[Música] o trabalho faz parte das nossas vidas ele não só traz o ganha-pão o sustento como também nos constitui como pessoas mas o trabalho tem uma relação também com doença mental e para conversar sobre esse tema cidadania convidou ana magnólia bezerra mendes professora psicóloga e professora da unb seja bem vindo ao nosso programa brigada por que você escolheu esse campo de estudo doença mental e trabalho é bom é esse é eu já tenho uma experiência de quase 30 anos neste campo de estudo e quando eu comecei a estudar ainda na década de 90 eram muitos
os problemas é que acometiam os trabalhadores é em termos de transtornos psíquicos e ainda nessa época ainda hoje um pouco eram problemas pouco visibilizadas então eram muito visibilizadas os problemas de saúde física na época na década de 90 inclusive a ler dort foi uma uma epidemia e outro lado exatamente e outros problemas vinculados às de trabalho e vinculados ao uso de agrotóxicos por exemplo é nas indústrias ea problemática da saúde mental principalmente do sofrimento no trabalho que é o meu tema de de pesquisa de estudo na universidade de brasília é este sofrimento ele é ainda
hoje muito invisível para você diagnosticar aqui alguém no seu trabalho esteja com o sofrimento um talvez não ainda demonstrando que é uma doença que está doente do ponto de vista mental é um julgamento muito difícil né sim porque o sofrimento é algo visível no sentido de que você não vai lá com um aparelho como outros exames clínicos e vai lá e avalia é pra dizer se existe ou não o quanto existe então a pessoa precisa é ter também uma um reconhecer o seu sofrimento e os detalhes então há a fala sobre esse sofrimento é o
modo clínico que temos acesso a ele e hoje é como a forma como o trabalho está organizado que é uma forma bastante perversa hoje modelos de gestão eles têm sido a maioria na maioria das empresas e fora também em outros tipos de barra mansa muito com pista então para um modelo gerenciar lista nós não podemos é esquecer que a lógica hoje que rege todo o comportamento é social é a lógica da acumulação e à lógica do consumismo então hoje as pessoas são consumidas pelo tempo pelo trabalho e por outros é outras coisas e o que
vai intensificar e e provocar esse sofrimento é uma dimensão é que nós temos estudado nas nossas pesquisas que é exatamente a impossibilidade de falar sobre esse sofrimento não existe uma fronteira clara entre aquilo que se pode dizer entre aspas normalidade e aquilo que é consumido pode ser considerado doença mental ao longo de todos esses 30 anos que você que você vem estudando e ou 20 anos doenças mentais a relação desses mentais e trabalho é o pano de fundo que o que acontece na sociedade também é muito importante por exemplo agora nós temos um índice elevado
de desemprego e nós temos também outros problemas muito mais cobranças redução do consumo competitividade como é que você age do ponto de vista científico com você como psicóloga para balizar identificar sintomas graus são 1 é nós usamos vários instrumentos né como de pesquisa então nós temos um protocolo que investiga é os riscos psicossociais relacionados ao trabalho esse protocolo então é aplicado na aos trabalhadores ela agora questionar nós isso nós elaboramos esse o nome protocolo mas são várias perguntas não é bem objetivas ea pessoa então responde essa é uma forma de avaliação avaliação mais estatística mais
quantitativa que permite diagnósticos mais amplos se realiza este risco não existe que tipo de de adoecimento pode acontecer naquele naquele ambiente naquele tipo de trabalho e uma outra maneira que nós temos é pesquisado hoje é através de do atendimento aos trabalhadores hoje a universidade de brasília eu coordeno um projecto dinâmico por parte de quem é por parte de psicólogos e estagiários estudantes é um programa que faz parte do instituto onde as pessoas possam os trabalhadores possam recorrer correio sintam bem certamente isso em sofrimento com algum transtorno então nós temos atendido esses trabalhadores é um serviço
gratuito da universidade de brasília sob a minha coordenação é uma escuta clínica do sofrimento 1 o projeto é práticas em clínica do trabalho quanto tempo sua extensa e nós temos esse projeto há dois anos já atendemos 60 70 trabalhadores das mais variadas organizações evidentemente mantemos aí o sigilo é e do da de onde eles trabalham é quem são eles estão lá o atendimento gratuito gratuita e desde que eles concordem participar da pesquisa e soube que ele se não quiserem participar também não tem problema mas existe uma concordância e nós temos escutado esses trabalhadores foram muitos
em dois anos é que vão exatamente nos contar o que aconteceu naquele ambiente de trabalho que gerou aquele tipo de acréscimo o que é mais curioso nas perguntas não sei nem se você ia perguntar isso mas eu já vou adiantando é que muitas dessas pessoas nunca jamais tiveram nenhum problema é de um tipo de problema mental ou de transtorno mental mesmo quando elas viveram coisas pessoais muito graves como perdas mortes de pessoas outros 30 ou seja você o foco da doença relata a relação da doença é com o povo trabalho é exatamente então você faz
você parar então é isso chorando muito bem elaborado e é esse questionário vencendo construída há 30 anos eu espero que ele seja bem elaborado e eu claro que ele é né então já é reconhecido nós temos pesquisas não só aqui no brasil mas também fora do brasil e vários a cooperação entre com outras universidades e de fato ele é bem específico para estabelecer essa relação entre o adoecimento eu trabalho com o traço comum ou melhor dizendo qual o fator mais freqüente dentro do do ambiente de trabalho não digo ambiente físico dento do trabalho como entidade
é com o fato na vida das pessoas qual a evidência mais freqüente de ter causado essa ruptura do equilíbrio mental é o são os modelos de gestão a forma como o trabalho hoje tem sido feita a gestão do trabalho como você você e sua equipe se separaram para que isso não seja um pressuposto você já ir com essa intenção de achar que é o capitalismo é o modelo hamas é mas é um modelo é eu sinto muito mas recebeu a inscrição de quatro delas já que entramos nisso aí eu vou eu vou colocar aqui pra
você o seguinte um exemplo é que agora vou me dar a liberdade de colocar minha opinião você sabe que na china o lugar onde há um grande índice de suicídio exatamente quando o onde 2 mil soldados de um país comunista sobre armas forçam os trabalhadores a preço vil para fabricar componentes ipods o que é o capitalismo que que é socialismo e bom eu não sou dessa área não sou cientista político nem socióloga mas eu vou te responder da seguinte maneira é existe o o regime político e o modo de produção do zaire intenção eu estou
falando do modo de produção do trabalho que é o que o estudo e esse modo inclusive eu tenho trabalhos com outros modos de organização que ainda recebe a influência desse modo de acumulação porque o que eu tô falando é de uma lógica que está por trás da forma de produzir lógica é essa que invadiu serviço público por exemplo através do gerencialismo em dia exige muito de produção nos nossos pés invisível nós temos hoje serviço público ou pro meu serviço é educar ea e todas as o modelo de gestão hoje que as universidades estão vivenciando um
modelo gerenciar lista como se eu tivesse que fabricar um automóvel então há uma distorção é o serviço público deixou de servir ao público então um conceito de cidadania ética enfim se perdeu e aí o modo de produção que é como fazer o trabalho é privado invadiu serviço público e é esse modo pra nós atendemos muito mais servidores públicos e privados pelo fato do projeto está sediada aqui na em brasília mas também pessoas de empresas privadas têm nos procurado e o que hoje define uma limitação pessoa mesma pessoa tem um bom salário podendo pagar um psicólogo
ao vai pode procurar vocês hilário nós atendemos a um temos atendido pessoas que têm ótimos salários e buscam nossos serviços porque é um serviço especializado em trabalho e saúde mental porque as pessoas querem falar do trabalho então já tivemos nesses casos é de pessoas que têm salários bem que poderia pagar um serviço bom só voltando então o modo de produção que eu estou me referindo é 12 lógicas que tem interferido no cotidiano do nosso trabalho é a lógica de acumular como lá as coisas isso vai levando a uma sobrecarga a outra lógica que a lógica
do descartável porque existe essa lógica do descartável porque quanto mais o descartável mas se vai produzir mais e vai acumular assim mas não consumir então é sobre essa lógica que eu estou falando é e transferência existe uma época do capital e se deve existir enfim é e o que eu só voltando ao a pergunta que você fez é como que esses problemas mentais e se são produzidos eles são produzidos exatamente porque essa lógica da produção ela passa a ser uma lógica das relações sociais então as pessoas começam a ser donas uma das outras começa a
ver um abuso do uso do poder começa a ver um tratamento desqualificado eu comentava ontem com os meus alunos que nós vivemos hoje uma escravidão implícita sofisticada invisível então você não tem às vezes hoje nem se tem mais contrato de trabalho em função da eliminação dos postos ou seja toda que você falou do desemprego todas as consequências em relação ao mundo do trabalho elas estão submetidas a essa lógica que é a lógica do consumo e o que eu me ocupo e o que é o da minha pesquisa se interessa é entender como é que essa
lógica repercute nas relações sociais na construção dos laços sociais nos vínculos que os trabalhadores estabelecem no seu cotidiano de trabalho com seu chefe com seus colegas e o que nós vemos hoje o individualismo competição solidão você querendo puxar o tapete um do outro porque tem que ser bem avaliado porque se for mais bem avaliado vai ganhar mais dinheiro é a lógica da acumulação que está lá na avaliação de desempenho é a lógica do consumismo que está por exemplo em você se acelerar e não ter mais de um tempo pra por exemplo criar um coletivo de
trabalho aqui as que essas redes sociais e os mecanismos de comunicação imediata por exemplo dos celulares que vão se modernizando a cada ano e você vai descartando aí você tem toda a razão é que ela seja pelo novo por consumir mas isso está invadindo o que você acha que a vida o trabalho está invadindo a vida privada das pessoas que está despertando no coletivo uma cobrança em cima da burocracia dos serviços públicos que ela jamais será capaz do que eles jamais serão capazes de desenvolver sim com certeza eu acho que é o que eu observo
como resultado da pesquisa como eu dizia além do que o modelo de gestão hoje que é um modelo muito pautado na lógica da excelência no consumismo na lógica do produtivismo não da produtividade porque produtividade todos querem como você falou no início o trabalho é central para a constituição do sujeito trabalho é fundamental para nós nossa identidade nossa proposta porque o nosso prazer exatamente então que acontece acontece que esse trabalho que antes que que tem uma centralidade e psíquica hoje ele passa a ter uma centralidade muito mais instrumental então é e aí nesse sentido o trabalho
tem e se ele tem esse valor então o trabalhador qualquer um deles eu digo isso muito claramente ele tem o desejo de produzir ele quer se sente útil ele quer ter um trabalho que tenha sentido hoje eles querem sim ter reconhecido isso tem um móvel com a pergunta que eu queria te fazer me parece que essas pessoas que te procuram procuram um serviço que você trabalha elas perderam prazer no trabalho mas quantas delas antes já não tinha um já não trabalhavam apenas por uma questão de consumir mais regras próprias não vou quando trabalhavam no que
gostava um manto se disseram assim é claro que não só não pode calcular esse número você pode dizer do seu sentimento da percepção que você teve quantas dessas pessoas trabalhavam no que gostava e deixaram de gostar porque aconteceu todas é meu é elas é gostava do trabalho e eu escuto muito dos nossos dos nossos pacientes assim eu adorava meu trabalho e hoje eu não suporte para o trabalho eu passo mal quando eu acordo e vou ter que ir para o trabalho aí vem aquela faca frase bíblica neco gerais o pão com o suor do povo
porque tem uns é ficar que é uma voz que está com cicote na mão que está é desqualificado as pessoas que está tratando mal que está humilhando que está constrangendo o que está ameaçando que está usando abusivamente o poder como eu falei meu que voltando à época da escravidão e essa pessoa que gostava do trabalho que se dedica ao trabalho que quer ser reconhecida que quer ser produtiva porque a produção se sente produtivo é importante pra nossa identidade e psicológica imagino que ninguém quer ser improdutivo não ser reconhecido um ser desqualificado quer dizer não é
um desejo pessoal a pessoa vai sendo digamos assim embu lida nessa engrenagem porque essa engrenagem é muito mais poderosa do que a gente imagina que interromper a equipa perdeu o raciocínio 30 anos atrás 20 anos atrás não se falava em bullying acertando e cooper - tanto e assédio moral assédio sexual que são marcos que hoje por seu batom é o mais humilde funcionário pode denunciar anos e existem por exemplo a lei maria da penha maria da penha enfim é isso é porque houve um do tempo tenho amigos protege democratização não é porque nós ficamos o
brasil tem isto tem uma história não é pesada em termos de colonização de escravidão de ditadura de setembro e é então não sei nem se a gente é um país democrático de verdade tem dúvida mas enfim de qualquer forma é hoje as pessoas elas têm menos receio de denunciar porque existe mais proteção existe trabalhos que dodô enfim onde é as pessoas têm mais canais de comunicação e o anúncio do ipad moral sempre existiu sim no serviço que vocês prestam olhares no serviço até altamente elogiável ah ah ah essas pessoas que estão necessitando de apoio de
vocês com vocês são capazes podem orientar não denuncie por assédio moral denuncie pra ser bissexual podemos fazer essa orientação se acha que a frequentam a situação isso às vezes sim é porque tem muitos casos não é de de assédio moral e muitos casos que já estão inclusive é abertos processos e sendo que as pessoas procuram o serviço porque elas estão em depressão e síndrome do pânico afastadas e com estresse pós traumático com outros danos já psicossomáticos pra para sua praça sua qualidade de vida bastante comprometidas vezes estão em outros tratamentos psiquiátricos já estão tomando medicação
então são casos bem graves quando um trabalhador gostaria de dente e se esse serviço é um serviço que eu gosto muito mas ao mesmo tempo eu preferia que ele nem existisse porque se ele não existe foi muita emoção que seguirem não é por isso não é por uma questão ética porque puxar pelo emocional é meu trabalho e dou conta mas a questão ética porque existe esse serviço na universidade de brasília com esse tanto trabalhador sendo atendido porque não está funcionando nem políticas públicas bem nas empresas e porque tem muita gente doente então elas vão no
serviço porque elas não têm outros canais como internet utilizam para que as pessoas sejam considerados doentes mentais não elas a no caso dela se do projeto elas vão é uma é espontaneamente ruas considera o projeto então é o projeto acontece no na universidade de brasília e elas podem ter acesso tem eu posso até ficar nem sei fazer uma divulgação aqui acho que sim né é elas podem passar um e mail chama clínica do trabalho arroba gmail.com é o e meio do projeto e pode também ligar para o nbb pergunta eu quero falar na clínica da
psicologia para ser atendida é dê certo e que vai ser encaminhada é um e mail que não é da unb um e meio do projeto é um meio do projeto não é clínica do trabalho arroba gmail.com e aí mas as pessoas podem ligar na clínica da psicologia estuda psicologia que vão ser atendidas é trabalhador quis que se sentem sofrimento que se sente ou que já está afastado do trabalho que já está com um processo que está tomando medicação e ele precisa de um de um apoio psicológico direcionado para as questões do trabalho porque uma queixa
muito grande que não é todo psicólogo pequeno está tomando e com vegetação pode também ser aceito no programa que você eventualmente podem recomendar que procure um sim alguém que o médico de boston disse que a dica foi o caso mas não não tivemos ainda nenhum caso desse todo já que o preço de 160 paciência hoje estão ou não estão e continuam sem medicação e ficam no no projeto sendo atendidos até conseguir melhorar é o tratamento da conta dele se ele poderá retornar ao trabalho dele poder tomar algumas outras medidas alguns sai daquele trabalho outros voltam
e conseguem até se posicionar melhor porque hoje o que nós temos observado também na nossa pesquisa é um fenômeno de mudez e de servilismo então os trabalhadores hoje um servilismo que é um pouco vinculada a uma servidão voluntária faz com que é exatamente o modelo isto é é de escravidão se sustente porque existe alguém que manda existe alguém que obedece então existe hoje eu diria que é uma patologia social que tenha cometido vários ambientes de trabalho em vários tipos de organizações que eu tenho um passado onde as pessoas entram num processo de servidão voluntária em
nome do status em nome do poder em nome do conforto em nome da segurança em nome do consumo porque pra ter mais sempre acumular que mais ganha mais quem mais ganha mais poder subi mais essa lógica é muito perversa foi lá era como possibilidade de vida então é a de saúde mental também se em claro e vivo e mais vai embora a saúde social porque isso nós já temos é observado como uma patologia social o servilismo diante dessa dessa possibilidade é assim como também a própria patologia da solidão que o isolamento você fica muito mais
vulnerável pra ser ali massacrado não é e além do servilismo a mudez mudez né que é você ter impedido de falar o que você pensa o que você sente imagine você chega no trabalho hoje diz olha eu estou e sofrimento eu não sei fazer esse trabalho estou eu vou errar eu vou pra cá não eu sou humano eu erro sou limitado eu sou mortal eu não sou deus imagine assumir todas essas angústias na então além disso hoje é 11 uma interdição da fala infelizmente o nosso tempo chegando o final e cortar de relógio eu acho
por exemplo que nem se falou enquanto lê jota convidado a voltar aqui propor também obrigada e brigada foi muito bom obrigado obrigada também então você gostou dessa entrevista quer surgir algum tema entre em contato conosco nosso batizado é 99 96 6 16 dezesseis se preferir telefonar o número do senado a 0 800 61 22 11 para ver de novo baixar uma cópia dos nossos programas acesse senado.gov.br batv obrigado pela atenção com um abraço a todos e até o próximo cidadania [Música] [Música]