José Saramago na Sabatina Folha de São Paulo - "Ensaio Sobre a Cegueira"

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Vinicius Caniço
O livro "A Viagem do Elefante" "queria ser escrito de uma certa maneira, aquela", afirmou o escritor...
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de que eh problema político coletivo trata especificamente o Ensaio Sobre a Cegueira o senhor acabou de falar que não sabe não controla exatamente o sentido do do romance né mas certamente talvez tenha tenha havido um impulso eh um um impulso Inicial né de pensar em criticar algum ponto da da sociedade do presente da política da da realidade contemporânea ao imaginar Essa sociedade na qual todos ficam cegos da de um momento para outro se eu lhe contar como como nasceu esse livro vai ver que não tem nada que que se relaciono com com o modo como
sua questão foi foi foi posta eu estava simplesmente em Lisboa estávamos em Lisboa vivíamos em Lisboa ainda eu estava num restaurante a Pilar não estava comigo já não sei porquê não sei por onde é que ela andava mas Eu estava sentado tinha pedido o prato que queria er un restaurante onde íamos muito era quase uma espécie era a nossa casa de casa de jantar digamos assim e e de repente passa-me na cabeça esta pergunta e se nós fôssemos todos cegos podia ter ficado assim Mas acontece que eu dei imediatamente a resposta mas nós estamos todos
cegos portanto não tem que ver com qualquer facto da vida moderna atual pretérita que me tenha levado conduzido naquela naquela direção a cegueira Esso que se chama chamou a cegueira branca que eu chamei cegueira branca coisa que causa uma certa desconcerto em alguns leitores queem que que a cegueira por ser cegueira é negra quando o ser cega simplesmente não ver e essa cegueira eu diria que é uma cegueira histórica quando eu disse quando da minha resposta mas nós estamos todos cegos é porque efetivamente uma espécie como a nossa e aqui talvez eu entre no catastrofismo
mas não me importe nada uma espécie como a nossa inteligente ou com essa coisa que chamamos inteligência não é e dotada de razão também é uma palavra mas enfim ela tem para nós um significado determinado e portanto é sobre isso que falamos e e é nisso que pensamos quando estamos a a falar de de um assunto como este a história da da da da humanidade é um desastre contínuo nunca houve nada que se que se paresse o momento tá esta raiva porque no fundo em mim é uma espécie de raiva que às vezes incontida como
é este caso Como como é neste momento levou-me a dizer esta coisa que talvez as pessoas não não concordem comigo é que nós não merecemos a vida não não não amemos quer dizer não se percebeu ainda que o instinto serve melhor os animais do que a razão serve o homem o instinto é instinto é admirável o o animal provavelmente há há uma espécie de código genético que o que o faz fazer as coisas sempre da mesma maneira obedecendo a esse código mas quer dizer em princípio a não ser enfim para se alimentar e portanto tem
que matar outro animal ou o quer que seja mas nós não quer dizer nós matamos por enfim por enfim por Prazer por gosto vivemos na delinquência vivemos na violência como é que é possível com a razão é com a razão que temos que chegamos a isto então V mais outra outra forma de de de entendernos a nós próprios e E daí que eu que que eu que eu que eu tivesse nesse restaurante tivesse colocado a questão com com com uma limpidez absoluta e se nós fôssemos todos cegos mas nós estamos todos cegos cegos da razão
porque não usamos a razão para defender a vida usamos a razão para destruí-la para de todas as maneiras no plano privado no plano coletivo de todas as maneiras é contra isso é contra isso que que foi escrito o ensaio so Sigueira
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