Uma investigação vai atrás do que ficou conhecido no Brasil como “ouro de sangue”. A mineração ilegal de ouro em áreas remotas da Amazônia destrói vidas em comunidades indígenas protegidas. Uma rara operação conjunta está reunindo evidências que ajudarão a rastrear o ouro extraído aqui.
O objetivo é chegar nos principais exportadores e nas marcas que o vendem. Polícia Federal, a Força Nacional e o Ibama estão atrás de áreas de corte e queima para recolher e analisar todo ouro que encontrarem O cinegrafista brasileiro Gabriel Chaim teve acesso exclusivo para filmar esta operação para a BBC De onde está vindo aquele ouro, aquele minério que está na joia. Quando tu toma consciência da destruição que é causada pela extração ilegal do minério, começa a olhar para a joia de maneira diferente.
Se realmente aquilo ali pode ser produto de um crime ou não. Com certeza, essa analogia, que seria o “diamante de sangue”. Aqui, o crime, aquilo que ele está destruindo é a natureza, que é um patrimônio de todos nós, toda população brasileira.
E, principalmente, afetando os indígenas, que são um povo milenar e extremamente vulnerável, que fica nessas regiões principais onde está concentrado o garimpo ilegal. Esta é a chamada “Rua do Ouro”, em Boa Vista, Roraima. Ela dá uma ideia do tamanho da indústria do ouro nesta parte da Amazônia.
Lojas compram e vendem minério de ouro e joias, com pouca regulamentação ou supervisão. Até então, muitos justificam que só compram ouro em sucata, e nós muitas vezes não temos como comprovar se o ouro veio ou não do garimpo. Então, esse trabalho de conseguir mapear a origem desse minério é muito importante.
Para encontrar as fontes do ouro supostamente ilegal, eles fazem operações nos confins da floresta amazônica, em áreas indígenas protegidas por lei. Gilberto é o comandante da força conjunta encarregada dessa missão. As pessoas que não conhecem essa realidade realmente não acreditam.
A equipe da FAB que nos acompanhou nessa operação ficou chocada, eles não imaginavam como seria o garimpo, como seria essa área de garimpo ilegal. Eles nunca tinham visto nada parecido. Fica lá, fica lá no barraquinho lá.
Isso, fica lá. Doutor, a destruição aqui é um negócio inimaginável, né? É, é gigantesca a destruição.
Quando ouvem os helicópteros, os garimpeiros correm para a floresta. Eles podem estar armados, então a polícia faz disparos de advertência e atira gás lacrimogêneo. Senta na barraca.
Senta na barraca e bota a mão na cabeça. Senhores, levantem a camisa Ao falar com os garimpeiros, eles esperam conseguir informações sobre as redes criminosas que são donas das minas. Já aqueles que estão no local extraindo o ouro são pessoas comuns em busca de uma vida melhor, em busca de uma oportunidade.
Eles veem no garimpo ilegal uma forma de melhorar de vida. Nós temos que separar, sim, não digo a piedade, mas a sensibilidade de ver aquelas pessoas na situação que elas estão, e muitas vezes elas realmente estão ali para sustentar suas famílias. Mas, ao mesmo tempo, elas estão cometendo um crime que destrói.
Que destrói a natureza. A atividade é ilegal, sei que vocês não são bandidos, não estão aqui para matar, a gente também não está aqui para agredir vocês, tá? Mas vocês tem que entender que vocês estão em uma área indígena, que é uma área de proteção Vocês pagam tudo aqui no ouro, né Um cigarro, uma água.
Tudo no ouro, né? Vocês podem me dar uma relação de valores, assim, uma Coca-Cola, quanto custa? Um cigarro?
O pacote que você diz é o maço? O preço atual de uma grama de ouro no mercado aberto é próximo de 60 dólares - mais de 315 reais A força-tarefa não tem capacidade para remover equipamentos grandes ou prender muitas pessoas. O melhor que podem fazer é destruir o máximo da infraestrutura possível.
Eles destroem motores e máquinas de dragagem. Assim, interrompem a produção da mina até que os equipamentos sejam substituídos Os garimpeiros escondem suas máquinas de drenagem em barcos ou perto da água, onde podem ser afundadas. Desta forma, não são detectadas e podem ser recuperadas mais tarde.
Os soldados usam bombas, fogo e balas para destruir todas as máquinas que encontram. Alguém sofreu um acidente de helicóptero aqui. Aeronaves leves são cada vez mais usadas para transportar ouro e suprimentos para reservas indígenas.
Existe a destruição desse equipamento. É um baque forte nessa logística do garimpo, né? Com certeza, com certeza.
A gente visa mais a proteção ambiental por se tratar de reserva indígena. Área indígena, área de proteção, uma área extremamente sensível dentro da floresta. Por isso, esse tipo de situação tem que ser neutralizada.
Sim, o garimpo fica muito próximo da comunidade indígena. Deve estar em torno de 4 minutos de. .
. Uns 10 minutos de caminhada do garimpo. Você pode olhar a sujeira feita pelos garimpeiros.
Em todas as minas que chegam, eles procuram provas para a investigação federal contra o crime organizado Comando, documento aqui, olha. Isso é mercúrio? É, isso aqui é mercúrio.
Munição. Aqui, comando, olha. 38.
Munição, 38. Bastante, uma quantidade considerável de mercúrio. Isso, na verdade, evapora e depois cai e fica sedimentado nessas poças, nesse igarapés que tem aqui.
É isso que causa uma poluição extrema. O mercúrio é um veneno. Quando ele entra no ecossistema, causa danos físicos e neurológicos.
Estudos com indígenas na região mostram que a metade deles tem níveis não seguros de mercúrio no corpo O comandante Gilberto está perto de chegar na prova mais valiosa Aqui, olha, achei ouro. Achei ouro. Quem nunca viu ouro, olha.
O ouro está embalado que nem droga, senhores, olha. Esse ouro está aqui dentro. Aqui tem 7,9 gramas na balança.
Eu não vou abrir aqui para não perder o ouro, tá? Mas é ouro porque é o típico embalado de ouro. Olha, 8,6 gramas com papel.
Eles colocaram 7,9, provavelmente sem papel. Tem o ouro aqui, olha. Duas petequinhas de ouro.
Deve ter mais no chão, a gente deve ter que dar uma olhadinha no chão. No ano passado, a força-tarefa comandada por Gilberto fez o total de 16 operações em nove missões especiais no território Yanomami O presidente Jair Bolsonaro quer permitir ainda mais mineração em áreas de proteção. Ele chegou a enviar um projeto de lei ao Congresso para legalizar a prática.
Bolsonaro diz que os indígenas querem lucrar com o ouro em suas terras. Mas os Yanomamis negam isso. Um de seus líderes, Junior Hekurari Yanomami, afirma: O Ministério Público abriu recentemente uma ação judicial contra três dos maiores exportadores de ouro.
Com base em pesquisa de uma universidade brasileira, eles alegam que quase 30% do ouro exportado do Brasil foi extraído ilegalmente.