Pensei em gravar um longuíssimo vídeo composto de duas partes. A primeira parte seria a defesa do tomismo e a segunda parte a defesa de Cristo Rei, ou seja, da doutrina da realeza social de Cristo. São dois pontos fundamentais da tradição católica que, no entanto, vêm sendo desvirtuados constantemente.
Mas resolvi fazer dois vídeos menores: um, este, de defesa do tomismo; e o outro, então, de defesa de Cristo Rei, que deverá entrar na semana que vem, na segunda-feira. Na próxima segunda-feira, né? A defesa da doutrina social de Cristo, segundo o próprio magistério da Igreja e segundo o tomismo, são dois pontos fundamentais da tradição católica.
E ninguém se pode considerar tradicionalista se não é tomista e se não defende verdadeiramente, não por mero slogan, a realeza social de Cristo. Não basta gritar "Viva Cristo Rei! ", é preciso praticar esta doutrina.
Mas isto é da próxima, do próximo vídeo. Hoje tratarei do tomismo. Pois bem, quanto a estas coisas e quanto ao tomismo, não importará aqui, senão a um passão, o que digam deste assunto modernistas e hereges, que são naturais fautores do erro.
Uns, os modernistas, seguem um concílio; outros seguem suas heresias. Mas eles, como que, cumprem o seu papel. Eles estão em seu papel.
O que me importará aqui são os tradicionalistas enganados ou pseudo tradicionalistas. Deus o sabe, que defendem o mesmo ou algo semelhante ao que defendem modernistas e demais hereges. Todos sabemos que vários modernistas e vários hereges dizem que o católico não é obrigado a seguir Santo Tomás.
Mas pensemos bem: quem são eles? Eles que justamente negam, de algum modo, ou o magistério autêntico da Igreja ou a própria Igreja. Não têm nada que dizermos.
E repito aqui: não nos interessará a opinião destes fautores de erro. A coisa muda de figura quando um historiador católico famoso, que ministra cursos para um famoso centro católico, diz, pouco mais ou menos, que é errado dizer que é herege aquele que não seja Santo Tomás ou que não siga Santo Tomás. Eu não sei se ao dizê-lo ele se referia a mim, embora pareça que sim, porque seu discurso girou em torno da figura de Raimundo Lúlio, e sou eu quem critica este Beato da Igreja em termos doutrinais.
Nunca vi outro fazê-lo, mas, atenção: se de fato se referiu a mim, obviamente não conhece minha doutrina. A doutrina que eu exponho em "Dop Paper Ético," o meu livro, segundo a qual digo que não podemos chamar a ninguém herege se ele mesmo não se declara herege, ou seja, de outra religião, ou se o magistério da Igreja não o declarou formalmente tal, após as duas requeridas admoestações por São Paulo. Para que alguém seja condenado por heresia, vocês nunca me viram aqui chamar nenhum Papa pós-conciliar herege.
Posso dizer que ele diz heresia, mas que ele seja herege, nunca me viram. Além do mais, como eu diria que Raimundo Lúlio é herege se ele foi beatificado pelo Papa Pio? No entanto, sua doutrina é equívoca, assim como é equivocada a doutrina metafísica do Doutor da Igreja São Boaventura.
Como é possível um doutor da Igreja, dois doutores da Igreja, Santo Tomás e São Boaventura, estarem doutrinalmente nos antípodas? Não quanto à fé, mas, originalmente, um está nos antípodas do outro. Os dois são doutores.
Ora, se duas doutrinas se contradizem, ou uma está certa ou a outra está certa, ou nenhuma das duas está certa. O que é impossível é que as duas sejam corretas. E diga-se o mesmo com respeito a Raimundo Lúlio.
No meu livro "Do Verbo Mental ao Verbo," que se lançará pela Editora Contra Errores em abril, há um apêndice chamado "Signo e Imagem" ou "Imagem e Signo," já não lembro, em que mostro que a doutrina ruim de Raimundo Lúlio foi muito usada pelos esotéricos do Renascimento. Interessou grandemente a Giordano Bruno e culminou em Emes, que muito provavelmente era um esotérico rosacruz ou qualquer coisa assim. É a tradição que, no Brasil, vai culminar em Mário Ferreira dos Santos, de buscar a Matese, Sabedoria Universal ou a Clavis Universalis, ou seja, a chave universal para entendimento de tudo.
Isto começa com Lúlio, e eu já o mostro neste apêndice. Mas, se Deus me der saúde e vida, escreverei um livro intitulado "Anjos ou Quimeras," em que, a partir de uma crítica ao livro dos Anjos de Raimundo Lúlio, eu mostrarei o verdadeiro caráter de sua doutrina. Mas não nos antecipemos.
O que eu quero dizer é que eu jamais disse que São Boaventura ou Raimundo Lúlio seriam hereges. Como assim? Um é santo e doutor, o outro é beato.
Nem sequer digo que Lúlio foi herético. Quanto a Guilherme de Oca, condenado, D. Scott teve uma condenação, mas foi parcial e temporária.
Guilherme de Oca é diferente. Ele ficou com o imperador contra a Igreja, mas nada disso importa aqui, senão quanto a reafirmar que eu jamais chamaria a estes homens heréticos, nem quem os segue, como quer que seja. Ou seja, quer o famoso professor de história católico tenha se referido a mim, quer não o tenha feito, isto foi o bastante para aparecerem em espaços meus públicos desqualificados da internet a dizer coisas assim, como disse um deles: "Ah, esse é o tio!
O tio que diz que é herege quem não é Santo Tomás. " Ou seja, este é o resultado do dito pelo famoso professor. Não estou dizendo que ele estimulou isto; ele jamais me chamaria de tio.
Não, isso não. Ele tem certa linha. Ele tem linha.
Então, mas este é o resultado. Mas mais não me importa o que digam de mim. Eu sou um nada.
Importa-me o que digam de Tomás, de Santo Tomás e do tomismo. Então, este é o resultado da fala daquele famoso historiador católico, que creio se julga firmemente tradicionalista. Creio apenas.
Não conheço pessoalmente. O que digo, sim, é. .
. Que, depois do magistério que veio de Leão XIII a Pio X e a Pio XII, não seguir a Santo Tomás naquilo que o magistério disse que era obrigatório seguir é, ao menos, indocilidade, temeridade e incorre-se em suspeita de erro. O resto é com o magistério, quando este voltar à Sã Doutrina.
Mas, naturalmente, a superioridade filosófica e teológica de Santo Tomás em relação a todos os outros doutores e teólogos da Igreja eu aprovo mais que suficientemente em 13 livros; logo, serão 15, em cursos de 5 anos, 3 anos, 4 anos, uma infinidade de cursos. Mas, quando se trata de religião, há um argumento que, se não é neste âmbito, é o mais débil de todos e que, neste âmbito, é o principal: é o argumento de autoridade. Em religião, o argumento de autoridade é o mais importante, o mais poderoso.
E quais são as autoridades na nossa religião? Duas remotas: as Escrituras e a Tradição, e outra próxima, a regra próxima da fé, que, por isso mesmo, de certa maneira está acima da mesma fé: o magistério autêntico da Igreja, que o Espírito Santo assiste para que ele declare coisas com validade, com certeza ou com infalibilidade. Pois bem, vamos ver o que disse a regra próxima da fé, a autoridade máxima da Igreja, que é o magistério autêntico.
O que disse ele a respeito do tomismo? E veremos se tenho razão ou não de considerar que quem não segue a Santo Tomás, hoje em dia, incorre em indocilidade, temeridade e suspeita de erro. Começemos por 1323, pelo canonizado Papa João XXII.
Ele disse: "A ciência de Santo Tomás não pode ser explicada sem que se admita um milagre. " Eu vou ler para que não haja nenhuma falha na citação do magistério da Igreja. O mesmo Papa João XXII escreveu, na abertura do consistório para o processo de canonização, em 1323, o seguinte: "Tomás iluminou a Igreja mais que todos os outros doutores, e mais se aprende em seus livros em um ano que durante toda a vida nos livros dos demais.
" Em 1362, o Papa Inocêncio VI, que faleceu não foi ele em 1362, diz o seguinte: "Os que seguiram a doutrina de Santo Tomás Aquino não se desviaram jamais da chama da Verdade, e quanto a combateram foram suspeitos de erro. " Aí está, estou repetindo o Papa Inocêncio VI. O Papa Urbano V, em 1368, escreveu numa carta à universidade de Toulouse: "Deveis seguir a doutrina do bem-aventurado Tomás como verdadeira e católica, e aplicar todas as vossas forças a desenvolvê-la.
" Eu não vou citar palavras de uma série numerosa de papas; vou apenas citar o nome dos papas que recomendaram, do mesmo modo, a doutrina de Santo Tomás de Aquino: Clemente VI, Nicolau V, Alexandre VI, Pio V, que declarou Santo Tomás Doutor da Igreja, ao lado de palavras dele, com Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e São Alberto Magno. Também o Papa Gregório XV declarou Doutor da Igreja São Boaventura, mas escreveu: "Os escritos de Santo Tomás são aprovados por Cristo. " Mesmo o Papa Clemente VIII, Paulo V, Alexandre VII, Bento XI, Bento XIV, Pio VI, Leão XII, que declarou Santo Tomás patrono dos estudos dos Estados Pontifícios e Pio… Até aqui, tratava-se de recomendação, ainda que muito incisiva, mas, a partir de Leão XIII, a coisa muda de figura.
O Cardeal que se tornaria Leão XIII já se preocupava com o retorno do tomismo, porque ele via com toda clareza os desvios que levavam às infiltrações de doutrinas liberais no seio da teologia e da filosofia católica, e via que as doutrinas outras que não a de Santo Tomás eram incapazes de fazer efetiva frente a essas infiltrações. Portanto, já em 1879, ele emite a Encíclica "Aeterni Patris" e começa por dizer: "Entre os doutores escolásticos, Tomás de Aquino ocupa lugar preeminente como príncipe e mestre de todos eles. " Ainda na mesma Encíclica "Aeterni Patris", diz o seguinte: "Urgentemente vos exortamos, para a defesa e a glória da fé católica, para o bem da sociedade, para o progresso de todas as ciências, a restaurar a preciosa sabedoria de Santo Tomás e propagá-la tão longe como possível.
" Escreveu ainda Leão XIII, numa carta à ordem dos Frades Menores, dos franciscanos, em novembro de 1898: atenção, ele na Encíclica "Aeterni Patris", começa por dizer que a Igreja tem dois luminares, dois luzeiros: numa mão tem Santo Tomás de Aquino e na outra, São Boaventura, que era franciscano. Isso é parte da diplomacia de Leão XIII; ele primava muito por atos diplomáticos, até mesmo com inimigos, daí sua política de rimã com os governos revolucionários. Mas não é isso que nos interessa aqui.
É que ele falou isso diplomaticamente para agradar os franciscanos. Mas, na carta que ele escreve aos mesmos frades menores franciscanos, diz o seguinte: "Aqueles que desejam ser verdadeiramente filósofos e os religiosos devem ser os primeiros a pretender e estão obrigados a assentar os princípios e fundamentos de sua doutrina em Santo Tomás de Aquino. " Esfumou São Boaventura.
À Companhia de Jesus, aos jesuítas, ele escreveu em 1892 uma carta em que diz: "Atenção, se se encontram doutores cuja doutrina não está de acordo com a de Santo Tomás de Aquino, e qualquer que seja seu mérito, não há dúvida possível, deve ser preferido Santo Tomás a eles. " Pronto, isto ele diz aos jesuítas, cuja segunda geração começou a afastar-se da determinação de seu fundador, Santo Inácio, de que a Companhia de Jesus seguisse estritamente a Santo Tomás. E aí surge Molina e Francisco Suárez, que se afastam grandemente dele.
Esta carta de Leão XIII é um lembrete aos da Companhia de Jesus para dizer, subrepticiamente, que, por maior que seja o mérito de um Francisco Suárez, deve ser preferido Santo Tomás a Francisco Suárez. Ainda na Eterne, pis no parágrafo 25, diz Leão XIII: "O Santo Doutor chegou ao duplo resultado de repelir por si só todos os erros dos tempos anteriores e de fornecer armas invencíveis para dissipar os que não deixarão de surgir no futuro". Ah, duvidam então ainda da obrigatoriedade de o católico ser tomista?
Então vejamos o que diz Bento XV. Eu vou pular São Pio X; vocês já viram a razão. Bento XV é o posterior a São Pio X.
Pouco antes de sua morte, São Pio X encomendou a escrita de 24 teses tomistas de caráter filosófico e metafísico, que seriam obrigatórias em todos os institutos, seminários católicos e faculdades. Todas as 24 teses tomistas. Pois bem, ele morreu antes de ver o trabalho concluído e seu sucessor, Bento XV, na Encíclica "Fausto Apetente", escreve que a Igreja declara que a doutrina de Tomás de Aquino é a sua.
Não que a doutrina de Tomás de Aquino seja sua; é a sua, a única sua. Isto ele disse junto com a sua assinatura das 24 teses tomistas encomendadas por São Pio X. Pio XI, que se seguiu a Bento XV, teve um pontificado muito breve e escreveu na Encíclica "Studiorum Ducem", de junho de 1923: "Quanto a nós, ao fazermos eco deste coro de recomendações tributadas àquele sublime gênio, Santo Tomás, aprovamos não só que ele seja chamado Angélico, mas também que se dê a ele o nome de Doutor Comum ou Universal, já que a Igreja fez sua a doutrina dele, como se confirma por muitíssimos documentos".
Aí estão uns heréges e modernistas abusados. Dizem que, quando eu dizia isto, eu não apresentava a fonte. Aqui está: Encíclica "Studiorum Duce" de Bento XV e Encíclica "Fausto Apetente", em ambas se diz que a doutrina de Santo Tomás é a doutrina da Igreja.
E é de Pio XI aquela belíssima e emocionante frase: "A todos quanto agora sentem sede da Verdade, diz-lhes: Ide a Tomás". Mas eu vou voltar a Pio X. Na defesa do Tomismo, em particular, em seu importantíssimo moto próprio "Dóctores Angelici", Doutor Angélico, eu vou ler um largo trecho deste moto próprio para que se veja que ser ou não ser tomista não é uma opção; serista é uma obrigação.
E não sê-lo é incorrer em temeridade, indocilidade e suspeita de erro. E um tradicionalista que se digne tem de ser tomista, porque senão, para que modernistas? Mas ouçamos ao nosso grande São Pio X.
Com um engenho quase angélico, desenvolveu e acrescentou toda essa quantidade de sabedoria recebida dos que o haviam precedido. Empregou-a para apresentar a doutrina sagrada à mente humana, para ilustrá-la e para dar-lhe firmeza. Por isso, a razão não pode deixar de tê-la em conta, e a religião não pode consentir em que seja menosprezada.
Está falando de religião, tanto mais que, se a verdade católica se vir privada da valiosa ajuda que lhe prestam estes princípios, os princípios da doutrina de São Tomás, entre outros, as 24 teses tomistas, não poderá ser defendida a fé buscando em vão elementos nessa outra filosofia que compartilha ou, ao menos, não refuta os princípios em que se apoiam o materialismo, o monismo, o panteísmo, o socialismo e as diversas classes de modernismo. Os pontos mais importantes da filosofia de São Tomás não devem ser considerados como algo opinável que se possa discutir; são como os fundamentos nos quais se assenta toda a ciência do natural e do divino. Se forem rechaçados estes fundamentos ou se forem pervertidos, seguirá-se, necessariamente, que aqueles que estudam as ciências sagradas nem sequer poderão captar o significado das palavras com que o magistério da Igreja expõe os dogmas revelados por Deus.
Por isto, quisemos advertir aos que se dedicam a ensinar a filosofia e a sagrada teologia que se se desviem do caminho de Santo Tomás, principalmente em questões de metafísica, não o farão sem gravidade. Ah, então é só a metafísica! Vejamos a continuação.
Mas agora dizemos a demais que não só não seguem a Santo Tomás, mas se afastam totalmente deste Santo Doutor aqueles que interpretam distorcidamente ou contradizem os mais importantes princípios e afirmações de sua filosofia. Se alguma vez nós, ele mesmo ou nossos antecessores, aprovamos com particulares louvores a doutrina de um autor qualquer ou de um santo qualquer, se ademais aconselhamos que se divulgue e se defenda esta doutrina, é porque se comprovou que está de acordo com os princípios de Santo Tomás ou que não os contradiz de modo algum. Continua: "Julgamos nosso dever apostólico expor e ordenar tudo isto para que, em assunto de tanta importância, todas as pessoas que pertencem tanto ao clero regular como ao secular considerem seriamente qual é nosso pensamento.
E para que o ponham em prática com decisão e diligência, porão nisto particular empenho os professores de filosofia cristã e da sagrada teologia, que devem ter sempre presente que não lhes será dada a faculdade de ensinar para que exponham a seus alunos opiniões pessoais que tenham acerca de sua disciplina, senão para que exponham as doutrinas plenamente aprovadas pela Igreja, concretamente no que se refere à sagrada teologia. É no desejo de São Pio X que seu estudo se leve a cabo sempre à luz da filosofia que citamos nos seminários, com professores competentes, podendo utilizar livros que exponham de maneira resumida Tomás de Aquino. Estes livros, quando bem elaborados, são úteis.
Atenção agora! Quando, porém, se trata de estudar mais profundamente esta disciplina, como se deve fazer nas universidades, nos ateneus e em todos os seminários e institutos que têm a faculdade de conferir graus acadêmicos, é absolutamente necessário, como sempre se fez e nunca se deve deixar de fazer, que nas aulas sejam explicados, com a própria Suma Teológica de Santo Tomás, os comentários deste livro. Se compreenda com maior facilidade e que recebam melhor luz os decretos e os documentos que a Igreja docente publica.
Atenção: nenhum Concílio realizado posteriormente à santa morte deste Doutor, Santo Tomás, deixou de utilizar sua doutrina. A experiência de tantos séculos - seis séculos - manifesta a verdade do que afirmava nosso predecessor, João XXII. Santo Tomás deu mais luz à Igreja que todos os demais doutores.
Um homem aproveita mais em um ano que com a doutrina dos outros em toda a sua vida. São Pio V voltou a afirmar isto mesmo ao declarar Doutor da Igreja Universal a Santo Tomás, no dia de sua festa. A providência de Deus Onipotente quis que, desde que o Dr Angélico foi incluído no elenco dos Santos por João XXII, por meio da segurança e da verdade de sua doutrina, se fizessem desaparecer, desarticuladas e confundidas, muitas das heresias que surgiram, como se pode comprovar já desde há muito tempo e, recentemente, no Concílio de Trento.
Por isso, continua São Pio V: estabelecemos que sua memória seja venerada com maior agradecimento e piedade que até agora, pois, por seus méritos, a terra inteira se vê continuamente livre de erros deletérios. E, por fazer referência a outros elogios, continuação: Pio IX, entre muitos outros que lhe dedicaram nossos predecessores, trazemos à colação as palavras cheias de louvores de Leão XIII a todos os escritos de São Tomás e, particularmente, à Suma Teológica. Diz Leão XIII: "Muitos Romanos Pontífices, predecessores nossos, honraram a doutrina de Santo Tomás, como fizemos nós mesmos nos diferentes livros que escrevemos, depois de estudar e assimilar com afinco a doutrina do Dr Angélico, e sempre aderimos a ela, confessando com toda simplicidade que, se há algo bom em nossos livros, no livro do Papa não se deve, de nenhum modo, a nós, a ele mesmo, senão que se há de atribuir ao mestre Santo Tomás.
" Continua São Pio V: "Assim, para que a genuína e íntegra doutrina de Santo Tomás floreça no ensino, teremos grande empenho, e para que desapareça a maneira de ensinar que tem como ponto de apoio a autoridade de cada mestre, e que, por isso mesmo, tem um fundamento instável que dá origem a opiniões diversas e contraditórias. Não se engravidando para a Ciência Cristã. " Agora, atenção: queremos, mandamos e preceituamos que aqueles que chegam ao ensinamento da Sagrada Teologia, nas universidades, liceus, colégios, seminários e institutos que, por indulto apostólico, têm a faculdade de conferir graus acadêmicos, utilizem como texto para suas lições a Suma Teológica de Santo Tomás e exponham suas lições na língua latina.
Isto hoje é bom e deverão levar a efeito esta tarefa, interessando-se em que os ouvintes se afeição. Isto já se faz em muitos institutos e é de louvar. Também foi desejo dos fundadores das ordens religiosas que, em suas casas de formação, assim se fizesse, com a decidida aprovação de nossos predecessores.
Os homens santos posteriores a Santo Tomás de Aquino não tiveram outro Supremo Mestre na doutrina que Tomás. Dessa forma e não de outra, não só se conseguirá restituir a teologia à sua primária categoria, senão que também as demais disciplinas sagradas se conferirão a importância que cada uma tem, e todas elas reverdecerão. Por tudo isso, chave de ouro: doravante não se considerará a nenhum instituto a faculdade de conferir graus acadêmicos na Sagrada Teologia, se não se cumprir fielmente o que nesta carta prescrevemos.
Os institutos, ou faculdades, as ordens e congregações religiosas que já têm legitimamente a faculdade de outorgar acadêmicos ou outros títulos em Teologia, ainda que seja somente dentro da própria instituição, serão privados dessa faculdade ou a perderão se, no prazo de três anos, não se adaptarem escrupulosamente a estas prescrições nossas, ainda que não possam cumpri-las sem nenhuma culpa de sua parte. E termina: estabelecemos tudo isto sem que nada árido, pois bem, a doutrina do magistério autêntico da Igreja, de que o tomismo é a doutrina da Igreja, é infalível por magistério ordinário, ou seja, por repetição de atos no tempo. Logo, para ser tradicionalista, é preciso ser tomista; sem isso, não se segue ser tradicionalista.
É obrigatório. Ah, mas dizem: "modernistas e hereges". Pio XII e Pio XI disseram, ao puxar a orelha de alguns tomistas, que não se deve tolher a discussão nos pontos relativos à doutrina de Santo Tomás que não foram aprovados pela Igreja.
Correto, e eu sou o primeiro a dizê-lo: contra essa atitude beócia de dizer, por exemplo, que Santo Tomás não duvidou da Imaculada Conceição. Isso é um desfavor à fé, à Igreja, à religião e a Santo Tomás. Os quatro grandes doutores marianos do século XIII ou negaram ou duvidaram da Imaculada Conceição: São Bernardo de Claraval, que escreveu ao papa pedindo que proibisse a festa da Imaculada Conceição; São Boaventura; Santo Tomás; e Santo Alberto Magno.
Quatro doutores marianos que negaram ou duvidaram da Imaculada Conceição. Santo Tomás foi o que menos negou, mas a negou, enquanto todos os outros a negaram muito mais incisivamente. Outra coisa: a doutrina da predestinação.
Muitos sabem que eu defendo com unhas e dentes a doutrina da predestinação tomista contra a doutrina da predestinação molinista ou jesuíta, defendida também por Francisco Suárez etc. Mas eu não posso dizer - e alguns tomistas o faziam - que esta é a doutrina da Igreja, porque não era, pois um papa declarou formalmente que as duas doutrinas da predestinação - isto é, a de Santo Tomás e a de Molina - poderiam ter curso na Igreja, poderiam discutir entre si, mas ambas teriam lugar na Igreja até que um dia a Igreja se decidisse por uma delas. Outro exemplo: a doutrina tomista da animação diferida, ou seja, Deus só infunde a alma no embrião humano a partir da 8ª ou 12ª semana de vida do embrião.
Isto não foi proibido pela Igreja, mas também não foi aprovado. Dogma da Imaculada Conceição leva a que se negue esta doutrina, e eu sou o primeiro a fazê-lo em meus cursos e em meus livros. Outra questão é a Cosmologia de Santo Tomás, fundada em Aristóteles, que, como toda a Cosmologia antiga, caducou absolutamente.
Não podemos defendê-la, e defendê-la hoje é um desserviço à verdade. Outro ponto é a doutrina biológica da geração espontânea, que o mundo inteiro defendeu, incluindo Santo Tomás, até que Louis Pasteur, no século XIX, provasse o absurdo dela. Hoje, os darwinistas retomam a geração espontânea, embora de um modo completamente ridículo.
Mas o fato é que não podemos adotar a doutrina biológica de São Tomás da geração espontânea, segundo a qual os entes, os animaizinhos imperfeitos — ele não conhecia nem as bactérias, nada microscópico, né? — mas ele dizia que aqueles vermes que nascem na fruta resultavam da putrefação da fruta sob a ação dos raios de sol. Isso caducou completamente; Louis Pasteur mostrou que aquilo sai dos ovos da mosca.
Bom, ele provou muito bem; Louis Pasteur era um grande cientista. Então é óbvio que a Igreja não adotou certos pontos da doutrina de Santo Tomás que são livres para discutir e rejeitou um ponto: rejeitou a doutrina de São Tomás, de São Bernardo de Claraval, de Santo Alberto Magno, de São Boaventura, e nós não podemos adotá-la, nem fingir que Santo Tomás nunca errou quanto a isto. É uma tentativa de tomistas de responder aos escotistas, aos seguidores de Duns Scot, que dizem que Duns Scot defendeu a Imaculada.
Não, ele não defendeu; ele admitiu a possibilidade, a possibilidade de que não tivesse sido Concebida sem a mancha do pecado original. Ele admitiu as duas coisas, sem decidir-se. E aquela fantasia de um debate, de uma disputa pública entre tomistas e Duns Scot, em que ele teria sido o paladino, campeão da Imaculada Conceição, é falsa.
É uma vergonha. Tomistas, não incorram na vergonha similar de dizer algo que não é verdadeiro. Então, é isto que Pio XII diz: ao dizer que a Igreja fez de Santo Tomás a sua doutrina, ele afirmou que as 24 teses tomistas são obrigatórias, e a Suma Teológica, excluídas as coisas que nós ou negamos, caso da Imaculada Conceição, ou não aprovamos, é o texto básico para a teologia sagrada em todos os estudos católicos.
Ponto. Quando vocês, que estão me ouvindo e que têm verdadeira boa vontade e a alma lisa e reta, ouvirem de algum modernista ou de algum herético algo diferente disso, para não se desgastar, mande ver se você está lá na esquina e esqueça essa gente. Mas vocês, que se dizem tradicionalistas e negam isto que eu acabo de expor, na verdade são pseudo-traditionalistas, ainda que não por má intenção, mas por mero engano.
E o mesmo, e de modo ainda mais grave, com relação à política, como veremos em nosso próximo vídeo, Defesa de Cristo Rei. Muito obrigado pela atenção e até nosso próximo vídeo.