kiev século X uma cidade inteira arde em chamas milhares de homens gritam de agonia enquanto são consumidos pelo fogo no alto de uma colina uma mulher observa impassível seu rosto não demonstra horror nem remorço apenas satisfação esta mulher é Olga de Kiev a governante que acabou de ordenar a morte de uma tribo inteira como parte de sua terrível vingança como uma princesa que mais tarde seria canonizada como santa se transformou em uma das figuras mais impiedosas da história medieval para entender sua brutalidade precisamos voltar ao início olga não nasceu para o poder de origem humilde
sua beleza e inteligência chamaram a atenção do príncipe Igor de Kiev com quem se casou por volta do ano 930 juntos governaram Rus de Kiev o primeiro grande estado eslavo da Europa Oriental precursor da Rússia Ucrânia e Bielor-rússia seu reinado foi marcado por conquistas territoriais e fortalecimento do poder central mas também por tensões constantes com tribos vizinhas entre essas tribos estavam os drevlianos povo que habitava as densas florestas a oeste de Kiev as relações entre Kiev e os drevlianos sempre foram tensas marcadas por disputas territoriais e impostos em 945 tudo mudou quando o príncipe Igor
insatisfeito com o tributo recebido retornou às terras drevlianas para cobrar mais essa decisão selaria seu destino os drevlianos cansados das exigências de Igor reagiram com extrema violência capturaram o príncipe e o executaram de forma brutal amarrando suas pernas a dois carvalhos jovens dobrados até o chão e ao soltá-los seu corpo foi rasgado ao meio esta execução selvagem não foi apenas um ato de rebeldia mas uma mensagem clara os drevlianos não aceitariam mais a autoridade de Kiev quando a notícia chegou a Olga ela estava sozinha com seu filho Sviatoslav ainda uma criança de 3 anos para
os drevlianos uma viúva e um menino não representavam ameaça seguindo a lógica da época enviaram 20 de seus melhores homens a Kiev com uma proposta seu príncipe chamado Mau desejava casar-se com Olga e unir os dois povos era uma proposta que na mentalidade da época oferecia à viúva proteção e novo status mas subestimaram completamente a mulher que enfrentavam olga recebeu os mensageiros com falsa hospitalidade ordenou que seus homens carregassem os emissários drevlianos em seus barcos como um gesto de honra os drevlianos orgulhosos deste tratamento não perceberam que estavam sendo levados para sua primeira armadilha durante
a noite anterior a princesa havia ordenado que seus servos cavassem uma enorme fossa no pátio do palácio carregados até lá os drevlianos foram jogados na fossa profunda olga se aproximou da borda e observou os homens confusos esta honra é agradável para vocês zrênia perguntou friamente antes que pudessem responder ela deu o sinal seus servos começaram a jogar terra sobre os homens vivos os gritos dos emissários sendo enterrados vivos ecoaram pelo pátio enquanto Olga observava em silêncio este foi apenas o primeiro ato de sua vingança meticulosamente planejada sem saber do destino de seus emissários os drevlianos
receberam uma mensagem de Olga ela aceitaria a proposta de casamento mas requeria que enviassem seus melhores nobres para escoltá-la até as terras drevlianas orgulhosos e sem suspeitar de nada enviaram a elite de seus guerreiros e aristocratas ao chegarem a Kiev Olga sugeriu que depois da longa viagem deveriam se banhar antes de comparecerem à sua presença os drevlianos foram conduzidos a uma casa de banhos de madeira tradicional entre os povos eslavos quando todos estavam dentro os homens de Olga trancaram as portas e atearam fogo ao edifício a madeira seca pegou fogo rapidamente transformando a casa de
banhos em uma fornalha ninguém escapou dezenas de nobres drevlianos foram queimados vivos seus gritos abafados pelas grossas paredes de madeira em chamas olga observou o incêndio até que o último grito silenciasse e o edifício desabasse em cinzas a princesa ainda não estava satisfeita enviou mensagem aos drevlianos informando que antes de se casar com seu príncipe desejava realizar um ritual fúnebre em honra a seu falecido marido em sua própria terra os drevlianos extraordinariamente ainda não suspeitavam das intenções de Olga quando ela chegou à Terra Drevliana organizou uma grande celebração funerária com hidromel e bebidas à vontade
as crônicas afirmam que Olga instruiu seus soldados a permanecerem sóbrios enquanto serviam mais e mais bebida aos drevlianos bebam zrene ela movendo-se entre os convidados bebam para honrar meu marido à medida que a noite avançava centenas de guerreiros drevlianos caíram em estupor alcoólico incapazes de se defender ou mesmo de permanecer conscientes foi então que Olga de pé no monte funerário deu seu sinal fatal seus soldados que haviam permanecido vigilantes e sóbrios sacaram suas espadas e começaram um massacre metódico as crônicas mencionam que 5000 drevlianos foram mortos naquela noite corpos embriagados foram empilhados no campo da
celebração o hidromel misturado ao sangue sob a luz da lua olga supostamente caminhou entre os mortos verificando que nenhum sobrevivente escapasse de sua vingança mesmo este banho de sangue não saciou sua sede de retribuição olga retornou a Kiev e reuniu um exército poderoso um ano depois em 946 liderou pessoalmente uma campanha militar massiva contra a capital drevliana Iscorosten a mesma cidade onde Igor havia sido brutalmente assassinado os drevlianos já cientes das atrocidades cometidas por Olga fecharam-se dentro das muralhas de sua cidade o cerco prolongou-se por um ano inteiro com os habitantes resistindo ferozmente percebendo que
não conseguiria tomar a cidade pela força Olga recorreu novamente à astúcia enviou mensageiros propondo paz já vingei a morte de meu marido três vezes não exigirei tributos pesados apenas um símbolo três pombas e três pardais de cada casa da cidade os drevlianos exaustos pelo longo cerco e aliviados pela aparente clemência aceitaram prontamente a proposta cada casa enviou as aves solicitadas que foram recolhidas pelos soldados de Kiev em grandes cestos o que se seguiu entrou para a história como um dos atos mais cruéis e engenhosos de guerra medieval sob supervisão de Olga pequenos pedaços de tecido
embebidos em enxofre e resinas inflamáveis foram amarrados às patas de cada ave ao anoitecer quando a escuridão começava a cobrir a paisagem Olga ordenou que incendiassem estes materiais e libertassem as aves o comportamento natural destes pássaros decidiu o destino da cidade pombas e pardais seguindo seu instinto imediatamente voaram de volta aos seus ninhos localizados nos telhados de palha celeiros de feno e estruturas de madeira por toda Iscorosten em minutos centenas de pequenos focos de incêndio surgiram simultaneamente por toda a cidade os defensores pegos completamente de surpresa não conseguiram combater tantos incêndios dispersos ao mesmo tempo
o fogo se espalhou com velocidade aterradora logo Escorosten transformou-se em um inferno de chamas incontroláveis os habitantes corriam desesperados pelas ruas em chamas tentando escapar com suas famílias e pertences mais valiosos aqueles que conseguiam fugir das casas incendiadas encontravam os soldados de Olga esperando nos portões e brechas das muralhas as ordens eram claras: ninguém seria poupado milhares morreram queimados vivos nas estruturas em colapso da cidade outros foram massacrados enquanto tentavam fugir alguns nobres e militares foram capturados vivos não por misericórdia mas para um destino possivelmente pior foram escravizados e distribuídos entre os aliados de Olga
como troféus de sua vitória a cidade inteira foi reduzida a cinzas fumegantes o cheiro de carne queimada pairando sobre as ruínas por semanas a tribo dos drevlianos outrora orgulhosa e independente nunca mais se recuperou completamente deste golpe devastador seus territórios foram incorporados firmemente ao domínio de Kiev com tributos pesados impostos às aldeias remanescentes a vingança de Olga estava finalmente completa quatro ondas de retribuição brutal haviam lavado com sangue a morte de seu marido as crônicas sugerem que ela contemplou as ruínas fumegantes de Iscoren com uma satisfação sombria antes de retornar triunfante a Kiev seu filho
Sviatoslav agora com cerca de 5 anos havia testemunhado a implacabilidade de sua mãe uma lição que influenciaria seu próprio reinado violento anos depois o mais surpreendente nesta história sangrenta é o que aconteceu a seguir alguns anos após sua devastadora campanha de vingança por volta de 955 Olga viajou a Constantinopla capital do poderoso Império bizantino durante esta visita foi batizada na fé cristã ortodoxa o imperador Constantino VI atuou como seu padrinho de batismo uma honra extraordinária que demonstrava a importância política que Bizâncio atribuía à conversão da governante de Kiev as mesmas crônicas bizantinas que registraram com
horror suas atrocidades contra os drevlianos agora celebravam sua conversão como um triunfo da fé cristã sobre o paganismo eslavo a mulher que havia ordenado o massacre de milhares que havia queimado uma cidade inteira com homens mulheres e crianças dentro agora recebia o sacramento do batismo e as bênçãos da igreja olga retornou a Kiev transformada pelo menos em suas convicções religiosas dedicou o resto de sua vida à promoção do cristianismo em suas terras construindo igrejas convidando missionários e tentando converter seu filho Esviatoslave e seu povo ironicamente o guerreiro que ela havia criado para vingar seu pai
mostrou-se resistente à nova fé de sua mãe permanecendo firmemente pagão foi apenas seu neto Vladimir quem eventualmente cristianizaria oficialmente toda a RUS de Kiev em 98 após sua morte em 969 a transformação da imagem de Olga acelerou os cronistas cristãos ansiosos por estabelecer uma linhagem de fé na dinastia de Kiev começaram a enfatizar sua piedade e minimizar suas atrocidades anteriores gradualmente a pecadora arrependida transformou-se em iluminadora séculos depois foi canonizada como santa olga pela Igreja Ortodoxa tornando-se padroeira das viúvas e convertidos o legado de Olga de Kiev permanece profundamente contraditório por um lado foi uma
governante excepcionalmente hábil em um mundo dominado por homens que consolidou o poder de Kiev e abriu as portas para a cristianização da Rússia evento que moldaria a identidade cultural e política da região pelos próximos 1000 anos por outro lado sua campanha de vingança contra os drevlianos permanece como um dos exemplos mais brutais de retaliação na história medieval demonstrando uma crueldade calculista que impressiona mesmo pelos padrões de uma época notoriamente violenta hoje quando visitamos a moderna Kiev encontramos monumentos homenageando Santa Olga uma estátua imponente a retrata como uma governante sábia e digna sem qualquer indicação da
brutalidade que marcou seu reinado o mesmo acontece em igrejas ortodoxas por toda a Europa oriental onde ícones dourados retratam-na como uma santa piedosa frequentemente segurando uma cruz e com uma auréula simbolizando sua santidade a história de sua vingança sangrenta embora documentada em crônicas históricas é frequentemente minimizada em favor de sua conversão e contribuição para a cristianização dos eslavos orientais o caso de Olga de Kiev nos força a confrontar a complexidade da história humana e as contradições nas figuras que veneramos como julgar uma figura histórica que cometeu atrocidades impensáveis mas também lançou as bases para transformações
culturais profundas sua história nos lembra que a linha entre santos e monstros pode ser surpreendentemente tênue especialmente quando vista através das lentes distorcidas do tempo poder e narrativas religiosas dominantes a terrível rainha que queimou milhares de homens vivos em sua busca implacável por vingança acabou sendo lembrada como uma santa venerada talvez o mais perturbador na história de Olga não seja apenas a brutalidade de suas ações nem mesmo sua posterior santificação mas como a história pode transformar até mesmo os atos mais monstruos em notas de rodapé na narrativa grandiosa dos poderosos a vingança de Olga de
Kiev permanece como um sombrio lembrete dos horrores que humanos são capazes de infligir uns aos outros quando movidos pelo ódio e protegidos pelo poder absoluto tu