Em 30 de dezembro de 1907, Aurobindo (procurando uma autoridade no Yoga) foi até Vadodara consultar o iogue Vishnu Bhaskar Lele: - Quero fazer Yoga – Disse Aurobindo – mas para o trabalho, para ação, não para sannyasa (renuncia ao mundo) ou para o Nirvana”. Lele respondeu: “Para você, será fácil, pois você é um poeta”. Lele aconselhou Aurobindo a confiar apenas na orientação do Divino dentro de si, e que se pudesse tomar consciência dessa orientação, ele não precisaria de instruções, de Lele ou de qualquer outra pessoa.
Aurobindo aceitou e fez disso sua regra de sadhana e de vida. Durante três dias os dois permaneceram em uma sala isolada. Aurobindo relata as instruções que recebeu: “Sente-se em meditação, mas não pense, olhe apenas para sua mente; você verá pensamentos vindo para dentro dela; antes que eles possam entrar, lance-os para longe de sua mente até que ela seja capaz de silêncio completo”.
Então, Aurobindo nos diz o que aconteceu: Nos sentamos juntos e eu segui com absoluta fidelidade o que ele instruiu-me a fazer; nem eu mesmo tinha a menor ideia de para onde ele estava me conduzindo ou eu mesmo estava indo. O primeiro resultado foi uma série de experiências tremendamente fortes e uma radical transformação de consciência que ele (Lele) nunca havia pretendido - pois elas eram “Adváiticas” e “Vedânticas” e ele era contrário ao Advaita Vedanta, e que eram até contrárias às minhas próprias ideias, pois elas fizeram-me enxergar, com uma intensidade estupenda, o mundo como um jogo cinematográfico de formas vazias na universalidade impessoal do Brahman absoluto. Isto (o nirvana) lançou-me repentinamente em uma condição acima e sem pensamentos, não sustentada por qualquer movimento vital ou mental; não havia ego, nenhum mundo real - somente quando se olhava através dos sentidos imóveis, algo era percebido ou penetrava em seu puro silêncio como um mundo de formas vazias, sombras materializadas sem verdadeira substância.
Não havia nenhum Uno ou mesmo múltiplos, somente apenas absolutamente Aquilo, sem aspectos, sem relações, puro, indescritível, inconcebível, absoluto, ainda supremamente real e unicamente real. O que isto trouxe foi uma paz inexprimível, um silêncio estupendo, uma soltura e liberdade infinitos. A Experiência do Absoluto.
Sri. Aurobindo. A realidade “atrás” da aparência do universo é Sat-Chit-Ananda - uma infinita Existência, uma infinita Vontade e Força-Consciente, um infinito Deleite e Bem-Aventurança.
Essa realidade não é o ego, mas o ser, que é impessoal e universal em sua substância de natureza, mas forma de si uma expressiva pessoalidade que é sua forma do si nas transformações da Natureza. O Ser Divino não é incapaz de tomar inúmeras formas porque Ele está além de todas as formas em Sua essência, nem por assumi-las Ele perde Sua divindade, mas infunde mesmo nelas o deleite de Seu ser e as glórias de Sua divindade; este ouro não cessa de ser ouro porque se molda em toda espécie de ornamentos e cunha a si próprio em muitas moedas e valores, nem o Poder-Terra, princípio de toda essa configurada existência material, perde sua divindade imutável porque forma a si própria em mundos habitáveis, lança a si própria em colinas e vales e permite ser moldada em tijolos de lareira e utensílios domésticos ou como um duro metal em artefatos e engenhos. Algo como os pensamentos e imagens que ocorrem em nossas mentes que não são existências separadas de nós, mas formas tomadas por nossa consciência, assim são todos os nomes e formas para essa Supramente primária.
Tudo é desenvolvido em unidade e como um; tudo é mantido por essa Consciência Divina como formas de sua existência, e em nenhum grau como existências separadas. Brahman é o Absoluto, o Transcendente e incomunicável, a Existência Supracósmica que sustenta o cosmos, o Si Cósmico que mantém todos os seres, mas é também o si de cada indivíduo. Brahman, este é o nosso ser real, escondido de nós pela máscara do ego.
Brahman - nós mesmos em nossa essência, nosso ser não fenomenal. O Brahman sozinho é, e por causa dele todos são, pois tudo é Brahman; esta Realidade é a realidade de tudo o que nós vemos no Si e na Natureza. Ele é o Atemporal e o Tempo; Ele é o Espaço e tudo o que está no Espaço; Ele é Causalidade e a causa e o efeito: Ele é o pensador e seu pensamento, o guerreiro e sua coragem, o jogador e seus dados lançados.
Todas as realidades, todos os aspectos e todos os semblantes são Brahman. Brahman está nesse mundo para representar a si próprio nos valores da Vida. A Vida existe em Brahman para descobrir Brahman em si própria.
O Homem, o indivíduo, deve tornar-se e viver como um ser universal; sua limitação da consciência mental deve ampliar-se à unidade superconsciente na qual cada um abrange o todo; seu estreito coração deve aprender o abraço infinito e substituir sua luxúria e discórdia pelo amor universal e seu restrito ser vital deve tornar-se equânime a todo choque do universo sobre si e ser capaz de deleite universal; seu verdadeiro ser físico deve conhecer a si próprio não como uma entidade separada, mas una com, e sustentando em si própria, o total fluxo da força indivisível que é todas as coisas; sua total natureza deve reproduzir no indivíduo, a unidade, a harmonia, a unidade em tudo, da suprema Existência-Consciência-Bem-Aventurança. Ser no ser do todo e incluir o todo no próprio ser, ser consciente da consciência do todo, ser integrado na força com a força universal, trazer toda ação e experiência em si próprio e sentir esta como ação e experiência de si próprio, sentir todos os sis como o próprio si, sentir todo deleite de ser como o próprio deleite de ser é uma condição necessária no viver divino integral. Todo ser é um, e ser plenamente é ser tudo que é.