Há motivos para ter esperença?

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Joel Gracioso
No episódio de hoje do Filosofia & Cultura, te convido nos convida a refletir sobre uma das questões...
Video Transcript:
Olá, pessoal. Estamos aqui no nosso último programa "Filosofia e Cultura" do ano de 2024. Eu gostaria de meditar, refletir um pouquinho sobre uma virtude que eu considero extremamente importante na nossa vida e nos tempos em que vivemos.
Eu acho que é mais importante ainda, né? Será que nós temos motivo ou razões para termos esperança? Esperança em relação a quê?
O que significa isso? Mas antes de conversarmos um pouco sobre esse assunto, não esqueça de se inscrever no canal, se você ainda não se inscreveu, de deixar depois a sua curtida, compartilhar o vídeo, fazer o seu comentário, etc. Chegando ao final do ano, é natural que as pessoas reflitam, analisem, né?
Como foi esse ano? E com tanta coisa acontecendo, com tantas más notícias, tantos conflitos, tantas aberrações e coisas confusas acontecendo no mundo, é natural que muitas vezes a gente fique um pouco cabisbaixo e sem esperança. Mas veja bem, quando nós falamos da virtude da esperança, principalmente do ponto de vista cristão, nós precisamos entender que a virtude da esperança é algo sobrenatural.
Ou seja, a virtude da esperança não é simplesmente você ter um pensamento positivo e achar que no final tudo vai dar certo, tudo vai dar, né? Vai dar tudo bem, tudo tranquilo, tá tudo certo. Não, não é nada disso.
Não é um resultado meramente de um esforço humano. Ou seja, ela é uma virtude teologal, e, portanto, quando nós falamos da virtude da esperança, da mesma forma que a fé e a caridade, é uma disposição, né? Uma capacidade, uma condição que Deus nos dá, que Deus nos ajuda, desde o nosso batismo, para que nós possamos, de fato, viver com essa nova identidade de filhos de Deus que nós recebemos em Cristo Jesus.
Então, quando nós pensamos nesse sentido, nesse aspecto ou nessa perspectiva, nós vamos vendo que a virtude da esperança, repito, ela não é algo natural. Não é um desabrochar da nossa natureza, não. Ela pressupõe um auxílio divino, ela pressupõe uma ação de Deus na nossa vida.
Por meio dessa virtude, nós passamos realmente a ter uma firme confiança em Deus e uma firme confiança de que Deus realmente nos dará, por intermédio de Cristo, pelos méritos de Cristo, a graça de que precisamos, para que nós possamos, um dia, chegar à eternidade, ao céu, como os cristãos dizem. Isso daqui mostra que, junto com a virtude da esperança, é possível isso na medida em que a gente vai entendendo que não tem como colocar nossa total esperança naquilo que é criado, ou seja, em qualquer criatura, seja humana ou não. Por quê?
Toda criatura tem a sua finitude, as suas limitações e, portanto, não é capaz de tudo. Qualquer ser humano, mais cedo ou mais tarde, vai nos decepcionar, porque é portador de toda uma fragilidade, fora a problemática da questão do pecado e dos vícios. Então, quando nós associamos a virtude da esperança com o dom do Espírito Santo, por exemplo, da ciência, nós vamos entendendo o que as coisas são e para que elas existem.
E, portanto, na medida em que a gente vai entendendo o que as coisas são e para que elas existem, nós vemos que, por mais que tudo o que Deus criou seja bom e belo, nada pode saciar completamente o nosso coração e nada consegue ser um fundamento inabalável para a nossa existência. Porque tudo que é criado não é um fundamento de si mesmo, não é imutável. Por conseguinte, não tem como ser uma estrutura inabalável que nos sustente.
Portanto, na medida em que a gente vai entendendo isso, nós vamos compreendendo como, de fato, precisamos realmente da virtude da esperança. Porque é ela que nos ajuda a ter essa firme confiança, é ela que nos ajuda a ter essa disposição, esse movimento interior em confiar cada vez mais em Deus, né? Confiar que ele nunca nos abandona, que ele está conosco e que ele nunca nos deixa faltar a sua graça para que a gente consiga atingir o nosso fim último, que é contemplar a sua face.
Biblicamente falando, nós vemos diversas situações onde a questão da esperança está presente. É tão importante, por exemplo, no livro de Jó. Com todo o sofrimento, toda a dor, tudo que ele perdeu, tudo que ele passou, ele vive a esperança.
Apesar de tudo isso, mostra como não tem como ter esperança se eu não tenho fé. É através da fé, desse aderir a Deus, confiar em Deus, em tudo que ele revelou, que, pela vivência da fé, nós também vamos conseguir viver a virtude da esperança. Estão vinculadas a virtude da fé e a virtude da esperança.
Evidente também a virtude da caridade, né? Esse amor a Deus que, no fundo, nós o amamos porque antes ele nos amou. E o próprio amor dele que nos ajuda e nos leva a amá-lo.
Então, a grande questão é essa. Ou seja, na medida em que eu confio em Deus, eu sei que ele vai me dar a sua graça. Eu creio que ele é um saber, não só no sentido de um desdobramento e resultado, né?
De um raciocínio lógico. Não é isso, mas eu sei, no sentido de que a fé, nesse ponto, me ajuda a ter esse tipo de conhecimento de que Deus é fiel, mesmo quando eu sou infiel. E, portanto, ele vai, baseado na sua infinita bondade, me dar a sua graça.
E, portanto, eu, confiando em Deus, na sua graça, eu sei que vou conseguir viver, ter atitudes condizentes com a minha natureza de filho de Deus adotivo. E, portanto, um dia, em Cristo, né, realmente ter essa condição, esse mérito de conseguir perseverar até o fim e chegar até a glória. Então, a virtude da esperança nos leva a realmente colocar a nossa esperança somente em Deus.
Eu vejo hoje as pessoas querendo colocar esperanças em tantas coisas: em política, em economia. . .
Mesmo nos estudos na ciência, lógico que tudo isso tem o seu papel, tem a sua função. Quando tudo isso é bem feito, ajuda. Mas colocar a nossa esperança em qualquer coisa que não seja divina é extremamente complicado e temerário.
A história da humanidade mostra isso. As sagradas escrituras nos lembram disso; os pensadores cristãos nos lembram disso, né? Ou seja, eu sei que Deus é fiel, que com a sua graça eu, de fato, posso atingir o meu fim último.
E na medida em que eu vou correspondendo, também, essa graça é necessária. Com certeza, sem a esperança, nós não conseguiríamos viver e muito menos atingir a vida eterna, né? Por quê?
Porque uma pessoa que não tem esperança, ela não confia; e quem não confia, ao ir ficando ali sem essa esperança, vai abandonando os meios necessários para que consiga atingir o seu fim último. Ou seja, todos aqueles meios, aquilo que Deus oferta e dá, a pessoa vai se fechando e abandonando tudo isso. Portanto, ela vai desistindo de si mesma.
Então, quem não confia abandona os meios, e ao fazer isso, está se condenando a si próprio, porque vai se fechando à graça de Deus. Por isso, devemos tomar muito cuidado com as atitudes que podem nos levar a ir contra a virtude da esperança, né? Usando uma linguagem cristã, os pecados contra a esperança são três: primeiro lugar, o desespero; segundo lugar, a presunção; e o terceiro, a desconfiança.
Esses são atos que ofendem a Deus, que bloqueiam e atrapalham profundamente a vivência da esperança; vão contra ela, né? Ou seja, o desespero é, justamente, você julgar que Deus não tem como te perdoar; nem Deus consegue te perdoar, nem Ele vai te dar a graça e os meios necessários para que você consiga realmente ser uma nova pessoa, de acordo com aquilo que você crê. Então, isso é muito sério, porque o pecado do desespero, repito, te leva a chegar à conclusão de que não tem jeito.
É o famoso pecado de Caim, né? Quando mata Abel, ele chegou ao ponto de dizer: "A minha iniquidade é demasiada grande para ser perdoada. " Veja que loucura, né?
Ou seja, a pessoa acha que o pecado que ela fez, o erro dela, é tão grande, tão grande, que nem Deus é capaz de perdoá-la. E aí, ela se fecha à graça, ela rejeita a Deus e, aí, realmente, entra numa trilha de autodestruição. Muito complicado.
Santo Tomás de Aquino diz que dois grandes pecados que acabam levando ao desespero são a luxúria e a preguiça, né? Ou seja, uma sexualidade desregrada faz com que a gente vá se prendendo cada vez mais aos deleites, aos bens materiais, para poder garantir esses deleites. E, portanto, na medida em que a gente vai se tornando escravo de tudo isso, a gente também vai entrando, meio que, no desespero, no sentido de que "não adianta.
Eu nunca vou conseguir me libertar disso"; né? "Isso me domina e eu não consigo viver sem isso. " Ou seja, a pessoa começa a ter a sensação de que ela não consegue viver sem aquilo e essa escravidão se torna senhor dela.
A preguiça é a mesma coisa, também leva ao desespero. Por quê? Porque vai tirando, vai minando, aos poucos, as forças da pessoa para continuar a sua luta, né?
A sua busca por Deus. Então, devemos tomar muito cuidado tanto com a luxúria quanto com a preguiça, porque, se não reagirmos e lutarmos, nós vamos acabar caindo nessas duas coisas, que vão nos levar ao desespero. Ou seja, a se fechar totalmente à graça de Deus e rejeitar os meios oferecidos por Ele, achando que nem Deus pode nos perdoar.
A presunção é o outro extremo, né? A presunção é um pecado contra a esperança. Por quê?
Porque ela é um excesso de confiança. É a pessoa que acha que vai atingir o seu fim último, vai conseguir melhorar, vai conseguir ser uma pessoa melhor, buscando e expressando essa santidade que Deus vai lhe dando somente com as suas forças, somente com o seu esforço. E aí, também, isso pode se manifestar de diversas formas, né?
Esse pecado da presunção. Primeiro, como eu disse, achar que vai se salvar e vai atingir o seu fim último pelas próprias forças; é achar que o mundo vai melhorar só com a ciência e o esforço humano. Da mesma forma, aquela pessoa que acha que "ah, o importante é só acreditar e pronto.
" Não! Uma fé desvinculada da vida, uma fé que realmente não transforma sua vida não tem sentido; ela é morta. Então, não!
Eu tenho que ter uma fé verdadeira, e uma fé verdadeira não pode ser uma fé desvinculada da sua vida, onde realmente mostra a potência da graça de Deus em tudo que ela faz em você. Outros dizem: "Ah, pois eu vejo isso na hora da morte. Eu me converto na hora da morte.
Eu tento melhorar lá um pouquinho no final da vida, eu vou procurando fazer coisas menos erradas. " Outros, aquela história: "Ah, Deus é bom, Deus é misericordioso, Deus perdoa, Deus entende tudo. Né?
Não precisa, né? Para de ser neurótico, não tem problema. " Não, né?
Deus é bom, né? Como muitos dizem: "Perdoa tudo. " É cuidado, né?
Porque, com certeza, Deus perdoa; Ele é misericórdia. Mas Ele também é justo, e cada um de nós, um dia, vai ter que conversar com Ele. Da mesma forma que a presunção passa também por aquele excesso de exposição, né?
A pessoa que se expõe em situação de perigo, né? Ela sabe que aquele ambiente, aquele contexto, pode levá-la ao erro, ao pecado, mas, mesmo assim, ela se expõe sem necessidade. Isso também é um absurdo, também é um pecado de presunção.
E, por fim, o terceiro pecado contra a esperança é a desconfiança. Ou seja, a pessoa tem até uma certa confiança em. .
. Deus, não é que ela não acredita, não confia em nada, mas ela não confia suficientemente na misericórdia e na bondade de Deus. Ela acha que Deus a ama porque ela é boa, enquanto que, na realidade, nós somos bons é porque Deus nos ama.
Esse é o contrário. Se nós vamos nos tornando pessoas melhores e boas, é porque antes Deus nos amou. Você: Deus não me ama porque eu sou bom, mas eu vou me tornando bom na medida em que eu vou me abrindo e vivenciando esse amor de Deus na minha vida.
Então, nesse final de ano, é isso que eu gostaria de compartilhar com você: nós podemos e devemos, e temos motivos, sim, para ter esperança, principalmente se nós temos fé em Deus. Se eu creio em Deus, que Ele existe, é o Criador de todas as coisas, e que nada escapa da sua Providência, então eu preciso ter esperança, porque eu confio que a sua graça não vai faltar. Eu confio que Ele é bondade e misericórdia e que, de fato, Ele vai me ajudar a atingir meu fim último.
Que tudo concorra para o bem daqueles que amam a Deus. Da mesma forma que eu entendo, tá bom, tudo que Deus criou é bom e belo, mas nada pode ser o fundamento da minha esperança, a não ser Deus. Então, essa ideia de colocar nossa esperança nesse mundo, nessa vida, ou achar que o ser humano, sozinho, vai resolver tudo, é enganar-se a si mesmo, é acreditar em ilusões e vender ilusões para as pessoas.
Então, a virtude da esperança, do ponto de vista cristão, nos ajuda a pensar nessas coisas e também diz que nós devemos tomar esses cuidados para que a gente não venha a ferir e perder essa virtude na nossa vida. Aquilo que a gente foi ganhando desde o primeiro momento que fomos recebendo Deus em nossa vida. Que você tenha um bom final de ano, que você tenha um início de ano abençoado, e que, em 2025, realmente nós possamos ter esperança no coração, mas a verdadeira esperança que nós só encontramos em Deus.
Forte abraço, tudo de bom e até o ano que vem, nossa próxima aula, nosso próximo diálogo, meditação. Que Deus nos ajude realmente a ter um 2025 melhor. Tchau, tchau!
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