MORANGOS MOFADOS por Profa Dra em Literatura pela USP Miriam Bevilacqua

Olá o livro de contos morangos morangos mofados do escritor Caio Fernanda Abreu não é assim um livro muito fácil de ser lido Mas como ele cai em várias provas e vestibulares eu vou tentar aqui resumir e analisar de forma que fique mais fácil a sua leitura e a sua obviamente a sua compreensão e também no final do vídeo eu eu vou marcar alguns pontos da narrativa e do conteúdo que são importantes e que costumam cair nas provas então é muito fundamental que você fique comigo até o fim do vídeo para não perder nenhuma dica e

se você não for fazer prova nenhuma É sempre bom revisitar um autor como o Caio Fernando Abreu que fez tanto sucesso nos anos 80 e que agora anda meio esquecido né Eu gosto bastante desse movimento que eh que os vestibulares fazem de trazer autores que estão esquecidos eu sou Miriam Bevilacqua sou escritora professora mestre e Doutora em Literatura e eh você está no bíbl que é o nosso canal de literatura eu peço que se você gostar do vídeo deixa o seu like se inscreva no canal isso é muito importante muito fundamental eh para um canal

de literatura né em um país que lê tão pouco né Eu sempre brigo para que o país leia mais né Nós precisamos divulgar muito mais literatura bem antes de tudo antes de falarmos do livro você precisa entender o contexto em que esse livro foi lançado lá em 1982 a década de 80 marca o fim da ditadura militar no Brasil não acaba em 82 acaba em 85 mas lá em 82 né o país começava a respirar alguns Ares de liberdade a maioria dos militares já havia entendido que não podia continuar eh com a ditadura e a

repressão a ela para sempre a sociedade ela começava a se manifestar de forma cada vez mais forte pedindo o Fim da Ditadura eu era muito jovem mas eu fui em várias manifestações para pedir o Fim da Ditadura né eu detesto ditadura seja de direito ou de esquerda bem o movimento ali das Diretas Já que iria eclodir em 1984 em 82 já tinha pessoas pensando sobre esses movimentos não não dava mais para os militares prender e matar quem se opusesse a eles porque seria impossível prender a maioria da população eu ouço muita bobagem a respeito da

ditadura militar e sim a ditadura militar prendia eh torturava e matava Tá então não acreditem em quem fala eh diferente Então nesse momento ali na década de 80 apesar de tarde pro meu gosto a ditadura começa a perceber que é inviável ela continuar esse desejo de liberdade começa também a contaminar os costumes né é um movimento ali que se egina na sociedade então a mulher quer direitos iguais aos do homem os trabalhadores querem ganhar mais deixar de ser tão explorados pelos patrões ainda hoje são mas talvez naquela época mais ainda e os gays ensaiam ainda

muito timidamente eh ter liberdade para amar quem eles desejassem mas no caso dos gays e até no caso das mulheres também a sociedade era conservadora hipócrita ou seja são aquelas pessoas que faz tudo errado escondido né mas na frente dos outros querem vender a imagem de moralidade né eh então pros outros Elas têm de dizer que não podem eh naquela época eh aceitar os gays lembro gente que muitos amigos gays meus na décade de 80 aí ainda não haviam se assumido né Aí você que é mais jovem que não viveu aquele tempo pode estar se

perguntando Mas Miriam Por que que eles não se assumiu porque pensem comigo se ainda agora pleno século XX um a gente ignorante querendo se intrometer na vida de outras pessoas decidir com quem essa pessoa pode fazer sexo imagine há 40 anos outro dia numa rede social eu vi uma pessoa dizendo que ser Serguei é pecado gente eu quero me jogar pela janela quando eu ouço uma ignorância dessa então naquela época 82 poucos gays que tinham tentado se assumir tinham sido expulsos de casa pela família pelos pais tornaram-se a vergonha da família nunca mais ninguém falou

com eles um horror eu conheci isso gente muito de perto muitos amigos meus passaram por isso tá então é muito triste até hoje eu fico pensando eu fico muito brava quando eu vejo alguém se intrometendo na vida sexual do outro ou na vida afetiva Além disso naquela época a aides estava surgindo em 1982 houve o primeiro diagnóstico de aides no Brasil já tinha tido mas o primeiro diagnóstico formal ali tá então a gente não sabia bem do que se tratava Eu lembro que eu fazia balê tinha muitos amigos gays naquela época e eles começaram a

ficar doente eh e começaram a morrer muito rapidamente e a gente não sabia né não conhecia nada sobre aides e a aides ela cria ainda mais um estereótipo Porque como ela ela começa na comunidade gay as pessoas passaram a falar que era a praga gay um horror o escritor Caio Fernando Abreu naquela época teve a coragem de se assumir gay em plena ditadura de lutar contra ditadura foi perseguido teve que se eh esconder no sítio da também escritora e o da HST né E depois ainda vai paraa Europa né Eh tudo isso fugindo da ditadura

quando ele volta ele lança eh alguns livros e lança então morangos mofados que vai ter eh como tema né do do livro a repressão Principalmente as relações H afetivas o autor divide o livro em três partes a primeira chama-se mofo e contém nove contos a segunda chama-se os morangos e e contém Oito Contos e tem uma terceira parte chamada morangos mofados de apenas um conto e esse um conto então vai ser dividido em Partes como são muitos contos para serem resumidos eu escolhi os seis contos que são os mais representativos da primeira e da segunda

parte então eu peguei três da primeira e três da segunda por que que eu escolhi esses não são os da minha predileção mas são os que costumam ser cobrados em Provas tá e mais o último conto que às vezes não é cobrado em prova que eu acho uma pena porque é o conto que dá nome ao livro né morangos mofados e que resume bem a ideia do livro e que tem termina o livro de uma maneira muito importante então eu não poderia deixar de falar também do último conto né de morangos mofados na epígrafe da

parte o mofo que é a primeira parte há um trecho do escritor Osman Lins em que ele diz que o homem deve escolher Que tipos de frutos ele deve eh se dar nem sempre oferecendo frutos maduros e sim podres até envenenados Então por essa epígrafe e pelo título do livro você já percebe que o escritor Caio Fernando Abreu não vai poupar a nós leitores ele vai nos oferecer o que ele quiser né não vai dourar pílula e toda vez que eu leio morangos mofados eu lembro você deve conhecer a aquela caixinha de morango que a

gente compra em qualquer Supermercado né que os morangos por cima eles estão lindos né lindos eh apetitosos suculentos né mas que quando a gente chega em casa a gente tira a primeira camada e nas camadas de baixo está aqueles morangos mofados né então é aquilo que tá escondido pela beleza pela normalidade né é ali aquele mofo aquilo que não é tão bonito assim mas eh acontece com muitos morangos é um pouco essa a ideia do livro mostrar o que está por baixo e que nem sempre o sofrimento é bonito né apesar de vir eh por

baixo de algo tão vistoso e apetitivo como um morango ou talvez até eh embaixo ali no interior de um belo ser humano Então vamos lá o primeiro conto do qual nós vamos falar chama-se diálogo e já nos surpreende né Eh a Gente Nem entende muito se você não leu o índice você nem entende que aquilo já é um conto por quê Porque não é uma narrativa em prosa uma narrativa o texto corrido tradicional é apenas um diálogo entre duas pessoas sem nenhuma indicação do narrador para nos contar quem são essas pessoas não tem narrador tá

são só essas duas pessoas conversando essas pessoas também não têm nomes e elas são apelidadas de A e B elas são apelidadas de A e B até para facilitar o nosso entendimento né para saber e quem está falando em que hora a como a né ele afirma que é seu companheiro nós entendemos que B é do sexo masculino e suspeitamos que a também seja é um diálogo gente bastante confuso não se espantem tá E e com b o tempo todo duvidando daquilo que a falou a falou lembra que B era seu companheiro e por que

que B desconfia porque parece que sempre há algo por trás n desse companheirismo que deixa o b desconfiado então eh a minha dica para você depois de ler o livro inteiro né E observarmos como a maioria dos contos Fala dessas relações H afetivas eu creio que você deva novamente reler esse primeiro conto diálogo para entender né e e que ele fala justamente disso não podemos esquecer que o escritor era gay e vivia na pele Essa realidade de repressão tá e de desconfiança né esse primeiro conto é uma coisa de desconfiança eh Note que ao final

de diálogo a expressão h de Infinito ou seja aquela confusão de comunicação entre os dois Person A e B aquela desconfiança poderia continuar para sempre até o infinito Então isso é importante tá você não pode esquecer de ler ali o A de infinito tá o próximo conto é além do ponto né chamada além do conto do ponto é um conto curto de apenas quatro páginas mas que para mim é o mais bonito do livro tá eu acho é é um é o mais sensível né mais eu gosto ele é muito imagético a gente vai percebendo

Vai imaginando o protagonista e que que esse protagonista tá fazendo ele tá debaixo de chuva sem capa sem guarda-chuva e ele está indo ao encontro de alguém que o protagonista chama apenas de ele tá E esse protagonista não tem muito dinheiro ele vai a pé porque se ele tomasse um táxi ele não teria dinheiro para comprar cigarro e nem Conhaque e ele pensa ali ele reflete e tal ele pensa que seria melhor chegar molhado mas depois eh eles dois terem o Conhaque para tomarem juntos mas claro gente era longe e a chuva a umidade vai

entrando pelas roupas né E esse protagonista vai pens nessa nessa jornada que ele tá fazendo né ele pensa que o ele né não queria ele não queria que o ele soubesse que ele bebia muito ele também eh não queria que ele pensasse que o protagonista estava sem dinheiro também não queria que ele visse o seu dente quebrado e pensasse que ele andava relaxado e a Med meda então gente que esse protagonista vai andando pela chuva e pensando tudo isso num determinado momento ele diz o que nós estamos vendo né abre aspas vai percebendo por dentro

da chuva que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu e eu era então tudo aquilo que ele queria esconder do outro era ele na verdade né então ele vai pensando eh né que ele tava vivendo ali uma mentira com essa ideia na cabeça o protagonista continua andando passa carro o carro molha ele inteiro né mas apesar disso ele pensa eh que ele se ele estava se atrevendo a ir à casa do outro ele estava ultrapassando além daquele ponto por isso esse título por porque parecia que o outro o chamava e ele

imaginava que o outro iria aquecê-lo quando ele chegasse em sua casa todo molhado pensando tudo isso ele se distrai ele escorrega e ele cai ali na na no no na chuva tudo molhado para se proteger Ele pega a garrafa de conhaque né para proteger para ela não quebrar ele põe perto do peito não adianta nada porque na hora que ele cai ela quebra e ela encharca a roupa dele então para quem não queria que pensasse que ele bebia muito ele ainda ia chegar na casa do outro além de molhado também cheirando a Conhaque Ele custa

a se levantar daquela poça de Lama em que ele caiu ele sabe que ele precisa de um esforço terrível para seguir além daquele ponto ó o título de novo aí então ele fantasia mais uma vez que o outro vai acolhê-lo muito bem entretanto quando finalmente ele chega a à porta da casa do outro que ele diz que é uma porta escura ele tá sujo cansado e ele começa a bater naquela porta ele vai batendo batendo batendo batendo e essa porta não abre nunca então todo aquele esforço de ir além não resultou em nada eu penso

que esse conto tem duas leituras possíveis tá então isso é importante também você guardar primeiro nós podemos imaginar que esse trajeto debaixo de chuva foi realmente o que aconteceu ou então o protagonista está usando durante todo o conto uma linguagem figurada ou seja ele está nos mostrando toda a dificuldade dele se mostrar como ele é realmente para alguém né alguém que não tem dinheiro e mostrar que ele é alguém que não tem dinheiro que é gay e que tá com o dente quebrado tá e como é difícil tomar a coragem de se Ir Além do

ponto né o título do livro mais uma vez entendemos que se trata de uma relação H afetiva gente pensa numa relação hétero plenamente aceita pela sociedade como é difícil a gente se declarar para alguém imagine então naquela época uma relação ou uma afetiva o terceiro conto chama-se terça-feira gorda são dois homens que não se conheciam e que se atraem durante uma dança ali no salão tá eles vão dançando e chegando mais perto um do outro tem um trecho em que o protagonista diz abre aspas não parecia nem nada só um corpo que por acaso era

de homem gostando de outro corpo o meu que por acaso era de homem também tá a indícios de que esse seja um baile de Carnaval por causa da Purpurina né que as pessoas têm no rosto no corpo e do próprio título né terça-feira gorda que é a terça-feira de carnaval o PR agonista compara a boca do outro a um figo maduro E aí como eles estão ali muito próximo se tocando no salão as pessoas já começam a gritar que eles são loucas que eles são né então eles deixam o salão e vão para a praia

e ali na praia eles têm eh uma relação Claro e é uma relação que o protagonista acha muito bonita né porque debaixo do céu né e porque eles têm purpurina e e e tem o plancton do mar então parece como se eles estivessem brilhando ao fazer amor mas em seguida eh disso Chega um grupo que o protagonista diz que são muitos e começam a bater neles a dar pontapés né aquelas agressões que a gente tá careca de ver as pessoas fazerem né Eh o protagonista leva um pontapé ele levanta da areia e ele foge ao

pedido do outro o outro fala para ele fugir mas o outro fica ali apanha fica todo ensanguentado e termina o conto assim né abre aspas finalmente a queda lenta de um figo muito maduro até esborrachar se contra o chão em mil pedaços sangrentos Então aquela boca que ele comparou ao figo que era tão bonita Caiu né e e sangrou então mais uma vez é outro conto que fala de uma relação AF ou uma afetiva e da sua repressão não precisamos ir muito longe até hoje eu vejo ouv notícias de gays eh que apanham simplesmente porque

estão andando na rua de mão dada temos que mudar isso tá gente bom nessa primeira parte do livro movo o que predomina então é esse pessimismo e é uma parte muito angustiante na segunda parte chamada os morangos apesar de ainda ser eh pessimista há uma suavidade em relação à primeira Então nós vamos falar agora de mais três contos também o primeiro conto que eu vou falar tem como título uma pergunta sobre frutas que é uma brincadeira ali de adolescente o título é perira uva ou maçã conta a história de uma moça que vai ao analista

o analista que é o protagonista em primeira pessoa então ele tá ali sentado esperando a moça começar a falar ele pensa ele olha as meias vê que as meias estão trocadas ele pensa eh no isqueiro no cigarro enfim dando tempo para ela criar coragem quando ela começa a falar ela conta que ela tava vindo pro analista ela tinha comprado ameixas mas ali ela na rua tava saindo o enterro ela se atrapalhou ela caiu as ameixas também caíram e o enterro parou para que ela catassi tá E aí ela conta então para o analista ela relembra

eh de uma brincadeira quando ela era mais nova adolescente ou criança a gente não sabe bem mais nova e aquela brincadeira então que a pessoa tapa os olhos de outra e vai girando a pessoa e pergunta né Na hora que para se a pessoa e com que está com os olhos vendados queria Pera que significava um aperto de mão uva que significava um abraço ou ainda maçã que era um beijo na boca e a moça conta então para o analista que nessa brincadeira ela escolheu maçã e que foi aquele seu primeiro beijo de língua Ou

seja algo que a marcou né o primeiro beijo de língua ninguém nunca esquece depois ela repete ao analista né ela continua divagando que ela vai sempre apostar nas ameixas ela pensa que ela não sabe se apostar nas ameixas é proibido o que para nós e pro analista né Para nós leitores e pro analista não tem muito sentido e de repente ela levanta ela tá determinada que é uma coisa diferente o analista estranha ela vai embora e ela deixa para o analista uma Ameixa em cima da mesa dele desejando feliz ano novo Apesar deles estarem em

setembro o analista fica meio preocupado pensa talvez Que ela possa se suicidar porque ainda tá em setembro e pensa que tem que ligar para os pais dela porque ela precisa ser internada novamente então o conto Acaba Esse conto claro que é um conto que mais esconde do que mostra e que cada leitor vai poder interpretar do seu jeito né é são sempre contos que permitem outras interpretações Então para mim quando no final do conto Ela diz que ela não escolhe nenhuma fruta daquela brincadeira perira uva maçã mas diz ao analista abre aspas antes de ir

embora eu eu quero dizer a você que aposto nas ameixas fecha aspas claro que essa frase tem um significado né ao escolher uma meixa ela já está nos mostrando que ela é diferente que ela não é como as pessoas que brincam ali aquela brincadeira de escolher a fruta a meixa é algo enrugado né que a gente não acha ali uma uma um alimento muito bonito e mais uma uma vez vem a ideia de trazer à tona aquilo que não é bonito sejam os morangos mofados ou as ameixas que tinham até caído e no chão A

moça ainda reforma que acha que é proibido escolher as ameixas que é o que ela quer assim ela ainda pensa né que eh a gente pensa que talvez ela também esteja se referindo a uma relação ou uma afetiva porque ela diz que talvez seja proibida mas olha ela diz talvez tá E ela mas ela termina dizendo decidida querer a gente inventa tá então eh eu acho que talvez seja o outro lado né A a mostrar como é difícil a pessoa querer e ela nem mesma sabe se é proibido ou não o terceiro conto é o

dia que encontrou Saturno e eu quero contar para você que esse escritor adorava astrologia e ele fazia várias referências à astrologia e seus textos né então ele gosta muito desse desse tema Esse é um dos raros contos que fala de uma relação hétero e é um conto que é em vez de ser dedicada só uma pessoa é dedicada a um a duas pessoas um homem e uma mulher que a gente imagina que foram eh amigos do escritor a mulher eu não sei quem é mas o homem é é um Jornalista também Gaúcho como o Caio

Fernando Abreu o que fala esse conto esse conto fala de um encontro muito rápido de um moço e um um rapaz e uma moça em uma festa em um apartamento em São Paulo por que que a gente sabe que é São Paulo porque ele faz uma referência Avenida Henrique shalma o rapaz se aproxima da Moça e de repente tava tocando um rock muito barulhento esse rock para e começa a tocar uma uma música dos Beatles e eles ouvem o John Lennon cantar que que eles que que o John Lennon canta everyday every way Is getting

better and better né que é um trecho da música de beautiful Boy ou Darling Boy né que quer dizer que a cada dia em todos os sentidos né Eh está melhorando e melhorando então ali é uma coisa meio positiva né num num num livro que tem tanta coisa negativa Tá mas nesse momento eh na cabeça da moça soam cinco tiros O que são esses cinco tiros aqui gente é uma referência aos tiros que o John Lennon levou quando foi assassinado vejam que no final do conto essa referência ela vai aparecer novamente os cinco tiros só

que em vez de na cabeça da moça como dessa primeira vez vai soar eh os cinco tiros na cabeça do rapaz né como se isso de alguma forma ess esses tiros os unisse né Os Fatos que marcaram uma geração e mostra a contradição porque o John Lennon tava cantando que tudo tava melhorando e esse mesmo John Lennon vai ser assassinado aos 40 anos depois dessa introdução do narrador o rapaz e a moça trocam alguns diálogos eh os mais diversos assuntos sobre astrologia sobre querer parar de fumar sobre drogas sobre levar cinco tiros nas costas eh

contam um para outro um vai para o rapaz vai para Paris Ela diz que vai para Natal em um um dos diálogos Ali há um trecho e e eu vou dizer porque é um trecho importante né Ele diz abre aspas quando eu olhar a noite enorme do Equador Pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida então é é interessante você pensar que o encontro também pode ser uma despedida em outro diálogo eles ainda falam que podiam dormir juntos mas concluem que não é é preciso e apenas se beijam e o moço vai embora

enquanto a moça fica ali no apartamento ela vai até a janela e ela olha para ele lá embaixo né Eh na rua ela olha para ele pela janela Então essa é uma história de desencontro ou de um encontro fugaz né Você pode ali escolher mas eu acho um conto interessante também inclusive na originalidade e desses diálogos tá o terceiro conto que eu vou analisar dessa segunda parte é aqueles dois e de novo traz o tema da relação H afetiva dessa vez no ambiente de trabalho em que dois funcionários eh de uma repartição acabam se conhecendo

e se gostando Então você percebe que vai mudando o cenário no baile de Carnaval eh Na Chuva Na rep s mas a repressão sempre existe é um dos poucos contos em que os personagens têm nome um se chama Raul e o outro Saul propositalmente né nomes bastante parecidos é um conto longo em que nós leitores vamos acompanhando a construção dessa relação entre os dois né que talvez nunca tivesse passado pela cabeça deles um tinha sido inclusive casado né Eh então eh a gente vai seguindo e a gente sabe que Apesar da grande vontade de se

entregar a relação eles ainda não tinham tido nenhuma relação sexual quando o chefe da repartição os chama dizendo que estava recebendo cartas anônimas denunciando a relação dos dois e o chefe então os despede os manda embora eh enfim demissão né as cartas esse chefe aa conta que eram assinadas pelo pseudônimo um atento Guardião da moral ou seja gente é uma crítica uma ironia né alguém que se achava no direito de se meter na vida dos outros né temos muito Guardiões de moral por aí quando eles vão embora e os dois né Eles olham para aquele

Edifício da repartição e que o narrador diz que é parecido com uma clínica ou uma penitenciária e aqui Claro há uma crítica aos colegas que não aceitaram ali a relação dos dois pois se é uma clínica todos aqueles funcionários estavam doentes e se for uma penitenciária Estavam todos presos presos onde presos numa moral antiga decadente hipócrita né bem típica da da aquela época então é a repressão mais uma vez e o conto acaba dizendo que depois da demissão os funcionários que ficaram não conseguiam trabalhar em paz na repartição os funcionários tinham a nítida impressão de

que seriam infelizes e o narrador diz e foram então gente é quase como uma uma Vingança do escritor a quem é tão Quinho né para provocar a demissão de dois trabalhadores simplesmente porque eles eh não concordam com o tipo de relação né duas pessoas que só queriam se amar em paz então esses são os contos que costumam cair muito mas vamos ao último que é por fim a última parte do livro denominada morangos mofados e esse Conto faz referência a a a outra canção dos beatos né e a epígrafe do conto é é diversos eh

dessa música né do dos bitos Além disso o conto está dividido como uma peça musical né com aqueles termos em italiano Prelúdio alegro agitato enfim são vários termos italianos que vão dando nome às partes deste último conto né como se fosse marcando uma história mas uma história musical e conta esse último eh eh fala esse último conto eh de um publicitário de 35 anos bem sucedido mas que o tempo todo sente na boca o gosto de morangos mofados preocupado ele vai ao médico o médico diz que não é nada né Eh que dá ali uns

remedinhos para ele pode ser um estress que o eh esse publicitário eh ele tá deprimido sozinho ele relembra inclusive algumas passagens com a ex-companheira chamada Alice e essa depressão tem a ver além eh da Solidão com o contexto daquela época que havia sempre a possibilidade de uma bomba atômica ser lançada pelas grandes potências hoje a gente fala pouco de bomba ôm mas na década de 80 falava-se muito há um trecho em que ele diz ao médico abre aspas se o futuro doutor é um inevitável finalmente alguém apertou o botão e o cogumelo metálico arrancando nossas

peles vivas né Eh Então mostra essa essa referência a bomba atômica a bomba atômica faz aquele formato de cogumelo né então o cocomelo metálico é a bomba atômica e como todo mundo parecia viver ali eh com esta ameaça pendendo sobre as nossas cabeças um segundo momento ou terceiro ou quarto não importa ele tá sozinho em casa no apartamento ele passa mal vomitando e ele vomita e ele diz que ele vê ali morangos mofados ele relembra seu passado Chega a dizer que a sua vida é um ontem não resolvido gosto dessa expressão ontem não resolvido quase

ao final do conta esse publicitário vai na varanda ele fica debruçado olhando para baixo e nós leitores imaginamos então que ele vá se suicidar mas a medida que vai amanhecendo que o sol vai nascendo né isso melhora alguma coisa dentro dele né algo acontece dentro dele e e ele sente finalmente que o gosto dos morangos mofados desapareceu como se ele tivesse vomitado o passado e tudo de ruim junto com os morangos né tudo de ruim que lhe havia acontecido e termina o conto ele se perguntando se naqueles canteiros de cimento que ele tem ali na

varanda se conseguiria plantar morangos morangos frescos morangos bonitos e ele responde a si próprio que sim e aí então o livro O Conto termina e o livro termina por isso que eu digo que é uma dó quando alguém eh não pede esse conto né Por quê porque esse final é quase uma nota de de esperança em um livro tão melancólico né tão deprimente em que tanta coisa eh dá errada tanta gente sofre principalmente quem ousa ser gay eh naquele momento difícil do Brasil e também do mundo então eu acho que para entender o livro Precisa

sim ler Este último conto bem vamos agora então as principais marcas do livro né para você ter isso sempre em mente primeira marca e talvez a mais importante a maioria dos contos fala de relações ou afetivas e a dificuldade delas acontecerem em uma época de tanta repressão né Então tinha a repressão dos militares mas tinha também a repressão da sociedade burguesa né fala também de solidão de desencontro e de uma geração que estava vivendo o mofo do mundo né tanto então com a ditadura como com a possibilidade de uma de uma guerra nuclear tá então

eh esse esse mofo né Essa coisa feia aparece no livro A segunda marca então é um livro pessimista de grande desalento mas só o final parece então haver alguma chance de melhora quando se consegue vomitar o mofo ou seja não permitir que o passado né contamine o futuro Então na hora que a gente deixa os morangos mofados e passa a pensar em morangos frescos terceira marca muitas vezes eh é um livro datado Ou seja é um livro que tá traz tanta referência a eventos e pessoas daquela época que talvez quem não tenha vivido eh nada

daquilo eh ou não não conheça a que o escritor esteja se referindo não vai conseguir entender o livro na sua Plenitude é o caso por exemplo da dos cinco tiros que o John Lennon levou e muitos outros então Toda vez que você não entender Tenta buscar no Google se eh você consegue uma explicação para aquilo que você não entendeu quarto ponto foi um livro extremamente corajoso para a época trazendo de relações homoafetivas sem ocultar partes de cor dos corpos ou sem meias palavras isso era uma coisa que horroriza a sociedade daquela época isso quanto ao

conteúdo quanto à narrativa quanto a narrativa você vai observar que os contos em sua grande maioria não coloca nome nos personagens entretanto cada conto você vai ver ali no início é dedicado a alguma amiga amigo ou amiga do escritor e são pessoas reais com nome e sobrenome então é um contraste que chama a atenção o personagem não tem nome mas para quem o nome o conto é dedicado aparece o nome e o sobrenome e é alguém real então a gente não sabe ali o que o Caio Fernando Abreu tava tentando nos dizer quando os personagens

não têm nome eles então são nomeados apenas por suas características físicas ou emocionais e às vezes eh isso é mais importante do que o próprio nome outra marca que como o escritor é Gaúcho ele usa gírias próprias do sul do país como chamar por exemplo menina de guria você vai ver eh algumas gírias pró PR do Rio Grande do Sul a narrativa não é uma narrativa tradicional H experimentações como contos em forma de diálogo totalmente diálogo ou grandes diálogos misturado com uma pequena introdução ou ainda o uso de fluxo de consciência em que fatos lembranças

e Sensações se misturam sem que o narrador queira explicar muito né isso às vezes é preciso reler alguns trechos com mais atenção tá então quando tudo se mistura eh eu entendo que a narrativa a leitura fica mais difícil por fim uma uma marca importante é que é uma narrativa intimista em que muitas vezes o protagonista parece se misturar com o próprio autor e o fato de ser intimista é importante porque é assim que ele é traz a dor real de ser gay naquela época morangos mofados ganhou o prêmio Jabuti de melhor obra de 1982 tá

acho que é isso e se você quiser conhecer minhas crônicas eu as publico todas as terças-feiras no meu site www.mameg.com.br Não deixe de dar o seu like se você gostou isso é muito importante se inscrever aqui no canal e pedir qualquer outro livro que você deseja que eu analise até o próximo post [Música]