A saúde mental dos professores está bastante abalada, não só pelas demandas dos alunos, mas também pelas próprias demandas pessoais e profissionais. O estresse é grande. São exigências da direção, do governo, das famílias, por parte dos alunos.
Vou esperar o silêncio. Tive um estresse muito grande. E era com tudo, era na escola, era em casa.
Eu não estou da mesma forma, eu me estresso, respondo as pessoas às vezes com grosseria. Cheguei em casa. Chorei, chorei, chorei, chorei.
Eu já não queria vir pra escola naquele outro dia. Meu esposo falou pra mim: "Você está intolerante com os alunos, e essa não é você. " Eu me sentia infeliz, não sentia que estava cumprindo meus objetivos como professor.
Sentia que não era mais minha área. A gente vive um momento em que educadores são mal remunerados, trabalham demais, têm muitas vezes dificuldade de dormir direito, de se alimentar durante o dia. A gente não tem sábado, domingo, feriado.
A gente trabalha nas festas. A gente não vive. A gente vive em função do nosso trabalho.
O trabalho do professor foi ficando cada vez mais intenso. As exigências foram se tornando cada vez maiores. Salas muito cheias, como que as longas jornadas e como que os baixos salários se combinam pra se tornarem elementos de nocividade relacionados ao trabalho dos professores.
O modo de gerir a escola pode adoecer o seu trabalhador. O professor se vê muito isolado como uma pessoa sem uma rede de amparo. Há uma desconfiança sobre o saber da sua profissão.
Ele se autodeprecia, ele acha que não teve uma boa graduação. Sou uma pessoa que me cobro muito. Penso se o aluno está aprendendo, se estou atingindo objetivos, se tenho que fazer uma atividade diferente, se tenho que dar uma aula diferente.
É uma coisa desgastante. O professor é um profissional que dedica a vida, de você ter que levar serviço pra casa, de ter esse monte de coisas pra olhar e pra corrigir. A gente não quer presente.
A gente quer carinho. Eu passei a chorar mais. E aí comecei a observar: "Mas estou chorando de tristeza?
Estou chorando de raiva? Estou chorando por quê? " A tristeza, a alegria, a frustração, o medo.
A grande dificuldade dos adultos é lidar com essas emoções básicas. A primeira coisa a se fazer, e parece muito óbvia, mas não é tão óbvia assim no nosso dia a dia, é identificar que isso está acontecendo. Acho que ainda estamos vivendo um momento em que as pessoas têm muito pouco conhecimento pra se conhecer.
Perceber que você precisa de ajuda é o primeiro passo. Só vai procurar ajuda se sabe que tem algo errado consigo. E é um grande passo saber que tem algo de diferente, que algo não está funcionando.
Se a gente não aprende a nomear os sentimentos que tem, eu acho que a gente não acha soluções e não entende que aquilo é transitório, que passa. Acho que o primeiro passo é esse: aprender a nomear as coisas. "Ah, você é emotiva.
" Não, nem sempre "emotiva" é a palavra. Então, quando eu aprendi a nomear, eu consegui melhorar essas questões. O letramento em saúde mental é basicamente a alfabetização mesmo das pessoas em assuntos de saúde mental.
A partir do momento que eu consigo entender e consigo aplicar coisas que fazem sentido pra mim, consigo utilizar isso pra ajudar as pessoas que estão à volta. Quando a gente tem o letramento na saúde mental, a gente enxerga na pessoa os sinais. É importante ver os sinais e sintomas pra encaminhar o mais rápido possível.
Não conseguimos criar um pré-diagnóstico, mas posso dizer: "Estou sem vontade de brincar com meu filho e de ir trabalhar. " São esses pontos e sutilezas que vou descrever pra alguém, seja o terapeuta, o psiquiatra, seja o especialista qual for. O adoecimento vem quando você não consegue transformar criativamente esse sofrimento.
Mas, quando você tem recursos e condições pra transformar criativamente esse sofrimento, você consegue produzir saúde. Esse é um processo de formação. Que tipo de formação estamos oferecendo pras pessoas?
A formação de verdade inclui os sentimentos, inclui interioridade rica de imaginação, de fantasia, de sonhos. Essa é a primeira escola que realmente me dá gosto de estar aqui. A gente faz reuniões, a gente discute sobre esses temas, sobre saúde mental, não só dos alunos, mas também dos professores.
A saúde mental se tornou preocupação pra mim quando eu estava na coordenação dessa escola, por volta de 2018, e eu percebia o quanto o professor sofria, de certa forma, quando ele não alcançava os seus objetivos dentro de sala de aula. Aqui na escola, quando eu entrei, foi oportunizada essa terapia em grupo. Eu achei que o grupo ajudou bastante, porque aí vemos que não estamos sozinhos.
E muitas vezes nós chegamos em conclusões em conjunto sobre a situação. Acho que a gente tem tentado trazer também um ambiente saudável pra eles, onde eles se sintam acolhidos pra trabalhar. Eu ainda tenho um auxílio da psicóloga.
Isso é importante. Sentimos essa parceria aqui. Se você tem um apoio de toda a equipe, dos professores, dos funcionários, da gestão, do todo, aí você gosta do seu trabalho, você trabalha com prazer.