Café Filosófico | A Era das Ias: Memórias, Arquivos e Apagamentos | 19/05/2024

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Café Filosófico CPFL
As Inteligências Artificiais são as novas tecnologias mais exploradas pelos seres humanos atualmente...
Video Transcript:
k [Música] [Música] nenhuma tecnologia é neutra a inteligência artificial traz possibilidades inéditas de controle da sociedade de direcionamento do que enxergamos de viés preconceituoso de uso de inverdades Mas abre também novos caminhos de criação artística e de crítica uma cultura que se expande a partir de parcerias inéditas entre humanos e máquinas e que vem borrando as fronteiras entre a realidade e a ficção uma virada não apenas técnica Inteligência Artificial submissão e subversão tema desta série do Café [Música] Filosófico a humanidade sempre fica em estado de alerta e apreensão a cada inovação científica ou tecnológica que
a própria humanidade desenvolve foi assim desde a antiguidade quando cientistas pens e pensadoras foram perseguidos por suas teorias hoje nos deparamos com um avanço que só existia no mundo da ficção a inteligência artificial um assunto que já era conhecido por Livros Filmes séries Mas será que de fato acreditávamos que essa tecnologia chegaria Até nós algum dia quais os nossos temores sobre as transformações que a inteligência artificial pode causar nas nossas vidas no mundo e quais os benefícios desta tecnologia que os nossos temores nos impedem de enxergar essa nossa conversa hoje ela eh discute especificamente a
questão da memória e da percepção do tempo e da história na pela pelo impacto da Inteligência Artificial nesses processos e eh Talvez para introduzir a conversa propriamente dita fosse importante circunscrever O que se entende por Inteligência Artificial Esse é um dos termos mais inflacionados do momento e é equivocadamente entendido como uma espécie de versão melhorada dos humanos ou uma mistura de piloto automático com um um uma espécie de escravizado autônomo eh sempre penso que talvez a nossa maior Utopia vergonhosamente ainda seja a robô dos Jackson Bom dia Rose o que tem pro café né a
Rose que é uma versão Mecânica do da figura do escravizado né não reclama é eficiente executa todas as tarefas mas Inteligência Artificial não é exatamente isso Inteligência Artificial são eh sistemas computacionais capazes de a partir de modelos treinados com grandes quantidades de dados quando eu falo grandes são muito grandes mesmo então não é mil imagens São milhões de imagens não são centenas de textos são bilhões de textos são que perfazem esses conjuntos de dados e eh a partir disso esses modelos podem eh resultar em tecnologias que não só executam tarefas elas são capazes de tomar
decisões diante de dados inéditos elas são treinadas para isso como por exemplo sistemas de reconhecimento facial como que eles vão reconhecer pessoas que eles nunca viram eles têm um arquivo de todas as imagens Não exatamente como nos sistemas de saúde onde inteligência artificial tem sido um suporte para determinados processos de triagem né de Diagnósticos que então reúnem as leem as informações das imagens das pessoas e já dividem por exemplo para entre os pacientes que têm supostamente algum um problema dermatológico e aqueles que as imagens já indicam que provavelmente tem alguma eh algum tipo de eh
câncer de pele então o sistema tá prevendo é muito usado já para eh seleções eh a o primeiro processo seletivo por recursos humanos dá um milhão de problemas mas a partir do reconhecimento de determinadas posturas determinadas palavras o sistema pode já indicar ou não a continuidade do processo numa segunda etapa então quando digo assim tomar decisões não é que é uma um um um novo tipo de Big Brother que faz todas as coisas um Frankenstein que vai tomar conta da humanidade mas é tomar decisões diantes de dados que são inéditos e isso é uma coisa
muito muito interessante porque uma das características menos faladas e mais interessantes dos sistemas de inteligência artificial é que eles são sistemas relacionais eles articulam várias eh dados e são capazes de gerar dados a partir de eh outros dados Então nesse processo é que eu gostaria de situar um pouco a produção dessa discussão porque a popularização dessas tecnologias de Inteligência Artificial inegavelmente abrem novas frentes criativas no campo das imagens mas trazem também a possibilidade de consolidação de novos negacionismos históricos por exemplo capazes aí de emplacar as teses mais estapafúrdias né aliás Esse foi o mote de
uma videoinstalação muito interessante feita no desenvolvida no MIT Massachusetts institute of technology é um dos das mecas né da produção de conhecimento digital e é um documentário que se chama in event of Moon disaster algo que a gente poderia traduzir como no caso de um desastre lunar e nesse trabalho o presidente Richard Nixon reporta diretamente do salão oval da Casa Branca o desastre ocorrido com Apolo X em 69 que não teria chegado ao seu final e o discurso de fato foi escrito por um dos assessores do Nixon com era de se esperar uma missão arriscada
Mas seria lido no caso de um acidente com essa missão lunar de 69 que como nós Terra rondista sabemos não aconteceu ah houve este voo a Terra é redonda e também o a Apolo x chegou à lua né mas para fazer esses esse documentário foram usados uma série de discursos vários outros do próprio Richard Nixon além de várias gravações para transferir as suas expressões faciais e movimentos labiais ao seu clone e assim sintetizar um audiovisual com a sua voz com a sua dicção com o seu semblante falando palavras que ele nunca disse sobre um fato
que jamais ocorreu é é é muito plástico trabalho essa obra ela ela é importante porque ela funciona como um alerta sobre aí os potenciais estragos dos Deep fakes no plano do revisionismo [Música] histórico o v [Música] abre falando enfim Boa noite por uma fatalidade do destino os homens que foram enviados à Lua ficaram na Lua né ou seja eles não voltaram eles morreram e é um longo discurso aí sobre a o que aconteceu a a o final trágico dessa missão esse processo que envolve uma outra palavra muito falada ultimamente que nos Alerta sobre esse peso
dos Deep fakes que pode servir para algo mais do que apenas memes como é muito utilizado na internet é outra palavra que passou a circular muito especialmente aqui no Brasil depois do comercial da Volkswagen que usou a inteligência a artificial para ressuscitar a Elis Regina que como nós sabemos faleceu em 1982 uma propaganda e em que ela canta em dueto com a sua filha no caso em dueto póstumo com a sua filha Maria Rita deu o que falar e suscitou polêmicas aí de todas as ordens mobilizando os mais diferentes afetos dizer que eu tô por
fora ou então que eu tô inventando as polêmicas mais relevantes eh giraram em torno da ética das imagens colocavam em questão a relação da Família com a sua memória né a memória o patrimônio da família que de repente então estaria sendo canibalizar e a descontextualização de uma música que foi composta durante a ditadura né Como Nossos Pais do Belquior é uma música de 76 e que aparecia embalando uma peça publicitária na voz de Elice Regina que cantou esta música no plano afetivo as pessoas iam ao delírio eram suspiros saudades emoções que foram registradas aí a
rodo nas redes sociais mas me parece que a pergunta que não quer falar calar é quais são as fantasmagorias do presente que essas imagens vamos dizer assim num neologismo Deep faked né que foram falsificadas por esses algoritmos como as da Elis eh no produzem né Que tipo de fantasmagoria essa esta tecnologia eh que constrói de fakes ela usa recursos que tecnicamente são chamados de transferências de estilo algoritmos que aprendem eh a retirar camadas de um conjunto de dados e transportar para o outro muito resumidamente é algo que vocês já devem ter ouvido um termo que
se chama termo super complicado mas que que circula bastante eh redes generativas adversárias adversárias por quê né porque o sistema opera a partir da briga entre dois conjuntos de dados né a a receita do bolo aí não vai ser tão fácil aplicar assim ela envolve praticamente três etapas uma coleta de dados em que dezenas de milhares de imagens e de vídeos de alta qualidade eh do rosto da pessoa que será substituída no vídeo é feita né Isso é feito por um uma espécie de precariado da internet que são trabalhadores eh remotos que fazem processos de
classificação sem nenhuma intimidade com as imagens comandados e vão colocando etiquetas Essa é Eliza Essa não é Eliza Esse é um tomate Esse é um abacaxxi esses dados estando organizados eles passam para a etapa do treinamento né é o momento em que essa rede generativa vai se constituir a partir de duas partes principais um sistema gerador e um sistema discriminador o gerador ele é responsável por criar imagens falsas o discriminador ele vai o tempo todo tentando barrar essas imagens e dizendo essa imagem não é real aí é que acontece o aprendizado de máquina é um
termo muito perverso porque isso é a anti pedagogia por Excelência E durante o treinamento cabe a essa a esse sistema gerador convencer a o sistema discriminador que ele é que está certo E no fim do processo se ocorrer o aprendizado de máquina bingo aquele sistema que é o gerador eh se impõe e o discriminador já não consegue mais distinguir Quais são as imagens reais Quais são as imagens criadas algoritmico então conforme o amamento avança essa briga de gato e rato entre o discriminador e o gerador vai fazendo com que o sistema se sofistique e vá
aprendendo a reproduzir as características as texturas as nuances as modulações de voz então não é uma edição humana não é uma dublagem O que acontece no sistema como nós vimos do Richard Nixon ele fala com com a voz dele com a musculatura dele com todos os três jeitos assim como a a Elice Regina cantava no vídeo E aí que a imagem resultante é isso que nós chamamos de de fake e não é um processo tão banal assim para se chegar a um grau de fidelidade como foi atingido com esse documentário fake documentário sobre ao 11
ou com a Elis Regina isso demanda muitas operações só para dar uma escala esse projeto do da propaganda da Elis Regina demandou quase 2500 horas de produção e profissionais aí de pelo menos três empresas diferentes mas o que me importa ressaltar aqui não é tanto a complexidade do processo mas frisar que isto não é uma edição humana é a inteligência artificial que faz a substituição não só cria os frames como ela substitui os frames de um vídeo de origem então eu gravo com uma outra pessoa e depois eu jogo o clone digital em cima mas
não sou eu que faço uma camada um layer como as pessoas que estão acostumadas a trabalhar com Photoshop fazem é a inteligência artificial que vai substituindo os frames até que as coisas se encaixem isso é um momento sem precedente na história das imagens Tá certo que a gente já convive com uma espécie de história do homem sem a câmera já há algumas décadas todas essas obras que são feitas a partir de imagens do Google imagens que são processadas isso pelo menos des eh dos anos 20 mas não é esse o ponto nós estamos falando aqui
muito além do pós fotográfico nós estamos falando das imagens sem o humano no próximo bloco é inegável que nós estamos vivendo uma verdadeira compulsão pelo arquivamento na era da Amnésia coletiva coisa que nós mais fazemos é [Música] documentar vivemos nos questionando quando a internet os celulares e a inteligência artificial são nossos Aliados e quando são nossos inimigos nos questionamos estamos sendo controlados pelas invenções que criamos para poder controlar melhor nossas vidas como afirma Gisele no contexto da cultura das redes O passado é uma espécie de monumento ao presente que não foi o celular com câmera
se transformou numa espécie de terceiro olho na palma da mão que escaneia a vida continuamente o que me interessa aqui é como esses procedimentos impactam a nossa compreensão do passado do presente e do Futuro porque nós pensarmos há cerca de 20 anos quando começou aquela febre retrô retromania de fazer carro dos anos 30 novos fuscas Chrysler Fiat o primeiro Fiat da Fiat né o Fiat 500 é um crítico de arte muito importante o TJ Clark ele escreveu que se antigamente a mercadorias vendiam Promessas de futuro hoje elas parece que existem para inventar uma história Um
Tempo Perdido de intimidade e de estabilidade de que todo mundo afirma se lembrar mas que ninguém teve na verdade é uma espécie de nostalgia do que nunca fomos pessimismo dotel otimismo da vontade nunca mais porque o otimismo agora virou uma tonalidade política indissociável das promessas do consumismo o futuro só existe no plural usado nas bolsas de valores o Clark identificava aí uma necessidade que parecia inventar um passado para compensar a banalidade do presente e antes dele Humberto Eco num livro que é um clássico da história e da teoria da comunicação viagem na realidade como cotidiana
ainda nos anos 80 mostrava que esse tipo de movimentação ele pavimenta uma filosofia da imortalidade a partir de uma duplicação como se nós não tivéssemos algo concreto para Recordar e que nós precisaríamos inventar para nos lembrar de alguma coisa e ao mesmo tempo como se nós não pudéssemos mais conviver com o passado só com a sua cópia isso eh é patente nessa abordagem temática de espaços de convívio que cenarização [Música] e que tendem eh a transformar as cidades numa espécie de um cartão postal de um passado Imaginário que nunca existiu a biblioteca lindon Johnson é
uma fortaleza da Solidão uma câmara de Maravilhas um exemplo ingênuo de arte Atrativa Museu de Cera Caverna de autômatos E aí nos resta entender a existência de uma Constância de imaginação de um gosto americano médio para o qual o passado tem que ser conservado e celebrado numa forma de cópia absoluta num formato real numa escala de um para um uma filosofia da imortalidade como se fosse duplicação é uma overdose documental tamanha que nós vivemos pelas redes né todo mundo documentando tudo postando tudo se and aos fatos para vivê-los a partir da imagem que circulará em
rede que esse drama de não ter um passado ele se antecipa o nosso próprio futuro nós vivemos o nosso presente primeiro como imagem e depois como experiência é um eh esse quadro de overdose eh documental faz com que de alguma maneira nós estejamos submergindo na impossibilidade de acessar a nossa memória nós funcionamos hoje atrelados à lógica das nossas timelines nas redes onde é impossível fazer uma busca retrospectiva porque essas redes são não funcionam bem não funcionam super bem não é a função delas né elas não têm essa busca esse tipo de busca retrospectiva porque elas
são organizadas em função do momento imediato eh acho que é o paradigma daquilo que é importante aquilo que for seja o mais atual é inegável que nós estamos vivendo uma verdadeira compulsão pelo arquivamento na era da Amnésia coletiva coisa que nós mais fazemos é documentar e esse arquivamento ele é mobilizado pela possibilidade de publicação das informações registra-se tudo compulsivamente ainda que seja para desaparecer em 24 horas num Stories do Instagram por exemplo Mas alguma coisa ela tem que ser gravada ela tem que ser capturada E acima de tudo ela tem que ser divulgada E é
isso que faz da cultura pop hoje em dia algo cada vez mais intoxicado pelo passado e algo tão intrigante também é quase uma antinomia é difícil de discordar de um crítico de música britânico Simon Reynolds quando ele diz que em vez de se ocupar de si os anos 2000 se ocupam de todas as décadas anteriores acontecendo de novo de uma só vez é um tempo em que ele diz é tudo re remakes regravações reedições Revival e está tudo integralmente à venda essa questão da memória Virá uma commodity né Ela é um bem de consumo é
algo muito característico Da nossa época e ela é tão perturbadora que às vezes para e se pergunta Em que século nós estamos porque parece que nós estamos assim numa esquina do passado em que lambretas cadeiras pé palito eh cozinhas de fórmica vão fazendo sucesso em busca de uma saudade por aquilo que não foi vivido né Eh oferecem inclusive calças jeans que já vem rasgadas de fábrica porque quem comprar hoje apesar de ter nascido nos anos 2000 pode imaginar que US Essas calças desde os anos 60 tanto que elas foram se deteriorando vão consolidando esse design
retrô que se impõe e vai ganhando seguidores o antropólogo indiano arjun pad durai chama esse essa febre de saudades do que nunca foi de nostalgia imaginada e ela é fruto de um conjunto de técnicas de merchandising de Marketing e essa experiência publicitária que vai criar essa esse vácuo de perdas que nunca aconteceram como os jovens que nunca havia visto a Elis Regina cantando como os nossos pais e sofreram a ausência súbita de uma cantora pop maravilhosa Sem dúvida mas que não participou da sua experiência de vida no próximo bloco vejam que coisa bipolar numa era
que privilegia o arquivamento das coisas antes delas acontecerem a passagem do tempo é o grande [Música] Pânico a vida com Nossos celulares em punho nos faz questionar se deixamos de estar no presente transformar o que vivemos em imagem e memória digital para o futuro é viver o agora e o que uma vida em telas nos faz projetar para o futuro de fato vivemos hoje em meio a nostalgias inventadas as coisas hoje são produzidas em uma lógica de reprogramação constante como dados manipulados a fim de serem infinitamente consumidas e recons umidas prevalece nesse sistema uma estética
incapaz de conviver com o envelhecimento a corrosão dos materiais as asperezas do que é natural esse eh impacto das inteligências artificiais ele não acontece isolado mente ele se dá em um contexto histórico mas que é dialogam com a demanda por essa tecnologia que nós estamos inventando consumindo E acima de tudo demandando porque essa saudade do que não houve é um dos buracos da nossa época né Eh é uma explosão de repente da memória alguns especialistas chamam do bum da memória que começa nos anos 90 com uma série de celebrações do Cinquentenário da segunda guerra um
ano da queda do muro de Berlim as os 10 anos de fim das ditaduras na América Latina que vão despejar no mercado de entretenimento produtos de várias ordens e qualidades suplementos livros filmes muitas vezes muito bons mas muitas vezes uma banalidade apropriação da história eh que só se justificam pela memória ter se tornado um bem de consumo tão importante é inegável que a cultura da memória hoje ela é discutida de prismas muito mais complexos do que a 50 anos atrás e todo o processo do colonialismo indica aí das discussões sobre o decolonial sobre as outras
práticas e a diversidade indica isso mas também é inegável que a cultura da memória Nossa do século XX em diante ela é atravessada pelos aspectos mais banais dessas celebrações e dessa compulsão pelo arquivamento e pela memória e foi isso que fez com que a memória se convertesse do ponto de vista estético e temático numa commodity dos anos 2000 em diante nesse quadro é que nós vemos surgir essa febre de aplicativos para tridimensionalizar colorizar colorizar animar fotos antigas e dar vida ao passado todos esses aplicativos funcionam muito bem São R fáceis de usar e revelam meticulosos
processos de trabalho com inteligência artificial acontece eh que eles sugerem também uma uma apropriação da história como gadget como um brinquedinho fácil de ser manipulado me refiro a esses aplicativos que transformam foto preto e branco em foto colorida restauram supostamente em segundos e em consequência nós nos vemos diante de um conjunto de passados fictícios vejam bem a gente já passou pelos negacionismos passamos pela angústia de produzir uma memória do que nós nunca tivemos e hoje nos vemos diante também nesses atravessamentos das inteligências artificiais lidando com passados absolutamente fictícios e muito semelhantes entre si porque eles
parecem sempre imagens muito felizes e liberadas dos defeitos do tempo aliás uma das chamadas desse tipo de aplicativo é sempre libere-se das rugas tire os amassados dos das fotos assim parece que a passagem do tempo é um grande problema da nossa eh civilização vejam que coisa bipolar numa era que privilegia o arquivamento das coisas antes delas acontecerem a passagem do tempo é o grande Pânico né as melhorias vão eh apagar manchas de idade e as colorização retrospectivas tem um cacoete Funda Mental é que elas atribuem a tudo um um mundo que parece que oscila entre
tons pastéis e tons eh outonais né e o um caso emblemático desse processo de past teorização da história pelos algoritmos de i e essa versão feliz do passado que elas criam aparece num aplicativo que fez muito sucesso e de fato é muito eh eficiente que se chama Deep nostalgia esse Deep aí não quer dizer profundamente nostálgico ele diz respeito ao Deep learning ao processo de aprendizado profundo das máquinas e esse profundo não quer dizer uma profundidade filosófica é que ela consegue descer camadas eh é que perfazem as imagens camadas de dados cada vez mais complexas
e eh Profundas então a tradução é sempre ruim nesse caso porque ela dá uma impressão tão poética de uma nostalgia profunda não é bem disso que a gente tá falando esse aplicativo ele permite que fotos antigas ganhem expressões que eh oscilam entre piscadinhas giro de cabeça passando por sorrisos e alguns eh olhos arregalados esse é o meu bisavô é uma foto de 1915 então obviamente ela não foi gravada em vídeo e o trabalho de fazê-la com esses movimentos E essas expressões não foi fruto de uma edição pessoal minha ela é fruto de um dois cliques
num aplicativo treinado com inteligências artificiais estamos falando de procedimentos de aprendizado de máquina em que os algoritmos são programados para reconhecer padrões como a geometria das linhas de um rosto os movimentos labiais e inclusive Hoje em dia a voz para transferi-los de uma imagem a outra outra Esse é um doss pontos cegos da discussão sobre inteligência artificial O que é o Humano o que é o não humano no processo de edição no caso eh do DIP nostalgia cruzam-se aí princípios dos Deep fakes como a gente viu como o caso da Elis Regina Como o caso
do Papa desfilando com um casaco super fashion que ele nunca vestiu é porém aí de forma muito mais sofisticada eh nós estamos nos mesclando aí com uma era de uma outra cultura da memória uma cultura da memória atravessada por inteligências artificiais que nos devolvem nesse vazio de nostalgias inventadas passados fictícios que roubam o nosso presente e se confundem com o nos futuro muitas pessoas se sentem extremamente perturbadas por essas imagens assombradas por Inteligência Artificial e os motivos de horror em geral vem dessa sensação de ver os mortos tomando vida subitamente eu acrescento a esse leque
de sensações mais uma o da ação diante da paste orização da história em que todos os passados passam de alguma maneira a dialogar de forma homogênea porque os mesmos movimentos que vocês viram nos no meu bisavô e que comoveram as minhas irmãs por exemplo que se assustaram com essa imagem são os mesmos que aparecerão nas imagens que vocês farão é como se todos nós tivéssemos um passado comum mas esse passado comum nem nunca existiu e ele tem algo de mais grave ele não tem conflitos é um passado que só sorri é um passado que pisca
para nós sorrir e faz alguns gestos que são distribuídos coletivamente no próximo bloco do que nós recordaremos no futuro se o nosso presente é pura reprodução encenada do passado e o passado um elemento maquiado das nossas visões de futuro Deu para entender a volta nos vemos em telas e através de filtros de aplicativos que corrigem nossas imperfeições buscamos nossos caminhos emap que desenham sempre o melhor trajeto as nossas falhas de memória são sanadas pelos mecanismos de busca como essa vida moldada por Inteligência Artificial e algoritmos molda a nossa visão da vida essas imagens geradas aí
a partir de outros dados mostram também essa eh realidade essa evidência da presença de um um não um novo colonialismo mas uma nova camada ao colonialismo dada ao colonialismo histórico que um colonialismo dos dados em que as coisas passam a expropriar emoções no ao mesmo tempo que acumular dados das outras pessoas né porque somos nós que estamos aí franqueando sem parar essas imagens e ensinando como as máquinas devem se comportar é a partir daí que nós podemos ver que uma certa teoria que já foi muito criticada volta a fazer sentido a teoria da curva emocional
implicada por inteligências artificiais todo esse espanto todo esse afeto nós sentimos porque eh Há uma um um vale da estranheza né que é percorrido nesse processo Isso é uma teoria de um robotica japonês um masiro Mori que é muito conhecido talvez não de nome mas pela sua Criatura é um robô o asimo entre outros robôs aí famosos mas de acordo com essa teoria Ines tecnológicos quase semelhantes a humanos tendem a Gerar repulsa mas quanto mais semelhantes eles são mais eles tendem a Gerar empatias Então essa teoria que é dos anos 70 Vem recebendo várias atualizações
A partir dessa química em estão catalizadas pelas inteligências artificiais e Partio desse ponto de vista a relação com entes que ressurgem de um passado nunca ocorrido se torna mais complexa de um lado nós temos um presente que é um tempo assombrado pelo falso e pelo vintage né peso da retromania e nele o passado cumpre apenas a função aí de dar uma capinha divertida para o nosso agora né Eh entre esses produtos é que fica a minha pergunta produtos tão descartáveis criados a partir de inteligência artificial no campo da memória nos sugere perguntar do que nós
recordaremos no futuro se o nosso presente é pura reprodução encenada do passado e o passado um elemento maquiado das nossas visões de futuro com esses aplicativos que mudam a idade da pessoa e são super bipolares porque eles nos colocam diante dessa situação de projetar o passado no futuro não é nos ver daqui a 30 anos em que contexto nós podemos ter uma relação dessa com o passado que não o nosso contexto atual mediado pelas inteligências artificiais né um tempo que vive de memó de saudades do que nunca foi tem como expectativa de futuro se ver
a partir do seu suposto passado né Nós projetamos a velice a partir dessas imagens é inegável aí a a instrumentalização desses aplicativos para coletar dados das pessoas arquivar padrões que podem ser utilizados para fins de vigilância ou para outras formas de manipulação e eu pergunto como é que esse aplicativos respondem a um momento que malgrado a obsolescência programada da tecnologia e a falência institucional da infraestrutura da Cultura temima em apelar para um desejo de eterna Juventude né é uma coisa paradoxal ou como diz o filósofo Peter Paul pelbart nós abolimos o passado como passado Eh
Ou pelo menos o passado na forma que nós conhecíamos diante dos desmoronamentos cotidianos de incêndios que consomem patrimônios e desastres ecológicos e políticos que engolem vidas e so terram paisagens o que prevalece é o sentido da catástrofe do tempo que não terá um depois ou a catástrofe não tem um depois essa frase é uma frase que me marcou muito aí em algumas publicações que eu fiz que a catástrofe não tem um depois e o que estaria impulsionando talvez essa nossa conservação para o futuro não é mais a angústia de que nós vamos perder os nossos
vestígios mas sim o medo de que nós não teremos nada para transmitir se a nossa reflexão sobre o estatuto da memória no século XXI ela perpassa Exatamente isso a consciência de que nós estamos vivendo a curva do antropoceno e que talvez nós não tenhamos um depois e que talvez nós não tenhamos nada a transmitir e que talvez a conservação dos nossos materiais por serem digitais e absolutamente dependentes da dos ritmos industriais da obsolescência programada comprometam a nossa percepção do tempo do passado do presente e do futuro se os anos 80 foram marcados pela emergência do
tema dos lugares da memória e pelas estéticas combinatórias pós-moderna e os 90 como nós comentamos aqui eh consolidaram as políticas transnacionais da memória os grandes eventos midiáticos Talvez os anos 2000 sejam ao menos nessas duas primeiras décadas em que estamos aqui os anos das ruínas das memórias desobedientes do século digital das estéticas que se contrapõem a essa suposta febre e essa suposta necessidade de um arquivamento que se antecipa a própria experiência eh do presente acho que duas décadas depois do bum da memória como commodity né que nós comentamos da emergência do retrô das febres midiáticas
parece que no contexto do antropoceno e da perda de perspectiva de futuro que ele traz consigo foi a é é o que nos restou é inventar um passado para o nosso depois algo que a assinatura da propaganda para fechar da onde eu parti no início eh protagonizada pela Elis Regina insinua avisando que o novo veio de novo essa é a última frase do comercial seriam essas as fantasmagorias das inteligências artificiais o assombro diante da nossa impossibilidade de acessar o próprio presente já que ele roda na velocidade das timelines e é comprometido pela obsolescência e já
que o futuro Parece que só existe como uma miragem uma miragem de um passado que é ele mesmo um remake daquele próprio fake né ele refaz aquela própria falsificação da história e da memória inscreva-se no canal do Café Filosófico CPFL no YouTube e siga nossas redes sociais para mais reflexões seriam essas as fantas das inteligências artificiais o assombro diante da nossa impossibilidade de acessar o próprio presente já que ele roda na velocidade das timelines e é comprometido pela [Música] [Música] obsolescência h
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