Por que os Carros Elétricos NÃO SÃO a Solução

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Os elétricos têm sido o centro das atenções no  mundo dos carros há alguns anos, e cada vez mais, as montadoras e os motoristas têm  olhado pra esse tipo de veículo como o próximo passo da indústria automotiva. Isso acontece, em boa parte, porque os carros elétricos vieram com a promessa de oferecer  inúmeras vantagens sobre os carros convencionais: eles são cada vez mais tecnológicos, exigem menos  manutenção, possuem eficiência energética maior, são mais silenciosos e custam menos por  quilômetro rodado. Pra efeitos de comparação, em uma cidade como São Paulo, o custo por  quilômetro rodado de um carro a combustão gira em torno dos 30 centavos, enquanto esse  custo em um elétrico fica em 11 centavos.
Mas talvez o grande trunfo dos veículos  elétricos seja o fato de que eles não emitem gases poluentes, o que acaba sendo um  dos argumentos mais usados pra sua adoção em um mundo preocupado com as mudanças climáticas. Os carros elétricos têm sido tão incentivados, que vários governos ao redor do mundo já  chegaram a planejar o fim da produção de novos carros a combustão. Aqui no Brasil,  já foi discutido um projeto de lei que sugeria a mesma proibição, o PL 295 de 2023.
Até agora, essas proibições não seguiram em frente, mas é clara a pressão que existe pra que a  frota de veículos se torne cada vez mais elétrica. Só que tem um grande problema que poucos falam.  Os carros elétricos podem até não poluir o ar, mas eles não são exatamente os  salvadores do planeta.
Na verdade, existem uma série de outros problemas  associados ao uso em massa dos automóveis, e a eletrificação dos carros  não influencia nada neles. E é exatamente por isso que você vai entender  agora quais são os grandes problemas do enorme número de carros na rua, e por que os  carros elétricos não são a solução desses problemas. Mas antes vamos entender como  nos tornamos tão dependentes dos carros.
É fato que nós somos dependentes  de carros. Especialmente no Brasil, onde o transporte público  é precário ou inexistente, a única maneira de chegar a alguns locais  é indo de carro. Mas em outros tempos, A popularização dos carros foi muito benéfica pra  o desenvolvimento da sociedade.
Quando esse meio de transporte se tornou uma realidade,  foi necessário a criação de estradas, avenidas e ruas melhores, melhorando a  infraestrutura do transporte como um todo, e permitindo uma ligação mais direta entre bairros  e cidades, o que também facilitou o transporte de mercadorias e beneficiou a indústria e o comércio. A nova indústria dos automóveis acabou gerando novos empregos, novas formas de produzir, como  a linha de produção em massa de Henry Ford, e ajudou a desenvolver outros tipos  de indústria pra suprir a demanda dos automóveis, como combustíveis e peças. Logo, também surgiram novas oportunidades de empreendimento em torno dos automóveis,  e estabelecimentos como postos de gasolina, lojas de conveniência e oficinas  mecânicas apareceram por todo canto.
Até hoje, os carros continuam desempenhando o  mesmo papel importantíssimo na vida cotidiana das pessoas. Eles são usados pra ir ao trabalho,  viajar, pra aproveitar momentos de lazer, pra entretenimento, pra fazer compras e  até em situações mais sérias, como levar alguém a um hospital. Ou seja, pra praticamente  qualquer necessidade de transporte cotidiano.
E o grande problema está exatamente aí. . Com o  crescimento populacional e, consequentemente, das cidades, o número de automóveis disparou ao  longo das décadas.
Só do ano 2000 a 2017, o número de carros fabricados anualmente em todo o mundo  saiu de 58 milhões pra quase 100 milhões. Em 2023, o instituto de pesquisa Hedges and Company estimou  que existem 1 bilhão e meio de carros, o que dá quase 1 carro pra cada 5 pessoas no planeta. Por isso, há anos são debatidos os problemas que um número tão grande de carros pode causar no  mundo, e um deles é a poluição gerada com a queima dos combustíveis fósseis usados nos automóveis.
Uma pesquisa da USP apontou que em São Paulo e no Rio de Janeiro, os carros são responsáveis pela  emissão de 60% dos gases poluentes. A poluição do ar não somente afeta o meio ambiente, como  também pode gerar problemas de saúde nas pessoas. Diante desse cenário, o mundo tem procurado  uma maneira de resolver esse problema, sem abrir mão dos avanços que os automóveis  proporcionaram durante todo esse tempo.
Foi então que uma ideia antiga pareceu trazer  a solução perfeita: por que simplesmente não fazer carros que sejam movidos a eletricidade? O resultado é que os veículos elétricos ganharam um enorme destaque na área de pesquisa e  desenvolvimento das fabricantes de carros, e acabaram se tornando realidade. Mas os elétricos não são uma novidade.
Embora tenha sido somente na década de 1890 que os  carros elétricos começaram a ganhar mais atenção, ele já tinha começado a ser desenvolvido  antes disso. Durante esse período, inovações como o desenvolvimento de baterias recarregáveis  e a melhoria da tecnologia elétrica proporcionaram avanços significativos. Os carros elétricos,  com seu funcionamento silencioso e ausência de emissões, ganharam popularidade entre a elite  urbana, sendo frequentemente escolhidos para deslocamentos urbanos.
No entanto, a ascensão dos  carros movidos a gasolina, com maior autonomia, e a descoberta de petróleo abundante contribuíram  para a posterior prevalência dos motores de combustão interna no século XX, tirando de  cena temporariamente os carros elétricos. Hoje, os elétricos vêm se popularizando  cada vez mais, principalmente por serem carros altamente tecnológicos, econômicos em  questão de consumo, e por serem cercados pela ideia do ecologicamente correto, afinal, eles não  emitem gases poluentes como os carros a combustão. Mas será que eles solucionam  de fato nossos problemas?
O que exatamente muda de um carro  “comum” pra um veículo elétrico? Os carros convencionais utilizam motores  a combustão interna, o que significa que precisam ser abastecidos com combustíveis, muitas  vezes combustíveis fósseis, como a gasolina, o diesel ou o gás natural veicular. Durante o  funcionamento do motor, a queima do combustível gera os gases poluentes, que são jogados no ar  pelo escapamento dos veículos – aquela velha história que todo mundo já sabe.
Além da poluição  em si, também há o fato que os combustíveis fósseis não são fontes de energia renováveis,  ou seja, podem ser insustentáveis a longo prazo. Enquanto isso, os carros elétricos são movidos  a motores elétricos, alimentados por baterias no próprio veículo. Como não há reação química de  queima de combustível nos motores elétricos, eles simplesmente não emitem nenhum gás, e os carros  elétricos podem rodar sem contribuir pra o efeito estufa, ou seja, a princípio parecem não causar  impactos ambientais como os carros a combustão.
Além disso, a eletricidade pode ser obtida de  inúmeras maneiras hoje em dia, incluindo fontes renováveis e sustentáveis, como hidrelétricas,  energia solar e energia eólica, assuntos também muito falados no quesito preservação  ambiental. E essas fontes de energia podem ser inclusive usadas na fabricação dos carros. Existem muitos estudos hoje que comparam a poluição de carros elétricos com carros a  combustão interna.
O ponto principal da discussão é o tipo de energia que é utilizada na fabricação  dos carros e carregamento das baterias e isso pode variar de país para país, com os elétricos podendo  ser menos poluentes no médio e longo prazo. Mas o fato é que se engana quem pensa que  o problema é tão simples assim. Na verdade, os impactos gerados pelos carros não se resumem  a poluição e outras consequências ambientais, eles vão muito além disso, e muitos  desses impactos simplesmente não são solucionados ao trocar a gasolina pelas baterias.
Isso porque muitos dos problemas que vêm afligindo as cidades não têm a ver com a emissão de gases  poluentes, mas sim com o imenso número de veículos circulando, com a segurança dos automóveis  e dos pedestres, e com os custos disso tudo. O trânsito, por exemplo, é um dos  principais problemas pra quem mora em cidades movimentadas. Em alguns locais, é  praticamente impossível dirigir sem se deparar com um congestionamento no caminho, fazendo  motoristas e passageiros perderem tempo precioso simplesmente esperando dentro do carro.
Quem mora na cidade de São Paulo, perde em média 2 horas e meia todo dia no  trânsito, sendo que em setembro de 2023, chegaram a ser registrados 1350 quilômetros de  congestionamento simultâneos, de acordo com a Companhia de Engenharia do Tráfego da cidade. Em Londres, uma das cidades com pior trânsito do mundo, foi estimado que os motoristas perderam, em  média, 156 horas presos no trânsito em 2022 – ou seja, o equivalente a quase uma semana inteira. Isso significa que existem mais carros na rua do que o sistema viário é capaz de  suportar.
Alguns governos tentam resolver o problema da malha rodoviária ampliando as  estradas ou aumentando o número de faixas. A Katy Freeway, no Texas, era considerada  uma das piores rodovias dos Estados Unidos em termos de congestionamento. Diante disso, o  governo texano decidiu acabar com o problema, e ampliou o número de faixas, tornando a rodovia  a mais larga do mundo, com 26 faixas no total.
Só que um detalhe acabou surpreendendo  as autoridades: a rodovia alargada não só falhou em acabar com os congestionamentos,  como na verdade piorou tudo ainda mais – poucos anos após a obra, o tempo gasto no trajeto  já tinha aumentado em torno de 25 minutos. Pode parecer contraditório, mas expandir  as rodovias como forma de solucionar os congestionamentos acaba causando o efeito  contrário, e a Katy Freeway acabou se tornando um exemplo clássico disso. Na verdade, esse efeito tem nome, e é chamado de “demanda induzida” – que é  quando um aumento no fornecimento de algo, no caso as estradas, acaba induzindo a um  aumento na demanda, e hoje já possuímos dados o suficiente pra comprovar que a construção de novas  estradas ou faixas realmente causa esse fenômeno.
Uma outra questão que envolve os carros  é o fator segurança. Infelizmente, os acidentes no trânsito são uma constante  há muito tempo – na verdade, a primeira morte registrada envolvendo um acidente automotivo  aconteceu em 1896, mais de 125 anos atrás. No Brasil, os carros são responsáveis pelo  maior número de acidentes no trânsito, estando envolvidos em torno de 650 mil  acidentes entre 2021 e 2022.
Esse número não considera apenas acidentes fatais, ranking  ainda liderado pelas motos, mas demonstra como são frequentes os acidentes envolvendo automóveis. Já nos Estados Unidos, entre 1913 e 2021, o número de mortes no trânsito cresceu mais de  1000%, saindo de 4200 pra 47 mil mortes. Segundo a OMS, cerca de 1,2 milhão de pessoas morrem  todo ano vítimas de acidentes de trânsito.
As causas desses acidentes são as mais variadas,  mas quase sempre envolvem falha humana ou defeitos mecânicos – e a verdade é que não importa  quantas campanhas de conscientização no trânsito sejam feitas, os acidentes com  carros e outros veículos não vão sumir. Por mais que sejam novidade, o fato é que a  adoção dos veículos elétricos não resolve nenhuma dessas questões: nem dos congestionamentos,  nem dos acidentes de trânsito. Na verdade, alguns especialistas têm a preocupação de que  acidentes com carros elétricos podem ser até piores pra as outras pessoas envolvidas, já que  o peso extra das baterias torna o veículo mais pesado, piorando as consequências dos acidentes.
Bom, mas mesmo não sendo a solução pra esses problemas, pelo menos os carros elétricos são  muito melhores pra o meio ambiente… certo? Um dos principais argumentos a favor dos  carros elétricos é justamente o fato de que eles não poluem, e assim, possuem um baixo impacto  ambiental, mas isso não é necessariamente verdade. Sim, os carros elétricos ainda são um passo  importante na direção da descarbonização, mas eles não são uma bala de prata, e mesmo assim,  sua produção gera outros problemas ambientais.
Em primeiro lugar, o fato de eles serem movidos  a eletricidade, não necessariamente significa que seu ciclo de vida está livre de emissões  de carbono. Isso porque é preciso analisar de onde vem a energia elétrica que abastece as  baterias desses veículos: ela é produzida a partir de fontes limpas, ou vem de lugares que  poluem tanto quanto os carros com escapamento? O mundo ainda é altamente dependente dos  combustíveis fósseis, e na geração de eletricidade não é diferente.
Considerando  que mais de 60% da eletricidade gerada no mundo em 2019 veio da queima de combustíveis  fósseis em usinas como as termoelétricas, pode ser que seu carro elétrico  seja carregado com energia “suja”. Além do mais, a necessidade de se produzir  cada vez mais baterias pra suprir a demanda por novos veículos elétricos acaba aumentando a  procura por matéria-prima, como lítio e cobalto. Isso pode ser um problema já que a extração  desses materiais também tem impactos preocupantes, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do  ponto de vista humano.
A mineração do cobalto, por exemplo, produz resíduos prejudiciais à  saúde, e o processo de fundição produz gases poluentes, como o óxido de enxofre. Do ponto de vista humano, há também a preocupação sobre as condições de trabalho na  extração do cobalto, já que 70% do cobalto do mundo vem do Congo, onde até crianças trabalham  no processo de mineração não regulamentado. Já a extração do lítio também deixa suas marcas:  a mineração desse metal usa grandes quantidades de água do solo, o que acaba diminuindo  a disponibilidade de água pra habitantes locais.
Essa atividade também consome  muita energia, polui o ar e a água com metais pesados e resíduos químicos, e pode  gerar erosão e distúrbios na vida selvagem. Ou seja, mesmo com a promessa de serem  veículos verdes, dependendo da situação, os elétricos podem não ser tão verdes assim. Só que esse não é nem o principal problema dos carros elétricos.
Na verdade, tudo pode  ser resumido ao fato de que carros elétricos ainda são… carros. É exatamente por isso  que a migração pra carros elétricos não resolve problemas fundamentais que já  existem com automóveis convencionais. O trânsito não vai melhorar se  todos os carros forem elétricos, os congestionamentos não vão ficar menores. 
Os acidentes não vão ser menos fatais, na verdade podem se tornar até mais perigosos, já  que nem mesmo os bombeiros estão preparados pra lidar com os incêndios decorrentes das baterias  – que são muito mais difíceis de combater. Quando o trânsito for totalmente autônomo  pode ser que muita coisa mude, mas falando em termos gerais, é possível dizer também que o  transporte por carros não é tão eficiente assim, já que carros ocupam muito espaço pra quantidade  de pessoas que geralmente transportam, porque costumam ser automóveis de uso pessoal,  e cada carro transporta em média menos de 2 pessoas na união européia, por exemplo. Por outro lado, um ônibus é capaz de transportar muito mais gente, com uma ocupação da  via muito mais eficiente.
A SPTrans, de São Paulo, fez um comparativo onde demonstra que seriam  necessários 55 carros pra transportar as 80 pessoas que um ônibus é capaz de suportar. Isso não vai mudar com a adoção dos carros elétricos, isso é um fato. Enquanto  todos os esforços se voltam pra que os elétricos se tornem o padrão, é preciso  se perguntar se isso vai realmente resolver as dores de cabeça causadas pelos carros.
Se toda essa atenção fosse dada à melhoria e viabilização do transporte público,  como ônibus, trens e metrôs, por exemplo, seria muito mais provável que víssemos  alguma solução de verdade. Talvez algumas pessoas iriam trocar o carro do trajeto diário  para o trabalho por um ônibus, trem ou até uma bicicleta se tivéssemos mais infraestrutura. Mas ao que parece, governos e montadoras têm usado o discurso do carro verde como formas  de impulsionar seus próprios interesses, como o ganho de capital político e a venda de  mais veículos, enquanto a preocupação com a melhoria da sociedade fica sempre em segundo  plano, ou, às vezes, nem existe de verdade.
E aí, o que você acha sobre esse  assunto? Acha que os carros elétricos são a solução para os nossos problemas? Comenta aqui abaixo o que você acha.
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