Olá, pessoal. Hoje nós vamos falar sobre os comentários ao meu vídeo sobre os bebê reborn. [Música] [Aplausos] [Música] Pessoal, fiquei muito impressionado com a acolhida do vídeo, né, aqui no canal sobre os bebê Reborn e acho que faltou falar um pouco dos efeitos psicopatológicos, né, do uso do bebê Reborn, que eu acho que é o que mais chamou a atenção das pessoas.
Então, queria dividir esse vídeo aqui em duas partes, né, comentar um pouco esses comentários. Vou ler alguns aqui para vocês terem ideia do que que é assim do ódio que isso tem mobilizado, da raiva, tentar entender um pouco isso à luz do que eu falei no primeiro vídeo. Ou seja, me parece mesmo que o bebê Reborn ele é um fenômeno próprio ao estranho familiar, né?
Ele traz alguma coisa que deveria est recalcado, mas que vem à tona. Eu falei bastante disso no vídeo. Esses elementos têm a ver com o infantil, com o brincar, com a maternidade, principalmente pela evidência, né, com aquilo que o bebê causa na gente, né?
E o bebê causa muita coisa, né? O bebê ele traz o desamparo, ele traz, né, uma série de fantasias que são difíceis de metabolizar. A ética da interrupção, como eu falei no vídeo, é uma ética que mobiliza na gente assim o pior, muito ódio, muita raiva e isso vai aparecer nos comentários.
Então assim, queria ler com você esses comentários nessa primeira parte do vídeo e na segunda parte aí sim para agradar essas pessoas também, vamos falar da psicopatologia possível do uso do bebê reborn. Então eu defendo a minha tese aqui, ainda sustento a minha hipótese de que o bebê Reborn é só mais uma forma de brincar, como é colecionar carros, como é jogar videogame caríssimos, como é comprar bolsas muito caras, enfim, uma prática que tem a ver com o modo de produção capitalista, que tem a ver com o modo de produção individualista burguês, é a nossa moral, a moral burguesa que tem produzido essas práticas que a gente pode criticar, eu disse isso no vídeo, a gente pode pensar como que a nossa moralidade tá fabricando esse brincar de plástico, né? Esse brincar longe da rua, longe do contato humano de verdade.
Isso é gravíssimo, né? Pode ser muito grave. Então, vamos falar dessas duas partes bem separadinhas pra gente tentar entender, então, um pouco da psicopatologia ligada ao bebê reborn, mas a psicopatologia também ligada a esse ódio que não acolhe nenhuma forma de brincar nova, né?
Então vamos ouvir aqui alguns comentários para vocês entenderem o que que tem aparecido, que me chamou atenção. Tem gente levando pro pronto socorro. Real, se eu sou médico em caminho direto paraa psiquiatria.
Parecem crianças mortas, cruz credo. Até a parte de que era para brincar, tudo bem. Porém, já estão pedindo pensão.
A ideologia FMG de normalizar o bizarro. Agora culpa da universidade. Bullshit.
Não é normal um adulto idolatrar e tratar um boneco como gente. Eu já discordo tratar animais como gente. Imagina só tratar boneco como gente.
Loucura. A solução é uma enchada bem amolada e uns 500 alqueires para carpir. Moço, pelo amor de Deus, acho uma irresponsabilidade a sua fala.
Por isso que tem um tanto de gente insana nessa situação. Como normalizar isso, meu Deus? Como achar normal uma pessoa adulta brincar de boneca na rua?
O senhor não conhece os casos ou eu não sei o que aconteceu com a sua interpretação? Me desculpa. Aham.
Mas se eu encontrar uma maluca agarrada num boneco, eu saio correndo. Tudo bem pra criança, sim. Mas a adulta virar mãe não precisa mais de se enganar com bebê fake.
O que me assusta é órgãos públicos sendo usados e motivando essa brincadeira. Eu sou policial civil e já houve casos de pessoas querendo fazer boletins de ocorrência por reborn fobia. Pelo amor de Deus, Fábio.
Acho bem estranho pessoas adultas que se dizem normais, ou seja, não psicóticas, criando vínculos afetivos com um bebê inanimado, que na verdade é um boneco. Acho que isso é um sintoma de psicose, ou seja, a ruptura com a realidade. Como psicanalista, entendo que quando uma pessoa adulta não consegue mais discernir o que é fantasia e o que é realidade, essa pessoa não está mais no campo da neurose e sim da psicose.
No meu tempo, isso era desequilíbrio. Agora tudo bem, sem problema. Estou com 82 anos.
Isso para mim é loucura. Sinto muito. Como profissional da área, 25 anos, me deparei com uma situação que me deixou realmente preocupada.
estava no banheiro de um shopping quando entrou uma senhora com um boneco nos braços, perguntando desesperada onde ficava o fraldário. Disse que precisava trocar a fralda do seu bebê urgente. Se isso for considerado normal, vou desistir da minha profissão.
Por aqui, vocês estão vendo por onde estão caminhando os comentários. Apareceu também um projeto de lei apresentado na Câmara dos Deputados dia 15 de maio por um deputado do União, Zacarias Calil, o projeto que pretende multar as pessoas que usem o BB Reborn, né, para atendimento preferencial, prioridade da fila, desconto, outros benefícios pras crianças, como o Bolsa Família, tô imaginando. Penalidade aqui de 7 a R$ 30.
000, R$ 1. 000, dependendo da gravidade da conduta. Houve dois outros projetos também sobre bebês Reborn protocolados na Câmara.
Um que visa impedir a realização de atendimentos médicos e o outro que propõe definir critérios para acolhimento psicossocial de pessoas com vínculo afetivo intenso com as BB Reborn. Em contraposição a esses projetos de lei, os vereadores do Rio no dia 7 de maio aprovaram um projeto para criar o dia da cegonha Reborn, que tem o objetivo de homenagear as artesãs que confeccionam essas bonecas. E a Prefeitura de Curitiba também nessa quinta-feira passada, em maio aqui de 25, emitiu um alerta, né, dizendo que as mães de bebê Reborn não tem direito ao banco preferencial.
Então gente, eu acho que teve uma grande confusão aqui, né, pra psicanálise que tô advogando há mais tempo com launch win codiferen a gente pode pensar num contínuo, sempre no contínuo, para pensar a psicopatologia. Pro campo lapano, a gente não pensa na psicopatologia como estruturas muito separadinhas, a neurose, a perversão, a psicose. A gente acredita que os processos de defesa, né, e as psicopatologias são mais continuistas.
Então, existem momentos onde a gente pode ter núcleos psicóticos ou angústias psicóticas que estejam mais presentes na nossa vida. Em outros momentos a gente se organiza mais neuroticamente. Em outros ainda a gente tem atuações perversas, pequenos gestos perversos.
Não é nada muito separadinho, né? Diagnóstico em psicanálise tem sido criticado há muito tempo, né? Esse diagnóstico psiquiátrico que a gente quer encontrar assim um padrão certinho, tipo DSM, CID 10, né?
todo um critériozinho, ah, tem três traços aqui, então é psicótico, tem dois traços disso mais quatro daquilo, então é perverso. Na verdade, a gente na clínica encontra muito mais mistura do que essa coisa estruturada certinha. Nos casos do bebê reborn, é claro que a gente vai estar presente nesse contínuo muito longo.
A gente vai ter a brincadeira neurótica comum, como eu disse no vídeo, o sujeito vai brincar com o boneco sabendo que é um boneco, mas vai brincar com ele. Então, num determinado momento, ele vai trocar a fraldinha, vai conversar, etc. Como a gente brinca mesmo de outras coisas, insisto, está dentro do campo do brincar, né?
Vim aqui com a minha camisa do Cruzeiro, tá aqui as estrelas para vocês entenderem que a gente brinca e acredita muitas vezes nessas coisas e e acredita mesmo que eu gritar no campo vai dar mais força pro jogador, etc. Gritar na frente da televisão vai dar mais força pro jogador. A gente brinca disso por um momento, de acreditar que na minha torcida realmente faz uma diferença enorme, etc.
E eu tenho que tatuar as cinco estrelas do Cruzeiro porque eu amo. Tô insistindo numa brincadeira bem masculina na nossa cultura para vocês entenderem que isso também tá num contínuo. Vai tem essa brincadeira neurótica, tem uma brincadeira dentro do futebol, por exemplo, que vai levar as raias da perversão e da psicose.
Por exemplo, matar o colega que tá com a camisa do time errado do outro time. Tá lá no estádio torcendo para um jogo, mas tá levando uma arma para matar o colega, tá? com a outra camisa.
Isso também é perversão, barra psicose, barra atuação, etc. Quer dizer que o futebol é isso? Não, de jeito nenhum.
O Beborn é a mesma coisa, então eu posso brincar com isso. Mas, claro, eu posso obviamente ser perverso, entrar na fila, entrar com processo para ganhar bolsa família. A perversão não vai perder a oportunidade em nenhuma brincadeira.
Nenhuma. Todas as brincadeiras, a gente vai ter mobilizado as nossas defesas perversas também. Então, a gente vai no futebol chamar o outro de gay, né?
Ser homofóbico, ser violento, ser agressivo, bater no colega, bater no amigo, tudo justificado pela legitimidade desse jogo, né? Da mesma forma, tudo aquilo que o Marx chamava de fetichismo da mercadoria vai levar a esse tipo de perversão também, né? Comprar uma bolsa de R$ 20.
000, um sapato de R$ 50. 000, um relógio de R$ 500. 000, né?
Tudo isso não te parece absurdo? Se a gente analisar um pouquinho de longe, pode parecer absurdo. E é muitas vezes se a gente analisa num contexto maior, no contexto global da nossa moralidade burguesa.
Puxa vida, você vai comprar um relógio de 500. 000, você não pode ajudar uma pessoa com esse dinheiro. A gente pode pensar na nossa moralidade burguesa como uma moralidade individualista.
antisolidária, realmente inflacionando completamente uma relação com o inanimado, né, um boneco que parece uma pessoa morta. Eu acho que isso é consequência também da nossa moralidade burguesa capitalista, que prefere o inanimado, prefere o objeto, tem hiperinvestimento na mercadoria e odeia a vida, odeia a pluralidade da vida, odeia aquilo que é efetivamente da ordem do humano. Essa é a moralidade burguesa que tá espalhada nesse contínuo, que pode ser neurótica, perversa, psicótica, que pode se atrelar a muitos processos de defesa.
Então o que me veio lendo esses comentários, me parece até agora a maioria, né, são: "Não, você tá normalizando demais, é muito normalizar a loucura, etc. É um certo ódio mesmo provocado por esse brincar. A minha sensação, obviamente, a gente vai esperar para ver como que esse brincar vai se espalhando aí pelo mundo.
Temos que fazer pesquisa nisso de fato, mas a princípio o que me pareceu é que é uma brincadeira como outra qualquer, inofensiva e acho que vai ser muito atacada porque ela tá ligada ao feminino, tá ligada ao cuidado, tá ligada ao afeto, esse afeto do cuidado principalmente. Eu acho que isso promove muito ódio, muita raiva, assim como as mães de pet, pais de pet, provocam também muita raiva, porque a gente tem essa crença de que não, se tem que ter cuidado é o cuidado com a criança de verdade. Todo o resto é absurdo, né?
Fazer esse investimento libidinal naquilo que é falso, inanimado, material. De fato, tem um ponto aqui, gente, assim, essa crítica é OK, mas a grande questão que me chama é assim, por que tanto ódio, porque tanta raiva? Né?
Esse é um ponto que eu queria pensar com vocês. Então, dando razão um pouquinho a esses comentários, vamos pensar na perversão e na psicose. O que que é perversão para psicanálise?
Perversão a gente pode caracterizar como o uso do outro como um objeto do meu prazer. Então, perversão mais clássica que tem é o sadismo. Eu vou usar o outro, o objeto, para que ele me faça gozar.
Não importa se o outro tem subjetividade ou não, o que que ele tá sentindo, o que que ele tá pensando. O outro é meu objeto, eu vou usá-lo como eu quiser. Isso é a perversão no sentido mais clássico possível.
Eu destituo o outro de subjetividade. Uma outra característica da perversão para psicanálise é o descumprimento das regras sociais que fazem com que a gente conviva em conjunto, que conviva em sociedade. Então, quando eu descumpro essa regra e falo que mais me importa a minha regra, a minha lei, em detrimento das outras pessoas, a gente tá tratando o outro como objeto, infringindo a lei, como se essa lei não fosse compartilhada, um espaço transicional que servisse a todos nós.
Então, a perversão é tanto tratar o outro como objeto, o destituindo de subjetividade, quanto descumprir as regras, desfazer as regras sociais, as regras morais, como se o que importasse forem as regras individuais de um sujeito apenas. Então, quando os comentários apontam para esses casos absurdos de fato, de uma mãe que entra numa fila preferencial, né, com a sua bebê reborn ou quando o sujeito faz um processo pedindo bolsa família pro seu bebê reborn ou as perversões que a gente poderia inventar. Interessante que não apareceu ainda, gente, e eu quero esperar esses comentários, o uso sexual desses bebês, que também vai aparecer.
A gente pode esperar tranquilamente que haverá usos relacionados à fantasia pedofílica. Aliás, esso é um tema que não apareceu nos comentários, não apareceu nas interpretações que eu tenho lido. A pedofilia como investimento aqui desses bebês reborn também vai aparecer nesse longo contínuo que vai dar neurose comum, um brincar, que pode estar ligado ao luto de um bebê perdido.
Veja como que isso, né, pode ser impactante, importante do ponto de vista da saúde psíquica, mas que vai lá pr as psicoses mais terríveis, né, ligados à pedofilia, a invasão desse corpo do bebê, etc. Isso também pode ir conhecendo o ser humano vai acontecer, né? se já não está acontecendo, as bonecas infláveis aparecem nos comentários algumas vezes para nos lembrar que isso já tá existindo.
A Garota ideal é um filme, aliás, super interessante que tá no Amazon Prime, eu recomendo, né, do sujeito que se casa com uma boneca, tem uma relação com ela, conversa com ela. Aí a gente pode começar a falar desse limite aqui entre perversão e psicose, tá? Então perversão tem a ver com isso, né?
Assim, a gente vai usar esses objetos e aí eu posso usar, insisto, qualquer objeto. Pode ser o BB Reborn, mas pode ser o meu super carro, a minha super máquina, que eu saio atropelando as pessoas. Quantas vezes a gente já não viu isso, né?
Essa brincadeira dos meninos principalmente, né? de pegar o seu porte, a sua Ferrari, o seu Lamborghini e sair pelas cidades a 200 km/h aqui na cidade de Belo Horizonte, do Rio de São Paulo e destruir as pessoas, atropelar seis pessoas e tá tudo bem, é praticamente não punível o filho lá do Thor. Thor, não era o Thor Batista, não teve uma história dessa.
Atropela o ciclista, atropela o Edmundo, jogador de futebol, eles atropelam. Não pode atropelar porque o seu carro, esse brinquedo aí, não, isso aí não, isso aí é sério, coisa séria, não é, gente. Aí a perversão pode entrar em qualquer brincar, tá?
No brincar dos meninos, no futebol, por exemplo, nos carros, no joguinho de videogame, né? As perversões podem entrar a qualquer lugar, mas de maneira geral as pessoas ficam ali no campo da neurose. Vou dar uma acelerada, vou, né, sentir um grande poder, meu poder fálico aqui nesse carro, mas isso serena, por assim dizer.
Por outro lado, quando a gente começa a falar nas psicoses, aí é outro departamento. O que são as psicoses pra psicanálise? As psicoses se caracterizam por uma perda da distinção entre a fantasia e a realidade, né?
Como um dos comentários mostrou de forma claríssima, a ideia de que o dentro e o fora se misturam, o eu e o outro perdem as fronteiras. Esse é uma das características mais importantes da psicose. A ideia de que a minha fantasia é confundida com a realidade.
Isso se torna o delírio. Eu tenho uma crença, uma crença muito estável, cheia de certeza, que eu não consigo flexibilizar muito e eu interpreto o mundo independentemente do mundo, do que o mundo me diz, do que o outro me diz. Eu forço a minha interpretação pro outro, né, pro mundo.
Isso que a gente chama de delírio. O delírio é um distúrbio do pensamento ligado a vivências afetivas muito intensas, onde eu interpreto o mundo do meu jeito. Então, por exemplo, eu acho que eu sou Napoleão e eu tenho que governar o mundo, ou eu acho que eu sou o Cristo, né, encarnado e vocês têm que acreditar em mim.
Então essa ideia de que eu tenho uma crença e ela se aplica ao outro e isso é inevitável assim, não vai ter jeito de negociar, pode vir do próprio sujeito, por exemplo, caracterizando esse delírio megalomaníaco. Eu sou Napoleão, eu sou Cristo. Pode vir também de um delírio persecutório, paranóico.
Eu tô sendo perseguido pela CIA. Tô muito importante, né? Tô sendo perseguido pela CIA, pela KGB, né?
né? E as pessoas estão colocando escutas em todos os lugares da minha casa. Eu tô sendo filmado o tempo todo.
Então, os delírios se caracterizam então por essa invasão, tá vendo? Do eu e do outro que se perdem aí sem uma fronteira muito nítida. O delírio é um tipo de crença que pode fazer então o bebê reborn parecer vivo.
A gente vai caminhar aqui nesse contínuo que vai da fantasia neurótica ao delírio psicótico. A gente vai caminhar perdendo um pouco essa fronteira da pessoa que realmente acredita por um momento que o seu bebê tá falando com ela. Por isso que no vídeo anterior eu sugeri que vocês vissem Juju carente, pensasse naquele boneco assassino, Chuck o boneco assassino, porque obviamente a nossa relação com os bonecos, elas vão flertar um pouquinho com esse contínuo, que muitas vezes é super importante pra gente a animar de vida os nossos bonecos, como a gente fez na infância.
Então, os bonecos estão conversando, eles estão falando, né? Toy Story mais uma vez é a minha indicação para pensar nisso, como que a criança ela vaza essa fantasia muitas vezes, mas sabe deixar essa fantasia de lado no momento correto, mas que nas psicoses isso pode desandar e aí essa fantasia perde o contato com a realidade, perde de fato esse tipo de fronteira que é preciso manter o tempo todo. Então pode ter eventos psicóticos ligados às nossas brincadeiras.
Brincadeira com bebê rebor? Claro que pode. Pode ter psicose no futebol, pode ter psicose com o carro, pode ter psicose na psicanálise, em qualquer brincadeira.
O brincar tá atravessado pelos nossos processos de defesa, neuróticos, perversos e psicóticos. Não tem garantia que nenhuma atividade humana vá a salvo dessas defesas, dessas psicopatologias. Então, vai acontecer.
O que eu espero é que ele não seja a maioria dos usos, né, do bebê Reborn, que ele seja perverso e psicótico, que ele seja mais uma brincadeira que burgues estão fazendo, infelizmente alimentando aquilo que é próprio ao laço burguês sobre o capitalismo, relações com objetos inanimados, reiterando aquilo que Marx já tinha proposto como o fetichismo da mercadoria como sendo o centro do modo de produção capitalista. Então a gente pode criticar isso assim como, né, crítico que eu sou marxista, enfim, crítico à moral burguesa, mas psicopatologizar isso muito rápido é um erro, tá assim? Então, mais calma, vamos pensar com calma, que as pessoas têm modos de brincar muito sofisticados, que elas são muito singulares, né?
E que a gente vai analisar caso a caso, sim, os casos de perversão, de psicose em todos os campos da cultura. A gente vai fazer isso com a religião, por exemplo. Não tem religião que que é legal, que a pessoa consegue tá bem consigo mesma e atos solidários super bacanas, né, de ajudar as pessoas, de ler o cristianismo como um texto solidário e tranquilo.
Não tem também os cristãos que colocaram mulheres vivas numa fogueira? Não tem também os cristãos que estão usando Jesus Cristo para pegar o seu cartão de crédito e fazer doações para você ganhar um Renegade em troca? É desse contínuo que o ser humano é capaz de fazer, transformar Jesus num cara que vai te dar um Renegade com cartão de crédito, você dá a senha pro pastor, hein?
E o mesmo cristianismo, né? produzi um padre Júlio Lancelote que passa a vida inteira dando sopa e comida pras pessoas na periferia de São Paulo. É o mesmo.
O que muda é como que essas defesas psíquicas vão se organizando em torno desse brincar sofisticado que é a cultura. pode virar jogo de bonecas assassinas e que flertam com a perversão social pedindo bolsa família e furando fila no supermercado. Pode, mas pode também ser uma boneca que você tá brincando e que você adotou com seu marido, com a sua esposa ou com a sua filha e que vocês estão brincando por um momento meio maluco.
É verdade, né? Esquisito, sem dúvida nenhuma. Sempre apontei isso no primeiro vídeo.
É estranho, familiar, mas que tá acontecendo de verdade? Então vamos ser mais tolerantes, um pouquinho mais pacientes com a diversidade do brincar e as múltiplas possibilidades que ele oferece ao humano. A criatividade ela é infinita, sempre possível e sempre passível de ser associada a processos de defesas os mais variados possíveis, tá?
Então vamos pensar com calma. também é parte do nosso laço burguês. Acolher o diverso, acolher a diversidade, acolher o múltiplo.
É isso que faz, né, que nós burgues sejamos mais tolerantes, mais abertos, né, rumo ao interessa mesmo pra gente, que é a democracia, o espaço onde a diferença possa ser reconhecida e vivenciada em segurança, com tranquilidade, quando ela não fere o outro, quando ela não machuca o outro. O brincar tá liberado. Então vamos pensar um pouquinho nisso, óbvio, sem esquecer, né, de como que isso pode se psicopatologizar também, né?
A gente tá aberto a isso para pensar nessas coisas, mas um pouco mais de calma, menos ódio, vamos tentar pensar como que esse brincar, o que que esse brincar tá mobilizando, o que que ele tá trazendo, né? Por que que ele traz tanto ódio assim pra gente pensar junto aqui? Se você me acompanhou até o fim desse vídeo, muito obrigado.
Obrigado mesmo. Esse aqui é um projeto da Universidade Federal de Minas Gerais, um projeto de extensão que visa discutir essas coisas que estão acontecendo no nosso mundo a partir dessa perspectiva científica da psicanálise, um projeto da UFMG, uma universidade aberta, pública, gratuita, laica e de todos nós. Vocês são muito bem-vindos a esse projeto.
O projeto é de vocês. Curtam, compartilhem, comentem aí o que que vocês acham. A gente vai se ver na próxima.
Até lá. [Música] 밤.