"Que Horas Ela Volta?" levou 20 anos para ser escrito | O País do Cinema

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Canal Brasil
Assista aos episódios de "O País do Cinema" pelo Globoplay: https://bit.ly/PaisDocine Camila Márdil...
Video Transcript:
[Música] as contradições dos muitos brasis dentro de uma mesma casa que horas ela volta é o nosso filme de hoje aqui no país do cinema Era uma vez uma casa de classe alta Paulistana em que viviam seus personagens habituais Pai mãe filho adolescente empregada quase da família quase mãe do filho adolescente ele é da vozinha dele ele é muito bonitinho ele é muito engraçadinho Ah então aprendeu a lavar as orelhas as vésperas do vestibular Jéssica filha da empregada Val chega para ficar hospedada na casa [Música] né é a partir de sua presença que começam a
se produzir os constrangimentos de classe típicos de nossa estrutura social mal resolvida esse suco as barreiras invisíveis da casa que separam a cozinha da sala e vetam a piscina os empregados começam a ser testadas e contestadas por Jéssica mas ele falou que eu podia pegar que horas ela volta é a crônica de um país que vinha se transformando nas últimas décadas uma crítica social carregada de acidez e humor mas principalmente cheia de esperança eu recebo hoje Camila margila e Michel joelsas do filme que horas ela volta muito bem-vindo muito obrigada pelo convite Ai que bom
que bom ter vocês aqui eu queria começar sabendo como vocês estão como vocês estão depois de tudo isso que a gente atravessou aí nos últimos tempos cara vou te falar que eu tô bem agora assim mais tranquilo vacina vem sabe mas passei por momentos pessoais bem intensos difíceis mas pessoalmente até que foi bom é difícil mas bom ai no momento eu acho que eu tô começando a retornar para vida assim né acho que a coisa de voltar a trabalhar aos poucos também faz muita diferença porque esse período todo fora dos sete fora do teatro fora
do grupo fora do convívio social que uma coisa que eu acho que aconteceu para todo mundo nas suas diferentes formas mas foi a gente perder um pouco parâmetro assim das coisas né acho que todo mundo é algum ponto pensou Será que eu tô ficando louco Será que eu tô que isso é isso que o que eu tô sentindo é válido não é porque Enfim acho que o convívio faz com que a gente ganhe muitos muitos contornos né para também se regular e a ausência disso foi assim montanha russa de Emoções Acho que qualquer um pode
se identificar com isso né mas voltar aos poucos a trabalhar agora sem dúvida tem me dado um eixo novamente sabe bom queria saber como vocês chegaram nesse projeto e fizeram testes que que a Ana queria de vocês no teste contem para mim como vocês chegaram como foi ah eu lembro que eu morava aqui no Rio e aí eu peguei um ônibus na madrugada amanheci lá em São Paulo e eu já fui assim tipo minha concepção de Jéssica Claro porque eu vou chegar lá vou fazer o teste e imediatamente vir embora novamente para cá porque tava
com compromisso aqui então pinguei lá foi a primeira do teste pela manhã tinha lido roteiro inteiro o que é uma glória incrível é raríssimo Eu particularmente acho primordial assim e inclusive nesse teste fez muita diferença e aí eu cheguei no teste a Ana não tava nem um pouco a fim de me ver eu era meio café com leite assim Mas a questão de eu ter lido o roteiro todo eu achei assim eu tinha uma visão que eu acho que encaixou muito ali com ela e ela conta que foi uma coisa imediata que depois enfim ao
longo dos Testes comentou como que eu fui direto ao ponto do que ela achava que era personagem e que nem ela tinha ainda exatamente uma compreensão disso então o casamento foi muito imediato que vocês ficaram super próximos depois né somos muito amigas até hoje demais e o que que o que que ela queria de vocês Assim você chega com isso e traz para Ana uma visão que ela ainda não tinha e o que que ela vai pedindo de Jéssica e o que que ela vai pedindo de Fabinho logo nesse início assim para vocês eu acho
eu admiro muito o processo criativo dela porque ela dá muita liberdade para a gente criar ela ela fala isso abertamente né o roteiro termina com ator criando e colocando sim confia muito muito na gente para terminar esse processo criativo até lembro a cena do que horas ela volta da piscina no baseado a gente chegou no set a Ana falou tem esse ponto principais da cena vamos fazer ensaio rodado a gente fez ela falou tá bom é isso só que vocês fizerem 7 minutos ela deixou a gente improvisar 7 minutos direto para chegar na cena e
passar é isso você se criaram que precisava ali agora preciso em um minuto e meio senão vai ficar grande o filmes na despedida da Helena que a personagem da Helena Albergaria da Regina quando a Regina tá fazendo as malas e aí elas ficaram 20 minutos em provisão elas ficaram curta entende improvisando né ela até chega a falar assim algumas entrevistas e conversando com a gente que ela se interessa pelo ator autor Então por mais que ela seja roteirista O que é muito lindo de se ver assim que essa ela tem a estrutura ali tão amarrada
é tudo tão no seu lugar que a gente improviso improviso e a gente cai no texto dela de novo sim a Jéssica quando ela se apresenta para família ela fala que ela teve um professor de história que a ensinou a ter uma visão crítica E aí o Fabinho depois conversando com a Val a Val pergunta o que que você achou dela ela fala ah achei ela muito segura de si é você tinha consciência você Camila tinha consciência de que a Jéssica representava um Brasil em transformação sim sim Talvez as pessoas já possam até ter ouvido
a Ana comentar numas entrevistas que ela fala bastante de uma transformação que o roteiro passou ao longo dos 20 anos que ele foi escrito 20 anos de quando ela teve o primeiro filho e se deparou com a questão da babá na classe social que ela habita ali essa cobrança para um lugar né como isso funciona e tal ela começou essa história aí e inicialmente tinha a questão da Maternidade né porque era o que ela queria falar babá que veio tal mas a Jéssica ela reproduzia ela ela vinha trabalhar como manicure ou reproduzir o trabalho da
mãe ela se reproduziu o ciclo né que é essa figura que socialmente está condenada a não ter possibilidades né ela tá um pouco condenada ali a repetir os caminhos que já foram traçados para elas assim isso é muito desolador em algum ponto em algum momento ela começou né também trabalhando roteiro indo em laboratórios encontrando pessoas e o Brasil mudando Opa muito ela foi se deparando que a Jéssica já poderia não ser essa figura sabe isso foi muito lindo assim de é lindo de ver no roteiro Eu particularmente me sentia muito inspirada porque eu sou de
Brasília estudei na UnB e a UnB é uma das primeiras universidades que assumem a política de cotas que tem lá no comecinho né de um governo Lula e tal tem uma grande amiga melhor amiga que ela é a história da Jéssica assim então eu tinha essas pessoas em mim assim e admiração por elas e esse sentimento de algo que pode melhorar de algo que assim a gente tem um caminho a traçar que é de esperança de otimismo assim filme foi feito nessa nessa chave né nesse momento é um filme eu lembro Dana falando em entrevista
também ela o filme A câmera não era na cozinha desses 20 anos a família para Bahia e a filha por estar próxima estaria mas era uma história da família né Depois que teve que ter essa transformação no Brasil para arte também reproduzir o que tem de necessário da nossa sociedade para ser colocado ali é muito bom olhar o filme perspectiva assim porque de uns anos para cá a gente tem caminhado na mão inversa de algumas conquistas que foram feitas né no Brasil assim sobretudo políticas públicas Então embora algumas coisas sejam irreversíveis em termos de compreensão
de como pode funcionar isso aqui e de luta para que aquilo se se construa ou não só se mantenhamos que siga se construindo algumas coisas estão sendo destruídas então tem esse lado de que a gente não que a gente não vai que a gente vai seguir Resistindo lutando para essas coisas mas ao mesmo tempo tem também uma mandada para trás assim e que perde perdemos todos nós e perdem essas pessoas que no momento que puderam acreditar que era possível sem condições sem políticas públicas para isso as coisas não tem caminho para seguirem se dando né
então certamente seja era um GAP ali geracional né de sei lá dos últimos quatro cinco anos especialmente e porque é o tempo do Enem que não aconteceu com a questão de você não ter tido acesso a sua educação em casa que não tem internet Não tem um computador a escola não tá funcionando tem que trabalhar tá enfim muito difícil assim aí a educação volta novamente para um lugar de luxo quem pode estar se dando ao Luxo de estudar nesse momento a educação volta a ser um um meio de ascensão de Elite sim como sempre tinha
sido até então a Jéssica ela vai ela vai Rompendo a as barreiras invisíveis daquela casa ali quando ela senta na mesa dos patrões ela vai estabelecendo isso já o Fabinho a gente vê o Fabinho Fabinho vai revelando essas contradições dessa ordem social através dos afetos né a partir dos afetos a gente vê a relação dele com aval ele tem com a Val muito mais carinho e confiança do que tem com a própria mãe com a Bárbara tem ciúmes mas também quando você se apresentam a famosa Jéssica é o famoso Fabinho então o que que vão
falar um pouquinho que como vocês sentiam na construção ali dos personagens e nos pensamentos de vocês sobre o Brasil e essas questões que essas coisas iam se dando nos personagens e aparecendo em cena o Fabinho ele tem algo ingenuidade que acho que quando a Jéssica chega totalmente consciente estudada uma raça de correr atrás que ele não tem dá uma dá até um ciúmes dá uma discrepância dá um contraste muito forte ele é gênero a minha mãe disse que tem um rato na piscina e ele ali não sabe sabe sabe sabe você acreditou não muito no
mundo protegido tem mediunidade fica com ciúmes da Jéssica Você mesmo falou que que você achou dela achei ela muito segura de se tipo e isso vem desse desdobramento de afetos que estão por trás Minha mãe não tá aqui comigo minha mãe vai trabalhar tem uma outra pessoa que eu considero afetuosamente mais minha mãe do que minha mãe a pessoa que eu vou chorar a pessoa que eu vou abraçar essa pessoa só que aí chega alguém que fala opa chega Jéssica essa pessoa começa a preencher o lugar que o Fabinho e vem tudo vem vem acerta
uma maturidade do Fabinho que acho natural é é protegido por todo mundo ali olha a forma que cria ele é virgem ele é boca com 17 janela boca porta aí e é isso ele ele é virgem com 17 anos é 17 anos ele é aqui é muito carente e nada chega alguém que tem consciência de classe que tem noção de um Brasil e acho que esse contraste seria muito ela é mais do que tem noção ela vive as consequências de tudo isso então tá nela eu tentava o tempo inteiro estranhar as coisas né quando ela
questiona Onde você aprendeu isso mas é a mesa que tem aonde eu vou tomar café você aprendeu nos livros Quem disse que o mundo é assim se é quarto de hóspedes Por que que eu não posso ficar no quarto de hospital a Bárbara né e a gente presenciou isso muito nas Bárbara e o Doutor Carlos porque ele também tá mais quieto ali mas ele representa algo de muito podre Nossa vamos falar disso um pouquinho porque a gente tem essa figura né tem uma cena de vocês dois que ele fala que ele ele resolveu parar de
trabalhar porque diziam que ele era genial gente olha não tenho palavras propiciações de Lourenço Lourenço mutarelli A Ana fala os meus melhores textos São Lourenço que fez nossa senhora dessa senha não é brilhante porque a gente tem esse personagem ali um pouco Encantado a maneira como ele vai olhando para essa para Jéssica diferente de como Fabinho olha diferente né Isso é muito lindo também porque cada um daquela casa olha para Jéssica de um jeito e isso diz mais sobre eles do que sobre ela né por isso que é tão brilhante esse filme é um retrato
do Brasil principalmente naquele momento assim e não não muito diferente agora né mas muito diferente também em outros aspectos Porque a gente já falou aqui dos avanços dos retrocessos mas esse personagem do Lourenço do pai ele tem um momento que acontece uma assédio sexual e que a gente não fala mais sobre isso depois tão velado é esse assunto tão complicado é de lidar com esse assunto eu imagino que a Jéssica já passou muito por isso como todas todas nós e especialmente pelo lugar que ela ocupa e que isso pode ter acontecido em diversos momentos eu
fico até pensando o que que foi fruto desse filho que ela teve muito louco que quando a gente fez esse filme A gente não falava desse assunto pois é não então a gente não não falava essas coisas Ah o assédio os caras e tal mesmo a gente tendo uma equipe majoritariamente feminina com essas personagens femininas que são que são muito nos filmes da Ana que geralmente os caras são meio umas pamonhas sim e aí e as mulheres são quem tocam ali a história E aí a gente não a gente não tinha esse vocabulário havia uma
dúvida sobre o pedido de casamento muita gente gostava muita gente não gostava e a gente cogitou nem filmar não vai mudar aquela cena ela não gente mas eu quero filmar Eu também gosto vamos lá e aí ela deu essa tarefinha para o Lourenço no dia anterior Lourenço você vai inventar um jeito de pedir ela em casamento e eu sem saber o que ele ia fazer não sabia nem se ele ia chegar a pedir eu só tava ali e ele ia conduzir a cena e eu tava ali tô aqui para o que der e vier Lourenço
delícia fomos de primeiro take de repente ele começa Você acredita e eu já assim meu Deus do céu que que o Lourenço vai falar você acredita em vida após a morte e tal Como assim tal e aí ele pede a gente tremia que eu lembro que a Gabi do som falou Gente o som não valeu muito porque o coração do Lourenço tá assim [Risadas] e eu ali sem saber porque é complexo para Jéssica né ela fica ela ela não é alguém que também está no lugar de empoderamento de tipo seu mas por que sabe por
isso é uma grande detonar tudo ali ela tá a mercê de toda uma situação a mãe dela depende daquilo Esse é um lugar confortável para todos nós que mesmo falando disso quando a coisa acontece parece que a gente nunca consegue desfazer na hora que acontece é muito difícil a gente tá trabalhando para desfazer Ela não é uma mulherada aqui nós leva a cara ouvir a voz das mulheres gente é e ela como isso gera gente né E essa cena então e ela ficou a gente fez a versão sem o pedido de casamento também mas foi
tão brilhante a aproximação física que ele faz maravilhoso Aí ela escolhe rir né gente vamos rir que é o que tem para encerrar esse encontro delicioso com esses dois atores aqui eu gostaria que vocês me dissessem qual é a cena preferida de vocês no filme E por quê eu sou apaixonada por Várias cenas e a gente já citou várias né a do casamento eu sou apaixonada pela do casamento mas eu vou ter que ir com o clássico que é a Val na piscina essa cena é Nossa eu vejo a minha mãe eu vejo sabe comemorando
a vitória junto de um lugar que nunca imaginou que você pudesse estar na vida assim né que parece tão impossível tão eu vejo minha mãe muito ali assim e aí eu me emociono inclusive na meta linguagem da coisa porque esse filme representou muita coisa para mim né então a vibração da minha mãe foi muito ela se sentir na piscina Comigo dando notícias assim olha esse filme e estreou enfim e olha essa história enfim tudo que ele acabou representando para mim fez com que minha mãe se sentisse entrando na piscina assim isso foi sensacional Oi mãe
eu tô ligando para dar boa noite [Música] tô ligando para dar boa noite para dizer que eu tô muito orgulhosa de tu agora adivinha onde é que eu tô ó [Música] tô dentro da piscina [Música] eu tô muito feliz visse um cheiro mainha lhe ama [Música] tem que escolher uma piscina clássica buscar Jorge [Risadas] a gente vai mudar entendi vamos vai não vai ser fácil não sei como é que vai ser mas eu entendi mais ou menos a gente tem que Jéssica agora que eu tô mais em casa que a gente tá em casa eu
tava aqui pensando buscar Jorge traga meu neto Eu pago a passagem de avião já tá querendo colocar os carros na frente dos Bois tu vai cuidar dele mãe [Música] [Música] muito obrigada vocês terem vindo eu amei conversar com vocês sou louca por esse filme acho um filme que daqui a 10 15 20 50 anos ele continua ele é um clássico ele vai ser sempre um filme muito importante sobre o Brasil sobre nós sobre as nossas relações nossas fissuras muito obrigada pelo amor de Deus Olha aí os bem te fiz do Canal Brasil em seu hábito
natural pera aí o narrador chamou a gente de bem-te-vi tô ligado é porque os humanos acham que o som que a gente faz é bem te vi isso não faz o menor sentido Eles não sabem o que a gente fala é imagina o dia que eles descobriram que a gente está o tempo todo falando
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