[Música] a identidade nacional brasileira é extremamente complexa É um tipo um ovo mexido Olha acho que Brasil é um país que só entende quem mora no Brasil o Brasil não é o planeta verde amarelo que os nossos culturalistas e eh constroem Então essa consciência podia dar um caráter especial à América e entidade acho melhor que identidade porque entidade é uma coisa uma Instância meio imaginária meio simbólica e meio real o Brasil como sociedade e civilização nunca esteve à altura do que foi produzido aqui a sua própria revelia [Música] uma vez um um intelectual alemão me
perguntou assim eu disse me di lhe assim o que que define uma coisa como brasileira eu falei eu posso tentar lhe responder mas primeiro você vai me dizer o que que define uma coisa como alemã embora a gente tenha um pensamento conservador muito forte o o Brasil continua vivo continua pulando e as pessoas vão levando suas vidas e fazendo novas misturas então eh não acho que a gente consiga eh se debruçar e e pensar o Brasil como um Biotipo sabe como um índio como um europeu como quilombola sacou não são pessoas que representam de alguma
maneira a realidade brasileira mas o que o que o que é o Brasil é a coexistência de tudo isso sabe Ah eu acho que sim quer dizer eu acho que eh não só porque o mito no Brasil foi extremamente bem sucedido né O que é o mito Nacional foi que Freire fez né quer dizer Freire quer dizer o Brasil ficou 111 anos sem ter um mito ou seja desde a época da Independência apesar de Bonifácio saber que era necessário o mito ou seja não não só coisas materiais como né construir o mercado mas ter uma
ter um mito para dar uma né Essa dimensão simbólica de quem quem nós somos para onde nós vamos etc toda nação precisa disso senão viram uma Ruanda né at um grupo brigando contra o outro né Isso foi extremamente bem produzido no país né Eh eh Gilberto fre conseguiu isso A partir dessa ideia de mestiçagem unindo raça e cultura Então o que não corresponder a a a a esse recorte arbitrário que foi colocado no Freeza que não correspond isso não é brasileiro isso que é falso porque a a o país vai se construindo de uma forma
dinâmica processual histórica eu acho que hoje cada vez mais essa questão da identidade tem que ser relativizada não porque que ela não faça mais sentido mas porque ela tem que ser encendida em outros termos não mais como é formas estanques de vida mas formas relacionais de vida onde eh nós nos relacionamos com o outro e a partir desse embate criamos Nossa spcidade não fora do outro não apartado do outro mas a partir da relação com o outro desde criança a gente aprende a ser social então não existe uma identidade eh focada só no indivíduo ela
sempre ela é reflexiva ela tá sempre refletindo sobre onde é que os nossos avós onde é que os nossos antepassados viveram de onde os nossos antepassados herdaram a sua visão do mundo o que são as paisagens O que significam as paisagens do entorno da nossa da nossa Vila da nossa aldeia da nossa casa são outros eh outras entidades com as quais nós nos relacionamos o tempo inteiro com a cons de que eles nos ligam com o universo todo e perceber as identidades dos nossos vizinhos para nós é a coisa mais importante o tempo inteiro pra
gente [Música] [Música] nós víamos nos construindo permanentemente na história do Brasil n desde a invasão portuguesa quando os portugueses tentaram né todas as forças manter o território Unificado eh eles mantiveram duas questões né território e língua né Que deu essa vamos dizer assim como identidade nacional a questão da identidade brasileira me parece ter sido plenamente resolvida o Brasil é um território Unificado Unificado por uma língua que a despeito de variações regionais é o português brasileiro de forma que qualquer falante do território brasileiro entende se comunica com qualquer falante de qualquer outro outra parte do território
brasileiro porque os diferentes códigos a cultura erudita com a cultura popular o maior letramento com o Il letramento a tradição musical europeia com a tradição de contram metrici africana tudo isso foi produzindo uma cultura popular que quando se chega nos anos 60 percebe que aquilo é um monumento civilizatório tão forte que essa geração viu nisso Um fundamento suficiente mais que suficiente para acreditar numa dimensão civilizatória utópica do Brasil modernismo de certo modo pensou a juntar isto né de alguma fazer cruzar isto isso está Eng Graciliano Ramos está em osval de Andrade está em João Cabral
de Melon Neto está no cinema novo está na música popular está no tropicalismo a minha geração a gente teve um um desenvolvimento muito diferente né eu cresci eu era fui criança nos anos 70 no Brasil já sou de regime militar e fui adolescente nos anos 80 e a minha geração na verdade cresceu com a televisão cresceu para falar das influências externas com produtos americanos né com filmes americanos e com séries Americanas e dentro da cultura brasileira eu cresci com o Sítio do Picapau Amarelo com os filmes dos Trapalhões e e com com novelas todo esse
essa mistura gerou um Uma Geração muito diferente dessa geração que que na verdade estava dando as cartas dos anos 70 80 90 e eu acho que o final dessa influência dessa geração ainda se sente na na década presente eh pós década de 2000 [Música] é evidente que os meios de comunicação continuam tendo uma importância expressiva eh na formação do Imaginário Nacional da nossa identidade É cada vez mais difícil a gente encontrar como no passado encontrava comunidades do interior do Nordeste que ainda falavam um português castiço abandonado nas grandes cidades cada vez mais difícil encontrá-las por
conta das telenovelas né que vão por exemplo eh compartilhando gírias não só dentro do Brasil mas também pro exterior essa influência digamos assim eh que tá que antes era era cíclica e ela tá ficando agora uma coisa assim tipo constante e gradual aí entra termos em inglês aí entra essas expressões que dão nome sabe ao videoclipe ao cassete A sei lá eh a todas essas expressões que tão no cotidiano eh do do dos brasileiros eles já estão transbordando também paraas línguas indígenas paraas falas e de fato eh O processo de globalização é um processo de
padronização que tem como base a a cultura de massas norte-americana e esta é uma grande força de pressão niveladora que faz faz parte da realidade do mundo né ao mesmo tempo que eh aquele l asro né o substrato de diferenças de manifestações e radiantes ele não nem por isso ele ele desaparece com essa nivelação e continua emitindo centelhas fagulhas e tal [Música] [Música] e [Música] [Música] há uma uma Diversidade musical no Brasil que é fortíssima que é espantosa e que é raríssima não não se encontra assim eh facilmente um leque de gêneros não é musicais
modalidades e tão tão forte né Então tudo isso isso por sua vez tem uma capacidade enorme de se se reciclar ou se transformar em contato com novos dados as coisas podem ser reinventadas e reinventadas a partir de suas De suas categorias de sua existência porque o que é a escola Brasileira de futebol é é é é a estrutura genética e cultural do povo brasileiro porque entra aí Samba Não por acaso samba a capoeira e o futebol lidam essencialmente em torno de uma mesma palavra que é africana [Música] jinga eu sempre dou exemplo da Bahia Se
alguém Fosse falar de identidade bahiana no século X os orixás porque os orixás só vão chegar lá depois disso até o século X não tinha Xangô nem amanj na Bahia Então se alguém no século X fosse falar desse assunto ia falar de emanjar e changu como esses elementos estranhos que Foram importados agora que estão deformando a identidade baiana Então você tem que saber isso é histórico essas coisas mudam o tempo inteiro é uma é uma ordem no sentido de progresso é uma ordem é um modo de pensar essa multiplicidade de populações de povos de etnias
de interesses de orientações né Eh que convivem nesse território uma maneira de pensar essa essa multiplicidade sobre o signo da unidade sobre o signo da da unidade eh eh impertérrita né da unidade firme e absolutamente inabalável Roberto da Mata diz que ele tá vai criar uma imagem do brasileiro mas legitimada pela sociedade brasileira então que é o brasileiro aí ele vem com sociabilidade praeira feijoada Umbanda mais uns uns signos místicos da Bahia escola de samba aí falou or sujeito lá no Acre nem quer saber que diabo é escola de samba não acredita em Umbanda nunca
foi para uma praia e não come feijoada prefere o tucupi tacá até a carne de sol porque os cearenses colonizaram Acre Então você tem que lidar com o Brasil assim ainda mais levando em conta que o futuro do Brasil vai passar pela Amazônia e a gente nem sabe direito o que que vem dali p [Música] eu nasci num numa numa numa reg que se formou com as plantações de açúcar o engenho é engraçado a a construção é portuguesa a cana veio da índia os negros que trabalhavam vieram da África e o modelo produtivo disso foi
treinado nas Ilhas Canárias não tem nada lá que você possa chamar baiano aliás Gilberto Freire diz uma frase que eu gostava muito ele falava assim o que a Bahia tem de mais característico não é baiano preto e coqueiro o Brasil é um país a revelia o Brasil não é um país cujas maiores conquistas sociais civilizatórias foram Racionais deliberadas oficiais feitas por uma vontade do Estado o Brasil é um país que desde o Caramuru e João Ramalho passando por toda a missena na época colonial até chegar no século XX com os pretos letrados do Samba e
depois no futebol todas as formas de sociabilidade todos os grandes feitos culturais e artísticos com a imensa maioria deles que tivemos foram a revelia de uma oficialidade de uma racionalidade deliberada finalmente do Estado mas a a diversidade social né o fato de que as pessoas possam viver eh segundo seus próprios eh modos de de relação social é algo que o a impressão que você tem é que o estado brasileiro não tolera ele quer homogeneizar Eh ele é preciso que todo mundo Marche na mesmo passo né nesse plano pode marchar com chapéu de cor diferente com
uma uma fantasia diferente mas o passo tem que ser o mesmo e o problema é que o passo não é o mesmo né e não deve ser o mesmo a de nó na pista pela vitória pelo Triunfo conquista se é pela glória usa o meu Triunfo [Música] aamos de nós brigamos por nós milhares de olhares imploram Socorro na esquina no morro A fila anda a caminho da guilhotina várias queimas de arquivo deárea com a fome e vão amontoando os corpos de quem não tem sobrenome eu vi com os próprios olhos a sujeira do jogo minha
conclusão é que muito buso ainda vai pegar fogo aí todo maluqueiro tem em si motivação para ser Adolfo Hitler ou gandi e se a maioria de nós participou revento a do congresso tá me chama faz tempo que eu nasci junto a pobreza que enriquece o enredo eu crci onde os moleques vira homem mais cedo com as mochila do aluno presente # com nome as garrafas de vinho nas costas dos neguinhos não vim para trair minhas convicções em nome das ambições e arrebatar multidões meus refrões não então Eh você tem aí uma separação que faz com
que a ideia de um país movido a Samba A futebol a carnaval tenha se estilhaçado em muitos brasis em muitos lugares em muitas propostas e muitas formas de reação a isto então um um país onde teve o rap por exemplo é um país que não é não é aquele não é e e não à toa se contrapõe aquele se contrapõe a essa ideia do mestiço miraculoso o mulato que está regendo o samba não é e que tá dizendo não a questão é outra coisa o embate é muito mais rente não é o ritmo é muito
mais duro e abaixa essas melodias aí sentimentais né as pessoas t t essa dificuldade real de enxergar a diversidade do Brasil porque elas não foram de maneira nenhuma nem superficialmente apresentada para isso sabe então é muito cômodo por exemplo pro Sudeste se considerar na posição de correto e julgar o o que os índios deveriam fazer para viver decentemente para viver melhor para o que é a coisa certa na Perspectiva do sudeste pro quilombola ou pro ribeirinho ou pro pro indígena com todo resp não interessa pro indígena sacou o que o que interessa é a pessoa
se colocar ter a humildade e ter informação necessária para entender que ela não pode interferir no modo de vida do outro dessa maneira e ela tem que compreender aquilo como Às vezes você vê aqui em São Paulo vai inaugurar uma coisa Cai um aguaceiro e as pessoas já vi dizer a chuva veio atrapalhar tudo se é na Bahia as pessoas diz outra coisa puxa os orixás vieram lavar a rua para que isso aconteça Então você tem que saber lidar Brasil é isso é multiplicidade e a terceira coisa importante que que que a identidade cultural Não
pode nunca eh asfixiar que é invenção porque a igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto do alejadinho no século XVII é uma coisa que não existe um outro lugar no mundo Aquilo é uma invenção brasileira você chega FR daquela igreja você diz B um povo que foi capaz de construir essa igreja pode ser independente Esse povo tem estrutura para ter um país próprio é a invenção que você vai ver em Brasília você criar uma cidade como Brasília mais do que identidades fixas o que a gente tem que pensar é na na formação e
consolidação e na enunciação de sotax eu acho que os artistas eu acho que a questão da identidade tem que ser recolocada e não como uma ah como estabelecimento de uma forma de pertencimento fixa mas uma forma de enunciação específica eu acho que a a a alteridade interna é fundamental para você constituir não só a identidade pessoal como nós sabemos mas para construir também uma identidade social quer dizer eh um país é tanto mais rico tanto mais mais capaz de de de fazer frente ao ao futuro quanto mais eh é variedade quanto mais alteridade ele é
capaz de absorver sem destruir nós é Que morremos a cultura não a cultura continua existindo a cultura é maior do que a gente eu não tenho dúvida que daqui a 4.000 anos 5000 anos 10.000 anos se tiver ainda gente na terra nós vamos estar aqui e vamos estar expressando nossas identidades sendo terráqueos sendo brasileiros sendo crenac sendo chavante Guarani Caiapó Vamos ser quem nós somos [Música] [Música] n [Música]