Bem-vindos ao nosso canal do YouTube! Esta série, dividida em teoria psicanalítica, é dirigida aos alunos da Universidade Seleciona PUC Minas, como material de apoio ao estudo da teoria psicanalítica. Neste vídeo, a gente vai tratar sobre fantasia, sempre lembrando que estamos falando fundamentalmente de Freud.
Não estamos tratando aqui dos contos desse conceito nos poços freudianos, ok? A ideia de fantasia é muito importante e é um conceito relevante. Nós já temos que diferenciar, inicialmente, essa ideia de imaginação, que é algo que faz parte só de si.
Devaney from the usa a palavra em vários sentidos, inclusive nesses, né? Quando ele vai escrever, cita a fantasia no sentido de imaginação, de devaneio, de construção de narrativas e até de lembrança. Às vezes nem é porque é uma lembrança; na verdade, é uma fantasia.
Mas ele fala também da fantasia inconsciente, que está atrelada ao desejo e até compõe também o material dos sonhos. É a articulação do material dos sonhos, como a gente falou em vídeos anteriores. Então, a primeira coisa a se ver é que a fantasia foi utilizada de várias formas.
Esse conceito, essa ideia e noção de fantasia, é usada porque, depois, ele vai até tentar localizar a fantasia, e ele não a localiza precisamente naquele sistema que ele criou: um aparelho mental no sistema pré-consciente, consciente e inconsciente, que nós já trabalhamos também. Ele disse que, às vezes, cita a fantasia como pré-consciente e inconsciente, às vezes como consciente. A fantasia está nesse meio termo e é de uma forma muito interessante, que só parece, né?
Mas primeiro a gente tem que falar do ponto histórico que marca a importância da fantasia para Freud. Esse ponto é o de 1897. Quando a gente fala do abandono da teoria de sedução, estou usando termos eminentemente freudianos.
Além do abandono, que assim que a gente se refere ao que aconteceu, estou fazendo os parênteses porque há entre os dois aspectos: foi de anos que alguém vai retomar essa teoria de sedução de outras formas e diferentes. Ele vai elaborar, mas para Freud, esse marco, esse ano, é significativo, no sentido de que ele deixou a ideia de que os histéricos que ele tratava haviam realmente sofrido um trauma de cunho sexual na infância. Ou seja, ele vai ver que isso não é necessariamente da forma como as pessoas lembram disso.
Ele vai começar a entender que existe uma fantasia que está ligada a um desejo infantil, que tem aquele caráter próprio incestuoso, edípico. É nesse momento também que ele vai dar início a uma construção da ideia de realidade psíquica, em relação, por exemplo, à fantasia. A história do sujeito conta pra si mesmo sobre o que aconteceu com ele, sobre as coisas que sucederam, sobre as pessoas que formaram o que odiaram, rejeitaram.
Essa narrativa que a gente conta pra si mesmo, né? Então não tem a ver com essa ideia de uma fantasia, mas também de uma realidade psíquica que não se reduz a isso, mas tem a ver com isso. Esse é um ponto importante porque, a partir daí, a psicanálise de Freud vai poder criar os fundamentos para pensar que existe uma realidade psíquica que não corresponde necessariamente a essa realidade exterior que é concluída, que a gente compartilha e que compõe este mundo da fantasia.
É um texto de 1908 que já marca, já coloca no título a expressão "fantasia", "as fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade". É um texto importante também, mas é no texto de 1915 "O Inconsciente", que faz parte do conjunto que ele chama de textos metapsicológicos de Freud, em que ele vai tratar da fantasia de uma forma bem curiosa, né? Quando ele vai dizer que a fantasia tem características do sistema pré-consciente e inconsciente, que são organizadas, elas são encadeadas, elas não são contraditórias, elas possuem uma narrativa, uma sequência, como o discurso.
Como um sistema pré-consciente e consciente, que é esse que existe no cotidiano. Então, ele vai dizer que qualitativamente elas parecem pertencer ao sistema pré-consciente e consciente, mas originalmente são do sistema inconsciente porque elas carregam um desejo. Elas carregam uma articulação desse movimento do sujeito também no campo que envolve também o campo pulsional.
Então, é ver que o estatuto da fantasia para Freud, quando se pensa nos sistemas, é bem localizado justamente porque ela está presente aí. Na medida em que o sujeito imagina alguma coisa, uma cena, onde está presente alguma coisa dessa fantasia que carrega um desejo, estaria articulando isso. Não necessariamente sempre.
Você tem devaneios durante o dia, mas é muito comum que isso esteja presente, mesmo que a gente não saiba, que a gente imagina as situações o tempo todo, né? Há quem fique preso, por exemplo, às situações que vão acontecer e o tempo todo tenta encenar como elas viram o que deve ser dito, o que deve ser feito. Ou então pessoas que estão muito presas também às situações que já passaram e ficam imaginando o que poderia ter sido feito, o que teriam feito, como deveriam agir.
Bom, isso não é necessariamente a fantasia, mas a fantasia inconsciente pode estar justamente aí também fundamentando, de alguma forma, essas encenações, nessa narrativa que a gente constrói pra gente. Mas é importante dizer também que, justamente por serem de origem inconsciente, as fantasias, do ponto de vista freudiano, despertam a defesa. A gente se esquiva de suas consequências.
Fantasias a gente procura de quem é se defender delas. Então Fred fala aqui, e acredito que esse material organizado e tal começa a se aproximar de algo que é um desejo inconsciente. A defesa ajudou mesmo.
Um outro texto muito importante de Freud sobre a fantasia, e que vai ser um marco também, justamente para falar da fantasia inconsciente, é o texto de 1919 que se chama "Uma Criança Espancada" ou, como algumas pessoas preferem, outra tradução, "Bate em uma Criança". Freud vai destacar que uma fantasia presente em várias análises de neuróticos, e que de certa forma parece ser um ponto em que as associações livres estancam. A pessoa se lembra disso, não tem mais o que dizer.
É muito interessante como ele desdobra sua fantasia em três etapas ou fases, em que, numa, o sujeito ocupa uma determinada posição; depois ele se lembra de outra posição e deduz uma posição intermediária, que não está presente como lembrança, mas que indica de certa forma um desejo do sujeito, uma articulação com a pulsão, com um lugar funcional. É um texto interessante e que foi retomado por outros psicanalistas para justamente trabalhar essa ideia da fantasia como uma frase, como uma lembrança que indica essa articulação entre diversos elementos e mostra uma posição do sujeito. Isso é muito interessante nessa fantasia para Freud.
A questão vai interpretar isso dentro da questão do desejo incestuoso, da demanda de amor erotizada que aparece na infância. Então, de forma mais esquemática, as fantasias têm a ver com encenações que podem até levar a dramatizações, ações, pequenas histórias que o sujeito conta para si mesmo, onde ele se vê. Ele tem esse segundo ponto em que o sujeito está sempre presente, mesmo que ele seja apenas um observador da cena que acontece.
Essa cena imaginada muitas vezes permite que esse sujeito ocupe lugares diferentes dentro dessa cena, mesmo que ele não se dê conta disso. Isso só vai ser produzido como é feito depois na localização disso em análise, e a fantasia leva à defesa. São quatro pontos importantes para pensar em relação à fantasia na análise.
É comum que se fale, falando que incomoda, da dificuldade, do sofrimento, às vezes também de alguma satisfação, mas normalmente não se fala muito das fantasias, daquelas coisas que se imagina no dia a dia e que têm uma certa dificuldade de fala, porque, em certo sentido, às vezes se considera isso que se imagina como uma coisa secundária em relação ao sintoma, em relação às dificuldades que se vive, aquilo que deveria ser trabalhado na análise. Isso é uma dimensão. Não é?
A outra dimensão é que, de certa forma, se entende que está ali com determinados desejos, ideias proibidas. É complicado, é íntimo demais também. É uma dimensão que pode aparecer nas narrativas ou fantasia.
E uma outra dimensão interessante é como fantasias, às vezes, têm um caráter até nazista, que o sujeito tem uma vergonha de falar sobre isso. A vergonha é um aspecto muito interessante porque ela vai indicar, muitas vezes, a dificuldade do sujeito lidar com determinadas satisfações, como também uma certa imagem da ciência de si mesmo que está presente nessas articulações profissionais, onde o sujeito, ou nas quais o sujeito muitas vezes se vê diminuído ou muito aumentado. Então, essas fantasias causam, muitas vezes, vergonha.
Esse sujeito não fala delas, mas é nelas também que a análise vai chegar à medida que caminha e faz aparecer não só o desejo, como a articulação funcional desse desejo em relação ao outro e há os objetos de desejo. Na transferência, a fantasia, como outras questões, vai estar presente no trabalho da transferência. Para terminar, eu trouxe aqui apenas uma lembrança que eu tenho: que eu comprei certa vez numa feira de produtos de usuários de saúde mental, que achei muito interessante, uma sacolinha que carrega coisas, mas ela tem uma frase que eu acho que se aproxima muito dessa questão que está trabalhando aqui sobre a fantasia, que é "tropeço no que peço".
Acho isso muito interessante em relação ao que estou trazendo aqui como fantasia. Bom, se você gostou do vídeo, compartilhe, faça comentários, sugestões e até a próxima!