No dia 11 de setembro de 2001, o mundo parou. Isso porque a Al-Qaeda, liderada pelo seu fundador Osama Bin Laden foi responsável pelo maior ataque terrorista de todos os tempos jogando dois aviões contra as Torres Gêmeas em Nova Iorque. Alguns anos se passaram e depois de diversas investigações feitas descobriu-se que, para realizar o seu atentado, Osama bin Laden havia estudado sobre um brasileiro que, na década de 1980 já tinha tentado fazer algo similar.
Este é um dos casos mais intrigantes e impressionantes da história do Brasil: o dia que um homem sequestrou um avião com o objetivo de jogá-lo contra o Presidente da República. Mas, como isso aconteceu? Como esse sequestro foi planejado?
Quem era esse homem? E qual seu objetivo com tudo isso? Hoje, no investigando - Cinzas.
Oi, eu sou o Tinôco e no fim da década de 1980 o Brasil estava passando por um período de intensa transformação política e econômica. Em 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil mas veio a falecer pouco antes de assumir o cargo. Assim, José Sarney, seu vice, ascendeu à presidência simbolizando o fim de duas décadas de regime militar e o início de uma nova era democrática no país.
Naquela época, o Brasil passava por uma crise econômica severa tanto que essa década ficou conhecida como a “Década Perdida”. Assim, para tentar conter todo esse problema o governo lançou o chamado Plano Cruzado congelando os preços e salários de todo o Brasil. Inicialmente, o plano até trouxe um certo alívio à população que finalmente experimentou uma redução abrupta na inflação e uma sensação temporária de estabilidade econômica.
Só que isso não durou muito tempo porque as medidas adotadas no Plano Cruzado logo se revelaram insustentáveis. O congelamento de preços e dos salários não foi acompanhado por políticas fiscais e monetárias consistentes levando a desequilíbrios e distorções econômicas. Como resultado, a inflação voltou a acelerar chegando a incríveis 933,62% ao ano assim, a confiança nas políticas econômicas do governo foi completamente abalada.
Mais uma vez o Brasil sofreu com uma recaída gerando um grande descontentamento populacional e uma enorme instabilidade social. E é nesse contexto que surge Raimundo Nonato Alves da Conceição um tratorista desempregado e motivado por uma mistura de frustração pessoal somado a uma visão distorcida de justiça que decidiu realizar o maior atentado terrorista da história do Brasil. O plano era extremamente complexo.
Raimundo precisava sequestrar um avião render a tripulação e os pilotos mudar a direção e jogá-lo diretamente no Palácio do Planalto com o objetivo de matar José Sarney. E por incrível que pareça essa não foi a primeira vez que isso aconteceu no Brasil. Alguns anos antes, em 1924 Eduardo Gomes já havia tentado jogar um avião contra o presidente Arthur Bernardes, mas faltou combustível.
Então, era hora do Raimundo fazer isso dar certo e seu primeiro passo foi escolher o avião. Seu plano começou no Aeroporto de Confins em Belo Horizonte já que, naquela época, ele não possuía máquina de raio-x nem detector de metal. Assim, Raimundo pode facilmente entrar em um avião armado com um revólver calibre 32.
Seu alvo foi um avião da VASP uma das principais companhias aéreas da época no Brasil. Esta utilizava um Boeing 737-317 para operar o voo 375 que transportava mais de 100 pessoas. No dia do sequestro a aeronave partiu do Aeroporto Internacional de Porto Velho, em Rondônia com destino ao Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.
Para isso, o voo faria quatro escalas: a primeira em Cuiabá, depois Brasília, partindo para Goiânia chegando, por fim, em Belo Horizonte onde partiria para o Rio. Eram 10h52 da manhã quando Raimundo Nonato entrou a bordo do VASP com apenas um objetivo em mente. Após a decolagem, Raimundo se levantou e foi em direção à cabine de comando.
Obviamente ele foi impedido de entrar, mas isso só o deixou mais furioso. Assim, Raimundo saca a sua arma e dispara um tiro instaurando um verdadeiro caos pelo corredor deixando os passageiros atônitos e inquietos. O barulho do disparo foi o suficiente para que os pilotos Fernando e Evangelista notassem que algo acontecia dentro do avião e, rapidamente, trancassem a cabine.
Vendo esse movimento, o sequestrador não pensou duas vezes antes de começar a atirar contra a porta que naquela época, ainda não era blindada. Gilberto Renhe, um copiloto extra que pegou carona no voo estava dentro da cabine e foi baleado na perna. Após ser atingido, Gilberto foi mancando para o fundo do avião na tentativa de estancar o ferimento enquanto o restante dos passageiros permaneciam paralisados.
Depois da cabine ser alvejada por tiros, danificando o painel da aeronave os pilotos decidiram destrancar a porta para cessar os disparos e assim, Raimundo finalmente consegue chegar ao comando do voo. Sob ameaça de violência o sequestrador ordenou aos pilotos que desviassem a rota em direção a Brasília. Segundo relatos do próprio comandante, Raimundo gritava: “Eu quero matar o Sarney.
Quero jogar o avião no Planalto! ” Só que ele não poderia simplesmente aceitar que esse seria seu destino final. Assim, sem que o sequestrador notasse, o piloto Fernando conseguiu passar ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo o código 7500, que corresponde a uma “interferência ilícita” ou seja, um sequestro estava acontecendo à bordo.
Além disso, disfarçadamente, o piloto também conseguiu abrir o microfone enquanto o sequestrador falava sobre a mudança de curso para Brasília e a intenção de jogar o avião contra o Planalto fazendo com que o Centro de Defesa Aérea ficasse ciente da rota. “Tem que falar que mudamos a rota pra Brasília. ” (Piloto Fernando) “Escuta aqui meu amigo, você só tem que fazer o que eu mando!
” (Raimundo) Com o alerta, a Força Aérea Brasileira enviou um caça Dassault Mirage III da base aérea de Anápolis, em Goiânia para acompanhar o voo e interceptá-lo caso necessário isso significa que se o avião se aproximasse demais do Palácio do Planalto o caça precisaria abatê-lo. Neste momento, não tinha muita coisa que pudesse ser feita então o piloto seguiu as instruções do sequestrador e alterou a roda do avião. Como de costume, o controle de tráfego aéreo notou a diferença e se comunicou via rádio para confirmar a alteração.
Assim, quando o copiloto Salvador Evangelista se inclinou para responder ao rádio Raimundo apontou sua arma e impiedosamente o baleou na nuca matando-o na hora. Obviamente, Fernando ficou em estado de choque ao ver um amigo de longa data sendo assassinado na sua frente. Ele tentava ao máximo não olhar para o lado e continuava a fazer o que o sequestrador exigia.
Enquanto o Boeing 737 seguia em direção a Brasília as autoridades de aviação e segurança do Brasil foram imediatamente acionadas. A notícia do sequestro se espalhou rapidamente e a situação começou a ser monitorada de perto pelo governo e pelas forças de segurança. O presidente José Sarney, informado sobre a ameaça iminente convocou uma reunião de emergência para tratar da crise.
Nessa reunião, Sarney disse que não iria sair do Palácio e que se fosse para morrer, ele morria ali mesmo. Dentro da cabine, Raimundo, apesar de visivelmente nervoso demonstrava uma determinação inflexível. Para ele, Sarney representava o ápice do fracasso político e econômico do país.
Assim, Raimundo acreditava que esse sequestro juntamente com assassinato do presidente iria, de alguma forma, resolver os problemas que o país estava enfrentando. Na tentativa de ganhar mais tempo e persuadir o sequestrador o piloto argumentou que as condições de visibilidade não eram boas para uma aproximação segura em Brasília conseguindo convencer Raimundo de que seu plano não iria funcionar. Enquanto isso, algumas aeronaves da Força Aérea Brasileira conseguiram alcançar o avião e começaram a acompanhá-lo.
O problema foi que o sequestrador percebeu isso e ficou ainda mais furioso e agitado. Assim, Raimundo muda de plano dizendo que seu novo objetivo era ir para São Paulo mas Fernando avisou que o avião não tinha combustível suficiente para chegar até lá. E apenas alguns segundos depois, um dos motores começou a falhar.
Vendo toda essa situação acontecer bem diante dos seus olhos o piloto Fernando sabia que precisava tomar uma decisão drástica para salvar todos a bordo. Durante muito tempo de sua vida o piloto fez parte da conhecida Esquadrilha da Fumaça que é uma unidade da FAB especializada em realizar demonstrações aéreas executando manobras acrobáticas. Com sua experiência, Fernando decidiu realizar uma manobra nunca antes feita em um avião comercial cheio de passageiros.
Este é o tonneau, onde a aeronave dá uma volta completa em torno de seu próprio eixo dando um giro de 360° antes de retomar a sua posição normal. Essa manobra exige uma coordenação absurda para manter o avião estável durante tudo isso. O objetivo era desequilibrar Raimundo Nonato e afastá-lo da cabine de comando.
E por incrível que pareça ele conseguiu fazer a manobra com o plano sendo concluído pelo menos em parte isso porque, ele conseguiu desequilibrar o sequestrador mas infelizmente ele não largou seu revólver. E como se não bastasse, o avião também ficou sem combustível fazendo com que o motor esquerdo também começasse a falhar. Isso poderia ser um problema para qualquer outro piloto mas não para o experiente Fernando.
Ele viu nesse momento uma oportunidade de realizar outra manobra perigosíssima também nunca antes feita em um avião comercial lotado conhecido como Queda em Parafuso onde o avião despencou 9 mil metros girando em torno do seu próprio eixo. Em uma entrevista futura, Fernando revelou que na hora ele pensou: “Ah , eu já vou morrer mesmo, não tem por que não arriscar”. A manobra era praticamente impossível de ser feita visto as condições que o avião estava.
Ele não tinha combustível, os dois motores tinham pifado e tinha um fucking sequestrador ameaçando o piloto com uma arma você tem noção do que é isso! ? Com esse movimento absurdo Raimundo finalmente perdeu o equilíbrio e deixou o revólver cair.
Aproveitando que seu sequestrador estava desarmado e atordoado com a agitação das manobras Fernando conseguiu pousar a aeronave com sucesso no Aeroporto Internacional Santa Genoveva, em Goiânia. Assim que o avião estabilizou na pista às 14h15 da tarde exatamente 3 horas e 23 minutos depois da decolagem em Confins Raimundo Nonato, que havia sido temporariamente afastado da cabine conseguiu se levantar e recuperar sua arma reinstaurando um clima de terror entre os passageiros. Imediatamente após o pouso, as autoridades de segurança cercaram a aeronave.
A Polícia Federal, em conjunto com as forças especiais e com negociadores tomou o controle da situação. A prioridade era garantir a segurança dos passageiros e tentar resolver o sequestro sem que houvesse mais mortes. Raimundo Nonato, armado e desesperado exigiu um avião menor para poder fugir ameaçando matar reféns se suas demandas não fossem atendidas.
Os negociadores tentaram acalmá-lo argumentando que suas exigências estavam sendo consideradas enquanto, na verdade, ganhavam tempo para elaborar uma estratégia de resgate. Dentro do avião, o comandante Fernando fazia o possível para manter a calma entre os passageiros. A situação era extremamente tensa.
Cada movimento de Raimundo era monitorado de perto pelos agentes do lado de fora que aguardavam para agir da melhor maneira possível. Foram 5 horas de negociação até que a FAB liberou um avião Bandeirante para o sequestrador. Próximo das 19h, com o intuito de sair de uma aeronave para embarcar na outra Raimundo desceu do avião usando o piloto e dois comissários de bordo como escudo humano.
Assim, a polícia prontamente disparou contra o sequestrador que, por sua vez, atirou contra o piloto Fernando que foi atingido na perna. Vendo que a situação poderia escalar ainda mais a polícia resolveu atirar acertando o sequestrador nas nádegas e nos rins. Raimundo então foi preso e encaminhado para um hospital onde passou por uma cirurgia de emergência e foi anunciado que não corria risco de vida.
Contudo, poucos dias depois ele morreu no hospital devido a uma anemia falciforme sem qualquer relação com o fato de ele ter sido baleado. Mas aqui, é importante deixar claro que o caso nunca foi investigado e ninguém sabe ao certo o que aconteceu dentro daquele hospital. Nesse meio tempo, Raimundo conseguiu ser interrogado revelando que havia trabalhado no Iraque por dois anos período em que se ofereceu às autoridades militares iraquianas para combater na guerra do país contra o Irã mas o seu pedido foi negado.
Além disso, ele confessou uma versão diferente de seu plano. Enquanto que no avião ele gritava que sua intenção era jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto para matar o presidente Raimundo afirmou no interrogatório que pretendia levar o avião a Brasília onde tinha a intenção de “contactar o Ministério do Exército e exigir que os militares assumissem o poder, sem realização de eleições". Raimundo revelou que teve problemas mentais quando tinha entre 15 e 16 anos e chegou até a ser amarrado durante um surto.
Mas talvez, o principal personagem dessa história não tenha sido o sequestrador mas sim, Fernando, o piloto do avião que conseguiu de maneira heroica realizar tarefas que nenhum outro homem havia tentado. Fernando, após tudo isso, seguiu na carreira da aviação sendo lembrado como um herói nacional responsável por salvar a vida de centenas de pessoas e por ter impedido uma tragédia muito maior. "A primeira coisa que o sequestrador tinha falado pra mim é que queria jogar o avião em cima do Palácio do Planalto" (Piloto Fernando) Tempos depois, ele foi condecorado com a Ordem do Mérito Aeronáutico uma das mais altas honrarias da Força Aérea Brasileira e o troféu Destaque Aeronauta que reconhece aqueles que prestam serviços relevantes à aviação do país.
Mesmo assim, depois de tudo isso o piloto jamais recebeu nenhum agradecimento oficial do ex-presidente José Sarney. Foi somente em 2023, mais de 30 anos depois do sequestro que o ex-presidente agradeceu ao piloto em uma entrevista dada para o jornal Estadão pena que Fernando jamais pode ver esse momento já que ele morreu anos antes devido a uma insuficiência respiratória. Além disso, mesmo com as várias testemunhas dentro e fora da aeronave a Boeing também nunca reconheceu as manobras feitas por Fernando no 737 alegando que elas seriam fisicamente impossíveis de serem realizadas em um avião daquele porte.
O sequestro foi um importante estudo de caso sobre crises aéreas servindo como um lembrete da importância de preparar tripulações de voo para situações como essa e sobre como normas de segurança para transportes aéreos são imprescindíveis. Após o incidente, Fernando solicitou às companhias aéreas a instalação de portas blindadas na cabine de pilotagem dos aviões. Desde esse ocorrido, tiveram diversas mudanças significativas na segurança aérea como treinamento da tripulação, detector de metais e scanners para evitar que tragédias como essa se tornassem frequentes.
Este momento está marcado no nosso país como uma das histórias mais impressionantes de todos os tempos. Mesmo não sendo lembrado e não tendo sido exaltado da forma que deveria com esse vídeo Fernando fica eternizado como um herói da aviação brasileira sendo responsável por evitar que uma tragédia imensurável afetasse todo o nosso país. Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você tenha gostado.
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Enfim, muito obrigado pelo seu acesso e até o próximo vídeo valeu, falou, um grande abraço do Tinôco e lembre-se: a existência é passageira. Tchau!