Game of Thrones, Conan, o Bárbaro, O Senhor dos Anéis, vocês gostam? Então, tem coisa melhor, e sim, já comecei provocando uma comunidade que não costuma topar que você diga que o que eles gostam não é tão bom assim. Mas segura minha mão, porque agora eu vou trazer verdades.
E vou fazer isso trazendo pra vocês a palavra de Elric de Melniboné. Caso você seja um completo ignorante, Elric de Melniboné é um clássico da fantasia sombria, ou da fantasia medieval, ou da fantasia antiga, enfim, é uma mistureba de uma série de tropos como povos antigos, terras alternativas, conflitos entre diferentes espécies humanas, deuses e demônios ancestrais e mulheres voluptuosas, porque sempre tem que ter uma gostosa. Criado por Michael Moorcock, o personagem Elric apareceu pela primeira vez em The Draming City em 1961, porém ele foi ganhar um romance próprio, com o nome Elric de Melniboné, em 1972.
E sobre o que diabos é a história? Eu posso dar uma explicação mais ligada ao enredo e outra que tem mais a ver com os anceios, com as preocupações do escritor na época. Vamos pro enredo primeiro.
Elric é o rei, o soberano, o líder do povo melniboniano, povo este que não é exatamente humano, são figuras élficas. Mas não esperem aqueles elfos cheios de sabedoria e tal, porque o que a gente tem aqui é um povo extremamente cruel e ganancioso, e que governa a mão de ferro todos os outros reinos há 10 mil anos. Elric é o quadrigentésimo vigésimo oitavo imperador, só que ele é especial.
Filho do grande Sadric, Elric já no seu nascimento trouxe a óbito sua mãe, e a criança que dali surgiu era diferente, Elric era albino, sua pele é branca, seus olhos avermelhados. Elric também é frágil de saúde, não esperem aqui a figura de um Conan, o Bárbaro, é o exato oposto. Elric é esguio, soturno, pensativo, contudo ele consegue compensar as suas fraquezas a partir da sua sabedoria, o que não torna a vida dele fácil, porque o povo que ele é destinado a governar é um povo cruel.
Os melnibonianos se consideram uma raça superior, e eles consomem seres humanos. A palavra é essa mesmo, consumir,. Utilizam o sangue, principalmente de mulheres e crianças para fortalecer o seu próprio corpo, assim como colonizam todos os outros reinos.
Notem então que tem um aspecto um tanto vampiresco no povo melniboniano. Vampiresco e colonialista, é importante frisar. Porém, nesse momento, depois de 10 mil anos em vigor, Melniboné vive um período de decadência, inclusive eles acabaram muito se fechando em relação ao resto do mundo, concentrando-se na ilha dos dragões.
. . Sim, tem dragão, vocês acharam que não ia ter?
Tem dragão, sempre tem dragão. E a capital de Melniboné é Imrryr, é neste lugar que Elric governa, sobre o trono de Rubi. Sua esposa é Cymoril, que é sua prima, normal, né?
Prima não é parente, você pode fazer, enfim, não vou entrar em detalhes. Contudo o primo de Elric, o irmão da rainha, Yyrkoon, está de olho no reino, justamente porque Elric é frágil, Elric não é brutal o suficiente, Elric não é capaz de tirar Melniboné da decadência. Então você deve estar imaginando, é aquela típica história do cara frágil, fraquinho e tal, mas que se mostra extremamente valente e tal?
Não, aí que começa a ficar realmente interessante. Elric de Melniboné não é uma história de superação, e, sim, uma gigantesca tragédia. Porque uma coisa que vai sendo demarcado como destino de Elric ao longo da história, e a gente fica sabendo isso a partir do narrador da história, ou a partir dos deuses com quem ele conversa, enfim, a gente vai sendo informado a todo momento que Elric é, antes de tudo, o destruidor da sua própria nação.
O seu destino é ser o imperador que vai acabar com o próprio império, o aniquilador do seu reino, o assassino de seu povo, o governante albino, que tem um traço distinto, uma característica que difere de basicamente todos os outros melnibonianos. Do que eu tô falando aqui? De moral.
Sim, a tragédia de Elric é ser o líder de um povo extremamente cruel, e ele ser dotado de moralidade. É sobre os ombros de Elric que acaba recaindo toda uma reflexão sobre o império que a sua família construiu, o império que, repito, está em decadência, e que talvez esteja em decadência justamente porque tem que estar. Só que não pensem também que Elric é um personagem decidido, pelo contrário, ele tá dividido.
Se por um lado ele entende que a sua obrigação é levar o seu povo, a sua nação, ao triunfo, por outro, esse triunfo cada vez soa ele mais patético. Pouco a pouco as coisas vão perdendo sentido. E essa inversão eu acho maravilhosa, gente, aqui tem uma série de versões boas.
Porque vamos lá, um clichê típico de histórias de soberanos, cruéis e coisa assim, é de mostrar o povo sofrendo muito na mão de um déspota. Porém aqui em Elric de Melniboné você tem uma inversão. A crueldade, o autoritarismo, a mais absoluta maldade está no povo, está nessa raça que não se enxerga a altura dos humanos.
E toda cultura e política é feita para a manutenção desses valores. Daí que Elric, pra poder se manter no poder, ele também precisa ser bastante cruel. Inclusive, como a saúde dele é debilitada, ele precisa de muitos sacrifícios humanos pra continuar vivo.
Então não esperem nele uma figura heroica e limpinha, porque ele não é, ele é completamente sujo. Mas ao mesmo tempo, é ele que olha pra tudo isso e fala: por quê? Por isso que a brancura da pele dele, a fragilidade do corpo, em muito acaba sendo uma alegoria sobre a própria fragilidade do Império e do quanto que o banho de sangue que sempre foi constitutivo pra que o Império existisse, agora é percebido.
Agora a gente para pra pensar nesse banho de sangue. O vermelho sobre o branco é uma lembrança de que há aqui uma mácula, uma mancha cultural e histórica. Só que galera, eu mal comecei, tá?
Essa história vai longe. Porém, antes de eu me aprofundar ainda mais nela e trazer outros detalhes, cabe comentar uma segunda maneira de pensar o personagem, que tem a ver com a figura do próprio escritor. Michael Moorcock é inglês.
Conforme ele próprio fala, ele é filho de uma geração do pós-guerra, uma galera que após a Segunda Guerra Mundial, viu a Inglaterra deixar de ser aquele Império onde o sol nunca se põe. Ou seja, aquela Inglaterra que colonizou o mundo todo, após a Segunda Guerra Mundial, não era mais a mesma coisa. E essa decadência imperial, o Moorcock não vê exatamente como algo ruim.
Pelo contrário, em parte ele considerava como uma tomada de consciência. Aquela Inglaterra que colonizou o mundo todo e que agora tá deixando de existir, na visão do Moorcock, é uma boa notícia. Só que ao mesmo tempo, o autor reconhece que enxergar nisso uma boa notícia talvez seja uma opinião um tanto solitária.
Um fardo difícil até mesmo pra governantes bem-intencionados. Porque o povo, sim, o povo, essa categoria às vezes muito romantizada, sim, o povo muitas vezes é cruel. O triunfalismo, que é muitas vezes jogado pra governantes inconsequentes, é em muitos casos apenas o reflexo de uma inflamação popular.
Ou seja, é a partir de um sentimento de impotência do povo que ganha forma uma série de discursos de superioridade, de conquista, de triunfo. E sabe o que é bacana a partir dessa leitura? É que o Moorcock é um cara de esquerda, um cara próximo de ideias comunistas e anarquistas.
Mas que também tem um olhar crítico sobre a ascensão do fascismo e, com isso, entende que as coisas sempre são mais complicadas do que simplesmente lider mau enganando a população. Pra deixar bem claro aqui, galera, dificilmente o povo tá sendo feito de trouxa. O que Elric de Melniboné tá nos dizendo é que o povo anseia o horror.
Se parece estar sendo feito de trouxa, é porque quer ser feito de trouxa. Porque encontra naquilo algum gozo, alguma dimensão de poder. E é a partir justamente do dilema de Elric, diante de um povo extremamente cruel e sedento de poder, que cabe agora ao Imperador dar fim a isso tudo.
Mesmo que ele não queira dar fim, mesmo que ele fuja dessa missão, ainda assim é o destino. Elric é o avatar de uma decadência perante a moralidade. E repito, talvez seja melhor assim.
Mas vamos aprofundar ainda mais esses papos aqui. Vamos repassar a história do Elric de fato. Vamos conhecer melhor os personagens, os coadjuvantes, o universo de que ele faz parte.
E pra poder fazer isso, eu vou me guiar a partir de uma adaptação de Elric de Melniboné. No caso, o quadrinho Elric, o Trono de Rubi, que saiu aqui no Brasil já faz um tempinho. A escolha dessa adaptação em quadrinhos aqui é apropriada porque o próprio Michael Moorcock reconhece que é a melhor adaptação que existe da sua obra.
Ele inclusive até mesmo disse que acredita que esse quadrinho melhorou onde ele falhou lá atrás. Publicado originalmente a partir de 2013, tendo seu segundo volume em 2014, essa adaptação de Elric aqui é uma galera, tá? Então vamos lá, passando os nomes correndo.
Julien Blondel, Jean Luc Cane, Didier Poli, Robin Recht, Julien Telo, Jean Batiste. Caso você não conheça grandes nomes do quadrinho francês, cabe dizer o seguinte, é uma equipe tanto. Chega a ser até aquelas seleções que às vezes é tão perfeita porque tem tanto craque que no final o jogo vai ficar ruim.
É estrela de mais brilhando, saca? Mas não é o que acontece aqui no quadrinho, a coisa funciona. E o que essa HQ que eu vou trazer aqui pra vocês traz é justamente o início da saga de Elric.
Culminando com ele encontrando a sua espada mágica, que vai ser tão importante pro destino do personagem e do seu próprio reino. Espada esta que tem um nome muito legal, praticamente já um nome de banda de heavy metal. Stormbringer!
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Mas tem mais coisas aqui, tem referências mitológicas na saga de Elric, tem também deuses elementais, senhores do caos e uma abordagem tirada diretamente do teatro épico de Bertolt Brecht, um importante dramaturgo que procurou trazer para as artes uma metodologia marxista. E, sim, essa lambança tá ficando cada vez melhor. Uma mistura de elfo albino com consciência de classe.
Só melhora. Mas antes de eu dar um nó ainda maior na sua cabeça, peço que você curta o vídeo se estiver curtindo, se inscreva caso esteja novo por aqui e compartilhe. Esse canal só existe graças a seus apoiadores e tem recompensas bem legais, como lives aqui comigo, grupo de estudo, grupo do Telegram, sorteio de gibi e conteúdo exclusivo.
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Primeiro vamos repassar aqui a historinha mesmo de Elric. De pronto, a gente é introduzido a Melniboné, a Ilha do Drgão, uma fortaleza inexpugnável feita de mármore e obsidiana. Tudo em Melniboné é suntuoso, é tudo muito rico, grande, monumental, e não se engane, esta riqueza não está na Ilha do Drgão.
Toda essa riqueza é saqueada, roubada, vilipendiada de todos os outros povos. Não se iludam, grandiosidade sempre é só construída a partir da sombra que você projeta nos outros. O povo melniboniano, como a gente disse aqui pra vocês, eles não se consideram humanos, talvez nem o sejam de fato.
São figuras élficas, embora também não é dito aqui exatamente que eles sejam elfos. Porém, eles são mortais e possuem um código de valores e conduta muito diferente de qualquer moralidade humana que a gente possa ter de referência. Quer dizer, mais ou menos, mas calma lá, pra gente poder aprofundar vamos tentar entender.
Os melnibonianos, eles cultuam os senhores do caos. De modo que a tortura, a violência, a morte são ações fundamentais pra saciar os deuses. Já os humanos aqui, basicamente, servem como escravizados, mas num sentido ainda muito mais cruel do que simplesmente alguém que trabalha pra um soberano.
Humanos são usados o tempo todo na dimensão de sacrifício, principalmente, principalmente mulheres e crianças, o que torna ainda mais terrível. O sangue humano fortalece, serve para banhar os soberanos. A carne, principalmente de crianças, é alimento.
Isso pra não falar das intermináveis torturas que só existem por diversão, por entretenimento. Os senhores do caos são extremamente insaciáveis, então é preciso sempre dobrar, triplicar, quadruplicar a aposta no sangue derramado pra que Melniboné se mantenha de pé, e assim tem dado certo há 10 mil anos. Porém, como eu disse pra vocês, o império tá mais fraco.
Eles precisaram se recolher à Ilha do Drgão, onde ficam os melnibonianos. É isolada por um labirinto, que é aqui tanto uma questão geológica como também mística. Só que cada vez mais outros povos começam a se assanhar, a perceber, diante desse momento de fragilidade, que talvez seja a hora de se livrar dos melnibonianos.
O que, convenhamos, faz todo sentido, embora no outro lado também ninguém é santinho. Em partes, a saga de Elric de Melniboné tem muito nesse comecinho aquelas típicas intrigas da corte. Ele é casado com a prima, já o irmão da prima, também primo dele, tá de olho no reino, e dá-lhe fofoquinha aqui, dá-lhe conspiraçãozinha ali, ou seja, típico Game of Thrones, só que bem mais legal.
E a tensão aumenta quando os melnibonianos descobrem que o povo doreliano, que aqui é uma mistura de viking com sei lá o quê, conseguiu cruzar o labirinto e está preparando uma invasão. Apesar de Melniboné ser uma nação decadente, ainda é extremamente poderosa, principalmente em batalhas náuticas. E notem que essa informação aqui não é gratuita.
Michael Moorcock, o criador do Elric, tá em muito pensando a própria Inglaterra, essa ilha também isolada, que tanto governou o mundo, mas agora se fecha mais no seu próprio reino. Contudo, como a gente bem sabe e acompanha até os dias de hoje, assim como Melniboné ainda tem poder pra ser bastante cruel, a Inglaterra também o tem. Essa invasão do povo doreliano serve muito pra gente conhecer o universo de Elric, inclusive até mesmo as tretinhas, porque enquanto que o Elric, ele reconhece que eles não tem mais tanto poder de fogo e precisa ser comedido, o primo dele, Yyrkoon, que tá de olho na coroa, acha que, pô, eles têm que botar respeito, a maneira que Melniboné sempre impôs respeito foi na mais absoluta crueldade.
Só que Elric olha pra tudo isso e fala, cara, não tem necessidade. Inclusive em termos até de condições materiais a gente não tá podendo. Por exemplo, eles têm dragões, só que os dragões precisam dormir de época em época, e eles já em outras batalhas já usaram os dragões, então os bichos tão cansados, eles não podem simplesmente acordar os dragões agora, correria inclusive o risco deles perderem os bichos.
E aqui não percamos de vista que dragão levado pra um imaginário moderno é nada mais nada menos do que força aérea, algo que a gente já se acostumou, porque hoje tem avião pra tudo que é lado, mas não esqueçamos do impacto, do trauma que acabou sendo a chegada dos aviões pra guerra, do quanto que a batalha, que era aquela que se travava no campo ou mesmo na água, passou a ser feita com você no chão olhando pra cima e levando uma bomba no nariz. Ter uma cidade bombardeada é, do ponto de vista alegórico, ter a mesma experiência de um dragão sobrevoando e cuspir do fogo em você e do seu povo. Então vocês já viram, só aqui ,por causa dessa invasão, já começa uma tretinha.
Contudo, Elric é muito mais sábio que o seu primo, e consegue mesmo agindo de maneira econômica impedir a invasão do povo doreliano, inclusive é aqui que a gente percebe que uma série de forças místicas estão a serviço do povo de Melniboné, ou seja, os deuses aqui que a gente acompanha não são simplesmente crendícios do povo, e sim seres que de fato existem. Essas deidades estão mesmo no mundo, você consegue invocá-las ou fazer algum pacto com elas, mas conforme a gente vai vendo também, tudo isso tem um preço. No caso aqui, Elric acaba invocando as legiões de Pyaray, um povo oceânico bestial, mas que acaba servindo a Elric pra vencer os invasores.
Porém no meio da confusão, Elric acaba ficando em perigo, e o seu primo vendo a chance de salvar o imperador, ou assumir o império, ora o que ele escolhe? Que morra Elric, que se foda esse soberano frágil, albino e moralista. E é assim que Yyrkoon retorna pra Melniboné, reclamando pra si o trono, inclusive tendo a sua irmã como esposa consorte.
Depois esse povo não sabe porque eles nascem tudo estranho, né? Porém, Elric não morreu, Straasha, o deus do oceano, o recolheu no seu interior, e prestou esse favor, dadas as dívidas que tinha com a família de Elric. Mas não nos enganemos, não tem só lealdade aqui.
O desejo de Straasha é que a fonte da decadência seja destruída, e essa fonte é a própria Melniboné. Straasha então informa a Elric que é ele quem vai cumprir uma profecia, é o próprio Elric que destruirá Melniboné, algo que nesse momento Elric não sabia, e até rejeita. Mas como ele tá perto pra morrer, então tá bom, deus do oceano, fala o que você tá falando e tal, me leva pra terra, papo estranho hein, eu vou destruir meu próprio povo, que isso?
Seja como for, Elric retorna, coloca o primo dele, Yyrkoon, no seu devido lugar, inclusive dizendo: ah, seu sacana, você tentou me matar, né? E aí aqui entra mais um componente trágico na vida de Elric. Ele rejeita essa crueldade tão bestial do seu próprio povo, então na hora de se vingar do primo, ele em vez de torturá-lo e matá-lo por dias, como todo mundo tava pedindo, Elric tenta humilhá-lo ainda mais.
Ele basicamente torna o primo um párea, colocando ele pra fora do reino, de modo que ele depois possa vir a morrer como alguém banal. Eu tô ressaltando que isso é um componente trágico, porque toda vez que o Elric tenta fazer algo que não seja tão sanguinolento, tudo isso acaba dando errado, ele sempre precisa depois tomar uma alternativa ainda mais grotesca. A imagem que me vem, que é horrível, mas é a imagem que me vem na cabeça, é o vídeo de uma família que acaba pegando um passarinho que se machucou, quebrou a asa, eles vão lá, tratam do passarinho, fazem com que ele fique saudável de novo, aí quando largam o passarinho na natureza, um gato pega e mata na mesma hora.
Essa é a sina do Elric. Ele tenta ajeitar, ele tenta fazer de um jeito mais limpinho, só que no final descamba em mais e mais violência. Isso se prova aqui porque o primo dele não aceita assim fácil fácil a situação.
Estando na prisão, Yyrkoon, que também é um nobre, consegue invocar também outros deuses. E é assim que ele invoca Aaven' Kar, o devorador dos abismos, que confere a Yyrkoon poder, liberdade e também a capacidade de sequestrar a irmã, a rainha. E aí começa todo o sofrimento do Elric, porque lembre-se, ele é um soberano, frágil, tanto de saúde quanto politicamente.
A sua esposa, Cymoril, era quem trazia pra ele porções e sacrifícios de virgens pra que o próprio Elric se fortalecesse, então em parte o sumiço da rainha também é um atestado de morte. Porém, o Elric de fato é apaixonado por ela, e é por isso que ele vai sofrer ao perceber que o primo, o irmão da rainha, deixou a Ilha do Drgão e levou-a pra algum lugar desconhecido. Começa então aqui o início de uma jornada, que serve não só pra Elric colocar o pé pra fora da Ilha do Drgão, conhecer outros mundos, mas também pra recuperar a rainha das mãos do vilão.
Ou seja, em termos narrativos, não é nada muito inovador, certo? O "o quê" não é tão instigante, mas o que pega aqui é o "como", como essas coisas vão se dar. Porque lembre-se, como eu disse pra vocês, Elric está frágil, ainda mais sem a rainha, então ele precisa de uma outra força, certo?
E é aqui que é dado início a um pacto que vai ser a pior coisa que o Elric podia ter feito na sua vida, mas que ao mesmo tempo, como a gente tá vendo aqui, talvez ele não tivesse outra escolha, o destino já estava selado. O pacto em questão que ele faz é com Arioch, o senhor do caos e patrono de Melniboné, uma figura que aparece também como um ser albino, mas no caso uma criança, cheia de inocência, mas ao mesmo tempo, graficamente, com uma voz que não é humana, ou mesmo élfica. No quadrinho a cartela é preta, a letra é vermelha, é como se as palavras sangrassem.
E assim, tá galera, nem precisa aqui usar muito a imaginação, muito da iconografia em volta de Arioch é a de Satanás, inclusive o fato de que Arioch é traiçoeiro. Como é dito aqui na história, o caos não é confiável, do caos não dá pra ter certeza de como é que as coisas vão acabar. E é justamente a partir disso que Arioch estabelece seu poder.
Elric agora então tá poderosão e vai em busca da sua rainha. Alguns conjuvantes aqui que são fundamentais pra história, e que ajudam também a entender um pouco esse universo, é o Doutor Jest, que é uma figura aracnídea e é o interrogador oficial ali do reino, leia-se, é aquele mais especializado nas piores torturas, um típico sádico. Outra figura também importante é Dyvim Tvar, o mestre das armas de Elric, uma figura de absoluta confiança dele, e que também tem o cargo de seu senhor dos dragões, uma função que é hereditária, que coube aos pais dele, que vai caber aos seus filhos, mas não se empolgue, nesse primeiro momento aqui da história não tem dragão ainda.
Aliás, nem precisa ter dragão, porque vai ter muitos outros bichos bem mais feios na real. Uma coisa que eu preciso comentar é que aqui no quadrinho, parte do imaginário acionado pra gente pensar Melnibonétem muito a ver com a obra do Clive Barker, escritor de Hellraiser. Ou seja, uma das brincadeirinhas aqui que eles fazem, cruzando universos, é que os melnibonianos talvez sejam reminiscentes dos cenobitas, ou seja, os herdeiros de uma dimensão do absoluto horror.
Mas voltemos aqui pra historinha, Elric agora, nesse pacto com Arioch, conclama o oceano, mais uma vez ele se dirige à Straasha, pra que o Deus do Mar dê pra ele um barco. Só que não pode ser qualquer barco, como o próprio Dyvim Tvar informou, nessa época do ano o mar tá muito revolto, há névoas, há tempestades gigantescas. Eles não podem simplesmente sair por aí pra resgatar a rainha.
Inclusive eles nem sabem onde ela tá, algo que vai deixando Elric cada vez mais impaciente e mais cruel com seus próprios súditos. Sim, aquele Elric que procurava ter escolhas mais morais, agora também acaba recorrendo à violência porque ele tem urgência. Porém, as exigências de Elric são escutadas por Straasha, pelo deus do mar, que dá pra ele um navio lendário que tava no fundo do oceano.
Inclusive ele parece ser feito de pedra, nem é mais madeira, nem dá pra entender como é que aquele negócio tá conseguindo boiar. Então beleza, agora eles têm um veículo, mas pra onde é que eles vão? E isso, por sua vez, Arioch sabe, é ele que vai guiar Elric.
Sim, o capeta vai nos guiar enquanto andarmos por aí, distraídos. Só que assim né galera, deuses são deuses, eles têm seus caprichos. Straasha topa os mandos e desmandos de Elric, porque é como eu já falei aqui, Straasha quer o fim de Melniboné, e ele entende que Elric vai produzir essa ruína.
Só que tem outro detalhe aqui que eu achei maravilhoso, o deus do mar é traiçoeiro porque o mar é traiçoeiro, e esse barco lendário que Elric e seus soldados acabaram pegando é um barco que foi construído a partir da conciliação entre o Elemental do Mar, entre o deus do mar, Straasha, e o Elemental da Terra, o deus da terra, Grome. E o Deus da Terra vendo que o barco tava ali andando e ninguém perguntou pra ele, fez o que? Ora, reclamou de volta aquele pedaço de pedra.
Assim como o oceano mente, a terra dá e a terra toma. Vocês terráqueos podem andar por cima de mim, mas no final eu vou sugar vocês de volta. Por mais que vocês possam ter vida na superfície, é debaixo da terra que eu vou ter vocês no final.
Então uma coisa muito bacana aqui no universo de Elric são essas batalhas contra figuras divinas. Sendo o próprio povo de Elric extremamente cruel, a gente no final das contas não torce pra ninguém. É aquela famosa história né, entre um e outro a gente torce pela briga.
Mas é preciso reconhecer, Elric é um personagem carismático, então em alguma dose a gente quer ver ele conseguindo avançar. Ou pelo menos ver como é que ele vai fazer pra sair dessa cilada. E eles conseguem, inclusive indo parar nos Reinos Jovens, que aqui galera basicamente são as colônias que a Inglaterra teve ao longo do mundo.
Os Reinos Jovens é a América, é a Oceania, e é um lugar onde a presença de melnibonianos traz profundo medo. Na real, como faz tempo que os melnibonianos se isolaram, muitos dos camponeses, principalmente os mais jovens, não conhecem a reputação do povo ali do Elric, algo que eles fazem questão de lembrar, porque daí vem também uma das cenas mais cruéis aqui ao longo da história. Uma família camponesa com muitas crianças acolhe os melnibonianos.
Elric faz questão de mostrar pra eles que os melnibonianos podem ser muito cruéis, ressaltando a glória do passado, quando eles simplesmente cozinhavam crianças. Mas Elric diz, não, dessa vez vamos deixar quieto. Mas não dá pra deixar quieto, porque o Arioch pede que aquela família toda seja dada em sacrifício.
E como o Elric quer recuperar sua rainha, eles acabam matando todo mundo da família, do pior jeito que você possa imaginar. Isso também serve pra deixar a tropa de Elric mais feliz. E isso é algo que vai cada vez mais incomodando o Elric.
Tipo, caramba, os melnibonianos só estão felizes quando eles estão fazendo mal pros outros. Eles só conseguem se contentar na selvageria. Eu também aqui tô cedendo a essa selvageria, mas é porque eu fiz um pacto com o senhor do caos, eu na verdade nem queria ter feito esse pacto, mas roubaram a minha rainha, eu preciso atrás da minha rainha, e ela é importante pra mim, então, ai caramba, o que que eu faço?
Sim, Elric tá sofrendo, aquela coisa tão triste de gente que tem muito poder, que fica pensando: ah, eu não queria fazer esse mal todo, mas eu preciso tanto. Por isso que eu falei aqui, pessoal, por mais que Elric seja aquele que detém a moral no meio de um povo imoral, isso não faz com que ele se torne automaticamente alguém bom. Muito pelo contrário, o que a gente percebe é que essa moralidade também é cada vez mais vai virando pretexto pro profundo horror.
A busca de Elric e seus soldados até o seu primo com a rainha sequestrada, faz com que eles cheguem na cidade de Dhoz-Kam, um lugar mítico com uma série de seres gigantescos petrificados, e que foi lá que os senhores do caos e os senhores da lei se enfrentaram. Sim, a gente fica sabendo aqui que não existem só os senhores do caos, tem também os senhores da lei, e talvez exista até mesmo um equilíbrio, que o próprio Elric não tem certeza se ele alguma vez já existiu. Isso aqui parece uma mera informação de construção de universo e tal, mas tem sacadas muito boas.
Entre a lei e o caos, entre a ordem e o caos, existe de fato um equilíbrio, existe uma espécie de caminho do meio? Parece que Elric está buscando isso, só que a busca dele é também uma busca fracassada, trágica, decadente, porque por todos os lugares onde ele olha, ele não encontra esse equilíbrio. Quanto mais ele tenta puxar pra um lado, mais ele acaba descambando no outro.
Quanto mais ele tenta não ser tão violento, mais violento ele se torna. O equilíbrio nunca vem, apenas um pendular entre o extremo, o tempo todo descambando em extremismo, o que, convenhamos, também serve como um comentário político muito bom sobre os dias de hoje. A partir de agora a gente tem aquela típica batalha final, Elric encontra o seu primo, Yyrkoon, que colocou a rainha Cymoril num altar para ser sacrificada.
E aqui tem um momento que eu acho muito bacana, que é quando tanto Elric quanto Yyrkoon fazem uma oferenda para Arioch, ou seja, os dois fazem um pacto com o demônio, e o demônio vai ter que escolher com qual dos dois ele ganha mais. Indeciso, o senhor do caos acaba optando por um duelo. Ele concede para cada um dos primos ali uma filha do caos, que no caso é uma espada, para Yyrkoon a espada é a Mournblade, e, para Elric, a Stormbringer.
Só que assim galera, essas espadas não são só espadas mágicas no sentido de poder, elas são entes próprios, elas têm pensamento, elas têm vontade, são seres vivos e sedentos de muito, muito sangue. Elric acaba vencendo o primo, mas não o mata, recusa matá-lo. Diz Elric para Arioch: olha a gente fez um pacto, mas eu não sou um joguete na sua mão.
E ele joga a espada longe, algo que deixa Arioch bastante indignado. Nunca antes um mortal se dirigiu a mim desta forma. Arioch então fala: olha, eu vou salvar Cymoril, mas você vai empunhar a minha filha, você Elric vai ter que agora estar acompanhado da Stormbringer.
E aqui se consuma a maldição de Elric, que conforme ele já havia sido avisado ao longo da história, além de ele ser o destruidor do próprio povo, ele também vai ser o destruidor de sua rainha. Sim, ele que moveu mundos e fundos para salvá-la, fazendo as coisas mais horríveis, ele também foi avisado que no final vai ser ele que vai matar a própria rainha. Notem como tem esse componente muito claro da tragédia grega, do herói que é informado do seu destino, que luta bravamente contra esse destino, mas quanto mais luta, mais consuma o próprio destino que ele não queria que acontecesse.
De volta à Ilha do Drgão, Elric então toma a decisão mais inesperada de todos. Ao seu primo, aquele que fez as coisas mais horrorosas, Elric concede a coroa. Sim, ele torna o primo que ele lutou ao longo da história inteira, um novo rei.
Cymoril, acaba ficando completamente indignada. Como assim você transformou em rei o meu irmão que tentou me matar? Só que o Elric responde, olha, eu venci.
Yyrkoon vai fazer tudo o que eu mandar, e eu não vou ficar fora para sempre, mas agora eu vou embora. Elric então, empunhando a sua Stormbringer, acaba deixando a Ilha do Drgão, acaba abandonando o povo melniboniano. Elric vai em direção aos reinos jovens, vai fazer uma espécie de jornada pelo mundo, mas não nos enganemos mais uma vez, não tem nada de bonzinho aqui.
Conforme Elric percebeu já na volta para casa, a Stormbringer é insaciável. Ela tá fazendo com que Elric mate os seus súditos mais confiáveis, e ela tá trazendo pra ele pesadelos que fazem com que ele acabe matando a própria rainha. Elric então não quer matar a sua amada, ele não quer cumprir a profecia de que ele é o assassino do seu povo, mas ao empunhar uma filha do caos, essa espada negra sedenta de sangue, ele percebe agora que mais do que nunca, a profecia vai se cumprir.
Elric vai destruir Melniboné. E o que é legal aqui, que torna o personagem muito complexo, é que, em partes, ele quer isso. A bestialidade de Melniboné incomoda Elric.
Em partes ele não se reconhece no povo que ele precisa governar, mas ao mesmo tempo ele tem obrigações, ele não pode simplesmente destruir todo mundo. Até porque, tá aí a contradição, se a bestialidade do povo o incomoda, vai ele ser a besta capaz de acabar com tudo? Perceberam então as contradições, as escolhas difíceis, os desejos inconciliáveis?
É por isso que Elric de Melniboné é uma história tão boa, porque tá o tempo todo na tensão entre o querer e o desejar, algo que eu quero muito, eu sei que eu quero isso, certo? Mas lá no meu âmago, lá nos recônditos do meu eu, o que eu desejo talvez seja outra coisa. E não importa o que eu faça pra fugir dessa sina, parece que tudo leva de volta a esse destino inevitável.
Uma parada aqui que é preciso comentar, é que Elric de Melniboné tem uma série de referências. Por exemplo, o próprio nome Elric vem de Ælfric, senhor dos elfos, e parte da sua história também se liga muito ao épico finlandês Kalevala, que é uma junção de uma série de histórias orais, mas que acabou sendo escrita na metade do século XIX. Porém, porém, porém, uma outra referência mais improvável de Elric de Melniboné, que o Michael Moorcock utiliza, é o teatro épico de Bertolt Brecht.
E aqui eu preciso explicar um pouquinho o que é o teatro épico, pra vocês entenderem a relação com Elric. Em linhas gerais, Brecht foi um dramaturgo muito importante, porque ele, que era um marxista, entendia que o teatro não podia ser um lugar de escapismo, não podia ser um lugar onde você tem uma catarse, ou seja, que você vai lá e lava a alma. Sabe essa sensação diante de um filme, diante de uma peça, que você diz: ah, aquelas emoções ruins eu consegui me livrar aqui, aquele ódio, aquela tristeza, aquilo eu processei durante o espetáculo.
Pois bem, na visão de Brecht, isso produzia uma sociedade alienada, uma sociedade que ia ao teatro ou ao cinema, tinha lá suas fantasias de poder, mas saía do espetáculo e voltava a ser explorada e nada fazia. Ou seja, Brecht queria, na verdade, instigar o público a um sentimento revolucionário. Pra isso, então, precisava minar algumas convenções básicas da dramaturgia, entre elas o processo de identificação com os personagens.
Em vez de a gente se identificar com o herói da história ou com o vilão, sei lá, a ideia era que a gente criasse um distanciamento crítico, que a gente enxergasse a peça como uma encenação das crueldades do mundo e que, no final, a gente não tivesse uma sensação de justiça. Pelo contrário, que a gente saísse do espetáculo ainda mais angustiado, ainda mais certo de que se a gente não fizer nada, aí mesmo que nada muda. Por isso que uma coisa muito típica no teatro épico de Brecht é a construção de um espetáculo que o tempo todo tá gritando que é falso.
A cenografia, muitas vezes, é não naturalista, às vezes até mesmo tá escrito assim, sei lá, banheiro tá escrito banheiro. Já os atores atuam de uma maneira propositalmente falsa. Veja, não confundam, não quer dizer uma má atuação, até porque muita gente fala, pra ser ator brechtiniano é muito difícil e você tem que atuar bem o suficiente pra mostrar que você é um ator atuando em palco.
Você tem que convencer o público de que o personagem é profundo, é um personagem que se sustenta, mas ao mesmo tempo você tem que estar o tempo todo criando uma certa artificialidade nessa atuação pra que o público fique se lembrando o tempo todo que aquilo é um ator. Isso pra não falar de um outro recurso hoje muito comentado e que Brecht utilizava, que é a quebra da quarta parede. Ou seja, a ilusão de um espetáculo é totalmente minada.
E tudo isso, de novo, pra que o público se conscientize, pra que o público se mobilize. Voltemos então pro Elric, o que tem a ver? Como eu disse, o Michael Moorcock usou muito Brecht pra pensar Elric de Melniboné.
E assim o fez porque ele queria justamente uma sensação parecida. Ele não queria que a gente se identificasse com absolutamente ninguém na história. Pelo contrário, ele queria a produção o tempo todo de distanciamento.
A ideia do Michael Moorcock era dizer, sabe a história da humanidade? É essa porra aqui, cara. Por mais que aqui, na história de Elric, isso esteja extremamente grotesco, com as pessoas tomando banhos de sangue, gente, vamos ser francos, o que é o colonialismo?
O que foi esse processo de séculos de exploração e destruição de povos em nome de ganhos de um determinado império? Se os europeus que chegaram aqui nas Américas, eles não estavam exatamente buscando sangue, do ponto de vista imediato, o que eles conseguiram foi isso. O sangue dos indígenas, dos africanos, dos aborígenes, enfim, de todos os povos, é o sangue que sustentou a riqueza da Europa.
A saúde europeia, saúde aqui com muitas aspas, se deve aos sacrifícios que eles fizeram com a gente. Com todo o horror que eles sistematizaram, que eles transformaram em tradição para a grandeza da nação, para a grandeza do império. E o Michael Moorcock nos anos 60, 70, 80, estava preocupado com o quanto ainda existia de nostalgia entre os ingleses, o quanto que gerações velhas ou mesmo gerações novas queriam resgatar esse passado imperial, essa grandiosidade perdida da nação inglesa.
Moorcock, então, para botar o dedo na ferida, criou, portanto, esse herói ou anti-herói, aquele que é detentor de uma consciência, de uma moral, que felizmente ou infelizmente, depende dos agentes envolvidos, que vai culminar na destruição do povo, no assassinato de uma grandiosidade perdida. Dito de outra forma então, Michael Moorcock, enquanto escritor, também está se colocando na função de um assassino do seu povo. A grandiosidade inglesa, ele recusa, porque ele enxerga nisso tão somente a imagem da exploração.
Contudo, ao mesmo tempo, ele não é ingênuo, e ele percebe que essa lógica esclarecida, essa moralidade elevada, também é, muitas vezes, o pretexto para a maior das violências. E para a gente ter aqui exemplos bastante claros, tem a ver com essa função simbólica que a Europa ainda ocupa no mundo, esse lugar de luzes, esse lugar de valores democráticos. Não nos enganemos, esses discursos iluministas, eles também são discursos de violência.
E é exatamente essa violência da moralidade que o Moorcock aqui está interessado. Notem então como que a história de Elric de Melniboné é plena de tragédia. Não só a tragédia do personagem, não só a tragédia de um povo fictício, mas também a nossa tragédia, tragédia cultural, política, existencial.
Do quanto que a nossa busca, muitas vezes, pelo bem viver, culmina em ainda mais violência, de modo que essa destruição se volta contra nós mesmos, e talvez, talvez, não tenha muito o que fazer diante disso, porque por mais que a gente se esforce, pior fica. Em última palavra, angústia. Essa história de Elric de Melniboné saiu no Brasil faz um tempinho já pela editora Mythos.
Esse primeiro álbum que eu comentei todo aqui se chama O Trono de Rubi, e ele não por acaso tem um prefácio do Alan Moore, que comenta justamente o quanto que os valores dele vão de encontro aos valores de Moorcock, do quanto que Alan Moore também, enquanto um inglês, buscou ao longo dos seus quadrinhos assassinar também o seu próprio povo. Eu não sei como é que tá pra achar essas edições, também tem outros álbuns aí do Elric, tem os próprios livros, enfim, tem bastante coisa na real. Então é aquela velha história, vão em livrarias, vão em sebos, mas se for na Amazon pra pegar qualquer coisa de Elric, ou qualquer outra coisa, usa o nosso link aqui que ajuda bastante.
E digam aí nos comentários se você quer que eu continue, porque tem mais histórias dessa mesma linha de quadrinhos aqui. A saga de Elric é bastante longa, e essa versão quadrilizada voltou a sair na França agora justamente nesse ano de 2024, inclusive espero que saia aqui no Brasil. Então digoamaí embaixo mesmo: vai, Linck, continua o Elric, vai, por favor.
Ou não, sei lá, se você não gostou do vídeo também, não precisa escrever nada. O cara se esforça, o cara dá o sangue aqui no vídeo e ninguém valoriza. Cacete.
E já que eu estou falando aqui de deuses, caos e o mais absoluto mal, fica a sugestão pra que você veja o nosso recente vídeo sobre Berserk, o grande expoente da fantasia sombria e que de um jeito bastante curioso se amarra aqui com Elric de Melniboné. No mais, siga a gente nas outras redes sociais, Instagram, TikTok, Blue Sky, e valeu, pessoal!