Eu eu não consigo. Que é uma questão que a análise, né, a gente espera que proporcione a análise lacaniana. Então, nesse sentido, percebe, ó, os significantes que também nos são atribuídos antes do nascer, como sendo atribuição nossa, como sendo um sign. Esse pai poderia, não tô dizendo, esse pai de repente poderia falar: "É assim que eu observo, mas não precisa ser assim, filho". Quer dizer, eu já trago uma outra perspectiva ali, ó. Opa, existe esse lugar,
mas eu posso me posicionar de uma maneira diferente. Então, quando a gente fala de a escuta desse lugar, do significante ali que me prenda, né, de eu eu a gente tá falando algo para além de vitimização. Uhum. Não é, GR? Não faz sentido. Sim, sim. Você traz uma questão da transferência, né? aonde existia um grande outro chamado pai, que coloca esse filho num lugar, ele faz essa introdção, né? Isso, né? Eh, eh, é um significante para ele e durante toda uma vida ele vai buscar grandes outros nas suas relações. E é desse lugar que esse
mesmo filho vai responder, né? desse pai que o coloca nessa posição, que hora vai ser o professor ou a professora, hora vai ser o gestor, ora vai ser esse grande outro que vai ter essa autorização de tirar esse sangue. E aí você vê, né, que aí nesse caso a aderência fica tão forte que aí eu passo a utilizar, eu só vejo o mundo dessa perspectiva, né? Então eu começo a pensar, então para é que eu possa me tornar eh melhor no meu trabalho ou seja promovido ou seja lá o que for, né? que eu possa
ter, sempre vai tá calcado nessa história do você precisa se oprimir para alcançar algo. Então, se de repente me surge uma oportunidade de alguém que me veja muito capaz, muito potente para alcançar um lugar aonde eu não precisei, na minha perspectiva, ter que tirar o sangue, eu vou olhar para aquilo com estranheza, porque não, aquilo me fez me mover, aquilo aquilo me fez eu me jogar no mundo. Então, quando não há isso aqui de estímulo de tem que ser assim, eu vou tirar talvez ali, eu vou usar esse termo, tá? Na picar a gente não
utiliza, né? Eu vou vou tirar essa energia aqui, eu vou tirar essa de onde, porque eu preciso estar nesse lugar para me dar forças para alcançar. Uhum. Então, se eu estou num lugar que me acolhe, eu vou pensar como é que é isso? Eu não sei. Eu, né? Me sabe aquela coisa da do limbo? Eu não sei fazer isso. Eu eu não sei me ver dessa perspectiva. Eu não sei fazer. Uhum. É como se você não se permitisse ocupar esse lugar, né? Diferente do que você aprendeu, né? Isso. Mas você percebe, ó, eu não me
permitisse não porque eu não quero, é porque eu não, eu nem sabia que existia essa outra vertente. Eh, sabe que você falando e aí eu de novo aqui com essa questão da Unicamp, que eu acho que hoje tá me atormentando aqui, né? Eh, e essa questão do ambiente, né? Bem, parece que existe uma força de um silenciamento. Existe uma força de um silenciamento, de um aculturamento, de um rebaixamento. E a não ser se tiver muito maluco com isso. Por exemplo, você pega qualquer universidade, vai dar acessibilidade a a a um grupo minoritário, à universidade. vou
dar, vou incluir essas pessoas aqui, vou incluir para que eles façam a faculdade, para que, enfim, mas me parece que ali não tem uma inclusão, ali tem uma acessibilidade. Ele vai lá, ele vai permitir que aquele corpo adentre no na universidade. Uhum. Só que a partir do momento que ele entra, vamos supor, numa faculdade de filosofia, qual eu fiz, ele vai aprender a filosofia eurocentrista branca. Ou seja, então não tem uma inclusão, existe um apagamento cultural também, né? Porque uma inclusão não é simplesmente o aluno adentrar dentro de uma universidade, mas seria também acolhê-lo nas
diversas matrizes que existem, culturais, religiosas e todas as perspectivas e não trazer uma perspectiva eurocentrista, né? Então eu não sei, não sei se tiver muito maluco e revoltado na minha posição, mas eu vejo que existe sim um apagamento, existe um questão de não acolhimento, né? Não sei se vocês concordam com isso. Sim, eu vou vou vou vou vou vou vou abrir a fala inclusive paraa GRES pra gente poder complementar, mas é muito isso do que você tá falando. Não basta simplesmente abrir a porta e falar vá. É, é muito do que foi feito lá atrás,
né? Sejam livres. se virem. Exato. E fiquem com o mundo da forma que ela é, que ele é para vocês. Ou seja, vocês vão entrar aqui na universidade, mas vocês vão ter que se aver da forma que ela é, não contemplando o que diz sobre vocês, por exemplo, a história de vocês, para permitir também, né, eh, um acesso tanto a hisó que já existe como também da pessoa negra, né? Não é sobre essa questão eh como que eu posso dizer, né? Eh, ah, coisas que são da população da pessoa negra é só pra pessoa negra
e coisas das pessoas brancas é só para Não, não é sobre isso, né? Eh, é, é muito pelo contrário disso, né? Eu queria até eh aproveitar um pouco, né, a fala, né? Eu e o Daniel participamos de um de um de uma outra discussão sobre esse tema e a psiquiatra que tava na roda de conversa, ela trouxe um exemplo de uma escola particular que ela estudava. E o professor era muito bom e propôs trazer sobre a cultura, né, da da população negra. E ela disse, foi unânimo, né, os alunos dis para que isso, né? E
foram muito reativos, né? Então há um desmerecimento, há um lugar, né? Quando eu disse, por exemplo, Daniel questionou, né? Ela foi até ela mesma que trouxe, né? sociedade não está preparada para esse diálogo e eu diria que inclusive diz diz de diz de alguns lugares, tá? Já, ô Dani, eu já vou passar aí para ti, tá? Mas eu já abrindo um pouquinho eh a questão do problema econômico do masqu, né? Enfim, né? O problema econômico aí que diz oposições sobre sadismo e masoquismo, né? Então, muito embora uma posição, uma pessoa ocupe lá na sua constituição
do seu eu uma posição mais por viés, né, do masoquismo, eu mereço apanhar. A sociedade, aí eu falo, a sociedade se faz eh o uso da história para também ocupar um lugar dessa descarga psíquica. Então, tem aquele que bate e tem aquele que apanha, porque existe um discurso que viabiliza isso, sabe? Então, ele pode continuar. E quanto a gente comentou ali, né? Eh, e aí fazendo de repente até uma proximidade com a clínica do real também, que a gente tem construído muitas coisas lá no cartel do real, enfim. Mas pensando aqui, olha, se eu enquanto
homem preto eu posso olhar para esses significantes, né, e pensar, eles podem ter pode ter sido escritos a lápis, né, eles não precisam escrever ser escritos a caneta e fixo. Eu posso ter outros significantes que eu posso me apoiar, OK? Mas eu não me vejo e não aceito de eu preciso ser aquele que trabalho mais do que todos os outros para que eu possa ser reconhecido porque sou preto. Eu posso pegar esse discurso e falar: "Não, não preciso disso, mas tô observando que é o que acontece. Se eu me renego a estar nesse lugar que
querem que eu esteja e tento fazer aqui um trabalho de uma outra identificação, né? Porque isso aqui eu tô me desvencilhando de uma identificação que me deram para eu construir uma outra. Vocês percebem que eu estou me propondo algo novo para mim, inclusive, né? de de repente não ficar nessa coisa ali do poxa, eu tenho que trabalhar mais para poder alcançar as coisas e ficar naquele gozo ali. Eu posso olhar para isso, reconhecer e falar: "Mas eu não quero estar nesse lugar, eu quero fazer alguma coisa com isso." Saio e percebo, bom, já entendi que
o mundo funciona assim, mas para mim eu não quero que funcione desse jeito. Existe algo que é assim, ó. Eu eu estou tentando me deslocar, mas o social insiste que eu volte para cá. Então é como se fosse, vamos dizer, o trabalho do luto. Luto não é sozinho a pessoa, né? Você o meio precisa auxiliar para que ela passe por processo de luto. Então eu tô tentando sair de uma identificação que diz o preto é isso e isso e isso. O preto é sexualizado, o preto é não sei o quê. Tá tá tá. Eu olho
para isso e falo: "Não, isso aí não vai me pegar. Chego aqui". Mas ainda deparo em lugares que insistem em dizer: "Nossa, como é que é? Eh, ah, fulano tá não sei aonde, tal, tal. Ah, você viu hum negão. Ah, blá blá blá. E você não tá nem pensando nisso. Mas o meio faz uma insistência de um retorno para de uma identificação que eu tô querendo dizer. Isso não é meu, isso não é, não sou eu, não quero ser assim. Mas aí o quanto você também acaba tendo que ter mais essa questão para lidar para
poder avançar. E aqui eu tô falando da negritude. E aí, é claro, tem várias camadas, né? A negritude na mulher, a negritude no homem, né? A negritude nesses lugares, né? Porque quando a gente fala, por exemplo, de feminismo, a gente não pode englobar todas as mulheres num lugar só. Tem o femminismo branco, feminismo preto, né? o homem preto, o homem branco. Mas o que eu tô dizendo é assim, o quanto a negritude, existe uma insistência social de continuar querendo que a gente se veja no lugar de se eu sou preto, é porque eu sou descendente
de escravo. O branco também pode ser descendente de escravo, gente. Não, mas é porque eu sou preto. Eh, teoricamente eu tô na mesma linha de raciocínio. Eu tô eu tô na mesma linha hierárquica daquele que levou as primeiras chicotadas. Não tô dizendo, eu tô falando a nível eh de árvore genealógica, né? Tô nem falando da questão de raça, mas eu tô falando, entende? Já olha para mim dizendo assim: "Ele veio de uma tribo, da tribo dos pretos e não sei que da África". Todos vêm desse lugar, todos estão misturados. Mas existe uma questão de saio
desse lugar, mas aí o social tenta me colocar nesse lugar de novo. Aí eu tenho que vencer isso para que possa estar em outros lugares. Não sei se fui claro nesse sentido. Percebem? Quando existe também essa questão a lidar, é assim como aquele que de repente, independente de ser preto ou não, mora na favela, sai da favela, e eu tô falando de uma habitação, né? Ele sai daquele lugar, mas parece que o estigma de sempre vão dizer para ele: "Você tá aqui, mas você é afavelado, você tá aqui". Não, ele tava lá, ele estava favelado,
que ele morava na favela, mas ele sempre vai. Muuit das vezes parece que as pessoas que nos lembram que a gente é preto. Sabe que essa coisa da favela eh me veio nesses dias uma psicanalista me procurou falando que queria fazer um projeto de uma clínica social, tal. Aqui em Campinas existe muito movimento do do campo lacaniano que eles fazem uma clínica social em praças, essas coisas. E aí nos conversando, né, sobre como poderia ser isso, né, e que ela queria, você falou de favela, agora me lembrei, que ela queria atender as pessoas na comunidade.
E eu perguntei para ela, onde que é o consultório dela, né? Eu não sei se todos vocês conhecem, mas acho que vocês vão saber esse endereço que eu vou falar. Falou: "Não, eu fico aqui em São Paulo na Faria Lima". Ora, a comunidade não vai para farelo. Não é que ele não tenha condição de pagar, não é que ele não tenha condição de se deslocar, mas é que ali é um ambiente que não vai acolher. Eu falei para ela, esse ambiente qual você está não vai acolhê-lo. Não, não vai, não vai existir uma transferência para
Elandrar. Você vai ter que ir lá. Aí já, né? Aí já fica difícil o projeto. Mas é é isso, né? Nós estávamos discutindo esse final de semana também sobre uma escola que tem uma mensalidade de R$ 3.000. Um absurdo. Aí ela pega e essa pessoa fala assim: "Não, mas eu não tenho condições de pagar 3000 R$ 3.000, mas eu faço um esforço para o meu filho estar lá. OK, perfeito, né?" Mas agora quem não se identifica com aquela atmosfera não é questão de poder pagar ou não, é questão de ser recebido ou não, né? É
isso que eu ia falar. Grazi. Uhum. Raquel, eu não sei como é a dinâmica. Abrir a da forma como vocês preferirem. Se quiser já abrir para Raquel, vamos lá.Qel, vamos lá, então. Ofício aqui. Boa tarde, viu, pessoal? Boa tarde. Então, eh, que me ocorreu uma coisinha também nessa colocação de vocês, né, sobre essa questão do ambiente. Eh, eu fiquei pensando assim que também, né, eh, como é uma coisa difícil, como é lento, né, essa essa saída desse lugar, né, que já tão eh assim já assim engessado ali, não achei nem as palavras certas, mas o
que o que acontece que também vão ser poucos os pais, né, de de desses eh negros, né, né, que vão eh ter, porque eles estão mais próximos ainda do do sofrimento vivenciado pela outra geração, né, e percebem também envelhecendo, né, a gente é mãe, você sabe aquele amor que você tem nos seus filhos, que eles percebem que nada ou pouco mudou, né? Então eles sonham sim que os filhos estejam num outro ponto, mas sem querer, né? É, é essa coisa que você falou aí de de do pai às vezes não não passar um outro significante
para para pro filho, não oferecer uma outra possibilidade, por naquele ímpeto de proteger essa esse filho, né, que eu acho que ele tem até vontade de chorar, fala: "Puxa vida, né? Eh, eh, tem assim, eu pari um filho, mas pera aí, não, nossa, eu pari já uma vítima da sociedade, né? Então eu falo e assim, acho que já vem uma culpa, uma coisa tão grande, uma impossibilidade tão grande de proteger essa criança para que ela chegue naquilo sonho que talvez até ele já tenha sonhado, que ele acaba ficando sem querer replicando mais um pouquinho, vai
estendendo mais. Olha, filho, você pode sonhar, você pode fazer, mas só que ao mesmo tempo, nem que você tenha que trabalhar, deixar teu couro ali, é um pouco mais seguro, filho, sem ficar quietinho, se é preto, né? Vamos, sabe assim, não sei se vocês concordam com isso que eu que eu enxergo, né? E assim, eu só vou só vou tomar a fala rapidamente, né? Assim, é para além até de concordar, é porque assim, né? e percebe que aqui como a clínica, né? E a gente percebe que pelo menos é assim que eu tento levar a
clínica lacaniana e também diz os pais que eu percebo que estão aqui, que é não é em momento nenhuma responsabiliz responsabilizar os pais. O que a gente tá talvez trazendo é eh, vamos dizer assim, é uma análise de um recorte, né, de quanto alguns significantes, né, e detalhe, não é nem o pai que que traz, ele pod ele poderia falar isso e de repente a criança nem se fixar nisso, poderia estar olhando para outra coisa, poderia tá se f Tanto que é o tempo lógico, né? Então isso talvez poderia ser algo que eu pego para
mim, me identifico nisso e levo para eh ser ali talvez a base para decidir muitas coisas, mas é que a gente tá dizendo nesse sentido de do quanto poderia ser esse pai, poderia ser talvez até a própria sociedade. Talvez os pais poderiam ser algo esses que não, mas é assim, mas pode ser diferente. Mas aí a criança ela olha para isso e fala: "Tá, mas o social tá dizendo que eu tenho que ralar muito, pai". E aí se fixa o que a gente quis dizer é o quanto alguns significantes que deveria que deveriam ou poderiam
ser mais potentes no sentido de prosperidade, vamos botar assim, né? Eles eles já existem de alguma maneira e a gente já se coloca, vamos trazer talvez pro universo feminino, né? quanto alguns significantes relacionados à mulher, já coloca ela antes mesmo de nascer nesse lugar de servidão. Até mesmo se você se responsabilizar os pais e você tá alimentando o sistema segregacionista. Uhum. Quanta Quantas mães negras às vezes teme colocar um filho ao mundo justamente porque ela tem medo que essa criança sofra, né? Então, se a sociedade já influencia na sua decisão de ser mãe a partir
de uma cor da sua pele, alguma coisa ali já está. Uhum. É, diga, Graziele. Tá posto, né, Marto? Já tá posto. E e esse é esse é um é um ponto, né? A fala da nosso colega é de uma sensibilidade tamanha, sim, né? Às vezes tentando, digamos assim, acertar, né? se erra, às vezes tentando errar, se acerta, né? O que o Dani traz aí a questão aí do significante será da identificação também, né? Com qual lugar esse sujeito vai se identificar. Mas a sociedade, né? Aí já pegando um pouquinho aí, né, da das instâncias psíquicas
aí já falando de Freud mesmo, né, de inconsciente inconsciente, né, do supereu, né, faz parte, a cultura faz parte, né, esse supere eu vai lembrar esse sujeito desse discurso existente na cultura, né, na hora que ele conseguir o êxito, né, de alguma coisa, vai lembrar, não, você merece a sofrer, você tem que trabalhar muito. Então essa voz interna colocar esse sujeito possivelmente possivelmente, né, ou a construir um sintoma que dê conta de lidar com essa angústia, né, até quando esse sintoma também vai suportar, né, essa angústia? Até o ponto de um sofrimento psíquico, um adoecimento,
né, Dani? A gente chegou até o ponto de conversar até nessa etapa, né? Uma coisa é a constituição. OK, eu tô ouvindo da sociedade, eu tô ouvindo dos meus pais, eu tô ouvindo que, né, a pessoa negra já ocupou esse lugar e, infelizmente ainda ocupa em boa parte. E assim que é visto nos documentários, inclusive é só ligar o jornal, né, como o Marco trouxe muito bem. Cadê os copos negros aqui dentro da escola, né? A gente representa mais ou menos 50% da população, né? Cadê, né? E ela bem colocou, né, a nossa colega, né,
essa mãe, esse pai que esteve mais próximo, né, de um sofrimento que ainda, né, se escuta sobre ele, sofre. E eu dentro da minha geração ainda escuto a minha filha, o que ainda vai restar disso tudo? quanto isso ainda vai ser uma via para eh eh autorizar alguém se colocar num lugar de sofrimento ou num lugar que se bate. o quanto que nós aqui, enquanto colegas, pares ou interessados nesse assunto, estamos eh eh digamos assim, implicados a construir um novo discurso, porque tem isso, a gente tá falando de um discurso já existente, de algo que
tem um resto ainda, que às vezes vou usar a palavra velada, mas enfim, não é tanto contexto psicanalítico, mas, né, do da ordem do inconsciente ali, né, de um ato falho, talvez, né, que aparece, a gente sabe que aparece, né, é o quando que a gente quer mudar esse esse discurso. Vou dar um exemplo do nosso colega Jader, que faz parte da comunidade de Cartéis. Ele falou assim e é professor de história também. Ele disse que quando está falando sobre a história, né, das pessoas negras, ele não fala assim: "Ah, vamos falar da história dos
escravos". Não, ele falou assim: "Essas pessoas foram escravizadas". Ele nem chama de escravos. Eu achei isso sensacional. Então, o quanto que e como que a gente se refere à população e a pessoa? né? O que eu escolho dizer? Eu escolho dizer sobre um escritor. Eu escolho dizer sobre um cantor, sobre uma referência, né? Sobre o que que eu escolho dizer sobre a pessoa negra? Porque as pessoas estão ouvindo o que a gente tá dizendo e isso tá se tornando, né, injeção dentro desse discurso. E é isso aí que eu queria comentar, tá? E só antes,
só antes, oi. Oi. Não pode falar, Daniel. Pode falar só, só antes para abrir para Eli. E aí aproveitando isso, né, já que a gente tá falando de linguagem inclusive, o quanto a gente precisa dissociar na psicanálise, faz sentido a gente falar de eh eh da neurose ou da psicose ou do autismo, né, ou da perversão, eh enfim, como algo estrutural. Quando a gente fala isso na psicanálise, a gente tá falando de algo que não vai mudar. Eu vou me articular com a minha neurose, vou me articular com a minha psicose, vou me articular com,
né, com aquilo que me formou, sendo atravessado por todos os outros traços aqui das outras coisas, né? Essa palavra estrutural na questão, né, da do racismo nos dá a ideia de algo que tá ali não vai mudar. Mas entendemos que isso foi trazido antes no no intuito de dizer que isso aqui está lá atrás, isso aqui tá na construção do prédiozinho lá de trás, mas se é discurso tem que deixar de ser estrutural. Então, talvez a palavra estrutural nesse início foi dita para dizer que foi construído lá atrás, galera, veio de algum lugar, né? tem
ali os seus fundamentos, suas raízes, mas a o racismo ele precisa deixar de ser dito ou visto como algo estrutural, porque é discurso. Racismo é discurso, assim como discriminação é discurso. Eh, se aí de novo aquela frase que eu acho muito bonita, né? Se a gente pode odiar, a gente pode amar. A prova disso, a gente ama o nome do pai e ele é apresentado. É só isso que eu queria acrescentar antes daí. Não, per. Nossa, isso errei perfeito. Ficou muito claro, porque isso é estrutural e imutável, né? E ele não é imutável. Muito pelo
contrário, ele muito bom. Esse é o convite, Marco. Esse é um Perfeito. A Eli tinha uma outra mãozinha antes da Eli e aí eu vi que abaixou alguém. Acho que é. E tem a Renata também que levantou. Parece aqui. É. Tá. Posso falar? Bom, vamos lá. Então, rápido. Eh, boa noite. Corroborando com as falas, né, eh, da questão estrutural, então, e, e a introjeção daquele sujeito lá na infância, o que é introjetado, narciso, que é construído ali? Porque sim, o grande outro, a figura paterna ou materna, eh, a sua desescendente vai trazer paraa sua prole
o a carga que ele recebeu, que não necessariamente vai, a pró vai dar essa sequência, mas isso fica se repetindo, repetindo por não vou entrar em questão de de escola e de políticas públicas, mas qual é a história a história que é dada em sala de aula, né? Atualmente, Grazele, tem algumas pessoas que falam eh estamos falando aqui de pessoas escravizadas, mas é atualmente e poucas, porque a minha época era aquela história, os escravos vieram trazidos por navios negreiros, trouxeram sua cultura e tudo mais. E a cultura que foi trazida foi toda endemonizada. Então tudo
e que vem da do afrodescendente a duras penas, né? Mesmo estando aqui em 2025, ainda tá muito vivo. Tá muito vivo. Então é macumba, falou em orixá e macumba. Falou em em babalorixá e macumba também. E tudo é e tudo é demônio. Então, algumas religiões perpetuam essa fala, né, por não conhecer nada da diáspora, não conhecer nada da história mesmo, história enquanto não só a história contada visão do do colonizador, mas a história de fato, né? Então, nenhum livro. Nós estamos em 2025 e os livros de história, eu não estou, não sou docente, não tô
em sala de aula, mas eu não tenho sabido que os livros de história têm tido falas diferentes ou contada a partir da são a história é contada a partir da perspectiva do povo negro, né? E aí o é dito, bom, tem a escravidão houve, né, em várias culturas, em várias épocas, Grécia e Egito, que também é África e tal, mas a escravidão essa contemporânea que pegou a nossa ancestralidade, ela tomou um vulto muito grande porque viram ali a monetização. Enquanto na Grécia antiga era uma questão, enfim, ali daquela época, né? Um vulto maior se deu
a partir de que o que lá na Europa, enfim, eh começou a monetizar. Isso é um comércio enorme, né? E tanto que nem era dado alma ao ao desescendente, né? Mas assim, passado, a gente o que que é introjetado a criança? você vem é oriundo lá da escravidão. Então assim, todo que tudo que a tua ancestralidade trouxe de fora não vigora aqui, é feio, aqui é endemonizado. Tanto alimentação, hoje a gente tem obviamente a feijoada, é patrimônio histórico e etc. Mas o que que é a a feijoada? Eram as sobras, né? Porque a vitela, o,
né, o corpinho lá ficava paraa casa grande e as sobras eram das 100as, né? Então, mesmo a Igreja Católica quando veio, vieram jesuítas e tudo mais, além do eh de tentarem escravizar o o os povos oriundos e os indígenas, eles eh massacraram também, mas eles não fizeram nada também em relação à escravidão porque monetizava. Então, como de de encontro contra isso? Mas, enfim, voltando em hoje, por que que os livros de história não não tem uma mudança bem enfática em relação à fala, a como trazer a história real para hoje, paraas nossas crianças? Sim, existe
o racismo estrutural. OK. Ah, inclusive eu sou da época, né? Ah, isso da época eu tô falando a idade, mas assim do comercial do Oriana na TV Globo, que era o que tinha, né? E a sessão da tarde em comerciais eram eh infimente assim, tinha sim, tinha lá, vamos o pessoal vai lembrar da escravisaura, tal, e aí tinha alguns negros atores ali que nunca estavam como protagonistas, mas como escravizados, né? Então assim, hoje a gente observa por questões de marketing, se você for ver a TV aberta, tá tendo muita novela com famílias afrodescendentes e numa
tentativa de não, estamos aqui, mas é o marketing que tá pedindo isso, porque como a Graziele bem falou, aqui no Brasil nós somos mais de 70% de afrodescendentes, então somos os consumidores. Agora, o que nos faz ainda ir pro set analítico sem sentir esse pertencimento, sem, né, e inclusive chegando até, como o Daniel falou, eh, ouvir de um analista, isso é coisa da sua cabeça, né? É isso, essa consciência que eh enfim, vamos aproveitar esse momento porque o marketing tá gerando. Agora, se você entrar nos comerciais, na TV aberta, eh é muita coisa para negro,
eh, enfim, tudo tá tá uma explosão agora. Eu tô observando agora eu agora porque o antes eu eu assisti a mesma TV, a mesma sociedade e não havia o comercial da Oriana, não havia negritude, a novela não havia negritude, havia o chofer na novela que era negro, havia empregada doméstica e tava tudo bem. Quer dizer, e aquele povo que nós já existíamos lá no 70, 80%, né? Então é isso, gente. O que tá sendo feito hoje para discutir mais isso, né? E e principalmente a questão da do grande outro, eh, dos pais, enfim, os afrodescendentes
pais têm esse medo. Tô pondo um filho no mundo, ele vai sofrer como eu. Mas eh o que tá sendo feito na questão social para que os pais tenham um outro tipo de fala? Sim, falando da ancestralidade, falando e tudo mais, mas tendo um outro tipo de fala, meu filho, eh, sabe, o mundo tá aí, as pessoas são o que são, mas você não é o mundo. Eu acho que assim, não, eu acho que assim, mais do que tudo, uma coisa que eu acredito que tem que existir é sim uma força política. Eu acho que
comece-se pela política, né? Comece-se tendo sincotas, comece-se tendo criminalização como preconceito. Eu acho que ali começa para que depois isso venha reverberando de outras formas. Mas eu acredito que a política tem que estar envolvido, né? Verdade, Marco. Mas assim, essa política tá começando agora, não tem 15 anos, então tá muito tardia. Agora, fora as políticas públicas, eh, teria que ter uma consciência interna do afrodescendente, porque às vezes assim, aqui no Brasil tem a questão do fenótipo e do genótipo, né? Ah, então meu fenótipo tá branquinho ali, tudo bem, meu genótipo tá ali, não tá me
dando problema, né? Porque o meu cabelo não é sarará, porque então eu eu assim, bota-se um vé, né? Essa consciência interna da sua ancestralidade, de onde você veio, o que você tem que passar pros seus filhos, é político também. A política começa dentro de casa, né? A construção do narcismo na criança. Aí vamos voltar à psicanálise que eu tô muito fora, né? Mas a construção do narcismo ali, olha, meu filho, você é um afrodescendente e a África não é só o que é vendido, que é a é o ebola, é a doença, é o não
sei o quê, não. A África é um continente muito grande, porque tem muita gente em Culté que acha que a África é um é um é um paisinho, né, que tudo é África, né, que tudo assim, África tem vários países, né, mas ela continua sendo eh eh sugada, né, vamos dizer. Então, mas assim, da política tá OK, mas a política tem que começar de dentro de casa e com a consciência da nossa afrodescendência, porque quando o o fenótipo tá na branquitude, então a gente, né, a a missigenação do Brasil é não tem como falar não,
mas enfim, mas aí porque meigenou não, eu não, isso já não é minha bandeira e não é levantar bandeira, sabe? Vou sair com a bandeira da afrodescendência. Não é uma política ali, começa em casa, começa na sua vizinhança, assim como todas as outras coisas do micro macro, né? Mas precisava ter a escola eh com essa fala, sabe? Enfim, eu me cedi, mas obrigada por me ouvir. Posso começar rapidinho? Não, é bem bem interessante que ele trouxe, né? Se a gente pensar, né? Ali tem a constituição do eu, desse primeiro eu, né? O que que tá
sendo introjetado, né? Quem são esses responsáveis? Aí é trazido para uma para uma esfera, digamos assim, eh ali agora dentro de um social chamado escola. Qual é o discurso? Como como esse tema, como a história tem sido contada, né? Porque ali tem crianças brancas, crianças pardas, crianças negras e a criança já é colocada em algum lugar porque tá falando ali um pouco da história dela. E o Marco vem e traz aí o contexto político como é preciso fazer algo, né? É uma eh são ações complementares e super necessárias, né? Como temos disse, domingo pro mato.
Mas eu eu só eu queria só dizer rapidamente uma coisa como uma experiência minha, né? Eu eu usei cota, tá, Marco, né? Eu sou formada em administração pela PUC Minas. Eh, fiz pós-graduação em gerenciamento de projetos, gestão de pessoas, depois que eu vim para psicanálise. Então, eu fico pensando, se também não tivesse, não tivesse essas iniciativas políticas, será que eu teria dado conta? É uma pergunta, né? Eu digo financeiramente falando, tá? Porque eu sou de uma família que boa parte das pessoas são brancas, mas eu fui a primeira a ter curso superior, né, numa família
da minha mãe de 12, para você ter ideia, né? Então esse é um primeiro ponto. Então eu tive acesso a trabalhar em multinacionais e lá é que me recomendaram a fazer o quê? Faz terapia existe uma coisa chamada psicanálise. E aí eu me interessei e fui, né? E daí estou aqui. Mas quantas pessoas têm essa experiência que eu estive para possibilitar a minha filha de ouvir um discurso que oferece para ela um lugar dela se inscrever, não naquilo que tá sendo posto para pela sociedade, né? Então, quando eu falo convite aqui, é a gente como
sociedade da gente se ouvir, se escutar e talvez nos implicarmos num num lugar de uma construção às vezes um pouquinho diferente do que a gente tem feito no nosso dia a dia, né? Porque o outro aí vai ser do, né? Hoje o discurso do outro é vazio. Se alguém me chamar de qualquer que seja o nome, negra, preta, macaco, o que for, é vazio. Mas em algum momento lá atrás tinha lugar, um lugar de dor, de trauma, de sofrimento, de adoecimento. Hoje não, mas tem um percurso. A gente falou da constituição do eu, falou do
do S1, falou do simplic, falou da terapia, falou do sintoma e tem o a travessia também. é possível e também tem a nossa colaboração. Era isso que eu queria fechar aí por causa do horário. Marco, obrigada. Legal. Mas eu acho que a gente pode, a Renata tá um tempão ali, da gente já fecha com a Renata por causa do horário, né? Que que vocês acham? Tudo bem, Renata? Tentasse falar bem rapidinho pegando o gancho da GRZ. Eh, quando eu engravidei, é uma uma história minha, quando eu quando a minha mãe engravidou, o meu pai era
caminhoneiro e já tinha o meu irmão. Meu pai chegou, minha mãe grávida, foi embora de casa. E aí ela falou: "Por que que você foi embora ou por que você largou a gente?" Ele pegou e falou assim: "Não, porque tem um preto na sua rua e você ficou com ele". E Renata não era, é Renata já tinha até nome. Renata vai nascer negra. E aí papo vai, papo vem e tal. Ele não quis voltar, minha mãe ficou sozinha e tal. Renata nasceu, né? Então vocês viram que Renata não nasceu negra. E aí, eh, com essa
história que veio junto comigo, cresci, casei, e tal, eu me, antes da psicanálise, antes da terapia, eu falava bem assim: "Não, eu não gosto de homens negros, não, não me interesso." Aí tá, não, eu não gosto não, não, não, nunca me interessei por homens negros. Aí entrei na terapia. Entrei na terapia, a não sei o quê. Ai, Renata, eu tenho um amigo meu para te apresentar, não sei o quê. Aí a outra falou assim: "Ela não gosta não. Você mostrar ela não vai gostar". Eu falei: "Deixa eu ver". Ah, não, não gosto não. Aí viu
falei que ela não ia gostar. Aí eu me ouvi. Aí eu, eu que tô falando isso. Ela ué, por quê? Eu falei: "Caramba, eu tô falando isso?" As minhas amigas: "Eu aí eu fui levar pra terapia porque até então eu não tinha me dado conta e aí eu tive que ir lá atrás, eu tinha que ver e a minha mãe vivia falando dentro de casa. Ai Renata achava que eh que o pai dela achava que ela era filho de preto. Ela falava preto, negro, entendeu? Minha mãe falava. E eu cresci ouvindo isso e depois com
só na terapia que eu fui me ouvir. Quer dizer, e vamos colocar a uma pessoa que não tem acesso à terapia, milhares pessoas que não se ouvem, porque eu me ouvi. Eu falei: "O quê? Eu sou preconceituosa, eu tô falando que eu não gosto de um preto." Falei: "Nossa, eu tenho que marcar". Eu fiquei doida, fiquei, falei, eu tenho que marcar uma terapia e isso é motivo de terapia para mim. Isso me incomoda e até a minha voz muda. E aí eu comecei um novo processo, tive que me impliquei e é isso. É só sobre
isso. Acho que veio a calhar perfeito. Tô até com com essa gracinha. Obrigado por compartilhar. Tô até com essa gracinha aqui, ó, do meu lado. Uhum. Eh, ô Ana, só vou pedir pra gente dar continuidade daí a Ana que tá com a mão erguida, pra gente dar continuidade no nosso grupo ali do WhatsApp. Eh, eu vi aqui também muito pouco tempo muito importante da Raquel, de fato, né? A gente pode começar a depois, Graziele, Daniel, a gente pode conversar depois e fazer uma segunda rodada, não há problema. Esse espaço que é para isso mesmo, tá
bom? E mas acho que antes de eu caminhar aqui pro Fink, é só deixar o espaço para você Graz e depois o Daniel ver suas considerações aqui. Tá no mundo. Eu agradeci no início e quero reforçar o agradecimento aí a você, Marco, né? o projeto SAB, aos relatos, às contribuições dos colegas de estarmos aqui conversando de um tema tão importante, tão necessário e de nos implicarmos nesse lugar, né? A gente trouxe, né, Dani, boa parte do tempo, essa introjeção na pessoa negra, né? e a nossa colega nos presenteou com relato de como também é introjetado
na pessoa que não traz a cor da pele negra, né, a do outro lado de forma inconsciente. Então, há muito o que se falar. Essa coxa, né, de retalho ainda tá muito curta, né, tem questões relacionadas a sintoma ou lugar de gozo, tem muito de psicanálise dentro desse tema. Foi pouco, mas foi muito precioso. Eu entendo que a gente vai poder fazer boas elaborações a partir dessa discussão. E é isso. Obrigado, viu, GR? Diga, Dan. Então, rapidinho também, eu sei que o assunto não se encerra, claro, e ainda bem, né? Eh, e pegando também essa
fala da Renata com relação a isso, o quanto, tá vendo um exemplo do quanto o social interfere no nosso desejo, o quanto a formação do desejo do do E que eu tô falando do desejo para além de algo sexual, entendemos isso aqui, né? o quanto as nossas decisões, o quanto os nossos movimentos que a gente faz na vida, baseado no que vem do social, do discurso social, interfere em nós a tal ponto de eu conseguir perceber, meu Deus, eu estou no movimento racista sem perceber o quanto alguém aqui não cresceu escutando algo do tipo, eh,
lá vem o [ __ ] lá correndo e não sei quê. [ __ ] se referindo à aquele que corre. Ou então lá vem, lá vem o [ __ ] falar coisa, ó, eu tô usando o termo negro de forma pejorativa. No carnaval, conversei com GR em outros momentos, né? Carnavais aonde o negro é visto como fantasia. Quem ser fantasia de branco, gente? Não, mas se fantasia de nega maluca, se fantasia de preto. Preto não é fantasia, porque isso reforça na clínica, né? Então, só para deixar isso aqui, a gente já tá encerrando também, a
gente me coloco aqui à disposição para próxima lá no grupo também a gente falar e continuar. Mas obrigado pelas contribuições, obrigado pelo espaço e obrigado Marquim, obrigada Grazi. E é isso. Preto não é fantasia. Você falou uma coisa que me levou a uma aula de antropologia que nós tivemos na sexta-feira no mestrado com a professora Ktia Puente, que digo mais, eh, fantasia de índio também não é, né? E não são índios, são povos. Ele tem esse livro, A terra dos 1000 povos, que é justamente uma história escrita por um indígena pela posição dele. Eh, bom,
ainda temos muito que aprender. Claro, esse tema assim é um tema que eu eu o meu meu lugar, né? Eu sou um homem, eu sou branco, sou hétero, né? Eh, com certeza eu não sinto na carne aquilo que ou tantos outros sentem, não. Mas isso não quer dizer que só porque não estejamos nessa posição que nós nos podemos colocar em reflexão, né? Eu acho que às vezes eh temos todos nós que fazer um movimento político e cada um aproveitar de qual é o lugar que você está para defender alguns interesses de do universal. Se eu
estou no lugar aonde a mulher não pode entrar, porque ali é um lugar machista, se eu estou lá dentro, porque entre aspas eu ganhei esse passe, porque eu sou homem, então que lá dentro pelo menos você propague o feminismo, né? Que lá dentro você seja algo que tente explodir aquele de dentro para fora, né? É que derrubemos. Isso é um assunto que eu gosto muito assim. Eu acho muito importante. Obrigado. Obrigado. Obrigado a todos. Todos, gente. Muito obrig.